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V Seminário de Pesquisa sobre História, Meio Ambiente e Patrimônio Cultural

O V Seminário de Pesquisa sobre História, Meio Ambiente e Patrimônio Cultural


tem como objetivo promover a troca de experiências entre as instituições responsáveis
pela proteção do patrimônio natural no Estado de São Paulo a respeito dos rumos
traçados para a proteção de espaços como patrimônio natural.

Têm como perspectivas refletir sobre as discussões teórico-metodológicas


que envolvem o meio ambiente em sua relação histórica, dimensão ampla e
interdisciplinar; aprofundar o conhecimento acerca da gestão de espaços protegidos
como patrimônio natural, em seus múltiplos aspectos e oferecer oportunidades para
docentes e discentes apresentarem e debaterem pesquisas que tratam do tema e
proporcionar aos integrantes, a possibilidade de interação e troca experiências sobre o
assunto.

PROGRAMAÇÃO

09h00 às 10h00 - Credenciamento e entrega de material

10h00 – 12h00 - Mesa Redonda. A produção histórica do patrimônio: experiências dos


órgãos de preservação na patrimonialização da natureza.

Palestrantes:
Suely Furlan, FFLCH/Condephaat
Sidnei Raimundo, EACH-USP
Danilo Celso Pereira, mestrando IPHAN
André Bazzanela, IPHAN

13h30 – 17h30 Simpósios temáticos:

Encerramento
17h30 – 18h00 - Reunião do GT. Balanço das exposições do dia
19h00 – 20h00 Lançamento de livros

Local: Auditório Vermelho, Bloco Auditórios


Organização:
Felipe Bueno Crispim (Unifesp)
Janes Jorge (Eflch/Unifesp)
Júlia Amabile Aparecida de Souza Pinto (Mestranda Unifesp)
Sílvia Helena Zanirato (Each/Usp)

Comunicações - Simpósio I: Patrimônio Cultural e Bens Naturais

“Ecoturismo na região Sul de São Paulo: Uma alternativa de desenvolvimento


sustentável, 1999 a 2014” - Fernanda Rodrigues. Graduanda em História - EFLCH -
UNIFESP.

“Trabalho, alimentação, esporte e lazer: a relação da população da cidade de


São Paulo com o mundo natural” - Eduardo Luiz Fortti. Graduação e Licenciatura
em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e cursando
o Mestrado em História pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

“A relação entre ambiente e sociedade e suas influências na gestão do


Patrimônio Natural” - Marcelo Takashi Misato. Grupo de Estudo e Acompanhamento
de Governança Ambiental- GovAmb/USP. Doutorando em Ciência Ambiental -
PROCAM/USP. Bacharel em Gestão Ambiental EACH/USP.

“Patrimônio violado, memórias silenciadas: cultura e natureza na relação


comunidade-área protegida no Vale do Ribeira-SP” - Tiago Juliano Doutorando em
Ambiente e Sociedade Nepam/Unicamp; Mestre em Sustentabilidade e Bacharel em
Turismo (UFSCar) e Aline Vieira de Carvalho. Pesquisadora e Coordenadora do
Nepam/Unicamp. Doutora e Mestre em História (IFCH/Unicamp).

“História e Patrimônio Natural” – José Jonas Almeida. Doutor em História (USP).

Comunicações - Simpósio II: Patrimônio Cultural Imaterial e Territorialidades

“Povos e comunidades tradicionais frente a expansão da fronteira agrícola no


Vale do Jequitinhonha” - Lyvia Amado de Oliveira. Graduanda de Gestão Ambiental
– EACH/USP.

“Patrimônio cultural do município de Joinville: as transformações do bairro


América e a situação do patrimônio nesse contexto” - Carolina Luana Gilgen
Gonçalves. Graduanda de Gestão Ambiental – EACH/USP.

“As quebradeiras de coco babaçu e o avanço da fronteira agrícola no Oeste do


Maranhão: saber, territorialidade e meio ambiente” - Francisca Silva Viana.
Graduanda de Gestão Ambiental – EACH/USP.

“Engenhos em Ilhabela: uma história doce e amarga” - Bárbara Marie Van


Sebroeck Lutiis Silveira Martins. Arquiteta e urbanista (FAUUSP); Graduanda em
Turismo (ECAUSP); Mestranda em História (IFCH-Unicamp).

2
“A Salvaguarda do Samba de Roda do Recôncavo Baiano:Desterritorialização ou
Reterritorialização do bem cultural?” - Andressa Marques Siqueira. Doutoranda do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais (PROCAM/IEE/USP).

Resumos

Simpósio I: Patrimônio Cultural e Bens Naturais

“Ecoturismo na região Sul de São Paulo: Uma alternativa de desenvolvimento


sustentável, 1999 a 2014” - Fernanda Rodrigues. Graduanda em História - EFLCH -
UNIFESP.

Esta pesquisa teve seu início como Projeto de Iniciação Científica e se


transformou em tema da monografia, elaborada para o Departamento de História da
Universidade de Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras, e Ciências
Humanas.
Tendo em vista o crescimento do culto à natureza e a importância da preservação
do Meio Ambiente, este projeto tem como objetivo verificar como o Distrito de
Parelheiros e Marsilac localizados no extremo Sul de São Paulo se tornaram Polo de
Ecoturismo. E verificar como isso transformou a vida dos moradores e o
desenvolvimento social e econômico local. Pretende ainda investigar se o Ecoturismo
pode ser uma chave para a preservação ambiental. O projeto será desenvolvido na
área de História Ambiental, que investiga a relação entre sociedade e meio ambiente e
que nos últimos anos vem ganhando espaço na historiografia Brasileira e Latino-
Americana.
Tendo em vista que a pesquisa não foi realizada na sua totalidade, a
apresentação visa expor os objetivos, as fontes e metodologia que será aplicada na
pesquisa e finaliza com um estudo de caso: o processo de tombamento da Cratera do
Colônia.

Palavra chave: História Ambiental, Meio Ambiente, Ecoturismo, Desenvolvimento


Sustentável, Parelheiros, Marsilac, Ilha do Bororé, Patrimônio Natural.

Objetivos
Este projeto possui dois objetivos. O primeiro é verificar como a região Sul se
tornou um Polo de Ecoturismo, ou seja, acompanhar a discussão e repercussão em

3
torno dessa lei. Esse objetivo significa responder as seguintes perguntas: quando o
turismo e o ecoturismo começaram a ser apontado como opção de desenvolvimento
do extremo sul de São Paulo? Quais foram os sujeitos históricos que se mobilizaram
para tornar a região um polo de ecoturismo? Quem iniciou esses debates? Foi a
sociedade local? O poder publico? Empresários do ecoturismo? Ambientalistas?
Recuperar esses sujeitos históricos significa compreender o contexto social em que
essa proposta surgiu. A segunda questão que este projeto pretende verificar é como
esta transformação afetou e influenciou o desenvolvimento local e a vida dos
moradores. Ou seja, o ecoturismo é uma realidade no extremo sul de São Paulo?
Quem se beneficia com ele? Tem ajudado a preservar o meio ambiente e a promover
o desenvolvimento.
Para o evento, também será abordado como estudo de caso o processo de
tombamento da Cratera do Colônia, localizada no extremo sul de São Paulo no distrito
de Parelheiros. A Cratera é tombada pela esfera estadual, (Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo),
inscrita no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: inscrição nº 11, p.
8, 05/07/2004, o número do processo é 32938/95, com a resolução 60 de 20/08/2003.
Com o propósito de investigar a relação entre ecoturismo, meio ambiente e sociedade,
numa perspectiva do patrimônio natural.

Metodologia
As fontes principais para elaborar esse trabalho, são jornais, as leis de criação
das Áreas de Proteção Ambiental Capivari-Monos e Bororé-Colônia e do Polo de
Ecoturismo, as atas da Câmara Municipal de São Paulo e outros documentos oficiais
que se referem a essas leis e as discussões sobre ela. Sobre os jornais: um deles é
Zona Sul Noticias, que inicia nos anos 1999 e ainda circula nos dias atuais, o jornal
circula mensalmente com distribuição gratuita. A principal característica desse jornal é
informar os leitores sobre o que acontece na região: eventos, saúde, educação
violência, em fim é tudo que pode envolve e afeta a vida dos moradores. Esse acervo
está disponível na sede do jornal que fica na Praça Prof. Julio César de Campos;
nº104, Parelheiros.
No que diz respeito às leis e outros documentos oficiais, a ideia é analisar a lei Nº
15.953, DE 7 DE JANEIRO DE 2014, lei que torna Parelheiros Polo de Ecoturismo, E
ainda verificar as leis e criação as Áreas de Proteção Ambiental Municipal Capivari-
Monos e Bororé-Colônia, criadas pelas Leis Municipais nº 13.136/2001 e 14.162/2006.
Esse acervo está localizado na Câmara na Municipal de São Paulo. A biblioteca da
Câmara também será pesquisada, pois muitas vezes, guarda documentos importantes

4
sobre assuntos debatidos pelos vereadores. E verificaremos se existe alguma
documentação disponível para consulta em alguns dos pontos de ecoturismo, os
pontos serão selecionados ao longo da pesquisa. Por fim iremos pesquisar nos
acervos da Sub prefeitura de Parelheiros; Posto de Atendimento ao turista (PAT).
Parelheiros – SP; e a documentação da SP. Turis. que é responsável por promover o
turismo na cidade de São Paulo.

