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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS-UEMG

CURSO DE DIREITO DE PASSOS

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: VISÃO CONSTITUCIONAL

Weslley Ciaba Rodrigues

PASSOS(MG) SETEMBRO DE 2015


Weslley Ciaba Rodrigues
REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: VISÃO CONSTITUCIONAL

Monografia apresentada no curso de graduação em


Direito, da Universidade do Estado de Minas Gerais
- Unidade Passos, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Me. Alisson Thales Moura Martins

Passos(MG), Setembro de 2015

WESLLEY CIABA RODRIGUES

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: VISÃO CONSTITUCIONAL

COMISSÃO JULGADORA:
______________________________________________________
Presidente

______________________________________________________
Membro Examinador

______________________________________________________
Membro Examinador

DEDICATÓRIA

Aos meus pais com muito carinho nunca mediu esforços para que pudesse chegar até aqui
com mais uma fase da vida cumprida.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo.


A primeira fase do saber, é amar os nossos professores

RESUMO

RODRIGUES, Weslley Ciaba. Regime Disciplinar Diferenciado: visão constitucional.


2015. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação). Curso de Direito da Universidade
do Estado de Minas Gerais - UEMG - Unidade Passos.
Este trabalho visa destacar a visão constitucional do regime disciplinar diferenciado (RDD) e
seus principais aspectos. Para a sua realização utilizou-se da pesquisa em livros e artigos
científicos, inclusive da internet. Seu objetivo é analisar, pela ótica constitucional, o Regime
Disciplinar Diferenciado (RDD), principalmente previsto no artigo 52 da Lei de Execução
Penal. Finalmente, afirma-se conclusivamente que o RDD, na configuração atual, padece de
alguns problemas que podem levar à decretação de sua inconstitucionalidade, pelo que
defende-se uma possível interpretação conforme a Constituição, em algumas expressões para
o fim de adequá-lo aos princípios constitucionais.

Palavras-chave: Regime Disciplinar Diferenciado; Constituição; Lei de Execuções Penais.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................9
1 CONSTITUIÇÃO E O DIREITO PENAL: PRINCIPAIS ASPECTOS
1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E IDEOLÓGICOS.....................................................10
1.2 PRINCIPAIS PRINCÍPIOS.......................................................................................18

2 O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO E SUA ANÁLISE.......19

CONSDERAÇÕES FINAIS.......................................................................33

REFERÊNCIAS...........................................................................................34
9

INTRODUÇÃO

A questão da criminalidade e sua relação com o Direito, principalmente Constitucional e


Penal é um problema que persiste ao longo das décadas e desafia a todos, inclusive os poderes
públicos, tendo em vista a complexidade do tema.
Assim, o Direito Penal procura, no mais das vezes, se caracterizar por ser o primeiro
instrumento de que se vale o Estado e os poderes públicos no combate ao crime, de sorte que
na maioria das vezes os atos se revestem de inconstitucionalidade latente.
No início do ano 2000, com o crescimento e fortalecimento das facções criminosas,
incluindo o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) , o poder
público, então, passou a ser cobrado pela sociedade e pela imprensa para que adotasse uma
medida eficaz contra a situação de terror que se instalava no País.
Ademais, a questão se tornou complexa de tal forma que as rebeliões, bem como as
ações criminosas eram coordenadas dentro das prisões por aqueles que deveriam estar
afastados da sociedade de forma exemplar.
Dessa forma, arquitetou-se o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), e instaurou-se o
seguinte panorama: uma polêmica doutrinária e jurisprudencial sobre a constitucionalidade do
regime sendo que a manifestação contrária defende que o RDD viola a finalidade ressocia-
lizadora da pena e os princípios da humanidade da pena, da proibição de imposição de penas
cruéis e degradantes, da legalidade, da dignidade da pessoa humana constituindo uma pena
cruel e demasiadamente rígida, ou seja, totalmente inconstitucional.
O objetivo geral é analisar a implantação do Regime Disciplinar Diferenciado no
Direito Brasileiro como repressão ao crime organizado, levando-se em consideração o
contexto histórico em que foi criado e os aspectos divergentes sobre a sua constitucionalidade.
Para tanto, os objetivos específicos são analisar os principais aspectos sobre a aplicação
do regime; destacar a constitucionalização do direito penal e processual penal, bem como
identificar a controvérsia existente entre a compatibilidade do RDD com o ordenamento
jurídico brasileiro e demonstrar a constitucionalidade do instituto.

