Manutenção de moldes – Alguns cuidados evitam prejuízos e esticam a vida útil
das ferramentas
É melhor prevenir do que remediar. Poucos discordam do velho ditado, sempre
citado em ocasiões diversas, e também válido no mercado de injeção de plásticos. É lembrado por ferramenteiros, transformadores e fornecedores de componentes quando o assunto recai para a limpeza e manutenção de moldes de injeção. Essas ferramentas operam em condições difíceis e estão sempre sujeitas a sofrer quebras de peças ou danos em suas placas, pois trabalham em regime de elevada pressão, em especial as projetadas para produzir peças de paredes finas e ciclo rápido. São submetidas a constantes alterações de temperatura e sofrem esforços alternativos, como tração, compressão, flexão e impacto. Algumas de suas peças, como buchas, colunas, centralizadores e guias de gavetas, operam sob atrito. Não raro, transformam peças feitas com materiais abrasivos, como os reforçados com cargas de fibras de vidro. Diante de tantas dificuldades, tomar alguns cuidados ajuda a prolongar suas vidas úteis e reduz a chance de paradas nas linhas de produção. Em outras palavras, representa economia considerável. Em especial, quando os moldes são complexos – não por coincidência, os mais caros. Na teoria, ninguém discorda da necessidade das operações de limpeza e manutenção serem realizadas de acordo com o recomendado. Na prática, porém, nem sempre as recomendações são levadas a sério. No caso de grandes produções, há a necessidade dos moldes permanecerem instalados nas injetoras por longos períodos e os transformadores, não raro, se “esquecem” de fazer as revisões dentro dos prazos necessários. A “falta de memória” ocorre com frequência até no caso de moldes usados de forma mais esporádica. O componente cultural contribui com o desleixo, há uma falsa sensação de economia ao se evitar as atitudes recomendadas. Quando o prejuízo aparece, no entanto, todos se lembram de outro ditado cujo ensinamento pouco pode ser contestado: não adianta chorar sobre o leite derramado. Palavra de quem faz – A vida útil de um molde começa a ser definida antes da sua construção. Algumas medidas fazem diferença, como escolher aços de boa qualidade, submetê-los aos tratamentos térmicos adequados e trabalhar com tolerâncias rigorosas. Fazer projeto que proporcione bom balanço térmico dos lados fixo e móvel da ferramenta e a fácil substituição de componentes são outros aspectos imprescindíveis para se obter resultados satisfatórios. Pronto o molde, outros cuidados precisam ser mencionados. Entre eles, instalar os moldes em injetoras adequadas e trabalhar com matérias-primas de qualidade. Esses aspectos, no entanto, fogem do tema de limpeza e manutenção. Na opinião de executivos das ferramentarias, os cuidados com os moldes em operação devem ser intensificados de acordo com o ritmo de trabalho. As atenções começam no chão da fábrica. “Algumas medidas precisam ser tomadas com o molde instalado nas injetoras, como manter lubrificados os pontos onde isso se faz necessário e evitar os danos provocados pela condensação surgida pelas variações de temperatura ocasionadas pela elevada temperatura das resinas e pelas operações de resfriamento”, recomenda Eduardo Cunha, diretor-executivo da paulistana Moltec, tradicional fabricante de ferramentas para injeção e sopro voltadas para o mercado de embalagens. Além dos cuidados cotidianos, recomenda-se a realização de revisões periódicas, feitas em intervalos de tempo variáveis conforme a solicitação dos moldes. “Uma ferramenta com regime de trabalho igual ou superior a oito horas por dia deve passar por revisão completa de seis em seis meses”, diz Rodrigo Vanni, gerente técnico da empresa. Essa revisão pode ser feita em casa, pelas transformadoras que contam com estrutura adequada, ou na oficina de terceiros, quase sempre nas ferramentarias especializadas. “Nessas revisões periódicas, vários itens devem ser verificados e substituídos, se necessário”, aconselha Cunha. Entre eles, colunas e buchas guias, centralizadores, anéis de vedação, canais de refrigeração, pinos de extração e outros componentes, inclusive parafusos. Nos moldes equipados com câmaras quentes, é aconselhável substituir resistências, termopares, torpedos e módulos controladores de temperatura. Esses cuidados, de acordo com cálculos realizados por Cunha, devem custar, no prazo entre um ano e dezoito meses, entre 5% e 10% do valor do molde. Não é pouco, em especial no caso das matrizes mais sofisticadas. Mas vale a pena. “Uma quebra pode significar despesa entre 30% e 70% do valor do molde. Existem casos nos quais se danificam muitos componentes e placas”, ressalta o diretor-executivo. A Cobrirel, empresa paulistana no mercado há 35 anos, atua nos dois lados da moeda. Como fabricante de moldes de elevada tecnologia, fornece para clientes rigorosos, como representantes da indústria automobilística e de eletrônicos. Também conta com planta de transformação com dezenove injetoras, com forças de fechamento de 58 a 450 toneladas. “Trabalhamos na recuperação dos moldes de nossos clientes e fazemos manutenção dos usados internamente”, explica o diretor Antonio Domingos Trevisan. O dirigente dá a receita usada pelo departamento de transformação