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1 Ver trabalho completo em: Hirata, A.R. A constituição do Sistema Participativo de Garantia sul
de Minas e sua contribuição para a Agroecologia na região. 2016. 196 p. : il. Dissertação
(Mestrado em Desenvolvimento Sustentável e Extensão) - Universidade Federal de Lavras – Lavras,
2016.
2 Técnica em Assuntos Educacionais - Pró-Reitoria de Extensão do IFSULDEMINAS; Doutoranda Engenharia
Agrícola-FEAGRI/UNICAMP; aloisia.hirata@ifsuldeminas.edu.br;
O tema certificação de produtos orgânicos passou a ser motivo de divergências
entre as organizações integrantes do histórico movimento orgânico brasileiro. A divergência
consistia tanto na obrigatoriedade quanto no método.
Muitos entendiam a legislação como importante e necessária para a promoção da
agricultura orgânica no Brasil, mas, em relação à certificação, estava difícil o consenso.
Algumas organizações entendiam que deveriam ser voluntárias, outras, como as
certificadoras de maior porte, entendiam que deveria ser obrigatória e realizada, por meio
de auditoria/inspeção e, ainda, tinha aqueles que defendiam outras formas de garantir a
qualidade (SANTOS, 2005).
A Cooperativa Coolmeia foi resistente à ideia de certificar, segundo as normas europeias
que estavam sendo discutidas no Brasil e, assim, acabou criando seu próprio selo,
conforme mecanismos de controle social que já desenvolviam, segundo o relato de
Meirelles (2015).
Foi nesse momento que a certificação participativa deixou de ser uma proposta
defendida só pela Ecovida e passou a ser defendida também por outras organizações,
como a ABIO (Associação de Agricultores Biológicos – RJ) e as pequenas certificadoras de
São Paulo que começaram a entender o processo (MEIRELLES, 2015 – Comunicação
Pessoal).
Em 2002, na ocasião da realização do ENA (Encontro Nacional de Agroecologia),
realizado no Rio de Janeiro-RJ, foi constituído o GAO (Grupo de Agricultura Orgânica) como
forma de tentativa de discussão e construção coletiva da lei.
Nessa época, iniciaram-se diversas pesquisas científicas e acadêmicas relacionadas
ao tema, de importantes agências governamentais contribuindo com a credibilidade do
processo. O reconhecimento e legalização dos organismos participativos de avaliação da
conformidade orgânica, a partir da sanção da Lei n° 10.831/2003, foi fruto de ampla
participação da sociedade civil, representada por diversos segmentos, incluindo
agricultores, comercializadores e certificadoras, além dos representantes do governo. Essa
legislação conseguiu, em grande parte, conciliar a pressão internacional por
regulamentação da agricultura orgânica e atender a algumas demandas dos movimentos,
principalmente reconhecendo como mecanismo de controle os diferentes sistemas de
certificação existentes no país. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer e legalizar a
certificação participativa. Esse pioneirismo tem inspirado vários países da América Latina,
como Chile, Paraguai, Uruguai, Colômbia, El Salvador, Equador, México e Bolívia no
desenvolvimento de ferramentas de gestão dos seus sistemas (LEITE, 2013).
Além disso, o encontro teve como objetivo promover a troca de experiências para
identificar estratégias e ações que disseminassem a adoção e aceitação dos SPGs
(CARTA, 2007). Nesse encontro, os representantes dos SPGs reunidos reafirmaram alguns
entendimentos sobre os SPGs e o compromisso de continuar trabalhando para fomentar os
SPGs nos seus países e seus espaços de representação internacional. Esses
compromissos estão contidos no documento “Carta de Antônio Prado”.
Em 2009, nasceu o Fórum Latino- Americano de SPG, com o objetivo de ser um
espaço de intercâmbio político e técnico entre os sistemas participativos de garantia
existentes no continente, buscando o reconhecimento entre eles e sua visibilidade perante a
sociedade. O Fórum Latino-Americano envolve representações de diversos países como
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Espanha, México,
Paraguai, Peru e Uruguai. Também nessa ocasião, constituiu-se o Fórum Brasil SPG e
OCS, envolvendo diversas organizações e redes do movimento orgânico defensores e
adeptos da certificação participativa. O Fórum Latino- Americano de SPG na tentativa de
consolidar os conceitos e princípios dos SPGs, escreveu a Carta de Princípios definindo o
conceito de SPG, suas características comuns e essenciais para a garantia da credibilidade
orgânica, assim como reafirmando os compromissos dos documentos “Carta de Torres” e
“Carta de Antônio Prado”.
Meirelles (2015) considera que foi nesse momento que o assunto SPG “subiu pra
cima da mesa”, afirma que, a partir de então, passou a não existir mais eventos de
agricultura orgânica ou, até mesmo, Agroecologia em que o tema não é discutido e seja um
dos assuntos dominantes. Em sua opinião, isso aconteceu porque de certa forma, a
certificação por terceira parte estava inibindo o movimento de agricultura orgânica, muitos
agricultores ecológicos estavam dizendo que não eram orgânicos porque não tinham
certificação.
Em 2011, houve o II Encontro Latino- Americano de SPG em La Paz - Bolívia e, em
2015, o III Encontro Latino- Americano de SPG, na cidade de Quito, no Equador, onde os
participantes reafirmaram os princípios e compromissos assumidos nos encontros
anteriores.
PRINCÍPIOS DESCRIÇÃO