“Trabalho, alimentação, esporte e lazer: a relação da população da cidade de


São Paulo com o mundo natural” - Eduardo Luiz Fortti. Graduação e Licenciatura
em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e cursando
o Mestrado em História pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Este trabalho tem como objetivo acrescentar no debate que vem crescendo na
historiografia, a história ambiental. Como lembra Stefanie Gallini, o debate em torno
desta linha na América Latina começa em 1980, e vem crescendo com
desenvolvimento de departamentos, revistas acadêmicas e publicações. [No Brasil,
podemos ver o crescimento de encontros e grupos para o debate desta área.] Além de
descobrir a sua riqueza para as pesquisas e sua interdisciplinaridade1. Sobre esse
desenvolvimento temos diversos pontos do nosso cotidiano que envolve esse tema
que podem passar despercebidos por muitos, mas que cabe a nós observa-los, por
exemplo: Construções de hidrelétricas, a Transposição do Rio São Francisco. No
Estado de São Paulo a construção do Rodoanel, e na capital a utilização de sacolas
plásticas. Também podemos ver a decisão do presidente estadunidense, Donald
Trump, de sair do Acordo de Paris, com o argumento de que este ofereceria injustas
vantagens econômicas para outros países em detrimento dos Estados Unidos e seria
uma das causas da destruição dos empregos norte-americanos2.
Com isso o problema aqui para ser discutido é pensar a relação da população
paulistana com o meio natural, suas disputas, inclusive de classe, no final do século
XIX e início do XX e pensar alguns pontos sobre a formação do patrimônio histórico e

*Trabalho produzido com base na bibliografia e nas discussões desenvolvidas durante o primeiro
semestre de 2017, nas aulas de História Social. Ministrada pela Pra. Dra. Edilene Toledo, no curso de
pós-graduação em História da UNIFESP.
1
GALLINI, Stefania. “Historia, ambiente, política:el camino de la historia ambiental en América
Latina”. Nómadas, nº 30, ABRIL 2009. UNIVERSIDAD CENTRAL – COLOMBIA. p. 93-96.
* ** Aluno da pós-graduação em história da Universidade de São Paulo (UNIFESP)
2
Para ler sobre a decisão do presidente dos Estados Unidos sobre a saída do país do Acordo de Paris:
https://www.cartacapital.com.br/internacional/trump-anuncia-a-retirada-dos-eua-do-acordo-de-paris

5
cultural, trabalhado também no livro do Pedro Paulo Funari e as Sandra C. A.
Pelegrini3.

Metodologia empregada:
É muito difícil pensar a relação da população da cidade de São Paulo com o meio
natural de outrora. Um caminho possível para encontrar respostas é explorar os
textos, não específicos da história ambiental, e revisitar fontes já exploradas por outros
campos da história, como coloca Paulo Henrique Martinez: “violência contra a
natureza esteve acompanhada, e de perto, pela violência contra os seres humanos.
No caso brasileiro, as fontes e documentação para uma História Ambiental podem ser,
inicialmente, aquelas já utilizadas e conhecidas pela historiografia, examinadas, agora,
sob novas lentes do historiador”4.
Com isso, um caminho possível é pensar nas formas de alimentação, lazer,
comércio e trabalho, existentes na cidade de São Paulo. Para isso utilizaremos o
mesmo preceito empregado por Norberto Osvaldo Ferreras em seu trabalho sobre o
cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires (1880-1920)5, segundo o qual “a classe é
um processo histórico, não um conceito a ser demonstrado. As classes, como
apresenta Thompson no debate com os estruturalistas, não são categorias abstratas,
podendo ser analisadas pelos papéis que os homens representam, à medida que se
sentem pertencentes à classe. A classe é uma relação entre pessoas, não uma coisa,
e ela se constrói a si própria, tanto quanto é construída pelas condições objetivas e
pelos seus adversários”6.
Além disso, para acrescentar ainda mais nesta discussão, observando algumas
passagens de Emília Viotti da Costa, ao lembrar-se do debate entre estruturalistas e
os que defendem a experiência para entender a formação dos grupos de
trabalhadores, no texto sobre Estrutura Versus Experiência7, citando Erickson, Pappe
e Spalding, que afirmam não ser possível entender as ações dos trabalhadores sem

3
FUNARI, Pedro Paulo e PELEGRINI, Sandra A.C.. Patrimônio histórico e cultural. Rio de Janeiro:
Zahar, 2014.
4
MARTINEZ, Paulo Henrique. História ambiental no Brasil: pesquisa e ensino. São Paulo. Editora
Cortez. 2006. p. 28.
5
FERRERAS, Norberto O. O cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires (1880 -1920). 1º ed. Niterói:
Eduff, 2006.
6
Idem. p. 20.
7
COSTA, Emilia Viotti. Estrutura versus experiência: novas tendências do movimento operário e das
classes trabalhadoras na América Latina: o que se perde e o que se ganha. BIB, Rio de Janeiro,
1990.p.4.

6
incorporar às análises dos conflitos de elites e o papel do capitalismo internacional que
limita o campo de possibilidades abertas aos trabalhadores latino-americanos8.
Continuando, Viotti, coloca questões importantes para pensar essa formação de
classe, ela cita o trabalho de Florencia Mallon (1980) para exemplificar como é
possível fazer uma história da classe trabalhadora pensando nas suas múltiplas
identidades. Como religião, etnia, partido político, classe, de que maneira a identidade
de classe vem a prevalecer sobre outros tipos de identidade?9
Visto isso, este trabalho se divide em três momentos para pensar a utilização da
natureza pela população da cidade de São Paulo:
1º uma breve apresentação da cidade de São Paulo na virada do século XIX para o
XX; com base nos trabalhos de Maria Inez M. Borges Pinto10, Denise Sant‟Anna11,
Luigi Biondi12 e Janes Jorge13 e Maria Odila Leite da Silva Dias14. Eles formam
uma base para pensar as transformações que a cidade passava e porque os
moradores utilizavam o meio natural para sobrevivência.
2º de trabalho e alimentação; pensar nesses pontos utilizarei, além do já citados,
memorialistas para confronta-los como Jorge Americano15 e Jacob Penteado16.
Também pensando no texto de Norberto Ferreras17. Aqui podemos pensar no
confronto das fontes utilizadas e nos cuidados que precisamos tomar com a
romantização da natureza e das memórias afetivas.
3º esporte e lazer. Pensar no trabalho de Henrique Nicolini18 e Leonardo Pereira19.
Dois trabalhos que ajudam a pensar de como os esportes eram vistos no período
estudado e que dão uma grande base para discussão nos pontos de utilização da
natureza e do esporte como lutas de classe.

8
Idem.
9
Idem.p. 7.
10
PINTO, Maria Inez Machado Borges. Cotidiano e Sobrevivência. A vida Do trabalhador pobre na
cidade de São Paulo (1890- 1914). São Paulo: Edusp, 1994.
11
SANT’ANNA, Denise. “Higiene e higieneismo entre o Império e a República”. In: PRIORI, Mary del;
AMANTINO, Marcia (orgs). História do Corpo no Brasil”. São Paulo: Ed. Unesp, 2011
12
BIONDI, Luigi. Na construção de uma biografia anarquista: os últimos anos de Gigi Damiani no
Brasil. In: Daniel Aarão Reis; DEMINICIS, Rafael Borges (orgs). História do anarquismo no Brasil vol
1. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
13
JORGE, Janes. Tietê, o rio que a cidade perdeu: o Tietê em São Paulo 1890- 1940. São Paulo:
Alameda, 2006.
14
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. – 2. ed. rev. São
Paulo: brasiliense. 1995.
15
AMERICANO, Jorge. São Paulo Naquele Tempo 1895 – 1915. São Paulo: Edição Saraiva, 1954.
16
PENTEADO. Jacob. Belenzinho 1910 (Retrato de uma época). São Paulo: Martins Fontes, 1962.
17
FERRERAS, Norberto O. O cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires (1880 -1920). 1º ed. Niterói:
Eduff, 2006.
18
NICOLINI, Henrique. Tietê: o rio do esporte. São Paulo: Phorte Editora, 2001.
19
PEREIRA, Leonardo A. M. Footballmania. Uma história social do futebol no Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

7
Resultados:
As transformações urbanísticas e demográficas atingem diretamente o meio
ambiente da cidade, que é uma opção de sobrevivência de muitos trabalhadores e
trabalhadoras de São Paulo. Além de oferecer uma opção de subsistência, essas
áreas também são aproveitadas para o lazer e a pratica de esportes.
Esse levantamento demonstra que a classe trabalhadora em São Paulo também
foi crescendo pelo número cada vez maior de pessoas que praticavam atividades
dentro de uma economia invisível e também é formando pela negação dos abastados.
Afinal, até mesmo a formação de ideia da classe trabalhadora, como citado no início: a
classe é uma relação entre pessoas, não uma coisa, e ela se constrói a si própria,
tanto quanto é construída pelas condições objetivas e pelos seus adversários.

