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Desde as descobertas das jazidas abissais do pré-sal, o Brasil apostou todas as suas fichas
energéticas nos poluidores hidrocarbonetos. O sonho doce do etanol foi para a cucuia. Entre os
anos de 2007 a 2010, 76 usinas de cana-de-açúcar foram construídas no Brasil e foi levantada a
bandeira do etanol como uma commodity “made in Brazil”. Mas, em 2011 e 2012, 27 unidades
produtoras fecharam as portas ou entraram em recuperação judicial. Estimativas atuais
mostram que há 52 unidades em recuperação judicial e 27 em falência num total de 444
unidade no Brasil. Ou seja, o Brasil retrocedeu na produção de biocombustíveis, se absteve de
produzir biodiesel e não avançou suficientemente rápido na produção de energias renováveis.
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ineficiência da Petrobras. O povo brasileiro não tem como pagar os altos custos da energia
fóssil, muito menos diante da possibilidade, cada vez mais presente, do “Pico do Petróleo”.
O que junho de 2013 e maio de 2018 tem em comum é a luta contra a carestia e a “rebelião
tributária”, num quadro descontentamento sobre os rumos do país. A história está cheia de
exemplos de governos ineficientes e corruptos que são derrubados por protestos contra o
empobrecimento e o aumento de impostos. A Independência dos Estados Unidos, em 1776,
começou com a “revolta do chá” contra os impostos cobrados pela Coroa Britânica. A
Revolução Francesa, de 1789, começou quando o Rei convocou os Estados Gerais para
aumentar os impostos e transferir para o conjunto da população francesa a redução do déficit
fiscal e a conta dos gastos excessivos da Monarquia e das despesas de guerra. A Inconfidência
Mineira, também de 1789, começou quando a Corte Portuguesa aplicou a Derrama (imposto),
exigindo um quinto (20%) da produção de ouro.
A Nova República aumentou a carga tributária brasileira de cerca de 24% do Produto Interno
Bruto (PIB), na década de 1980, para mais de 34% na atual década. Mas não contente com o
aumento dos impostos escorchantes e dos serviços minguantes, o governo brasileiro tem um
déficit público (nominal) de mais de 6% do PIB. Portanto, a sociedade tem que repassar cerca
de 40% do PIB para as mãos egoístas e nada limpas do Estado. O cidadão brasileiro de 2018,
paga, em média, duas vezes mais impostos do que o cidadão de Vila Rica (MG), no tempo de
Tiradentes.
“O Brasil tem hoje um problema contratado para o futuro e outro presente. O contratado para
o futuro é a previdência. Os gastos vão crescer seis pontos do Produto Interno Bruto (PIB) nas
próximas décadas, porque a população em idade de aposentadoria cresce 3,5% a 4% ao ano. Já
a população que trabalha aumenta cerca de 0,8% e, daqui a pouco, esse número vai diminuir
ainda mais. Se nada for feito, a despesa com a previdência vai passar de 13% do PIB a 19%.
Esse aumento equivale a 350 bilhões de reais. A reforma é para evitar esse colapso. Para além
disso, temos um déficit de 140 bilhões de reais, quando deveríamos ter um superávit, no
mínimo, de 200 bilhões para não deixar a dívida crescer. Isso é, com os gastos públicos como
estão, estamos numa trajetória de endividamento crescente que não é sustentável” (Lisboa,
23/07/2017).
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Portanto, o pacto econômico da Nova República já chegou aos seus limites e é impossível
manter o crescimento das despesas públicas num quadro de “armadilha do baixo crescimento”.
Nos últimos 30 anos, o Brasil aumentou a carga tributária e elevou o gasto público, mas só
resolveu parcialmente os problemas sociais. É certo que houve redução da pobreza, aumento
das matriculas escolares, aumento da esperança de vida ao nascer, etc. Mas é impressionante o
tanto que se deixou de cumprir.
