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Abstract: The school failure in Biology and Geology subject and national
exams in Portugal is very high and it is increasing dramatically. This
qualitative study aimed to investigate the perceptions of teachers about the
causes of the failure in learning this subject and in the external assessment,
their opinion about the characteristics of the exam, the measures suggested
to promote success in learning and in external evaluation and confront the
perceptions of the teachers who correct the exam and those who don’t.
Data were collected through a semi-structured interview to eight teachers.
They attribute the failure to causes related with students’ difficulties, with
the characteristics of the test or to factors inherent to the system. They
consider there are aspects that add difficulty to the exam, in particular:
questions hard to interpret; language not accessible to students; documents
hard to interpret; rigid classification criteria. They suggest measures to
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Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias Vol. 15, Nº 1, 1-23 (2016)
Introdução
Apesar de não existirem evidências em investigação de que o aumento
da quantidade de exames melhora as aprendizagens dos alunos, os
governos de muitos países insistem na integração de exames nacionais no
seu sistema educativo (Fernandes, 2007). Em Portugal, a certificação dos
alunos através da avaliação externa tem sido a mais utilizada ao longo dos
tempos sendo justificada pela “necessidade de credibilizar a imagem social
da escola, homogeneizar os resultados e uniformizar os critérios de
avaliação a nível nacional” (Pacheco, 1998, p. 125).
Segundo a legislação em vigor (Decreto-lei nº 74/2004, de 26 de março
e Portaria n.º 550-D/2004, de 1 de maio), a avaliação define-se como um
processo regulador das aprendizagens, que orienta o percurso escolar e
certifica as aquisições que vão sendo realizadas pelos alunos. Tem por
objetivos aferir os conhecimentos, competências e capacidades dos alunos e
verificar o grau de cumprimento dos objetivos definidos para o nível
secundário de educação. A avaliação das aprendizagens compreende duas
modalidades: a avaliação formativa, contínua e sistemática, permitindo ao
professor, ao aluno e ao encarregado de educação obter informação sobre o
desenvolvimento das aprendizagens para se proceder ao ajustamento de
processos e estratégias de ensino e de aprendizagem, e a avaliação
sumativa, que formula um juízo globalizante com os objetivos de classificar
e certificar. Na disciplina de Biologia e Geologia, a avaliação sumativa
engloba a avaliação sumativa interna, com um peso de 70% da classificação
final da disciplina, que é da responsabilidade dos professores e dos órgãos
de gestão pedagógica da escola, e a avaliação sumativa externa, com um
peso de 30% da classificação final da disciplina, que é da responsabilidade
dos serviços centrais do Ministério da Educação e Ciência e que se
concretiza através da realização de exames finais nacionais que se destinam
a aferir o grau de desenvolvimento das aprendizagens dos alunos e que têm
como funções principais a certificação e seleção dos alunos para efeitos de
ingresso no Ensino Superior. O peso dos exames nacionais, para efeitos de
certificação, é de 30% da classificação final dos alunos nas disciplinas,
sendo, portanto, a progressão e a certificação dos alunos decidida
maioritariamente com base na avaliação interna, o que, geralmente, é
apontado como positivo por reconhecer que os professores são quem
melhor avaliará, no quotidiano das salas de aula, o trabalho desenvolvido
pelos seus alunos, embora haja críticas no sentido contrário, argumentando
que o peso da avaliação interna será excessivo por falta de validade e
fiabilidade da mesma (Fernandes, 2007). De salientar que, para efeitos de
seleção para acesso ao Ensino Superior, os exames têm um peso de 50%,
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Metodologia
Esta investigação incidiu sobre as perceções dos professores, corretores e
não corretores, sobre as causas de insucesso dos alunos do ensino
secundário na avaliação externa da disciplina de Biologia e Geologia. Trata-
se de uma investigação qualitativa, sendo a técnica escolhida para a recolha
de dados a técnica de inquérito por entrevista, usando uma entrevista semi-
dirigida, por permitir aprofundar ideias, opiniões e conceções. Construiu-se
um protocolo de entrevista que foi posteriormente validado por
especialistas. Foram entrevistados oito professores (Quadro 1), quatro
corretores e quatro não corretores, do grupo de Biologia e Geologia, grupo
de docência 520, que já lecionaram 10º e/ou 11º anos desde o ano letivo
2005/2006, ano de implementação dos exames, após a última revisão
curricular, em escolas de Guimarães.