1 CONSTITUIÇÃO E O DIREITO PENAL: PRINCIPAIS ASPECTOS


10

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E IDEOLÓGICOS

Analisar os pressupostos é importante para se desenvolver um bom raciocínio sobre o


tema, de forma que traz elementos para se raciocinar com mais fundamentos sobre ele.
Assim, de um breve apanhado histórico, passa-se pela constitucionalização do direito
penal e processual penal para, posteriormente, adentrar no tema.

Conforme a irreparável lição do jurista e magistrado ADEILDO NUNES, “com base


no crescimento desenfreado do poder de organização e de estrutura física e material
das facções criminosas nos grandes e médios presídios de São Paulo, seu Secretário
de Administração Penitenciária, em maio de 2001, pela Resolução n. 26, criou em
seu Estado o denominado Regime Disciplinar Diferenciado, estipulando a
possibilidade de isolar o detento por até trezentos e sessenta dias, mormente os
líderes e integrantes de facções criminosas e todos quantos o comportamento
carcerário exigisse um tratamento específico. É claro que tão logo foi editada a
Resolução 26 a arguição da sua inconstitucionalidade foi premente. Não faltaram
juristas para enfatizar: a Resolução viola a Constituição porque tratando-se de falta
grave a matéria está afeta, exclusivamente, à lei ordinária, ademais é a Lei de
Execução Penal quem cuida de regulamentá-la. Porém, chamado a intervir, o
Tribunal de Justiça de São Paulo optou por sua constitucionalidade, ao argumento de
que os Estados membros têm autorização constitucional para legislarem sobre
Direito Penitenciário, o que é uma verdade (art. 24, I, CF/88). Sabe-se, por isso, que
o Regime Disciplinar Diferenciado vem sendo regularmente aplicado aos detentos
de São Paulo que se enquadrem na Resolução, embora, reconheça-se, a matéria bem
que poderia ter sido regulamentada pela Assembleia Legislativa daquele Estado,
desde que não se tratasse de acrescentar nova forma de falta grave, pois, como se
sabe, haveria necessidade de alterar o artigo 50 da LEP”. (MARCÃO, 2012,p.256).

Exemplifica-se mais uma medida destinada ao Direito Penal e Processual Penal para
resolverem um problema que é bem mais complexo que instituir o RDD nas penitenciárias de
acordo com as hipóteses e os requisitos que ocorrerem; por outro lado, dentro da competência
do Direito Penal, mormente na área de execução penal, como se verá a seguir, dentro de sua
área de competência, o RDD foi pensado visando a colocar ordem nos presídios e tentar frear
a criminalidade dentro deles.
De um breve ponto de vista histórico, é de se destacar que

E arremata o mesmo doutrinador: “A morte de dois Juízes de Execução Penal, no


mês de março de 2003, em São Paulo e Espírito Santo, fez ressurgir no âmbito do
Congresso Nacional o Projeto de Lei 7.053, enviado em 2001 pela Presidência da
República. Em 26-03-2003 o PL foi aprovado na Câmara dos Deputados e seguiu
para o Senado Federal, agora modificando vários dispositivos da Lei de Execução
Penal, criando, com força de Lei, o Regime Disciplinar Diferenciado”. Mais não é
preciso dizer. (MARCÃO, 2012, p.256).
Veja-se que o RDD foi criado num contexto em que membros do Judiciário foram
assassinados, o que mostra a que ponto chega o sistema penal no Brasil e a tensão entre o
11

crime organizado e as instituições públicas que quando não são desafiadas pelo medo o são
pela corrupção.
Assim, importante destacar a problematização trazida por Alberto Jorge Barros Correia
de Lima, no sentido de que