da Cobrirel. “Sempre que um molde sai da máquina, temos o hábito de desmontá-lo, limpá- lo e de substituir todas as peças desgastadas”, revela. Para Trevisan, agindo dessa forma, a economia é garantida. “Sai muito mais barato tomarmos essas providências do que perder tempo com danos que podem parar a produção por várias horas”, explica. Padronizados e câmaras quentes – Outra recomendação unânime dos especialistas de todos os ramos: nos casos onde são necessárias substituições de peças, deve ser utilizado o máximo possível de componentes padronizados. Eles apresentam algumas vantagens, como a de ter custo competitivo por serem produzidos em larga escala. O mais importante, no entanto, se encontra no quesito qualidade. Uma peça fabricada em casa, por exemplo, dificilmente segue os padrões de escala recomendados e recebe os tratamentos térmicos necessários. Algumas ferramentarias de porte e grandes transformadores, por dever de ofício, têm em casa estoques para pronto uso das peças mais procuradas, casos das colunas e buchas guias. A ausência de estoques não chega a afetar de maneira grave quem não tem essa possibilidade. Esses componentes são de fácil acesso no mercado, entregues em prazos muito reduzidos. No caso dos moldes equipados com câmaras quentes, alguns cuidados são essenciais. “Trabalhar com controladores de temperatura multiprocessados é importante para se obter os controles de temperatura precisos”, explica Cleber Silva, gerente de desenvolvimento e marketing da Polimold, empresa líder no Brasil dos mercados de porta-moldes e câmaras quentes. Silva também recomenda utilizar equipamento de controle com a capacidade de desumidificar de forma gradual os componentes das câmaras, a fim de evitar choque térmico das resistências nos momentos de partida. Sempre se deve utilizar matérias-primas com teor de cargas previsto e trabalhar com temperaturas projetadas. “Os equipamentos da câmara quente são desenvolvidos para aplicações e materiais predeterminados”, ressalta. Palavra de quem usa – As operações de limpeza e manutenção têm suas importâncias reforçadas por transformadoras fornecedoras de peças para clientes de expressão. A Jaguar Plásticos, criada em 1978, em Jaguariúna-SP, conta com 39 injetoras, com forças de fechamento entre 150 e 1,3 mil toneladas, e de 250 a 280 ferramentas ativas. Ela fabrica utilidades domésticas e peças sob encomenda. A empresa conta, entre seus clientes, com nomes como Nestlé, Sadia e Danone. “É muito importante respeitar o planejamento de manutenção preventiva que criamos para nossos moldes. Se, por qualquer motivo, não podemos parar a produção, em curto prazo o molde corre o risco de sofrer danos. Quando isso acontece, pagamos caro”, informa José Felício Baldasso, diretor industrial. De acordo com o executivo, o dia-a-dia dificulta a tarefa. “Estamos à mercê do comercial, às vezes o cliente precisa de peças, não podemos parar o molde e fazer a manutenção no período certo”, queixa-se. Para Baldasso, outro procedimento que contribui muito é a realização da limpeza e lubrificação dos moldes durante a produção. “Não é um número calculado, mas tenho o sentimento de que o trabalho de manutenção correto deve representar ganhos de 30% na vida útil do molde”, revela. Isso representa valor considerável nas linhas de peças plásticas de vida longa. “Temos projetos, caso das tampas de detergentes ou de embalagens de água mineral, nos quais já estamos utilizando o quarto molde igual para fabricar o mesmo produto”, conta. O diretor industrial faz outra ressalva. “A falta de cuidados também provoca a perda de eficiência, a ferramenta começa a produzir menos e gera prejuízos”, diz. A Jaguar conta com departamento de manutenção preventiva interno e também dispõe dos serviços de sua ferramentaria, instalada em um local próximo ao prédio onde se encontram instaladas as injetoras. Na ferramentaria, são realizadas revisões periódicas nas matrizes mais complexas. A Sonoco, localizada em Araras-SP, no mercado desde 1973, é outra transformadora que tenta seguir à risca as ações de manutenção recomendadas pelas ferramentarias. A empresa tem 52 injetoras, de 100 a 550 toneladas de força de fechamento, e em torno de 180 a 200 moldes ativos. Ela atua como fornecedora de embalagens com foco para as indústrias alimentícias e farmacêuticas. Entre seus 450 colaboradores, conta com equipe de doze profissionais voltada para checar, 24 horas por dia, as condições das matrizes. “Procuramos, a cada duas semanas, desmontar todos os moldes que saem das máquinas”, informa Yochiuky Towada, criador da Sonoco, onde hoje atua na condição de consultor. Dessa forma, diz o profissional, a vida útil das ferramentas tem sido prolongada com sucesso ao longo dos anos. Towada reforça serem importantes o cuidado com os moldes durante a produção e a identificação de problemas durante a fabricação das peças. “O pessoal do processo precisa estar bem treinado para tomar os cuidados necessários de regulagem das máquinas e de limpeza”, aconselha. Para o consultor, os cuidados não devem se resumir à estratégia de manutenção. “O segredo da durabilidade começa no projeto. Sempre usamos em nossos moldes aços de boa qualidade, de preferência inoxidáveis e de elevada dureza”, acrescenta.
