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Alunas:

Elisângela Marcos Sedlmaier

Rayssa Mykelly de Medeiros Oliveira

Literatura e cultura popular

Praticando: Cordel e conto popular nordestino - uma proposta de trabalho

Introdução

Nesta pesquisa, escolhemos o cordel “Viagem ao país de São Saruê”, do poeta

Manoel Camilo, e um conto sem nome publicado por Jadson Xavier, morador da cidade de

Patos, em seu blog. Procuramos investigar a biografia dos autores e as implicações delas

nas

O cordel de Manoel Camilo pode ser encontrado neste link:

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/931.pdf.

O conto de Ricardo Sérgio, por sua vez, pode ser encontrado neste endereço:

https://www.recantodasletras.com.br/causos/863743 .

Manuel Camilo
O poeta Manoel Camilo é um dos maiores nomes da literatura de cordel. Viagem ao

país de São Saruê é sua obra mais conhecida e foi traduzida também para o francês,

fazendo com que o poeta paraibano se tornasse conhecido até fora do país.

Nascido em Guarabira, em junho de 1905, Manoel Camilo cresceu como agricultor,

mas ainda jovem, aos 18 anos, passou a trabalhar como comerciante viajante. Por volta de

1936 mudou-se para João Pessoa onde, além de trabalhar como marceneiro, se dedica à

cantoria, momento em que envereda pelos caminhos da poesia popular. Em 1940 muda-se

para Campina e abandona a profissão de violeiro, passando a dedicar-se à escrita de

versos.

Em 1942 volta a Guarabira, sua cidade natal. É em Guarabira que ele abre tipografia e

folheteria Santos. Além de compor seus próprios versos, Manuel Camilo tornou-se um

grande incentivador da produção, publicação e venda da poesia popular estruturada nos

cordéis.

A folheteria de Manuel Camilo prosperou de tal maneira, que em 1953, já como um

editor de sucesso, ele se transferiu para Campina Grande. Em 1957, com novo maquinário,

o poeta reinaugurou sua folheteria, que passou a se chamar “A estrela da poesia”.

A Estrela poesia, até hoje, é lembrada pela sua importância na publicação dos

folhetos de poesia popular. Durante as festividades de São João de Campina Grande é

montada uma réplica da folheteria em que é exposto o maquinário usado na época da sua

inauguração.

Viagem ao país de São Saruê


O cordel mais famoso de Manuel Camilo traz em seu enredo uma viagem feita a

uma terra de fartura e bem aventurança. No poema, São Saruê aparece como uma terra

mítica, na qual não há miséria ou fome. Além das riquezas como o ouro e a prata, a

abundância de alimentos é ressaltada como uma das características do paraíso, o que é

muito compreensível, se pensarmos na realidade do Nordeste rural que o poeta conheceu

em meados do século XX, ainda assolado pela fome e pela seca. Podemos observar o que

ressaltamos aqui nesta estrofe:

“Lá eu vi rios de leite/ barreiras de carne assada/ lagoas de mel de abelha/ atoleiros

de coalhada/ açudes de vinho do porto/ montes de carne guisada.”

O poema é muitas vezes comparado à passárgada de Manuel Bandeira, mas no

cordel de Manuel Camilo a terra encantada para a qual se quer fugir tem características

bem peculiares advindas da concepção de utopia de um sertanejo nordestino.

Anedota encontrada em blog de um patoense

A anedota abaixo foi encontrada em um blog de um morador de Patos, Jadson

Xavier. É nesse suporte digital e contemporâneo que ele continua uma tradição nordestina

antiga: a de construir narrativas cativantes envolvendo elementos e situações locais.

Cansado das mesmices políticas, vou contar "causos nordestinos reais


acontecidos" (Jadson Xavier)

Chegou a Patos Pb, um americano muito arrogante e conversador.


Sobre tudo que se falasse, ele dizia: na América isso aí é muito maior ou muito mais
interessante, em fim, tudo nos Estados Unidos era superior. Ninguém agüentava mais a
mania de grandeza do gringo.

Benito de Castro, o homem mais espirituoso que conheci, ouvia atento o americano contar
que o Gran Canyon era muitíssimo interessante.

- Se você, por exemplo, grita dois! O eco faz: dois, dois, dois...... repete 46 vezes. Disse o
americano.

Benito, achando muito as 46 vezes, emendou:


- Pois aqui, na minha fazenda em Condado tem um pequeno canyon muito mais
interessante que esse seu aí.

- Não pode ser. Mais interessante? Como?


- Se você grita dois mais dois! O eco faz: quaaaaatro.

O americano nunca mais contou vantagem.

Não havia muitas informações disponíveis sobre o autor do conto, por essa razão, neste

momento voltamos nossa atenção à estrutura do conto. Vejamos que há a esperteza do

nordestino como fator determinante na solução de um impasse. A perspicácia de Benito

deu jeito na soberba do estrangeiro e proporcionou o final surpreendente que é comum às

anedotas nordestinas.

Proposta Metodológica
Ambos os textos analisados nesta pesquisa se filiam à tradição popular da narrativa

nordestina, no entanto, eles datam de momentos históricos muito distintos e foram

produzidos para suportes distintos. Cientes dessas características propomos um trabalho

em sala de aula com os alunos para que eles possam não apenas fruir os textos, mas

também perceber como ao contrário do que apregoam os tradicionalistas, a literatura

popular nordestina não está fadada ao desaparecimento e que suas características mais

fundamentais se mostram presentes mesmo em uma mudança de conjuntura histórica tão

drástica. A proposta será dividida da seguinte forma:

1º Momento: Os textos serão levados para leitura e discussão em sala de aula.

Nesta etapa queremos que os alunos, simplesmente, possam conhecer e fruir os textos,

sem nenhuma orientação prévia, nem nenhum direcionamento dos professores. Após a

leitura, os alunos serão encorajados a falar o que acharam dos dois textos e o que

encontraram de semelhante e de diferente entre eles, desde temática, estrutura até a

regionalidade e à organização da linguagem.

2º Momento: Contextualização das obras e autores. Uma vez discutidos os textos, um

segundo momento seria a apresentação aos alunos de dados acerca do contexto em que

os dois textos foram produzidos. É importante ressaltar nesse momento, como Manuel

Camilo teve um papel importante não apenas como autor, mas como difusor e

incentivador da poesia popular ao trabalhar com editoração, fazendo um paralelo com a

maneira como Jadson Xavier pôde publicar seu causo em seu blog. Nesse momento, é
importante fazê-los refletir acerca de como a tecnologia se relaciona com essas expressões

artísticas ditas como tradicionais.

3º Momento: Produção de um blog e produção de cordéis. Nesta etapa, os alunos serão

divididos em dois grupos, um produzirá um cordel e o outro um conto que será publicado

em um blog. Para isso eles lerão outros cordéis e contos para que possam se familiarizar

com os gêneros.

4º Momento: Avaliação. Neste momento os alunos lerão uns para os outros os textos

produzidos e serão estimulados a discutir sobre a produção de narrativas populares

nordestinas. Sobre se, a partir de suas experiências na produção dos textos, eles acreditam

que a modificação cultural e tecnológica pela qual passamos na contemporaneidade ainda

possibilitam a existência dessas obras literárias tão associadas a uma tradição.

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