Aportes:
A contribuição deste trabalho é de desenvolver o debate sobre a história
ambiental, pensando no diálogo com história social, do trabalho, cotidiano e do
patrimônio. A apresentação terá como objetivo problematizar a ideia de Patrimônio
Histórico e Cultural com as noções de mundo natural e cotidiano.
Pensar as relações da população com o meio natural e até suas lutas de classe
no contexto da natureza paulistana. E se encaixam no pensamento sobre ideias de
patrimônio.

Referências:
AMERICANO, Jorge. São Paulo Naquele Tempo 1895 – 1915. São Paulo: Edição
Saraiva, 1954.
BIONDI, Luigi. Na construção de uma biografia anarquista: os últimos anos de Gigi
Damiani no Brasil. In: Daniel Aarão Reis; DEMINICIS, Rafael Borges (orgs). História
do anarquismo no Brasil vol 1. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
COSTA, Emilia Viotti. Estrutura versus experiência: novas tendências do movimento
operário e das classes trabalhadoras na América Latina: o que se perde e o que se
ganha. BIB, Rio de Janeiro, 1990.
______. Novos públicos, novas políticas, novas histórias: do reducionismo econômico
ao reducionismo cultural: em busca da dialética. Anos 90, vol. 6, n.10, 1998.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. – 2.
ed. rev. São Paulo: brasiliense. 1995.
FERRERAS, Norberto O.. O cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires (1880 -
1920). 1º ed. Niterói: Eduff, 2006.

8
FUNARI, Pedro Paulo e PELEGRINI, Sandra A.C.. Patrimônio histórico e cultural. Rio
de Janeiro: Zahar, 2014.
GALLINI, Stefania. “Historia, ambiente, política: el camino de la historia ambiental en
América Latina”. Nómadas, nº 30, ABRIL 2009. UNIVERSIDAD CENTRAL –
COLOMBIA.
JORGE, Janes. Tietê, o rio que a cidade perdeu: o Tietê em São Paulo 1890- 1940.
São Paulo: Alameda, 2006.
MARTINEZ, Paulo Henrique. História ambiental no Brasil: pesquisa e ensino. São
Paulo. Editora Cortez. 2006.
NICOLINI, Henrique. Tietê: o rio do esporte. São Paulo: Phorte Editora, 2001.
PEREIRA, Leonardo A. M. Footballmania. Uma história social do futebol no Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
PENTEADO. Jacob. Belenzinho 1910 (Retrato de uma época). São Paulo: Martins
Fontes, 1962.
PINTO, Maria Inez Machado Borges. Cotidiano e Sobrevivência. A vida Do trabalhador
pobre na cidade de São Paulo (1890- 1914). São Paulo: Edusp, 1994.
PRIORI, Mary del; AMANTINO, Marcia (orgs). História do Corpo no Brasil”. São Paulo:
Ed. Unesp, 2011.
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura no
frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às
plantas e aos animais, 1500-1800. São Paulo: Cia das Letras, 1988.
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum: Estudos sobre a cultura popular
tradicional. São Paulo: Cia das Letras, 1998.

“A relação entre ambiente e sociedade e suas influências na gestão do


Patrimônio Natural” - Marcelo Takashi Misato. Grupo de Estudo e Acompanhamento
de Governança Ambiental- GovAmb/USP. Doutorando em Ciência Ambiental -
PROCAM/USP. Bacharel em Gestão Ambiental EACH/USP.

Resumo
A relação entre ambiente e sociedade permearam os problemas ambientais e
neste trabalho se explicita no contexto das normativas para a gestão do Patrimônio
Natural, desde sua concepção de natureza intocada até hoje, quando já se deseja um
olhar integrado com o homem. Com base nesse entendimento, se busca compreender
os princípios da relação homem e natureza e como a partir dessa relação foram

9
modificadas as bases para a proteção da natureza, através das Unidades de
Conservação tanto no contexto internacional, quanto nacional.
O processo histórico em âmbito internacional de criação tanto das Unidades de
Conservação, como do Patrimônio são apresentados de forma independentes, porém,
ao final, é possível verificar a similaridades nos processos que permitem evidenciar as
convergências e divergências da temática abordada pela pesquisa e que dão suporte
ao desafio da gestão integrada e participativa do Patrimônio em Unidades de
Conservação.

Objetivos
Apresentar, sob a perspectiva histórica, a mudança de entendimento na relação
ambiente e sociedade e como essa alteração influenciou na elaboração da normativa
para a gestão do Patrimônio Natural na Área de Proteção Ambiental (APA) Tietê –SP.

Metodologia Empregada
O entendimento histórico sobre a mudança do conceito se baseou no
levantamento bibliográfico sobre o conceito de Patrimônio Natural e Unidades de
Conservação. A aplicação do estudo de caso foi realizada em uma Unidade de
Conservação (UC) de Uso Sustentável no Estado de São Paulo, cujos atributos de
criação se baseiam no Patrimônio Natural e Cultural. Para a compressão do processo
de elaboração das normativas de gestão foram realizadas: 1) pesquisa participante
nas reuniões do Conselho Gestor da UC; 2) análise dos processos de gestão da UC e
dos processos do Condephaat sob a perspectiva de interpretação de análise de
políticas públicas.

Resultados
A análise de políticas públicas da criação e gestão da APA Tietê demonstra que
os problemas encontrados no estudo de caso não são só pertinentes à gestão da UC
pelo órgão estadual responsável, a Fundação Florestal, mas envolvem a integração
com outras instituições estaduais e municipais, sendo o Condephaat um dos órgãos
que deveria se integrar à gestão da UC. Além da integração administrativa
ressaltamos que um dos pontos fundamentais para a gestão das APAs está em um
dos pontos chave na discussão ambiental: a integração ambiente e sociedade, pois
nessa categoria de UC existem atributos culturais materiais e imateriais que
necessitam de uma gestão conjunta, a fim de compatibilizar a ocupação humana e a
conservação dos atributos naturais. A não compreensão dessa união prejudica a
gestão.

10
Apesar dos avanços teóricos na discussão sobre a integração sociedade e
natureza e a internalização teórica desse discurso pelas instituições de proteção, seja
do patrimônio ou das unidades de conservação, não houve, ainda, resultados práticos
à gestão integrada. Essa falta de integração entre ambiente e sociedade afeta não só
as instâncias administrativas, mas também a percepção da população sobre a gestão
integrada entre os atributos naturais e culturais, tendo em vista que os membros do
CG não reconhecem a importância de conservação dos atributos naturais e culturais,
uma vez que ambos estão atrelados à visão de monumentalidade e não lhes parece
que sejam capacitados a discutir coisas dessa ordem.
Conjugado a isso houveram problemas para se consolidar a gestão integrada
dos bens ambientais e culturais da APA Tietê, o que prejudicou ainda mais a
conservação desse espaço protegido. Verificou-se sobreposições entre as instituições
de meio ambiente e da cultura, porém por meio do Conselho Gestor essas
divergências podem ser resolvidas no próprio âmbito desse fórum participativo, que
tem a possibilidade de, em conjunto com o Condephaat, reforçar as diretrizes de
conservação dos bens. O que pode resultar em instrumentos jurídicos
complementares e não opostos. Porém, ainda há grande desconhecimento da
população residente sobre o Patrimônio Natural e Cultural existente no território,
assim, é fundamental um estímulo à participação e capacitação dos membros do
conselho para que assim, esses possam se sentir empoderados a cobrar mudanças e
implementar os planos e programas, bem como pressionar os órgãos de meio
ambiente e cultura a agirem de forma conjunta para gerir uma UC que possui atributos
de ambas as competências.

Referencia Bibliográficas
GONZÁLES-VARAS, I. Conservación de Bienes Culturales: Teoría, historia, principios
y normas. Madrid: Ediciones Cátedra, 1999.
JACOBI, Pedro Roberto (Org.) . Aprendizagem Social e Áreas de Proteção Ambiental.
1. ed. São Paulo: Annablume, 2015. v. 1. 153 p.
MISATO, M. T. Análise da gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) Tietê – SP:
sobreposições e limitações nos tratos com o patrimônio natural e cultural, 2015.
Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Instituto de Energia e Ambiente,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
SCIFONI, S. A construção do patrimônio natural. São Paulo: Edições Labur, 2007.
UNESCO. Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural e Natural. UNESCO,
1972.