Não é novidade, desde longo tempo, a chamada deslegitimação do Sistema Penal. O


Sistema Penal oficial destinado a realizar o Direito Criminal no Brasil comporta três
segmentos: o Policial, o Judicial e o de Execução ou Penitenciário. A deficiência
destes três segmentos, com severas consequências para os direitos humanos, é
relatada na crítica de Zaffaroni, por meio de três características, as quais, em certa
medida, podem ser observadas nos sistemas de justiça criminal da América Latina,
muito particularmente no Sistema Penal Brasileiro. Redimensionada a crítica do
professor portenho no que tange ao seu conceito, podemos dizer que a primeira,
relativa à seletividade do Sistema, significa que este só atinge os estratos
economicamente mais desfavorecidos da população, centrando sua atuação
primordialmente nos delitos contra o patrimônio privado. A segunda acentua a
repressividade do Sistema, entendida como a intensidade das consequências
opressoras para além das previstas nas normas penais. A repressividade significa,
assim, que o Sistema produz, no plano fático, violência, maus-tratos, degradação da
saúde física e psicológica aos seus clientes, que não decorrem das consequências
legais previstas, mas sim da falta de cumprimento e violação das próprias normas. A
terceira, e última, diz respeito à estigmatização produzida pelo Sistema, que impõe a
toda sua clientela um sinal infamante, produzindo consequências que negam os seus
próprios objetivos. A estigmatização implica, por outro lado, a assunção do papel de
marginalizado pelo indivíduo sobre o qual recai a persecução penal. Papel atribuído
pela coletividade e pelo próprio Estado quando não cumpre as diretivas legais
concernentes aos direitos daqueles que estão sendo investigados, processados e
presos. O estigma é propiciado, também, na medida em que, durante a permanência
do indivíduo na prisão, ele passa a ser “desadaptado” para conviver em liberdade,
sendo desestimulado, perdendo, portanto, a noção de autorresponsabilidade do ponto
de vista econômico e social. Para além, passa a assumir os modelos
comportamentais dos valores típicos do cárcere. (LIMA, 2012, p.16).

Observe-se que o tema se adequa ao segmento da execução ou o penitenciário, já que


trata de questões importantes e, ao mesmo tempo, fundamentais, como se verá a seguir, posto
que, dentro do sistema prisional, estabelece um regime mais severo, atendidos os pressupostos
estabelecidos na lei 10.792/2003 (BRASIL, 2003).
Neste contexto, é de se destacar a seguinte lição:

Por outro lado, os juízes não podem ter em mente que, quando punem, não são
responsáveis pela punição, isolando o problema apenas para quem cometeu o delito,
para quem violou a lei. As agências criminalizadoras podem até pretender restaurar
o equilíbrio desestabilizado pelo crime, todavia, não há como negar sua função
constitutiva em face da criminalidade. O juiz não pode aparecer como figura
restritamente asséptica, acreditando na aplicação pura da lei ao caso concreto, no
mero silogismo, embasado em um legalismo iluminista, cujo legado é responsável
pela larga utilização do método lógico-dedutivo. Na atualidade, são essenciais o
estudo e a utilização dos princípios fundamentais do Direito Penal, notadamente
aqueles cristalizados na Constituição Federal.
12

Há uma apartação, ainda que não declarada, entre os princípios penais reportados e a
análise do fato criminoso, como se existisse um Direito Penal técnico, ocupado com
a teoria jurídica do crime, e um Direito Penal político, responsável pelo estudo dos
princípios penais e a teoria da pena, ambos esquecidos um do outro. Essa apartação
contribui para a manutenção de uma série de regras incriminadoras
inconstitucionais, cuja contenção é tarefa constitucional do Judiciário. Por tudo isso,
verifica-se a importância sistemática, no âmbito do saber penal, do Direito Penal
Constitucional, responsável pelos influxos das normas da Constituição,
compreendido, agora, no interior da dogmática, cujo estudo, na atual ordem jurídica
brasileira, é imprescindível. (LIMA, 2012, p.17-18).

Observe-se a preocupação do autor com a questão da relação dos princípios e sua


aplicação pelo Direito Penal, notadamente com o viés metodológico da Constituição, da
observância de suas normas à luz da Constituição, de forma a propiciar, inclusive, a devida e
verdadeira justiça.
Não obstante, existe outra questão que também é importante, já que se trata do
controle social formal exercido pelo Direito Penal:

O Estado dispõe de vários instrumentos de controle social para disciplinar a conduta


das pessoas. É que os comportamentos são esperados de determinado modo, tanto
pelas pessoas, quanto pelo próprio Estado, basicamente para manutenção da ordem
vigente e sobrevivência da forma pela qual a sociedade se organiza. O desvio de
conduta ou, por outras palavras, a quebra das expectativas do grupo faz gerar
insegurança, receio, medo de ruptura com o status vigente.
[...]
O Direito Penal é, declaradamente, um dos instrumentos do controle social formal,
com certas notas específicas dadas pelo seu objeto, os crimes ou delitos e as
contravenções, havidos como os mais pesados ataques aos bens jurídicos tutelados
pelo Estado; seus fins explícitos (prevenção e repressão), de eficácia sempre
questionada, e os meios que utiliza – penas e medidas de segurança –,
caracterizados, dentre todos os instrumentos de controle social, como os mais
severos para os indivíduos, em virtude da principal resposta penalógica atingir agu-
damente a liberdade das pessoas (penas privativas de liberdade), quando não
alcançam suas próprias vidas (“pena de morte”), nos países que admitem a pena
capital. (LIMA, 2012,p. 20).

Há uma crítica no tom aduzido pelo autor, mas que não deixa de retratar a função do
Direito Penal e das penas a serem aplicadas, porquanto destaca a questão da função da
Constituição no Direito Penal:

O Direito Penal, por ter como principal resposta no mundo contemporâneo a pena
privativa de liberdade, de extremo rigor para o indivíduo, máxime por afetar direito
fundamental da mais alta densidade e se achar questionada em sua legitimidade,
como já anotado, e com permanentes problemas, há de se cercar de vários
instrumentos que limitem a aplicação da sanção somente para casos mais graves. Em
um Estado Democrático de Direito que tenha como base a dignidade da pessoa
humana e o propósito de propiciar o bem da comunidade, não é possível privar a
liberdade do indivíduo por conta de escolhas aleatórias, irracionais ou puramente
13

ideológicas, tampouco de afogadilho, ante o surgimento de “novas situações”


emanadas da complexidade social do nosso tempo. (LIMA, 2012, p. 24).

É de acordo com as lições acima que o tema será analisado, já que a rigidez do regime
impõe critérios que devem ser observados e aplicados de forma a se observar a metodologia
do direito penal-constitucional.
Ademais, é nesse contexto jurídico-ideológico em que se suscita um conjunto ora
controvertido de ideias que são submetidos, ao debate doutrinário e da jurisprudência, em que
setores do pensamento jurídico não acreditam nas potencialidades das penas privativas de
liberdade, que somente deveriam ser empregadas em hipóteses extremas, quando não
houvesse meios alternativos eficazes para a proteção dos interesses constitucionalmente
relevantes: assim, os bens jurídicos constitucionais obedecem a uma ordenação hierárquica,
de modo que a gravidade da punição deve ser graduada em função dessa lógica, sendo que a
disciplina jurídica dada a determinada infração ou a pena aplicável não deve ir além nem
tampouco ficar aquém do necessário à proteção dos valores constitucionais; se for além,
haverá inconstitucionalidade por falta de razoabilidade ou proporcionalidade; se for aquém,
por atuar de forma omissiva em face da Constituição (BARROSO, 2006,p.379).
Dessa forma, é de se observar que:

Por isso, não podemos duvidar, considerando, inclusive, uma gama de outros fatores
importantes, como, por exemplo, a grande força do aparato de poder estatal, que se
faz mister um amplo rol de mecanismos, penais e processuais penais, garantidores
do direito fundamental da liberdade, havendo somente possibilidade de privação
desse direito para casos restritos, nos quais também se observe a afetação da
dignidade, dos direitos essenciais para o ser humano e para a convivência. E é a
Constituição que estabelece esses mecanismos, no âmbito do Direito Penal, por
meio de princípios, os princípios constitucionais penais, embora também determine
parâmetros para o Direito Penal por intermédio de princípios constitucionais não
penais influentes em matéria penal, limitando a intervenção penal, fixando balizas
intransponíveis ao legislador, prescrevendo limites e formas de atuação ao juiz
criminal, fazendo-o, também, garantidor desse sistema no nosso ordenamento.
(LIMA, 2012, p. 25).