Sucessivos governos fazem propaganda de suas políticas sociais, mas não há nada mais injusto
e antissocial do que a existência de 27,7 milhões de trabalhadores desocupados e/ou
desalentados, que não possuem o mais básico dos direitos humanos que é o direito ao
trabalho e a ter um meio de vida próprio, sem depender das migalhas e da caridade estatal. O
Brasil de 2018 tem cerca de 3 milhões de postos de trabalho com carteira assinada a menos do
que na época das últimas eleições presidenciais (estelionato eleitoral) de 2014. O IBGE
anunciou dia 29/05, que taxa de desemprego aberto no trimestre encerrado em abril deste
ano, foi de 12,9%, atingindo 13,4 milhões de brasileiros e, provavelmente, vai aumentar em
maio e junho com a paralisação do país. Cada vez mais os trabalhadores brasileiros estão
dependentes das transferências estatais de renda. Como dizia Luiz Gonzaga: “Mas doutô uma
esmola a um homem qui é são, Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
O desemprego aberto entre os jovens já ultrapassou 30%. O Brasil tinha 48,5 milhões de
pessoas com idade entre 15 e 29 anos e 11,1 milhões (jovens Nem-Nem) não trabalhavam e
não estavam matriculadas em uma escola, faculdade, curso técnico de nível médio ou de
qualificação profissional. Não se pode esperar muito de uma geração do futuro que está sendo
excluída no presente! São exatamente os jovens pobres, negros e das periferias urbanas que
são as principais vítimas dos mais de 60 mil homicídios anuais (ao contrário da noção do
“brasileiro alegre e cordial”, o país é um dos lugares mais violentos do mundo). Além do alto
número de estupros, também há a Exploração Sexual Infantil, sendo comum meninas de 12
anos de idade, frequentarem “fluxos” (bailes funk de rua) para sejam submetidas a maratonas
de penetrações e abusos sexuais (com o consequente aumento da gravidez indesejada entre
crianças e adolescentes).
A intervenção militar no Rio de Janeiro, além de muito cara e ineficiente, não evitou a morte de
Marielle Franco e Anderson Gomes e nem colocou ordem na “Cidade Maravilhosa”. A
crescente militarização da vida brasileira e os apelos para a volta dos militares (presentes
inclusive em setores da greve dos caminhoneiros) é um saudosismo sem sentido, mas não
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ocorre no vácuo político, pois é o resultado da incapacidade da democracia brasileira de
construir um projeto de país com mobilidade social ascendente e uma decente segurança
pública. A democracia brasileira, assim como as forças armadas estão em frangalhos, com fraca
capacidade operacional e parecem não estar à altura dos problemas brasileiros atuais.
Tudo isto mostra que o pacto social da Nova República está em dívida com boa parte do povo
“pobre e oprimido” e que o alto volume de recursos gastos com a dita verba social favoreceu
apenas uma pequena parte da população brasileira. O Brasil é um dos países mais desiguais do
mundo (um dos maiores índices de Gini de concentração de renda). Os altos impostos não são
direcionados para as parcelas desfavorecidas e nem para a melhoria da infraestrutura
socioeconômica. O elevado desemprego, a renda per capita brasileira estagnada e a
manutenção do privilégio de poucos, torna o conflito social parecido com um barril de pólvora.
Surpreendentemente, só o governo desconhecia esta situação e foi atropelado pela greve dos
caminhoneiros.
Mas não é somente o pacto econômico da Nova República que está moribundo, também o
pacto político está em seus estertores. O arranjo institucional que foi concebido na
Constituição de 1988 buscava o equilíbrio entre um Executivo ativo, um Congresso poderoso e
um Judiciário com fortes prerrogativas. O Executivo, via Presidência da República eleita pelo
voto direto seria a instância máxima a administrar o país, organizar a economia e até propor
leis ordinárias. Mas a Presidência só se mantém viva pelo “presidencialismo de coalisão”, que
na prática foi se transformando em presidencialismo de cooptação e de corrupção. Nos últimos
30 anos, dos quatro presidentes eleitos (Collor, FHC, Lula e Dilma) dois foram impedidos e um
está preso. A Presidência da República virou uma ocupação forte por um lado e fraca por outro.
A desvalorização ocorreu devido à maneira como pacto político tem sido rompido em relação
aos outros dois poderes e à falta de legitimidade popular (em função do baixo desempenho
econômico e da falta de solução para os problemas sociais).