11
ZANIRATO, S. H.; RIBEIRO, W. C. Patrimônio cultural: a percepção da natureza como
um bem não renovável. Rev. Bras. Hist. [online]. 2006.

“Patrimônio violado, memórias silenciadas: cultura e natureza na relação


comunidade-área protegida no Vale do Ribeira-SP” - Tiago Juliano Doutorando em
Ambiente e Sociedade Nepam/Unicamp; Mestre em Sustentabilidade e Bacharel em
Turismo (UFSCar) e Aline Vieira de Carvalho. Pesquisadora e Coordenadora do
Nepam/Unicamp. Doutora e Mestre em História (IFCH/Unicamp).

Preconizando que os diferentes processos de patrimonialização acionados na


constituição de áreas naturais protegidas revelam convergências e divergências entre
politicas de conservação da natureza e da cultura, questionamos de que maneira as
práticas sociais legitimadas por discursos oficiais do patrimônio têm sustentado,
restringido ou redefinido a dinâmica de interação entre comunidades locais e Unidades
de Conservação no decorrer do tempo. Nosso objetivo nesse texto é identificar as
práticas patrimoniais institucionalizadas em um espaço protegido no estado de São
Paulo e debater acerca dos sentidos dessas práticas para comunidades em seu
entorno.
Partindo da problemática do extrativismo clandestino da espécie Euterpe
edullis (conhecida como palmito juçara) em remanescentes da mata atlântica
brasileira, abordamos as dinâmicas sociais construídas na comunidade do Rio Preto,
no entorno do Parque Estadual Carlos Botelho, no Vale do Ribeira-SP. Consideramos
um estudo de caso com abordagem crítico discursiva, posicionando o discurso como
um momento da prática social que participa da produção de identidades, posições dos
sujeitos, relações sociais e sistemas de conhecimento. A ênfase da vertente crítica
recai em processos de resistência aos chamados discursos autorizados, tendo como
conceitos-chave de investigação aspectos da polifonia (vozes representadas), da
interdiscursividade (representações sociais) e das metáforas (problemas
emblemáticos).
O levantamento de dados contempla registros a partir de observação em
campo; entrevistas semiestruturadas com múltiplos atores; e a análise documentos
com base em fontes oficiais e fontes organizadas pela própria comunidade, visando
compreender a multivocalidade na constituição e compreensão dos discursos em torno
do patrimônio. A criação legal do Parque Estadual Carlos Botelho (PECB), no início
dos anos 1980, articulou diferentes agentes sociais em um longo e conflituoso
processo, agregando áreas que nas décadas de 1940 e 1950 eram destinadas à
exploração de recursos florestais (madeira serrada e carvão). Nesse processo, a

12
questão patrimonial se fez presente de diferentes maneiras no decorrer do tempo: com
o tombamento do Serra do Mar e de Paranapiacaba (1985), com a atribuição do status
de Patrimônio Nacional ao bioma da mata atlântica na Carta Magna brasileira (1988) e
com a inclusão do Parque como Reserva da Biosfera (1991) e sítio do Patrimônio
Mundial (1999) pela UNESCO. Uma vez reconhecido como área protegida, o parque
passou a articular formas de manejo do patrimônio cultural presente no espaço
protegido e seu entorno, colocando em ação diferentes instituições públicas
responsáveis pelo patrimônio nacional e pelas Unidades de Conservação. A interação
entre essas categorias patrimoniais legou um desafio basilar aos diferentes agentes
envolvidos nesse processo: integrar o patrimônio local em um contexto mais
abrangente, ampliando seus sentidos culturais. Essa ampliação semântica inscreve a
área protegida como um campo de disputa entre memórias oficiais e subterrâneas.
Embora oficialmente preservada como patrimônio natural, a mata atlântica
continua sofrendo pressões antrópicas, inclusive no domínio de suas áreas protegidas,
sendo a extração clandestina do palmito juçara um dos problemas ambientais com
maior visibilidade histórica. Constituindo um dos produtos mais valorados da mata
atlântica, a juçara teve sua exploração intensificada em escala industrial já nos anos
1930, levando a espécie ao risco de extinção em grande medida devido a mudanças
nas práticas dos extrativistas, influenciadas não apenas pelo agravamento das
condições socioeconômicas da região, mas também pelo papel das representações
sociais que se tornaram hegemônicas nos discursos oficiais, sobretudo, a partir dos
anos 1980. A política de patrimônio cultural do parque tem revelado múltiplas funções
no tempo: por um lado, buscaram criar suporte e apoio local para as ações do órgão
gestor; por outro, direcionaram-se às comunidades locais, objetivando controlar
conflitos decorrentes do uso não permitido dos recursos naturais.
O patrimônio cultural do PECB é conformado por cinquenta e cinco bens
culturais – materiais e imateriais – que referenciam evidências de sete cenários
históricos, no parque e em seu entorno, reconstruindo uma leitura das fases de
ocupação humana na região: i) ocupação pré-colonial (10 mil AP – 1.7000 d.C.); ii)
ocupação do „sertão‟ (1492-1640); iii) povoamento e descoberta de outro no planalto
(1622-1820); iv) renascimento agrícola (1765-1875); v) período de imigração e
expansão ferroviária (1860-1930); vi) presença marcante do Estado (1930-1980); e vii)
desafios socioambientais contemporâneos (a partir da década de 1980). Além do
reconhecimento oficial dessas evidências, o manejo do patrimônio cultural consiste no
zoneamento territorial e na hierarquização dos próprios bens. Por meio do
zoneamento, cada zona de uma área protegida apresenta normas e propostas
particularizadas, que consideram o grau de proteção e intervenção humana. Por sua

13
vez, os critérios de hierarquia estabelecem prioridades para a conservação e a
visitação dos bens. Como síntese da política patrimonial do parque, foram definidas
três áreas prioritárias para articular a interação dos bens culturais com o contexto
regional: i) o traçado da estrada parque; ii) a área de antigos fornos de carvão; e iii)
remanescentes de antigas tropas de muares.
A integração dessas áreas com o contexto regional é um esforço para ampliar
a significação do patrimônio cultural do parque, contribuindo para sua valorização e
conservação. Em adição, essas ações contribuem para reforçar e ampliar o papel do
parque como entidade promotora de desenvolvimento regional. Dentre essas ações, a
estruturação de roteiros turísticos em torno da estrada parque como elemento de
integração da área protegida com a região demonstra ser a prática patrimonial que
conquistou maior visibilidade naquele contexto, explicada parcialmente pela maior
proximidade institucional do parque com agentes sociais de uma das regiões
abrangidas pela área protegida (Alto do Paranapanema). Preliminarmente,
constatamos a dificuldade de a comunidade internalizar a lógica de ações externas,
fundadas em perspectivas oficiais e profissionais do discurso autorizado, que dão
ênfase a narrativas que opõe uma „riqueza natural‟ a uma „pobreza social‟. Essas
narrativas reforçam representações sociais que tendem a ampliar distâncias entre os
diferentes agentes sociais e demonstram serem claros os desencontros entre as
leituras oficiais e locais acerca dos sentidos do patrimônio. Interpretamos que o
patrimônio cultural exerce um papel na consolidação do parque como indutor de
desenvolvimento regional, sendo difundido como meio de afirmar que a história do
parque é também a história das comunidades do entorno, perspectiva nem sempre
internalizada pelos diferentes grupos sociais.
A ausência de mecanismos específicos direcionados aos bens culturais no
interior ou entorno de Unidades de Conservação tem sido respondida, em certa
medida, por instrumentos de manejo que visam fomentar a conservação e uso dos
bens. Essas características revelam uma dimensão fundamental da questão
patrimonial: o papel que a dinâmica social exerce na produção e reprodução de
patrimônios. Ainda assim, o reconhecimento de agenciamentos comunitários em torno
do patrimônio parece ser a dimensão mais difícil de ser traduzida em ações pelos
órgãos oficiais. Propomos que incorporar a multivocalidade dentro de uma perspectiva
crítica do patrimônio não se restringe aos aspectos de manejo ou gestão dos bens
culturais oficialmente reconhecidos. Da mesma forma, incluir memórias subterrâneas
de uma „natureza violada‟ não consiste apenas em retomar lembranças de repressão e
injustiça empreendidas pela política oficial de conservação, mas também relacionar o
contexto em que essa violação do patrimônio ocorre e as políticas de silenciamento

14
que intencionalmente ofuscam a multiplicidade de interpretações possíveis sobre a
relação comunidade-área protegida.

“História e Patrimônio Natural” – José Jonas Almeida. Doutor em História (USP).