O protocolo de entrevista foi elaborado de forma a permitir obter dados
sobre as seguintes dimensões relacionadas com os objetivos da
investigação e presentes noutros protocolos de entrevista utilizados noutros
estudos qualitativos com professores sobre avaliação externa: Caracterizar
o entrevistado; Conhecer a opinião dos professores sobre a função da
avaliação no processo de ensino e aprendizagem; Averiguar as perceções
dos professores sobre as causas de insucesso na aprendizagem da disciplina
de Biologia e Geologia; Averiguar as perceções de professores sobre as
causas de insucesso na avaliação externa da disciplina; Descrever os
conhecimentos dos professores sobre as finalidades do ensino de Biologia e
Geologia; Averiguar as representações da influência da realização do exame
nacional nas práticas pedagógicas e de avaliação dos professores;
Identificar as opiniões dos professores sobre as características do exame
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Tempo de
Formação serviço Situação Professor
Professor
académica docente profissional corretor
(anos)
Sim
Licenciatura Quadro de
P1 24 Professor
Ensino de BGG escola
formador
Mestrado
Formação Quadro de
P2 26 Sim
Contínua de escola
Professores
Mestrado
Quadro de
P3 Tecnologia 20 Sim
escola
Educativa
Pós-Graduação Sim
Quadro de
P4 Ciências do 18 Professor
escola
Ambiente formador
Licenciatura Contratada
P5 10 Não
Ensino de BGG colocada
Mestrado
Formação Quadro de
P6 32 Não
Contínua de escola
Professores
Mestrado
Formação Quadro de
P7 27 Não
Contínua de escola
Professores
Licenciatura Contratada não
P8 13 Não
Ensino de BGG colocada
Quadro 1.- Caracterização da amostra do estudo realizado com professores.
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Total
corretores corretores
disciplina de BGG
P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
Falta de interesse/motivação
e empenho dos alunos para 3 3 6
o estudo da disciplina
Programa demasiado
1 2 3
extenso
Estudo direcionado para a
1 0 1
memorização
Dificuldades de interpretação
1 3 4
e comunicação oral e escrita
Dificuldade em distinguir o
1 1 2
essencial do acessório
Dificuldades na interpretação
de gráficos, esquemas e 1 1 2
imagens
Desajuste entre grau de
dificuldade do ensino básico 1 1 2
e do ensino secundário
Elevado grau de dificuldade
0 1 1
da disciplina
Elevado número de alunos
0 1 1
por turma
Falta de articulação entre o
0 1 1
programa de BGG e FQ
Tabela 1.- Perceções dos professores sobre as causas de insucesso na
aprendizagem da disciplina de BGG.
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Professores não
Causas do insucesso no Professores corretores
Total
corretores
exame de BGG
P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
Situação de
3 3 6
stress/ansiedade
Elevado grau de
2 3 5
dificuldade do exame
Falta de estudo
2 0 2
sistemático e regular
Conceitos/conteúdos/situ
ações não comtemplados 2 1 3
pelo programa
Dificuldades de
interpretação e
1 1 2
comunicação oral e
escrita
Dificuldades na
interpretação de
gráficos, esquemas e 1 1 2
imagens e no domínio da
linguagem científica
Programa demasiado
0 3 3
extenso
Conteúdos mais
importantes não 0 2 2
avaliados no exame
Tabela 2.- Perceções dos professores sobre as causas de insucesso no exame
nacional de BGG.
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Total
pedagógicas dos
P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
professores
Maior preocupação em
3 2 5
cumprir o programa
Menor diversificação de
metodologias/aulas mais 1 3 4
expositivas
Maior ritmo de trabalho 1 0 1
Diminuição dos momentos
1 0 1
de ensino individualizado
Aplicação de métodos de
ensino orientados para o 1 1 2
sucesso no exame
Diminuição dos momentos
0 1 1
de avaliação formativa
Tabela 3.- Efeitos da realização do exame nacional nas práticas pedagógicas dos
professores.
