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Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais

PROJETO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

É o CRMV-MG participando do processo de atualização


técnica dos profissionais e levando informações da
melhor qualidade a todos os colegas.

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você

www.crmvmg.org.br
Editorial
Caros colegas,
A Escola de Veterinária da UFMG e o Conselho
Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais têm a sa-
tisfação de encaminhar à comunidade veterinária e zootéc-
nica mineira um volume temático de Cadernos Técnicos de
Veterinária e Zootecnia dedicado à Zootecnia de Precisão
na Produção de Leite. A informação imediata dos indicado-
res da produção tem permitido tomada de decisão mais efi-
ciente na produção. Na bovinocultura de leite, podem ser
monitorados, em tempo real, o peso animal, temperatura e
cor do leite, contagem de células somáticas e concentração
de progesterona, entre vários outros indicadores. O moni-
toramento comportamental tem permitido acompanhar a
saúde e bem-estar de cada indivíduo do rebanho. As vacas
leiteiras podem ser também monitoradas para temperatu-
ra corporal, indicadores de cio, com sensores de monta ou
aumento da atividade física, presença de metrite crônica,
pela associação com a menor produção de leite e menor
consumo de matéria seca e mensuração individualizada do
consumo alimentar. A robótica tem permitido a ordenha
automática em países com escassez de mão-de-obra. Os
sistemas eletrônicos de monitoramento, que podem acom-
panhar mais de uma centena de indicadores do animal e
Universidade Federal
do ambiente, geram dados examinados continuamente em
de Minas Gerais programas de análise computacional, que fundamentam as
Escola de Veterinária tomadas de decisão. Com o uso de sistemas de inteligên-
Fundação de Estudo e Pesquisa em
Medicina Veterinária e Zootecnia
cia artificial no monitoramento das vacas leiteiras tem-se
- FEPMVZ Editora atingido aumento da eficiência produtiva, com maior sus-
Conselho Regional de tentabilidade, através do uso racional dos recursos naturais,
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais como a água e alimento, com bem-estar animal e melhor
- CRMV-MG qualidade do produto final.
www.vet.ufmg.br/editora
Correspondência:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins - CRMV-MG 4809
Editor dos Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
FEPMVZ Editora Prof. Renato de Lima Santos - CRMV-MG 4577
Caixa Postal 567
Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
30161-970 - Belo Horizonte - MG
Telefone: (31) 3409-2042 Prof. Antonio de Pinho Marques Junior - CRMV-MG 0918
Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
E-mail:
editora.vet.ufmg@gmail.com Prof. Nivaldo da Silva - CRMV-MG 0747
Presidente do CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva
E-mail: crmvmg@crmvmg.org.br
CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
Editores convidados para esta edição:
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira
Sandra Gesteira Coelho
Revisora autônoma:
Ângela Mara Leite Drumond
Tiragem desta edição:
10.550 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Impressão:
Imprensa Universitária da UFMG

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da


UFMG)
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1. Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem
Animal, Tecnologia e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
I. FEP MVZ Editora, ed.
Prefácio
Editores convidados
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira1
Sandra Gesteira Coelho2
1
EMBRAPA Gado de Leite
2
EV.UFMG

A Zootecnia de precisão pode ser de-


finida como decisão gerencial ampa-
rada em tecnologias da informação e
comunicação que permitem a melho-
ria do controle da fonte de variabili-
dade animal otimizando economica-
mente, socialmente e ambientalmente
o desempenho da fazenda leiteira.
Essa tecnologia tem o objetivo de
melhorar o gerenciamento dos reba-
nhos leiteiros e mensurar os indica-
dores produtivos, comportamentais
e fisiológicos em benefício da saúde,
produtividade e bem-estar animal.
Está baseada na coleta de dados de
forma automatizada gerando bancos
de dados que devem ser interpretados
com o intuito de prover aos usuários
suporte para tomadas de decisão.
O uso destas tecnologias permite ao
produtor enfrentar o cenário cada
vez mais competitivo com aumento
nos custos de produção e significa-
tiva redução da margem de lucro da
atividade. Para que a produção de
leite se torne rentável, e tenha com-
petitividade frente a outras atividades
agropecuárias, é necessário tecnificar
as propriedades rurais, ter boa escala
de produção e utilizar animais gene-
ticamente superiores. Dessa forma o
uso de tecnologias de precisão está
se tornando prática cada vez mais
comum em fazendas leiteiras. Entre
os principais parâmetros monitorados
atualmente estão a produção, com-
posição, temperatura, condutividade,
presença de sangue e contagem de
células somáticas do leite, rumina-
ção, consumo de alimentos e água,
medidores de atividade para detecção
de cio, problemas de casco e pesa-
gem corporal das vacas. Todos esses
tópicos são abordados nesse volume.
Gostaríamos de agradecer a todos os
autores desse volume pela disponibi-
lidade em escrever os capítulos abor-
dados aqui trazendo sua experiência
profissional para todos os Médicos
Veterinários e Zootecnistas do Esta-
do de Minas Gerais. Agradecemos
também a Escola de Veterinária pela
oportunidade.
Sumário

1. Pecuária leiteira de precisão: conceitos e tecnologias disponíveis...............9


Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, Cláudio Antônio Versiani Paiva, Marcelo Neves Ribas,
Alexandre Lima Ferreira
Entenda o que significa pecuária de precisão.

2. Impactos da pecuária leiteira de precisão na saúde e no comportamento


animal........................................................................................................17
Fernanda Samarini Machado, Marcelo Neves Ribas , Sandra Gesteira Coelho, Maria de Fátima Ávila
Pires
Entenda como é possivel monitorar a saúde do rebanho fazendo diagnóstico precoce de
algumas enfermidades.

3. Uso de tecnologias de precisão na reprodução de bovinos leiteiros...........29


Bruno Campos de Carvalho, Maria de Fátima Ávila Pires, Wagner Arbex, Gustavo Bervian dos Santos
Conheça as tecnologias que já estão disponiveis para uso na reprodução de bovinos
leiteiros.

4. Sistema de ordenha automático...................................................................41


Cláudio Antônio Versiani Paiva1, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, Thierry Ribeiro Tomich,
Fernando Pimont Possas
Conheça as tecnologias que já estão disponiveis para ordenha de bovinos.

5. Nutrição de precisão na pecuária leiteira.....................................................54


Thierry Ribeiro Tomich, Fernanda Samarini Machado, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, Mariana Maga-
lhães Campos
Conheça as metodologias disponivies para formulação de dietas e precisão da
alimentação dos rebanhos.

6. Tecnologias de precisão na avaliação da eficiência alimentar......................73


Mariana Magalhães Campos, Juliana Mergh Leão2 , Juliana Aparecida Mello Lima, Fernanda Samarini
Machado
Entenda o que significa eficiência alimentar e veja que tecnicas de eficiencia alimentar
estão sendo usadas.
7. Processamento de dados e suporte para tomada de decisão na pecuária leitei-
ra de precisão.............................................................................................86
Luigi Francis Lima Cavalcanti, Marcelo Neves Ribas, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira
Entenda como são gerados os dados da pecuária de precisão.

8. Uso da termografia infravermelha na pecuária de precisão.........................97


Juliana Mergh Leão, Juliana Aparecida Mello Lima, Fernando Pimont Pôssas, Luiz Gustavo Ribeiro
Pereira
Entenda como essa técnica pode ser utilizada para mensurar a eficiência alimentar.

9. Cria e recria de precisão.............................................................................110


Rafael Alves de Azevedo, Sandra Gesteira Coelho, Bruna Figueiredo Silper, Fernanda Samarini Machado,
Mariana Magalhães Campos
Conheça as técnicas de precisão que já estão sendo utilizadas na cria e recria de bezerras
leiteiras.

10. Manejo de precisão em pastagens............................................................121


Frederico Osório Velasco, Alex de Matos Teixeira, Diogo Gonzaga Jayme, Lúcio Carlos Gonçalves, Rogério
Martins Maurício
Conheça as tecnicas de precisão que já estão sendo utilizadas no manejo de pastagens.

11. A pecuária leiteira de precisão sob a ótica econômica.............................137


Fernanda Carolina Ferreira, Kennya Beatriz Siqueira, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira
Conheça os benefícios econômicos do uso da pecuária de precisão.
Pecuária leiteira de
precisão: conceitos
e tecnologias
disponíveis
bigstockphoto.com

Luiz Gustavo Ribeiro Pereira - CRMV-MG5930, Cláudio Antônio Versiani Paiva1 - CRMV-MG 6203, Mar-
1

celo Neves Ribas2 - CRMV-MG 8208, Alexandre Lima Ferreira3


1
Embrapa Gado de Leite, Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária, Coronel Pacheco, Minas Gerais
2
Intergado Tecnologia, Contagem, Minas Gerais
3
Bolsista Pós-Doc – CAPES-PVE – Universidade Federal de São João del-Rei/Embrapa

1. Introdução junto de dados; (II) interpretação, que resu-


me as alterações observadas no conjunto de
A pecuária leiteira de precisão pode ser dados gerados pelo sensor (ex.: diminuição
definida como uma postura gerencial ampa- do consumo) para produção de uma infor-
rada em tecnologias da informação e comuni- mação sobre o status da vaca (ex.: vaca com
cação que permite a melhoria do controle da torção de abomaso); (III) integração dessa
fonte de variabilidade animal e espacial, oti- informação gerada pelo sensor, acrescida a
mizando economica, social e ambientalmente outra informação (ex.: informação de cunho
o desempenho da fazenda leiteira. econômico), para proposição de um aconse-
Tecnologias de precisão têm sido desen- lhamento (ex.: operar ou não a vaca doente);
volvidas com o objetivo de melhorar o geren- (IV) tomada de decisão pelo gestor da fazen-
ciamento dos rebanhos leiteiros e mensurar da ou autonomamente pelo sistema (ex.: o ve-
os indicadores produtivos, comportamentais terinário é acionado). A maioria dos estudos
e fisiológicos em benefício da saúde, produti- sobre tecnologias de precisão para pecuária
vidade e bem-estar animal (Steeneveld et al., de leite realizada até o momento está relacio-
2015). As tecnologias de precisão utilizam nada à detecção de mastite (25%), fertilidade
sistemas de monitoramento por sensores. (33%), problemas de locomoção (33%) e dis-
Esses sistemas podem ser descritos a partir túrbios metabólicos (16%), e se concentram
de quatro níveis de desenvolvimento e utili- principalmente nos níveis de desenvolvimen-
zação (Fig. 1): (I) tecnologia (sensor), que to/utilização I e II (Rutten et al., 2013).
mensura algum parâmetro individual da vaca O uso de tecnologias de precisão está se
(ex.: consumo de alimento), gerando um con- tornando uma prática cada vez mais comum

Pecuária leiteira de precisão: conceitos e tecnologias disponíveis 9


em fazendas leiteiras. Entre os
principais parâmetros monito-
Tecnologia Dados Nível I
rados atualmente, estão a pro-

Comportamento /
fisiologia da vaca
dução, composição, temperatu-
ra, condutividade, presença de
sangue e contagem de células Interpretação Nível II
Informação
somáticas do leite, ruminação, dos dados
consumo de alimentos e água,
medidores de atividade para
detecção de cio, problemas de Integração de
Aconselhamento Nível III

saúde animal
casco e pesagem corporal das informações

Gestão da
vacas (Firk et al., 2002; Pastell et
al., 2009; Chapinal et al., 2010;
Tomada de
O’Connell et al., 2010; Holman decisão pelo
Nível IV
et al., 2011; Bar e Bewley, 2010; gestor ou
Solomon, 2010; van der Tol e autonomamente
pelo sistema
van der Kamp, 2010; Miekley
et al., 2012; Büchel e Sundrum, Figura 1. Níveis de desenvolvimento e utilização dos sistemas de
2014; Chizzotii, 2015). Além monitoramento por sensores na gestão da fazenda leiteira.
desses, vários outros parâme-
vam produtores de leite a investir em tecno-
tros estão sendo propostos ou encontram-se
logias de precisão destacam-se a expectativa
em desenvolvimento.
de redução do trabalho e maior facilidade
no manejo diário do rebanho (Steeneveld e
2. Perfil de utilização das Hogeveen, 2015). Dessa forma, o uso de sis-
tecnologias de precisão e temas de monitoramento por sensores tende
implicações sobre a mão a apresentar um resultado econômico positi-
vo, especialmente devido à redução esperada
de obra sobre os custos da mão de obra (Steeneveld et
Há várias décadas os al., 2015). Em pesquisa rea-
sistemas de monitoramen- Entre os principais lizada na Holanda, fazendas
to por sensores têm sido parâmetros monitorados que adotaram algum tipo de
utilizados para mensurar atualmente estão a tecnologia de precisão obti-
indicadores de saúde de produção, composição, veram uma redução de até
vacas individualmente temperatura, 23% das horas trabalhadas
(Hogeveen et al., 2010). As condutividade, presença por vaca/semana (Fig. 2)
razões para se investir em de sangue e contagem de em comparação com aque-
sistemas de monitoramento células somáticas do leite, las que não faziam uso de
por sensores apresentam va- ruminação, consumo de sistemas de monitoramento
riação em função do perfil alimentos e água, medidores por sensores (Steeneveld e
socioeconômico e geográ- de atividade para detecção Hogeveen, 2015).
fico do produtor de leite.
de cio, problemas de casco e Quanto ao perfil dos
Entre as motivações que le-
pesagem corporal das vacas. produtores que utilizam tec-

10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Figura 2. Comparação do número de vacas e do número de horas trabalhadas por vaca/semana entre
fazendas que utilizam e outras que não utilizam algum tipo de sensor para vacas.

nologias de precisão, existem os que usam de- 2015).


terminados sistemas de monitoramento por Bewley e Russell (2010) pesquisaram
sensores porque estão embarcados em algum 229 produtores de leite americanos e iden-
equipamento adquirido, como, por exemplo, tificaram que as razões mais comuns para a
em sistemas de ordenha robotizados. Outros não adoção de tecnologias de precisão eram:
já o fazem de forma deliberada, investindo em
(I) não estarem familiarizados com as tecno-
sensores para melhorar a eficiência da gestão
logias disponíveis (55%); (II) baixa relação
sobre a saúde do rebanho (Fig. 3) (Steeneveld
e Hogeveen, 2015). custo/benefício (42%); (III) não saberem o
Além das ques-
tões relacionadas à
mão de obra e facili-
dade de manejo, fa-
tores (Tab. 1) como
relação custo benefí-
cio, custo do investi-
mento total e simpli-
cidade de uso estão
entre os principais
critérios analisados
no momento da ado-
ção de tecnologias
de precisão por pro-
Figura 3. Perfil de utilização de sensores em fazendas holandesas com
dutores americanos sistemas de ordenha convencional (adaptado de Steeneveld e Hogeveen,
(Borchers e Bewley, 2015).

Pecuária leiteira de precisão: conceitos e tecnologias disponíveis 11


Tabela 1. Pesquisa indicando a importância dos critérios de compra de
tecnologias de precisão
Intensidade da Importância (%)
Produtores
Parâmetro Muito
Nenhuma Pequena Moderada Importante (n)
importante
Relação custo/
0,9 0 3,7 31,5 63,9 108
benefício
Custo total do
0,9 1,8 12,8 36,7 47,7 109
investimento
Simplicidade de
0,9 0,9 10,1 47,7 40,4 109
uso
Desempenho
comprovado na 1,9 0 7,5 53,3 37,4 107
prática
Assistência
1,8 3,7 17,4 34,9 42,2 109
técnica
Compatibilidade
com práticas
0,9 4,6 11,9 46,8 35,8 109
e sistemas já
existentes
Demanda de
tempo para uso 1,9 2,8 15,7 45,4 34,3 108
da tecnologia
Valores de cálculo considerados: nenhuma = 1; pequena = 2; moderada = 3; importante = 4; muito importante = 5. Fonte:
Adaptado de Borchers e Bewley (2015).

que fazer com tantas informações fornecidas possam aperfeiçoar suas práticas de gestão e
pelos sistemas (36%); (IV) tempo insuficien- aumentar a eficiência dos sistemas de produ-
te para usufruir da tecnologia (31%); (V) fal- ção (El-Osta e Morehart, 2000).
ta de percepção do valor econômico (30%);
(VI) tecnologias muito difíceis ou complexas
para se usar (29%). Ademais, incertezas so-
3. Implicações sobre a
bre as condições de mercado, do desempe- produtividade, saúde e
nho e reais benefícios das novas tecnologias bem-estar animal
e, ainda, problemas relacionados à adaptação
da gestão e fatores organizacionais têm sido De forma geral, os sistemas de precisão
apontados (Tab. 2) como decisivos para a não disponíveis para a pecuária leiteira são com-
adoção das tecnologias de precisão por parte postos por equipamentos capazes de mensu-
dos produtores de leite (Bewley et al., 2010). rar individualmente parâmetros fisiológicos
Contudo, o uso de tecnologias de preci- ou comportamentais e detectar alterações
são tem se tornado cada vez mais importante relativas às condições de saúde da vaca, re-
e necessário para que os produtores de leite querendo uma intervenção por parte do ges-

12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Tabela 2. Fatores que influenciam a adoção de tecnologias de precisão

Fatores Exemplos
Incertezas sobre a deci-
Condições de mercado (Bewley et al., 2010)
são de investimento
Promessas em excesso promovidas pelo vendedor
Incerteza sobre os atuais benefícios, conhecimento de oportunidades
Desafios da Existência de redes de aprendizagem (fragmentadas, subqualificadas,
implementação falta de conhecimento)
Desempenho das tecnologias versus expectativas
Adaptação da gestão (mudança de rotina, papel da tecnologia e das
pessoas)
Entrada de dados, mudança de processos/estrutura para incorporação
e entrada de dados, análise de dados, gerenciamento por exceção (De
Koning, 2010)
Falta de foco em P&D pela indústria para integração das tecnologias com
Fatores organizacionais
os sistemas de produção
Fonte: Eastwood (2011).

tor da fazenda (Steeneveld et al., 2015). Entre rada em fazendas convencionais, ou seja, há
os sensores considerados de maior utilidade um objetivo claro de utilização do sistema de
por produtores americanos, estão os de de- monitoramento. Já em fazendas com AMS,
tecção de mastite, de cio e produção de leite em geral tais sistemas encontram-se embuti-
(Borchers e Bewley, 2015) (Tab. 3). dos no equipamento como forma de torná-los
No entanto, ainda não é sabido se o uso mais acessíveis do ponto de vista econômico,
desses sensores também melhora os índices e, muitas vezes, despertando baixo interesse
de saúde e produção, como, por exemplo, re- do produtor em utilizá-los. Outro aspecto
dução da média de dias ao primeiro serviço muito importante diz respeito à presença do
ou diminuição da contagem de células so- ordenhador nos sistemas convencionais de
máticas do leite individual (Steeneveld et al., ordenha. Nessas fazendas, o ordenhador pode
2015). Para um melhor aproveitamento das checar imediatamente as vacas que apresen-
tecnologias de precisão, o produtor deve ter tam algum tipo de alerta sinalizado pelos sen-
conhecimento e fazer a gestão diária das in- sores. Além disso, vacas com mastite podem
formações geradas pelo sistema. ser identificadas durante a ordenha mesmo
Steeneveld et al. (2015) demonstraram sem a presença de alerta indicado pelos sen-
que a contagem de células somáticas (CCS) sores (Steeneveld e Hogeveen, 2015).
do leite de tanques individuais diminuiu em O desempenho da detecção do cio pode
fazendas com sistemas de ordenha convencio- ser melhorado pela utilização de sistemas de
nal, ao passo que esse parâmetro aumentou monitoramento por sensores. Esses sistemas
em fazendas com ordenha robotizada (AMS). podem detectar cerca de 80 a 85% de vacas
Normalmente, a aquisição de sensores para em cio, enquanto o método visual normal-
detecção de mastite ocorre de forma delibe- mente detecta apenas 55% das vacas nessa

Pecuária leiteira de precisão: conceitos e tecnologias disponíveis 13


Tabela 3. Pesquisa indicando a importância da utilidade das atuais e potenciais
tecnologias de precisão
Intensidade da Importância (%)
Muito Produtores
Parâmetro
Nenhuma Pequena Moderada Importante impor- (n)
tante

Mastite 0,0 0,0 1,9 19,4 78,7 108

Cio 0,0 0,9 2,8 16,5 79,8 109

Produção diária de
0,0 0,9 6,4 11,9 80,7 109
leite

Atividade da vaca 1,8 1,8 5,5 16,5 74,3 109

Temperatura 3,8 2,8 11,3 22,6 59,4 106

Comportamento
0,9 0,0 15,7 35,2 48,1 108
alimentar

Composição do leite 0,9 4,6 13,8 27,5 53,2 109

Laminite 0,0 4,6 17,4 26,6 51,4 109

Ruminação 3,8 3,8 18,9 28,3 45,3 106

Saúde de casco 0,9 3,7 19,4 39,8 36,1 108

Atividade ruminal 4,6 3,7 24,1 27,8 39,8 108

Comportamento
2,8 8,3 25,7 33,9 29,4 109
deitada/de pé

pH do rúmen 5,5 11 26,6 29,4 27,5 109

Movimento de man-
4,6 13 25,9 29,6 26,9 108
díbula e mastigação

Frequência
7,5 13,2 29,2 32,1 17,9 106
respiratória

Peso da vaca 8,3 18,5 30,6 24,1 18,5 108

Escore de condição
9,2 12,8 36,7 25,7 15,6 109
corporal

Frequência cardíaca 11,2 16,8 38,3 21,5 12,1 107

Posição e localização
19,3 23,9 31,2 13,8 11,9 109
animal

Emissão de metano 34,3 30,6 20,4 10,2 4,6 108


Valores de cálculo considerados: nenhuma = 1, pequena = 2, moderada = 3, importante = 4 e muito importante = 5. Fonte:
Adaptado de Borchers e Bewley (2015).

14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


mesma condição (Firk et al., 2002; Hockey et Do lado de fora da porteira há também
al., 2010; Kamphuis et al., 2012). No entan- potenciais benefícios do uso das tecnologias
to, nem sempre o aumento na detecção do de precisão entre os mais diversos stakehol-
cio pelos sistemas de monitoramento resulta ders. O uso dessas tecnologias pode contri-
em melhoria dos índices de idade ao primei- buir para garantir a qualidade e a segurança
ro parto e dias ao primeiro serviço. Em gran- do alimento para as indústrias de laticínio, por
de parte das vezes, os produtores que fazem exemplo. Os técnicos podem interagir com os
uso de sistemas de detecção de cio realmente sistemas de precisão para alimentar as suas
apresentam melhores e maiores taxas de de- próprias análises, e oferecer serviços sobre o
tecção de cio, porém ainda utilizam as mes- uso das tecnologias de precisão e na capaci-
mas regras sobre o melhor momento para a tação dos produtores. Isso pode incluir, por
inseminação, resultando em alterações pouco exemplo, o monitoramento remoto de parâ-
efetivas nos parâmetros reprodutivos. Outro metros de desempenho, como ganho de peso
problema no uso das tecnologias de preci- e produção de leite.
são diz respeito à motivação do investimen- As centrais de melhoramento genéti-
to. Alguns produtores investem em sensores co podem se beneficiar do acesso aos dados
de detecção de cio apenas para melhorar a diários de ordenha individual e outros dados
taxa de detecção de cio e reduzir o trabalho armazenados. Os bancos de dados de cada
(Steeneveld e Hogeveen, 2015), com menos sistema de produção poderão ser conectados
foco em melhorar os índices de saúde e zoo- aos bancos de dados da indústria para permi-
técnicos do rebanho (Steeneveld et al., 2015). tir comparações entre sistemas e desenhar po-
Em relação à produção de leite, líticas de extensão.
Steeneveld et al. (2015) observaram que a
utilização dos sensores embutidos no siste- 5. Referências
ma de ordenha automático (AMS) resultou bibliográficas
em maior produção de leite do rebanho. No 1. STAMER, E.; JUNGE, W.; KRIETER, J. Automation of
entanto, não puderam afirmar se o aumento estrus detection in dairy cows: A review. Livest. Prod. Sci.,
da produção de leite ocorreu em função da v.75, p.219-232, 2002.

maior taxa de frequência de ordenha, nor- 2. HOCKEY, C. D.; MORTON, J. M.; NORMAN, S. T.;
MCGOWAN, M. R. Evaluation of a neck mounted
malmente observada nesse tipo de sistema de 2-hourly activity meter system for detecting cows about
produção (Kruip et al., 2002; Wagner-Storch to ovulate in two paddock- BAR, D., SOLOMON, R.
Rumination collars: What can they tell us? In: PROC.
and Palmer, 2003; Speroni et al., 2006), ou se FIRST NORTH AM. CONF. PRECISION DAIRY
foi decorrente do uso do sistema de sensores. MANAGEMENT. Toronto, Canada, p.214-215, 2010.
3. BUCHEL, S., SUNDRUM, A. Short communication:
4. Considerações finais Decrease in rumination time as an indicator of the onset
of calving, J. Dairy Sci, v.97, p.3120-3127, 2014.
As oportunidades ligadas à pecuária de 4. BEWLEY, J. Precision dairy farming: Advanced analy-
precisão podem surgir tanto dentro como sis solutions for future profitability. In: PROC. 1ST
NORTH AM. CONF. PRECIS. DAIRY MANAG.
fora da porteira da fazenda. Do lado de den- Toronto, Canada. Progressive Dairy Operators: Guelph,
tro, os produtores podem se beneficiar nas ON, Canada, p.2-5, 2010.
áreas de automação e tomadas de decisões 5. BEWLEY, J. M.; RUSSELL, A. Reasons for slow adop-
tion rates of precision dairy farming technologies: evi-
mais eficientes, ao fazer melhor uso dos escas- dence from a producer survey. In: PROCEEDINGS OF
sos e cada vez mais onerosos recursos. THE FIRST NORTH AMERICAN CONFERENCE

Pecuária leiteira de precisão: conceitos e tecnologias disponíveis 15


ON PRECISION DAIRY MANAGEMENT. Toronto, SMITH, R. F.; DOBSON, H. Comparison of estrus
Canada, p.30-31, 2010. detection methods in dairy cattle. Vet. Rec., v.169, p.47,
2011.
6. BEWLEY, J. M.; BOEHLJE, M. D.; GRAY, A. W.;
HOGEVEEN, H.; KENYON, S. J.; EICHER, S. D.; 19. JAGO J.; DAVIS, K. L.; JENSEN, R. Future innovative
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16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Impactos da
pecuária leiteira de
precisão na saúde e no
comportamento animal
bigstockphoto.com

Fernanda Samarini Machado - CRMV-MG 11138, Marcelo Neves Ribas - CRMV-MG 8208
1 2

Sandra Gesteira Coelho3 - CRMV/MG-2335, Maria de Fátima Ávila Pires


1
Doutor Zootecnia UFMG - Embrapa Gado de leite
2
Doutor Zootecnia UFMG - Intergado
3
Doutor Ciência Animal - EV.UFMG

Introdução te associadas à eficiência econômica dos siste-


mas de produção.
A pecuária leiteira, a cada dia que passa, Os programas de melhoramento genéti-
tem se tornado uma atividade altamente desa- co foram eficientes na seleção de animais cada
fiadora. O aumento nos custos de produção, vez mais produtivos. Dessa forma, maximizar
principalmente dos alimentos utilizados nas o consumo de dietas com alto potencial de
dietas dos animais, tem provocado redução fermentação no rúmen se tornou necessário.
significativa da margem de lucro da atividade. Por outro lado, essas “melhorias” nos sistemas
Para que a produção de leite se torne rentável, de produção, no manejo nutricional e dos
e tenha competitividade frente a outras ativi- animais trouxeram impactos negativos, tais
dades agropecuárias, é necessário tecnificar as como: aumento nas condições de estresse dos
propriedades rurais, ter boa escala de produ- animais e na ocorrência de desordens meta-
ção e utilizar animais geneticamente superio- bólicas e infecciosas (Fleischer et al., 2001;
res. Entretanto, é fundamental não perder o Grummer et al., 2004; Reist et al., 2003).
poder de adaptação, eficiência reprodutiva e Em bovinos leiteiros, a ocorrência de
resistência às doenças desses animais, já que doenças pode reduzir a eficiência produtiva
essas características também estão diretamen- de três formas: por meio da redução da pro-

Impactos da pecuária leiteira de precisão na saúde e no comportamento animal 17


dução de leite, da redução to de pecuária de precisão
O diagnóstico precoce ou a
do desempenho reproduti- vem se tornado cada vez
predição de doenças podem
vo e do encurtamento da ex- mais frequente, e tem como
encurtar sua duração,
pectativa de vida devido ao base o uso de tecnologias
reduzir as taxa de descarte
aumento das taxas de des- para mensurar, de forma
e, consequentemente,
carte (Grohn et al., 2003). individualizada, indicado-
minimizar as perdas
O diagnóstico precoce ou a res produtivos, fisiológicos
econômicas.
predição de doenças podem e comportamentais dos
encurtar sua duração, redu- animais. Algumas tecnolo-
zir as taxa de descarte e, consequentemente, gias de precisão já vêm sendo utilizadas em
minimizar as perdas econômicas. Dessa for- fazendas leiteiras, como o registro diário da
ma, a identificação precoce de animais doen- produção de leite e do peso vivo, o uso de
tes é um componente crítico de qualquer sis- detectores de estro e sensores para avaliar a
tema de produção, sendo de grande interesse condutividade elétrica do leite. Outras tec-
o desenvolvimento de métodos, dispositivos nologias de precisão também têm sido pro-
e processos para o monitoramento da saúde postas para mensurar consumo de alimentos
dos animais. e água, comportamento alimentar, batimento
cardíaco, frequência respiratória, temperatura
Monitoramento da saúde da superfície corporal, pH ruminal, atividade
e posição dos animais, entre outros. Diversos
e detecção precoce de trabalhos já demonstraram o potencial da ava-
doenças liação do comportamento animal como for-
Historicamente, os produtores têm uti- ma de detecção de doenças subclínicas, bem
lizado experiência e avaliações visuais como como a detecção precoce de sinais clínicos, o
forma de detecção dos animais que apresen- que aumenta a eficácia e reduz os custos do
tam algum sinal clínico de estresse ou doen- tratamento, como também contribui com o
ça, e também de animais mais eficientes. Essa bem-estar dos animais (Gonzales et al., 2008;
inestimável habilidade nunca poderá ser to- Azizi, 2008; Huzzey et al., 2007; Urton et al.,
talmente substituída ou eliminada; porém, a 2005; Owens et al., 1998).
falta de profissional qualificado e, principal-
mente, o aumento dos rebanhos têm dificul- Avaliação do consumo
tado esse trabalho (Hamrita et al., 1997). O e comportamento
exame clínico realizado por um veterinário é
a melhor forma de detecção e diagnóstico de
alimentar
doenças; entretanto, esses exames são pouco Na última década, vários estudos apre-
frequentes na maioria das propriedades leitei- sentaram evidência de que problemas de
ras e muitos casos de doenças podem não ser saúde em bovinos leiteiros podem ser identi-
diagnosticados. Além disso, a realização fre- ficados e preditos por mudanças nos padrões
quente de exames em grandes rebanhos pode comportamentais, particularmente no com-
demandar muito tempo e dinheiro (Urton et portamento alimentar. As doenças afetam o
al., 2005). comportamento alterando-o, em curto ou em
No processo de busca pelo aumento da longo prazo, sendo esse efeito uma estratégia
eficiência produtiva, a aplicação do concei- coordenada do corpo para debelar a infec-

18 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


ção, que inclui febre e alterações psicológicas girolando no período pós desmame (89 a 154
(Borderas, 2009). Entre as alterações no com- dias de idade). Os 35 animais avaliados foram
portamento frente à doença estão a hipofagia, manejados em piquetes coletivos e tinham
letargia, hiperalgesia, hiper ou hipotermia, re- livre acesso aos cochos e bebedouros ele-
dução do aprendizado e da memória, redução trônicos que registravam o comportamento
nos cuidados com o próprio corpo, redução e o consumo de alimento e água, respectiva-
na exploração física e social do ambiente e mente. Os animais diagnosticados com tris-
mudanças na libido. teza parasitária apresentaram durante todo o
Essas mudanças servem para direcionar período experimental uma redução de consu-
os esforços para alterações fisiológicas que mo de alimento (2,2 vs. 2,6kg/dia) e redução
preservem a vida (Elsasser et al., 2004) e são de consumo de água (11,8 vs. 10,4L/dia).
identificadas por alterações comportamentais Quando avaliado em relação ao dia do diag-
que antecedem os sinais clínicos da doença nóstico, o consumo de alimento foi inferior
em até quatro dias, frequentemente em até 24 para os animais doentes nos dias -1, 0 e +1, e o
horas antes da mudança de temperatura cor- comportamento ingestivo, determinado pelo
poral. Ou seja, os animais quando saudáveis número de visitas ao cocho com ingestão, foi
apresentam um padrão de comportamento, e inferior para os animais doentes a partir do
a detecção de alterações nesses padrões com- dia -1 até o dia +4 (Fig. 1). Os equipamentos
portamentais são indicativos de que algo está eletrônicos se mostraram eficientes na detec-
errado. ção precoce de tristeza parasitária em bezer-
Oliveira Junior (2015) avaliou o efeito ras leiteiras.
da tristeza parasitária sobre o consumo e o Azizi (2008) avaliou o consumo, o com-
comportamento ingestivo de bezerras da raça portamento ingestivo e a produção de leite

Figura 1. Consumo de matéria seca – CMS (kg/dia) – e número de visitas ao cocho com ingestão (n/dia)
em bezerras sadias ou doentes durante os dias em relação ao diagnóstico – dia 0 (-4 a +4).

Impactos da pecuária leiteira de precisão na saúde e no comportamento animal 19


de vacas da raça Holandês do 7° ao 105° dia de leite não permitiram a detecção de animais
de lactação. Para a avaliação do comporta- com sinais subclínicos a partir da 3ª semana
mento e do consumo, foram utilizados co- de lactação.
chos eletrônicos que identificam eletronica- Dollinger e Kaufmann (2012) avaliaram
mente os animais e registram seu consumo a influência de patologias clínicas e subclínicas
em cada evento gerado no equipamento. Os sobre o consumo e comportamento ingestivo
animais diagnosticados com sinais clínicos de 138 vacas leiteiras do 28° ao 56° dia pós-par-
de desordens metabólicas (febre do leite, ce- to. Do total de animais avaliados, 15 vacas fo-
tose, retenção de placenta e deslocamento de ram consideradas saudáveis e seus dados foram
abomaso) apresentaram até o 21° dia de lac- utilizados para se determinar parâmetros ideais
tação menor tempo de ingestão (210,78 vs. para o rebanho. As demais 123 vacas apresen-
236,80min/dia), menor consumo de matéria taram sinais clínicos de distúrbios metabóli-
seca (16,9 vs. 19,98kg/dia), menor produ- cos ou foram diagnosticadas com patologia
ção de leite (36,84 vs. 41,31kg/dia) e menor subclínica a partir da avaliação de amostras de
taxa de ingestão (86,08 vs. 92,85gMS/min) sangue e urina (Tab. 3). Apesar de não ter sido
quando comparados com os animais normais observada diferença significativa no consumo,
(Tab. 1). os animais saudáveis (grupo referência) apre-
Os animais que apresentaram alteração sentaram um menor tempo de ingestão diária
nos parâmetros sanguíneos (aumento de áci- de alimentos (177,8 vs 189,4min.); porém, a
do graxo não esterificado, β-hidroxibutirato e taxa de ingestão foi maior (228,91 vs 221,22g
aspartato amino transferase sem, porém, apre- de MN por min.) que a apresentada pelos
sentar sinais clínicos) apresentaram menor animais doentes (clínico ou subclínico). Os
tempo de ingestão (menos 43,59min/dia na animais doentes, para conseguirem atingir o
2° semana de lactação e menos 39,42min/dia mesmo consumo, precisaram visitar os cochos
na 3° semana de lactação) e menor consumo mais vezes por refeição (3,5 vs. 3,3), além de
de matéria (menos 1,94kg/dia na 2° semana apresentarem um maior número de refeições
de lactação e menos 2,83kg/dia na 3° semana por dia (6,9 vs. 6,2) em comparação ao grupo
de lactação) (Tab. 2). O consumo e o com- referência. De acordo com os dados apresenta-
portamento foram eficientes para detecção de dos, os animais doentes ou com alterações sub-
animais com sinais clínicos e subclínicos no clínicas tendem a evitar interações agressivas e
período pós-parto; já os dados de produção são facilmente afastadas dos cochos pelas vacas

Tabela 1 - Consumo de matéria seca, comportamento ingestivo e produção


de leite de vacas com sinais clínicos de desordens metabólicas (CDM) e vacas
saudáveis (NORMAL) durante os primeiros 21 dias de lactação
Parâmetros CDM NORMAL
Tempo de ingestão (minutos/dia) 210,78 236,80
Consumo de matéria seca (kg/dia) 16,9 19,98
Taxa de consumo (gMS/dia) 86,08 92,85
Produção de leite (kg/dia) 1
36,84 41,31
1
Produção de leite corrigida para mesmo teor de gordura.
Fonte: Adaptado de Azizi (2008).

20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Tabela 2 – Consumo de matéria seca, comportamento ingestivo e produção de
leite de vacas com sinais subclínicos de desordens metabólicas (SCDM) e vacas
saudáveis (NORMAL) durante a segunda e a terceira semana de lactação
2ª semana de lactação 3ª semana de lactação
Parâmetros
SCDM NORMAL SCDM NORMAL
Tempo de ingestão (minutos/dia) 190,04 233,63 216,99 256,41
Consumo de matéria seca (kg/dia) 17,36 19,3 18,61 21,44
Taxa de consumo (gMS/dia) 102,88 89,42 95,18 95,06
Produção de leite (kg/dia) 1
37,29 39,01 43,72 42,56
1
Produção de leite corrigida para mesmo teor de gordura.
Fonte: Adaptado de Azizi (2008).

saudáveis e/ou dominantes. 20,65kg de MS/dia) e menor consumo de


Vargas (2015) avaliou o efeito da me- água (75,74 vs. 87,38L/dia). O consumo de
trite em vacas leiteiras da raça Holandês no matéria seca (% peso vivo) foi inferior para
período pós-parto. Os animais foram moni- os animais com metrite nas semanas 1, 2 e 11
torados por cochos e bebedouros eletrônicos pós-parto; porém, após o tratamento, os ani-
e plataforma de pesagem voluntária do parto mais doentes reestabeleceram o consumo em
até a 12° semana pós-parto. Os animais diag- relação aos animais saudáveis; já o número de
nosticados com metrite apresentaram menor visitas aos cochos eletrônicos com ingestão foi
peso vivo voluntário (598,12 vs. 624,38kg), maior para os animais doentes nas semanas 2,
menor produção de leite (29,79 vs. 31,21kg/ 4 e 5 pós-parto (Fig. 2). O menor número de
dia), menor consumo de alimento (18,65 vs. ingestão pode ser justificado pelo maior des-

Tabela 3 – Consumo de matéria natural e comportamento ingestivo de vacas


leiteiras saudáveis (grupo referência) ou doentes (clínico ou subclínico) do 28° ao
56° dia de lactação
Grupo doente
Grupo referência
Parâmetros (clínico ou
(saudável) subclínico)
Tempo de ingestão (min./dia) 177,8 189,4
Consumo (kg de matéria natural) 40,7 41,9
Taxa de consumo (g de matéria natural/min.) 228,91 221,22
Número de visitas diárias ao cocho 21,9 26,4
Número de refeições diárias 6,2 6,9
Duração das visitas ao cocho (min.) 8,1 7,2
Duração das refeições (min.) 36,3 34,9
Tempo em ingestão durante a refeição (min.) 28,8 27,5
Número de visitas ao cocho por refeição 3,3 3,5
Fonte: Adaptado de Dollinger e Kaufmann (2012).

Impactos da pecuária leiteira de precisão na saúde e no comportamento animal 21


Figura 2 – Consumo de matéria seca (% do peso vivo) e número de visitas realizadas em cochos com
ingestão de alimento de vacas da raça Holandês saudáveis (sem metrite) ou doentes (metrite) durante
as primeiras 12 semanas de lactação.

locamento das vacas doentes do cocho pelas nas anteriores ao parto em vacas que desen-
vacas saudáveis. volveram metrite puerperal, em comparação
Também associando o comportamento com animais sadios (Fig. 3). O menor consu-
ingestivo com quadros de metrite, Hammon mo das vacas com metrite também foi obser-
et al. (2006) relataram menor consumo de vado até a 5ª semana pós-parto (2,27 a 3,64kg
matéria seca (4,4kg a menos) nas duas sema- de matéria seca a menos que as vacas sadias).

22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Consumo de matéria seca (kg/dia) 25

20

15

10

0
-2 -1 1 2 3 4 5
Semanas rela vas ao parto

Figura 3: Consumo de matéria seca (kg/dia) durante o período de transição de vacas saudáveis (A),
vacas que apresentaram endometrite no pós-parto (B) e vacas que apresentaram metrite no pós-parto
(C).
Fonte: Adaptado de Hammon et al. (2006).