A apresentação propõe discutir a abordagem realizada pela História a respeito


das questões ambientais e os vários aspectos envolvendo os parâmetros cronológicos
da disciplina com as discussões teórico-metodológicas referentes ao meio ambiente
em sua relação histórica. O estabelecimento de parâmetros metodológicos é visto
como fundamental para a fixação da História Ambiental como um campo para o
tratamento historiográfico, algo que vem se consolidando nas últimas décadas. Na
apresentação, procuraremos demonstrar que tais parâmetros estão amparados nas
obras dos grandes historiadores, como Marc Bloch, Fernand Braudel, Jacques Le
Goff, Sérgio Buarque de Holanda, Warren Dean, entre outros.
Por outro lado, a flexibilização cronológica, tanto no que se refere ao passado
quanto ao presente, é parte do mecanismo de maior abrangência da História
Ambiental. Da mesma forma, a relação direta estabelecida com os aspectos
relacionados à existência social. Marc Bloch, em sua obra “Introdução à História”
(1941), observa que uma ciência teria algo de incompleto, se não fosse capaz de
ajudar para uma vida melhor ou que deveríamos nos indignar contra ela, se a mesma
não nos possibilitasse os meios para tanto. Isso apesar de também afirmar ser
impossível estabelecer de antemão, se um determinado estudo, mesmo sendo
considerado desinteressado, de vir a ter ou não uma utilidade prática.
A partir da corrente dos Annales estabelecida pelo próprio Marc Bloch e também
por outro importante historiador, Lucien Febvre, a História ampliou os seus temas,
dentro da divisão estabelecida entre história econômica e história social. O último
campo, na verdade, era bem abrangente, permitindo uma diversificação no objeto da
disciplina e, simultaneamente, a necessidade de estabelecer diálogos com as demais
ciências sociais. Por sua vez, Fernand Braudel, legítimo herdeiro dos Annales,
defendia que a história não deveria ser escrava do evento pontual, restrita apenas a
uma pequena escala cronológica contingencial, mas sim, ser a história da longa
duração, pois nela podemos encontrar os resultados mais profundos, duradouros e as
permanências.
A partir da década de 1960, uma nova vertente da historiografia foi aberta pela
história das mentalidades e também pelo enfoque cultural, que agregou objetos ou
pontos referentes às percepções dos homens, em relação ao seu entorno e à sua
realidade. A terceira geração dos Annales ficou conhecida, dessa forma, como a Nova

15
História. A questão relativa aos aspectos temporais, nos quais a história estava
inserida, perdeu o seu rigor positivista, na medida em que temas como o cotidiano e
as mentalidades foram sendo agregados, bem como ampliou os pontos de partida do
historiador. Da mesma forma, o diálogo com as outras disciplinas, como a sociologia, a
antropologia e a etnologia, tirou em definitivo o documento escrito do alto de seu
pedestal, de fonte de pesquisa quase exclusiva nos estudos históricos.
Dentro dessa perspectiva abrangente do trabalho historiográfico, surgiu o desafio
de tratar de mais uma variante temática, que os outros ramos do conhecimento já
estavam absorvendo, a questão relativa aos efeitos da modernização econômica na
natureza e no meio ambiente. Anteriormente, muitos trabalhos historiográficos fizeram
referência ao meio natural e geográfico, como no caso do próprio Fernand Braudel, em
seu monumental estudo sobre o Mediterrâneo nos tempos do rei Felipe II. A questão
agora, diz respeito à forma como a História poderia incluir, de forma efetiva, a natureza
como tema principal e de como responderia, inclusive, aos chamados das demais
disciplinas, como a Geografia e a Sociologia, para colaborar nos trabalhos referentes a
essa questão.
Os aspectos relativos ao patrimônio natural dizem respeito diretamente a esses
novos enfoques metodológicos. Contudo, há que se questionar até que ponto um
patrimônio é eminentemente natural ou fruto de uma complexa inter-relação com as
ações antrópicas. Neste caso, cabe discutir como classificar tal patrimônio ou como tal
conceito poderia ser melhor trabalhado dentro dessas perspectivas metodológicas.
Utilizaremos como exemplo a Serra do Mar e uma referência histórica fundamental
para nos referirmos à mesma: a via Anchieta. A rodovia completa setenta anos de sua
inauguração e assinala uma questão, a nosso ver, complexa, qual seja, a existência
de um patrimônio arquitetônico inserido dentro de um patrimônio natural.
A exposição visa levantar tais questões como uma proposta de abordagem e de
diálogo da História Ambiental com outras disciplinas, bem como ampliar as
possibilidades de análise. Busca reunir elementos e premissas a fim de adequar no
plano teórico e prático as possibilidades desse ramo disciplinar no conjunto das
possibilidades abertas para a historiografia nas últimas décadas.

16
Simpósio II: Patrimônio Cultural Imaterial e Territorialidades

“Povos e comunidades tradicionais frente a expansão da fronteira agrícola no


Vale do Jequitinhonha” - Lyvia Amado de Oliveira. Graduanda de Gestão Ambiental
– EACH/USP.

Este trabalho faz parte do desenvolvimento de uma Iniciação Científica acerca do


papel da Gestão Ambiental para a prevalência dos povos e comunidades tradicionais
no Vale do Jequitinhonha. O Vale do Jequitinhonha localiza-se ao nordeste do estado
de Minas Gerais, a região recebe este nome por estar situada na bacia hidrográfica do
rio Jequitinhonha, que nasce nas serras do Espinhaço e, dentre seus principais
afluentes estão o rio São Francisco e Araçuaí. (IBGE, 1997). Está sob uma área de
transição entre os biomas de Cerrado, Floresta Tropical Atlântica e Caatinga e, seu
relevo se caracteriza por três grandes feições com regiões de serras, chapadas e
peneplanação - chamda de Peraguaçu (Codevale, s\d, v.1). Ademais, suas
características climáticas variam do clima semi-árido a úmido (IBGE, 1997).

A região abarca uma rica sociodiversidade composta de povos indígenas,


comunidades quilombolas, assim como comunidades veredeiras, gerazeiras,
catingueiras que têm sua construção sociocultural muito ligada a ecologia do ambiente
em que se inserem. Todavia a expansão da fronteira agrícola na região, com grandes
extensões de monocultura de eucalipto, provoca um processo de fricção com estes
povos e comunidades tradicionais. Este trabalho tem como objetivo apresentar a
formação sociocultural do Vale, no que circunda a constituição dos povos e
comunidades tradicionais que hoje compõem o mosaico de sociodiversidade da região
e, tem como propósito expor as fricções que a expansão agrícola vem causando na
cultura e paisagem local.
O caminho metodológico do estudo se expressa por revisão bibliográfica de
literaturas acadêmicas como livros, artigos, dissertações e teses. Além de se compor
por análise documental dos planejamentos territoriais do Jequitinhonha realizados pela
Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha (Codevale) e pelo Instituto
Estadual de Florestas (Minas Gerais).
O processo de ocupação colonial no Vale começa no século XVIII no período do
ciclo da mineração, decorrente das bandeiras paulistas que já começara a ocupar
Minas Gerais no século anterior (SOUZA, 2003). Durante o período, a descoberta do
diamante atraiu grandes agrupamentos populacionais, sendo que o povoamento

17
ocorreu no sentido Sul-Norte (FURTADO, 200?). Entretanto, pode-se considerar que
os conflitos étnicos e culturais já começavam, pois haviam populações indígenas,
segundo a autora Soares (2000), o Jequitinhonha se compunha ao mínimo de 5 etnias
diferentes, com suas dinâmicas próprias, aldeias e suas roças, todavia tanto as
primeiras ocupações no alto Jequitinhonha como a atividade mineradora e outros
processos de povoamento no Vale levaram ao massacre indígena. Hoje há três etnias
na região os pataxós, pankararus e arañas.
No período do ciclo da mineração decorrente da colonização bandeirante, assim
como a ocupação nas terras agricultáveis do Jequitinhonha pelos criadores de gado
do sertão baiano, fixaram grande população negra escrava, tanto na atividade
extrativista quanto na produção agrícola (SILVEIRA, 2008). Um passado que inscreve
na história, não somente do Jequitinhonha, um cenário de desigualdades sociais
reprovável.
Atualmente o Vale do Jequitinhonha abarca comunidades de remanescentes
quilombolas difundidas pelo próprio processo socio-histórico da região. De acordo com
os autores Diniz, Miné e Tubaldine (2014), o estado de Minas Gerais possui mais de
400 comunidades quilombolas, sendo que aproximadamente 120 delas estão situadas
no Jequitinhonha.
A formação das comunidades veredeiras, gerazeiras e caatingueiras podem ser
compreendidas a partir de um processo de transfiguração étnica ocorrido na história
sociocultural do Brasil, o qual é contextualizado por Darcy Ribeiro em seu livro O Povo
Brasileiro (1995). Esse processo configura a unificação das diferentes culturas
existentes no território após a ocupação colonial, ou seja, a junção de indígenas,
africanos e europeus e posteriormente imigrações de outros continentes. A sociedade
formada a partir deste processo de transfiguração não é entendida como uniforme ou
homogenia, pois os diferentes locais de povoamento no território apresentam
características distintas quanto aos aspectos ecológico, econômico e imigratório –
cada parte do território recebeu imigrantes de lugares e culturas diferentes (Darcy,
1995).
As comunidades gerazeiras vivem nos geraes – área de chapadas – do cerrado
(D'Angelis Filho, 2005), os veredeiros localizam-se nas veredas, caracterizadas por um
tipo de formação vegetal do cerrado (Costa; Rodrigues, 2013) e as comunidades
caatingueiras estão na porção de caatinga do Jequitinhonha. Essas comunidades,
assim como as quilombolas e os aldeamentos indígenas estão nas zonas rurais do
Vale.
Com criação da agência de planejamento territorial Codevale, na década de 1960,
polos econômicos de potencial agrícola e pecuarista passam a ser delimitados e