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houve brigas na Corte que viraram sensação nas rodas de fofoca nacionais. Em março de 2018,
houve uma troca de acusações entre os ministros Luiz Roberto Barroso e Gilmar Mendes. O
segundo disse: “Claro que continua a haver graves problemas. [...] É preciso que a gente
denuncie isso! Que a gente anteveja esse tipo de manobra. Porque não se pode fazer isso com
o Supremo Tribunal Federal. ‘Ah, agora, eu vou dar uma de esperto e vou conseguir a decisão
do aborto, de preferência na turma com três ministros. E aí a gente faz um 2 a 1”. Em seguida,
Barroso se insurgiu contra o pronunciamento do colega: “Me deixa de fora desse seu mau
sentimento, você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com atraso e pitadas de
psicopatia. Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo vossa
excelência vir aqui fazer um comício cheio de ofensas, grosserias. Vossa excelência não
consegue articular um argumento, fica procurando, já ofendeu a presidente, já ofendeu o
ministro Fux, agora chegou a mim. A vida para vossa excelência é ofender as pessoas, não tem
nenhuma ideia, nenhuma, nenhuma, só ofende as pessoas". Esta é a Corte que pretende
equilibrar e moderar as inconsistências dos dois outros poderes.
Enquanto os indivíduos “do andar de cima” brigam e não se entendem, os “do andar de baixo”
tentam se organizar e se defender como podem. Atualmente, não existe qualquer projeto
nacional, os partidos políticos tentam consolidar os seus feudos e a economia brasileira se
afunda enquanto o países líderes avançam na 4ª Revolução Industrial e promovem a transição
para uma matriz energética renovável, a informatização da sociedade do conhecimento
(inclusive com Inteligência Artificial) e uma grande mudança do setor de transporte para o uso
de veículos elétricos e o fim dos motores à combustão interna.
Na direção oposta, o Brasil do pré-sal e das tecnologias do século XX está cada vez mais
atrasado em relação à nova configuração produtiva global do século XXI. A greve dos
caminhoneiros – organizada a partir dos grupos do WhatsApp - lançou um alerta para a alta
dependência do país dos combustíveis fósseis, a alta dependência do transporte rodoviário, a
falta de investimentos na malha ferroviária, hidroviária e metroviária, a falta de apoio ao
desenvolvimento local e à produção familiar de alimentos, a alta dependência ao agronegócio
e ao sistema de concessões de rodovias, etc. Enfim, a greve mostrou as fragilidades da
economia brasileira que passou pela mais longa e mais profunda recessão do período
republicano e está vivendo a pior e mais lenta recuperação da história. As promessas de
crescimento do PIB em 2018 já foram para o saco.
Enquanto os EUA e a China disputam pela liderança das megaempresas de tecnologia, a maior
empresa brasileira da Nova República é uma fabricante de cerveja, que, inclusive, vai ter muito
lucro com o megaevento midiático da Copa do Mundo da Rússia. Na Roma antiga, o povo era
controlado com “pão e circo”. No Brasil atual, os governantes oferecem “churrasco, cerveja e
futebol”, tudo isto energizado pelos combustíveis fósseis.
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O ciclo se repete. Enquanto os governos passados promoviam a “Copa das Copas”, em 2014, e
as “Olimpíadas do século”, em 2016, para manter as massas iludidas com uma suposta
grandeza nacional (que se transformou em um triste legado de obras inconclusas e caras), na
realidade a economia brasileira aprofundava a “especialização regressiva” e o processo de
desindustrialização precoce, que fez o Brasil voltar a ser uma economia primário-exportadora
altamente dependente da exportação de commodities e da exploração mineral e da produção
do agronegócio tocado à base do defensivos agrícolas e dos agrotóxicos. O Brasil perdeu
competitividade internacional e não consegue ter uma economia capaz de responder aos
anseios da população.
Não é a primeira vez que o país vive o desabastecimento e a falta de gêneros alimentícios. Isto
também aconteceu pouco antes das eleições de 1986, no governo Sarney, do PMDB. O Plano
Cruzado foi um grande estelionato eleitoral que possibilitou ao PMDB ganhar os governos de
todos os Estados (menos Sergipe) e se tornar o maior partido da Nova República. Em 2018,
com Michel Temer, a greve dos caminhoneiros confirmou que o PMDB não tem qualquer
proposta coerente para administrar o país e o abastecimento atual é mais de governo e de
políticas públicas. Os malfeitos de Temer está sendo pior do que os malfeitos do Sarney. A
chamada “Bolsa Diesel” não elimina o déficit de credibilidade do governo, que ziguezagueou
várias vezes, ficou sem rumo e foi totalmente derrotado pelos caminhoneiros. Um colapso
eleitoral do PMDB, ou MDB, em outubro é uma condição para a renovação política nacional.