A produção média diária de leite foi 8,3kg/d rante a semana que antecede o parto, as vacas
menor nas vacas com metrite grave e 5,7kg/d que evoluem para metrite grave são desloca-
menor nas vacas com metrite leve, em relação das do cocho com mais frequência do que as
a vacas que se mantiveram sadias até os 21 dias vacas que permanecem sadias. Além disso, du-
após o parto. Esse trabalho fornece claras evi- rante o período que antecede o parto, as vacas
dências de que a redução do tempo despendi- que adoecem posteriormente passam menos
do na alimentação e a ingestão de matéria seca tempo comendo e consomem menos matéria
(IMS) durante o período que antecede o par- seca durante os períodos de maior motivação
to aumentam o risco de ocorrência de metrite para buscar alimento, isto é, logo após o trato,
pós-parto em vacas. Entretanto, não se sabe quando a palatabilidade e a qualidade estão
se a redução da IMS e do tempo despendido no auge. As vacas que evoluem posteriormen-
na alimentação são a causa da metrite ou um te para metrite grave apresentam baixa moti-
efeito de alguma outra alteração ocorrida no vação para competir pelo acesso ao alimento
período pré-parto. As vacas que desenvolve- nesses momentos de maior disputa, indican-
ram metrite pós-parto também se envolveram do que, socialmente, representam os indiví-
em menor número de interações agressivas duos subordinados do grupo.
no cocho durante a semana anterior ao parto
e evitaram o cocho durante os períodos de Registro de atividade e
maior competição por alimento.
Essa mesma alteração na disputa por es-
tempo de descanso
paço no cocho foi observada por DeVries e Existem evidências de que as alterações
von Keyserlingk (2005). Em um estudo rea- fisiológicas e comportamentais das vacas, que
lizado por esses autores, observou-se que, du- ocorrem durante a fase de transição, podem

Impactos da pecuária leiteira de precisão na saúde e no comportamento animal 23


aumentar o risco de claudicação, mais tarde, na baia (241 vs. 147min/d), isto é, com os
durante a lactação (Knott et al., 2007; Cook dois cascos anteriores na baia e os dois poste-
e Nordlund, 2009; Proudfoot et al., 2010). riores no corredor. Com relação ao comporta-
Muitos casos graves de claudicação são causa- mento ingestivo, as vacas com lesões de casco
dos por problemas no tecido córneo da unha, apresentaram uma taxa de consumo maior do
que levam de oito a doze semanas para se de- que das vacas sadias durante as duas semanas
senvolver, como, por exemplo, as úlceras de pré-parto (86 vs. 77g MS/min) e durante as
sola e lesões na linha branca. Portanto, é pro- 24 horas pós-parto (17,9 vs. 12,3g MS/dia).
vável que uma úlcera de sola, diagnosticada Apesar de os dados desse trabalho não serem
12 semanas após o parto, tenha começado a se conclusivos quanto à relação da maior taxa
desenvolver ou tenha sido provocada durante de consumo com o aumento da incidência de
o período de transição. A alta incidência de acidose e das lesões de casco, alguns pesqui-
claudicação após o parto ilustra a necessidade sadores já demostraram que vacas com uma
de dar atenção ao período de transição, a fim alta ingestão após o parto podem apresentar
de prevenir doenças infecciosas e metabólicas uma diminuição exacerbada do pH ruminal e
logo após o parto e também casos de claudica- predispor quadros de laminite (Fairfield et al.,
ção alguns meses mais tarde. A identificação 2007). Os resultados indicam que a combina-
precoce dessas situações de risco possibilitará ção do comportamento ingestivo associado
correções no manejo em tempo hábil, evitan- ao registro de atividade (deitada ou em pé na
do assim grandes prejuízos econômicos. instalação) das vacas no período de transição
Proudfoot et al. (2010) avaliaram o com- pode ser utilizada como ferramenta de detec-
portamento e a atividade de vacas durante o ção de animais com lesão de casco no terço
período de transição (duas semanas anterio- médio da lactação.
res e as três semanas posteriores ao parto) e
correlacionaram os dados com lesões podais. Registro de ruminação e
Dispositivos para registro de atividade foram
fixados aos membros posteriores das vacas
consumo
para aferir o tempo de permanência em esta- Ruminação é um processo cíclico carac-
ção. As vacas foram então classificadas men- terizado por regurgitação do alimento arma-
salmente, quanto à saúde dos cascos, até as zenado no rúmen e mastigação e ingestão do
15 semanas de lactação. Treze vacas desenvol- material regurgitado. Sua principal função é
veram úlceras de sola ou hemorragias graves facilitar a fermentação dos alimentos, redu-
de sola entre sete e quinze semanas após o zir o tamanho da partícula, promover o es-
parto. O tempo de permanência em estação vaziamento do rúmen e, consequentemente,
dessas vacas durante a fase de transição foi aumentar o consumo e melhorar o ambiente
comparado com o de 13 vacas sadias. As vacas ruminal a partir da salivação. Pode ser afetada
que apresentaram claudicação após o parto pelas características da dieta e pelo manejo,
ficaram em pé por mais tempo no período em particular pela digestibilidade dos ali-
pré-parto (839 vs. 711min/d) e no período mentos, teor de FDN, qualidade da forragem,
pós-parto precoce (935 vs. 693min/d) do proporção de volumoso e concentrado, tama-
que as vacas sadias. Outra importante dife- nho das partículas (Welch e Smith, 1970). O
rença na atividade dos animais doentes foi o tempo de ruminação (TR) pode ser reduzido
maior tempo passado com apoio incompleto em casos de estresse agudo, ansiedade e doen-

24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


ças (Herskin et al., 2004; Bristow e Holmes, que receberam a dieta com mais concentra-
2007; Hansen et al., 2003). do apresentaram aumento no tempo de con-
Soriani et al. (2012) monitoraram o sumo (395 versus 310min./d), ao passo que
tempo de ruminação (TR) de vacas duran- o tempo em descanso/deitado reduziu (565
te o período de transição e correlacionaram versus 634min./d). Para esse mesmo grupo
essas informações com a produção de leite, de animais, o tempo de ruminação diminuiu
metabólitos sanguíneos e o estado de saúde no primeiro dia após o desafio (436min./d)
dos animais. Os parâmetros de ruminação em relação ao grupo controle (533min./d);
próximos ao parto, em particular os valores porém, esse tempo aumentou no dia seguinte
durante os últimos dias de gestação e os pri- (572min./d).
meiros 10 dias de lactação, estão relacionados
com a incidência de patologias clínicas duran- Monitoramento do
te o primeiro mês de lactação. Animais que
apresentaram baixo TR durante o pré-parto
comportamento animal
(420min./dia) mantiveram baixo TR após o para aumento da
parto, e nesse grupo foi observada uma maior eficiência
incidência de patologias clínicas. No grupo de
vacas com baixo TR, foram diagnosticados 03 O comportamento da vaca em 24 horas
animais com mastite, 01 com retenção de pla- é um reflexo da sua resposta ao ambiente em
centa, 02 com metrite, 01 com cetose, 01 com que está sendo manejada. A ocorrência de
deslocamento de abomaso e 02 com claudica- desvios no comportamento do animal em re-
ção. Por outro lado, uma menor incidência de lação à sua rotina normal pode servir de base
doenças clínicas foi observada para vacas que para avaliar seu status de saúde, de bem-estar
apresentaram TR médio (491min./dia) (01 e produtivo, auxiliando a adequação de estra-
com retenção de placenta e 01 com metrite) tégias de manejo para otimizar a eficiência
e para as vacas que apresentaram TR longo do sistema. A Tabela 4 apresenta um modelo
(556min./dia) (01 com mastite). Os resul- simplificado do padrão de comportamento de
tados apontaram também que as vacas com vacas em lactação (Grant e Albright, 2000). Já
menor TR antes do parto apresentaram maior Matzke (2003) comparou o comportamento
concentração plasmática de β-hidroxibutirato das vacas com maior produção de leite, ran-
após o parto, estando este diretamente rela- queadas como “top 10%”, em relação ao com-
cionado com o grau de mobilização corporal portamento do resto do rebanho (Tab. 5).
no período de transição. Como pode ser visto na tabela acima, vacas
DeVries et al. (2009) induziram acido- mais produtivas precisam de um maior perío-
se subaguda em vacas leiteiras e observaram do de descanso, mas essa necessidade não pode
uma redução no tempo de ruminação durante comprometer o tempo de ingestão de alimen-
todo o período experimental para os animais tos e de ruminação. Na Tabela 6, pode-se ob-
que receberam a dieta com maior proporção servar a potencial associação entre o aumento
de concentrado (491 vs. 555min./d) em com- do tempo de descanso (deitada) e a maior pro-
paração aos animais que receberam uma dieta dução de leite (Grant, 2003). Dos supostos be-
menos desafiadora. Comparado com o grupo nefícios promovidos pelo aumento do tempo
controle (que receberam a dieta “segura”), de descanso (deitada), o aumento do consumo
no primeiro dia após o “desafio”, os animais de alimentos é responsável por 35% da reposta

Impactos da pecuária leiteira de precisão na saúde e no comportamento animal 25


Tabela 4 – Comportamento diário de vacas leiteiras estabuladas. Tempo
dispendido em cada atividade (horas/dia)
Tempo despendido por
Atividade atividade por dia
Comendo 03 a 05 horas

Deitada / Descansando 12 a 14 horas

Interação social 02 a 03 horas

Ruminando 07 a 10 horas

Bebendo água 30 minutos

Fora das instalações (Ordenha/deslocamento) 2,5 a 3,5 horas


Fonte: Adaptado de Grant e Albright (2000).

Tabela 5 – Comportamento diário das vacas mais produtivas (TOP 10%


de maior produção de leite) em comparação às demais vacas do rebanho
(MÉDIA). Tempo dispendido em cada atividade (horas/dia)

Atividade TOP 10% MÉDIA


Comendo 5,5 horas 5,5 horas
Deitada / Descansando 14,1 horas a
11,8 horasb
Em pé nos corredores 1,1 horasb 2,2 horasa
Bebendo água 18 minutos 24 minutos
Letras diferentes na mesma linha se diferem estatisticamente (P<0,05).
Fonte: Adaptado de Matzke (2003).

Tabela 6 – Resposta em produção de leite ao aumento do tempo de descanso.


Produção de leite em condição ideal de descanso (14 horas/dia) em comparação
a animais que permanecem deitados apenas 7 horas por dia
Estimativa de reposta
Suposto benefício (aumento de produção de leite)
Aumento do fluxo de sangue 0,7 a 1,0kg/dia
Aumento da ruminação Mais de 0,9kg/dia
Menor estresse nos cascos e laminite 1,4kg/dia
Menor estresse por fadiga 0,9kg/dia
Maior consumo de alimento 2,2kg/dia
1 hora a mais deitado/descansando está associada a 1Kg/dia a mais de produção de leite
Fonte: Adaptado de Grant (2003).

26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


em produção de leite. Possivelmente, todas as Considerações Finais
melhorias observadas na rotina da vaca (maior
tempo de ruminação e menor desgaste do Diversos parâmetros comportamentais
casco), fruto de um maior tempo de descan- podem ser utilizados para detecção precoce
so, promoveram também um maior tempo de vacas leiteiras doentes. Para tal, é neces-
de consumo e, consequentemente, mais nu- sário que os animais sejam avaliados indivi-
triente para a produção de leite. dualmente e de forma constante, o que torna
Os parâmetros comportamentais apre- possível detectar desvios no comportamento
de animais “problemas”;
sentados acima são baseados em sistemas
A utilização de apenas um parâmetro
norte-americanos. É necessário estabelecer
pode permitir a detecção de animais “proble-
para os diferentes sistemas de produção na-
ma”; porém, será ineficiente no diagnóstico
cionais o comportamento-padrão, neces-
das patologias apresentadas pelos animais. O
sário para que as vacas leiteiras apresentem
ideal é realizar uma integração dos sensores
máxima eficiência produtiva e permaneçam
eletrônicos e dos parâmetros avaliados.
saudáveis durante toda a lactação. A partir da
O avanço tecnológico em diversas áreas
determinação desses índices, será possível
tem permitido que novos sensores e equipa-
monitorar desvios, permitindo a detecção mentos cheguem à pecuária com custos cada
precoce de estresse e doenças, bem como vez mais acessíveis. Entretanto, para que tais
estabelecer melhores estratégias de manejo tecnologias possam auxiliar a rápida tomada
para esses sistemas. de decisões pelos produtores, os dados regis-
A incorporação de tecnologias na pe- trados precisam ser devidamente interpreta-
cuária leiteira tem sido motivada pela inten- dos por software e modelos matemáticos.
sificação dos sistemas de produção, cresci-
mento do número de animais nos rebanhos,
escassez de mão de obra e aumento dos cus-
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Impactos da pecuária leiteira de precisão na saúde e no comportamento animal 27


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28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Uso de tecnologias de
precisão na reprodução
de bovinos leiteiros
bigstockphoto.com

Bruno Campos de Carvalho , Maria de Fátima Ávila Pires , Wagner Arbex3, Gustavo Bervian dos Santos4
1 2

1
Médico Veterinário CRMV-MG 7392 – Pesquisador – Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora – MG bruno.carvalho@embrapa.br
2
Médica Veterinária CRMV-MG 1023 – Pesquisadora – Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora – MG
3
Matemático – Analista – Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora – MG
4
Médico Veterinário CRMV-MG 14929 – Doutorando – Universidade Federal Fluminense – Niterói - RJ

Introdução Para o manejo reprodutivo,


dos individuais, tratamentos
ou recomendações de manejo
A eficiência reprodu- a menor disponibilidade podem ser geradas de forma
tiva impacta economica- de mão de obra gera a atender as necessidades de
mente a produção de leite, consequências graves,
cada animal. Esse tratamento
por alterar a proporção como um tempo reduzido
individualizado permite a apli-
de vacas em lactação no para observação de cio dos
cação do conceito de pecuária
rebanho e alterar o nú- animais ou a observação
de cio em grandes lotes de de precisão.
mero médio de dias em
animais. Entretanto, os sistemas de
lactação do rebanho. O
produção de leite têm passado
impacto é a redução na
por processo de especializa-
produção diária de leite e
aumento dos custos associados com o manejo ção, caracterizado pelo aumento do tamanho
reprodutivo, como assistência técnica e uso dos rebanhos, da produtividade e, marcada-
de medicamentos e hormônios. Diante dessa mente, pela redução da relação homem:vaca.
importância, o manejo reprodutivo deve ser O desenvolvimento desses sistemas deu-se,
realizado de forma criteriosa, com a realiza- em parte, pela redução da disponibilidade de
ção de exames ginecológicos. A partir dos da- mão de obra rural e ao aumento de seu custo
(Rutten et al., 2013). Para o manejo reprodu-

Uso de tecnologias de precisão na reprodução de bovinos leiteiros 29


tivo, a menor disponibilidade de mão de obra a fase de parto, o manejo reprodutivo ob-
gera consequências graves, como um tempo jetiva garantir um parto normal, sem ocor-
reduzido para observação de cio dos animais rência de distocia e que termine com a li-
ou a observação de cio em grandes lotes de beração da placenta, nas primeiras 12 horas
animais. Ainda, o diagnóstico de afecções re- pós-parto.
produtivas, como infecções uterinas, ocorre Durante o puerpério, geralmente os
tardiamente ou quando já existe comprome- veterinários adotam a realização de exa-
timento sistêmico do animal, com maiores mes clínicos e/ou ginecológicos para o
efeitos sobre a produção de leite e fertilidade acompanhamento da involução uterina e
futura. ocorrência de infecções uterinas. Para tan-
Tecnologias de pecuária de precisão po- to, métodos como a palpação transretal e
dem ser aplicadas ao manejo reprodutivo de a ultrassonografia são utilizados para ve-
vacas de leite para a superação desses pro- rificar a posição, o tamanho e presença de
blemas. A geração de dados individualizados conteúdo no útero. A vaginoscopia também
das vacas do rebanho, a partir de sensores, é pode ser utilizada para verificar a presença
prática que vem sendo desenvolvida desde a de secreção no fundo de saco vaginal e óstio
década de 1980 em sistemas de produção nos cervical externo. Nesse período, o objetivo
Estados Unidos e em outros países da Europa, do manejo reprodutivo é o diagnóstico de
como o uso de pedômetros para a detecção infecções que atrasem a involução uterina e,
de cio, por exemplo (Rutten et al., 2013). A por consequência, a liberação dos animais
presente revisão tem por objetivo fazer uma para a inseminação.
análise dos principais problemas do manejo Após o período voluntário de espera,
reprodutivo de vacas leiteiras e como a ado- geralmente considerado de 45 dias, ini-
ção de tecnologias de precisão pode permitir cia-se a fase de inseminação das vacas. É o
o aumento da eficiência reprodutiva. período em que se espera que as vacas re-
tornem ao cio no pós-parto e sejam apro-
Manejo reprodutivo em priadamente inseminadas. Nesse período, o
objetivo do manejo reprodutivo é a identifi-
vacas leiteiras cação dos animais com atraso no retorno ao
De forma geral, o manejo reprodutivo cio no pós-parto, bem como uma avaliação
pode ser dividido de acordo com as fases do da eficiência reprodutiva da propriedade,
ciclo reprodutivo, em puerpério, período com base na eficiência na detecção de cio
de inseminação/cobrição, gestação e parto. e da taxa de concepção após a insemina-
Durante a gestação, podem ser realizados ção. Regularmente, devem ser realizados
diagnósticos de gestação confirmatórios, exames ginecológicos naqueles animais
especialmente em propriedades com his- com mais de 45 dias pós-parto e que ain-
tórico de taxas de aborto elevadas. É uma da não manifestaram cio. Nesse momento,
fase de preparação da vaca para o próximo também devem ser realizados exames gi-
parto e lactação, em que a nutrição deve necológicos para diagnóstico de gestação
proporcionar uma recuperação das reservas dos animais inseminados há mais de 30 dias
corporais, de forma a garantir um adequa- (exame ultrassonográfico) ou 45 dias (pal-
do escore da condição corporal à secagem pação transretal).
e durante o período de transição. Durante Essa é a fase em que é gerada maior

30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


quantidade de informações, as quais fêmeas. Esse período é denominado de estro
são referentes não somente ao exame ou cio, tem duração média de 12 horas e se re-
ginecológico da vaca, mas também ao in- pete a intervalos de 21 dias (com variação de
seminador e aos funcionários envolvidos 18 a 23 dias). Fisiologicamente, o proestro é
na observação de cio dos animais. De pos- caracterizado por um pico nas concentrações
se das informações individuais, o médi- plasmáticas de estrógeno que, associado a bai-
co veterinário recomenda tratamentos ou xas concentrações de progesterona, estimula
manejos “personalizados”. Ou seja, a deci- o comportamento sexual e induz o pico pré-o-
são do procedimento a ser adotado com a vulatório de LH. Apesar de o comportamento
vaca dependerá de suas informações pro- de aceitação de monta ser conclusivo para a
dutivas, como dias em lactação, produção detecção do cio, outros comportamentos são
de leite, histórico de inseminações, bem observados nos dias que precedem e nos que
como dos achados do exame ginecológico. sucedem o cio. Esses comportamentos são:
Tratamentos individuais podem ser adota- inquietação, com aumento da atividade física,
dos para a resolução dos problemas encon- tentativa de monta em outras vacas, apoiar
trados, como protocolos hormonais para o a cabeça/queixo na garupa de outras vacas,
tratamento de cistos foliculares ou para a edema da vulva, presença de muco cervico-
indução e sincronização do cio e da ovula- vaginal, tentativa de cheirar e lamber a vulva
ção, para inseminação após observação do de outras vacas, reflexo de Flehmen e aumento
cio ou mesmo para a IATF (Ferreira, 2010; de comportamentos agonísticos entre vacas,
Carvalho et al., 2010). como interações cabeça com cabeça. Esses
De forma geral, dois problemas causam comportamentos sexuais secundários come-
maior impacto na eficiência reprodutiva em çam a ser manifestados no período de pró-es-
vacas leiteiras, o atraso no retorno ao cio no tro, de um a dois dias antes do cio, atingem
pós-parto e a baixa eficiência na detecção de uma frequência máxima durante o estro e
cio (Walsh et al., 2011). O primeiro é intrín- tem sua manifestação reduzida no metaestro
seco ao animal, decorre de falhas no manejo (Carvalho et al., 2010; Ferreira, 2010).
nutricional e está relacionado ao escore da A recomendação para observação e de-
condição corporal. Por outro lado, a detecção tecção visual de cio é de pelo menos 30 minu-
de cio é um problema que decorre não só da tos, duas vezes ao dia, no início da manhã e ao
baixa intensidade de manifestação dos sinais final da tarde. Para racionalizar o uso da mão
de cio (Dobson et al., 2007), mas também da de obra na inseminação artificial, pode ser
disponibilidade de mão de obra para realizar adotado o esquema proposto por Trimberger
esse serviço (Rutten et al., 2013). (1948). Vacas observadas em cio pela manhã
são inseminadas no final da tarde e vacas ob-
Sinais de cio e sua servadas em cio no final da tarde são insemi-
nadas na manhã do dia seguinte, ou seja, 12
identificação em vacas horas após a detecção do cio.
leiteiras Entretanto, em vacas de leite, especial-
O comportamento sexual dos bovinos é mente as de alta produção, tem-se observado
caracterizado por um período de receptivida- uma redução na manifestação dos sinais de
de sexual em que a fêmea aceita a monta, seja cio. De acordo com Dobson et al. (2007), nos
esta realizada por um macho ou por outras últimos 50 anos houve uma redução de 80%

Uso de tecnologias de precisão na reprodução de bovinos leiteiros 31


para 50% na manifestação de cio em vacas de buínos, a eficiência da detecção do cio. Essa
leite, associada a uma redução na sua dura- maior dificuldade na detecção do cio é uma
ção de 15 para apenas 5 horas. Fatores como das justificativas para o crescente uso de pro-
o tipo de piso onde as vacas estão alojadas, tocolos hormonais para a inseminação arti-
a temperatura ambiente, a ordem de parto, a ficial em tempo fixo, observado nos últimos
produção de leite e a ocorrência de problemas anos no Brasil (Sartori e Barros, 2011).
de casco afetam a manifestação dos compor- Ferramentas que auxiliam a detecção de
tamentos de cio e a sua duração (Diskin e cio têm sido adotadas, em maior ou menor
Sreenan, 2000; Dobson et al., 2007; Walsh et grau, em rebanhos leiteiros. O uso de ru-
al., 2011). fiões, com ou sem buçais marcadores, o uso
Com relação à produção de leite, vacas de bastões de cera para marcação da garupa
de alta produção (maior que 39 litros/dia) das vacas e o uso de dispositivos para serem
apresentam cios mais curtos do que aque- aderidos na garupa de vacas e que mudam de
las de menor produção (6,2h versus 10,9h). cor após sofrer a pressão da monta (Kamar,
Também, a duração dos episódios de mon- Bovine Beacon, Master Mate) podem ser cita-
ta é menor (21,7 versus 28,2s) (Lopez et al., dos como alternativas para melhorar a detec-
2004). Uma das explicações para a menor du- ção do cio (Diskin e Sreenan, 2000).
ração e intensidade da manifestação do estro
são as menores concentrações plasmáticas de Detecção eletrônica
estrógeno, decorrentes de um maior “clearan-
ce” hepático de esteroides em vacas de leite de
do cio
alta produção (Wiltbank et al., 2006). Dessa Devido à crescente dificuldade na obser-
forma, a manifestação menos evidente e a me- vação de cio em vacas de leite, há mais de 40
nor duração têm dificultado a detecção do cio anos vêm sendo desenvolvidos equipamentos
em vacas de leite. que dispensem a observação visual e automa-
Por outro lado, o comportamento de cio tizem a detecção do cio. A primeira patente
de vacas de raças zebuínas é diferente do da- de um equipamento com essa finalidade foi
quelas de raças taurinas. Em um trabalho que concedida em 1974 (Polson, 1974) e descre-
comparou a duração do estro da raça Nelore ve um aparato eletrônico para a detecção e
(zebuína) com a da raça Angus (taurina), a registro do comportamento de cio. É baseado
duração do cio foi menor em vacas Nelore em um sensor de pressão a ser fixado na ga-
(12,9 ± 2,9h) do que nas rupa da vaca para transmitir
vacas Angus (16,3 ± 4,8h) Atualmente, há duas um sinal de rádio quando
(Mizuta et al., 2003). O pico classes de dispositivos para a vaca receber a monta por
de LH que coincide com o detecção eletrônica de cio, outros animais. Atualmente,
início do cio e a ovulação disponíveis comercialmente existem duas classes de dis-
ocorre de 26 a 28 horas após em diferentes países, uma positivos para detecção
o início do cio (Pinheiro et com base em sensores de eletrônica de cio disponí-
al., 1998). Uma menor dura- pressão capazes de registrar veis comercialmente em
ção do cio e uma maior fre- a monta sofrida pela vaca diferentes países, uma com
quência de cios ocorrendo em cio, e outra com base base em sensores de pressão
durante o período da noite em sensores que avaliam a capazes de registrar a monta
reduzem, em animais ze- atividade dos animais. sofrida pela vaca em cio, e

32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


outra com base em sensores da monta, tempo e duração
O sistema HeatWatch® ...
que avaliam a atividade dos da ativação do sensor, são
utiliza sensores de pressão
animais. analisados e, por meio de um
para detectar uma monta
De acordo com Senger algoritmo, é estabelecido o
sofrida por uma vaca em
(1994), um sistema de de- perfil de monta do animal e
cio.
tecção de cio deve ter como a ocorrência ou não do cio.
princípio uma elevada acurá- A eficiência desse sistema é
cia na detecção, com reduzido uso de mão de superior a 85%, com uma elevada acurácia,
obra e com uma indicação apropriada do mo- uma vez que utiliza o comportamento carac-
mento ótimo para realização da inseminação terístico do cio, que tem alta correlação com
artificial. Dessa forma, um sistema automáti- o momento da ovulação. Entretanto, esse sis-
co de detecção de cio deve garantir um moni- tema tem como desvantagens o baixo alcance
toramento contínuo e confiável de mudanças de transmissão, que limita seu uso em vacas a
fisiológicas ou comportamentais que ocor- pasto, e a detecção apenas de montas que du-
rem durante o estro. Esse sistema também rem mais de dois segundos (Chaint-Dizier e
deve promover a identificação automática Chaistant-Mailard, 2012; Stevenson, 2014).
do animal e ser capaz de armazenar informa- A relação entre o aumento da atividade
ções e apresentar custo-benefício favorável. física e a manifestação do cio é conhecida
Ainda, o fator mais importante é que a carac- há bastante tempo (Farris, 1954). Em 1977,
terística avaliada seja alta- foram utilizados pedôme-
mente correlacionada com A relação entre o aumento tros desenvolvidos para
o momento de ovulação, o da atividade física e a uso humano para registrar
que garantirá uma elevada manifestação do cio é a variação na atividade físi-
taxa de concepção após a conhecida há bastante ca durante o cio de vacas da
inseminação artificial. tempo. A detecção de cio raça Holandesa. Observou-
O sistema HeatWatch® com base em pedômetros é se um aumento de 393%
(Heat Watch II, CowChips, mediada por tags eletrônicos na atividade física dos ani-
EUA, http://www.co- que identificam o animal mais durante o cio (Kiddy,
wchips.net/), disponí- e registram o número de 1977). Esses trabalhos fo-
vel comercialmente nos passos. ram a base para o desenvol-
Estados Unidos e Europa, vimento de equipamentos
utiliza sensores de pressão próprios para o monitora-
para detectar uma monta sofrida por uma mento da atividade física e detecção do cio
vaca em cio. Consiste em um mini transmis- em bovinos.
sor de rádio, alojado dentro de uma estrutura De acordo com Galon (2010), um siste-
plástica, que é ativado pelo peso exercido pela ma eletrônico de detecção de cio com base
monta de outra vaca, em uma monta que dure em pedômetros é composto por tags eletrôni-
pelo menos dois segundos. Cada ativação do cos que identificam o animal e registram o
sensor gera uma transmissão por ondas de rá- número de passos; uma antena faz a leitura
dio até uma antena de recepção e daí para um dos dados acumulados no pedômetro; um
computador. O alcance da transmissão é de computador com software específico para a
até 400 metros. Os dados recebidos de cada interpretação dos dados; e uma interface de
transmissão, como identificação da vaca, data comunicação entre a antena de leitura e o

Uso de tecnologias de precisão na reprodução de bovinos leiteiros 33


software. Após receber um sinal de rádio com a transmissão dos dados. Aproximadamente
uma requisição de identificação enviada pelo 18 tipos de dispositivos de dez diferentes em-
computador, o pedômetro envia um sinal presas que desenvolvem o monitoramento da
para ativação da antena e transmite os dados atividade de vacas com a finalidade de identi-
de identificação do animal e da sua atividade ficá-las em cio estão disponíveis no mercado
desde o último período de leitura. A interfa- mundial. DeLaval, IceRobotics, Fujitsu, SAC,
ce de comunicação faz a translação dos dados SCR, Afimilk, Select Sires, CRV e Semex são
analógicos para uma sequência digital que é algumas das empresas que comercializam es-
enviada para o software. O software processa os ses equipamentos em diferentes países pelo
dados e identifica automaticamente o aumen- mundo.
to da atividade física do animal, característica A sensibilidade desses sistemas de detec-
de cio, e indica um intervalo de tempo em que ção de cio foi revisada por Roelofs e van Erp-
a inseminação artificial deve ser realizada. van der Kooij (2015). A sensibilidade variou
Inicialmente, os pedômetros eram cons- de 36 a 78%, que foi maior que a verificada
truídos a partir de sensores de mercúrio, em para a observação visual do cio, que variou de
que a movimentação dos animais provocava 20 a 59%. O valor preditivo positivo desses
o deslocamento de uma gota de mercúrio em sistemas variaram de 74 a 97%, o que não foi
suspensão, o que fechava um contato elétrico melhor nem pior do qua a observação visual.
que era registrado. No passado, esses pedôme- Esses dados mostram confiabilidade no uso
tros eram interligados a radiotransmissores de de dispositivos eletrônicos para o monitora-
baixo alcance. A desvantagem desses sistemas mento do cio em vacas de leite.
era a reduzida vida útil das baterias utilizadas A base para os elevados valores de sen-
nos transmissores e o baixo alcance de trans- sibilidade e valor preditivo positivo está no
missão. Recentemente, novos sensores vêm uso da computação científica para desenvol-
sendo utilizados para o monitoramento da vimento de software. Atualmente, algoritmos
atividade física de vacas leiteiras para predi- têm sido desenvolvidos usando ferramentas
ção da ocorrência de cios. Acelerômetros vêm de computação científica, como aprendizado
sendo utilizados como sensores de atividade de máquina. Esses algoritmos consideram,
em colares colocados no pescoço das vacas. entre outros, a média da atividade física do
Ainda, alguns pedômetros podem controlar animal nos dias que precedem o cio, o inter-
a posição do animal (eixo x-y-z) e registram valo do último cio e/ou inseminação, entre
o tempo que o animal permanece deitado, outros. Um fator que também é considerado
por exemplo. Esses novos aparelhos possuem no desenvolvimento dos algoritmos é o rit-
maior capacidade de armazenamento e a mo circadiano da atividade física (Lovendal e
transmissão dos dados ocorre via bluetooth, Chagunda, 2010).
após a passagem dos animais por cortinas de Uma vez que cada sistema eletrônico de
leitura (Roelofs et al., 2010; Stevenson, 2014; detecção de cio é baseado no uso de algorit-
Aungier et al., 2015). Isso gera um baixo mos específicos, cada sistema tem determina-
consumo de energia, com maior vida útil da do um momento ótimo para a realização da
bateria. Além disso, a capacidade de armaze- inseminação artificial, conforme revisado por
namento de dados permite a transmissão de Roelofs e van Erp-van der Kooij (2015). A ca-
dados no momento da ordenha, quando as va- racterística mais importante, porém, é que a
cas passam por cortinas de leitura que ativam atividade física apresenta alta correlação com

34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


o pico pré-ovulatório de es- cas (Bruyère et al., 2012).
Outros dispositivos e
tradiol. Lyimo et al. (2000) Outra aplicação é o desen-
aplicações têm sido
verificaram que a máxima volvimento de sensores de
desenvolvidos para
atividade física ocorreu cer- proximidade com transmis-
o monitoramento do
ca de oito horas após o pico são e recepção simultâneas
cio em vacas leiteiras,
de estradiol e, por conse- de sinal UHF, capazes de
além dos sensores de
quencia, da ovulação. Dessa quantificar a frequência e
atividade e monta. O
forma, o desenvolvimento duração de interações pró-
monitoramento automático
desses equipamentos ele- ximas entre vacas (O’Neill
das concentrações de
trônicos leva em considera- et al., 2014). Sensores de
progesterona no leite vem
ção o momento da ovulação, radiofrequência que utili-
sendo utilizado desde 2009,
para predizer o momento zam banda ultra larga (Ultra
na Dinamarca, em sistemas
ideal para realização da inse- Wide Band) têm sido uti-
de ordenha voluntária
minação artificial. lizados, em conjunto com
(robótica).
Outros dispositivos e antenas de transmissão e
aplicações têm sido desen- recepção, para determinar a
volvidos para o monitoramento do cio em posição de animais tanto no eixo horizontal
vacas leiteiras, além dos sensores de atividade quanto no vertical, o que tem permitido o de-
e monta. O monitoramento automático das senvolvimento de software para a identificação
concentrações de progesterona no leite vem automática de animais em cio (Homer et al.,
sendo utilizado desde 2009, na Dinamarca, 2013). Ainda, algoritmos foram desenvolvi-
em sistemas de ordenha voluntária (robótica). dos para automatizar a identificação de cio
O software desenvolvido (Herd Navigation®, com base na temperatura da superfície corpo-
DeLaval Corporation) permite ajustar o nú- ral, obtida a partir de câmeras termográficas
mero de testes por ciclo estral e identificar a (Talukder et al., 2014). Todas essas aplicações
potencial situação reprodutiva da vaca, como têm sido objeto de pesquisa e desenvolvimen-
anestro pós-parto, em ciclicidade e potencial- to e a expectativa é de que em futuro próximo
mente gestante. Além disso, o software gera sejam disponibilizados no mercado mundial
um alerta para a ocorrência de cio quando a equipamentos que embarquem essas novas
concentração de progesterona no leite encon- tecnologias.
tra-se abaixo de 4ng/mL, o que permite uma
taxa de detecção de cio de até 95%. Os algorit- Uso de dispositivos
mos desenvolvidos permitem, ainda, calcular
a probabilidade de sucesso da inseminação
eletrônicos para o
artificial a ser realizada, com base na duração monitoramento de vacas
da fase luteal prévia e na cinética de redução com metrite clínica
da concentração de progesterona (Stevenson,
2014). Um dos desafios futuros da pecuária de
O videomonitoramento tem sido utili- precisão é o desenvolvimento de equipamen-
zado para a identificação de cio, a partir do tos e aplicativos dotados de inteligência com-
desenvolvimento de software capaz de iden- putacional. Ou seja, além da geração de da-
tificar o movimento das vacas e a posição de dos individualizados a partir de dispositivos
imobilidade para ser montada por outras va- eletrônicos, é preciso o uso da computação

Uso de tecnologias de precisão na reprodução de bovinos leiteiros 35


científica para que esses dados sejam auto- te, o que refletiu em maior número de visitas
maticamente analisados e gerem informações ao cocho e em menor taxa de consumo de
que auxiliem os produtores rurais na tomada alimentos (g/min) das vacas com metrite clí-
de decisão. Para tanto, é preciso um maior nica, conforme pode ser visualizado na Figura
conhecimento das alterações e diferenças ob- 1 (Vargas, 2015).
servadas entre vacas sadias e as afetadas por Como forma de demonstrar a aplicabili-
diferentes condições clínicas. dade desses resultados, avaliou-se o consumo
Nesse sentido, foram avaliadas 18 vacas de uma vaca da raça Holandesa com metrite
da raça Holandesa, durante as primeiras 12 clínica diagnosticada aos 10 dias de lactação
semanas de lactação. Desse grupo de animais, (Fig. 2). Imediatamente após o diagnóstico,
nove vacas mantiveram-se sadias, enquanto iniciou-se o tratamento à base de antibiotico-
outras nove apresentaram casos clínicos de terapia sistêmica. As vacas do rebanho foram
metrite, por infecção natural, aos 13 dias pós acompanhadas semanalmente por um médi-
-parto, em média (Vargas, 2015). Os animais co veterinário, sendo submetidas a exames
foram monitorados com um sistema de auto- ginecológicos puerperais até o fim do perío-
mação com tecnologia nacional (Intergado®, do voluntário de espera. Já havia alteração no
Seva Engenharia Ltda., Brasil), composto consumo de matéria seca dois dias antes do
por cochos eletrônicos sobre células de carga, diagnóstico clínico da metrite. Ainda, após o
que pesavam constantemente os alimentos tratamento, houve rápida recuperação no pa-
(Chizzoti et al., 2015). Associado aos cochos drão de consumo (Fig. 2).
e bebedouros, os animais foram identifica- Analisados em conjunto, o consumo de
dos com brinco eletrônico TAG (FDX - ISO matéria seca e o comportamento alimentar
11784/11785; Allflex, Brasil). Foram moni- podem ser utilizados para o monitoramento
torados o consumo de matéria seca (MS), o da saúde de vacas no início da lactação. Para
consumo de matéria seca por visita ao cocho tanto, é preciso a aplicação da computação
eletrônico, o tempo em ingestão (min.), o nú- científica para o desenvolvimento e validação
mero de visitas com ingestão e a taxa de con- de indicadores que associem as diferentes ca-
sumo de alimentos (g/min). racterísticas de consumo e o comportamento
Vacas que apresentaram metrite no pós alimentar e gerem limites críticos que estejam
-parto produziram em média 1,42 litros de associados à ocorrência de afecções puerpe-
leite a menos (P<0,0001) do que aquelas rais. Assim, será possível identificar precoce-
saudáveis (29,79 ± 0,11 e 31,21 ± 011 litros/ mente o estabelecimento dessas afecções, o
dia, respectivamente) durante as primeiras 12 que permitirá diagnóstico e tratamento mais
semanas de lactação. Associado à menor pro- precoces que reduzam os efeitos negativos so-
dução de leite, também foi observado menor bre a produtividade dos animais.
consumo de matéria seca (kg/dia) das vacas
com metrite nas primeiras semanas pós-par- Avaliação automatizada
to. Além disso, o comportamento alimentar
foi alterado. Vacas com metrite apresentaram
do Escore da Condição
menor consumo de matéria seca a cada visita Corporal (ECC)
realizada ao cocho eletrônico. O tempo total O ECC é um dos principais parâmetros
em ingestão de alimentos, contudo, foi seme- utilizados para avaliação do manejo nutricio-
lhante entre as vacas saudáveis e as com metri- nal e reprodutivo de vacas leiteiras. Permite

36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Figura 1: Comportamento ingestivo durante as primeiras 12 semanas de lactação, de vacas da raça
Holandesa com ocorrência clínica ou não de metrite. a) Consumo de matéria seca por visita ao cocho
eletrônico; b) Tempo em ingestão; c) Número de visitas com ingestão; d) Taxa de consumo de alimentos
(g/min). (*Diferenças significativas para a interação metrite x semana - P<0,05, pelo teste de Tukey.)
Adaptado de Vargas, 2015.

Figura 2: Consumo de matéria seca de uma vaca diagnosticada com metrite aos 10 dias pós-parto
(seta), quando foi iniciado tratamento à base de antibioticoterapia (Carvalho et al. 2014).

Uso de tecnologias de precisão na reprodução de bovinos leiteiros 37


estimar a ocorrência de balanço energético tridimensionais para realizar a estimativa do
negativo durante o início da lactação, e é al- valor do ECC (DELAVAL BCS ®).
tamente correlacionado com o desempenho A Embrapa Gado de Leite está em pro-
reprodutivo dos animais (Roche et al., 2009). cesso de desenvolvimento de um software
Apesar dos benefícios da avaliação do ECC, e de um aplicativo para smartphones para a
sua utilização ainda é relativamente reduzida, avaliação automatizada do escore da condi-
possivelmente em decorrência de sua men- ção corporal. O e-Score processará digital-
suração subjetiva, o que torna necessário um mente imagens e as avaliará com base em seu
avaliador treinado para que haja consistência conteúdo e permitirá a avaliação do escore
na avaliação (Azzaro et al., 2011). corporal de vacas de diferentes raças leitei-
Imagens digitais têm sido utilizadas para ras. O e-Score está em fase final de desenvol-
estimar o ECC (Coffey et al., 2003; Bewley vimento do seu protótipo e, efetivamente,
et al., 2008; Jeffrey e Schutz, 2009; Azzaro et desde sua concepção e o estabelecimento
al., 2011). Coffey et al. (2003) propuseram da prova de conceito até o momento atual,
que a gravação automática de imagens com o aplicativo sempre logrou êxito em sua pro-
posterior avaliação do ECC aumentaria a sua posta de determinar o ECC de animais a par-
utilidade pelos técnicos de fazendas leiteiras. tir de um conjunto de imagens padrões. Para
Por outro lado, Ferguson et al. (2006) reco- os testes iniciais, foram utilizadas imagens de
mendaram a utilização de imagens digitais, vacas da raça Holandesa; porém, outras ra-
que poderiam ser avaliadas à distância por ças serão incorporadas ao aplicativo (Arbex
técnicos, os quais poderiam intervir no mane- et al., 2015). Com o uso de inteligência com-
jo, principalmente nutricional, sem a presen- putacional, a tecnologia do e-Score permite
ça na fazenda. Esses trabalhos demonstraram a avaliação automatizada do ECC, fazendo
a confiabilidade e acurácia no uso das imagens a captura e a “leitura” das imagens no pró-
digitais em substituição a uma avaliação in prio dispositivo móvel, sem necessidade de
loco. acesso à internet ou conexão com a rede de
Com o objetivo de superar a subjetivi- telefonia celular.
dade e possibilitar aplicação mais ampla da
avaliação de ECC nos sistemas de produção Considerações Finais
de leite, diversos grupos de pesquisa têm de-
senvolvido ações para a automação do pro- O maior custo e a menor disponibilida-
cesso, utilizando recursos de computação de de mão de obra na atividade leiteira têm
gráfica (Azzaro et al., 2011; Bewley et al., levado ao desenvolvimento de novas tecnolo-
2008; Ozkaya e Bozkurt, 2008; Halachmi et gias que auxiliam no manejo reprodutivo. O
al., 2008). Nesse contexto, atualmente já exis- aumento na eficiência de detecção de cio e o
tem dispositivos eletrônicos para a avaliação diagnóstico precoce de doenças reprodutivas
automatizada do escore corporal disponíveis são exemplos de como essas tecnologias po-
no mercado e aplicativos para smartphones dem contribuir para o aumento da eficiência
com essa funcionalidade. A empresa DeLaval reprodutiva em bovinos leiteiros. A expectati-
Corporate possui um sistema integrado, o va é que essas tecnologias sejam gradualmen-
qual utiliza, para a determinação do ECC, te incorporadas aos sistemas de produção e
um sensor de presença do animal que, aliado que, em futuro próximo, façam parte da rotina
a sensores infravermelhos, captura imagens das propriedades leiteiras no Brasil.