18
incentivos fiscais concedidos para o “avanço do desenvolvimento rural local” o que
pode ser analisado no documento de Pré-diagnóstico do Vale do Jequitinhonha
(Codevale, s/d, v.1). Diante disso, há o avanço da pecuária e do reflorestamento como
é abordado por Leite (2010).
Em 1975 o Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Minas Gerais estabelece os
municípios com alto potencial de reflorestamento, denominando-os de Distritos
Florestais, concedendo incentivos fiscais para empreendimentos agrícolas (IEF, 1995).
Muitas das cidades que se estabeleceu os incentivos estão localizadas as
comunidades tradicionais e os povos indígenas.
Os autores Chaves e Ribeiro (2014) em seu estudo apresentam que atos
ilícitos foram acunhados por esse desenvolvimentismo rural, comunidades tradicionais
foram afetadas e extensas áreas de monocultura de eucalipto foram constituídas. Leite
(2010) afirma que muitos processos de expropriação ocorreram com comunidades
rurais.

Referências:

CHAVES, L. A.; RIBEIRO, L. G. G. Os atos ilícitos praticados no âmbito do


reflorestamento no norte de minas gerais e alto jequitinhonha: estudo de caso e
repercussão penal. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v.11, n.21, p.317-339, 2014
CODEVALE (Comissão de desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha). Pré-
diagnóstico do Vale do Jequitinhonha. Edição Oficial do Governo de Minas Gerais,
Belo Horizonte, s\d. v.1
COSTA, J. B. A.; RODRIGUES, R. L. A casa como um microcosmo: processos sociais
em comunidades tradicionais do vale do jequitinhonha. Temáticas. v.2 n.42, p.45- 77,
2013.
D‟ANGELIS FILHO, João Silveira. Políticas locais para o desenvolvimento local no
norte de Minas: uma análise das articulações local e supra local. 2005, p.142.
Dissertação – Universidad Católica de Temuco. Temuco, Chile. 2005.
DINIZ, R. F.; MINÉ, G. O.; TUBALDINI, M. A. S. (Re)significação e (re)invenção
cultural quilombola: as espacialidades afro-brasileiras do Conjunto da Marujada e do
Grupo Curiango no Vale do Jequitinhonha/MG. Geotextos, Bahia. v. 10, n.1, p.149-
177, 2014
FURTADO, J. F. A história do Vale do Jequitinhonha. Cadernos do Leste. Edição
Especial 2000 a 2008.

19
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Diagnóstico ambiental do rio
Jequitinhonha: diretrizes gerais para a ordenação territorial. Salvador, BA. 1997
INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS. Projeto de Distritos Florestais para Minas
Gerais. Estudos Básicos, vol. I. Edição do Governo do Estado de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 1975.

LEITE, A. C. G. A modernização do Vale do Jequitinhonha mineiro e o processo de


formação do trabalhador “bóia-fria” em suas condições regionais de mobilização do
trabalho. 2010. 337 p. Dissertação (Geografia Humana). Departamento de Geografia
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2010.

RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido de Brasil. 2ª ed. São Paulo:


Companhia das Letras, 1995

SILVEIRA, M. S. A Ameaça do Outro: magia e religiosidade no Vale do Jequitinhonha


(MG). Cadernos de Campo, São Paulo. v.17, n17, p. 307-311, 2008.
SOARES, G. C. Vale do Jequitinhonha: um vale de muitas culturas. Cadernos de
História, Belo Horizonte , v.5, n.6, p. 17-22. 2010
SOUZA, J. V. A. Fontes para uma reflexão sobre a história do Vale do Jequitinhonha.
UNIMONTES CIENTÍFICA, Montes Claros, v.5, n.2, 2003.

“Patrimônio cultural do município de Joinville: as transformações do bairro


América e a situação do patrimônio nesse contexto” - Carolina Luana Gilgen
Gonçalves. Graduanda de Gestão Ambiental – EACH/USP.

Orientadora: Prof. Dra. Silvia Helena Zanirato

O patrimônio histórico, na sociedade globalizada e neoliberal de hoje, se depara


diante de emboscadas, entre as quais David Harvey (2005) aponta o risco de
desaparecimento do patrimônio, promovido pela homogeneização do espaço em
resultado à produção capitalista do espaço, ou ainda a sua transformação em
mercadoria quando inserido em um cenário-espetáculo, como indica Fernanda
Sánchez (1997). Nesse contexto de ameaças se insere o município de Joinville, em
Santa Catarina.
A cidade de Joinville reivindica atenção às memórias herdadas das diversas
etnias que ocuparam a mesma, desde os indígenas, comunidades afro-descendentes

20
e luso-brasileiras, que lá já viviam, aos imigrantes germânicos, como os alemães,
suíços, noruegueses, italianos e eslavos. Porém, há que se destacar a presença dos
alemães nas terras joinvilenses, visto que estabeleceram-se em maioria, tornando seu
idioma principal na cidade até fins de 1940, quando a politica de nacionalização de
Getulio Vargas é instalada. Em razão disso, tornaram-se marcantes os elementos
provenientes da cultura alemã, que ao adaptarem-se as especificidades do ambiente
brasileiro, originaram aspectos únicos em Joinville.
A técnica de construção em enxaimel é um exemplo, pois os imigrantes a
utilizaram com adaptações aos usos e recursos disponíveis em Santa Catarina, como
o uso de tijolos ao invés da taipa, devido a diferença encontrada no clima da região em
relação ao europeu. Nesse mesmo sentido, a construção de varandas passou a
ocorrer devido ao clima tropical, visto que a mesma não costumava existir nas casas
da Alemanha (Veiga, 2013).
Mas muito além de aspectos estéticos “germânicos”, a importância em se
preservar tais edificações reside no fato de que, como Zanirato (2011) considera, são
elementos que carregam sentimentos de pertencimento coletivo, pois expressam
memórias sociais. Inclusive deve-se tomar muito cuidado com a ideia de “cidade
germânica” visto que a indústria de turismo tem investido nessa perspectiva desde a
década de 1970, desvalorizando muitas edificações antigas e ricas historicamente ao
substituírem-nas por novas arquiteturas que imitavam a técnica em enxaimel, o que é
denominado de acordo com Veiga (2013) de “neoenxaimel”, ou ainda como ironizou o
escritor Harry Laus: o “enxame sem mel”.
Além disso, na cidade de Joinville sempre houve barreiras impostas pelos
interesses econômicos em relação aos interesses de preservação, havendo maior
facilidade para as ações de defesa apenas em casos “simbólicos”, que não estavam
diretamente relacionados à propriedade privada, como o tombamento de museus
públicos e cemitérios. Dessa forma, considerando que o patrimônio é sujeito às
transformações do meio urbano em função dos discursos de modernização e
progresso e, assim sendo, aos interesses da especulação imobiliária, torna-se
essencial políticas de promoção à conscientização e reconhecimento sobre a
importância do valor cultural desses bens, visto que as pessoas normalmente acabam
os depreciando por associarem à conceitos depreciativos como “velho” e “brega”
(Machado, 2016).
Além do valor cultural concernente ao patrimônio edificado, a necessidade em se
preserva-lo está relacionada ao contexto atual de crise ambiental, no que se refere ao
consumo excessivo de recursos naturais pelo setor de construção civil, considerando
que os processos relacionados à construção de novas edificações consomem 50%

21
dos recursos mundiais extraídos da natureza, sendo que no Brasil esse valor sobe
para 75% (OBA, 2014).
Ademais, a história do processo de ocupação de Joinville demonstra a construção
de uma centralidade no município, a qual é composta não somente pelo bairro Centro,
como por bairros vizinhos, os quais foram estabelecidos por atores que ao longo da
historia representavam elites econômicas locais, responsáveis pela visível segregação
socioespacial de Joinville, e que influenciou para que essa centralidade apresentasse
atualmente os maiores PIBs percapita do município (Voos, 2012). Entre os bairros está
o bairro América, foco de estudo do presente trabalho, o qual foi ocupado
predominantemente por germânicos, havendo ainda hoje descendentes dos mesmos
no local, que fazem parte da representação do centro e da expressão das categorias
sociais hegemônicas no espaço, em contraste aos bairros que eram conhecidos como
os dos “caboclos”, das classes de menor poder aquisitivo (Santana, 2015).
Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho, que ainda está em andamento,
consiste em analisar em que medida as transformações ocorridas no bairro América,
sob influência dos grupos dominantes no processo de produção do espaço, tem
impactado o patrimônio cultural edificado local. As informações acerca de assuntos
pertinentes à pesquisa foram obtidas por meio do levantamento de dados
bibliográficos, como pela consulta de teses, manuais, dados de órgãos oficiais, artigos
científicos e outros todos provindos de fontes confiáveis.