O fato é que, no geral, os partidos brasileiros não estiveram à altura do momento histórico
nacional. Por exemplo, o PT, numa atitude completamente sem noção, fez o lançamento da
candidatura Lula à Presidência da República, no dia 27 de maio, quando todo o país estava
parado e com graves problemas de abastecimento. Demonstrando insensibilidade para a
gravidade do momento, a senadora Gleisi Hoffmann, fez um balanço sobre os esvaziados
lançamentos do domingo, 27 de maio no sítio digital do PT: “Os atos por Lula aconteceram em
todo o Brasil. Isso mostra a vitalidade de nossa militância”. Mas não dá para ignorar a realidade
e ter uma atitude de avestruz que não tem nada a ver com tudo isto que está aí. Seria hora dos
partidos de esquerda mobilizarem a sociedade civil para criar alternativas ao desgoverno
Temer. Todavia, só falta a extrema direita capitalizar os efeitos de uma greve geral que travou o
país!
O certo é que a greve dos caminhoneiros parou tudo e deixou as forças políticas de direita,
centro e esquerda perplexos e sem saber o que fazer. Não adianta culpar o locaute. Existe
também a revolta do “precariado” e a revolta dos trabalhadores autônomos do transporte.
Diante do movimento dos caminhoneiros, houve perplexidade tanto das instituições do Estado,
quanto das lideranças dos três poderes. Na incapacidade governamental de oferecer uma
rápida solução, os efeitos econômicos são devastadores, com destruição de alimentos, mais de
70 milhões de aves mortas na primeira semana da greve, o recuo na produção de proteína
animal que vai aumentar os preços nos próximos meses, leite jogado fora, desaparecimento
das hortaliças e piora da nutrição, aumento geral da inflação, paralisação de hospitais, escolas
sem aulas, queda nas exportações, ameaça de uma nova recessão em 2018 e aumento do
déficit público com agravamento da crise fiscal.
Assim, enquanto outros outubros não surgem e o Brasil segue a sua trajetória de declínio
relativo, a Nova República está entre um estado vegetativo e um coma irreversível. Há falência
múltipla dos órgãos. O pior é que as candidaturas para as eleições presidenciais de 2018, em
miopia profunda, fingem não ver a condição do doente e ignoram a crise macroeconômica e
microeconômica do país. Agem como o Barão de Münchausen que tentou sair do pântano
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puxando o próprio cabelo! Enquanto os partidos insistem em apresentar propostas milagrosas
de retomada do crescimento econômico, para dar uma sobrevida ao pacto de 1988, os sinais
de desagregação do tecido social brasileiro se avolumam. O país flerta com o caos. Talvez a
próxima grande mobilização nacional seja pelo direito à eutanásia, não das pessoas, mas das
instituições que estão apodrecendo e são verdadeiros mortos-vivos.
Para terminar com um toque final de esperança, vale lembrar as palavras de Steve Jobs: “A
morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela
limpa o velho para abrir caminho para o novo”.
Referências:
ALVES, JED. O déficit orçamentário e a dívida pública que o próximo governo (2019-2022) vai
herdar, Ecodebate, 23/05/2018
https://www.ecodebate.com.br/2018/05/23/o-deficit-orcamentario-e-a-divida-publica-que-o-
proximo-governo-2019-2022-vai-herdar-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Brasil: quatro décadas de baixo crescimento econômico, sendo duas décadas
perdidas, Ecodebate, 16/05/2018
https://www.ecodebate.com.br/2018/05/16/brasil-quatro-decadas-de-baixo-crescimento-
economico-sendo-duas-decadas-perdidas-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Brasil: país submergente, Ecodebate, 15/07/2015
http://www.ecodebate.com.br/2015/07/15/brasil-pais-submergente-artigo-de-jose-eustaquio-
diniz-alves/
Marcos Lisboa. Para resolver crise, teremos que rever direitos adquiridos. El País, 23/07/2017
https://www.insper.edu.br/noticias/marcos-lisboa-as-reformas-afetam-a-grupos-de-interesses-
nao-a-sociedade-toda/