38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


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Sistema de
ordenha automático
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Cláudio Antônio Versiani Paiva1 - CRMV-MG 6203, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira1 - CRMV-MG5930, Thier-
ry Ribeiro Tomich1, Fernando Pimont Possas2 - CRMV-MG 7779
1
Embrapa Gado de Leite, Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária, Coronel Pacheco, Minas Gerais
2
Bolsista Pós-Doc – CAPES – Universidade Federal de São João del-Rei/Embrapa

1. Introdução do inglês Automatic Milking System) ou vo-


luntário (VMS, do inglês Voluntary Milking
O aumento no valor dos preços de terra System), promoveu a automação completa de
e da mão de obra e a diminuição da lucrativi- todo o processo de ordenha. Sensores moni-
dade nas últimas décadas têm motivado pro- toram e registram automaticamente o volume
dutores de leite a aumentarem a eficiência dos
de leite, parâmetros de qualidade do leite e
sistemas de produção (de Koning, 2004). A
frequência de ordenha dos animais, manten-
adoção de tecnologias de automação e pecuá-
do um arquivo de todos os processos realiza-
ria de precisão tem contribuído para o aumen-
dos sem a intervenção humana (Bloss, 2014).
to dessa eficiência. O maior impacto pode ser
Várias empresas lançaram comercialmente os
constatado na redução do tempo e dos custos
de atividades como remoção e tratamento de seus robôs de ordenha, incluindo a DeLaval,
dejetos, alimentação e ordenha dos animais. Fullwood, GEA Farm Technologies, SAC,
Tradicionalmente, a ordenha das vacas Lely, Boumatic e Insentec.
está associada a uma atividade laboral intensa, O primeiro sistema de ordenha automá-
mesmo após o advento dos sistemas de or- tico foi instalado na Holanda, em 1992, pela
denha mecânicos. No entanto, a robotização empresa Lely (Schewe e Stuart, 2015). Desde
dos sistemas de ordenha tornou o processo então tem-se observado um crescimento sig-
mais flexível e menos laborioso (Hogeveen et nificativo no número de fazendas ao redor do
al., 2004). O sistema de ordenha robotizado, mundo que têm adotado o AMS. Atualmente,
também conhecido como automático (AMS, estima-se que mais de 10.000 sistemas de

Sistema de ordenha automático 41


ordenha robotizados estejam operando em realizada com produtores de leite da Europa
aproximadamente 5.500 fazendas no mun- indicou que 40% dos investimentos a serem
do inteiro (de Koning, 2011; Svennersten- realizados em novas salas de ordenha pre-
Sjaunjae Pettersson, 2014). A maioria das veem a instalação de sistemas de ordenha
fazendas que adotaram o sistema de ordenha robotizados. Estima-se que a proporção de
automático está localizada no continente eu- vacas ordenhadas com o AMS no mundo al-
ropeu, em países como Holanda, Dinamarca, cance 18% em 2016 (Holloway, 2014).
Noruega e Suécia; porém a sua adoção vem
crescendo também nos países da América do 2. Operação do sistema de
Norte (Bisaglia et al., 2012). A primeira orde-
nha robótica instalada na América do Norte
ordenha automático
ocorreu no fim dos anos 90 (Walker et al., O sistema de ordenha automático
2014). Estima-se que mais de 200 fazendas (AMS) é composto por diferentes módulos:
nos EUA e 350 no Canadá operavam com sistema de contenção, sistema de detecção de
AMS entre 2011e 2012 (Gillespie et al., 2014; tetos, braço robótico para colocação dos insu-
Schewe e Stuart, 2015; fladores, sistema de limpeza
Tranel et al., 2015). A ado- de tetos, sistema de sen-
A adoção dos sistemas sores, software e o próprio
ção dos sistemas robotiza- robotizados de ordenha
dos de ordenha deve conti- equipamento de ordenha
deve continuar crescendo (Hogeveen et al., 2001). A
nuar crescendo ao redor do ao redor do mundo,
mundo, impulsionada pela entrada e a saída da vaca
impulsionada pela escassez dentro do sistema de con-
escassez e encarecimento e encarecimento da
da mão de obra associada à tenção são controladas por
mão de obra, associada portões automáticos. Uma
preferência por não empre- à preferência por não
gar mão de obra não familiar vez contida no box de orde-
empregar mão de obra
e à demanda por mais flexi- nha, o braço robótico encon-
não familiar e à demanda
bilidade do trabalho e qua- tra os tetos da vaca, lava-os,
por mais flexibilidade do
lidade de vida (Bloss, 2014; estimula-os, retira e examina
trabalho e qualidade de
Schewe e Stuart, 2015). os primeiros jatos para anor-
vida.
No Brasil, a primeira malidades, para posterior
ordenha robótica foi instala- acoplamento individual dos
da em Castro/PR e entrou em operação em insufladores. O fluxo de leite é monitorado e o
2012. Em 2015, pouco mais de dez unidades desacoplamento é realizado individualmente
robóticas encontravam-se por quarto. Após a retirada dos insufladores,
em operação em 10 fazen- o braço robótico aplica um
das. Até o momento, duas Uma vez contida no box de spray de desinfetante em to-
empresas estão comercia- ordenha, o braço robótico dos os tetos, para posterior
lizando o equipamento no encontra os tetos da vaca, liberação da vaca (Walker et
Brasil, e a estimativa é que, lava-os, estimula-os, retira al., 2014).
em 2020, aproximadamente
e examina os primeiros Os sistemas de orde-
50 unidades estejam em fun-
jatos para anormalidades, nha automáticos apresen-
cionamento no Brasil.
para posterior acoplamento tam várias configurações e
Uma recente pesquisa
individual dos insufladores. composições, dependendo

42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


do fabricante. A apresentação mais simples é normalmente resulta em menores taxas de
constituída por uma única unidade com um frequência de ordenha e maior número de
único braço robótico. Essas unidades pos- vacas a serem ordenhadas involuntariamente.
suem capacidade para ordenhar um rebanho Contudo, é o sistema que confere maior liber-
de 50 a 60 vacas. Alguns fabricantes projeta- dade e bem-estar às vacas (Fig. 1);
ram sistemas em que um único braço robótico Fluxo forçado com alimentação primei-
serve duas unidades de ordenha, aumentando ro: as vacas possuem acesso livre à pista de
a capacidade de ordenha para 80 a 90 vacas. alimentação e obrigatoriamente passam pelo
Há ainda a opção de se organizarem as unida- robô para obterem acesso à área de descan-
des de ordenha robóticas em clusters, disper- so. Se elas foram recentemente ordenhadas,
sas por todo o galpão, em galpões tipo tie stall, serão desviadas diretamente para a área de
e adaptadas em sistemas convencionais ro- descanso. Esse tipo de fluxo resulta em inter-
tativos, e dessa forma expandir a capacidade valos entre ordenhas mais regulares, menor
de ordenha para médios e grandes rebanhos número de vacas com longos intervalos entre
(Walker et al., 2014). ordenhas e reduzido número de ordenhas in-
O design do AMS exige pouco espaço voluntárias. Contudo, nesse sistema as vacas
para a sua instalação, podendo operar em podem hesitar em passar pelos portões de se-
praticamente qualquer sistema, desde aque- paração e permanecerem por mais tempo na
les confinados até sistemas a pasto, poden- área de alimentação (Fig. 2);
do ser facilmente realocado em função de Fluxo forçado com ordenha primeiro:
uma nova instalação ou expansão do siste- as vacas devem obrigatoriamente passar pelo
ma de produção (de Koning e Rodenburg, robô para obterem acesso à pista de alimen-
2004; Reinemann, 2008; de Koning, 2011; tação e retornarem à área de descanso. Nesse
Rodenburg, 2013; Scott et al., 2015).
Ao projetar o layout das instalações, é
necessário levar em conta uma série de fato-
res, como oferecer máximo conforto para as
vacas, altas taxas de frequência de ordenha,
curtos períodos de espera para ordenha e
fácil acesso à área de descanso. No entanto,
nenhum projeto consegue suprir todos es-
ses fatores integralmente, devido aos confli-
tos entre oferecer máximo conforto e obter
máxima eficiência no manejo das vacas (de
Koning, 2011). O tipo de fluxo a ser adotado
depende de fatores relacionados às questões
estruturais e de manejos específicos de cada
fazenda. Geralmente as vacas podem acessar
o AMS por três tipos de fluxo:
Fluxo livre: as vacas acessam o robô
quando este se encontra livre, assim como
possuem acesso irrestrito à pista de alimen- Figura 1. Modelo de layout de fluxo livre.
tação e à área de descanso. Esse tipo de fluxo Fonte: Adaptado de Rodenburg (2014).

Sistema de ordenha automático 43


denha, possuindo ainda potencial de manejar
essa relação para influenciar o tráfego de ani-
mais na sala de espera. Além de manter o in-
teresse das vacas em se aproximarem do robô,
a adequada oferta de concentrado contribui
para a manutenção da condição corporal e a
garantia de uma suficiente produção de leite.
Cada sistema de produção determina a
frequência máxima de visitas diárias das va-
cas ao robô, podendo ser programado valores
individuais, por lote, ou para todo o rebanho.
Normalmente, esse valor varia de 5 a 6 visi-
tas por dia, com o objetivo de maximizar a
produção sem causar estresse adicional aos
animais (Schewe e Stuart, 2015). Forsberg et
al. (2002) observaram que fazendas que op-
taram pelo fluxo livre obtiveram as menores
frequências de visitas voluntárias, quando
Figura 2. Modelo de layout de fluxo forçado
com alimentação primeiro. comparadas àquelas que adotaram o fluxo for-
Fonte: Adaptado de Rodenburg (2014). çado. Por outro lado, a produção de leite não
diferiu significativamente entre os dois tipos
sistema as vacas podem formar longas filas e de sistema.
permanecerem por mais tempo em pé na área
de espera, impactando frequência de ordenha
e aumentando problemas relacionados ao
casco. Um bom projeto deve contemplar uma
área de espera adequada próxima à unidade
robótica (Fig. 3).
Estudo realizado por Schewe e Stuart
(2015), com pequenas e médias fazendas,
mostrou que a maioria absoluta dos produ-
tores europeus que adotaram o AMS fizeram
opção pelo sistema de fluxo livre. Em contras-
te, a maioria dos produtores americanos teve
preferência pelo fluxo forçado.
Para motivar a entrada no robô, normal-
mente é ofertada uma quantidade variável
de concentrado no momento da ordenha
(Prescott et al., 1998), impactando direta-
mente no fluxo de animais ordenhados. Nesse
sentido, Scott et al. (2015) observaram uma
Figura 3. Modelo de layout de fluxo forçado
forte associação entre a ordenha voluntária e com ordenha primeiro.
o acesso à alimentação concentrada pós-or- Fonte: Adaptado de Rodenburg (2014).

44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


O período de adaptação das vacas ao horas trabalhadas diariamente e às folgas dos
novo sistema normalmente apresenta gran- funcionários, fatores dependentes da dinâmi-
des variações entre fazendas. Castro et al. ca de cada fazenda. A operação de ordenha,
(2015) observaram que o período médio de em especial, requer mão de obra capacitada,
adaptação das vacas foi de 188 dias, ao pas- porém cada vez mais escassa e onerosa.
so que Jacobs e Siegford (2012) observaram Entre as principais razões para a aquisi-
que, em fazendas americanas, 95% das vacas ção do AMS, destacam-se escassez e encare-
foram ordenhadas voluntariamente dentro de cimento da mão de obra, problemas relativos
30 dias. Divergências entre fazendas podem à sucessão familiar e uso de tecnologia ino-
indicar que o protocolo de transição utilizado vadora pelos mais jovens, procura por mais
talvez não seja o recomendado pelos fabri- tempo com a família, mais qualidade de vida,
cantes do AMS. Adicionalmente, o sucesso redução e maior flexibilidade do trabalho,
da implantação de um sistema de ordenha prolongamento do tempo de vida no trabalho
automático dependerá de fatores como pla- a partir da terceira idade. Enfim, o sistema de
nejamento adequado das instalações, conhe- ordenha robotizado é visto como um sistema
cimento e capacitação da mão de obra para poupador de mão de obra e de tempo, tornan-
operá-lo (Hillerton et al., 2004). As fazendas do o uso do tempo mais produtivo e lucrativo
que obtiveram maior nível de sucesso na tran- (Butler et al., 2012; Haan et al., 2012; Mathijs,
sição para o sistema de ordenha automático 2004; Castro et al., 2015; Schewe e Stuart,
foram aquelas em que o número de animais 2015; Walker et al., 2015).
estava de acordo com o dimensionamento Pesquisas realizadas até o presente mo-
do equipamento, e que os mento têm apontado redu-
fazendeiros já possuíam co- ...a vantagem do AMS está ções entre 19% e 50% do
nhecimento e experiência na disponibilidade de mais tempo associado à ordenha
prévia com sistemas de ge- tempo para atividades das vacas, além da redução
renciamento computadori- gerenciais e estratégicas. no quantitativo e custo da
zado de rebanho (Castro et mão de obra após a instala-
al., 2015). Por outro lado, ção do AMS (de Koning and
Hillerton et al. (2004) observaram que a Rodenburg, 2004; Mathijs, 2004; Bijl et al.,
maioria das fazendas que converteram do sis- 2007; Heikkila et al., 2010; Borchers, 2015;
tema convencional para o sistema robotizado Castro et al., 2015; Steeneveld e Hogeveen,
o fizeram em condições abaixo do nível ideal 2015). Nesse sentido, Dijkhuizen et al.
de estrutura, conhecimento e planejamento. (1997) observaram que a substituição de mão
Essas condições ajudam a explicar por que al- de obra em fazendas que adotaram o AMS
gumas fazendas não obtêm sucesso em man- pode resultar em economia de US$ 200,00/
ter o sistema AMS. vaca/ano.
No entanto, o número de pessoas dedica-
3. Implicações sobre a das à atividade como um todo não tem sofri-
mão de obra e a qualidade do grandes mudanças em relação ao sistema
de produção convencional. Nesse sentido,
de vida a vantagem do AMS está na disponibilidade
A pecuária de leite é uma atividade que de se ter mais tempo para atividades geren-
apresenta limitações em relação ao número de ciais e estratégicas (Edmondson, 2015). A

Sistema de ordenha automático 45


maior parte desse tempo é ocupada com ati- das e adaptadas ao estágio de lactação ou ao
vidades ou funções associadas à checagem e tipo de sistema de produção (Svennersten-
monitoramento dos dados e informações ge- Sjaunja e Pettersson, 2008). Estudos têm de-
rados pelo sistema, enquanto ocorre redução monstrado que a frequência média de orde-
do tempo gasto com atividades operacionais nhas em um sistema de ordenha automático
(Butler et al., 2012; Castro et al., 2015). tem variado entre 2,5 a 3,0 ordenhas/vaca/
A adoção do AMS tem alterado de forma dia. Vacas de alta produção são incentivadas
significativa o papel do produtor de leite e sua a serem ordenhadas até quatro a cinco vezes
relação com as vacas. Em vez de gastarem o por dia, estimulando o acesso à ordenha pelo
tempo ordenhando as vacas, eles permane- fornecimento de alimentação concentra-
cem mais tempo inspecionando e observando da várias vezes ao dia (Walker et al., 2014).
os animais, o que pode ser considerado uma Adicionalmente, o fornecimento de alimen-
vantagem em relação ao sistema de ordenha tação concentrada durante a ordenha nesse
convencional. Dessa forma, os produtores tipo de sistema tem sido associado à redução
podem detectar problemas mais precocemen- do tempo de ordenha, aumento do fluxo e
te em função da maior disponibilidade de maior extração do leite (Samuelsson et al.,
tempo para observar os animais (Butler et al., 1993). A explicação mais provável tem a ver
2012; Schewe e Stuart, 2015). com a melhora do reflexo de liberação da oxi-
Nesse contexto, as tecnologias de auto- tocina quando a alimentação concentrada é
mação e precisão em todas as suas dimensões fornecida (Svennersten et al., 1995). Outro
e áreas aplicáveis surgem para complementar fator que tem sido associado ao aumento da
a mão de obra. Ao criar novas oportunidades, produção de leite no AMS é a adoção de uma
demandam mão de obra especializada, am- rotina de ordenha consistente e sistemática
pliam os salários pagos aos novos trabalhos (Rasmussen et al., 1990). O AMS permite
e funções, promovem o aumento da produti- que o processo de ordenha seja executado
vidade e eficiência dos sistemas de produção sempre da mesma forma a cada ordenha, tor-
(David H. Autor, 2015). nando a rotina previsível para as vacas.
Contudo, algumas fazendas comerciais
4. Implicações sobre a têm reportado que a expectativa de aumento
produtividade, saúde do na produção de leite não se concretizou após
a implantação do AMS. O resultado negativo
úbere e bem-estar animal pode ser creditado parcialmente à redução
Uma unidade de ordenha robótica pode da curva de lactação, ocorrida em função dos
aumentar a produção de leite entre 6% e intervalos irregulares entre ordenhas e às fa-
35% devido, principalmente, ao aumento da lhas na colocação dos insufladores (Billon e
frequência de ordenha (Kruip et al., 2002; Tournaire, 2002; Bach e Busto, 2005). Porém,
Wagner-Storch e Palmer, 2003; de Koning a maioria dos casos reportados de queda na
e Rodenburg, 2004; Speroni et al., 2006; produção foi devido às mudanças estrutu-
Walker et al., 2014; Steeneveld et al., 2015). rais e de manejo que ocorreram concomi-
O número de frequências de ordenha alcan- tantemente à adoção do AMS (Steeneveld e
çado no AMS depende de fatores como tipo Hogeveen, 2015).
de fluxo e rotina de ordenha adotados, sendo Walker et al. (2014) avaliaram sete reba-
que as frequências podem ser pré-determina- nhos que fizeram a transição de um sistema

46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


de ordenha convencional para o automático. menores com o uso de robôs. Porém, quando
Observaram que quatro fazendas aumenta- essas condições não estão presentes, pode ha-
ram a produção média de leite por lactação, ver aumento da CCS, de problemas de casco
uma fazenda apresentou diminuição, enquan- e aqueles relacionados à nutrição. Nesse sen-
to em duas não foi possível determinar o efei- tido, Zecconi et al. (2003) reportaram que a
to sobre a produção (Tab. 1). adoção do sistema de ordenha automático
Sistemas de ordenha automáticos geram por si só não piorou a saúde do úbere das
grande quantidade de dados relacionados aos vacas quando o manejo e o status sanitário
parâmetros de ordenha, qualidade do leite, do rebanho estavam em níveis satisfatórios
alimentação e atividade dos animais (Garcia no momento da sua implantação. Sarikaya e
et al., 2014). Esses dados constituem a base Bruckmaier (2006) reportaram que a adoção
para os alarmes pré-definidos pelo usuário, do AMS reduziu a taxa de sobreordenha co-
os quais podem ser consultados diariamente mumente observada em sistemas de ordenha
pelo gestor da fazenda. Estudos realizados até convencionais, influenciando de forma positi-
o momento relatam que a incidência de doen- va a CCS do leite individual das vacas.
ças é extremamente variável entre fazendas Por outro lado, há estudos demonstran-
que adotaram o AMS. Entre os principais fa- do que, imediatamente após a adoção do
tores que influenciam os parâmetros de saúde AMS, ocorre um aumento da CCS do leite
das vacas, destacam-se o manejo de adaptação de tanques individuais; porém, retornando
ao sistema robótico, a estrutura disponível, aos níveis pré-adoção após o período de tran-
a temporalidade e tipificação das decisões sição (Klungel et al., 2000; Rasmussen et al.,
tomadas (Hillerton et al., 2004, Schewe e 2001, 2002; Kruip et al., 2002). Alguns fato-
Stuart, 2015). res, como intervalos maiores e irregulares de
Edmondson (2015) cita que, em reba- ordenha, podem ocasionar maior pressão in-
nhos bem dimensionados e manejados, os tramamária, fazendo com que algumas vacas
níveis de mastite e outras doenças podem ser apresentem maior nível de gotejamento de

Tabela 1. Comparação da produção de leite entre sistemas de ordenha


automáticos e convencionais no Canadá

Frequência Produção
Tamanho Produção vaca/
média de vaca/ano an- Diferença
Fazenda do rebanho ano após a adoção
ordenha/ tes da adoção (%)
(n) do AMS
dia do AMS
A 49 3,1 9.000 10.600 +17,8%
B 50 2,8 - - -
C 125 2,7 8.900 9.550 +7,3%
D 55 3,2 8.482 9.739 +14,8%
E 59 2,6 - - -
F 65 2,5 7.500 8.600 +14,7%
G 95 2,8 8.700 7.200 -17,2%

Fonte: Adaptado de Walker et al. (2014).

Sistema de ordenha automático 47


leite entre ordenhas, o que, por sua vez, está à deficiência na gestão de processos, como
relacionado a um maior risco de incidência limpeza do equipamento e dos tetos, maior
de mastite no rebanho (Persson Waller et al., tempo de permanência do leite dentro do sis-
2003). Outro fator que explicaria a maior tema de ordenha automático e aqueles ligados
contagem de CCS é a parada técnica do robô ao tempo de resfriamento do leite, alimentos
para manutenção. Novamente, algumas vacas e camas contaminadas e condições de limpe-
podem experimentar intervalos extremamen- za e higiene do ambiente (Klungel et al., 2000;
te longos, o que aumenta o risco de mastite Rasmussen et al., 2002; Magnusson, 2007).
(Pettersson et al., 2002). Esse fato indica a Walker et al. (2014) avaliaram sete reba-
importância de se ter a assistência técnica dis- nhos que fizeram a transição de um sistema
ponível 24 horas para minimizar os períodos de ordenha convencional para o automático.
de interrupções. Observaram que a CCS diminuiu em três
Steeneveld et al. (2015) observaram que, fazendas, ao passo que três fazendas apresen-
dependendo do manejo e dinâmica da fazen- taram aumento. Apenas uma fazenda não ex-
da, os alarmes de mastite emitidos pelo AMS perimentou nenhuma mudança na CCS após
podem não ser atendidos imediatamente, e a transição. Em relação à CBT, observaram
mesmo os animais que não desencadearam o que duas fazendas apresentaram decréscimos,
acionamento do alarme, mas que seriam iden- uma fazenda não mostrou alteração no núme-
tificados como caso clínico de mastite pelo ro de bactérias totais, e duas fazendas apresen-
ordenhador em sistemas de ordenha conven- taram uma tendência de alta após a transição
cionais, acabavam passando despercebida- (Tab. 2).
mente nos sistemas de ordenha automáticos. Implicações sobre a composição do leite
Em relação à contagem bacteriana to- foram relatadas por Svennersten-Sjaunja et al.
tal do leite (CBT), estudos realizados na (2000), que demonstraram não haver dife-
Holanda e Dinamarca indicaram que a CBT rença nos teores de gordura e proteína quan-
do leite de tanques individuais aumentaram do compararam sistemas de ordenha conven-
após a introdução do AMS. Entre as causas cional e automático. Justesen e Rasmussen
mais prováveis estão problemas relacionados (2000) observaram que os níveis de ácidos
Tabela 2. Comparação dos parâmetros de qualidade do leite entre sistemas de
ordenha automáticos e convencionais no Canadá
Tamanho CCS antes CCS após a CBT antes CBT após
Diferença Diferença
Fazenda do rebanho da adoção adoção do da adoção a adoção
(%) (%)
(n) do AMS AMS do mas do AMS
A 49 200.000 100.000 -50,0% 4.000 2.500 -37,5%
B 50 125.000 225.000 +80,0% - - -
C 125 200.166 185.833 -7,7% 7.634 4.925 -35,5%
D 55 150.000 162.000 +8,0% 1.346 2.102 +56,0%
E 59 200.000 200.000 0,0% 3.000 3.000 0,0%
F 65 325.000 225.000 -30,8% - 18.000 -
Acima da
G 95 100.000 325.000 +225,0% Baixa Aumentou
média

48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


graxos livres (AGL) aumentaram em fazendas da taxa de batimento cardíaco. Contudo, esse
após adoção do AMS (Klungel et al., 2000; de mesmo nível de estresse não foi observado
Koning et al., 2003). Teores elevados de AGL durante a ordenha quando medido pelo nível
são indesejáveis, pois promovem alterações de cortisol (Hagen et al., 2005; Gygax et al.,
sensoriais, diminuição da vida de prateleira 2006).
e de rendimento de fabricação dos produtos
lácteos (Tuckey e Stadhouders, 1967; Sapru 5. Viabilidade econômica
et al., 1997). Ainda não se conhece exatamen-
te o porquê do aumento dos AGL em leites de
da adoção do sistema de
vacas ordenhadas automaticamente, mas os ordenha automático
estudos realizados até o momento mostram Em avaliação realizada por Walker et al.
que esse fato pode estar ligado ao aumento (2014) no Canadá, o custo médio de aquisi-
da frequência e menor intervalo entre orde- ção por vaca de uma unidade nova do AMS é
nhas, impactando no aumento do tamanho de US$ 4.846,09, ao passo que esse valor é de
dos glóbulos de gordura e tornando-os mais US$ 1.706,16 para um sistema novo de orde-
susceptíveis à lipólise (Ahrne e Bjork, 1985; nha convencional, uma diferença de 184%. O
Ipema e Schuiling, 1992; Klei et al., 1997; custo médio de manutenção por vaca do AMS
Wiking et al., 2003; Wiking et al., 2006). é de US$ 93,12, enquanto esse valor é de US$
Questões sobre a influência do sistema de 49,40 para o sistema de ordenha convencio-
ordenha automático no bem-estar animal têm nal; uma diferença de 89%. O custo médio de
sido levantadas constantemente. Vacas cos- consumíveis químicos por vaca do AMS é de
tumam seguir uma rotina nas atividades de US$ 64,99, enquanto que esse valor é de US$
alimentação e descanso. No AMS, os animais 48,03 para o sistema de ordenha convencio-
seguem uma rotina de alimentação, ordenha nal; uma diferença de 35%. Os autores repor-
e descanso; porém, dependendo do tipo de taram que considerações em relação ao custo
fluxo, a ordem pode ser alterada, e aguardam da mão de obra são questões fundamentais
em fila para serem ordenhadas. Essa rotina para a tomada de decisão entre adquirir um
levanta a questão: se vacas de baixa dominân- sistema de ordenha convencional ou um au-
cia se adaptam a uma situação em que preci- tomático. O número médio de vacas ordenha-
sam competir por um lugar na fila de espera das por hora trabalhada do AMS é de 138,4,
da ordenha com vacas de alta dominância enquanto esse valor é de 38,2 para o sistema
(Svennersten-Sjaunja e Pettersson, 2008). de ordenha convencional. uma diferença de
Estudos sobre estresse proporcionado pelo 262%. O tempo médio para se ordenhar uma
AMS apresentam divergências. Enquanto vaca no AMS é de 0,62 minutos, ao passo que
alguns demonstraram que o AMS promove esse valor é de 1,72 minutos para o sistema
o bem-estar da vaca, pois proporciona uma de ordenha convencional; uma diferença de
frequência de ordenha mais natural e as vacas -64%. O custo médio da mão de obra relati-
se tornam muito mais calmas devido à me- va à ordenha por vaca/ano em fazendas com
nor intervenção humana no manejo dos ani- AMS é de US$ 157,00, enquanto esse valor é
mais (Reinemann, 1999; Tranel et al., 2012; de US$ 334,00 no sistema de ordenha con-
Walker et al., 2015), outros demonstraram vencional; uma diferença de -53%. Existem
que vacas apresentaram um aumento no ní- poucos estudos de viabilidade econômica so-
vel de estresse mensurado pela variabilidade bre o uso do sistema de ordenha automático,

Sistema de ordenha automático 49


mas Heikkila et al. (2010) fontes e custos de financia-
No Brasil a adoção dos
indicaram uma rentabilida- mento, capacidade de endi-
sistemas automáticos de
de menor de fazendas com vidamento e preço do leite
ordenha é recente, porém
AMS comparadas aos sis- pago ao produtor. Dessa
crescente, e demandará
temas convencionais, prin- forma, para cada proprie-
mão de obra qualificada e a
cipalmente nos anos logo dade se faz necessária uma
realização de pesquisas que
após a sua adoção. O custo
comprovem a viabilidade de análise econômica detalha-
de aquisição de um robô di-
uso em condições brasileiras. da das condições de merca-
fere entre fabricantes e mo- do para a melhor tomada de
delo, com preços variando decisão.
entre US$ 175.000,00 e US$250.000,00 por
uma unidade básica (Hyde e Engel, 2002; 6. Considerações finais
Holloway et al., 2014). Além do investimento
no robô em si, normalmente se faz necessária A automação do processo de ordenha é
a adaptação ou construção de novas estrutu- uma tendência mundial e uma resposta aos
ras para acomodar os equipamentos, poden- aumentos do custo, à escassez de mão de obra
do o investimento total ultrapassar facilmente rural e à necessidade de melhoria da qualida-
US$ 500.000,00. de de vida e da rotina de trabalho na fazen-
Os custos de manutenção desses equi- da leiteira. Os equipamentos disponíveis no
pamentos também variam entre fabricantes, mercado geram informações que permitem o
modelos e perfil de manutenção de cada fa- entendimento da variabilidade individual dos
zenda, mas estima-se um custo mensal entre animais, contribuindo para a aplicação dos
US$ 400,00 e US$ 1.200,00. Considerando o conceitos de pecuária de precisão. No Brasil a
mesmo tamanho de rebanho e nível de pro- adoção dos sistemas automáticos de ordenha
dução, estima-se que o custo de investimento é recente, porém crescente, e demandará mão
em uma unidade do AMS seja entre 150% a de obra qualificada e a realização de pesquisas
260% superior ao de um sistema de ordenha que comprovem a viabilidade de uso em con-
convencional (Reinemann, 1999). No senti- dições brasileiras.
do de amortizar esses custos, recomendam-se
ações focadas no aumento da produção e no 7. Referências
tamanho do rebanho como forma de maximi- bibliográficas
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Sistema de ordenha automático 53


Nutrição de precisão
na pecuária leiteira

bigstockphoto.com

Thierry Ribeiro Tomich - CRMV-MG 5624, Fernanda Samarini Machado - CRMV-MG,


1 2

Luiz Gustavo Ribeiro Pereira3 - CRMV-MG 5930, Mariana Magalhães Campos4 - CRMV-MG
1
Pesquisador, Embrapa Gado de Leite. Email para contato: thierry.tomich@embrapa.br
2
Pesquisadora, Embrapa Gado de Leite.
3
Médico Veterinário e doutorado em Ciência Animal (UFMG); Pesquisador da Embrapa Semi-Árido, Petrolina, PE
4
Doutor Zootecnia UFMG - Embrapa Gado de leite

Introdução para a obtenção de unidade de produto com


mais baixo custo e de melhor qualidade sob o
A produção de leite é uma atividade aspecto global.
complexa cujo sucesso depende da integra- Como pré-requisito, a prática da nutri-
ção dos componentes do sistema produtivo. ção de precisão exige o conhecimento exato
Considerando que a nutrição do rebanho está das exigências nu-
associada ao desem- tricionais das várias
penho animal e é o Como pré-requisito, a prática categorias de ani-
principal componen- da nutrição de precisão exige o mais presentes no
te do custo variável da conhecimento exato das exigências rebanho e a carac-
produção, a adoção nutricionais das várias categorias de terização detalhada
de estratégias cienti- animais ... e a caracterização detalhada do valor nutritivo
ficamente embasadas do valor nutritivo dos alimentos dos alimentos dis-
pode conduzir ao au- disponíveis ... permitindo o apropriado poníveis para a ali-
mento da eficiência balanceamento de dietas, considerando mentação desses
em relação ao uso de a viabilidade técnica (desempenho), animais, permitindo
insumos e ao incre- econômica (custo de alimentação) e o apropriado balan-
mento da produtivi- ambiental (emissão de agentes com ceamento de dietas,
dade, contribuindo potencial poluidor). considerando a via-

54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


bilidade técnica (desempenho), econômica primeira versão da tabela de exigências nu-
(custo de alimentação) e ambiental (emissão tricionais para bovinos de corte foi publicada
de agentes com potencial poluidor). em 2006 (Valadares Filho et al., 2006b), inti-
Outro aspecto relevante para a prática tulada Exigências Nutricionais de Zebuínos e
da nutrição com precisão está relacionado à Tabelas de Composição de Alimentos – BR-
crescente disponibilidade e adoção de equi- CORTE. Uma segunda edição foi publicada
pamentos, sensores, dispositivos e sistemas em 2010 (Valadares Filho et al., 2010a), o que
que permitem a coleta e o processamento de representou um avanço importante da pes-
dados individuais dos animais em larga es- quisa para a produção de bovinos de corte no
cala, de forma que as estratégicas de manejo país.
alimentar das unidades de produção de leite Pesquisas de avaliação de sistemas nu-
possam ser formuladas e adotadas em função tricionais (Lanna et al., 1994; Backes, 2003)
de indivíduos e não somente em função das têm mostrado incompatibilidade quando ge-
previsões e respostas assinaladas para os lotes rados em condições temperadas e aplicados
de produção. em condições tropicais. Trabalhos nacionais
(Gonçalves, 1988; Borges, 2000; Silva, 2011),
Exigências nutricionais envolvendo a quantificação das exigências nu-
tricionais de bovinos leiteiros, são escassos.
Pesquisas relacionadas às exigências nu- Visando estabelecer normas e padrões
tricionais são necessárias para definição de locais de alimentação para bovinos de leite,
normas e padrões de alimentação. E diversos em meados dos anos 2000, a equipe liderada
países estabeleceram as exigências nutricio- pelo professor Norberto Rodríguez instalou
nais de seus rebanhos bovinos levando em o primeiro laboratório de calorimetria ani-
consideração as suas realidades: França em mal da América Latina no Departamento
1978 (L´Institut National de la Recherche de Zootecnia da Escola de Veterinária da
Agronomique – INRA, 1978), Inglaterra em Universidade Federal de Minas Gerais
1965 (Agricultural Research Council – ARC, (UFMG), em Belo Horizonte, Minas Gerais.
1965), Reino Unido em 1980 (Agricultural Também para dar suporte às pesquisas na
Research Council – ARC, 1980) e 1993 mesma linha, desde o ano de 2012 entraram
(Agricultural Food and Research Council em funcionamento as câmaras respiromé-
– AFRC, 1993), e Austrália em 2007 tricas do laboratório de bioenergética no
(Commonwealth Scientific and Industrial Complexo Multiusuário de Bioeficiência e
Research Organization – CSIRO, 2007). Sustentabilidade da Pecuária, na Embrapa
O sistema do National Research Council em Coronel Pacheco, Minas Gerais. Nesses
(NRC) dos Estados Unidos da América já laboratórios estão sendo gerados dados na-
passou por várias revisões e atualizações, cionais sobre exigência nutricional das di-
sendo a última em 2001 para gado de leite, ferentes categorias de bovinos de leite das
quando novos avanços obtidos em estudos várias composições genéticas presentes no
sobre exigências nutricionais dos animais fo- país.
ram incorporados. A opção atual ainda é a formulação de
A determinação das exigências nutricio- dietas para bovinos leiteiros com base nas exi-
nais de bovinos no Brasil tem sido alvo da gências nutricionais estabelecidas em outros
pesquisa desde os anos 1980. No entanto, a países. Dessa forma, o técnico nutricionista

Nutrição de precisão na pecuária leiteira 55


e o produtor devem estar conscientes de que alimentos produzidos em uma determinada
as diferenças dos sistemas de alimentação região é influenciada por fatores inerentes ao
gerados em condições temperadas podem cultivo, variedades, clima (temperatura e umi-
comprometer a precisão da nutrição quando dade), condições de solo, adubação, processa-
esses sistemas são utilizados para embasar for- mento e armazenamento.
mulações de dietas para animais mantidos em No Brasil, trabalhos orientados pelo pro-
condições tropicais. fessor Sebastião de Campos Valadares Filho, do
Departamento de Zootecnia da Universidade
Valor nutritivo dos Federal de Viçosa, possibilitaram a compilação
de dados sobre a composição química de ali-
alimentos mentos para bovinos obtidos no país e a publi-
Os parâmetros de valor nutritivo dos cação das Tabelas Brasileiras de Composição de
alimentos utilizados para balanceamento Alimentos para Bovinos – CQBAL (Valadares
de dietas são definidos com base em aná- Filho et al.; 2002, 2006a e 2010b). Com o ob-
lises de composição química e por mode- jetivo de disponibilizar na internet o conteúdo
los matemáticos gerados em estudos de cadastrado, foi desenvolvido o software CQBAL
metabolismo. Segundo Sniffen e Chalupa 3.0 <http://cqbal.agropecuaria.ws/webcqbal/
(2015), a composição de nutrientes nas index.php>, que atualmente apresenta valores
dietas pode mudar em função de altera- tabelados para 2.090 derivados de alimentos e
ções na composição de nutrientes dos 298 nutrientes obtidos de 2.610 referências na-
ingredientes ou por mudanças na for- cionais. Com esse software, o usuário pode gerar
mulação (ingredientes e proporções). A relatórios de composição de nutrientes e valor
composição do ingrediente pode mudar energético, selecionando o alimento, o derivado,
inconscientemente (como uma partida de entre outras opções, para receber um relatório
silagem fornecida contendo contaminação personalizado mais acurado, gerado a partir das
com plantas daninhas), mas há situações informações cadastradas (Valadares Filho et al.,
em que se pode esperar que ocorram mu- 2015).
danças de composição em determinados Ainda, as diferenças marcantes entre re-
ingredientes (como uma nova partida de giões do país, especialmente as climáticas e
feno). Desse modo, a composição de nu- aquelas associadas aos sistemas de produ-
trientes nos alimentos não é constante e, ção típicos de cada local, têm motivado a
com foco na precisão, amostras devem ser organização de tabelas regionais. Essas tabe-
colhidas e analisadas repetidamente. las apresentam a composição de alimentos
Embora o surgimento de novos equipa- endêmicos da região e de alimentos encon-
mentos analíticos e prestadores de serviços trados em todo o país, mas cujos processos
tenha conferido agilidade na condução das de produção e armazenagem ou uso e análise
análises dos alimentos, para a grande maioria ocorreram naquela região focalizada. Como
das fazendas, não é prática usual. Em regra, o exemplos, existem as Tabelas Nordestinas
uso de valores tabelados de composição/va- de Composição de Alimentos para Bovinos
lor nutritivo de alimentos é a opção prática e a Leiteiros (Neves et al., 2014) e a possibilida-
estratégia largamente empregada para a com- de de “busca avançada” no CQBAL 3.0, onde
posição de dietas balanceadas. Nesse caso, está disponível a composição dos alimentos
destaca-se que a composição química dos por região ou estado.

56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


O valor nutritivo dos alimentos depende conhecimento, a experiência e a capacidade
das transformações mecânicas e químicas que crítica dos técnicos nutricionistas para mini-
ocorrem no trato digestivo e, assim, há neces- mizar as distorções entre o valor nutritivo da
sidade de considerar características do animal dieta formulada daquela que é consumida pe-
que o consome, como a dinâmica digestiva, los animais.
incluindo o consumo e sua repercussão na
taxa de passagem, e aquelas próprias do ali- Aplicação da nutrição de
mento, incluindo o tipo de processamento,
para definição da fração do nutriente real-
precisão
mente disponível para utilização pelo animal. Existem dois sistemas de alimentação
Com essa perspectiva, no NRC (2001) foi predominantes em fazendas leiteiras: no pri-
apresentada a correção do valor de nutrientes meiro os animais têm acesso ilimitado aos
digestíveis totais (NDT) baseada no nível de volumosos, e as suplementações de concen-
consumo e no tipo de processamento sofrido trado, mineral e vitaminas ocorrem de forma
pelo alimento. Contudo, estudos conduzidos individual; no segundo os animais são alimen-
no Brasil (Rocha Júnior et al., 2003; Costa tados com uma única mistura contendo todos
et al., 2005; Pina et al., os alimentos fornecidos
2006) apontaram a perda O valor nutritivo dos alimentos (mistura ou dieta total).
de eficiência dos modelos depende das transformações No primeiro sistema, a su-
descritos no NRC (2001) mecânicas e químicas que plementação é baseada nas
para predição do valor ocorrem no trato digestivo ... exigências nutricionais de
energético de alimentos as características do animal cada animal e, no segundo,
em condições tropicais. que o consome ... a dinâmica as vacas são agrupadas em
Diversos estudos fo- digestiva, incluindo o consumo lotes determinados com
ram conduzidos para de- e sua repercussão na taxa de base nessas exigências, que
senvolvimento e validação passagem, e aquelas próprias são definidas na prática
de submodelos para predi- do alimento, incluindo o em função da ordem de
ção das frações digestíveis tipo de processamento, parição, da produção de
dos componentes nutriti- para definição da fração do leite, período da lactação
vos de alimentos obtidos nutriente... e do escore de condição
em condições tropicais corporal.
(Detmann et al., 2004; As suplementações
2006a; 2006b; 2006c; 2008). O uso de sub- individuais específicas no primeiro sistema e
modelos gerados no país de forma associada a formação de lotes recebendo dietas custo-
mostrou-se mais preciso para predição do mizadas no segundo visam sempre aproximar
teor de NDT dos alimentos e dietas em rela- a composição da dieta ao perfil de nutrientes
ção à aplicação do que foi descrito no NRC requeridos pelos animais. Em qualquer siste-
(2001) (Detmann et al., 2008; Azevêdo et al., ma de alimentação, a coleta detalhada de da-
2011; Magalhães et al., 2010). Dessa forma, a dos sobre animais e alimentos e a transforma-
precisão na nutrição de gado leiteiro no Brasil ção desses dados em informações que possam
exige o uso criterioso das informações sobre o nortear estratégias de manejo alimentar com
valor nutritivo dos alimentos utilizados para ajuste fino é a base para a prática da nutrição
alimentação dos animais, incorporando o de precisão.

Nutrição de precisão na pecuária leiteira 57


A variabilidade no teor de nutrientes da dieta misturada, para a dieta fornecida e para
ração afeta o desempenho dos animais. Os a consumida pelos animais, o primeiro passo
atuais modelos de exigência de software de para melhorar a precisão da nutrição é aproxi-
cálculo de dietas não consideram os fato- mar ao máximo o valor nutritivo utilizado na
res associados ao manejo dos alimentos na formulação ao valor nutritivo real do alimen-
formulação e predizem as exigências para a to que comporá a dieta fornecida. Nesse caso,
média das vacas, sem considerar a variabili- sempre que viável, é recomendado substituir
dade existente nos lotes de alimentação. Além o uso de dados tabelados por dados gerados
disso, os valores de nutrientes dos alimentos em análises de amostras dos alimentos real-
contidos nas bibliotecas usadas nesses progra- mente utilizados. No Brasil, há vários labora-
mas também afetam o teor de nutrientes das tórios públicos (vinculados a universidades e
rações, uma vez que os valores tabelados po- instituições de pesquisa) e privados que con-
dem não ser representativos da composição duzem essas análises como prestação de ser-
do alimento utilizado (Rossow e Aly, 2013). viço. Um fator que geralmente dificulta essa
Assim, considerando que os nutrientes da for- prática é a frequente morosidade para condu-
mulação não são exatamente os mesmos da ção das análises com consequente atraso para
dieta consumida e que os modelos de exigên- acesso aos resultados em relação ao prazo re-
cias não são totalmente precisos, há pontos no querido para o uso do insumo.
fluxo do processo de alimentação dos animais Atualmente, há laboratórios no país que
que podem ser associados às falhas de preci- têm garantido prazos específicos para entre-
são na nutrição (Fig. 1). ga de resultados sobre o valor nutritivo de
Tendo consciência das possíveis diferen- alimentos em função da complexidade para
ças existentes entre a dieta formulada para execução da análise solicitada. Por exemplo,

 Imprecisão do dado de exigência nutricional (imprecisão de modelos e uso


de lotes de alimentação)
Dieta  Erro no valor do nutriente no ingrediente (tabelado ou analisado x real)
Formulada  Erro no soware de cálculo da dieta

 Erro no carregamento de ingredientes (na pesagem pricipalmente)


 Imprecisão da mistura (segregação de ingredientes e desuniformidade de
Dieta nutrientes na dieta)
Misturada  Tempo inadequado de mistura

 Segregação de ingredientes durante o transporte


Dieta  Perda de nutrientes por deterioração, lixiviação, outros.
Fornecida

 Seleção no cocho
Dieta  Refugo de ingredientes
Consumida  Falha na previsão de consumo

Figura 1. Fluxo do processo de alimentação e exemplos que podem determinar falha na precisão para
atendimento das exigências nutricionais.

58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


análises feitas empregando múltiplos dados analíticos
As vantagens do uso da técnica
métodos químicos ou bio- em procedimento único,
NIRS frente às análises que
lógicos (via úmida) para a demandar menos trabalho
empregam procedimentos
determinação da compo- e tempo para processamen-
químicos e biológicos incluem
sição de alimentos ou die- to da amostra e para execu-
não requerer reagentes nem
tas e estimativas de valor ção da análise. Dessa for-
gerar resíduos com potencial
energético podem exigir ma, permite amostragem
poluente, não destruir a
prazos para liberação de em larga escala e agilidade
amostra e possibilitar várias
resultados superiores a 10 para geração de resultados.
análises numa mesma
dias. Já a utilização da téc-
amostra, gerar múltiplos dados Essas duas características
nica de Espectroscopia de levaram ao recente desen-
analíticos em procedimento
Infravermelho Próximo volvimento de sistemas
único, demandar menos
(Near Infrared Reflectance portáteis para avaliação de
trabalho e tempo para
Spectroscopy – NIRS), processamento da amostra e valor nutritivo de alimen-
para determinação dos para execução da análise. tos para gado leiteiro em
mesmos parâmetros, pode tempo real, ou próximo
requerer prazos para exe- ao momento de utilização
cução tão curtos quanto o de um dia útil após do alimento ou dieta. Análises em tempo real
o recebimento da amostra pelo laboratório. são particularmente importantes para forra-
Independentemente, a noção desse prazo gens verdes e silagens, devido à interferência
possibilita o planejamento da alimentação na do estádio de desenvolvimento das plantas e
propriedade considerando o emprego da con- do tempo de estocagem sobre o valor nutritivo
dução de análises nos alimentos para basear a desses volumosos, respectivamente.
formulação das dietas. Os sistemas que empregam analisador
Estudos conduzidos em décadas passa- NIRS portáteis na propriedade podem re-
das (Norris et al., 1976; Marten et al., 1983; querer a amostragem dos alimentos como
Corson et al., 1999) já constataram a aptidão atividade exclusiva ou processar a análise dos
da técnica NIRS para descrever acuradamen- alimentos de forma automatizada em pontos
te a composição e o valor energético de ali- específicos da linha de produção da ração.
mentos para ruminantes. Segundo Stuth et al. Nesse caso, o analisador NIRS pode ser ins-
(2003), o aumento da capacidade de proces- talado diretamente na pá carregadeira, na es-
samento e a disseminação do uso de computa- teira de transporte, no vagão misturador, etc.
dores pessoais associado ao desenvolvimento (Fig. 2), escaneando os alimentos à medida
de procedimentos estatísticos multivariados que são manejados para confecção da ração,
no campo da quimiometria resultaram no gerando automaticamente os dados sobre os
aumento da utilização da técnica NIRS para teores de MS e de nutrientes. O ganho na pre-
determinação de valor nutritivo. cisão da nutrição ocorre por possibilitar recal-
As vantagens do uso da técnica NIRS fren- cular o peso dos ingredientes que serão inseri-
te às análises que empregam procedimentos dos na ração sempre que houver discrepância
químicos e biológicos incluem não requerer entre o dado utilizado para a formulação da-
reagentes nem gerar resíduos com potencial quele encontrado na análise feita em tempo
poluente, não destruir a amostra e possibilitar real, aproximando, dessa forma, a composição
várias análises numa mesma amostra, gerar formulada daquela ofertada no cocho.