“As quebradeiras de coco babaçu e o avanço da fronteira agrícola no Oeste do


Maranhão: saber, territorialidade e meio ambiente” - Francisca Silva Viana.
Graduanda de Gestão Ambiental – EACH/USP.

O trabalho que apresento a esse Seminário é resultante de uma pesquisa que


teve como objetivo analisar os efeitos do processo de expansão da fronteira agrícola
sobre os babaçuais do Oeste do Maranhão e suas implicações na atividade tradicional
das quebradeiras de coco babaçu. O recorte temporal cobre o período da década de
1970 aos dias atuais, uma vez que os anos 1970 marcam o início e auge desse
avanço para a área, cujos efeitos ainda se fazem sentir no presente. A área de estudo
coincide, propositalmente, com o Bioma Amazônia e com a Amazônia Legal, foram
utilizados como “unidades-caso” dois municípios localizados na Mesorregião do Oeste
Maranhense: Imperatriz e Zé Doca.

É uma pesquisa exploratória, que segue as orientações da observação


participante, com procedimentos formais, para a aplicação de entrevistas
semiestruturadas, com vistas a avaliar e comparar a percepção das quebradeiras de
22
coco babaçu de ambos os lugares quanto aos efeitos do avanço da fronteira agrícola
sobre a área onde exercem suas atividades e como esse processo pode estar
influenciando na perda do etnoconhecimento. Foram utilizados dois grupos focais
(ambos com oito quebradeiras), um de quebradeiras de coco babaçu que vivem e
trabalham no município de Imperatriz, segunda região mais urbanizada, populosa e
industrializada do Estado, e reconhecida por ter intensa atividade extrativista e sediar
o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB). E um
segundo grupo da região do pequeno município de Zé Doca, escolhido por possuir
vários assentamentos rurais, cuja população pratica majoritariamente a agricultura
familiar, e onde se encontra muitas mulheres envolvidas na quebra e coleta do
babaçu, não organizadas em torno do Movimento das Quebradeiras. Nesse contexto,
foi testada a hipótese de que o avanço da fronteira agrícola no Oeste do Maranhão,
nas últimas quatro décadas, vem impactando a atividade das quebradeiras de coco
em função de mudanças na estrutura fundiária e no direito de acesso e extração dos
recursos dos cocais.

A pesquisa, ainda em curso, tem mostrado que estas mudanças são


percebidas pelas quebradeiras, cujos efeitos se fazem sentir na redução da renda e na
perda de etnoconhecimento, o que tem contribuído para o movimento de auto-
organização, como reação a essas mudanças, como observado em Imperatriz.
Também se percebem outros fatores que estão contribuindo para a diminuição da
quantidade de quebradeiras de coco: como a desvalorização do preço da amêndoa; a
dependência de políticas públicas como o Bolsa Família e a Bolsa Ecológica; a
possibilidade de acesso à escola; o envelhecimento da população e o desinteresse
das pessoas mais jovens por essa atividade. Estes fatores, na concepção de grande
parte das quebradeiras, também vêm influenciando significativamente a dificuldade de
manutenção e transmissão do etnoconhecimento.

“Engenhos em Ilhabela: uma história doce e amarga” - Bárbara Marie Van


Sebroeck Lutiis Silveira Martins. Arquiteta e urbanista (FAUUSP); Graduanda em
Turismo (ECAUSP); Mestranda em História (IFCH-Unicamp).

O desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar em toda a extensão do litoral


Norte de São Paulo marcou momentos de pujança econômica, expressas pelo número
de engenhos construídos e volumes de produção, bastante superiores aos de outras
regiões. Nesse contexto, o presente trabalho procura estudar um tema pouco
abordado: os engenhos de Ilhabela. A ilha de São Sebastião conta com um rico acervo

23
arqueológico e patrimônio edificado que remonta aos séculos XVIII, XIX e XX, dados
cadastrados pelo PAI20. Com relação às ruínas de Ilhabela, vale inferir que, apesar de
identificados e devidamente registrados, muitos desses sítios ainda são destruídos
para dar lugar a empreendimentos imobiliários, como casas de veraneio e outras
instalações para fins turísticos. O Plano de Manejo – Parque Estadual de Ilhabela –
Zoneamento é um documento de novembro de 2014 em que se encontram
georreferenciadas boa parte das ruínas do PAI e, dentre os sítios (cerâmico,
sambaqui, pré-colonial, polidor), seis engenhos do período colonial.
Portanto, pode-se observar que, dentro desse rol de ruínas e prédios, encontra-
se um interessante e ainda pouco analisado momento produtor da ilha: os engenhos
de açúcar e cachaça. Foram trinta e um centros produtores ao longo de quase
duzentos anos, período em que a cana-de-açúcar alterou consideravelmente a
paisagem da ilha. A Mata Atlântica, que permaneceu virgem em algumas porções,
retomou o seu lugar nos morros, fomentada pela criação do Parque Estadual da Serra
do Mar. Portanto, essa renovação da mata é de extremo interesse no estudo do
contexto da mudança agrícola da ilha e da construção de sua paisagem.
O engenho da Toca, localizado na porção central da ilha, é o único ainda em
funcionamento e foi estudado no trabalho final de graduação da autora na FAUUSP. O
edifício se encontra na Fazenda da Toca, propriedade que contempla também ruínas
hoje imersas em uma extensa área de mata protegida pelo Parque Estadual da Serra
do Mar. Ponto ecoturístico consolidado há quase meio século, a Cachoeira da Toca
oferece três quedas d‟água para visitação ao público, cujo atendimento era realizado,
inicialmente, nas proximidades de um antigo engenho de aguardente e nos espaços
internos desse mesmo edifício anos mais tarde. Por estar localizado no interior da ilha,
o edifício apresenta uma linguagem arquitetônica bastante diversa dos engenhos
localizados à beira mar. A pesquisa analisou o engenho mediante a estruturação de
hipóteses sobre sua cronologia construtiva, inclusive das mudanças sobre a produção
de cachaça no local, além de vincular o valor deste edifício e da fazenda como um
todo, com um valor afetivo. A recuperação de registros cadastrais da fazenda, de
mapas históricos de Ilhabela e a coleta de memórias orais permitiu compreender
melhor o edifício e de sua situação no contexto da vila. Estudar ainda seu uso como
ponto turístico se justificou pelo fato de que o engenho passou, recentemente, a ser
também parte do roteiro de visitação do local, que antes se restringia às quedas
d‟água e piscinas naturais. A importância de se registrar a história deste edifício se faz

20
Durante os anos de 1999 e 2006, o arqueólogo Plácido Cali realizou em conjunto com a Prefeitura do
Município e o Parque Estadual, o trabalho de localização e identificação dos sítios arqueológicos do
arquipélago: PAI - Projeto Arqueológico de Ilhabela.

24
cada vez mais presente: seja pelas memórias de família, ou ainda, por se tratar da
última destilaria em funcionamento em Ilhabela.
O estudo sobre os engenhos se aprofunda com a pesquisa em andamento no
mestrado em História no IFCH, ao propor o estudo de outros três engenhos dos
séculos XVIII e XIX: um ao norte em Furnas, um ao sul no Bexiga e um do lado oposto
do canal de São Sebastião em Castelhanos. O recorte se resume a esses exemplares
por características específicas e que permitem uma abordagem mais ampla da técnica
de produção; assim, foram selecionados, respectivamente, um engenho que
empregasse a máquina a vapor, outro a tração animal e um último, a roda d‟água,
técnica de moagem mais comumente encontrada em Ilhabela.
A pesquisa conta tanto com a leitura de documentos sobre a atividade
produtora e exportadora tanto do açúcar, em um primeiro momento, e de aguardente,
em um segundo momento, quanto da compreensão do contexto dessas produções.
Especificamente sobre o recorte temporal a proposta é a de estudar a atividade dos
engenhos de meados do século XIX em seu momento doce, até o amargo de seu
desmonte, com início no primeiro quartel do século . A análise das tipologias
arquitetônicas também são importantes para este estudo e a técnica construtiva mais
comumente utilizada era a de pedra e cal. As paredes estruturais eram de pedra
entaipada ou em pedras aparelhadas e as divisórias internas, de taipa-de-mão. Os
engenhos mais recentes, como o caso do Engenho da Toca, apresentam fundação em
pedra e paredes de tijolos. A implantação dos engenhos deve ser considerada, seja
pelo acesso aos cursos d‟água como também a solução para a instalação da infra-
estrutura necessária ao fabrico do açúcar e da aguardente.
Nesse sentido, a presente pesquisa pretende abrir uma nova frente de estudo
para compreender o patrimônio agro-industrial ilhabelense e propor estratégias para
assegurar sua proteção ao trabalhar com as rugosidades de Milton Santos no estudo
desses complexos. Assim, as marcas materializadas no desenho da paisagem devem
ser analisadas à luz de toda a passagem do tempo no arquipélago e como elas
chegaram até o presente, portanto, a situação atual e a inserção do Parque Estadual
de Ilhabela são objetos de análise. Acerca da preservação ou não dos engenhos
estudados, será utilizado como meio de comparação o único protegido pelo Instituto
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT): o Engenho
d‟Água.