Fornecedores – As empresas fabricantes de porta-moldes são as principais
fornecedoras das peças mais utilizadas nas operações de manutenção. Para essas empresas, manter em estoque algumas centenas de itens não representa apenas uma oportunidade de incrementar suas vendas. Também é estratégia de marketing, uma forma de tornar os clientes fiéis. “O mercado de peças de reposição é igualmente importante para nós”, resume Cleber Silva, da Polimold. Para o gerente, o uso de produtos de procedência conhecida faz diferença. “Padronizados originais possibilitam o intercâmbio correto, menos ajustes e disponibilidade imediata”, enumera. Além de milhares de peças dirigidas aos porta-moldes, a empresa conta com peças de reposição para câmaras quentes, como buchas, ponteiras, resistências ou termopares. Esses itens, no entanto, só devem ser usados nos sistemas fabricados pela própria empresa. “Temos câmaras quentes com projetos e características particulares”, justifica. “Contamos com mais de 16 mil itens de reposição em estoque”, informa Wilson Teixeira, diretor técnico da Tecnoserv, empresa fabricante de algumas centenas de milhares de combinações de porta-moldes e representante no Brasil de vários fabricantes de componentes variados, entre os quais câmaras quentes. Entre os componentes disponíveis, encontra-se de tudo. “Temos buchas, colunas, pinos extratores, parafusos e também resistências, termopares e todos os itens voltados para as câmaras quentes”, revela. Teixeira lembra que a venda de componentes não chega a ser muito representativa no faturamento da empresa. “Acho que ela responde por entre 5% e 6% do nosso faturamento”, diz. Para ele, a grande importância da operação se encontra na imagem positiva proporcionada pelo bom atendimento aos clientes. O dirigente também destaca a importância de se disseminar a educação entre os usuários dos moldes, como forma de aumentar suas vidas úteis. “Temos promovido cursos gratuitos juntos aos nossos clientes”, conta. A manutenção de moldes tem sido foco de muita atenção por parte da Miranda, empresa com mais de 500 mil combinações de porta-moldes para injeção de plásticos em seu catálogo. Tanto que na última edição da Brasilplast, realizada em maio, divulgou o lançamento de uma série de componentes, casos de pinos, lâminas e buchas voltados para sistemas de extração, gavetas e centralizadores. Entre as novidades, destaque para pinos extratores com grandes comprimentos. “Hoje temos dois pontos de distribuição na capital paulista e estamos fazendo esforço para mais do que duplicar o atendimento aos clientes”, justifica o gerente-comercial José de Oliveira Miranda Neto. Para o executivo, a iniciativa ajuda a diferenciar a empresa. “O mercado de porta-moldes está fortemente concorrido e a estratégia faz os clientes pensarem na gente”, justifica. Na sua opinião, isso vale mais do que o retorno obtido com as vendas das peças. De origem norte-americana e hoje com capital nacional, a MDL-Danly conta com seis fábricas espalhadas pelo mundo, entre elas duas no Brasil. Uma dessas duas, localizada em Sorocaba-SP, é voltada apenas para a produção de componentes para porta-moldes de injeção e também para bases de estampos, outro mercado atendido pela companhia. “Temos três almoxarifados onde estocamos mais de duas mil peças”, diz Estevam Horvate, gerente de vendas. O comércio desses componentes representa em torno de 7% do faturamento da empresa. A MDL-Danly está no mercado há 35 anos e há dezoito iniciou suas atividades como fabricante de porta-moldes para injeção de plásticos. Ela tem uma particularidade, apesar de atuar em todos os mercados, faz sucesso no segmento de moldes de grande dimensão, com placas de até 2.500 mm x 2.000 mm. Isso porque em seu parque industrial conta com equipamentos de usinagem de metal de grande porte. Isso abre um outro mercado. A empresa atua de forma constante em operações de manutenção de placas e outros acessórios das ferramentas de grande porte. Em termos de componentes, a empresa também anunciou novidades na última edição da Brasilplast. No evento, lançou buchas grafitadas para moldes grandes e colares de esferas para placas extratoras. “Nós fabricávamos esses colares apenas para exportação, mas o aumento da procura fez com que os colocássemos à disposição também no mercado interno”, diz Horvate. Outra empresa do ramo, a Três-S, fez o caminho inverso das concorrentes. Há anos ela era bastante conhecida como fornecedora de componentes como molas, punções, pinos e extratores, entre outros. Há dois anos, entrou para o mercado de porta-moldes. “Hoje, o nosso carro-chefe é o mercado de porta- moldes, mas ainda temos participação muito importante no mercado de peças”, diz Claudir Sandro Mori, gerente-comercial. A entrega rápida de itens diversos, voltados para atender às mais variadas normas, é o orgulho da empresa.