Nutrição de precisão na pecuária leiteira 59


Arranjos e métodos que incorporam a liadas, a precisão na alimentação conferida
análise do alimento na propriedade em tem- pela maior frequência no balanceamento das
po real têm sido propostos como estratégia dietas pode representar uma estratégia ade-
de manejo de animais e de alimentos para quada para manutenção da produção de leite
aumentar a precisão da nutrição, reduzir em distintas situações de clima.
custos, aumentar a produção e a qualidade do Para a etapa de mistura da dieta, falhas
leite e favorecer a automação dos processos em equipamentos de pesagem para medir
envolvidos com a alimentação dos animais acuradamente a quantidade do ingrediente
(Fig. 3). representa um problema adicional que pode
Quanto à formulação de dietas para o afastar a composição de nutrientes da formu-
atendimento mais acurado das exigências lação daquela apresentada na dieta fornecida
nutricionais, trabalho conduzido por White aos animais. Aferição e calibração periódica
e Capper (2014), modelando o aumento dos equipamentos de pesagem são recomen-
da frequência de formulação (trimestral, dadas e devem ser efetuadas de acordo com
mensal ou semanal) em diferentes condições a periodicidade estabelecida pelo fabrican-
climáticas, mostrou que a reformulação foi te. Ainda nessa etapa, cuidados adicionais
capaz de influenciar positivamente o consu- com misturadores devem ser observados.
mo de energia e de nutrientes, o consumo Misturadores com sistema de rocas horizon-
de matéria seca (CMS), o balanço de energia tais, de rotor ou por tombamento são comuns
metabolizável e a produção de leite. Esses au- no Brasil e cada um apresenta características,
tores consideraram que a reformulação mais capacidades operacionais e necessidades sin-
frequente possibilitou aumento no CMS em gulares de regulagem e manutenção para se
períodos de balanço energético negativo; ve- produzir uma ração com mistura homogênea.
rificaram que o balanceamento semanal das Cada ingrediente apresenta característi-
dietas possibilitou aumento na produção cas próprias capazes de interferir na homo-
individual de leite de 0,59kg/d em relação à geneidade da ração (tamanho de partícula,
estratégia de balanceamento trimestral (Tab. densidade e capacidade para reter umidade).
1); como esse aumento foi consistentemente Assim, entre as orientações para obter dietas
mantido nas várias condições climáticas ava- com mistura uniforme inclui a ordenação de

Figura 2. Analisador NIRS acoplado a equipamentos de manejo de alimentos.


Fonte: Dinamica Generale S.p.A. <http://www.dinamicagenerale.com/dg_precision_feeding>.

60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Figura 3. Proposta de arranjos e métodos para manejo da alimentação de animais considerando a
análise dos alimentos em tempo real na propriedade. O primeiro arranjo (12) representa um sistema
de distribuição convencional de dietas, constituído por (11) dispositivo computadorizado para manejo
e controle de vacas, capaz de monitorar dados de ordenha, alimentação, inspeção e amostragem do
leite e tráfego de vacas na propriedade; (13) equipamento para análise de alimentos na propriedade
(preferencialmente NIRS); (14) veículo para distribuição de dietas e (15) módulo de manejo de alimen-
tos (calcula a quantidade de dieta que deve ser fornecida antes de cada alimentação, baseando-se
no monitoramento atualizado dos dados de produção de leite e de consumo da ração de cada vaca,
considerando os dados das análises dos alimentos obtidos antes da mistura). O segundo arranjo (16)
representa um sistema de fornecimento automático de dietas, constituído por (17) equipamento de
análise de alimentos na propriedade (NIRS); (18) equipamento automatizado para distribuição de die-
tas; (15) módulo de manejo de alimentos; (11) dispositivo computadorizado para manejo e controle
de vacas; (19) balança ou equipamento óptico (com capacidade de processamento de imagem) para
gerar dados individuais de sobras (ou consumo) e (20) representa aparatos capazes de fazer análises do
leite (composição), da condição das vacas (sensores de movimento, balança para os animais, etc.) e/ou
análises de dejetos (indicação de funcionamento do rúmen e digestibilidade da dieta).

Fonte: Mazeris (2007) <http://www.uspto.gov/web/patents/patog/week30/OG/html/1416-4/US09091644-20150728.html>.

carregamento do misturador, sendo indicado subprodutos úmidos e de ingredientes líqui-


inserir primeiro os ingredientes com maior dos podem favorecer uma mistura uniforme
tamanho de partícula, como as forragens, e dificultar a segregação de ingredientes du-
seguidos por aqueles com menor tamanho rante o transporte ou pela seleção no cocho.
de partícula. O uso de forragem úmida ou de Recomenda-se ainda que ingredientes incluí-

Nutrição de precisão na pecuária leiteira 61


Tabela 1. Energia metabolizável (EM) e proteína metabolizável (PM) na dieta,
consumo de matéria seca (CMS), produção de leite e balanço de energia
metabolizável em diferentes frequências de balanceamento de dietas para vacas
em lactação

Frequência de EM PM (g/d) CMS (kg/d) Produção de Balanço EM


balanceamento (Mcal/d) leite (kg/d) (Mcal/d)
Trimestral 56,7 2,459 20,63 35,93 - 0,24
Mensal 56,8 2,461 20,70 35,91 - 0,19
Semanal 56,6 2,454 20,73 36,52 - 0,07

Fonte: White e Capper (2014).

dos em quantidades pequenas em relação ao perdas de nutrientes por espoliação, deterio-


total da ração, como os núcleos minerais e ração ou lixiviação – ocorrências que são co-
aditivos, sejam primeiramente misturados mumente dependentes das condições climáti-
com outro ingrediente isoladamente antes de cas associadas à variável temporal.
serem inseridos na mistura total, de forma a Conforme relatado no NRC (2001),
permitir a distribuição uniforme em toda a ra- vacas produzindo de 23-44kg de leite/d e
ção. O tempo ótimo de mistura também deve recebendo ração na forma de mistura total à
ser considerado para que a apresentação da vontade acessam o cocho 11 vezes ao dia e
ração tenha mínima variação em ingredien- se alimentam durante cinco horas diárias. De
tes e nutrientes, dificultando a possibilidade acordo com Borges et al. (2009), variações
de seleção em rações que não apresentam na rotina de frequência do fornecimento e
composição homogênea devido ao reduzido na quantidade diária de alimentos fornecidos
tempo de mistura, ou pela mistura excessiva podem alterar o consumo devido às flutua-
capaz de produzir a segregação de partículas ções do pH ruminal, dos níveis sanguíneos
pelas diferenças em densidade. de ácidos graxos não esterificados e dos níveis
O aumento na frequência de fornecimen- hormonais, sendo indicado o fornecimento
to dos alimentos para vacas leiteiras geralmen- de alimentos à vontade.
te aumenta a produção de leite e minimiza a Conforme Hutjens (2011), considera-se
ocorrência de problemas de saúde, principal- adequado entre 5% e 10% de sobras do ali-
mente devido à manutenção de condições mento fornecido para o gado leiteiro, mas de-
mais estáveis no rúmen. Assim, fracionar o ve-se progredir para sobras
fornecimento da ração e entre 2% e 5%, condição
aumentar o número de tra- O aumento na frequência de atualmente verificada em
tos diários pode favorecer fornecimento dos alimentos sistemas bem manejados.
a digestibilidade da dieta, para vacas leiteiras geralmente Com foco na nutri-
o consumo e a precisão no aumenta a produção de leite ção de precisão, aferições
atendimento das exigên- e minimiza a ocorrência quantitativa e qualitati-
cias nutricionais das vacas. de problemas de saúde, va de consumo devem
Além disso, manter ali- principalmente devido à ser permanentes. Nesse
mentos recém-misturados manutenção de condições mais caso, a leitura de cocho
no cocho pode reduzir as estáveis no rúmen. fornece uma informação

62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


que é rotineiramente empregada nas fazen- no cocho com e sem consumo e possibilitam
das para avaliar o consumo e definir estraté- o monitoramento das sobras.
gias de manejo alimentar. A quantificação e Estudos de validação feitos por DeVries et
qualificação das sobras associadas aos dados al. (2003) e Chizzotti et al. (2015) mostraram
de fornecimento de alimentos e nutrientes a acurácia desses sistemas para quantificar o
permitem ganhos de precisão na informação consumo individual diário, com possibilida-
sobre a estimativa do consumo de nutrientes, de de uso dessa informação para aproximar o
mas a acurácia dessa informação é compro- perfil de nutrientes utilizados na formulação
metida quando são considerados os dados das dietas daquele que realmente é consumi-
de lotes de alimentação e não os de animais do pelos animais, aumentando a precisão da
individualmente. alimentação para atendimento das exigências
Adicionalmente, como regra, o manejo nutricionais. Outra possibilidade potencial de
alimentar nas fazendas leiteiras é definido em uso de dados gerados por esses sistemas está
função de lotes de produção, e o balancea- em estabelecer de forma exata as melhores
mento das rações é geralmente delineado para frequências e períodos indicados para reali-
atender os animais mais exigentes do lote, vi- zação dos tratos. A transformação dos dados
sando reduzir perdas produtivas. Mesmo tra- gerados por esses sistemas em informações
balhando com lotes homogêneos em termos que repercutam em aumento na precisão da
de exigências nutricionais, os animais mais nutrição ainda é um desafio para pesquisa em
exigentes representam cerca de 20%-30% do nutrição de gado leiteiro.
total e sempre haverá situações de sobre ali- Para Sniffen e Chalupa (2015), uma das
mentação ou subalimentação para a maioria estratégias para aumentar a eficiência com a
dos animais do lote. alimentação e poupar nutrientes utilizados
Como alternativa ao excessivo uso de para a produção de leite é aumentar o número
mão de obra para gerar dados individualiza- dos lotes de alimentação para uniformizá-los
dos, sistemas automatizados para monitora- e favorecer a gestão dos nutrientes. Essa alter-
mento de ingestão de alimentos e de compor- nativa adiciona desafios relativos ao aumento
tamento de consumo têm sido desenvolvidos de custos com trabalho para alimentação, à
e validados para gado bovino (DeVries et al., crescente necessidade de adaptação dos ani-
2003; Chapinal et al., 2007; Chizzotti et al., mais aos lotes e às alterações nas dietas. Esses
2015). Esses sistemas apresentam variações autores também consideraram que o uso
entre si, mas contam com cochos de alimen- de sistemas robóticos de alimentação pode
tação associados a medidores de massa, meca- proporcionar o refinamento das rações para
nismos que permitem o registro individual de atender de forma mais precisa às exigências
acesso e/ou a restrição de acesso aos cochos nutricionais.
e dispositivos e software para coleta, processa- Os sistemas robóticos ou automatizados
mento e apresentação dos dados. Possibilitam de alimentação mais completos possibilitam
a geração de dados sobre horário de tratos e o controle digital de todas as atividades de ali-
quantidade fornecida de alimento, taxa de mentação após o carregamento de ingredien-
ocupação dos cochos ao longo do dia, dados tes em silos (alimentos concentrados), mesas
individualizados de consumo diário de ali- forrageiras (deposição de forragens) e reci-
mento, consumo em cada visita ao cocho, taxa pientes para armazenagem de aditivos e nú-
de consumo (Fig. 4), tempo de permanência cleos minerais/vitamínicos, fazendo o trans-

Nutrição de precisão na pecuária leiteira 63


Figura 4. Dados diários individuais de (A) ingestão acumulada de alimento, (B) ingestão de alimento
por evento e (C) taxa de ingestão gerados por sistema automatizado de monitoramento de ingestão de
alimentos e de comportamento de consumo por gado bovino.

Fonte: Sistema INTERGADO<www.intergado.com.br>

64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


porte, a pesagem e a mistura de ingredientes ção favorece a formação de lotes de manejo
e o transporte e a distribuição da ração como com padronização otimizada dos animais e,
processos mecanizados (Fig. 5). até mesmo, a individualização da coleta dos
Desenvolvidos para funcionar durante 24 dados e a formulação das estratégias para ma-
horas, trabalhar com inúmeros ingredientes nejo nutricional por indivíduo. Pesquisas as-
e processar diariamente diferentes tipos de sociando esses sistemas estão sendo iniciadas
ração, esses sistemas possibilitam a programa- no Complexo Multiusuário de Bioeficiência
ção de horários para mistura e fornecimento, e Sustentabilidade da Pecuária instalado na
reduzindo o tempo de ocupação da mão de Embrapa Gado de Leite em Coronel Pacheco,
obra para alimentação do rebanho, colaboran- Minas Gerais, o que possibilitará avaliar os
do para a precisão da nutrição por favorecer a impactos sobre a precisão da nutrição em
ampliação do número de lotes de alimentação condições nacionais.
(lotes mais homogêneos alimentados com A individualização da coleta de dados
dietas customizadas) e/ou de tratos diários relacionados à nutrição com a respectiva pos-
(otimizar consumo, reduzir perdas no cocho sibilidade de formulação de estratégias mais
e favorecer o aproveitamento de nutrientes). precisas para alimentação dos animais tam-
A associação de sistemas automatizados bém tem sido favorecida pela crescente dispo-
para monitoramento de ingestão de alimen- nibilidade de sensores, dispositivos e sistemas
tos com os sistemas robóticos de alimenta- para as fazendas leiteiras.

(A)

(B)

(C)

(E) (D)

Figura 5. Sistema automatizado de alimentação de gado leiteiro, composto por (A) silos para concen-
trados, (B) compartimentos para deposição de forragens, (C) recipiente para armazenagem de aditivos,
minerais ou núcleos vitamínicos, (D) misturador e (E) vagão para distribuição de ração. Fonte: DeLaval
Corporate <http://www.delaval.com.br/-/Produtos--Solucoes/Nutricao/Solucoes/

Sistemas-de-Alimentacao-DeLaval/Optimat--Sistema-de-Alimentacao-Automatica/>.

Nutrição de precisão na pecuária leiteira 65


Estudo conduzido por Borchers e Impactos potenciais da
Bewley (2015) para identificar o uso e a
percepção de tecnologias de precisão para nutrição de precisão
produção de leite apontou que as tecno- A ênfase das estratégias usadas para for-
logias que monitoram a produção de leite, mulação de dietas tem sido conferida à ma-
o desempenho reprodutivo e a saúde do ximização da produção animal e do retorno
úbere apresentaram mais ampla adoção. econômico, e não à minimização da excreção
Tecnologias capazes de monitorar e gerar da- de nutrientes ou emissão de gases poluidores.
dos que podem ser utilizados para definição Assim, o uso das informações sobre exigên-
de estratégias mais precisas para alimentação cias nutricionais e valor nutritivo dos alimen-
do rebanho, como a produção diária de leite, tos para formulação de dietas tem rotineira-
componentes do leite (gordura, proteína, mente privilegiado a dimensão econômica,
etc.), comportamento alimentar, temperatu- consistindo-se, geralmente, em uma estraté-
ra corporal, peso corporal, ruminação, esco- gia eficaz para amparar a viabilidade econô-
re de condição corporal, emissão de metano mica dos sistemas de produção.
e pH do rúmen, apresentaram adoções de Embora a viabilidade econômica de
52,3%, 24,8%, 12,8%, 12,8%, 11,0%, 10,1%, longo prazo seja um dos pilares para a sus-
2,8%, 1,8% e 0,9%, respectivamente. tentabilidade dos sistemas de produção, a
Sensores, dispositivos e sistemas que ge- incorporação da dimensão ambiental para o
balanço global da sustentabilidade é condi-
ram dados de produção e composição de leite,
ção essencial, sendo crescente a pressão sobre
peso e escore de condição corporal podem ser
produtores de leite e técnicos nutricionistas
utilizados para embasar informação indivi-
para fornecer soluções práticas que resultem
dual sobre a exigência por nutrientes, nortear
em redução no desperdício de nutrientes com
estratégia para a designação dos animais com
potencial poluidor, especialmente nitrogênio
exigências similares para lotes de alimentação
(N) e fósforo (P), e emissão de gases de efeito
específicos e para a customização das dietas
estufa (GEE), sobretudo o metano (CH4).
com ajuste fino. Com foco na nutrição, os Conforme Branco e Osmari (2010),
sensores de ruminação e de pH do rúmen ge- o balanço de massa de nutrientes tem sido
ram dados indicativos do funcionamento dos adotado com frequência cada vez maior em
processos digestivos associados à dieta consu- sistemas de produção animal e agrícola. É
mida e, juntamente com os dados gerados por uma estimativa que usa os registros e dados
sensores de comportamento alimentar, possi- da propriedade, contabilizando os nutrientes
bilitam avaliações e ajustes da formulação e da importados ao sistema por meio da fixação de
estratégia de fornecimento da dieta na busca N (estimada), de fertilizantes, de alimentos
do exato atendimento das exigências nutri- e animais, e os exportados do sistema, como
cionais de lotes ou animais. Exemplo de uso venda de produtos (leite, carne), animais,
integrado desse tipo de tecnologia de precisão grãos e dejetos. A diferença entre a importa-
em sistemas de alimentação para gado leiteiro ção e a exportação representa o balanço de
pode ser verificado no enunciado da Figura 3, massa. De posse dessas informações, produ-
apresentada anteriormente, que descreve uma tores e técnicos podem adotar medidas que
proposta de arranjos e métodos para alimen- visem reduzir as emissões e fontes de conta-
tação dos animais. minação ambiental. Estudo conduzido por

66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Cela et al. (2014), abordando o balanço de N consumo de PB, no teor de nitrogênio ureico
e P em fazendas leiteiras no estado america- no leite (NUL) e nas excreções de N para o
no de Nova York, apontou que o saldo posi- meio ambiente, sem que a elevação no teor
tivo no balanço anual de N pode chegar até proteico da dieta tenha resultado em varia-
259kg/ha e o de P até 51kg/ha, sendo que es- ções significativas no ganho de peso dos ani-
ses autores consideraram que a principal con- mais, na produção de leite ou nos teores de
tribuição para esse balanço positivo deriva da gordura, proteína verdadeira e lactose do leite
importação de nutrientes para a propriedade, (Tab. 2).
especialmente pela compra de alimentos. Os De acordo com Sniffen e Chalupa
mesmos autores também apontaram a imple- (2015), o consumo excessivo de pro-
mentação da precisão na alimentação como teína, N urinário e NUL são altamente
uma das estratégias viáveis para reduzir esse correlacionados e, embora não se faça mo-
balanço. nitoramento periódico do N excretado na
Resultados de experimento clássico com
urina ou no esterco, o NUL tem sido roti-
vacas leiteiras, conduzido por Colmenero e
neiramente monitorado. O excesso de N nas
Broderick (2006), indicaram que dietas com
dietas tem sido frequente, tendo sido obser-
16,5% de proteína bruta (PB) são capazes de
vado por anos o padrão para alimentação de
suportar máximas produções de leite com mí-
vacas de alta produção com dietas conten-
nima excreção de N para o meio ambiente em
do 17%-18% de PB. Nesse caso, buscava-se
comparação às dietas com mais altas concen-
NUL entre 14 e 18mg/dL. Porém, sabe-se
trações proteicas. Verificou-se nesse estudo
que aumentos de 13,5% para até 19,4% de PB que grupos de vacas de alta produção podem
na dieta resultaram em aumentos lineares no ser eficientemente alimentados com dieta

Tabela 2. Efeito do teor de proteína bruta na dieta sobre o consumo proteico,


excreção de N para o meio ambiente, peso corporal, produção e composição do
leite

Item Proteína bruta na dieta (% da MS)


13,5 15,0 16,5 17,9 19,4
Consumo de proteína bruta kg/d 3,02 3,32 3,78 4,00 4,44
Excreção urinária de N g/d 113 140 180 213 257
Excreção fecal de N g/d 196 176 196 197 210
Alteração de peso vivo kg/d 0,49 0,46 0,70 0,55 0,64
Produção de leite kg/d 36,3 37,2 38,3 36,6 37,0
Composição de leite %
Gordura % 3,14 3,27 3,27 3,47 3,44
Proteína verdadeira % 3,09 3,15 3,09 3,18 3,16
N ureico mg/dL 7,7 8,5 11,2 13,0 15,6
Lactose % 4,91 4,89 4,94 4,91 4,92

Fonte: Colmenero e Broderick (2006).

Nutrição de precisão na pecuária leiteira 67


contendo de 14%-15% de PB, buscando con- mizados, os aminoácidos essenciais devem
seguir valores de NUL próximos a 10mg/dL. estar presentes em quantidades suficientes
Além do teor proteico, a composição da para não limitar a síntese proteica pelo rumi-
dieta pode afetar a amplitude da excreção de nante. Dessa forma, alimentar para atender às
N para o meio ambiente. Nesse caso, devem exigências específicas em aminoácidos repre-
ser consideradas as necessidades de sincroni- senta um desafio para a pesquisa que colabora
zação das taxas de liberação de energia e de para reduções de PB na dieta e de excreção de
N no rúmen e de quantidades não limitantes N para o ambiente.
de aminoácidos essenciais na fração de pro- É largamente reconhecida a importância
teína metabolizável da dieta. Revisão feita do consumo de quantidades adequadas de P
por Oldham et al. (1984) sobre a inter-rela- para a manutenção dos processos fisiológicos
ção entre proteína e energia da dieta de vacas e de produção em bovinos. Mas, conforme
leiteiras apontou que a forma de energia afeta Knowlton (2011), o gado utiliza o P de forma
a utilização da proteína e do amido, possibili- ineficiente, excretando de 60%-80% do total
tando, muitas vezes, reduzir o uso de proteína consumido, fazendo com que a maior parte
na dieta. Diversos estudos (Herrera-Saldana do P utilizado na fazenda fique na fazenda,
et al., 1990; Klover et al., 1998; Casper et al., em vez de ser exportado na carne ou no leite,
1999) mostraram que a sincronização no e, de acordo com Morse et al. (1992), o P tem
suprimento de N e de energia em substratos sido frequentemente fornecido em excesso às
para síntese proteica microbiana no rúmen exigências das vacas de leite, sem, contudo,
pode maximizar a utilização do N disponí- saber se essa estratégia traz benefícios ou pre-
vel no rúmen, a eficiência da síntese proteica juízos para a saúde ou produção. Esses autores
microbiana e o fluxo de proteína microbiana observaram aumento linear na excreção com
para o duodeno, resultando em efeito poupa- o aumento no consumo de P (0,30%, 0,41%
dor para a proteína dietética, possibilitando a ou 0,56% da MS na dieta) e verificaram que
redução na excreção de N. as fezes são a principal rota para excreção des-
Embora se saiba que as deficiências em se mineral. Observaram ainda que vacas com
lisina e metionina na proteína metabolizá- consumo restrito a 20kg de MS/d, consumin-
vel possam promover redução na síntese de do 0,30% de P na MS da dieta, apresentaram
proteína do leite, não há consenso quanto à excreção de P 22,7% inferior ao de vacas ali-
resposta produtiva quando esses aminoáci- mentadas com a mesma restrição de consumo
dos são fornecidos como proteína protegida e 0,56% de P na MS da dieta. Esses resultados
ou diretamente no abomaso (Robinson et mostraram que a redução na sub-realimenta-
al., 1995; Robinson et al., 2000; Robinson, ção com P pode ser uma estratégia importan-
2010). Fatores relacionados à dieta e à par- te para reduzir excreção de P em dejetos de
tição de nutrientes e à sua destinação para a vacas de leite.
glândula mamária (produção de leite, estágio O uso excessivo de P em dietas de vacas
da lactação e balanço energético) interferem de leite tem sido justificado principalmente
e dificultam predizer a resposta produtiva em devido ao conceito de que dietas com altas
função dessa suplementação. Contudo, para concentrações de P são capazes de melhorar
que o catabolismo dos aminoácidos não es- o desempenho reprodutivo. Todavia, estudo
senciais em excesso na deita e a consequente conduzido por Satter e Wu (1999), suma-
excreção de N para o ambiente sejam mini- rizando resultados de desempenho repro-

68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


dutivos de vacas em lactação, obtidos de 13 influenciará diretamente a necessidade de au-
experimentos e 393 dados, não verificaram mento da eficiência zootécnica nos sistemas
diferenças significativas nos índices repro- pecuários, atrelado ao manejo nutricional dos
dutivos para os animais que receberem die- animais a ser adotado.
tas com mais alto teor de P (Tab. 3). Outros O desenvolvimento de estratégias de mi-
estudos (Wu e Satter, 2000; Wu et al., 2000) tigação e a viabilidade de aplicação são temas
também não apontaram comprometimento atuais de pesquisa em todo o mundo (Pereira
no desempenho reprodutivo quando as vacas et al., 2015). De acordo com Martin et al.
foram alimentadas abaixo do recomendado (2010), as estratégias de nutrição de rumi-
no NRC (2001). Além disso, experimentos nantes para mitigação de CH4 devem focar em
de longa duração (Kuipers et al.,1999; Wu e um ou mais dos seguintes objetivos: redução
Satter, 2000; Wu et al., 2000) não apontaram da produção de H2 no rúmen sem afetar nega-
diferenças nas produções de leite quando as tivamente a digestão; estimulação do uso de
vacas foram alimentadas com quantidades de H2 no rúmen por produtos alternativos; e ini-
P ligeiramente inferiores às exigências preco- bição de Archaea metanogênicas (número e/
nizadas no NRC (2001). Ainda Cerosaletti et ou atividade) associada à estimulação de vias
al. (2004), avaliando modificações nas dietas que consomem H2 para evitar os efeitos ne-
de dois rebanhos para alcançar a média de gativos do aumento da pressão parcial de H2
25% de redução do teor de P, observaram re- no rúmen. Já segundo Pereira et al. (2015), as
duções de 33% da concentração de P nas fe- estratégias que estão sendo consideradas para
zes sem que houvesse comprometimento da mitigação de CH4 entérico incluem modifi-
produção de leite. Esses autores concluíram cações da composição e qualidade da dieta,
que modificações em dietas podem resultar adição de lipídios, uso de aditivos (ionóforos,
em grandes reduções na entrada de P em ali- ácidos orgânicos, extratos de plantas), vias al-
mentos adquiridos pelas fazendas leiteiras, no ternativas para uso de H2 no rúmen (probió-
balanço geral de P da fazenda e nas excreções ticos acetogênicos, nitrato e sais de sulfato),
nos dejetos. vacinação contra organismos metanogênicos
O CH4 entérico é um importante GEE, ruminais, uso de bacteriófagos e bacterioci-
que é responsável por aproximadamente 15% nas, variações no manejo de pastagem e uso
do aquecimento global. A tendência ou obri- de sistemas de produção integrados.
gação legal de mitigar as emissões de GEE Considerando as alterações na dieta,
Tabela 3. Desempenho reprodutivo de vacas de leite em lactação alimentadas
com dietas com alto ou baixo teor de fósforo (P) – 393 dados de 13 experimentos

Item Baixo P Alto P


P na dieta (% da MS) 0,32 – 0,40 0,39 – 0,61
Dias para o 1 cio*
o
46,8 ± 10,9 51,6 ± 13,8
Dias vazias* 103,5 ± 21,4 102,1 ± 13,0
Taxa de prenhez* 92% ± 6% 85% ± 5%

*Médias ± desvio padrão, sem diferenças estatísticas significativas.


Fonte: Satter e Wu (1999).

Nutrição de precisão na pecuária leiteira 69


Pereira et al. (2015) desta- Council Working Party. London:
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cipalmente quando relacio- AGRICULTURAL RESEARCH
para nortear estratégias para COUNCIL. The nutrient requi-
nados ao uso mais eficiente
planejamento, execução, rements of ruminants’ livesto-
de forragem, associado à ck: technical review. London:
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manejo nutricional são etapas Working Party, 1965. 264p.
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51. SILVA, R.R. Respirometria e determinação das exi- Journal of Dairy Science. v.83, n.5, p.1028–1041. 2000.

72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Tecnologias de
precisão na avaliação
da eficiência alimentar
bigstockphoto.com

Mariana Magalhães Campos1 - CRMV-MG 8402, Juliana Mergh Leão2 - CRMV-MG 15859
Juliana Aparecida Mello Lima3, Fernanda Samarini Machado4 - CRMV-MG 11138

1
Doutor Zootecnia UFMG - Embrapa Gado de leite
2
Doutoranda Zootecnia UFMG - EV.UFMG
3
Doutor Zootecnia UFMG - Pós doc Embrapa/UFSJ
4
Doutor Zootecnia UFMG - Embrapa Gado de leite

Introdução Animais que utilizam


tam o principal custo da
atividade pecuária, dife-
Nos últimos anos, além os alimentos de forma
renças entre os animais na
do histórico aumento dos mais eficiente necessitam
consumir menos para conversão da dieta consu-
custos de produção, a pe- mida em leite e carne são de
cuária leiteira nacional vem atingir o mesmo nível de
produção e, dessa forma, são grande relevância. Animais
lidando com novos desafios,
mais lucrativos e produzem que utilizam os alimentos
como a crescente percepção
mais alimento por unidade de forma mais eficiente ne-
dos consumidores quanto
de área. cessitam consumir menos
à segurança alimentar, bem
-estar animal e impactos para atingir o mesmo nível
ambientais da agropecuária. Nesse cenário de de produção e, dessa forma,
margens de lucro reduzidas, só existe um ca- são mais lucrativos e produzem mais alimento
minho a ser seguido: o aumento da eficiência por unidade de área. Além disso, o aumento
dos sistemas de produção de leite. da eficiência alimentar proporciona menor
Uma alternativa para vencer esse desafio desperdício e excreção de nutrientes, com im-
é a identificação de animais mais eficientes plicações ambientais positivas.
no aproveitamento do alimento consumido. Na bovinocultura brasileira, a seleção
Como os gastos com alimentação represen- para eficiência alimentar vem sendo aborda-

Tecnologias de precisão na avaliação da eficiência alimentar 73


da somente nos últimos anos, e ainda está eficiência alimentar bruta. Em bovinos exis-
restrita à pecuária de corte. Esse atraso no te variação genética tanto na conversão ali-
melhoramento genético para eficiência ali- mentar como na eficiência alimentar bruta.
mentar pode ser atribuído principalmente à Contudo, esses índices possuem limitações
dificuldade de mensurar o consumo alimen- como características de seleção, por estarem
tar, particularmente em sistemas a pasto. correlacionados com ganho de peso e peso
No processo de busca pelo aumento da efi- à idade adulta. A utilização dessas medidas
ciência produtiva e ambiental, a aplicação do compromete a eficiência produtiva de siste-
conceito de pecuária de precisão vem se tor- mas a pasto, por haver aumento no tamanho
nado cada vez mais frequente, e pode ser de- adulto dos animais e, por conseguinte, das
finido como: o uso de tecnologias para men- suas exigências de mantença, além de com-
surar, de forma individualizada, indicadores prometer a eficiência reprodutiva em condi-
produtivos, fisiológicos e comportamentais ções nutricionais limitantes.
dos animais. Dessa maneira, a utilização de A eficiência de conversão alimentar não
tecnologias de precisão para avaliação de efi- considera a mobilização de reservas corporais
ciência alimentar surge como oportunidade e, consequentemente, os animais que perdem
para o estudo da variabilidade individual e condição corporal para produção de leite po-
para acelerar o processo de dem parecer mais eficientes.
seleção e melhoramento ge- Um índice alternativo Assim, a seleção baseada na
nético dos animais. para medir eficiência eficiência de conversão ali-
Algumas tecnologias de alimentar é o Consumo mentar pode favorecer vacas
precisão já vêm sendo utili- Alimentar Residual (CAR), com balanço energético ne-
zadas em fazendas leiteiras, definido como a diferença gativo acentuado no início
como o registro diário da entre o consumo real e a da lactação.
produção de leite e do peso quantidade estimada de Um índice alternativo
vivo, o uso de detectores de alimento que um animal para medir eficiência alimen-
estro e monitores da con- deveria ingerir, com base tar é o Consumo Alimentar
dutividade do leite. Outras no seu peso vivo médio e no Residual (CAR), definido
tecnologias de precisão ganho de peso ou produção como a diferença entre o
também têm sido propostas de leite. consumo real e a quantidade
para mensurar consumo de estimada de alimento que
alimentos e água, compor- um animal deveria ingerir,
tamento alimentar, batimento cardíaco, fre- com base no seu peso vivo médio e no gan-
quência respiratória, temperatura da superfí- ho de peso ou produção de leite. A estimativa
cie corporal, pH ruminal, atividade e posição da ingestão de matéria seca esperada pode ser
dos animais, entre outras. predita a partir dos dados de peso e de produ-
ção, utilizando-se as normas e padrões de ali-
Métodos de Avaliação de mentação (por exemplo, NRC, 2001), ou por
regressão, usando-se dados de alimentação
Eficiência Alimentar real do ensaio, dentro de um grupo contem-
Várias medidas foram propostas ao porâneo. Dessa forma, animais mais eficientes
longo dos anos para avaliar a eficiência ali- têm um CAR negativo (consumo observado
mentar, tais como: conversão alimentar e menor que o esperado), e os menos eficientes

74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


têm um CAR positivo (consumo observado • Consumo de matéria seca total em relação
maior que o estimado). ao peso vivo: consumo de matéria seca (kg)
Coleman et al. (2010) estudaram defi- dividido pelo peso vivo (kg).
nições alternativas de eficiência alimentar e • Consumo alimentar residual (CAR): calcu-
mostraram que as definições convencionais, lado pela diferença entre o consumo médio
tais como a eficiência de conversão alimen- de MS mensurado ao longo do experimen-
tar ou consumo alimentar residual podem to e o consumo estimado (kg/dia de MS).
ser medidas inadequadas de eficiência para O consumo estimado será calculado pela
vacas em lactação. O parâmetro alternativo equação de regressão do tamanho meta-
proposto pelos autores foi a produção de só- bólico e do ganho de peso (GMD, kg/dia)
lidos residuais, que permitiu a identificação sobre o consumo.
de animais que produzem maiores quantida- • Ganho residual (GR) ou Ganho de Peso
des de sólidos de leite em relação ao consu- Residual: diferença da estimativa do GPD
mo de alimento, sem mobilização excessiva baseado na ingestão de MS e no peso vivo
de tecido corporal, e com melhores índices com o GPD observado em kg.
de fertilidade. Obtiveram também resultados • Consumo e Ganho Residual (CGR): asso-
que evidenciam a existência de diferenças en- cia o CAR e o GR; é a soma do CAR multi-
tre as linhagens de Holandês-Friesian e entre plicado por -1 e o GR; CGR = CAR x (-1)
genótipos de um mesmo grupo racial, assim + GR.
as melhorias na eficiência de alimentação po- • Produção Residual de Leite: diferença da
dem ser realizadas se a definição apropriada estimativa da produção de leite baseada na
de eficiência alimentar é incorporada em pro- ingestão de MS e no peso vivo com a pro-
gramas de melhoramento. dução de leite observada em kg.
Os principais índices e forma de cálculo • Produção Residual de Sólidos no Leite:
de eficiência alimentar são: diferença da estimativa da produção de
• Conversão Alimentar: relação entre o con- sólidos no leite baseada na ingestão de MS
sumo médio em kg de matéria seca dividi- e no peso vivo com a produção de sólidos
do pelo ganho de peso diário (GPD) em observada em kg.
kg (animais em crescimento e touros) ou Evidentemente, é importante assegurar
pela produção diária de leite e pela produ- que os animais metabolicamente mais efi-
ção diária de sólidos no leite (fêmeas em cientes não apresentem características indese-
lactação). jáveis de reprodução e saúde. Berry e Crowley
• Eficiência Leiteira: relação entre a produ- (2013) estimaram que a herdabilidade para
ção de leite não corrigida para gordura com CAR esteja entre 0,13 e 0,82, portanto existe
a ingestão de matéria seca em kg. variação genética suficiente para permitir res-
• Eficiência alimentar ou eficiência de inges- postas positivas à seleção genética.
tão de matéria seca: relação entre a produ- No entanto, um dos maiores desafios para
ção de leite corrigido para gordura e inges- avaliação da eficiência alimentar como parâ-
tão de matéria seca (kg). metro de seleção a ser utilizada em rebanhos
• Desempenho em relação ao peso vivo: comerciais, independentemente do índice e
Ganho de peso (kg) ou produção de leite e forma de cálculo utilizado, seria a mensuração
produção de sólidos no leite (kg) dividido individual do consumo de matéria seca.
pelo peso vivo (kg).