Palavras-chave: patrimônio; engenho; lhabela ata tl ntica

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“A Salvaguarda do Samba de Roda do Recôncavo Baiano:Desterritorialização ou
Reterritorialização do bem cultural?” - Andressa Marques Siqueira. Doutoranda do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais (PROCAM/IEE/USP).

O Samba de Roda do Recôncavo Baiano é uma expressão cultural afro-brasileira,


declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2004, e Obra Prima do Patrimônio
Oral e Imaterial da Humanidade em 2005. Seu registro como patrimônio teve como
principal motivação o fato do “samba” ser um símbolo musical da nacionalidade e o
fato do Samba de Roda do Recôncavo Baiano estar na origem de todo e qualquer
“samba brasileiro” hoje reconhecido. Em adição, sua patrimonialização também se
justificou perante o risco de desaparecimento da expressão cultural, que tem como
origens fatores como: a decadência econômica do Recôncavo Baiano, o desinteresse
dos jovens na prática da expressão cultural, o desaparecimento da viola machete, a
desvalorização social do samba de roda e as precárias condições sociais e
econômicas de vida dos praticantes.
Considerando os riscos apontados, a política de salvaguarda do samba de roda
se baseou em quatro linhas de ação: 1) Pesquisa e documentação; 2) Reprodução e
transmissão às novas gerações; 3) Promoção; e 4) Apoio. Diversas ações voltadas às
linhas definidas foram realizadas ao longo dos treze anos de registro da expressão
cultural como patrimônio e o processo de salvaguarda do samba de roda é hoje
apresentado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como
referência, exemplo a ser seguido no que tange à salvaguarda dos Patrimônios
Culturais Imateriais do Brasil.
Dentre as ações de salvaguarda consideradas bem sucedidas, tem-se a retomada
da produção da viola machete, o fato do samba de roda encontrar-se bastante
difundido, e o crescente número de grupos de samba, incluindo os grupos de “sambas
mirins”. No entanto, muitas das ações desenvolvidas, com destaque para ações de
promoção e reprodução do bem cultural, acarretaram em alterações nos modos de
execução e nos espaços de ocorrência da prática cultural, conforme observado por
estudiosos do tema como: Nina Graeff, Katharina Döring, entre outros.
Desta forma, a presente investigação teve como objetivo analisar se as alterações
ocorridas na prática da expressão cultural, oriundas de ações de salvaguarda,
influenciaram na territorialidade do samba de roda, considerando o seu território nas
dimensões política, cultural e econômica (Haesbaert, 2004). Para tal, foram utilizadas
como metodologias: pesquisa bibliográfica, análises documentais - em particular foram
abordados o Dossiê do Samba de Roda do Recôncavo Baiano (IPHAN, 2006) e o
Parecer do IPHAN sobre o registro da expressão cultural (FONSECA, 2004); além da

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realização de pesquisa de campo que se fez por meio de observação direta e
entrevistas semiestruturadas junto ao IPHABahia e à Associação dos Sambadores e
Sambadeiras do Estado da Bahia (ASSSEBA).
As pesquisas e análises realizadas permitiram observar, como reflexos do registro
do Samba de Roda do Recôncavo Baiano e das ações de salvaguarda desenvolvidas,
alterações nos espaços, nas formas de ocorrência e na dinâmica da prática tradicional
do samba de roda, além da inserção de novos elementos na prática cultural e nos
modos de produção da viola machete. Dentre as principais alterações estão: a perda
da espontaneidade da prática do samba de roda e sua organização em grupos
formalizados; sua espetacularização – que levou o samba de roda à novos espaços e
novas formas de execução; a perda das simbologias; alterações no conjunto musical e
na musicalidade; e mudanças no modo de fazer e nos materiais utilizados na
confecção da viola machete.
Essas alterações, observadas em campo pela autora e identificadas nas análises
dos trabalhos das autoras: Nina Graeff (2015), Katharina Döring (2013), Rosa
Krstulovic (2016) e Raiana do Carmo (2009), são expressivas a ponto de parte dos
praticantes tradicionais da expressão cultural considerar que o “verdadeiro samba”
acabou, por não mais se reconhecerem nessa nova configuração da prática, hoje mais
ordenada, regrada, calendarizada, globalizada e muitas vezes desvinculada dos seus
espaços, práticas e simbologias tradicionais.
Considerando o território do samba de roda em sua dimensão espacial e
simbólica, como o “lugar de prática” no sentido material, social e afetivo, e ciente de
que o samba de roda consiste em uma expressão cultural enraizada no Recôncavo
Baiano (FONSECA, 2004), elemento constitutivo do sentimento de pertencimento e da
identidade dos seus praticantes; ao se fazer um paralelo entre a territorialidade do
samba de roda e as alterações observadas que culminaram na falta de identificação
dos seus praticantes, tende-se a afirmar que essas alterações, oriundas da
patrimonialização e das ações executadas para salvaguarda do bem cultural, levaram
a uma desterritorialização do mesmo, considerando que hoje ele está presente em
outros “lugares”, nos sentidos espaciais, sociais e simbólicos, que não àqueles
tradicionais, reconhecidos pelos seus praticantes.
No entanto, sob o olhar da dinâmica cultural, onde culturas se “ajustam” no tempo
e espaço de acordo com as condições socais, políticas e econômicas a que estão
inseridas, juntamente com o fato do Samba de Roda ser uma “cultura viva”, fica a
questão: até que ponto as alterações observadas na territorialidade do samba de roda
representam “perdas” e podem ser tratadas como desterritorialização da expressão
cultural ou são apenas alterações oriundas da dinâmica cultural, que culminam em

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“novos lugares” e em “perdas e ganhos”, devendo então o bem cultural ser melhor
retratado como reterritorializado?
Para a resposta da questão colocada, incialmente há de se atentar que como
patrimônio cultural o samba de roda pode ser abordado sob duas diferentes óticas: o
samba de roda institucionalizado e o samba de roda vivido. Tendo como referência o
primeiro, o samba de roda institucionalizado registrado pelo IPHAN como patrimônio
cultural, gestado sobre normativas do Plano de Salvaguarda, o que se observa é que
as alterações tendem a ser compreendidas como uma reterritorialização do bem
cultural, pois partiram de ações planejadas para levar a expressão a um “lugar
contemporâneo”, de pertencimento dos “novos sambadores”. Por outro lado, tendo
como referência o segundo patrimônio, o samba de roda vivido na tradição dos seus
praticantes, pode-se considerar que as alterações oriundas das ações de salvaguarda
tendem a uma desterritorialização, ao menos por parte da visão dos “sambadores
tradicionais” que afirmam a morte do “verdadeiro samba”, pois para esse grupo o
“novo lugar” do samba de roda não é reconhecido como “lugar de identidade”.
Desta maneira, pode-se afirmar que as ações de salvaguarda do samba de roda
alteraram a territorialidade do bem cultural. Essa alteração pode ser vista com
desterritorialização ou reterritorialização, a depender da ótica sob a qual o samba de
roda é visto como patrimônio cultural, o que também infere na avaliação da eficiência
da salvaguarda. Sob a ótica do patrimônio institucionalizado, a salvaguarda do bem
imaterial é considerada bem sucedida, pois estão sendo cumpridas as ações previstas
e, em parte, sanados os fatores de risco inicialmente identificados, motivos pelos quais
a revalidação do registro do samba de roda está em andamento. Em contraposição,
sob a ótica do patrimônio vivido, a salvaguarda pode ser considerada ineficiente,
porque a “nova territorialidade” do samba roda não é reconhecida pelos seus
praticantes mais tradicionais, o que coloca o bem cultural em risco, se avaliarmos que
para uma parcela dos seus praticantes o “verdadeiro samba” já morreu.

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