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Total
exame nacional nas práticas corretores corretores
de avaliação dos professores P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
Estrutura dos testes
4 4 8
semelhante à dos exames
Critérios de
correção/classificação dos
2 4 6
testes semelhantes aos dos
exames
Abandono de outros
1 0 1
instrumentos de avaliação
Tabela 4.- Efeitos da realização do exame nacional nas práticas de avaliação dos
professores.
Total
conteúdos avaliados no corretores corretores
exame P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
Quantidade desadequada
4 4 8
por ser demasiada
Avalia uma amostra de
conteúdos não 1 2 3
desadequada
representativa
Qualidade
Aborda conteúdos/
conceitos não incluídos 2 1 3
no programa
Não avalia o mais
0 4 4
importante
Tabela 5.- Opinião dos professores sobre a quantidade e qualidade dos
conteúdos avaliados no exame.
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Total
realização do corretores
exame P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
Adequado 4 3 7
Desadequado
0 1 1
por ser reduzido
Tabela 6.- Opinião dos professores sobre o tempo de realização do exame tendo
em conta a sua extensão.
Total
questões incluídas no corretores corretores
exame P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
Tipos de perguntas
4 1 5
adequados
Inclusão de perguntas
0 2 2
de resposta curta
Tipo
2 0 2
claras e objetivas
Contém questões
2 4 6
ambíguas
Tabela 7.- Opinião dos professores sobre tipo e qualidade das questões incluídas
no exame.
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Total
informação (textos,
figuras, esquemas, P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
gráficos)
Adequados 2 0 2
De difícil leitura para os
1 2 3
alunos
Textos demasiado
1 2 3
extensos
Presentes em demasiado
0 1 1
número
Tabela 8.- Opinião dos professores sobre a qualidade dos documentos/fontes de
informação.
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Total
dúvidas na resolução de
P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
exames
É uma situação normal 1 0 1
O exame é desadequado
1 3 4
para os alunos
O exame inclui perguntas
2 2 4
mal formuladas
Tabela 10.- Perceções dos professores sobre o surgimento de dúvidas na
resolução dos exames.
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Total
o sucesso na disciplina corretores corretores
de BGG P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
Boa relação
1 0 1
professor/aluno
Diversificação de
1 1 2
metodologias de ensino
Exploração de diversas
2 0 2
fontes de informação
Aumento do trabalho,
empenho e estudo por 3 0 3
parte dos alunos
Maior rigor científico na
lecionação dos 1 0 1
conteúdos
Clareza no
estabelecimento dos
1 0 1
critérios de avaliação da
disciplina
Diminuição do
0 3 3
programa da disciplina
Aumento da
componente 0 2 2
laboratorial
Diminuição dos alunos
0 1 1
por turma
Articulação dos
0 1 1
programas de BGG e FQ
Tabela 11.- Medidas sugeridas pelos professores para promover o sucesso na
aprendizagem da disciplina de BGG.
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Total
sucesso no exame nacional corretores corretores
de BGG P1 P2 P3 P4 Total P5 P6 P7 P8 Total
Realização de testes com
estrutura semelhante à dos 1 0 1
exames
Promoção de um ensino
focado no “treino” para os 3 1 4
exames
Diminuição do grau de
2 1 3
dificuldade do exame
Aumento do trabalho,
empenho e estudo por 1 2 3
parte dos alunos
Exploração de diversas
1 0 1
fontes de informação
Diminuição do programa da
0 3 3
disciplina
Aumento dos momentos de
1 1 2
avaliação formativa
Diminuição dos alunos por
0 1 1
turma
Diversificação de
0 1 1
metodologias de ensino
Melhor formação dos
0 1 1
professores
Maior equilíbrio entre
perguntas de resposta 0 1 1
fechada e resposta aberta
Realização do exame no
0 1 1
final do 12º ano
Tabela 12.- Medidas sugeridas pelos professores para promover o sucesso no
exame nacional de BGG.
Conclusões
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