Tecnologias de precisão na avaliação da eficiência alimentar 75


Tecnologias Trata-se do uso de Europa; e Intergado, no
Brasil.
de precisão na dispositivos eletrônicos de
Basicamente, esses
monitoramento de consumo
mensuração do baseado na tecnologia sistemas funcionam da
consumo de identificação por seguinte forma: quando
o animal, devidamente
Em ruminantes o con- radiofrequência (RFID)
identificado com bóton
sumo pode ser estimado ... para a mensuração do
eletrônico, se aproxima do
por métodos diretos e in- consumo e comportamento
leitor de radiofrequência
diretos. Em sistemas de alimentar.
colocado na entrada do
alimentação em confina- cocho de alimentação, este
mento, a mensuração do consumo é feita de capta o sinal do bóton eletrônico, transfe-
forma direta; medem-se os consumos dos rindo a informação para o banco de dados
alimentos e das eventuais sobras. Por outro do sistema. Ao mesmo tempo, células ele-
lado, nos sistemas de alimentação a pasto, a trônicas de carga instaladas sob o cocho re-
determinação desse consumo é complexa, gistram a quantidade de alimento presente
devido ao procedimento de mensuração em no cocho antes da entrada e após a saída do
si, ou do método de estimativa a empregar animal, e por diferença calcula a quantidade
e do grande número de variáveis envolvidas. consumida.
Apesar da sua complexidade, a mensuração De acordo com Eradus e Jansen (1999),
do consumo a pasto pode ser feita de forma os sistemas computadorizados que utilizam
direta, pela diferença do peso ou altura da tecnologias baseadas em RFID permitem a
pastagem antes e após o pastejo, ou indireta, avaliação simultânea de grande número de
através da técnica dos indicadores, cálculos animais alojados em grupos, o que facilita
matemáticos, mudança no peso do animal, a mensuração de características únicas de
entre outros. um determinado animal. Esses equipamen-
Independentemente da adoção de mé- tos têm sido utilizados em diversos estudos
todos diretos ou indiretos, a realização da (DeVries et al., 2003; Svennson e Jensen,
mensuração do consumo, em grande nú- 2007; Lancaster et al., 2009) e, além das
mero de animais e de forma confiável, ain- aplicações na identificação e seleção de ani-
da representa uma etapa muito laboriosa. mais mais eficientes e, portanto, mais lucra-
Nos últimos anos, outra forma de mensu- tivos para os sistemas, as informações gera-
ração do consumo tem ganhado destaque. das por esses sistemas podem ser valiosas
Trata-se do uso de dispositivos eletrôni- na identificação precoce de doenças, dada
cos de monitoramento de consumo ba- a possível relação entre a modificação do
seado na tecnologia de identificação por comportamento natural de consumo com
radiofrequência (RFID). Várias empresas o surgimento de enfermidades diversas
comerciais apresentam dispositivos (Quimby et al., 2001; Robles et al., 2007;
eletrônicos que utilizam esse sistema para Weary et al., 2009). Em experimentos ob-
a mensuração do consumo e comporta- jetivando a validação desses equipamen-
mento alimentar, entre elas: Growsafe, no tos, observou-se que os sistemas baseados
Canadá; CalanGattes, nos Estados Unidos em RFID são fontes confiáveis para medir
da América; BioControl e Insentec, na o consumo animal e o comportamento

76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


alimentar dos animais (Schwartzkopf- gias que facilitam a mensuração do consumo
Genswein et al., 1999; Chapinal et al., 2007; individual e consequentemente a determina-
Chizzottti et al., 2015). ção da eficiência alimentar (EA), tecnologias
No Brasil, pesquisas com tecnologia de mensuração indireta, como a termografia
de precisão na mensuração do consumo já por infravermelho (TIV), mensuração de
estão sendo conduzidas na Embrapa Gado produção de calor (PC) e frequência cardía-
de Leite, em parceria com a Universidade ca (FC), produção de metano, metabólitos
Federal de Minas Gerais e a empresa e comportamento alimentar também têm se
nacional Intergado, para avaliação da efi- mostrado como ferramentas alternativas.
ciência alimentar em vacas em lactação e
em bezerras e novilhas em crescimento, Termografia por
bem como para o estudo da associação da
eficiência alimentar com fertilidade e saúde
Infravermelho
animal. Esses animais estão sendo diaria- Montanholi et al. (2007) sugeriram que
mente monitorados quanto ao consumo de animais mais eficientes tinham menor tempe-
alimentos, água e peso vivo por um sistema ratura de superfície corporal que animais me-
automático, composto por cochos e bebe- nos eficientes (CAR positivo). Montanholi
douros eletrônicos associados a estações de et al. (2008) propuseram a utilização da ter-
pesagem corporal dos animais. Além de for- mografia por infravermelho, em diferentes
necer informações de consumo de alimento pontos corporais, para predizer a produção
e água, o sistema permite monitorar: a fre- de calor, produção de metano e detecção de
quência de visitas ao cocho e ao bebedouro, eventos fisiológicos como incremento calóri-
bem como a duração dessas visitas; os ho- co na alimentação em vacas em lactação. Os
rários preferenciais de alimentação; a taxa autores utilizaram quatro vacas, e imagens ter-
de ocupação dos cochos; os horários dos mográficas foram tiradas dos flancos esquer-
tratos; monitoramento das do e direito, garupa esquer-
sobras e pesagem corporal da, membros anteriores
automática cada vez que o Montanholi et al. (2007) (face traseira). Foram en-
animal acessa o bebedouro. sugeriram que animais mais contradas correlações mo-
Atualmente, a utiliza- eficientes tinham menor deradas a altas (0,58-0,88)
ção de cochos eletrônicos temperatura de superfície para temperaturas da super-
tem aumentado e, com o corporal que animais menos fície da pele e a produção
aumento da oferta de equi- eficientes (CAR positivo). de calor. As temperaturas
pamentos e redução nos observadas nos membros
custos de implantação, tende a seguir as- anteriores tiveram alta correlação com a pro-
cendente e em ritmo acelerado. A facilidade dução de calor (esquerda: 0,83; direita: 0,88;
de coleta e armazenamento dos dados gera- P < 0,001). A diferença de temperatura entre
dos, a confiabilidade dessas informações e a os flancos esquerdo e direito apresentou cor-
possibilidade de se avaliar simultaneamente relação de 0,53 com a produção de metano.
grupos de animais ou um único indivíduo Além disso, nas imagens termográficas, foram
são algumas das razões que justificam essa obtidas temperaturas que correlacionaram
tendência. em 0,77 com o metano quando os dados dos
Apesar da maior ascensão de tecnolo- cinco pontos de avaliação nos tempos subse-

Tecnologias de precisão na avaliação da eficiência alimentar 77


quentes para cada uma das duas refeições fo- CAR. Os animais de baixo CAR obtiveram
ram investigados (P < 0,01). menor IMS e temperaturas de ganacha e fo-
Em 2009, Montanholi et al. relataram cinho mais baixas que animais menos eficien-
que a extremidade dos membros posteriores tes (alto CAR) (28,1ºC x 29,2ºC e 30,0ºC x
e a temperatura da ganacha foram os locais 31,2ºC, respectivamente), indicando melhor
do corpo mais indicados para avaliar indireta- eficiência energética nos animais de CAR
mente a eficiência alimentar em bovinos. baixo.
Colyn (2013) determinou CAR de 61
novilhas de corte em ensaio de 113 dias após o Produção de Calor e
desaleitamento. Os valores de CAR variaram
de -1,55 a 2,19kg/d (desvio padrão = 0,78).
Frequência Cardíaca
As novilhas foram classificadas em baixo, mé- Por definição, o somatório de produção
dio ou alto CAR. As médias das temperaturas de calor (PC) associado ao metabolismo basal,
das imagens termográficas de diversos pontos incremento calórico, respostas termorregulató-
foram feitas de quatro momentos. Os animais rias e atividades físicas, além da energia retida
baixo e médio CAR tiveram IMS 7,5% e 6,5%, como produto (por exemplo: leite ou tecido)
respectivamente, menores quando compara- será igual ao consumo de energia metabolizável
dos aos animais classificados como alto CAR. total. A energia retida pelos animais em cresci-
Novilhas de baixo e médio CAR obtiveram mento é utilizada para formação de proteína
temperaturas médias de ganacha de 19,88ºC ou ganho de gordura, porém há necessidade de
e 20,40ºC (P > 0,05), respectivamente, po- mais energia para depositar gordura quando se
rém menores do que novilhas de alto CAR compara à formação de tecido muscular.
(21,29ºC; P < 0,0001). Médias das tempera- Paddock (2010) estudou 16 novilhas
turas do globo ocular tenderam a crescer nos Brangus selecionadas para alto e baixo CAR e
grupos de baixo ao alto CAR (P = 0,0747). observou maior FC nos animais de alto CAR
Houve correlação de r = 0,46 (P < 0,001) da (97,7 vs. 89,6bat/min) em detrimento dos ani-
temperatura da ganacha com CAR. O autor mais de baixo CAR. Além disso, as novilhas
concluiu que a mensuração de perda de calor com alto CAR consumiram mais oxigênio por
irradiado na área da ganacha poderia predizer batimento cardíaco (mL/bat) e, como resul-
a eficiência alimentar em novilhas, mas suge- tado, o gasto energético (produção de calor)
riu a realização de mais ensaios para confirmar foi 17,4% maior nos animais de alto CAR em
a correlação. Em outro estudo, Montanholi et comparação aos animais de baixo CAR.
al. (2010) observaram que as temperaturas de Diversos autores demonstraram que ani-
ganacha foram positivamente correlacionadas mais eficientes produzem menos calor em
ao CAR, IMS, ganho médio diário e conver- relação aos ineficientes (Basarab et al., 2003;
são alimentar em bovinos de corte. Almeida, 2005; Nkrumah et al., 2006). A pro-
Montanholi et al. (2010) avaliaram po- dução de calor foi 21% menor para animais
tenciais preditores de eficiência alimentar de baixo CAR, quando comparados a animais
pela termografia da área do globo ocular, ga- de alto CAR, e 10% menor para animais de
nacha, focinho e costelas, em 91 novilhas du- médio CAR, quando comparados a animais
rante dois períodos de ensaio (ano 1 = 46; ano de alto CAR, mostrando que um dos fatores
2 = 45), com duração de 140 dias. Novilhas que pode explicar a melhor eficiência dos ani-
foram classificadas como baixo, médio e alto mais de baixo CAR é o menor gasto energé-

78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


tico com produção de calor grupo de baixo CAR (1,07
(Nkrumah et al., 2006). A A menor produção de e 0,941kg/dia, respectiva-
menor produção de calor calor em animais eficientes mente), mas o peso cor-
em animais eficientes está re- está relacionada à menor poral foi superior em 0,6%
lacionada à menor exigência exigência de mantença, e (P<0,05) para o grupo CAR
de mantença, e isso pode ser isso pode ser consequência baixo. A frequência cardíaca
consequência de mecanis- de mecanismos biológicos, não diferiu entre os grupos,
mos biológicos, como baixa como baixa produção de porém animais de alto CAR
produção de metano duran- metano durante a digestão, apresentaram maior produ-
te a digestão, baixa ativida- baixa atividade física e ção de calor (177,64kcal /
de física e menor resposta menor resposta ao estresse. kg de peso metabólico - PM)
ao estresse (Nkrumah et al., do que os animais de baixo
2006). CAR (144,40 kcal / kg de PM).
Leão et al. (2015) avaliaram a produção Hafla et al. (2013) não estudaram a re-
de calor em bezerras Holandês x Gir (F1) aos lação do CAR com a produção de calor, mas
50 dias de idade, com diferentes fenótipos para observaram como a classificação de CAR
CAR, medindo as trocas gasosas respiratórias pode afetar algumas características de desem-
pelo método da máscara facial. Dezoito ani- penho em 48 novilhas Bonsmara no meio da
mais foram alojados em baias individuais com gestação, dentre elas a frequência cardíaca. Os
cama de areia. Todos os animais foram alimen- autores observaram que a FC das fêmeas clas-
tados com 6L/dia de leite integral (11,75% de sificadas em baixo CAR foi 7% menor em re-
sólidos totais), divididos em 2 refeições iguais lação às fêmeas classificas em alto CAR (66,1
(7 e 15h). A dieta sólida consistiu em 95% de vs. 71,1 bat/min).
ração peletizada (88% MS, 20% PB e 3% de
gordura) e 5% de feno de tifton 85 (81% MS; Produção de Metano
13,4% de PB; 72,8% FDN; 32,3% FDA) ad
libitum. A água foi fornecida ad libitum desde A eficiência dos sistemas pecuários brasi-
o primeiro dia de vida. Animais foram classifi- leiros ainda é passível de melhorias, existindo
cados em CAR baixo (eficientes) e alto (inefi- possibilidades de aumento na quantidade de
cientes). Dados de consumo de oxigênio, dió- produto final, mantendo ou reduzindo a emis-
xido de carbono e produção de metano foram são de gases do efeito estufa (GEE). Quanto
registrados utilizando-se o sistema Sable (Sable maior a proporção de vacas em lactação em
Systems, Henderson, NV) acoplado à mascara uma propriedade, menor a emissão de GEE
facial, e cada leitura foi feita em 20 minutos, 3 por kg de leite produzido. Toda ação que me-
horas após o fornecimento do leite da manhã, lhore a eficiência do sistema de produção re-
em dois dias consecutivos. A frequência cardía- duz, proporcionalmente, a emissão de meta-
ca (FC) foi registrada durante 20 minutos com no, uma vez que mais produto (carne, leite, lã,
transmissor equino Polar (RS800CX G3, Polar etc.) será produzido em relação aos recursos
Electro Inc., Finlândia). O gasto energético utilizados (Guimarães Jr. et al., 2010).
foi calculado como a produção de calor esti- Com a seleção de animais de baixo
mada a partir da equação de Brouwer (1965). CAR, há possibilidade de reduzir a pegada de
Bezerras de alto CAR obtiveram 12,39% a carbono da produção de leite e carne, já que
mais de consumo de MS (P<0,05) do que o esses animais apresentam menores exigências

Tecnologias de precisão na avaliação da eficiência alimentar 79


nutricionais e, consequente- metabolismo basal ou de
A seleção de vacas leiteiras
mente, menor demanda para deposição (hormônios do
com elevados níveis de
a produção de alimentos, eixo somatotrópico, hormô-
produção e eficiência
assim como menor quan- nio de crescimento, IGF-1
de utilização de energia
tidade de dejetos produzi- e hormônios da tireoide)
representa estratégia
dos. Nkrumah et al. (2007) (Bellmann et al., 2004).
eficiente para mitigação de
observaram que a produção A leptina é reguladora
metano.
de metano por kg de peso do metabolismo energéti-
corporal metabólico foi 34% co, exercendo influência no
maior em animais de alto CAR em compara- comportamento de consumo de alimentos
ção com novilhos de baixo CAR. Do mesmo e reprodução dos animais, sendo correlacio-
modo, a produção de metano (g/dia) foi 25% nada à massa de gordura corporal, devido às
menor em novilhos de baixo CAR em com- alterações que provoca na ingestão de alimen-
paração com os de alto CAR (Hegarty et al., tos (Zieba et al., 2005). A insulina influencia
2007). a regulação da concentração de glicose circu-
Yan et al. (2010) avaliaram dados obtidos lante e é diretamente envolvida com o cresci-
em 20 estudos sobre metabolismo energético mento celular e desenvolvimento dos animais
realizados em câmaras respirométricas de fluxo (Fouladi-Nashta e Campbell, 2006). Atua
aberto, envolvendo 579 vacas em lactação, com também no hipotálamo, influenciando no
variação no mérito genético, número e fase da mecanismo da fome-saciedade e em tecidos
lactação e peso corporal. Os autores estudaram corporais, como fígado, músculos, glândulas
as taxas de emissão de metano entérico em re- mamárias e ovário (Cunningham, 2004; Volp
lação a variáveis de eficiência de utilização de et al., 2008). O IGF-1 é liberado pelo fígado e
energia e de produtividade animal. Os resulta- tecidos periféricos, atuando na concentração
dos indicaram que a perda de energia na forma de glicose e no metabolismo de aminoácidos
de CH4 como proporção da energia bruta (EB) e proteínas, com alteração nos processos de
ingerida ou da energia do leite foi negativamen- síntese e degradação, influenciando no cres-
te relacionada aos níveis de produção leiteira, cimento, composição de carcaça e eficiência
metabolizabilidade da energia (q) e eficiência alimentar (Lobley, 1992). Kelly et al. (2009)
de utilização da energia metabolizável para lac- analisaram o plasma sanguíneo de novilhas
tação (Kl). Portanto, a seleção de vacas leiteiras cruzadas Limousin e Holandês e encontraram
com elevados níveis de produção e eficiência correlações significativas entre CAR e as con-
de utilização de energia representa estratégia centrações de ácidos graxos não esterificados
eficiente para mitigação de metano. (r = -0,21) e β-hidroxibutirato (r = 0,37). Os
mesmos autores também encontraram corre-
Parâmetros sanguíneos lações significativas entre conversão alimen-
tar e as concentrações sanguíneas de leptina
relacionados à Eficiência (r = 0,48), ácidos graxos não esterificados (r =
Alimentar -0,32), β-hidroxibutirato (r = 0,25) e relação
Hormônios são componentes influen- glicose:insulina (r = -0,23), concluindo que
ciados diretamente por fatores nutricionais, os processos biológicos do animal podem ser
pois regulam a partição de nutrientes (in- responsáveis pela variação da eficiência ali-
sulina e glucagon) e determinam a taxa de mentar em gado de corte.

80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Em estudo realizado por Santos (2014), Nkrumah et al. (2006), trabalhando com
com o objetivo de avaliar associações entre 27 novilhos cruzados Angus x Charolês, con-
desempenho, eficiência alimentar e parâme- cluíram que os animais menos eficientes fica-
tros sanguíneos e consumo alimentar residual ram mais tempo se alimentando a cada visita
(CAR) em bovinos Nelore (n = 118), em fase ao cocho e apresentaram número de visitas
de crescimento, durante 84 superior quando compara-
dias, os animais foram clas- dos com novilhos de baixo
sificados em baixo (CAR < ...animais mais eficientes CAR, apresentando menor
-0,128kg/d; n = 40); mé- tiveram menores níveis digestibilidade da matéria
dio (CAR entre -0,128 e sanguíneos de ureia, cortisol seca e da proteína bruta. Os
0,135kg/d; n = 42) e alto e insulina, e maiores níveis autores encontraram corre-
CAR (CAR > 0,135kg/d; de triglicerídeos; essas lações significativas entre
n = 36). Animais de baixo respostas possivelmente tempo de alimentação e
CAR consumiram, em mé- estão relacionadas com digestibilidade da matéria
dia, 0,670kg/d de matéria a reciclagem dos tecidos, seca (0,55), digestibilidade
seca a menos que animais de mudanças na composição da proteína bruta (0,47)
alto CAR. Dos parâmetros corporal e uma resposta ao e energia digestiva (0,55).
sanguíneos analisados, a estresse. Já os animais mais eficien-
ureia, IGF-I e insulina apre- tes tiveram menor gasto de
sentaram diferenças entre os grupos. Foram energia em relação à taxa de alimentação e
detectadas concentrações sanguíneas meno- taxa de mastigação.
res de ureia (5,58 vs. 5,91mmol/L) e maiores Nkrumah et al. (2007) avaliaram o CAR
de insulina (4,45 vs. 3,70µIU/mL) e IGF-I de novilhos da raça Angus e Charolês, e ve-
(433 vs. 399ng/mL) para, respectivamente, rificaram que os mais eficientes permanece-
animais de baixo CAR quando comparados ram menos tempo se alimentando, visitaram
aos animais de alto CAR. menos vezes o cocho e apresentaram um
Em outro estudo, foi encontrado que menor gasto energético com essas ativida-
animais mais eficientes tiveram menores des quando comparados a animais menos
níveis sanguíneos de ureia, cortisol e insuli- eficientes. Aldrighi (2013) avaliou animais
na, e maiores níveis de triglicerídeos; essas jovens da raça Nelore (machos e fêmeas) e
respostas possivelmente estão relacionadas encontrou diferença significativa entre as
com a reciclagem dos tecidos, mudanças na classes de CAR (baixo, médio e alto CAR)
composição corporal e uma resposta ao es- no tempo utilizado para alimentação.
tresse (Richardson & Herd, 2004). Egawa (2012), estudando fêmeas da
raça Nelore, não detectou diferença signifi-
Comportamento cativa entre as classes de CAR para tempo de
ruminação. Entretanto, quando comparou
Alimentar o tempo de ruminação destinado para cada
Richardson et al. (2004), estudando pa- kg de matéria seca ingerida, observou que os
drões de alimentação de novilhos seleciona- animais mais eficientes (baixo CAR) gasta-
dos para CAR, demonstraram que animais ram maior tempo ruminando, aproveitando
menos eficientes permanecem 5% mais tem- os alimentos de forma mais eficiente.
po se alimentando.

Tecnologias de precisão na avaliação da eficiência alimentar 81


Fontes de Variação também encontraram uma diferença em per-
da de energia em metano quando animais fo-
Metabólica da Eficiência ram alimentados ad libitum. Paddock (2010)
Alimentar concluiu que a maior variância do CAR é pro-
vavelmente relacionada aos gastos de energia
São necessários mais estudos para com-
entre os animais.
preender os fatores metabólicos e a partici-
Estudos com gado de corte em cresci-
pação de cada um nas diferenças de eficiência
mento têm demonstrado que 4 a 9% da va-
alimentar entre os animais. Esse entendimen-
riação no CAR está associada a diferenças
to facilitará as melhores estratégias de manejo
na composição da carcaça (Lancaster et al.,
dos animais e o maior avanço nos programas
2009). Correlações genéticas positivas de
de melhoramento genético. Na Tabela 1 são
baixas a moderadas entre as características de
apresentadas as principais fontes de variação
carcaça e gordura mostram que bezerros com
metabólica do consumo alimentar residual.
baixo CAR têm composição corporal ligeira-
De acordo com o estudo conduzido por
mente mais magra. Esse fato poderia causar
Herd et al. (2004), cerca de
uma preocupação de que a
10%, 9%, 5% e 10% da varia-
ção observada no CAR em ...os principais fatores seleção para CAR poderia
gado de corte pode vir da que afetam a partição de levar a um rebanho mais
digestão, do incremento ca- energia nos ruminantes são: magro; porém, ajustando o
lórico, composição corporal nível de consumo alimentar, modelo para algumas carac-
e diferenças de atividade fí- condições ambientais, gasto terísticas de carcaça, pesqui-
sica, respectivamente. Dessa energético ou produção sadores poderiam explicar
forma, 66% da variação do de calor (PC), nível de essas diferenças na compo-
CAR em bovinos de corte produção de leite ou sição corporal. A variação
permanecem sem resposta. ganho em tecido corporal e no CAR pode ser explicada
Porém, segundo os autores, variabilidade individual ... pelas diferenças nas taxas de
essa variação pode estar rela- com respeito à eficiência de crescimento e composição
cionada à energia requerida utilização de energia para corporal, sugerindo que a
por processos biológicos, mantença e produção. maior parte da variação da
energia metabolizável to-
como bombeamento de
tal (EMT) entre bovinos
prótons na mitocôndria, turnover proteico e
em crescimento com fenótipos de baixo e
bombeamento de íons.
de alto CAR estão provavelmente associadas
Animais com baixo CAR demonstram
a diferenças entre produção de calor (PC)
melhor digestibilidade, com menor perda de
entre animais.
energia fecal. De acordo com Nkrumah et al.
De acordo com Brosh (2007) os princi-
(2006), animais com baixo CAR apresenta-
pais fatores que afetam a partição de energia
ram menores perdas de energia fecal e me-
nos ruminantes são: nível de consumo alimen-
tano, porém as perdas energéticas via urina
tar, condições ambientais, gasto energético ou
foram semelhantes às dos animais CAR posi-
produção de calor (PC), nível de produção de
tivo, o que correspondeu a uma diferença de
leite ou ganho em tecido corporal e variabili-
6,3% em energia metabolizável entre animais
dade individual entre animais com respeito à
de baixo e de alto CAR. Hegarty et al. (2007)
eficiência de utilização de energia para man-

82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Tabela 1. Fontes de variação metabólica do consumo alimentar residual (CAR)
em bovinos de corte

Característica Correlação
Descrição com CAR
Requisito Menos energia é usada nos processos fisiológicos para os requi-
0,421 (P
de energia sitos de mantença para animais de baixo CAR (Castro Bulle et al.,
<0,10)
metabolizável 2006).
Animais de baixo CAR têm menor teor de gordura no corpo e
Composição
maior teor de proteína; assim, há uma correlação positiva entre
corporal
CAR e ganho de gordura. Tamanho de vísceras é um grande fator 0,375 (P
(ganho de
que contribui para aumentar a produção de calor e uso de ener- <0,10)
gordura)
gia. Animais de baixo CAR têm menores órgãos viscerais (Herd e
Arthur, 2008)
Ingestão de
Machos de alto CAR consumiram 17%-18% a mais que os animais 0,44 (P
matéria seca
de baixo CAR (Castro Bulle et al., 2006; Lancaster et al., 2009). <0,001)
(IMS)
A digestibilidade pode ser influenciada pela variação em fatores
como comportamento de alimentação, tempo de retenção no
Digestibilidade
rúmen, mecanismo de digestão e absorção. Animais de baixo CAR -0,33 a -0,44
têm melhor digestibilidade de matéria seca do que animais de
alto CAR (Oddy e Herd, 2001).
Diferença de até 21% em PC existe entre animais de baixo e de
Produção de alto CAR. Órgãos viscerais são responsáveis ​​por 40%-50% de PC.
calor (PC) Animais de alto CAR têm níveis mais elevados de PC e também 0,68
maior tamanho de órgãos viscerais (Basarab et al., 2003; Nkrumah
et al., 2006).
10% da variação do CAR podem ser explicados pela atividade físi-
Atividade ca em machos em crescimento. Duração de permanência no co-
0,32
cho de animais de baixo CAR é de 25min/dia menor que animais
de alto CAR (Richardson et al., 2004; Lancaster et al., 2005).
Animais de baixo CAR produzem 28% menos metano que os de
Produção de
alto CAR. Produção de 16.100L menos metano/ano. Há associa-
metano 0,44
ção positiva entre a ingestão de energia e produção de metano
(Nkrumah et al., 2006).
Os animais com maiores requisitos de mantença têm maior
volume de turnover de proteína. Animais de baixo e de alto CAR
Turnover de
produzem tecido corporal na mesma taxa, porém animais de 0,44
proteína
baixo CAR podem ter volume de turnover de proteína reduzido
(Richardson e Herd, 2004).

Adaptado de Hendricks et al. (2013).

Tecnologias de precisão na avaliação da eficiência alimentar 83


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Tecnologias de precisão na avaliação da eficiência alimentar 85


Processamento de
dados e suporte
para tomada
de decisão na
pecuária leiteira
de precisão

bigstockphoto.com
Luigi Francis Lima Cavalcanti1 - CRMV-MG 10610
Marcelo Neves Ribas2 - CRMV-MG 8208
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira3 - CRMV-MG5930
1
Médico Veterinário, Doutor em Zootecnia, Bolsista CNPq – RHAE,
Projeto Intergado/Seva (luigi.cavalcanti@intergado.com.br) – CRMV-MG: 10610
2
Médico Veterinário, Doutor em Zootecnia, Bolsista CNPq – RHAE Seva Engenharia,
Diretor-Executivo Intergado Tecnologia (marcelo@intergado.com.br) – CRMV-MG: 8208
3
Médico Veterinário, Doutor em Ciência Animal,
Pesquisador da Embrapa Gado de Leite (luiz.gustavo@embrapa.br) – CRMV-MG: 1000

1. Introdução quência imediata a geração de bancos de


dados que devem ser interpretados eficien-
A pecuária de precisão temente com o intuito de
baseia-se intrinsicamen- A pecuária de precisão prover aos usuários supor-
te na coleta de dados de baseia-se intrinsicamente te para tomadas de decisão.
modo refinado, com maior na coleta de dados de Caso esse objetivo final
frequência e de forma au- modo refinado, com maior (i.e., embasar tomadas de
tomatizada. Esse processo frequência e de forma decisão) não se torne pos-
intenso tem como conse- automatizada. sível, corre-se o risco de in-

86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


validar ou tornar obsoletas to de algoritmos, proces-
O advento do fenômeno
todas as etapas anteriores e, samento dos dados, e ge-
conhecido como “internet
dessa forma, todo o esforço ração de informações que
das coisas” resultou em
despendido desde a identi- darão suporte para tomada
uma geração exponencial
ficação do problema, pas- de decisão.
de dados, consequência
sando por desenvolvimen-
da popularização de
to de sensores e algoritmos
dispositivos capazes de 2. Geração e
que consigam monitorá-lo,
até a geração da informação
gerá-los tais quais celulares, coleta de dados
computadores domésticos,
em si podem ter sido em O advento do fenôme-
ferramentas de empresas e
vão. Embora esse objetivo no conhecido como “inter-
objetos em um estoque.
seja claro, alcançá-lo não net das coisas” resultou em
é tarefa simples e implica uma geração exponencial de
custo associado a investimento em tempo, dados, consequência da popularização de dis-
experimentação, desenvolvimento e apli- positivos capazes de gerá-los tais quais celu-
cação de tecnologias e recursos humanos lares, computadores domésticos, ferramentas
qualificados. de empresas e objetos em um estoque. Esse
Rutten et al. (2013) revisaram 126 tra- excesso de informação demanda grande habi-
balhos publicados e encontraram relatos de lidade de pesquisadores e cientistas para que
utilização de 139 dispositivos para monito- se consiga extrair informação útil. Esse recur-
ramento do manejo sanitário em sistemas so humano deve ser dotado de habilidades
leiteiros, mas nenhum atingiu o objetivo da área de estatística, mas também da área da
final de aconselhar o fazendeiro ou técni- origem do problema que está sendo debatido.
co em suas decisões, ou mesmo integrar as Em alguns momentos, a distância entre essas
leituras dos dispositivos de forma a gerar duas áreas se torna tão grande que se faz pre-
informações capazes de dar suporte a deci- mente a formação de equipes interdisciplina-
sões, tendo os autores concluído que mui- res para que se crie a solução ideal.
to se tem feito para o desenvolvimento de No âmbito do agronegócio, a entrada
dispositivos, mas pouco tem sido aplicado de dispositivos desse tipo se tornou popular
para de fato auxiliar no manejo dos animais. primeiramente no meio agrícola, com a entra-
Esse cenário é coerente com um questio- da de sensores capazes de comunicar com o
nário realizado em fazendas no estado do Sistema de Posicionamento Global (GPS) e
Kentucky, EUA, onde 35% dos respon- a implementação de software habilitados com
dentes concordaram que o excesso e o não ferramentas de georreferenciamento. Esse
saber lidar com a informação contribuíram tipo de mapeamento digital em tempo real ga-
como causas da lenta adoção de tecnologias rante aos seus usuários a capacidade de identi-
de pecuária de precisão (Bewley e Russel, ficar eficientemente cada gleba de terra e, por-
2010). tanto, subdividir custos, receitas e tomadas
Esta revisão tem como o objetivo des- de decisão conforme a performance de cada
crever de forma generalizada, independen- setor da propriedade. Esse processo de indivi-
temente do tipo de sensor ou utilidade de dualização, a base da agricultura de precisão,
dispositivos, as etapas consecutivas à coleta permite ações como aplicações específicas
de dados, caracterizando o desenvolvimen- tanto quantitativa quanto qualitativamente

Processamento de dados e suporte para tomada de decisão na pecuária leiteira de precisão 87


de adubos e pesticidas, uso mais eficiente de deverá ser cuidadosamente analisada e inter-
implementos, entre outros quesitos que antes pretada para que se chegue à informação de
seriam utilizados de forma mais generalista. interesse.
Esse tipo de ação fomenta, entre outras van- Vários autores tentaram formalizar
tagens, a uniformidade da produção e efeitos esse processo de interpretação por meio
colaterais positivos, como o direcionamento de esquemas e teorias. Destaca-se dentre
do uso de herbicidas apenas em regiões de estes o fluxograma denominado Extração
maior demanda, reduzindo custos diretos e do Conhecimento (do inglês, Knowledge
indiretos, como o impacto ambiental dos re- Discovery in Database ou KDD). Embora
síduos do mesmo. esse termo tenha se tornado mais corriquei-
Seguindo a mesma tendência, algumas ro nos últimos anos, seu conceito foi forma-
tecnologias de pecuária de precisão passaram lizado no final da década de 1980 e baseia-se
a ser adotadas corriqueiramente por fazendas em um processo de várias etapas, não trivial,
leiteiras brasileiras: ordenhadeiras mecânicas iterativo e interativo, para a identificação
que registram produção e condutividade elé- de padrões compreensíveis, válidos, novos
trica do leite produzido pelos animais, balanças e potencialmente úteis a partir de grandes
de passagem que estimam o peso vivo dos ani- conjuntos de dados (Fayyad et al., 1996).
mais bem como as variações A designação “não trivial”
de peso ao longo do tempo e Para que essa coleta [de implica que o processo de
sensores de atividades que, a dados] tenha significado, a KDD é passível de inferên-
partir da contagem de pas- massa de dados deverá ser cia, e isso revela que essa
sos, detectam animais em cuidadosamente analisada metodologia é dependente
estro. Outras tecnologias de e interpretada para que da capacidade do analista
precisão estão sendo desen- se chegue à informação de em interpretar o fenôme-
volvidas e avaliadas em cen- interesse. no, ou seja, não se baseia
tros de pesquisa e precisam somente em cálculo de
de um maior tempo de ma- médias ou desvios padrão.
turação para que sejam adotadas em proprieda- O termo “iterativo” denota que o proces-
des comerciais, como sensores que registram so como um todo é passível de repetição e
consumo de alimentos e água, comportamen- ensaios do tipo tentativa e erro, ou seja, de-
to alimentar, frequência cardíaca e respiratória, manda que o executor avalie o problema por
temperatura corporal, pH ruminal, atividade e várias óticas, aplicando diferentes técnicas
posição dos animais, entre outros. ou algoritmos quantas vezes preciso for para
que se atenda ao objetivo primordial com
3. Extração do acurácia e precisão.
O diagrama apresentado na Figura 1 re-
conhecimento sume as etapas do KDD. Como pode ser ob-
O aumento exponencial de dados co- servado, a primeira etapa consiste em retirar
letados automaticamente por dispositivos do banco de dados os fragmentos ou subsets
eletrônicos nas atividades agropecuárias de interesse. No caso da pecuária de precisão,
traz como consequência direta a geração de essa etapa é crucial, pois favorecerá o proces-
grandes conjuntos de dados. Para que essa so de integração dos dados brutos. Isso por-
coleta tenha significado, a massa de dados que é muito comum que dados sejam coleta-

88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Figura 1. Diagrama de formalização do processo de extração de conhecimento, do inglês,
Knowledge Discovery from Database. Adaptado de Fayyad et al. (1996).

dos por diferentes dispositivos, e muitas vezes 2 coletava dados relativos ao clima em que
esses sensores são produzidos por diferentes o animal “A” estava submetido. Esse tipo de
fabricantes. Nesse sentido, a seleção passa a integração se torna mais complexa com o au-
ser essencial, uma vez que cada dispositivo irá mento da quantidade de dispositivos envol-
retornar diferentes arquivos, com diferentes vidos e susceptível a erros. Como exemplos
formatos, e muitas vezes com padrões dife- dessa vulnerabilidade, um cadastro incorreto
rentes de unidade (e.g., padrões de data/horá- de um animal em uma das plataformas pode
rio: padrão americano – mês/dia/ano versus causar não pareamento de dados; por outro
brasileiro – dia/mês/ano). lado, a assincronia dos relógios dos sensores
Como exemplo, pode ser citado o caso pode gerar atribuição indevida (e.g., para um
de sensores que produzem séries temporais outro animal ou evento que não os que origi-
(i.e., dados em função do tempo) para com- naram o dado coletado). Assim, cabe ao ana-
portamento (e.g., pedômetros) e sensores lista conscientizar a equipe de campo sobre
para condições atmosféricas (i.e., tempera- a responsabilidade da qualidade de coleta de
tura, umidade, etc.). Nesse exemplo, mui- dados e exigir que a mesma saiba manusear e
tas vezes almeja-se correlacionar eventos utilizar corretamente todos os dispositivos.
climáticos com possíveis respostas animais. Falhas nesse nível podem inviabilizar todas
Esse tipo de integração requer que os dados as etapas a posteriori.
coletados por ambos os sensores estejam Após a seleção dos dados, procede-se
contidos em um mesmo conjunto de dados, ao pré-processamento. Essa etapa é marcada
devidamente indexados e sincronizados. A pelo ajuste de variáveis, transformações de
indexação se refere à identificação dos da- unidades, identificação de dados faltantes, eli-
dos, ou seja, certo dado foi obtido pelo pe- minação de dados ruidosos e identificação de
dômetro, que estava no animal “A” no horá- outliers. Muitos equipamentos possuem algo-
rio “X”. Nesse mesmo horário “X”, o sensor ritmos internos (i.e., não completamente con-

Processamento de dados e suporte para tomada de decisão na pecuária leiteira de precisão 89


trolados pelo usuário) que banco de dados. Esse tipo de
Embora o procedimento
se destinam a realizar esse procedimento é conhecido
automatizado reduza o
tipo de pré-processamento. como aprendizado supervi-
trabalho do analista, e
Embora esse procedimento sionado, visto que existe um
frequentemente torne os
automatizado reduza o tra- padrão ouro para que se ava-
dados mais limpos, pode
balho do analista, e frequen- lie a capacidade do modelo
mascarar falhas dos sensores
temente torne os dados mais criado. Existem ainda mé-
ou, muitas vezes, dificultar
limpos, pode mascarar falhas todos não supervisionados,
o casamento e integração
dos sensores ou, muitas ve- que visam, a partir de carac-
da informação com outros
zes, dificultar o casamento terísticas similares, classifi-
dispositivos.
e integração da informação car resultados. Como exem-
com outros dispositivos. plo, pode-se citar as análises
Cabe aqui salientar que os dados podem ser de cluster, que têm como objetivo criar uma
de qualquer natureza, incluindo imagens, que rede de similaridade entre possíveis classes.
podem ser pré-processadas para obtenção de As análises supracitadas dependem da
dados como biometria animal e temperatura integração de muitas variáveis, e até então
(câmeras termográficas). Esse tipo de proce- poucos trabalhos avaliaram essas técnicas no
dimento foi, por exemplo, utilizado para de- âmbito da pecuária leiteira, usando dados não
terminação da angulação de dorso de vacas ao completamente coletados de forma automáti-
se locomoverem com o intuito de predizer es- ca, e com sucesso questionável (Shahinfar et
cores de claudicação (Viazzi et al., 2013). Esse al., 2014a; Shahinfar et al., 2014b). Segundo
tipo de dado requer intenso e eficiente pré-pro- Rutten et al. (2013), a maioria dos dispositi-
cessamento para obtenção dos dados. vos encontrados no mercado para detecção
As etapas seguintes do fluxograma do ou auxílio no manejo sanitário de rebanhos
KDD não são muito comuns na pecuária de leiteiros falham no quesito integração de dis-
precisão. Segundo Fayyad et al. (1996), elas positivos. Esse cenário limita a aplicação de
consistem na formatação e mineração de da- ferramentas como o aprendizado de máquina
dos, cujo objetivo é buscar padrões no banco e análises multivariadas, sendo explicável do
por meio de técnicas como: redução de di- ponto de vista das empresas fabricantes, que
mensão por eliminação de variáveis (e.g., com- tentam normalmente desenvolver solução
ponentes principais), transformação de variá- para um problema específico, e poucas conse-
veis (conversões lógicas, criação de classes) e guem criar um pacote para a atividade como
por fim métodos clássicos como correlações, um todo. Nesse contexto, o diagrama propos-
classificação (i.e., análise de cluster), regres- to por esses autores é mais coerente com o
sões de “Ridge” e árvores de decisão. Algumas que atualmente ocorre com os dados obtidos
típicas da área conhecida como aprendizagem na pecuária de precisão leiteira (Fig. 2).
de máquina (do inglês, machine learning) que, No diagrama (Fig. 2), o processo de ge-
com base em uma parcela dos dados, envolve ração de suporte para tomadas de decisão a
treinar o computador para que chegue a uma partir de dados coletados automaticamente
resposta baseada no cenário criado pela inter- por um sensor é dividido em quatro estágios.
seção de variáveis de entrada. Usam-se nesse No primeiro, o sensor captura dados a partir
processo de treinamento vários algoritmos, de um animal ou do ambiente. É possível que
empregados para avaliação no restante do algum algoritmo atue junto ao hardware para

90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


que o dado seja gerado. Exemplo disso são as interpretados por algoritmos previamente
balanças que trabalham com células de carga. validados e um status é gerado, ou um valor é
Esses sensores trabalham gerando alterações computado (e.g., o animal está em estro). Esse
de tensão (voltagem) e esta é linearmente tipo de algoritmo é também denominado
convertida em unidades de massa por mé- modelo preditivo (um status é predito a par-
todos de calibração. Esse tipo de conversão tir dos dados). Para esse tipo de informação, é
(volts para kg) caracteriza um algoritmo in- essencial o processo de validação, geralmente
terno. A depender do recurso do equipamen- realizada pela metodologia de comparação
to, é possível que leituras consideradas fora de dos outputs com um padrão ouro; mas, com
uma faixa específica sejam eliminadas ou ge- o advento do sensor, o processo tornou-se
rem alertas, que podem representar erros de mais efetivo, embora passível de questio-
calibração (i.e.¸ o fator de conversão utilizado namentos, pois numa perspectiva simplista
durante a calibração pode não estar correto trataria de um caso de falso positivo, isto é,
ou não mais ser adequado, por exemplo, caso o algoritmo em teste marcou como positivo
o sensor tenha fadigado). Caso os dados bru- ou presente um fenômeno que para o padrão
tos não sejam passados para o banco expor- ouro seria negativo. Assim, é preciso cautela
tado pelo dispositivo, o analista poderá não e bom senso, pois pode caracterizar super-
conseguir caracterizar esses tipos de outlier, valorização das capacidades do sensor, o que
e a informação poderá ficar de alguma forma não é bem aceito pela comunidade científica.
viesada. A melhor saída é utilizar como padrão ouro
No próximo nível, os dados gerados são métodos o mais sensível possível. Uma vez

Figura 2 – Diagrama do fluxo de dados e informações desde o processamento de dados coletados


automaticamente à tomada de decisão pelo produtor e/ou equipe. Adaptado de Rutten et al. (2013).

Processamento de dados e suporte para tomada de decisão na pecuária leiteira de precisão 91


que o algoritmo seja aceito, explicação de qualquer fe-
O desenvolvimento de
novas validações deverão nômeno deve assumir ape-
algoritmos preditivos requer
ser realizadas tão frequen- nas as premissas estritamen-
habilidade estatística e
tes quanto possível for, de te necessárias à explicação
entendimento dos conceitos
forma a aumentar cada vez do mesmo, de forma que as
básicos sobre modelagem de
mais a sensibilidade e espe- entidades não sejam adicio-
fenômenos.
cificidade do algoritmo de nadas ao problema além da
detecção. Muitas vezes, para necessidade. Colocar essa
se aumentar a acurácia dos dispositivos, a adi- filosofia em prática implica reduzir ao máxi-
ção de informações obtidas a priori podem mo o nível de complexidade, ou dimensões
ser úteis, ainda que não advenham de senso- geradas por variáveis desnecessárias, sem que
res. Como exemplo pode-se citar o histórico se perca qualidade preditiva. Vários métodos
de cios detectados. O intervalo relativamente estatísticos foram desenvolvidos para esse
regular do ciclo estral é uma informação bas- propósito, entre eles um dos mais populares
tante interessante, pois facilita a busca por na estatística aplicada a modelos lineares é o
comportamentos em intervalos regulares. O conhecido como método de regressão stepwi-
final da etapa 2 no fluxograma é caracteriza- se. Esse método de busca é caracterizado pelo
do pela síntese da informação em si, objetivo ajuste de modelos de regressão em sequência
similar ao processo de KDD. Os níveis 3 e 4 onde cada uma das variáveis candidatas é adi-
descritos por Rutten et al. (2013) são relativos cionada a cada passo, e os modelos ajustados
à tomada de decisão. podem então ser comparados por várias téc-
O desenvolvimento de algoritmos pre- nicas como erros quadráticos médios, coe-
ditivos requer habilidade estatística e enten- ficientes parciais de correlação, estatística t
dimento dos conceitos básicos sobre mode- ou F, critérios de Akaike ou Schwarz, entre
lagem de fenômenos. Nesse caso, o analista outros (Kutner et al., 2005). No âmbito da
deve ter ampla capacidade de observação e estatística multivariada, o uso da análise de
abstração, além de ter foco na demanda pro- componentes principais visa explicar a es-
posta. É muito comum desviar-se da meta trutura de variância-covariância das variáveis
inicial durante o processo de modelagem, envolvidas por meio de poucas combinações
podendo, portanto, levar a conclusões não lineares, resultando em redução de dados e
desejadas, além de perda de tempo e esforço possíveis inferências, como exemplo, quais
(Tedeschi et al., 2005). variáveis são mais “impactantes” para o fenô-
Como passo inicial, o modelista deverá meno (Wichern e Johnson, 2007).
ser capaz de descrever o fenômeno por meio Passada a etapa de ajuste, torna-se pre-
das variáveis coletadas, tendo a habilidade mente a avaliação dos modelos. Segundo
de reconhecer as distribuições das mesmas e Tedeschi (2006), o termo “validação” deve ser
características como instabilidade, variância, preterido nesses casos; pois, do ponto de vista
correlação entre elas, multicolinearidade, en- filosófico, modelos são representações abstra-
tre outros atributos que lhe permitirão aplicar tas da realidade, de forma que nunca poderão
às mesmas a técnica estatística mais adequa- mimetizar completamente a realidade em
da. Muitas vezes, a seleção de variáveis poderá qualquer condição, dessa forma jamais será
ser essencial. Segundo o princípio reducionis- totalmente verdadeiro, correto e, portanto,
ta conhecido como a “Navalha de Occam”, a válido. Uma interessante discussão a respeito

92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


dessa temática foi apresen- ambos os casos, pode-se
Embora subestimada, a
tada por Sterman (2002) aplicar a técnica de valida-
avaliação de modelos é
no texto “All models are ção cruzada, cujo método
etapa fundamental para
wrong”, em que se tentou es- baseia-se no uso de frag-
o sucesso de dispositivos
clarecer como o mundo que mentos de banco de dados
eletrônicos.
nos cerca é complexo e que para desenvolvimento dos
devemos ser humildes quan- modelos, com posterior uso
to à qualidade dos modelos. Assim, torna-se dos dados remanescentes como padrão ouro
mais adequado o termo avaliação ou teste de para avaliação dos modelos. Essa técnica é
modelos. Embora subestimada, a avaliação de conhecida como k-fold, onde um conjunto de
modelos é etapa fundamental para o suces- dados (k) é particionado em n subconjuntos
so de dispositivos eletrônicos. Isso porque é dos dados (k/n = ki) e o i-ésimo subconjunto
nessa etapa em que se executaram testes para é utilizado para desenvolvimento do modelo
se avaliar a acurácia e precisão dos modelos (ou aprendizado de máquina supervisiona-
que gerarão as respostas à demanda inicial. do), sendo sua capacidade preditiva sucessi-
Modelos muito simples, essencialmente em- vamente avaliada frente aos resultados obser-
píricos, podem acabar sendo muito precisos, vados para os dados em k - ki. Esse processo
mas pouco acurados, isto é, muitas vezes se- é repetido até que todos os subconjuntos te-
rão muito eficientes em predizer resultados nham sido utilizados.
nas mesmas condições em que foram desen- Caso um modelo seja aceito frente sua ava-
volvidos, porém, poderão ter desempenhos liação, pode-se dizer que se extraíram dos dados
insatisfatórios em condições adversas. Por o conhecimento ou a informação necessária
outro lado, modelos muito complexos, exces- para suportar tomadas de decisão.
sivamente mecanicistas, embora geralmente
sejam mais robustos e acurados, podem tor-
nar a coleta de dados inexequível ou muito
4. Tomada de decisão
complexa. Modelos de suporte a tomadas de decisão
Essa característica de poder preditivo de- (DSS, do inglês decision supporting systems)
verá ser sempre estudada, pois essa avaliação têm como objetivo principal assistir ao usuá-
trará como resultados não somente melhoras rio durante a solução de problemas cotidianos,
aos futuros modelos como também poderão muitas vezes subestimados quanto à sua com-
sinalizar fragilidades dos sensores envolvidos plexidade. O uso desses modelos traz como
no processo de coleta de dados, apontando benefício simplificar ou apontar soluções mais
lacunas que poderão dar margem ao desen- eficientes para se atingir um objetivo ou mais
volvimento de novos dispositivos. No âmbito objetivos concomitantes. O cenário da pecuá-
da estatística quantitativa, Tedeschi (2006) ria leiteira é demasiadamente complexo, e uma
apresentou diversas técnicas e a interpretação miríade de forças são impostas simultanea-
das mesmas quando na avaliação de modelos. mente ao sistema (e.g., sustentabilidade social,
Do ponto de vista de dispositivos que visem econômica e ambiental), tornando humana-
detectar condições lógicas, ou binárias, por mente impossível manejá-lo ao ponto de aten-
exemplo, o animal está doente ou não, em der, de forma equilibrada, a todas essas deman-
cio ou não, testes clássicos de especificidade das. Agrava-se nesse cenário o fato de que os
e sensibilidade podem ser adequados. Em níveis de um sistema são altamente integrados,

Processamento de dados e suporte para tomada de decisão na pecuária leiteira de precisão 93


e interações diversas podem res que acabam optando por
Do ponto de vista estatístico,
ocorrer, de forma que uma outras melhorias ou imple-
o processo de suporte a
decisão tomada em um nível mentos para suas fazendas
tomadas de decisão é
pode causar distúrbios nos (Steeneveld e Hogeveen,
uma evolução da clássica
demais. Esse tipo de cenário 2015).
abordagem da modelagem
é altamente propício para Do ponto de vista es-
preditiva...
aplicação de DSS; todavia, tatístico, o processo de su-
na pecuária leiteira, a adoção porte a tomadas de decisão
dessas ferramentas é muito baixa. é uma evolução da clássica abordagem da
Segundo Newman et al. (2000), a baixa modelagem preditiva, uma vez que o intuito é
adoção desses sistemas deve-se à falta de coe- gerar opções a partir das predições e informa-
rência entre a real demanda dos pecuaristas e ções geradas a priori, demonstrando os possí-
as capacidades do sistema e porque muitas ve- veis impactos advindos das decisões tomadas.
zes a capacidade e habilidade do produtor para Esse tipo de técnica é denominado mode-
operar e abastecer o sistema é insuficiente. Para lagem prescritiva, uma vez que o sistema irá
o último caso, o uso de sensores automáticos, prescrever soluções e atitudes a serem toma-
base da pecuária de precisão, tem potencial das e, em algumas situações, poderá ele mes-
óbvio de sanar o problema para implementa- mo tomar a decisão diretamente. Esse tipo
ção de DSS em fazendas; entretanto, segundo de situação somente é possível para sistemas
pesquisa de Rutten et al. (2013), dispositivos altamente sensíveis e específicos, pois para
capazes de prover suporte a esses sistemas são algumas decisões, erros podem ser drásticos.
poucos ou inexistentes. Como abordado na Na pecuária de precisão, sistemas prescriti-
Figura 2, esses dispositivos teriam de agir no vos automatizados podem ser citados como
âmbito dos níveis 3 e 4 do fluxograma propos- aqueles em que o animal baseado em dados
to, os quais seriam integração da informação e coletados por dispositivos são colocados em
tomada de decisão, respectivamente. uma lista para apartação, e ao passarem por
A falha na integração de dispositivos é um corredor (e.g. brete) são automaticamente
recorrente entre os produtos disponíveis no apartados por portões eletrônicos ou ao me-
mercado, e é uma das queixas de fazendeiros nos são identificados por painéis eletrônicos,
que limitam a adoção da pecuária de precisão sirenes, ou algo do tipo, para que o usuário
(Bewley e Russel, 2010). Como citado ante- saiba que aquele animal demanda atenção.
riormente, as fabricantes têm como principal Na pecuária de precisão, exemplos desse
objetivo sanar problemas pontuais, sendo ra- nível de integração e fluxo bidirecional entre
ros os pacotes de solução que seriam essenciais dispositivos e algoritmos em funcionamento
para a tomada de decisão. Ademais, ferramen- ainda são escassos.
tas gerenciadoras da informação são escassas
no mercado e, devido à quantidade de dados, 5. Exploração das
normalmente são complexas e demandam trei-
namento e reciclagem constante de usuários.
informações
Além disso, sistemas como esses carecem de Em cenários de alta complexidade como
avaliações econômicas e, portanto, limitam o manejo de atividades leiteiras, por mais que
tomadas de decisão eficientes quanto a esse dados sejam coletados automaticamente, mo-
quesito, o que causa insegurança em produto- delos preditivos e prescritivos atuem eficien-

94 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


temente e soluções sejam informação não necessária
...faz-se essencial o
propostas, faz-se essencial o para o monitoramento.
desenvolvimento de
desenvolvimento de ferra- Na pecuária de preci-
ferramentas adequadas
mentas adequadas para visua-
para visualização dos dados são, dashboards têm de ser
lização dos dados e interação desenvolvidos para trazer
e interação entre homem e
entre homem e máquina. A ao usuário as notificações,
máquina.
evolução acelerada dos dis- alertas e status de forma
positivos pessoais portáteis, clara e direta. Devem, além
como tablets e smartphones, aproximou bas- disso, ser personalizáveis de acordo com o
tante as aplicações e ferramentas da informá- perfil do usuário, já que diferentes tomadas de
tica com seus usuários, de forma que muitas decisão deverão ser propostas, assim como as
pessoas se mantêm conectadas à internet ou atitudes a serem tomadas. Esse tipo de ferra-
redes pessoais 100% do dia. Esse fenômeno menta ainda é escasso no mercado, e a maior
é altamente favorável à pecuária de precisão, parte dos software trabalham com relatórios
contudo é essencial, principalmente em telas tradicionais que requerem muitas vezes inter-
pequenas como a dos dispositivos móveis, que pretação excessiva dos usuários.
a informação seja apresentada da forma mais
concisa possível, fomentando rápida inter-
pretação e interação intuitiva. Criar interfaces
6. Considerações finais
entre máquina e humano é um desafio muito A pecuária de precisão envolve mensura-
grande e muitos profissionais da área da ciência ções, predições e análise de dados de variáveis
da informação têm se especializado nessa área dos animais e do ambiente, permitindo um
que requer não só habilidade com os dados em extraordinário fluxo de informações coletadas
si, mas também conhecimento de design entre automaticamente, gerando uma infinidade de
outras disciplinas. possibilidades de controle e intervenções que
Surge nesse contexto a utilização de ferra- são impossíveis dentro dos sistemas tradicio-
mentas visuais denominadas dashboards. Esse nais de produção.
termo, que quer dizer painel de avião foi figu- Apesar de estar em fase inicial de desen-
rativamente adotado por cientistas da comuni- volvimento e adoção, o avanço tecnológico
cação, pois resume o objetivo de seu emprego em diversas áreas tem permitido que novos
na visualização de dados, visto que o piloto de sensores e equipamentos cheguem à pe-
avião tem de ter disponíveis aos olhos, ainda cuária com custos cada vez mais acessíveis.
que em frações de segundo, todas as informa- Entretanto, para que essas novas tecnologias
ções necessárias para pilotar a aeronave, prin- possam auxiliar a rápida tomada de deci-
cipalmente em momentos de emergência, para sões pelos produtores, os dados registrados
que possa tomar as decisões cabíveis. precisam ser devidamente interpretados
Segundo Stephen Few, especialista da por software e modelos matemáticos, sendo
área da tecnologia da informação, a maior imprescindível a interdis-
parte dos dashboards de- ciplinaridade no desenvol-
senvolvidos para empresas A aplicação dessas novas vimento de novas ferramen-
falham em passar a informa- tecnologias pode gerar tas úteis ao setor produtivo.
ção, muitas vezes por design grandes modificações dentro A aplicação dessas no-
pobre, outras por focar em da cadeia produtiva... vas tecnologias pode ge-

Processamento de dados e suporte para tomada de decisão na pecuária leiteira de precisão 95


rar grandes modificações dentro da cadeia go. Journal of Animal Science, v. 77, n. E-Suppl, p. 1-12,
2000.
produtiva com a criação de novos setores de
serviço, novas demandas pelos consumido- 6. RUTTEN, C. J.; VELTHUIS, A. G.; STEENEVELD, W.;
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res, rastreabilidade dos produtos, melhoria alth management on dairy farms. J Dairy Sci, v. 96, n. 4, p.
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nas fazendas, redução do impacto ambiental e tion pay-off using a machine learning algorithm. J Dairy
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Dairy Sci, v. 97, n. 2, p. 731-42, 2014b.
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96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Uso da
termografia
infravermelha na
pecuária de precisão
Juliana Mergh Leão1 - CRMV-MG 15859
Juliana Aparecida Mello Lima2
Fernando Pimont Pôssas3 - CRMV-MG 7779
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira4 - CRMV-MG5930
1
Médica Veterinária, Doutoranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais.
2
Médica Veterinária, Bolsista Pós-doc CAPES/PVE, Universidade Federal de São João del-Rei/Embrapa Gado de Leite.
3
Médico Veterinário, Bolsista Pós-doc CAPES/Embrapa, Universidade Federal de São João del-Rei.
4
Embrapa Gado de Leite, Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária, Coronel Pacheco, Minas Gerais.

Introdução do adequado para alcançar


Na medicina veterinária e esse objetivo, já que não
Tecnologias inovadoras entra em contato com os
e biotecnologias contribuem
produção animal tem sido
aplicada principalmente animais e, portanto, não
significativamente para o
como ferramenta de existe contraindicação para
avanço em pesquisa animal,
diagnóstico, de prevenção seu uso em nenhuma es-
permitindo a identificação
e de correlação com pécie, tornando-se opção
da variabilidade animal e o
característica de interesse com potencial de aplicação
desenvolvimento de produ-
econômico ou clínico. na produção animal.
tos, processos e serviços para
aplicação do conceito de pe- Na medicina veteriná-
cuária de precisão nas fazendas leiteiras. ria e produção animal tem
Métodos não destrutivos nem invasi- sido aplicada principalmente como ferramen-
vos podem ser úteis para obtenção de dados ta de diagnóstico, de prevenção e de correla-
confiáveis sem interferir diretamente com os ção com característica de interesse econômi-
organismos, evitando reações de estresse. A co ou clínico. Pode, por exemplo, ser utilizada
termografia infravermelha pode ser um méto- para detectar processos inflamatórios ou si-

Uso da termografia infravermelha na pecuária de precisão 97


nais patológicos subclínicos transferência de calor do
A termografia
antes de a doença tornar-se meio ambiente por convec-
infravermelha (TIV) é
evidente, permitindo a apli- ção, radiação infravermelha,
baseada no princípio de que
cação do conceito de tera- transpiração e condução.
todos os corpos formados de
pêutica de precisão. A temperatura do núcleo
matéria emitem certa carga
Em relação à avaliação (core) é preservada den-
de radiação infravermelha,
do bem-estar, instalações tro de uma faixa estreita
proporcional à sua
e condições de conforto temperatura. Essa radiação (Bouzida et al., 2009) e sua
térmico, as mensurações regulação é essencial para a
pode ser capturada em um
termográficas podem ser execução normal do corpo
termograma que expressa
utilizadas em animais para no metabolismo saudável
o gradiente térmico em um
monitorar seu comporta- padrão de cores (Eddy et al., ou exercício. A temperatura
mento natural ou em deter- do corpo está intimamente
2001).
minada condição de manejo controlada dentro de limites
e ainda serem utilizadas para precisos. De um ponto de
avaliar o conforto térmico de instalações. As vista quantitativo, o fenômeno mais impor-
medidas podem ser feitas em conjunto com tante empregado na termorregulação é evapo-
outras mensurações de características ​​fisio- transpiração. Um grama de água evaporada da
lógicas e comportamentais. Além disso, os superfície da pele pode reduzir 1°C de 0,5kg
dados podem ser gravados remotamente tan- do tecido de um mamífero.
to durante o dia como à noite, permitindo, A termografia infravermelha (TIV) é
assim, que os animais possam ser estudados baseada no princípio de que todos os corpos
a campo. formados de matéria emitem certa carga de
Este capítulo visa mostrar fundamentos radiação infravermelha, proporcional à sua
científicos e técnicos de termografia e suas temperatura. Essa radiação pode ser captu-
principais aplicações na medicina veterinária rada em um termograma que expressa o gra-
e pecuária leiteira de precisão. diente térmico em um padrão de cores (Eddy
et al., 2001).
Conceitos e Princípios A temperatura de superfície dos animais
depende do fluxo sanguíneo e da taxa me-
A termografia infravermelha é a ciência tabólica dos tecidos subcutâneos (Nikkhah
de aquisição e análise de informações térmi- et al., 2005). Muitas infecções que desenca-
cas a partir de dispositivos de obtenção de deiam processos inflamatórios como resposta
imagens térmicas sem contato. O infraver- imunológica alteram o fluxo sanguíneo e, por
melho é uma frequência eletromagnética na- consequência, a temperatura na região afeta-
turalmente emitida por qualquer corpo, com da (Berry et al., 2003). Alterações de superfí-
intensidade proporcional à sua temperatura. cie da pele podem ser detectadas utilizando-
Historicamente, a mensuração da tempe- se a TIV com sucesso (Bouzida et al., 2009).
ratura tem sido utilizada para o diagnóstico A circulação e o sangue são a base para o
clínico, porque se provou ser um bom indica- uso da termografia, que captura, na pele, suas
dor da saúde (Tan et al., 2009). Os mamíferos atividades, como um padrão fisiológico dinâ-
são capazes de manter a temperatura corporal mico. Assim, a imagem termográfica aparece
constante, apesar de serem influenciados pela como um gráfico de representação da radia-

98 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


ção emitida pela superfície identificando a elevação da
O uso da TIV se deve,
da pele, que é transformado temperatura antes do apa-
principalmente, à vantagem
em imagem visível (Fig. 1). recimento dos primeiros si-
de não ser uma técnica
Quando há alterações na cir- nais clínicos, atuando como
invasiva, podendo ser
culação dos tecidos adjacen- um sinal de alerta para a ob-
usada sem a necessidade de
tes à pele, sua temperatura servação do animal (Gloster
captura ou contenção dos
também sofrerá alteração, et al., 2011; Redaelli et al.,
animais
mudando o padrão de cor 2013); permite a análise da
no termograma (Redaelli resposta fisiológica, forne-
et al., 2013), quantitativamente observado cendo resultados das alterações teciduais ao
em cada pixel, que representa um ponto de longo do tempo (Redaelli et al., 2013); e apre-
temperatura. senta mobilidade para aplicação nas fazendas
O uso da TIV se deve, principalmente, (Dunbar et al., 2009).
à vantagem de não ser uma técnica invasiva, Mesmo com essas vantagens, fatores rela-
podendo ser usada sem a necessidade de cap- cionados ao equipamento, animal ou ambien-
tura ou contenção dos animais (Schaefer et te podem limitar o uso da TIV. Com relação
al., 2012); tem a possibilidade de ser utilizada ao equipamento, uma boa câmera termográfi-
como um método de prevenção de doenças, ca apresenta custo elevado (Eddy et al., 2001;

Figura 1. Termograma de uma bezerra. Notar as narinas, orelhas e partes baixas das pregas da pele
cervical como extremidades mais frias e entorno dos olhos e região posterior da boca como áreas mais
quentes.

Uso da termografia infravermelha na pecuária de precisão 99


Redaelli et al., 2013). Fatores relacionados Uso da TIV no
diretamente ao animal podem influenciar o
resultado do termograma: como a realização diagnóstico de patologias
de atividade física – que eleva a temperatura de animais
superficial devido ao aumento da taxa meta- Na medicina veterinária, a TIV tem rece-
bólica e circulação periférica dos músculos bido maior atenção no desenvolvimento de
esqueléticos (Berry et al., 2003), a presença pesquisas nas áreas de: mastite bovina (Berry
de resíduos orgânicos ou et al., 2003; Nikkhah et al.,
inorgânicos no local a ser 2005; Colak et al., 2008;
termografado (esterco, Na medicina veterinária, a TIV
Hovinen et al., 2008;
lama ou tecido necro-
tem recebido maior atenção no
Polat et al., 2010), doença
sado), alterando a tem-
desenvolvimento de pesquisas
respiratória em bezerros
nas áreas de: mastite bovina,
peratura (Rodríguez et
doença respiratória em bezerros, (Schaefer et al., 2007;
al., 2008); e o estágio de Schaefer et al., 2011),
diagnóstico de febre aftosa,
lactação, que influencia diagnóstico de febre af-
avaliação de comportamento e
a temperatura da pele da tosa (Rainwater-Lovett
bem-estar animal, produção de
mama, que, no pico da gás metano por vacas leiteiras et al., 2009), avaliação de
lactação, está em maior e identificação de animais com comportamento e bem
atividade física e meta- melhor eficiência alimentar. -estar animal (Stewart et
bólica, tornando-se mais al., 2005; Kotrba et al.,
quente (Martins et al., 2007; McCafferty et al.,
2013). 2011), produção de gás metano por vacas
Sobre o ambiente, destaca-se a influência leiteiras e identificação de animais com me-
do ciclo circadiano sobre a temperatura cor- lhor eficiência alimentar (Montanholi et al.,
poral, principalmente da glândula mamária, 2008).
que é um dos principais fatores observados no Na perspectiva de produzir conhecimen-
uso da TIV para diagnóstico de mastite, bem tos sobre o uso da TIV na medicina veteri-
como o efeito da exposição à radiação solar nária, como método auxiliar em diagnóstico
direta (Berry et al., 2003), o conforto térmi- de patologias, pesquisas apontaram-na como
co oferecido pelo ambiente no momento, ou capaz de identificar alterações locais e sistê-
antes, da obtenção do termograma, pois a hi- micas de temperatura, expressas na superfície
pertermia ou hipotermia influenciam o resul- da pele, com a vantagem, em muitos casos,
tado do termograma (Nogueira et al., 2013). de identificá-las ainda no início da doença,
mesmo antes do aparecimento dos primeiros
Além da temperatura, a umidade relativa do
sinais clínicos, tornando-a, assim, uma tecno-
ar e emissividade do tecido também devem
logia que pode aumentar a eficiência dos diag-
ser observadas, porém podem ser ajustadas
nósticos e terapêutica (Tab. 1).
no equipamento ou software de interpretação
de imagens termográficas (Kunc et al., 2007).
Muitas das limitações apresentadas ao uso da Febre aftosa
TIV podem ser minimizadas com cuidados Dada a importância econômica da febre
no momento da avaliação, sendo necessária a aftosa, o diagnóstico, prevenção e controle
padronização de procedimentos. devem ter elevado nível de eficiência. Com o

100 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Tabela 1: Diferentes aplicações da termografia infravermelha em bovinos

Referências Conclusões
Alterações da temperatura termográfica associadas ao transporte
Schaefer et al. (1988)
e ao jejum – método eficaz na avaliação do bem-estar animal.

Alterações da temperatura termográfica da cauda para detecção


Eicher et al. (2006)
de dor crônica após o corte de cauda.

Stewart, Stafford, Dowling, Diminuição da temperatura termográfica ocular permite a detec-


Schaefer & Webster (2008); ção de dor aguda no momento da descorna – método eficaz na
Stewart et al. (2009) avaliação do bem-estar animal.

Alterações da temperatura termográfica ocular mediadas pela


Stewart et al. (2010) resposta do sistema nervoso simpático – método eficaz na
avaliação do bem-estar animal.

Modelo de indução de diarreia viral bovina para identificação pre-


coce de doença sistêmica. Observação de alterações da tempera-
Schaefer et al. (2004)
tura termográfica ocular até uma semana antes do aparecimento
de sinais clínicos; elevada sensibilidade de diagnóstico.

Alterações da temperatura termográfica do úbere permitem a


detecção de diversos graus de gravidade de infecção da glândula
Colak et al. (2008)
mamária; correlação com o teste California mastitis test (r = 0,92)
– método eficaz para monitorar e identificar mastites.

Modelo de indução de mastite por Escherichia coli para determi-


nar a eficácia da termografia na identificação de mastites clínicas.
Hovinen et al. (2008)
Observação de um aumento de 1 a 1,5 ºC da temperatura termo-
gráfica do úbere associado à presença de mastite clínica.

Alterações da temperatura termográfica do úbere permitem a


detecção de mastites subclínicas com uma capacidade predictiva
Polat et al. (2010) similar à do teste California mastitis test – método alternativo
perante impossibilidade de realização de culturas microbiológicas
(Se=95,6%; Sp=93,6%).

Alterações termográficas dos membros permitem a identificação


Rainwater-Lovett et al.,
de febre aftosa antes e após o aparecimento de sinais clínicos da
(2009)
doença. Método de triagem eficaz.

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2013).

Uso da termografia infravermelha na pecuária de precisão 101


intuito de contribuir com essa eficiência, estu- seis dias antes do aparecimento dos primeiros
dos adotaram a TIV como tecnologia auxiliar sinais clínicos.
nesse processo. Rainwater-Lovett et al. (2009) Já Schaefer et al. (2012) encontraram
recomendaram o uso da TIV como ferramen- uma eficiência de 93% e as temperaturas mé-
ta auxiliar no diagnóstico de rebanhos com dias das órbitas oculares foram 36,7ºC para
suspeita de febre aftosa, associando-a a outros animais positivos e 34,91ºC para os negati-
exames laboratoriais, tendo em vista que o vos. Os resultados foram obtidos a partir de
termograma conseguiu detectar incremento um sistema automatizado e não invasivo para
de temperatura do casco e no olho de animais o diagnóstico, utilizando a TIV, com a finali-
infectados, mesmo antes de aparecerem os si- dade de identificar animais no estágio inicial
nais clínicos, como as vesículas. da doença. O sistema foi instalado de maneira
Ainda apontam que o uso do equipamen- que as câmeras ficassem direcionadas para os
to pode contribuir para reduzir o trânsito de bebedouros, fotografando as faces laterais da
pessoas em fazendas onde há suspeita ou con- cabeça dos animais, sempre durante o acesso
firmação de surto, pois as imagens podem ser à água.
feitas e enviadas via rede sem fio para serem
analisadas longe do possível surto e auxiliarem Mastite
na tomada de decisões. Achados semelhantes
foram encontrados por Gloster et al. (2011) Um grande desafio para produtores de
com a ressalva de que a temperatura do casco leite é o controle da mastite, doença infec-
não é o melhor indicador, devido à influência ciosa que traz perdas econômicas significati-
que este sofre do solo que, por sua vez, muda vas para pecuaristas. Muitas vezes, a ausência
de temperatura em função da umidade e da do diagnóstico precoce é um fator limitante
temperatura do ambiente. O olho apresentou- e decisivo para o sucesso do tratamento.
se como melhor parte para monitorar a tem- Polat et al. (2010) estudaram a TIV com o
peratura superficial e indicar estado febril nos objetivo de utilizá-la para aumentar a efi-
animais. ciência do diagnóstico de mastite subclínica,
comparando-a com Contagem de Células
Complexo das doenças Somáticas (CCS) e California Mastitis Test
(CMT) e observaram uma correlação de r =
respiratórias dos bovinos 0,73 entre a temperatura superficial da glân-
Embora o complexo das doenças respira- dula mamária (TSG) e CCS e de r = 0,86
tórias dos bovinos seja uma patologia multi- da TSG e CMT. Os quartos mamários com
fatorial, um dos primeiros e principais sinais mastite subclínica apresentaram temperatu-
clínicos é a febre. Baseados nessa resposta, ra média de 35,80ºC para CCS maior que
Schaefer et al. (2007), ao testar a TIV como 400.000 células/mL e 33,45ºC para as va-
método auxiliar no diagnóstico de doenças cas saudáveis com CCS menor que 400.000
respiratórias, obtiveram eficiência de 71% células/mL.
em comparação com os 55% quando apenas Amostras de leite e da TSG foram ava-
o método clínico tradicional foi utilizado. O liadas simultaneamente pelo CMT e TIV
uso da TIV apresentou ainda a vantagem de em cada quarto mamário de 94 vacas de leite
identificar animais com temperaturas eleva- (n = 49 para raça Pardo-Suíça e n = 45 para
das em decorrência da doença entre quatro a raça Holandês). A média de dias em lactação

102 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


(DEL) e produção de leite foram de 93 ± 37 93,6% para a TIV e de 88,9% e 98,9% para o
dias e 16 ± 2,2 kg (média ± desvio padrão). CMT. Gharagozloo et al. (2003) encontraram
Houve forte correlação entre TSG e escore de sensibilidade de 84,1% para o CMT. Os resul-
CMT (r = 0,92). TSG média foi de 33,19°C, tados indicam que a TIV pode ser mais sensí-
34,08°C, 34,99°C e 36,15°C para quartos com vel, porém um pouco menos específica que o
escore de 0 CMT (n = 156), 1 (n = 116), 2 (n CMT no diagnóstico de mastite em vaca, fato
= 80) e 3 (n = 24), respectivamente. Essa as- que permite a esses autores concluírem que a
sociação foi descrita por um modelo linear de TIV apresentou sensibilidade para detectar
regressão: y = 0,94x + 33,17, R2 = 0,85, em que alterações na temperatura da pele causadas
y = TSG e x = escore de CMT. Já as mudanças pela mastite.
na temperatura retal (TR) não apresentaram
a mesma associação para o escore de CMT (y Identificação de animais
= 0,09x + 38,39, R2 = 0,07, em que y = TR e
x = média do escore de CMT). Concluiu-se
mais eficientes
que a TIV é sensível o suficiente para perceber O consumo alimentar residual (CAR)
as alterações no TSG em resposta a diferentes é a diferença entre ingestão de matéria seca
graus de severidade da infecção da glândula (IMS) real e IMS esperada com base no peso
mamária, como refletido pela contagem de corporal metabólico e na taxa de crescimento
CMT, o que sugere que possa ser utilizada (Koch et al., 1963). Portanto, o CAR quan-
como método não invasivo para o rastrea- tifica a variação em IMS que é independen-
mento de vacas com mastite. te das exigências de mantença e energia de
Já Hovinen et al. (2008) concluíram que crescimento. Animais classificados com fenó-
a maior eficiência está em identificar a mastite tipo CAR negativo ou baixo são aqueles que
clínica, pois, em seu trabalho, quando inocu- consomem menos do que o esperado com
laram lipolissacarídeos de Escherichia coli na base no peso corporal e no desempenho, en-
glândula mamária de vacas sadias, identifica- quanto animais classificados com CAR positi-
ram que o incremento na TSG somente ocor- vo ou alto são considerados menos eficientes.
reu quatro horas após a inoculação, associado A termorregulação é um fator relaciona-
a leves sinais sistêmicos, como o aumento da do à eficiência alimentar, pois está associada
temperatura retal. ao metabolismo energético e à produção de
Considerando os estudos com TIV para calor (Herd et al., 2004). A TIV foi utiliza-
diagnóstico de mastite em vacas, observa- da para medir a temperatura da superfície
se que os incrementos de temperatura en- do corpo do animal, em bovinos, na tentati-
tre glândulas saudáveis ou com mastite são va de identificar os animais mais eficientes
divergentes. Hovinen et al. (2008) encontra- (Schaefer et al., 2005).
ram um incremento de TSG entre 1ºC e 1,5 Schaefer et al. (2005) correlacionaram
ºC na superfície da glândula mamária de va- imagens termográficas com produção de calor
cas com mastite clínica quando comparadas em vacas, avaliando a temperatura do dorso
àquelas saudáveis. No estudo de Polat et al. dos animais em três momentos em um teste
(2010), a diferença foi de 2,3ºC maior para com duração de 84 dias. Seguindo a classifi-
mastite clínica. A sensibilidade e a especifi- cação de baixo, médio e alto CAR, a tempe-
cidade identificadas no estudo de Polat et al. ratura máxima da superfície dorsal foi signi-
(2010) foram, respectivamente, de 95,6% e ficativamente menor nas vacas de baixo CAR

Uso da termografia infravermelha na pecuária de precisão 103


em relação aos animais baias que exibiram casos
A TIV pode ser utilizada para
de alto CAR. Sugerindo de mortalidade obtive-
avaliação de animais em grupo,
que a TIV pode apresen- ram temperatura máxi-
particularmente em sistemas
tar utilidade na avaliação ma significativamente
de alojamento densamente
da eficiência de vacas em maior quando compara-
povoadas, tais como suínos,
lactação. da com as baias controle,
aves, confinamento de bovinos e
Huntington et al. indicando o uso da var-
criação de bezerros.
(2012) avaliaram o con- redura térmica de baias
sumo de matéria seca, como forma de identifi-
ganho médio diário (GMD) e eficiência cação precoce de potenciais surtos de doen-
alimentar (EA) em touros Angus, duran- ças (Friendship et al., 2009).
te 4 anos (n = 277, 60-81 touros por ano).
Imagens termográficas da área da costela Avaliação e condição de
esquerda foram registradas para cada touro.
O consumo alimentar residual variou entre
instalações (ambiência e
-2,17 a 3,07kg/d (desvio padrão = 0,55) e foi conforto)
positivamente correlacionado (P < 0,05) com Com a importância que o bem-estar ani-
IMS (r = 0,49) e negativamente correlaciona- mal tem assumido nos mais diversos campos
do com EA (r = -0,50), mas não foi correlacio- da medicina veterinária, produção animal e
nado com as medidas de TIV. também nas pesquisas científicas da área, tor-
nou-se imprescindível a utilização de técnicas
TIV em grupos de e equipamentos não invasivos que levam em
animais consideração o conforto animal, destacando,
assim, o uso da TIV.
A TIV pode ser utilizada para avaliação A manutenção da temperatura corporal é
de animais em grupo, particularmente em sis- determinada pelo equilíbrio entre o ganho e a
temas de alojamento densamente povoadas, perda de calor. Os principais parâmetros para
tais como suínos, aves, confinamento de bo- avaliação da tolerância e adaptação dos animais
vinos e criação de bezerros. ao ambiente expostos são a frequência respira-
Uma câmera térmica portátil foi usada tória, temperatura retal e temperatura superfi-
para avaliar grupos de suínos confinados (n cial (Santos et al., 2005).
= 20 /baia), em um surto de Actinobacillus Dessa forma, à medida que a temperatu-
pleuropneumoniae. A varredura térmica foi ra do ambiente se eleva,
obtida de todas as baias a eficiência da perda de
em que pelo menos um Notou-se que as baias que calor sensível diminui
caso de mortalidade foi exibiram casos de mortalidade (radiação, condução e
registado e a temperatu- obtiveram temperatura máxima convecção). Com isso, o
ra máxima do grupo de significativamente maior quando organismo animal, por
animais foi computada e comparada com as baias meio de mecanismos
comparada com outras controle, indicando o uso da evaporativos, a exem-
três baias sem mortalida- varredura térmica de baias como plo da sudorese e da
de, escolhidas aleatoria- forma de identificação precoce de frequência respiratória,
mente. Notou-se que as potenciais surtos de doenças. aumenta a dissipação

104 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


de calor insensível. A dissipação de calor expostos ao sol. Os resultados obtidos a
insensível é influenciada pela umidade, de partir da utilização da câmera termográfica
forma que, quanto maior a umidade em permitiram aos autores observarem que a
temperaturas elevadas, maior é a dificul- estrutura com telhado de fibrocimento pin-
dade que o animal enfrenta para dissipar o tado de branco foi a que apresentou meno-
calor. res valores de temperatura de superfície dos
Assim, a temperatura do ar e a umi- abrigos expostos ao sol.
dade são consideradas como os principais Já Barnabé et al. (2015) avaliaram a
elementos climáticos responsáveis pelo es- eficiência térmica de materiais de cober-
tresse por calor. Caso o animal não consiga tura em abrigos individuais durante a fase
dissipar o calor excessivo vindo do ambien- de aleitamento de bezerras Girolando por
te a partir de suas estratégias fisiológicas, a meio de termografia. Foram utilizados três
temperatura retal se eleva acima dos valores tipos de materiais de cobertura, sendo telha
normais específicos para cada espécie ou de fibrocimento, telha reciclada e cober-
categoria animal, desenvolvendo-se então o tura de palha. Os autores concluíram que
estresse calórico. Por consequência, tem-se os abrigos cobertos com telha reciclada e
redução no consumo de alimentos e perda palha tiveram redução de 18,7 e 14,6% na
de produtividade, prejuízos que acometem carga térmica radiante, respectivamente. A
principalmente sistemas de produção em temperatura da superfície inferior da cober-
regiões tropicais. tura dos abrigos foi menor para telha reci-
Os fatores ambientais, nutricionais e clada (42,0°C) e palha (38,7°C) em relação
de manejo estão intrinsecamente ligados ao a telha de fibrocimento (46,8°C). As bezer-
processo produtivo e devem ser levados em ras criadas nesses abrigos permaneceram
consideração quando se busca uma maior menos tempo expostas ao sol; porém, os
eficiência na exploração pecuária. Nesse animais criados em todos os sistemas ele-
contexto, a TIV surge como alternativa para varam a frequência respiratória para man-
avaliar o impacto dos fatores ambientais na ter a homeotermia. Além disso, os autores
produção animal, dando suporte a decisões, observaram que a temperatura média da
promovendo a saúde e o bem-estar animal. superfície do pelame (TSP) da bezerra ex-
Fiorelli et al. (2012) estudaram a efi- posta à sombra foi de 5,6°C inferior à TSP
ciência térmica de diferentes coberturas da bezerra em exposição ao sol.
(telha de fibrocimento pintada de branco, Em sistemas intensivos de produção
telha de fibrocimento sem pintura e telha de de leite em condições tropicais, a ambiên-
fibrocimento com tela de sombreamento) cia adequada é um dos principais desafios.
de bezerreiros individuais expostos ao sol Nessas condições, o uso de câmeras termo-
e à sombra. Utilizaram a TIV e índices de gráficas podem ser uma importante ferra-
conforto térmico como parâmetros de ava- menta para diagnóstico de condições em
liação e concluíram que o processamento sistemas do tipo free stall e compost barn. Na
de imagens termográficas mostrou-se uma Figura 2, é possível observar o resfriamento
ferramenta facilitadora da identificação de conferido pelo sistema de resfriamento do
diferenças significativas de temperatura tipo ventilação cruzada em sistema do tipo
de superfície de cobertura do bezerreiro free stall e, na Figura 3, pode ser observado
exposto à sombra em comparação àqueles o aumento de temperatura causado pelo re-

Uso da termografia infravermelha na pecuária de precisão 105


Figura 2. (A) Sistema free stall com ventilação cruzada. (B) Termograma mostrando a baixa tempera-
tura conferida pelo sistema de ventilação cruzada (região de coloração mais escura – roxa na direita
da foto).

Figura 3. (A) Sistema do tipo compost barn. (B) Termograma do processo de revirar da cama, com trator
equipado com escarificador de solo, evidenciando o calor gerado durante esse processo (região de
coloração mais clara).

virar da cama em sistema da adaptabilidade das


tipo compost barn. A TIV é uma alternativa precisa diferentes espécies e ra-
A TIV é uma alterna- para ajudar na compreensão ças aos mais variados
tiva precisa para ajudar na da termorregulação em razão sistemas de produção
compreensão da termor- das mudanças na temperatura utilizados.
regulação em razão das superficial e do impacto das
mudanças na temperatura condições ambientais sobre o Avaliação de
superficial e do impacto bem-estar animal, bem como alimentos
das condições ambientais na avaliação da adaptabilidade (silagem)
sobre o bem-estar animal, das diferentes espécies e raças
aos mais variados sistemas de Recentemente, o
bem como na avaliação emprego da TIV tem se
produção utilizados.
106 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015
expandido para avaliação Addah et. al. (2012) tam-
A TIV apresenta potencial para
da qualidade de alimento, bém concluíram que as
ser aplicada no diagnóstico
com destaque para os en- imagens termográficas
de doenças, na identificação
silados. Quando ocorre a oferecem perspectivas
de animais mais eficientes,
abertura dos silos, o mate- como método prático
na avaliação de questões
rial que entra em contato para avaliar a qualidade
relacionadas a ambiência e
com o ar sofre um proces- de silagens; porém, os au-
bem-estar animal, permitindo a
so de degradação por mi- tores ressaltaram a neces-
compreensão da variabilidade
cro-organismos aeróbios, sidade de mais estudos
animal e espacial.
como fungos, leveduras e para determinar a capa-
bactérias. Esse processo cidade de avaliação nos
de degradação gera calor. Assim, o aumen- diversos tipos de silagens.
to da temperatura pode ser um indicativo
de perda de energia e nutrientes, bem como Considerações finais
de formação de compostos tóxicos, como as
micotoxinas. A TIV apresenta potencial para ser apli-
O monitoramento da temperatura na cada no diagnóstico de doenças, na identifi-
superfície de alimentos parece ser uma for- cação de animais mais eficientes, na avaliação
ma rápida e segura na predição da qualidade de questões relacionadas a ambiência e bem
nutricional e microbiológica de muitos pro- -estar animal, permitindo a compreensão da
dutos (Novinski et al., 2013). Junges (2010) variabilidade animal e espacial. Dessa forma,
observou correlação entre a temperatura da essa tecnologia pode ser utilizada como fer-
superfície e a temperatura interna da massa ramenta de auxílio na tomada de decisão que
de forragem no silo de r = 0,55 (P<0,001), confira melhoria de processos e aumento de
demonstrando que a TIV pode ser usada eficiência nos sistemas de produção de leite.
como indicador de pontos de crescimento No entanto, existe a necessidade do
microbiano. No entanto, ressaltou que há ne- desenvolvimento de mais pesquisas para
cessidade de se ampliar o controle de outras estabelecer os parâmetros e referências de
variáveis. temperaturas das várias espécies animais em
Abdelhadi et al. (2012) avaliaram a lo- diferentes condições biológicas e ambientais,
calização de pontos de máximo e de míni- para que a tecnologia possa ser utilizada com
mo aquecimento em silos de milho do tipo maior precisão e eficiência na prática veteri-
bunker. Não houve correlação da temperatura nária ou zootécnica.
com os parâmetros de qualidade, como maté-
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Uso da termografia infravermelha na pecuária de precisão 107


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Uso da termografia infravermelha na pecuária de precisão 109


Cria e
recria de
precisão
bigstockphoto.com

Rafael Alves de Azevedo , Sandra Gesteira Coelho - CRMV/MG-2335, Bruna Figueiredo Silper - CRMV-MG
1 2 3

11574, Fernanda Samarini Machado4 - CRMV-MG 11138, Mariana Magalhães Campos5 - CRMV-MG 8402
1
Doutorando Zootecnia UFMG - EV.UFMG
2
Doutor Ciência Animal - EV.UFMG
3
Doutoranda UBC Canadá - UBC Canadá
4
Doutor Zootecnia UFMG - Embrapa Gado de leite
5
Doutor Zootecnia UFMG - Embrapa Gado de leite

Introdução da forma correta de utilização e interpretação


dos resultados e que haja qualificação da mão
A utilização de ferramentas que permi- de obra para trabalhar nesses novos sistemas
tam a avaliação do colostro, a transferência de produção.
de imunidade passiva aos bezerros, o teor de
sólidos totais da dieta líquida, bem como que Avaliação da qualidade do
aumentem a agilidade do processo de aleita-
mento dos bezerros e observação de cio das colostro
novilhas, podem auxiliar na gestão na fase de O colostro é um alimento de grande im-
cria e recria e refletir na melhor saúde e pro- portância para nutrição dos bezerros, além de
dutividade do rebanho. garantir a transferência de imunidade passiva
Entretanto, para que os resultados com a para os mesmos, uma vez que estes ainda não
utilização de equipamentos e tecnologias de são capazes de produzir grande parte das suas
precisão durante a fase de cria e recria sejam defesas imunológicas, sendo dependentes da
satisfatórios, é importante o conhecimento imunidade passiva que é adquirida nas pri-

110 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


meiras horas de vida através Radial e o Imunoensaio
O colostrômetro (Fig.
da ingestão de colostro. Turbidimétrico, porém elas
1) permite estimar a
É importante o podem ser inviáveis pelo
qualidade do colostro com
fornecimento de colostro custo e pela demora na ob-
base na relação linear
de qualidade, com concen- tenção dos resultados. Uma
entre a concentração de
trações de imunoglobuli- opção simples é a avaliação
imunoglobulinas e a sua
nas maiores do que 51mg/ do colostro pela utilização
densidade, sendo a leitura
ml, reduzindo-se o risco do colostrômetro.
realizada nas faixas: boa
de falha na transferência O colostrômetro (Fig.
qualidade (cor verde;
de imunidade passiva e de 1) permite estimar a quali-
acima de 51mg/ml), média
altas taxas de morbidade, dade do colostro com base
qualidade (cor amarela;
mortalidade e baixo desem- na relação linear entre a con-
21-50mg/ml) e baixa
penho nos primeiros meses centração de imunoglobuli-
qualidade (cor vermelha;
de vida do bezerro, além de abaixo de 20mg/ml). nas e a sua densidade, sendo
atrasos em todas as etapas a leitura realizada nas faixas:
do processo de criação, pois boa qualidade (cor verde;
os animais que se recuperam das doenças, in- acima de 51mg/ml), média qualidade (cor
variavelmente, irão apresentar desempenho amarela; 21-50mg/ml) e baixa qualidade (cor
produtivo inferior quando mal colostrados. vermelha; abaixo de 20mg/ml).
A concentração de imunoglobulinas en- Mesmo que a avaliação da qualidade do
contrada no colostro possui variação e pode colostro pelo colostrômetro possa levar a im-
ser influenciada pela raça, número de partos, precisões, pois a temperatura e o teor de sóli-
duração do período dos totais do colostro
seco e tempo de coleta podem afetar a sua
após o parto da vaca. avaliação, ele não dei-
Sendo assim, méto- xa de ser uma ferra-
dos de avaliação da menta rápida, eficien-
qualidade do colostro te e de uso na fazenda.
antes do fornecimen- A faixa de tempe-
to aos bezerros, ou ratura adequada para
do armazenamento a avaliação do colos-
do produto para pos- tro é de 20 a 25ºC.
terior fornecimento, Caso o colostro seja
são de grande impor- avaliado em tempera-
tância para garantir tura abaixo dessa fai-
correta colostragem xa, a leitura será supe-
dos animais. restimada e o colostro
Para a quantifica- pode ser erroneamen-
ção da concentração te considerado de alta
de imunoglobulinas qualidade. O mesmo
no colostro, existem pode ocorrer quando
técnicas laboratoriais, Figura 1. Colostrômetro. a temperatura estiver
como a Imunodifusão Foto: Rafael Alves de Azevedo. acima dessa faixa, po-

Cria e recria de precisão 111


rém a leitura será subestima-
Além do colostrômetro, Avaliação da
da, e colostro de boa quali-
dade pode ser considerado
o refratômetro de BRIX transferência
(Fig. 2) é outra ferramenta de imunidade
de baixa qualidade. Dessa
que pode ser utilizada
forma, deve-se então proce- para medir a qualidade do passiva aos
der a correção da seguinte
forma: abaixo de 22ºC de-
colostro bezerros
ve-se subtrair 1mg/ml para O sucesso na transferên-
cada grau abaixo de 22ºC, e aumentar 1mg/ cia de imunidade passiva aos bezerros depende
ml para cada grau acima de 22ºC. de fatores como concentração de imunoglobu-
Além do colostrômetro, o refratômetro linas no colostro, volume ingerido, intervalo de
de BRIX (Fig. 2) é outra ferramenta que pode tempo entre o nascimento e a ingestão, quali-
ser utilizada para medir a qualidade do colos- dade sanitária do colostro e da capacidade de
tro, sendo independente da temperatura para absorção. Sendo assim, a avaliação da eficiência
a avaliação. Esse é um método barato, rápido de absorção de imunoglobulinas pelos recém-
e que requer o mínimo de equipamento e nascidos, pela amostra de sangue, é de extrema
treinamento, podendo ser importância para avaliar e garantir a colostra-
utilizado na fazenda para gem na transferência de imu-
...a avaliação da nidade passiva.
avaliação da qualidade de
eficiência de absorção de O refratômetro utiliza-
colostro e para a tomada de
imunoglobulinas pelos do para avaliações de proteí-
decisão de fornecimento
recém-nascidos, pela na total e o refratômetro de
ou armazenamento em um
amostra de sangue, é de BRIX, com escala em g/dl,
banco de colostro.
extrema importância irão medir a concentração
Na avaliação do colos-
para avaliar e garantir a de proteína total presente no
tro pelo refratômetro de
colostragem na transferência sangue e podem ser utilizados
BRIX, uma gota do colos-
de imunidade passiva. para avaliar a transferência de
tro deve ser colocada no imunidade passiva, embora o
prisma do refratômetro teste laboratorial de proteína
para ser realizada a leitura da amostra. É sérica seja mais utilizado e mais eficaz.
importante que o refratômetro tenha sido A idade em que a avaliação é feita pode
previamente calibrado com água destilada. afetar os resultados. Porém, os recém-nascidos
Quando a amostra apresentar mais do que apresentam boa correlação entre a proteína to-
21% de BRIX, o colostro pode ser conside- tal sérica e as imunoglobulinas séricas, pois a
rado como de boa qualidade, e aquele que maior parte de proteína consumida no colostro
apresentar leitura inferior a 21% de BRIX será de imunoglobulinas. Por isso, a recomen-
não deve ser fornecido aos bezerros. Aquele dação é realizar as avaliações em até 48 horas
que apresentar mais do que 30% de BRIX é após o consumo de colostro.
considerado de excelente qualidade. Após a A avaliação é relativamente simples, mas é
avaliação, é importante realizar a limpeza do um pouco mais trabalhosa do que para avaliar
prisma, com água destilada e papel macio, a qualidade do colostro (Fig. 3). Uma amostra
para evitar que eventuais resíduos compro- de sangue deve ser coletada com tubo sem an-
metam a próxima leitura. ticoagulante, para obtenção do soro, dentro das

112 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


48 horas após a ingestão do criteriosa, já que apresenta
Em bezerros bem
colostro. A amostra coletada variações nos teores de pro-
colostrados, os resultados
pode ficar descansando para teína e gordura, implican-
no refratômetro de BRIX
dessorar, ou ser centrifugada. do variação nos nutrientes
devem estar acima de 8,4%.
Em seguida, uma alíquota da dieta líquida fornecida e
do soro, à temperatura am- consequente variação no de-
biente, deverá ser colocada sobre o prisma do sempenho dos bezerros. Além de ainda poder
equipamento, o qual será colocado contra a luz conter bactérias, toxinas e resíduos de drogas
para a observação da escala dentro do equipa- usadas para o tratamento da mastite e de outras
mento, indicando o valor na linha que divide a enfermidades.
área clara e a escura. O teor de sólidos totais do leite de des-
A interpretação dos resultados no refratô- carte fornecido aos bezerros pode ser avaliado
metro para avaliação de proteína total deve se- pelo refratômetro de BRIX, porém os resulta-
guir os critérios: > 5,5g/dl = sucesso na trans- dos são subestimados em dois pontos percen-
ferência de imunidade passiva, 5,0 a 5,4g/dl = tuais. Por exemplo, se o refratômetro mostrar
transferência de imunidade passiva moderada 10% de sólidos totais, o resultado verdadeiro
e < 5,0 g/dl = falha na transferência de imuni- será 12%, devendo ser feita a correção da leitu-
dade passiva. Valores acima de 8,0g/dl podem ra, somando-se 2% ao valor obtido.
indicar que o animal está desidratado ou o Para melhorar a densidade de nutrientes
equipamento possa não estar calibrado. do leite de descarte, é interessante a avalia-
Para bezerros bem colostrados, os resul- ção do teor de sólidos com o refratômetro de
tados no refratômetro de BRIX devem estar BRIX, e uma alternativa para corrigir o teor de
acima de 8,4%. Uma vantagem do uso do re- sólidos é a adição de sucedâneo não diluído an-
fratômetro de BRIX é que um único aparelho tes do fornecimento aos bezerros.
pode ser utilizado na propriedade para avaliar a
qualidade do colostro, monitorar a transferên- Alimentadores
cia de imunidade passiva aos animais e avaliar
os teores de sólidos totais da dieta líquida.
automáticos de dieta
líquida
Correção dos teores de A criação de bezerros leiteiros requer inten-
sólidos totais de leite de so e árduo trabalho para alimentá-los, alojá-los
corretamente, lidar com doenças e controlar a
descarte alimentação. Todas essas tarefas tornam-se um
O leite de descarte compreende o leite não grande desafio quando o número de bezerros
comercializável em uma propriedade leiteira. aumenta, levando algumas fazendas a conside-
Pode ser composto por excesso de colostro, co- rar a criação de bezerros em grupos em vez de
lostro de baixa qualidade, leite de transição ou criação individual.
ainda proveniente de vacas com mastite ou em Nos sistemas coletivos de criação, tecno-
tratamento com drogas antimicrobianas. logias, como os alimentadores automatizados
O uso do leite de descarte ameniza os (Fig. 4), vêm se tornando uma alternativa para
prejuízos causados pelo descarte do leite de ajudar produtores e técnicos nas decisões de
animais com mastite, mas o seu fornecimen- planejamento para racionalizar o fornecimento
to aos bezerros deve ser realizado de forma de dietas líquidas, buscando facilitar o manejo

Cria e recria de precisão 113


durante a fase de cria, sem perder a eficiência de automáticos é permitir que o tempo fixo desti-
criação, uma vez que os recursos especializados, nado para fornecimento da dieta líquida aos be-
mão de obra e o tempo disponível estão cada vez zerros seja mais flexível, já que inúmeros outros
mais limitados. trabalhos e obrigações do dia a dia da fazenda es-
A rotina em uma propriedade leiteira é im- tão ocorrendo ao mesmo tempo. Com o uso de
portante, e um dos objetivos dos alimentadores alimentadores automáticos, os bezerros podem

Figura 2. Modelo de refratômetro do tipo BRIX óptico (a) e digital (b).


Fotos: Rafael Alves de Azevedo.

Figura 3. Utilização de refratô-


metro para avaliação de prote-
ína total sérica.
Fotos: Diogo Mello Vianna Goulart.

114 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


obter a dieta líquida em qual- a eficiência alimentar e redu-
Alguns estudos indicam que
quer momento do dia e por zem a taxa de mortalidade.
o aumento da frequência
vontade própria, dependendo Essas respostas são alcança-
de alimentação de duas
dos objetivos traçados para das pelo fornecimento mais
vezes para três ou quatro
cada sistema de aleitamento. constante de nutrientes,
ao dia aumenta o ganho de
Dessa forma, os ali- melhorando o uso da pro-
peso corporal, a ingestão de
mentadores automáticos se teína e energia fornecidas
concentrados, a eficiência
tornam alternativa para con- aos bezerros. Isso parece ser
alimentar e reduzem a taxa
seguir atender planos nutri- particularmente importante
de mortalidade.
cionais adequados. Por outro quando os bezerros recebem
lado, a possibilidade de forne- menos de 680g de sólidos/
cer a dieta líquida com maior frequência, de for- dia. Nessas condições, o longo intervalo entre
ma mais próxima ao que ocorre no ambiente na- as alimentações provoca a mobilização de re-
tural do bezerro criado com a vaca, pode trazer servas corporais durante noites e madrugadas
benefícios importantes aos bezerros, reduzindo frias, para manter a temperatura corporal.
estresse, melhorando o desempenho e a criação Outro benefício possibilitado pelos ali-
de animais mais saudáveis. mentadores automáticos é que alguns equi-
Alguns estudos indicam que o aumento pamentos preparam o sucedâneo, removendo
da frequência de alimentação de duas vezes erros humanos associados a esse processo,
para três ou quatro ao dia aumenta o ganho além de permitir que os funcionários desem-
de peso corporal, a ingestão de concentrados, penhem atividade de gestão e não apenas de
tratadores dos animais.
Para o sucesso no uso dos alimentado-
res automáticos, é indicado que na primeira
semana de vida os animais sejam criados in-
dividualmente, para que os cuidados iniciais
com a colostragem e cura do umbigo sejam
acompanhados de perto. Assim, espera-se
que os animais entrem no sistema automático
com forte reflexo de sucção e estejam livres de
doenças. Outras recomendações são: no dia
da inclusão dos bezerros no grupo não deve
ser fornecido o leite pela manhã, para que eles
cheguem ao novo alojamento ávidos pelo lei-
te; fornecer no mínimo 1,2L de leite a cada
refeição, uma vez que refeições com peque-
no volume desencorajam os bezerros; evitar
diferença de idade entre bezerros maior que
três semanas; e fornecer pelo menos quatro
refeições com o leite na temperatura entre 38
Figura 4. Sistema automático de fornecimento de
a 40°C.
dieta líquido a bezerros. Existem diferentes modelos de alimen-
Foto: Bruna Figueiredo Silper. tadores automáticos disponíveis no mercado,

Cria e recria de precisão 115


mas geralmente funcionam com o reconhe- de animais que estão apresentando desenvol-
cimento eletrônico dos animais, seguido vimento diferente dos demais.
pela liberação da dieta líquida nos bicos. Os dados de consumo individual podem
Normalmente a aprendizagem dos bezer- auxiliar na identificação de animais doentes,
ros é rápida e ocorre após as duas primeiras uma vez que o comportamento alimentar e o
refeições auxiliadas pelos funcionários. É consumo de alimentos são modificados antes
importante paciência du- do aparecimento dos sinais
rante o aprendizado e, caso clínicos das doenças.
Os dados de consumo
seja necessário, os bezerros Apesar de vantagens
individual podem auxiliar
devem ser acompanhados como possibilidade de redu-
na identificação de animais
por mais algumas refeições ção de mão de obra, forneci-
doentes, uma vez que o
até conseguirem aprender mento da dieta líquida com
comportamento alimentar
corretamente a se alimen- e o consumo de alimentos maior frequência e mais pró-
tar sozinhos nesse sistema. são modificados antes do xima ao que ocorre na natu-
Muitos produtores fi- aparecimento dos sinais reza, é especialmente im-
cam receosos com casos clínicos das doenças. portante que a mão de obra
de mamadas cruzadas em que irá utilizar esse sistema
sistemas coletivos, porém seja bem treinada, pois, em
bezerros com acesso ao alimentador au- sistemas coletivos de bezerros, independente-
tomático que recebem volume adequado mente do número de animais, a identificação
de leite ou sucedâneo não perdem tempo de diarreias e outras doenças podem ter diag-
mamando uns nos outros, provavelmente nóstico tardio. A inspeção visual dos animais
por ter acesso ilimitado ao bico do equi- não deve ser eliminada. Esse acompanhamen-
pamento e a maiores quantidades de dieta to diário, no mínimo duas vezes ao dia, é mui-
líquida do que em sistemas convencionais to importante para garantir o sucesso na fase
de aleitamento. de cria. É importante lembrar que bezerros re-
Além de facilitar o fornecimento da querem muita atenção e aqueles que apresen-
dieta líquida, os alimentadores também po- tam quadros de diarreia devem ser removidos
dem fornecer relatórios importantes para o do grupo e tratados imediatamente.
acompanhamento dos bezerros na fase de A uniformidade dos lotes é importante,
cria, sendo fornecidas informações impor- pois bezerros mais jovens e mais fracos po-
tantes, tais como: hora e a frequência de dem ser prejudicados dentro de lotes hete-
visita de cada animal, peso corporal, entre rogêneos. Algumas empresas disponibilizam
outras. Assim, essas informações podem válvulas contra roubo de dieta, impedindo
servir para rápida identificação de animais que bezerros mais fortes consigam consumir a
que estão apresentando mudanças de com- dieta de outros animais. Além disso, é impor-
portamento, podendo ser tomadas medidas tante que os bezerros tenham acesso a água
de acompanhamento dos animais, como, por limpa e fresca e boas condições de alojamento.
exemplo, a realização de exame clínico do O controle do alimentador também é im-
animal. Esse controle ágil com informações portante, devendo ser monitorado para avaliar
constantes fornecidas pelo sistema pode au- se a quantidade de dieta líquida será suficiente
xiliar a tomada de decisões, sendo que alguns para alimentar os animais durante 24 horas, se
relatórios facilitam o serviço e fornecem listas o processo de mistura está adequado, se a má-

116 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


quina está fornecendo alguma mensagem de Dispositivos para
erro, se a limpeza automática está ocorrendo
de forma eficiente, se alguma parte do equi- detecção de cio e manejo
pamento precisa ser substituída. Dependendo reprodutivo
do equipamento, após cada visita, o sistema é
A recria de novilhas acima de 12 meses
lavado automaticamente.
de idade é um período de menores desafios
A redução gradual de dieta líquida duran-
em comparação ao primeiro ano de vida. O
te o desaleitamento dos bezerros vem sendo
maior deles é, provavelmente, a inseminação
cada vez mais indicada para estimular o con-
artificial – e concepção – em idade compa-
sumo de dieta sólida e para assegurar transi-
tível com a meta de idade ao primeiro parto
ção tranquila entre as dietas. Os alimentado-
de cada rebanho. O cumprimento da meta de
res automáticos podem ser programados para
alimentar apenas duas ou quatro vezes por dia idade ao primeiro parto é importante para a
determinados animais, em quantidades de redução do tempo de vida não produtiva, ou
dieta líquida determinadas, facilitando o ma- aumento da vida produtiva no rebanho, além
nejo a ser adotado durante o desaleitamento. de influenciar a produção de leite na primeira
Os alimentadores de leite automáticos lactação. Vacas da raça Holandês com primei-
podem ser muito efetivos na alimentação de ro parto entre 23 e 24,5 meses e peso médio
bezerros e, mesmo que o investimento no sis- de 603kg apresentaram melhor desempenho
tema seja relativamente alto, ele pode reduzir produtivo e reprodutivo em relação a animais
os custos, principalmente em relação à mão com primeiro parto abaixo ou acima dessa fai-
de obra, em comparação com a alimentação xa etária.
individualizada em baldes ou mamadeiras. É A idade ao primeiro parto é relacionada
possível economizar algumas horas de traba- à taxa de ganho de peso, idade à puberdade e
lhos diários utilizados para fornecimento da percentual do peso adulto para início do pro-
dieta, limpeza de baldes e mamadeiras, po- grama reprodutivo. Admitindo-se que as no-
dendo esse tempo ser utilizado para maior vilhas atinjam 65% do peso adulto aos 12 me-
observação dos animais e manutenção do sis- ses, o primeiro parto aos 24 meses de idade
tema de anotações atualizado. seria possível após dois ou três ciclos estrais.
O uso dos alimentadores automáticos Nesse ponto, é importante obter altas taxas de
traz algumas vantagens, mas é importante serviço e concepção, dois fatores que podem
salientar que a qualidade da dieta líquida que ser melhorados com uso de tecnologias de
está sendo fornecida e todo o ambiente em precisão para detecção de cio. As tecnologias
que os animais estão sendo criados devem existentes para manejo reprodutivo são a men-
ser acompanhados de perto, suração de concentração de
seguindo o plano alimen- A redução gradual de progesterona no leite (nesse
tar traçado para cada pro- dieta líquida durante o caso para vacas em lacta-
priedade. A quantidade, a desaleitamento dos bezerros ção), comportamento (con-
composição nutricional e a vem sendo cada vez mais tagem de montas e aceitação
temperatura da dieta líquida indicada para estimular o de montas), mensuração de
devem ser disponibilizadas consumo de dieta sólida e vocalizações, temperatura
de forma correta e acompa- para assegurar transição corporal e monitoramento
nhadas diariamente. tranquila entre as dietas. de atividade física por meio

Cria e recria de precisão 117


de dispositivos, os quais têm comparação ao período ba-
Pedômetros são colocados
sido os mais utilizados. sal. Há grande variação nes-
no membro anterior
Há diversos tipos de ses números, mas a magnitu-
ou posterior (Fig. 5), e
dispositivos desenvolvidos de do aumento da atividade
normalmente fornecem
para monitorar atividade física durante o cio confere
dados de atividade em
física, os quais utilizam aos dispositivos de monito-
percentual sobre o período
comparações com índices ramento de atividade a capa-
basal, em geral composto
basais do próprio animal cidade de detectar a maioria
pela atividade média da
para gerar alertas. Os dis- dos episódios, resultando
semana anterior a cada dia.
positivos mais comuns são: em maior taxa de serviço
pedômetros com sensores quando comparado a de-
que possibilitam a contagem do número de tecção de cio visual com base nos comporta-
passos por unidade de tempo, acelerômetros mentos característicos, como aceitar montas,
embarcados em pedômetros ou colares, que montar, e cheirar a urina e a região perianal de
mensuram a aceleração e direção do movi- outros animais.
mento, e sensores de ruminação colocados As taxas de detecção de cio por monito-
em colares, que mensuram o tempo de rumi- res de atividade são superiores àquelas obti-
nação. Pedômetros são colocados no membro das com observação visual, mas pesquisas de-
anterior ou posterior (Fig. 5), e normalmente monstraram que a combinação de monitores
fornecem dados de atividade em percentual com observação visual duas ou três vezes ao
sobre o período basal, em geral composto pela dia é a que aprese nta o melhor resultado. A
atividade média da semana anterior a cada precisão (cios detectados corretamente den-
dia. Os dispositivos (Fig. 5) com acelerôme- tre todos os episódios detectados) dos dispo-
tro geralmente são usados na forma de colar sitivos de atividade observada para novilhas
ou no membro posterior; assim conseguem de 12 a 15 meses de idade foi de aproximada-
também detectar a posição do animal (deita- mente 84 a 98%, utilizando-se dois tipos de
do ou de pé), o que em geral não é possível monitores. Falsos positivos podem ser causa-
quando o dispositivo é colocado no membro dos por outros fatores que induzam aumento
anterior. Alguns exemplos de dispositivos são: de atividade física, como presença de outros
IceTag e IceQube (IceRobotics); SmartDairy animais em cio e mudança de lote. A observa-
Activity (Boumatic); De Laval Activity Meter ção visual, a consideração do status reproduti-
System (DeLaval); Heatime vo do animal (data do último
(SCR Engineers); AfiAct II As taxas de detecção de cio cio, diagnóstico de gestação)
(Afimilk). A Figura 6 mos- por monitores de atividade e a avaliação crítica do inse-
tra o gráfico de atividade são superiores àquelas minador são essenciais para
de um animal gerado pelo obtidas com observação se evitar a inseminação de
sistema Heatime (SCR visual, mas pesquisas animais detectados erronea-
Engineers). demonstraram que a mente (falsos positivos).
Novilhas em cio apre- combinação de monitores Uma das vantagens da
sentam número de passos com observação visual detecção de cio com tecnolo-
aproximadamente 290% duas ou três vezes ao dia é gias de precisão é a informa-
maior e passam 6 horas a que apresenta o melhor ção do momento de início do
a mais de pé por dia, em resultado. cio, a qual não pode ser deter-

118 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


te para maior chance
de concepção. Dessa
forma, animais em
cio detectados pela
manhã devem ser
inseminados à tarde,
e aqueles em cio du-
rante a tarde e à noi-
te devem ser insemi-
nados pela manhã.
O conhecimento da
hora de início do cio
permite prever com
relativa precisão o
Figura 5. Monitores de atividade física: Icetag (IceRobotics) – esquerda, e colar momento da ovula-
Heatime (SCR Engineers) – direita. Foto: Bruna Figueiredo Silper.
ção, de modo que a
inseminação artifi-
cial pode ser reali-
zada no horário de
maior probabilidade
de concepção.
A aquisição de
dispositivos de de-
tecção de cio tem
resultados positivos
na taxa de serviço e
de prenhes dos reba-
nhos, mas é preciso
Figura 6. Imagem da tela do monitor Heatime (SCR Engineers), demonstrando considerar o custo
um episódio de alta atividade. A curva em preto indica a atividade do animal
de implementação
mensurada pelo acelerômetro, e a curva em vermelho representa o índice de
atividade corrigido para a atividade da semana anterior. As duas linhas hori- e retorno do inves-
zontais em vermelho indicam pontos de corte para atividade alta (indicativo de timento. Os bene-
cio) ou baixa (sugestivo de doença), de acordo com o índice. fícios são, muito
minada por observação visual nem por outros provavelmente, va-
métodos, como marcadores na base da cauda. riáveis, de acordo com sistemas e fazendas. A
Os dispositivos de detecção de cio geram aler- aplicabilidade de tecnologias de precisão para
detecção de cio em rebanhos mestiços ou a
tas sempre que a atividade física do animal
pasto ainda precisa ser avaliada, uma vez que
ultrapassa um valor pré-determinado, acima
as pesquisas mencionadas neste documento
do qual se acredita que o animal está em cio. foram realizadas com gado Holandês de alta
Pesquisas demonstraram que a inseminação produção, em sistemas free stall. Além disso,
deve ser realizada 12 horas após o momento a maioria das pesquisas é realizada com vacas
em que a atividade física ultrapassa esse limi- em lactação, uma vez que novilhas apresen-

Cria e recria de precisão 119


tam, em geral, melhor desempenho reprodu- 9. QUIGLEY, J.D. et al. Evaluation of the Brix refractometer
to estimate immunoglobulin G concentration in bovine
tivo. Muitos rebanhos apresentam adequadas colostrum. Journal of Dairy Science, v. 84, p. 2059-
taxas de serviço e concepção sem necessidade 2065, 2013.
de tais tecnologias. Nestes, muitas vezes, o de- 10. QUIGLEY, J. Using the Colostrometer to
Measure Colostrum Quality. Calf notes #22. 1998.
safio para atingir adequada idade ao primeiro QUIGLEY, J. Using a refractometer. Calf notes #39. 1998
parto é a taxa de ganho de peso durante cria e 11. McGUIRK, S.M. and COLLINS M. Managing the pro-
recria, de modo que, aos 12 meses, as novilhas duction, storage and delivery of colostrum. Veterinarian
Clinical North American Food Animal Practice, v.
apresentem peso e tamanho para serem inse- 20(3), p. 593–603, 2004.
minadas. Fazendas com mão de obra escassa 12. MOORE , D.A. et al. Quality assessments of waste milk at
ou dificuldade de treinamento, por exemplo, a calf ranch. J. Dairy Sci. V. 92, p.3503-3509, 2009.
poderiam ser beneficiadas por reduzida ne- 13. MORRILL, K.M., et al. Validating a refractometer to
evaluate immunoglobulin G concentration in Jersey co-
cessidade de detecção de cio por observação lostrum and the effect of multiple freeze–thaw cycles on
visual e determinação mais precisa do mo- evaluating colostrum quality. Journal of Dairy Science,
v. 98, p.595-601, 2015.
mento da inseminação artificial.
14. NEVES, R.C and LEBLANC, S.J. Reproductive manage-
ment practices and performance of Canadian dairy herds
Referências using automated activity-monitoring systems. Journal
Dairy Science, v.98, p.2801–2811, 2015.
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extended time interval between estrus and ovulation in tion systems during summer in a large commercial dairy
high-yield dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 89, herd. Animal Reproduction Science, v. 87, p.59–72,
p.4694–4702, 2006. 2005;.
2. COSTA, J.H.C., et al. Early pair housing increases solid 16. PRITCHETT, L.C. et al. Evaluation of the hydrometer for
feed intake and weight gains in dairy calves. Journal of testing immunoglobulin G1 concentrations in Holstein
Dairy Science, v. 98, p.6381-6386, 2015. colostrum. Journal of Dairy Science, v. 77, p. 1761-
3. CRAMER, M.C., and A. L. Stanton. Associations be- 1767, 1994.
tween health status and the probability of approaching 17. RUTTEN, C.J, et al. Invited review: sensors to support
a novel object or stationary human in preweaned group- health management on dairy farms. Journal Dairy
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18. SILPER, B.F, et al. Automated and visual measurements
4. DEELEN, S.M. et al. Evaluation of a Brix refractometer of estrous behavior and their sources of variation in
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19. SILPER, B.F, et al. Automated and visual measure-
5. ETTEMA, J.F and SANTOS, J.E.P Impact of Age at ments of estrous behavior and their sources of varia-
Calving on Lactation , Reproduction , Health ,and tion in Holstein heifers. II: Standing and lying patterns.
Income in First-Parity Holsteins on Commercial Farms. Theriogenology, v.84, p.333–341, 2015.
Journal of Dairy Science; v. 87, p.2730–2742, 2004.
20. SILPER, B.F, et al. Short communication: Comparison of
6. HEINRICHS, J. and JONES, C. Colostrum Management estrus characteristics in Holstein heifers by 2 activity mo-
Tools: Hydrometers and Refractometers. Penn State nitoring systems. Journal Dairy Science, v.98, p.3158-
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7. HEINRICHS, A.J. Raising dairy replacements to meet 21. VALENZA, A. et al. Assessment of an accelerometer
the needs of the 21st century. Journal of Dairy Science; system for detection of estrus and treatment with gona-
v.76, p.3179–3187, 1993. dotropin-releasing hormone at the time of insemination
8. JENSEN, M.B. et al. Pair housing and enhanced milk allo- in lactating dairy cows. Journal Dairy Science, v.95,
wance increase play behavior and improve performance p.7115–7127, 2012.
in dairy calves. Journal of Dairy Science, v. 98, p.2568-
2575, 2015.

120 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Manejo de precisão
em pastagens
Wagner Matias

Frederico Osório Velasco1 - CRMV-MG 9619, Alex de Matos Teixeira2 - CRMV-MG 9616, Diogo Gonzaga
Jayme3 - CRMV-MG 6737, Lúcio Carlos Gonçalves4, Rogério Martins Maurício5
1
Doutor Zootecnia UFMG - Pós doc Embrapa/UFSJ
2
Professor UFU
3
Doutor Zootecnia UFMG - Professor EV.UFMG
4
Doutor UFV - Porfessor EV.UFMG
5
Professor UFSJ

Introdução cidas e herbicidas eram tipicamente aplicados


a uma taxa padrão em todo o campo, embora
A revolução industrial do início do século seja comum haver grande variação espacial da
XVIII trouxe, além do desenvolvimento dos fertilidade do solo, das pragas e ervas dani-
centros urbanos, um impacto sobre as práticas nhas, resultando em áreas com aplicações ex-
agrícolas, promovendo aumento dos níveis de cessivas e outras com aplicações insuficientes.
mecanização e industrialização para a agricul- A agricultura de precisão é utilizada para mo-
tura, levando a um aumento da produção que nitorar e gerenciar a variabilidade das culturas,
impactaria a segurança alimentar em todo o aplicando insumos só onde são necessários
planeta (Overton, 1996). Semelhantemente (Whelan e McBratney, 2000), valendo-se do
ao ocorrido naquela época, hoje a civilização auxílio de sensores de posicionamento global
humana passa por outra revolução, a “revolu- (GPS) e mapeamento georreferenciado. Essa
ção da informação” (Freeman e Louçã, 2001), mesma abordagem pode ser utilizada para o
que já apresenta impactos iniciais, principal- gerenciamento das pastagens (Schellber et al.,
mente sobre setores agrícolas. Antes do início 2008), usando sensoriamento do momento
da agricultura de precisão, fertilizantes, pesti- de colheita ou pastejo, utilização precisa de

Manejo de precisão em pastagens 121


insumos, medição da produ-
ção de forragem e associado
O consumo do pasto Fundamentos
com a gestão do método de
é o principal fator para aplicação
determinante, não apenas do conceito
pastejo, comportamento e
do desempenho, mas,
saúde animal.
principalmente, da eficiência de precisão
Não há estatísticas pre-
cisas sobre a parcela de cada
econômica do próprio no manejo de
sistema, já que o pasto se pastagens
sistema – em pasto, misto e
constitui no mais econômico
em confinamento – na pro-
dos alimentos.
dução total de leite no país, Manejo do
porém estima-se que os pri- pastejo com foco
meiros participem com mais de 90% (Aguiar, no componente vegetal
2011). Segundo Santos et al. (2013), a baixa
produtividade no país se deve a uma combi- No passado, a perspectiva do manejo das
nação de fatores, dentre eles o baixo potencial pastagens baseava-se em maximizar a produ-
genético de boa parte do rebanho, deficiên- ção de forragem, a partir do manejo da fer-
cias no manejo nutricional e nas condições de tilidade do solo, e colher o máximo possível
bem-estar animal, exploração extrativista na dessa produção. Contudo, o aumento da taxa
maior parte das áreas e falta de correto manejo de crescimento e acúmulo de matéria seca em
das pastagens. Nos últimos anos, uma série de função da utilização de insumos não foram
trabalhos conduzidos por grupos de pesquisa acompanhados por ajuste no manejo. Dessa
em diferentes regiões do país permitiram acu- forma, os resultados foram taxas de lotação
mular conhecimento para o desenvolvimento inconsistentes e baixo desempenho indivi-
de técnicas e estratégias de manejo capazes de dual dos animais (Da Silva, 2013; Quadros et
explorar o máximo potencial produtivo das al., 2015).
gramíneas tropicais (Da Silva e Nascimento Nos últimos anos, a pesquisa com plan-
Júnior, 2007). Por outro lado, o consumo do tas forrageiras concentrou esforços em deter-
pasto é o principal fator determinante não minar as práticas de manejo necessárias para
apenas do desempenho, mas, principalmente, otimizar o crescimento de plantas tropicais.
da eficiência econômica do próprio sistema, Em sua maioria, os estudos focaram em deter-
já que o pasto se constitui no mais econômico minar o momento para interromper o proces-
dos alimentos. Assim, indiscutivelmente, ma- so de rebrotamento em condição de lotação
ximizar o consumo de forragem de animais intermitente ou manutenção de uma altura
em pastejo é o grande desafio em sistemas de ideal em lotação contínua. Especificamente
produção em pastagens tropicais (Santos et no caso de lotação intermitente, o conceito de
al., 2007). índice de área foliar (IAF) crítico, condição
Esta revisão tem como objetivo abordar na qual a luz incidente (LI) é interceptada em
os temas relacionados ao manejo de precisão 95%, originalmente descrito e aplicado com
de pastagens, discutir conceitos relaciona- sucesso em plantas de clima temperado, de-
dos à produção animal a pasto, promovendo monstrou-se efetivo e válido também para as
a interface entre as técnicas de precisão e as gramíneas tropicais, sendo a base do manejo
respostas das plantas e animais em condições pré-pastejo. Segundo Da Silva (2013), a partir
de pastejo. do ponto de 95% de LI, o processo de acúmu-

122 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


lo de forragem sofreria uma tar mais associado à não
Devido à forte relação
mudança drástica, com re- ocorrência de consumo de
entre IAF crítico e altura
dução do acúmulo de folhas forragem do que apenas
do dossel, este último
fotossinteticamente ativas e ao valor nutricional da
parâmetro, em virtude da
aumento do acúmulo de col- pastagem. Essa premissa
facilidade de mensuração,
mos e material senescente. pode ser verificada nos tra-
tem sido adotado como
Devido à forte relação entre balhos de Andrade (2003)
critério para determinar
IAF crítico e altura do dos- e Sarmento (2003), em
o momento adequado de
sel, este último parâmetro, que bovinos de corte foram
iniciar um pastejo.
em virtude da facilidade de mantidos em pastagens de
mensuração, tem sido adota- capim-marandu, em regime
do como critério para determinar o momento de lotação contínua em 4 alturas de pastejo
adequado de iniciar um pastejo (Sbrissia et al., (10, 20, 30 e 40cm). As pastagens manejadas
2012; Sbrissia e Medeiros Neto, 2015). a 10cm apresentaram teor de proteína bruta
Quanto à meta de pós-pastejo (resíduo), superior ao das pastagens manejadas a 40cm,
os trabalhos envolvendo gramíneas tropicais porém o consumo de forragem e o ganho de
também foram baseados na avaliação de di- peso foram maiores para os animais mantidos
ferentes alturas. Com os valores mais baixos, em pastos de capim-marandu manejados a
objetivava-se proporcionar alta eficiência de 40cm.
pastejo, com manutenção de área foliar fotos- Segundo Sbrissia et al. (2014), quando
sinteticamente ativa mínima para rebrota, ao se avalia apenas o valor nutritivo da forra-
passo que os valores mais altos iriam repre- gem, existe uma faixa relativamente ampla de
sentar uma condição menos estressante para alturas em pré-pastejo, onde a composição
as plantas e mais próxima daquela normal- morfológica e química da forragem poten-
mente utilizada em condições de campo (Da cialmente pastejável não é alterada. Contudo,
Silva e Nascimento Júnior, 2007; Sbrissia et quando a taxa de ingestão e, possivelmente, o
al., 2014). Dessa maneira, esses protocolos si- consumo diário de forragem são levados em
nalizavam que há um intervalo de resíduo pós consideração, essa amplitude deve ser tratada
-patejo possível no qual a meta a ser estabe- com mais cautela. Dessa maneira, parece lógi-
lecida deveria considerar que o rebaixamento co dizer que apenas o valor nutritivo da forra-
do dossel se dá por meio do pastejo dos ani- gem ofertada não é capaz de explicar o desem-
mais e que, por isso, não apenas o componen- penho animal. Diferenças no desempenho de
te vegetal deveria basear a tomada de decisão. animais em pastejo estão relacionadas princi-
palmente a fatores não nutricionais, ou seja,
Desempenho animal em características estruturais do dossel (Sbrissia
pastagens e Medeiros Neto, 2015).
Nos últimos anos, a pesquisa mostrou
ser possível obter pastagens tropicais com
Manejo do pastejo com foco
elevado potencial de produção e alto valor
no componente animal
nutricional. Contudo, nem sempre o desem- O processo de pastejo tem seu momento
penho animal tem sido compatível com o crucial na construção do bocado, cuja massa
valor nutricional apresentado pela pastagem, e respectiva concentração de nutrientes cons-
demonstrando que o desempenho possa es- tituem a base do consumo diário (Carvalho

Manejo de precisão em pastagens 123


et al., 2009). Portanto, o consumo diário em Holandês x Zebu demonstraram que vacas
situações de pastejo é resultado do acúmu- com produção média de 11,9kg de leite/dia
lo da forragem consumida em cada bocado apresentaram um tempo de pastejo médio de
e da frequência com que o animal o realiza 10,4 horas, havendo concentração de aproxi-
ao longo do tempo em que passa pastejando madamente 74% no período diurno (Zanine
(Cangiano, 1999). A origem dessa proposi- et al., 2006, 2007, 2009; Mendes, 2010;
ção está no trabalho de Allden e Whittaker Nascimento et al., 2013). Em grande parte,
(1970), que lançaram uma abordagem ana- essa diferença no tempo de pastejo refere-se
lítica para estudos em pastejo e propuseram à resposta do animal em pastejo frente ao ma-
que o consumo diário de um nejo aplicado nas pastagens,
animal seria produto de: C Considerando que a massa às condições climáticas da
= MB x NB x TP, em que C do bocado é o principal região, manejo dos animais
é o consumo diário, MB é a determinante da taxa de e capacidade de adaptação
massa do bocado, NB refe- ingestão de forragem e do dos animais ao clima.
re-se à frequência média dos desempenho animal, para Para vacas de leite, o
bocados e TP seria o tempo fins de manejo do pastejo, pastejo diário pode ser pre-
de pastejo (Carvalho et al., torna-se fundamental judicado, não apenas pela
2005). definir metas de manejo estrutura do dossel, mas
O tempo de pastejo é capazes de otimizar a também quando os animais
normalmente de 8 horas, po- massa do bocado. permanecem tempo exces-
dendo atingir 16 horas em si- sivo na sala de ordenha ou
tuações extremas (Hodgson ainda são ordenhados em
et al., 1994). Entretanto, segundo Carvalho períodos nos quais normalmente ocorreriam
et al. (1999), o tempo de pastejo é raramente os picos de pastejo. Sendo assim, o desafio do
inferior a 6 ou superior a 12 horas. Quando manejo é determinar qual estrutura de dossel
colocado para pastejar em pastagens cuja es- seria capaz de permitir elevadas taxas de in-
trutura do dossel não possibilita a obtenção gestão de forragem de modo a assegurar que
de elevadas taxas de ingestão, o animal tenta o animal consiga ingerir uma mesma quanti-
compensar tal prejuízo elevando o tempo que dade de forragem em menos tempo.
destina ao pastejo. Considerando que a massa do bocado é o
Estudos nacionais relataram, para vacas principal determinante da taxa de ingestão de
da raça Holandês e com produção média de forragem e do desempenho animal, para fins
16,5kg de leite/dia, um período de pastejo de de manejo do pastejo, torna-se fundamental
6,7 horas, sendo 37% desse tempo durante definir metas de manejo capazes de otimizar a
o dia e 63% no período noturno (Martinez, massa do bocado (Carvalho, 2013). Para gra-
2008). Para vacas 1/2 sangue Holandês x míneas tropicais ou temperadas há uma altu-
Jersey, com produção média de 17,8kg de ra, ou seja, uma estrutura do dossel forrageiro
leite/dia, os resultados foram muito seme- que é capaz de otimizar a massa do bocado,
lhantes, com tempo médio de pastejo de seja na lotação intermitente ou na lotação
6,6 horas, concentrado no período notur- contínua (Mezzalira, 2012). Alturas superio-
no, 67% (Martinez, 2008; Chagas, 2011; res ou inferiores ao ponto ótimo resultam em
Souza, 2014). Por outro lado, os resultados comprometimento da massa do bocado e in-
de estudos conduzidos com vacas mestiças gestão de forragem.

124 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


Em pastagens mane- de bocados por novilhas
Determinada qual altura do
jadas em alturas inferio- leiteiras (1,95 x 3,99 segun-
dossel proporciona máxima
res ao ponto ótimo, há dos) (Palhano et al., 2007).
taxa de ingestão, se faz
um comprometimento da Determinada qual
necessário compreender
massa do bocado, princi- altura do dossel propor-
como as alterações da
palmente em virtude da ciona máxima taxa de in-
estrutura do dossel, que
limitação imposta na pro- gestão, se faz necessário
vão surgindo à medida
fundidade do bocado. A compreender como as al-
que ocorre o processo de
justificativa para tal respos- terações da estrutura do
rebaixamento do pasto,
ta baseia-se na constante de dossel, que vão surgindo à
afetam a taxa de ingestão
proporcionalidade, na qual medida que ocorre o pro-
de forragem.
a profundidade do boca- cesso de rebaixamento do
do corresponde a 52% do pasto, afetam a taxa de in-
comprimento dos perfilhos (Hodgson et al., gestão de forragem. O processo de rebai-
1994). A partir da compilação de 224 ob- xamento do pasto pelo animal se dá por
servações obtidas a partir dos mais diversos meio de uma sucessão de bocados, obede-
protocolos experimentais, com diferentes cendo a um processo mecanístico, em que
animais, espécies forrageiras e métodos de os bocados removem camadas sucessivas
pastejo, Carvalho et al. (2013) demonstra- equivalentes à metade (50%) da altura
ram essa correlação. do estrato pastejável (Laca et al., 1992;
Por outro lado, em alturas superiores ao Carvalho et al., 2001), caracterizando as-
ponto ótimo, a maior profundidade do bo- sim um pastejo em horizontes.
cado não seria capaz de compensar a pou- De acordo com Ungar (1998), a explo-
ca densidade de forragem e a dispersão de ração de um segundo horizonte pelo ani-
lâminas nos estratos mais superiores do mal ocorreria quando o primeiro estivesse
dossel, forçando os animais a colher menos reduzido em 15 a 30% do total da superfície
folhas em cada bocado ou até mesmo folhas inicial, intervalo no qual se enquadra o mo-
individuais, reduzindo a massa do bocado delo proposto por Baumont et al. (2004).
(Gonçalves et al., 2009). À medida que Esse comportamento foi demonstrado no
se eleva a altura do pasto, há um aumento estudo de Fonseca et al. (2012b), no qual a
no comprimento das lâminas foliares mudança para o segundo horizonte ocorreu
(Carvalho et al., 2001; Martinichen, 2006; quando foi removido 70-80% do primeiro
Palhano et al., 2007), sendo esse compor- horizonte. Em pastagens de capim-qui-
tamento importante principalmente em cuiu, Medeiros Neto (2015) verificou 29%
gramíneas de porte elevado, como alguns de área não pastejada quando foi atingida
cultivares de Panicum maximum, capim-ele- uma severidade de desfolhação de 40% da
fante, entre outros. Diante desse aumen- altura inicial de pastejo. Nesse estudo foi
to no comprimento das folhas, o animal demonstrado que a área pastejada apenas
demanda mais tempo para o processo de uma vez (horizonte superior do dossel) foi
preensão das lâminas foliares. Em pastagens inversamente relacionada com a severida-
de capim-mombaça, quando a altura do de de desfolhação. Quando a severidade de
dossel passou de 60 para 140cm, houve um desfolhação subiu de 40% para 62% da altura
acréscimo de 100% no tempo de formação inicial de pastejo, a exploração de horizontes

Manejo de precisão em pastagens 125


inferiores mudou de 25% da área total paste- a meta de rebaixamento para não haver prejuí-
jada para 65%. zo no consumo de forragem.
À medida que se sucede o rebaixamento e
os estratos superficiais vão sendo removidos, a Tecnologias de precisão
altura média vai diminuindo juntamente com e eficiência do manejo de
a proporção de lâminas foliares (Carvalho et pastagens
al., 2009). Segundo Zanini et al. (2012), apro- Gestão de insumos fertilizantes (tipo,
ximadamente 90% do total de colmo presente dose e época) são decisões críticas em mui-
no pasto concentra-se no estrato correspon- tos sistemas de pastagens agrícolas. Essas
dente a 50% da altura inicial do pasto, quando decisões são normalmente baseadas em infor-
esta é tomada a partir do nível do solo, para mações que avaliam química e fisicamente o
o capim-aruana e azevém anual manejados solo ou a forragem. No entanto, esse dado é
sob lotação intermitente. Além disso, a den- demorado para se obter, caro e sofre de pro-
sidade de forragem é incrementada e a rela- blemas de amostragem, como consistência e
ção folha:colmo do dossel diminui (Barrett representatividade. O sensoriamento remoto
et al., 2001). Trabalhando com azevém anual, tem potencial para aliviar alguns desses pro-
Amaral (2009) observou que a relação lâmina blemas. Mapas de distribui-
foliar:colmo+bainha passou ção espacial da qualidade
de 5,7:1 para 1,8:1 quando O valor da estimativa de do pasto podem indicar
comparados os estratos de qualidade de pasto para indiretamente o estado de
15 a 10cm com o estrato de os serviços ambientais e nutrientes do solo que per-
10 a 05cm. ecológicos dependerá do mitem destacar as áreas limi-
Essas mudanças nas sistema pastoril, a sua tadas de nutrientes. A infor-
características estruturais capacidade para atender mação espacial dos níveis de
do dossel, à medida que às exigências nutricionais proteína das pastagens pode
ocorre o processo de rebai- dos animais e as pressões indicar o status de nitrogênio
xamento, resultam no com- ambientais internas e do solo, permitindo a imple-
prometimento da massa do externas. mentação de taxa variável
bocado devido à redução ou manejo da adubação sí-
da profundidade e da área tio-específico, com fertilizante aplicado de
do bocado, consequência da menor altura do acordo com o potencial que a planta é capaz
horizonte, composto por folhas e do aumento de responder, reduzindo o uso de fertilizan-
da frequência de estruturas antiqualitativas, tes e o impacto ambiental. Aplicação de taxa
respectivamente (Barthram e Grant, 1984; variável de fertilizante pode melhorar signifi-
Amaral, 2009). Como reflexo, observa-se cativamente a produção econômica, com um
uma progressiva redução na taxa de ingestão excedente de caixa 26% maior, sobre aplica-
de forragem (Barrett et al., 2001; Baumont et ção generalizada de fertilizantes em extensos
al., 2004). Dados de estudos conduzidos com sistemas de pastejo (Murray e Yule, 2007).
gramíneas tropicais (sorgo forrageiro, capim- O valor da estimativa de qualidade de
tifton 85) apontam que a taxa de ingestão se pasto para os serviços ambientais e ecológi-
mantém constante até que se remova 40% da cos dependerá do sistema pastoril, a sua capa-
altura inicial do pasto (Fonseca et al., 2012a; cidade para atender às exigências nutricionais
Mezzalira, 2012), sugerindo que essa deva ser dos animais e as pressões ambientais internas

126 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


e externas. Um exemplo são as grandes áreas essas variações (Zhang E Kovacs, 2012).
de pastagens degradadas presentes no cerrado Produtos de sensoriamento remo-
brasileiro, resultado de sobrepastejo e manejo to, como imagens aéreas e de satélite, bem
inadequado da terra. Informações de qualida- como métodos de detecção proximal, são
de espacial do pasto podem auxiliar na gestão importantes fontes de informação. As técnicas
dessas áreas. Esses benefícios podem levar a de sensoriamento remoto têm sido utilizadas
uma melhor compreensão da contribuição de para fornecer informações relevantes para a
diferentes componentes da vegetação, como avaliação da condição da vegetação, a partir
a integridade da paisagem e disponibilidade da análise de bandas espectrais (Batistella et
de nutrientes para os animais. A qualidade al., 2011; Bolfe et al., 2011; Andrade et al.,
da pastagem também tem forte influência 2013). No entanto, poucos são os estudos no
sobre o metano dos animais e emissões de Brasil que utilizam dados de sensoriamento
óxido nitroso. Um estudo feito por Harper remoto para avaliar a variabilidade espacial
et al. (1999) revelou que o gado ao pastejar da área foliar de pastagens, apesar de algumas
um pasto de baixa qualidade tem uma perda iniciativas (Andrade et al., 2013). Além disso,
média de 8% da energia bruta consumida na não havia relatos do uso de imagens de alta
forma de metano, enquanto bovinos alimen- resolução espacial na estimativa do IAF de
tados com pasto de qualidade altamente di- pastagens (Andrade et al., 2014). Analisando
gestível perdem 6%. O sensoriamento remoto a variabilidade espacial do IAF de pastagens,
global do pasto pode ser uma alternativa com utilizando dados coletados em campo por
potencial de contribuição nos estudos rela- meio do sensor ativo Crop Circle ACS-430
cionados às emissões de gases de efeito estufa. e imagem de alta resolução espacial prove-
niente do satélite WorldView-2, Andrade et al.
Utilização de Veículos (2014) observaram que as estimativas do IAF
da pastagem foram consistentes com a litera-
Aéreos Não Tripulados e tura, tanto ao utilizar o Crop Cicle quanto a
imagens via satélite para imagem do WorldView-2, e que ambos seriam
avaliação de pastagens alternativas interessantes para tomadas de de-
cisões voltadas para o controle da perda do
A fim de maximizar a produtivida- potencial produtivo das pastagens.
de, são necessárias tecnologias eficientes e Porém, para o gerenciamento sítio-espe-
confiáveis que permitam aos agricultores cífico de piquetes, fonte de dados via satélite
basear as decisões de gestão em informações têm algumas limitações. Mesmo que a reso-
precisas e atuais. Uma dessas áreas é a gestão lução espacial de produtos de imagem de sa-
de pastagens, em que a medição precisa da télite tenha sido melhorada continuamente
biomassa de pastagem e de qualidade é es- nos últimos anos, ainda não é possível obter
sencial para uma boa tomada de decisão. Na dados em intervalos temporais altos, limitan-
agricultura de precisão são aplicadas técnicas do a possibilidade de acompanhamento dos
geoespaciais, como sensoriamento remoto, estádios críticos de crescimento da cultura
sistemas de informação geográfica (GIS) e (Primicerio et al., 2012). Além disso, áreas
Sistemas de Posicionamento Global (GPS) de pastagens comumente estão cobertas por
para a identificação da variabilidade no cam- nuvens, principalmente durante os períodos
po e desenvolver estratégias para lidar com de verão, impedindo que informações preci-

Manejo de precisão em pastagens 127


sas possam ser extraídas a da imagem. Além disso,
Veículos Aéreos Não
partir de imagens de satélite. cartões de memória de
Tripulados (os drones
Métodos de sensoriamento alta capacidade permitem
ou VANTs) tornaram-se
remoto proximais estão dis- o armazenamento de gran-
recentemente objeto de uma
poníveis para os agricultores, de quantidade de imagens
série de estudos que avaliam
mas eles são trabalhosos e as em alta resolução. Câmeras
a sua aplicabilidade para
decisões são frequentemente infravermelho também
a agricultura de precisão
baseadas em um pequeno ta- podem ser utilizadas para
e se apresentaram como
manho da amostra. Veículos obtenção de imagens em
alternativa promissora pela
Aéreos Não Tripulados (os diferentes espectros do
flexibilidade e capacidade
drones ou VANTs) torna- solo e da pastagem. Para
de adquirir dados em tempo
ram-se recentemente objeto extrair informações quan-
real de culturas e pastagens,
de uma série de estudos que titativas de imagens aéreas,
além de parâmetros
avaliam a sua aplicabilidade os valores de pixel deve ser
biofísicos relevantes.
para a agricultura de preci- calibrados para reflectân-
são e se apresentaram como cia e correção geométrica
alternativa promissora pela flexibilidade e ca- (Kelcey e Lucieer, 2012).
pacidade de adquirir dados em tempo real de Avaliando a cobertura verde das pasta-
culturas e pastagens, além de parâmetros bio- gens cultivadas em duas áreas experimentais
físicos relevantes. Utilizar plataformas contro- no município de Uberlândia, Minas Gerais,
ladas remotamente também pode melhorar por meio de VANTs a 130 metros do solo,
a compreensão dos processos entre satélite Brito et al. (2015) encontraram correlações
e sensores aerotransportados, adicionando positivas de 0,85 em comparação com fo-
uma nova camada de informação espacial. tografias tiradas a 1,5m. Alves et al. (2015)
Existem dois critérios importantes para avaliaram o uso de Drone Agrícola para a
que os sensores possam ser embarcados em identificação de falhas no plantio de cana-
veículos aéreos não tripulados. Deve ser leve de-açúcar, no município de Uberaba, Minas
e ser programável do chão para operação au- Gerais, e verificaram diferença entre a área
tônoma quando transportado por via aérea. observada remotamente (28,03% de falha
Até recentemente, as restrições de carga útil no plantio) em relação à observação manual
eram um impedimento à sua utilização práti- (14,76%). Segundo os autores, a metodo-
ca para aplicações de sensoriamento remoto. logia testada mostrou-se promissora, mas
Agora, com a crescente disponibilidade de apresentou limitações para a geração do
câmeras e sensores leves, tornou-se possí- processamento de imagens e que aplicações
vel anexá-los em plataformas controladas mais promissoras poderão advir do uso de
remotamente e, por meio de firmware per- tecnologias mais sofisticadas, que permitem
sonalizado, é possível programá-los, adquirir a realização de planos de voos, pontos de
imagens em intervalos de tempo específicos controle e georreferenciamento automático
e em posições de GPS pré-definidos. O fir- de imagens.
mware da câmera permite pré-definir todos No Brasil, a utilização dos VANTs como
os parâmetros de imagens relacionadas, tais ferramenta auxiliar nos setores agropecuá-
como tempo de exposição, o atraso entre as rios está em expansão. No entanto, o uso
imagens, bem como o formato e tamanho destes ainda não é completamente regu-

128 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


lamentado pela Agência visual muitas vezes é difí-
Sistemas automatizados
Nacional de Aviação Civil cil, seja pelo grande tempo
para monitorar o
(ANAC). Recentemente o gasto ou pela necessidade
comportamento de bovinos
órgão deu o primeiro pas- de mão de obra. Sistemas
dentro dos sistemas de
so dessa regulamentação, automatizados para moni-
produção tornaram-se
classificando os tipos de torar o comportamento de
cada vez mais importantes
aeronaves não tripuladas, bovinos dentro dos sistemas
e relativamente comuns.
o requerimento para o re- de produção tornaram-se
Hoje, há uma série de
gistro, a manutenção e a cada vez mais importantes
dispositivos que podem
liberação de habilitação do e relativamente comuns.
medir o posicionamento e
piloto remoto experimental Hoje, há uma série de dis-
a velocidade de caminhada
(Brasil, 2015). Ainda se- positivos que podem medir
dos animais.
gundo a ANAC, qualquer o posicionamento e a velo-
objeto que se desprenda do cidade de caminhada dos
chão e seja capaz de se sustentar na atmosfe- animais (O’Driscoll et al., 2008; Aharoni et
ra – com propósito diferente de diversão – al., 2009; Darr e Epperson, 2009; Bewley et
estará sujeito às regras de acesso ao espaço al., 2010; Ledgerwood et al., 2010), o com-
aéreo brasileiro. Desse modo, todo o voo de portamento de locomoção (Martiskainen et
Aeronaves Remotamente Pilotadas (RPA) al., 2009; Moreau et al., 2009; Pastell et al.,
precisa de autorização do Departamento de 2009; De Passillé et al., 2010), o movimen-
Controle do Espaço Aéreo (DECEA).  to da mandíbula (Umemura et al., 2009), os
sons relacionados a morder e mastigar (Laca e
Sensores para avaliação do Wallisdevries, 2000), a massa mordida e taxa
comportamento animal, de ingestão (Rutter et al., 1997; Gibbs et al.,
escore de condição corporal 1998; O’Driscoll et al., 2010).
e saúde animal Pastell et al. (2009) utilizaram um ace-
lerômetro tridimensional para distinguir va-
Informações obre o comportamento de
cas com problemas de claudicação e vacas
pastejo e o tempo gasto pastejando pode ser
saudáveis. Um sensor foi montado para cada
de grande interesse para o produtor, uma vez
perna em 11 vacas, 5 saudáveis e 6 doentes.
que essa informação pode ser indicativa da
O modo de andar das vacas foi filmado, para
saúde animal e o quão adequada está a pas-
futura comparação com os dados medidos.
tagem. Normalmente bovinos pastejam em
Diferenças de aceleração na marcha de vacas
torno de nove horas por dia (Phillips, 2002) e
saudáveis e de doentes não poderiam ser vis-
uma mudança no tempo de pastejo e compor-
tas claramente nos dados brutos, mas as dife-
tamento de pastejo pode refletir a qualidade
renças de simetria entre as pernas foram ime-
do pasto (Fraser, 1983).
diatamente detectadas. Robert et al. (2009)
Com o declínio da qualidade da pas-
utilizaram um acelerômetro triaxial em seu
tagem, os animais podem alterar seu com-
estudo de comportamento em bezerros, e
portamento de pastejo (Albright e Avaré,
conseguiram distinguir o comportamento
1997), como a extensão do tempo gasto pas-
de estação, deitado ou em pé, de outros com-
tejando, e aumentar a sua taxa de bocados
portamentos com uma precisão de 99,2% e
(O’Driscoll et al., 2010). O monitoramento
98,0%, respectivamente. Já o comportamento

Manejo de precisão em pastagens 129


de andar foi classificado com uma precisão de microfone foi colado na testa de quatro novi-
67,8%. Müller e Schrader (2003) avaliaram a lhos, com um transmissor ligado à cabeçada,
utilização de um acelerômetro para analisar e conseguiu classificar 954 movimentos de
o comportamento de vacas em lactação. Por morder e mastigar com uma precisão de 94%.
amostragem a 32Hz, com um intervalo de Os microfones foram mais precisos para dis-
registro de um minuto, eles conseguiram dis- tinguir movimentos de mastigação em com-
tinguir baixa atividade (deitado) de alta ativi- paração com movimentos de apreensão da
dade (locomoção). forragem. Os autores mencionaram que dife-
Os pesquisadores tentaram historicamen- rentes estruturas da forragem podem alterar o
te uma variedade de tecno- espectro de som, e que indi-
logias para registrar o com- A gravação e análise dos víduos diferentes produzem
portamento de pastejo dos sons associados a pastagem sons diferentes. A estrutura
ruminantes. Acelerômetros apresenta potencial de dentária, o tamanho e a for-
presos à cabeça do animal utilização. O sinal acústico ma da cabeça podem inter-
podem ser utilizados para produzido por um animal ferir nos resultados.
estimar o tempo de pastejo pastejando pode ser usado Embora a pesquisa
e consumo estimado com para determinar sons de original em bioacústica de
uma precisão entre ± 1,2 e ± morder e de mastigação. pastejo tenha utilizado o
1,4kg/vaca/dia (Oudshoorn ouvido humano, já existem
et al., 2012). algoritmos capazes de exe-
A gravação e análise dos sons associados a cutar essa tarefa (Milone et al., 2009). Hoje já
pastagem apresenta potencial de utilização. O existe sistema comercial que monitora o com-
sinal acústico produzido por um animal paste- portamento de ruminação e permite a detec-
jando pode ser usado para determinar sons de ção de estro e problemas de saúde (Heatime®
morder e mastigação (Laca et al., 1992), bem Pro System - SCR Dairy).
como uma estimativa da quantidade de con- A medida de peso e forma são informa-
sumo de matéria seca (Laca e Wallisdevries, ções importantes para a gestão de bovinos
2000) e, potencialmente, espécies de plantas a pasto. No entanto, devido ao aumento do
que estão sendo consumidas (Ungar e Rutter, número de animais pela crescente escala de
2006). produção, a avaliação da condição corporal
Umemura et al. (2009) utilizaram sensor envolve altos custos e necessidade de mão
de ruminação que registrava os movimentos de obra, tornando-se de aplicação limitada,
mandibulares e era capaz de estimar a ingestão impossibilitando a detecção de mudanças
de pasto. O sensor consistia em um pêndulo significativas em um curto período de tempo.
que registrava os movimentos mandibulares Existe correlação entre o peso do gado, altura
quando a cabeça do animal estava inclinada da cernelha e largura do quadril (Tomizawa,
para baixo. No entanto, o sistema não conse- 1989); assim, a avaliação de imagem 3D pode
guiu distinguir entre mordidas preênseis e de permitir a estimativa de peso.
mastigação. Leroy et al. (2005) investigaram a possi-
Laca e Wallis De Vries (2000) usaram bilidade de cálculo automático do Escore de
gravações de vídeo e um microfone sem fio Condição Corporal (ECC) com uma técnica
para distinguir os sons de morder e mastigar, de imagem 2D em vacas holandesas. As ima-
a fim de estimar o consumo de forragem. O gens foram tiradas do ponto de vista traseiro

130 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


dos animais, ao mesmo tempo em que ava- Uso de cercas virtuais para
liadas por diferentes profissionais treinados, o manejo de animais em
que a classificavam em uma escala de 1 a 5.
pastejo
Para avaliação do ECC a partir da fotografia,
uma imagem binária foi criada e 19 pontos Para gerenciar animais a pasto, é necessário
de contorno no corpo da vaca foram escolhi- controlar onde estão autorizados a pastejarem.
dos para observação. O ECC foi então esti- Ao longo da história, na domesticação de ani-
mado por comparação do contorno da vaca mais ruminantes, esse controle foi conseguido
teste com contornos de vacas de referência diretamente, através de um “pastor” humano;
com ECC conhecidos. O desvio entre ECC e essa abordagem é ainda utilizada em algumas
estimados pela câmera e pontuação dada partes do mundo (Rutter, 2013). Na década
pelo assessor foi, em média, 0,27 unidades, o de 1940, cercas elétricas foram introduzidas,
mesmo erro entre avaliadores. Em estudo se- permitindo uma abordagem mais flexível para
melhante com imagens digitais, Bewely et al. o controle da pastagem. Uma abordagem alter-
(2008) mostraram que 100% dos ECC pre- nativa é colocar um energizador sobre o animal.
vistos foram dentro de 0,5 pontos da ECC Este recebe um aviso sonoro de que se aproxi-
pontuação real. ma de um local onde seria seu limite de pastejo;
A medida da cernelha e altura do qua- em seguida, recebe um choque elétrico caso ele
dril de animais a pasto obtidas por imagens continue a se mover em direção ao local. Esse
3D foram relatadas por Kida et al. (2012). sistema é conhecido como “barreira invisível”,
Segundo os autores, a correlação entre a apesar de, na prática, os animais poderem ver e
altura da cernelha real e estimada pela ima- aprender a evitar o sinal (Umstatter et al., 2012).
gem 3D foi alta, tanto para bovinos da raça Esse sistema, em conjunto com um lo-
Holandês (r = 0,67) como Wagyu (r = 0,92). calizador GNSS preso ao animal, permite o
As correlações de altura da cernelha e peso conceito de “cercas virtuais”; os sinais de avi-
foram de r = 0,55 para Holandês e r = 0,83 so (sonoro e elétrico) são acionados quando
para o Wagyu. Esses resultados indicam o animal se aproxima de um limite virtual de-
que a análise de imagens 3D é um meio efi- finido por uma série de coordenadas de latitu-
caz de avaliar o crescimento de bovinos em de e longitude (Anderson, 2006). A principal
pastagens. No entanto, tempo e esforço são vantagem em relação às cercas tradicionais é
necessários para se obter imagens em 3D de sua grande flexibilidade, permitindo alteração
bovinos em pastejo nas pastagens. O tempo dinâmica do local de pastejo do animal, prin-
médio para a realização de cada fotografia foi cipalmente quando aliado às tecnologias de
de 3,5 minutos por animal. Outro problema sensoriamento remoto.
relatado foi o difícil reconhecimento indivi- Um problema potencial com cercas vir-
dual do animal a partir de imagens em 3D. tuais é a preocupação com o bem-estar animal
Portanto, pode ser necessário realizar mar- sobre o uso de animais utilizando “colares de
cações diferenciadas para discriminar indi- choque”. Umstatter et al. (2009) avaliaram,
víduos. A instalação de câmeras digitais 3D como alternativa ao choque, estímulos aversi-
perto das fontes de água ou em cochos pode vos de diferentes sons (seres humanos gritan-
facilitar a captura de imagens automáticas do do e cães latindo), no entanto os animais se
gado. habituavam ao som e paravam de responder
ao estímulo.

Manejo de precisão em pastagens 131


Embora essas tecnologias existentes este- No entanto, apesar de promissoras, mui-
jam ajudando a melhorar a eficiência da uti- tas dessas tecnologias ainda estão em estágios
lização da forragem por ruminantes em pas- iniciais de desenvolvimento, e muito estudo
tejo, ainda agem pontualmente no sistema de deve ser realizado para compreender a real
produção, e não conferem precisão adequada utilidade e viabilidade nos diferentes sistemas
para o controle de manejo do pastejo. A fim de produção.
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136 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


A pecuária leiteira de
precisão sob a ótica
econômica
bigstockphoto.com
Fernanda Carolina Ferreira1 -
Kennya Beatriz Siqueira2
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira3 - CRMV-MG 5930
1
Doutoranda Universidade da Florida EUA - Embrapa Gado de leite , Juiz de Fora, Minas Gerais
2
DSC Ecônomia Aplicada - Embrapa
3
Médico Veterinário e doutorado em Ciência Animal (UFMG); Pesquisador da Embrapa Semi-Árido, Petrolina, PE

Introdução termos do mínimo custo de produção. Além


disso, o ambiente em que o gestor de sistemas
Em 2014, 118 milhões de produtores de produção de leite toma decisões tem se
ofertaram cerca de 819 milhões de toneladas tornado cada vez mais complexo, e aspectos
de leite. No entanto, estima-se que em 2025 como segurança de alimentos, proteção ao
a demanda de leite será de 1.059 milhões consumidor, contínuo aumento na qualidade
de toneladas, o que representa um aumento e na diversidade dos produtos, demanda por
3 vezes maior que a produção dos Estados produtos naturais, controle de doenças trans-
Unidos (IFCN, 2015). Para atender a essa missíveis, redução do uso de medicamentos
demanda, será necessário um gerenciamen- e bem-estar animal são fatores que devem
to mais eficiente da produção leiteira, a qual ser levados em consideração (Bewley et al.,
convive regularmente com margens de lucro 2015). Nesse cenário, a pecuária leiteira de
cada vez mais estreitas, exigindo que os pro- precisão pode contribuir para melhorias na
dutores alcancem a ótima eficiência, tanto em gestão da propriedade.
termos de máxima produtividade quanto em Na era da informação, a pecuária de pre-

A pecuária leiteira de precisão sob a ótica econômica 137


cisão pode representar avanço em termos de Neste capítulo, pretende-se apresentar o
gerenciamento mais eficiente da produção. estado da arte de estudos econômicos relacio-
As tecnologias têm modificado os sistemas nados à pecuária leiteira de precisão, de forma
de produção de leite e geralmente são varia- a avaliar o retorno econômico da adoção, bem
ções das já utilizadas em indústrias como a como os fatores que determinam essa decisão.
automobilística ou eletrônica. Visam à melho-
ria do monitoramento detalhado de animais e Adoção de pecuária
recursos físicos com o objetivo de otimizar o
desempenho econômico, social e ambiental
leiteira de precisão
de sistemas de produção de leite (Eastwood et Os benefícios advindos do uso de tecno-
al., 2012). Teoricamente as novas tecnologias logias voltadas à pecuária leiteira de precisão
empregadas na pecuária de precisão oferecem incluem aumento da eficiência dos sistemas,
benefícios na saúde e bem-estar dos animais, redução de custos, melhoria do produto final,
aumentam a produtividade das fazendas, re- minimização dos impactos ambientais negati-
duzem custos dos sistemas de produção, além vos e melhoria na saúde e bem-estar animal.
de facilitarem a vida do produtor. No entanto, Tais tecnologias apresentam um maior impac-
alguns desses benefícios são questionáveis. to nas áreas de saúde, reprodução e qualidade
Talvez por isso, ainda é inci- do leite (De Mol, 2000) e o
piente o número de produ- objetivo de sua utilização é
As tecnologias têm
tores que adotam a pecuária melhorar a eficiência de fa-
modificado os sistemas
de precisão, especialmente zendas produtoras de leite
de produção de leite e
no Brasil. (El-Osta e Morehart, 2000).
geralmente são variações
Como a pecuária de A aquisição e imple-
das já utilizadas em
precisão ainda é um cam- mentação de determinada
indústrias como a
po científico relativamente tecnologia representa um
automobilística ou
novo se comparado a outras significativo investimento
eletrônica.
ciências, e as tecnologias para o produtor, que tem
estão evoluindo a um rit- o desafio de escolher a que
mo cada vez mais rápido, a área ainda carece trará os melhores resultados ao longo do tem-
de estudos mais aprofundados. Além disso, po. Os efeitos de se investir em uma tecnolo-
pecuária de precisão é um campo interdisci- gia que não trará o retorno desejado pode ser
plinar que engloba conceitos de informática, prejudicial ao sistema de produção de leite e,
bioestatística, etologia, economia, genética, por isso, a decisão deve ser tomada com cau-
instalações, equipamentos, nutrição animal tela (Russel e Bewley, 2013).
e engenharia (Spilke e Fahr, 2003). Assim, Apesar da ampla disponibilidade, a ado-
ainda são raros os estudos de viabilidade dos ção de tecnologias voltadas à pecuária leiteira
investimentos em pecuária leiteira de preci- de precisão ainda é baixa (Huirne et al., 1997;
são devido principalmente ao alto custo de se Gelb et al., 2001). A maior parte dos avanços
manter experimentos controlados no longo em pecuária de precisão pode ser encontra-
prazo. Embora o aspecto tecnológico desses da na Europa. Destacam-se os países escan-
equipamentos possa definir a inovação, fato- dinavos, o Reino Unido, a Holanda, além da
res econômicos e sociais ditam o sucesso na Austrália e da Nova Zelândia.
adoção dessas tecnologias (Bewley, 2015). Holloway et al. (2014) citaram entrevis-

138 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


ta realizada com 2.600 produtores de leite da dos produtores entrevistados usavam algum
União Europeia. Os resultados indicaram que tipo de automação na fazenda, 5% utilizavam
40% dos novos investimentos desses produto- identificação eletrônica do gado e 2% empre-
res foram em sistemas de ordenha robotizada, gavam medidores eletrônicos de leite (LIC,
o que sugere que a proporção de vacas que se- 2008).
rão ordenhadas por robôs deve aumentar de Nos Estados Unidos, Borchers e Bewley
9% em 2014 para 18% em 2016. Nos Estados (2015) reportaram que 68,8% dos respon-
Unidos, um estudo com 109 dentes utilizavam tecnolo-
produtores de leite, realiza- Nos Estados Unidos, um gias de precisão em levan-
do em 2013, identificou que estudo com 109 produtores tamento realizado com 109
68,8% empregavam alguma de leite, realizado em 2013, produtores.
tecnologia na sua fazenda identificou que 68,8% Os benefícios da ado-
(Borchers e Bewley, 2014). empregavam alguma ção de tecnologias de preci-
No projeto Bright tecnologia na sua fazenda. são tendem a ser melhores
Animal foi realizado levan- para rebanhos maiores, já
tamento das tecnologias que a observação individual
de pecuária de precisão comercializáveis em é um desafio e tem menor chance de ocorrer
vários países, entre eles: Estônia, Dinamarca, (Lazarus et al., 1990). Como os sistemas de
Noruega, Reino Unido, Austrália, Malásia, produção de leite continuam crescendo, tec-
Vietnã e África do Sul. De um modo geral, o nologias voltadas à pecuária de precisão ten-
estudo mostrou que poucos produtores utili- dem a se tornar mais viáveis, uma vez que a
zam essas tecnologias, sendo que, nos países redução na disponibilidade de mão de obra
mais desenvolvidos, o número de adeptos da qualificada é uma realidade e a propriedade
pecuária de precisão é maior, especialmente pode se beneficiar das vantagens da produção
em tecnologias poupadoras de tempo e mão de leite em escala. Dados coletados em tempo
de obra (Banhazi et al., 2012). real podem ser usados para monitoramen-
Austrália e Nova Zelândia também têm to de animais e geração de relatórios com o
se destacado. Na primeira estimativa (2007), objetivo de identificar desvios significativos
10% dos produtores de leite utilizavam algum na normalidade. Em muitos casos, a gestão
tipo de tecnologia de precisão para a alimen- de propriedades e atividades de controle po-
tação do rebanho (Lubulwa e Shafron, 2007). dem ser automatizadas (Delorenzo e Thomas,
Em 2009, em um estudo realizado com 300 1996). Entretanto, resultados do sistema ge-
produtores de leite australianos, observou-se ram dados que exigem interpretação por par-
que 19% já usavam identificação eletrônica, te do gestor (Pietersma et al., 1998), ou seja,
25% utilizavam disposi- tais informações são úteis
tivos para monitoramen- As tecnologias voltadas apenas se interpretadas cor-
to de atividade animal e à pecuária de precisão retamente e utilizadas na ro-
91% empregavam sistemas permitem aos produtores a tina do dia a dia.
de alimentação assistidos tomada de decisão rápida As tecnologias volta-
por computador (Watson, e baseada em melhores das à pecuária de precisão
2009). Na Nova Zelândia, informações, o que resulta permitem aos produtores a
em pesquisa realizada em em maior produtividade e tomada de decisão rápida
2008, constatou-se que 20% lucratividade e baseada em melhores in-

A pecuária leiteira de precisão sob a ótica econômica 139


formações, o que resulta em maior produti- que eliminam postos de trabalho. No entanto,
vidade e lucratividade (van Asseldonk et al., considerando-se o aumento do tamanho das
1999). Além disso, devido ao volume massivo fazendas leiteiras no Brasil e no mundo, asso-
de informações geradas, sistemas computado- ciado à escassez de mão de obra no campo e o
rizados são essenciais para a interpretação do elevado custo desta, a adoção da pecuária de
grande volume de dados gerado. precisão pode significar redução de custos no
Os produtores de leite contam com uma longo prazo.
ampla gama de tecnologias disponíveis no Entretanto, assim como ocorre com toda
mercado, e muitos produtores nem sequer tecnologia intensiva em capital, o maior limi-
têm ideia dessa disponibilidade (Russel e tador para a adoção é o elevado investimento
Bewley, 2013). Entretanto, embora estejam inicial, pois a visão de curto prazo e falta de
disponíveis sistemas que monitoram ativi- capital inicial impedem o avanço do produtor.
dade animal, ruminação, tempo de descan- Em estudo de 10 anos (2000-2010) realiza-
so das vacas, temperatura e muitos outros do na Finlândia, foram identificados poucos
eventos associados com comportamento e fatores econômicos como determinantes
bem-estar animal (Nebel, 2013), pouco se para a mudança de um sistema convencional
sabe a respeito da perspectiva do produtor em para um automatizado. O capital empregado
relação a adoção, entendimento sobre cada em maquinários e os subsídios a investimen-
tecnologia individualmente ou opinião sobre tos estão entre as variáveis mais relevantes
a importância e a utilidade de se monitorar (Banhazi et al., 2012).
os parâmetros medidos por tais tecnologias As características dos produtores são
(Borchers e Bewley, 2015). O retorno sobre também fatores importantes na decisão de
o investimento percebido pelo produtor em adotar ou não a pecuária de precisão. Fatores
uma nova tecnologia é sempre um fator que como baixa familiaridade com computadores,
influencia a sua adoção ou não (Dijkhuizen et idade e grau de escolaridade podem influen-
al., 1997; van Asseldonk, 1999). ciar nessa decisão (Bewley, 2010).
No entanto, a identificação dos benefí-
Fatores que influenciam cios da tecnologia e a transparência na divul-
gação dessa informação parecem ser os fatores
na adoção da pecuária de mais importantes para o sucesso da pecuária
precisão de precisão. Isso deriva principalmente da
A escolha entre o sistema convencional e cultura dos produtores, já que estes são biólo-
a pecuária de precisão envol- gos por natureza e tecnólogos e economistas
ve muitos fatores. A adoção ocasionalmente. Assim, de
de robôs e sistemas automa- Banhazi et al. (2012) um modo geral, os produ-
tizados está muito relaciona- identificaram a oferta tores são conservadores, em
da com ganhos de produti- de treinamento e suporte especial por causa das redu-
vidade, principalmente por técnico adequado e a correta zidas margens de lucro com
serem tecnologias intensivas especificação, instalação e as quais frequentemente
em capital e poupadoras de monitoramento do sistema trabalham.
mão de obra. Do ponto de como fatores importantes Banhazi et al. (2012)
vista social, essas tecnolo- para o sucesso na adoção da identificaram a oferta de
gias são condenáveis, visto pecuária leiteira de precisão. treinamento e suporte téc-

140 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


nico adequado e a correta especificação, ins- sistema de pecuária leiteira de precisão. Para
talação e monitoramento do sistema como isso, são empregados procedimentos conven-
fatores importantes para o sucesso na adoção cionais de engenharia econômica por meio
da pecuária leiteira de precisão. dos seguintes indicadores:
VPL (Valor Presente Líquido): indicador
Aspectos relacionados de viabilidade de investimentos que determi-
na o valor presente de pagamentos futuros.
a estudos de viabilidade TIR (Taxa Interna de Retorno): taxa eco-
econômica da pecuária nômica necessária para igualar o valor de um
leiteira de precisão investimento com seus retornos futuros, ou
seja, a taxa de remuneração do projeto ou tec-
Tradicionalmente, as decisões de investi- nologia que iguala o seu investimento.
mento em determinada tecnologia são feitas Período de Payback: indicador que de-
baseadas em recomendações padrão, consul- termina o número de períodos (meses ou
toria ou mesmo seguindo-se a intuição do anos) necessários para se recuperar o capital
produtor. Assim, métodos de análise de retor- investido.
no sobre o investimento mais específicos são Apesar de ser uma análise básica, a análi-
necessários. Muitos estudos econômicos em se de viabilidade de um investimento é muito
pecuária de precisão utilizam-se de questio- empregada e útil. Para complementar, geral-
nários para avaliar o ponto de vista do produ- mente são realizadas análises de sensibilidade
tor. Nesses estudos procura-se identificar os e/ou análises de risco. A primeira consiste em
principais desafios e dificuldades na adoção variar certos itens componentes do custo e/
da pecuária de precisão, através de visitas às ou receita, mantendo os demais constantes.
fazendas e entrevistas com os proprietários, Com isso, avalia-se a mudança nos indicado-
que podem ser estruturadas ou não. Em al- res de rentabilidade do empreendimento. Já a
guns casos, os empregados da fazenda tam- análise de risco trabalha com probabilidades
bém são entrevistados. Nesse tipo de estudo, e permite identificar os riscos do empreendi-
as entrevistas podem ocorrer antes, durante mento. Assim, é possível comparar, em ter-
e/ou depois da adoção da tecnologia, depen- mos econômicos, as fazendas e tecnologias,
dendo dos objetivos da pesquisa. Os resulta- assim como avaliar os riscos.
dos dos questionários são analisados por es- A análise de Custo Benefício é outra
tatísticas descritivas e geralmente são estudos opção que não necessariamente precisa ser
de caso. calculada em termos monetários. É uma
Outra categoria de estudos econômicos análise das vantagens e desvantagens da
em pecuária de precisão procura avaliar a via- adoção da tecnologia e pode apresentar algum
bilidade de investimentos. Nessa categoria, grau de subjetividade.
destacam-se as análises de viabilidade eco- No entanto, independentemente da me-
nômico-financeira que permitem estimar o todologia adotada, os objetivos dos estudos
desempenho financeiro das fazendas e tecno- econômicos em pecuária leiteira de precisão
logias adotadas, evidenciando as que são eco- são entender os fatores que influenciam e
nomicamente viáveis ou não. Dessa forma, são influenciados pela adoção da tecnologia,
envolvem levantamento de todos os custos e bem como entender melhor os retornos desse
variáveis relacionados à inversão do capital no investimento.

A pecuária leiteira de precisão sob a ótica econômica 141


De acordo com Mayer et al. (1998), as ca no processo de tomada de decisão.
melhores estratégias de gestão e manejo de Muitos trabalhos têm sido publicados
propriedades leiteiras são difíceis de serem utilizando-se da metodologia de simulação
testadas através de experimentos de campo, Monte Carlo. Por esse método, variáveis que
uma vez que são muito variáveis e complexas, são aleatórias em um sistema de produção
e mudam rapidamente. Assim, as simulações de leite são simuladas levando-se em consi-
são a melhor forma de inte- deração a natureza de sua
grar e estimar esses efeitos. variação. A metodologia
Os modelos de simulação Os modelos de simulação permite que se desenvolva
são úteis e relativamente são úteis e relativamente um modelo amplo de ava-
baratos para uso em baratos para uso em liação de impactos técnicos
pesquisas que envolvem ce- pesquisas que envolvem e econômicos de acordo
nários complexos e um gran- cenários complexos e um com a realidade utilizada e
de número de variáveis com grande número de variáveis permite também que aná-
um grande grupo de animais com um grande grupo de lises de sensibilidade sejam
durante um longo período animais durante um longo desenvolvidas. O impacto
de tempo e sob diferentes período de tempo e sob econômico de tecnologias
condições (Shalloo et al., diferentes condições. é avaliado, usualmente por
2004). Tais modelos econô- meio de modelos econômi-
micos são também efetivos quando utilizados cos (Upton et al., 2015). Entretanto, uma boa
para a avaliação de alternativas quando exis- base de dados e necessária para a construção
tem poucos dados reais disponíveis. desses modelos.
Modelos de simulação são ideais para a Upton et al. (2014) desenvolveram um
análise de estratégias de investimento porque modelo que simulou o consumo anual de
eles podem efetivamente simular e avaliar a eletricidade e custos associados com seis ce-
melhoria em parâmetros biológicos baseados nários diferentes em relação à adoção e uso de
em dados provenientes de fazendas especí- tecnologias e três diferentes sistemas de pro-
ficas. Risco e incerteza são os dois maiores dução na Irlanda. Tal modelo foi utilizado por
aspectos a serem considerados dentro de um Upton et al. (2015) com o objetivo de avaliar
sistema de produção de leite devido à nature- o retorno sobre o investimento de três tecno-
za aleatória dessa atividade. Em um modelo logias comumente utilizadas por produtores
de simulação, é possível considerar a natureza de leite, e que são também as principais res-
biológica de alguns eventos dentro da pro- ponsáveis pelo consumo de energia elétrica
priedade, simular doenças, condições climáti- na fazenda. Além disso, os autores simularam
cas, custos de produção e de insumos, e preço dois cenários de preços de energia elétrica. Os
do leite (Delorenzo e Thomas, 1996). A in- três sistemas de produção de leite estudados
certeza deve ser considerada em um processo tinham concentração de partos na primavera,
de tomada de decisão para se evitar estimati- foram considerados como sendo pequenos
vas com viés e decisões errôneas (Kristensen (45 vacas em lactação), médios (88) e gran-
e Jorgensen, 1998). Custos e retornos futuros des (195), e todas produziam leite a pasto. As
são sempre incertos. Em relação à pecuária de informações levantadas contemplaram de-
precisão, uma representação acurada do risco talhes relacionados ao manejo de gestão das
associada com a adoção de tecnologias é críti- fazendas (estação de nascimento de bezerros,

142 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


frequência de ordenha, horá- dução de leite, ao passo que
Melhorias na performance
rios de início e final das orde- em 87,8% o VPL foi maior
reprodutiva [no caso de
nhas. Os autores concluíram que 0 quando as melhorias
adoção do sistema de
que os resultados das avalia- foram mais significativas.
medição de condição
ções de retorno sobre o in- Nesse mesmo estudo,
corporal automatizado]
vestimento são dependentes Bewley et al. (2010) fizeram
tiveram os maiores
da tarifa considerada, e que a análise de sensibilidade
impactos no retorno sobre
produtores devem levar em com o objetivo de estudar
o investimento, seguidas
consideração o valor do re- quais fatores que mais in-
por eficiência no manejo
torno sobre o investimento fluenciaram a lucratividade
nutricional... e redução na
da tecnologia antes de optar no caso de adoção do siste-
incidência de doenças.
por investirem na mesma. ma de medição de condi-
Bewley et al. (2010) de- ção corporal automatizado.
senvolveram um modelo com o objetivo de Melhorias na performance reprodutiva tive-
avaliar o custo benefício de tecnologias vol- ram os maiores impactos no retorno sobre o
tadas à pecuária leiteira de precisão, conside- investimento, seguidas por eficiência no mane-
rando a complexidade biológica e econômica jo nutricional com otimização da formulação
de uma fazenda de leite. Os autores utilizaram de dietas para grupos específicos e redução na
dados históricos de preços de leite, custos de incidência de doenças. As variáveis que mais
produção de novilhas, alimentos, preço de va- influenciaram o VPL foram: aumento no custo
cas de descarte e consideraram a volatilidade variável após a adoção da tecnologia; probabi-
nos preços chave na análise de rentabilidade lidade para cetose e febre do leite e a taxa de
do investimento em tecnologias de precisão concepção ao primeiro serviço associada com
para pecuária leiteira. Ao avaliarem os fatores diferentes escores de condição corporal.
que influenciam a rentabilidade potencial de Estudos de casos também têm sido rea-
um sistema automático para avaliação de es- lizados com o objetivo de avaliar a viabilida-
core de condição corporal, os autores consi- de de determinadas tecnologias adotadas na
deraram benefícios como redução na incidên- pecuária leiteira. Yule et al. (2013) realizaram
cia de cetose, febre do leite e metrite, melhoria um estudo de caso na Nova Zelândia e veri-
na taxa de concepção ao primeiro serviço e ficaram que a produção de leite aumentou
eficiência do uso de energia nutricional como 70%, a produção de pastagem cresceu 43% e
os principais benefícios de tal tecnologia. os gastos com fertilizantes foram reduzidos
A métrica utilizada pelos autores para em 43%, em quatro anos, com a adição de tec-
avaliar a rentabilidade sobre o investimento nologias de precisão.
foi o VPL, com uma taxa de desconto de 10% Na Austrália, um estudo com sistemas
devido ao elevado risco de se adotar uma tec- de irrigação automático em fazendas leiteiras
nologia relativamente nova. A regra geral é que mostrou que esse é um investimento lucrativo
uma tecnologia com um VPL maior do que 0 e poupador de mão de obra. Porém, a
compensa o investimento. Os resultados foram lucratividade mostrou-se sensível à quantida-
extremamente variáveis: 13,1% dos resultados de e valor do trabalho poupado (Armstrong
da simulação indicaram um VPL positivo em et al., 2011).
um cenário onde a adoção da tecnologia acar- Para avaliar sistemas de tomada de deci-
retaria pequenas melhorias no sistema de pro- são na pecuária leiteira de precisão, Eastwood

A pecuária leiteira de precisão sob a ótica econômica 143


et al. (2012) estudaram seis nicos da utilização de tec-
...métodos de simulação
fazendas australianas. Um nologias voltadas à pecuária
... em diferentes cenários,
estudo de caso explorató- de precisão, poucas avaliam
podem ser utilizados com
rio qualitativo foi aplicado, o seu impacto econômico
o objetivo de auxiliar
com o emprego de entre- e sua viabilidade de acordo
produtores, técnicos e
vistas aos fazendeiros antes com diferentes sistemas de
mesmo a iniciativa privada
da instalação dos sistemas e produção de leite. Carentes
no desenvolvimento, adoção,
até dois anos após a imple- de informação confiável,
formulação de políticas
mentação. Os produtores muitos produtores ainda re-
públicas e disponibilização
entrevistados apresentaram lutam na adoção dessas tec-
de linhas de crédito para
uma trajetória semelhante nologias na fazenda.
que tecnologias voltadas à
de aprendizado e uso da tec- Sugerem-se aplicações
pecuária de precisão sejam
nologia. Nos primeiros três a de modelos (ex.: logit e pro-
adotadas de maneira eficaz.
seis meses, todos estavam na bit) nos estudos com ques-
fase de aprendizado inicial. tionários ou modelos do tipo
De seis a doze meses, os produtores passaram tomada de decisão mais complexos, baseados
para uma fase de consolidação do conheci- em multicritérios. Além disso, métodos de si-
mento. E, só após doze meses, os produtores mulação de fazendas e análise de sensibilidade
apresentaram domínio do novo sistema. Isso em diferentes cenários, podem ser utilizados
indica que o retorno do investimento na com o objetivo de auxiliar produtores, técnicos
pecuária pode demorar mais a acontecer, visto e mesmo a iniciativa privada no desenvolvimen-
que é necessário se considerar esse período de to, adoção, formulação de políticas públicas e
adaptação e aprendizado da nova tecnologia. disponibilização de linhas de crédito para que
Um estudo interessante realizado nas tecnologias voltadas à pecuária de precisão se-
fazendas leiteiras do Casaquistão comparou jam adotadas de maneira eficaz.
os resultados da viabilidade da pecuária de
precisão usando a metodologia clássica do Referências
VPL com a avaliação do Retorno sobre o 1. ARMSTRONG, D.P.; HO, C.K.M. Economic analysis
Ativo (ROA), que é um indicador contábil of automatic flood irrigation for dairy farms in northern
de rentabilidade. Os autores encontraram que Victoria. AFBM Journal, v. 8, n.1, 2011.
2. BACH, A.; VALLS, N.; SOLANS, A.; TORRENT, T.
o investimento calculado pelo ROA foi con- Associations between nondietary factors and dairy herd
sideravelmente maior do que aquele obtido performance. J. Dairy Sci. V. 91, 2008.
através do VPL. Isso indica que os produtores 3. BANHAZI, T.M.; LEHR, H.; BLACK, J.L.; CRABTREE,
H.; SCHOFIELD, P.; TSCHARKE, M.; BERCKMANS,
que se orientarem por esse indicador contábil D. Precision livestock farming: an international review of
podem ser desestimulados a adotar a pecuária scientific and commercial aspects. Int J Agr & Biol Eng.
de precisão (Tubetov et al., 2012). V. 5, n.3, 2012.
4. BEWLEY, J. Precision dairy farming: advanced analysis
solutions for future profitability. First North American
Considerações Finais Conference on Precision Dairy Management,
Toronto, Canadá. 2010.
Por ainda ser uma novidade para o setor 5. BEWLEY, J. M.; BOEHLJE, M. D. ; GRAY, A. W.;
leiteiro, a pecuária de precisão ainda é olhada HOGEVEEN, H.; KENYON, S. J.; EICHER, S. D.;
RUSSELL, M. A.; SCHUTZ, M. M. Stochastic simula-
com desconfiança por muitos. Apesar de mui- tion using @Risk for dairy business investment decisions.
tas publicações destacarem os benefícios téc- Agric. Fin. Rev. V. 70, 2010.

144 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 79 - dezembro de 2015


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