A observância dos princípios constitucionais, no Direito Penal, como visto acima, faz
com que a leitura das normas penais e processuais se dê de forma mais harmônica com o
sistema, evitando-se injustiças e até averiguando a constitucionalidade de determinadas
condutas:

O ordenamento jurídico, para muitos juristas, constitui um sistema, agora entendido


como uma totalidade ordenada, um conjunto de entes entre os quais existe uma certa
ordem. Em um sistema, diz-se, não devem coexistir normas incompatíveis, pois elas
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não convivem isoladamente, umas enleiam outras; têm, sempre, um certo


relacionamento entre si, o que implica exclusão de quaisquer incompatibilidades. Os
princípios compõem os alicerces desse sistema, sendo os seus núcleos fundamentais,
uma vez que sustentam toda construção normativa do ordenamento jurídico,
servindo-lhe de diretriz. Por isso é que se fala do caráter de fundamentalidade dos
princípios, tanto por conta da sua importância estruturante no sistema jurídico, como
por seu papel fundamental no ordenamento, dada a sua posição hierárquica
(princípios constitucionais).(LIMA, 2012,p.26).

Tanto é que, de acordo com Luis Roberto Barroso (2009, p.377), a questão da
aplicação do direito constitucional sobre o direito penal é tida, pela doutrina e jurisprudência,
como ampla, direta e imediata, apesar de que, há cerca de uma década para cá vem sendo
explorada de maneira mais sistemática pela doutrina e jurisprudência, posto que a
Constituição da República tem impacto sobre a validade e a interpretação e aplicação das
normas de direito penal: verifica-se a interligação ao analisar várias garantias previstas no
artigo 5º, de natureza penal, além do que a Constituição impõe ao legislador o dever de
criminalizar algumas condutas, como nos casos de racismo, tortura, ação de grupos armados
contra a ordem constitucional, crimes ambientais e violências contra a criança, sendo que,
noutro aspecto, a Constituição impede a criminalização de outras condutas, como as
inviolabilidades dos Deputados e Senadores
Em linhas gerais, eis a relação entre elas:

O Direito Penal não é senão um subsistema de normas que devem, por imperativo de
supremacia, obediência às normas constitucionais, as quais por meio de princípios e
regras, vão condicionar, como será verificado, o próprio legislador e o juiz a se
portarem consoante as diretrizes por elas estabelecidas. A Constituição contém os
comandos superiores quanto à operacionalização do Direito Penal, como também
encerra, explícita e implicitamente, a possibilidade de criminalização e
descriminalização de condutas, regulando assim direito fundamental dos indivíduos:
a liberdade. É a Constituição, pois, que traça os contornos da possibilidade ou
impossibilidade da criação de infrações penais, além de fixar marcos que impedem e
os marcos que possibilitam a descriminalização.(LIMA, 2012,p.27).

Seguindo os estudos de Luís Roberto Barroso, a constitucionalização do direito está


associada a um efeito expansivo das normas constitucionais, cujo conteúdo se irradia, com
força normativa, por todo o sistema jurídico; na doutrina francesa, utiliza-se o termo
impregnar e impregnação, conforme as lições de Louis Favoreu, que, em célebre frase, afirma
que a constitucionalização dos direitos e liberdades “conduz a uma impregnação dos
diferentes ramos do direito, ao mesmo tempo que levam à sua transformação (BARROSO,
2009,p.351).
15

Em sentido mais objetivo, esta postura metodológica, técnica interpretativa ou


fenômeno jurídico-ideológico importa em que os valores, fins públicos e comportamentos
contemplados nos princípios e regras da Constituição passam a condicionar a validade e o
sentido de todas as normas de direito infraconstitucional e, de forma evidente, a
constitucionalização repercute sobre a atuação dos três Poderes, bem como nas relações entre
particulares.
E prossegue, finalizando seu raciocínio:

Em relação ao Legislativo, por exemplo, a constitucionalização limita sua


discricionariedade ou liberdade de conformação na elaboração das leis em geral:
tome-se, como exemplo, as comissões de Constituição e Justiça das respectivas
casas do Congresso Nacional; em relação ao Executivo, um deles é fornecer
fundamento de validade para a prática de atos de aplicação direta e imediata da
Constituição, independentemente da interposição do legislador ordinário; por fim,
em relação ao Poder Judiciário, é instrumento e parâmetro para o controle de
constitucionalidade por ele desempenhado (incidental e ação direta), bem como
condiciona a interpretação de todas as normas do sistema, papel este de grande
importância para a unidade e coerência do sistema (BARROSO, 2009,p.352).

Do ponto de vista jurídico-histórico, é de se destacar, também, a questão do


neoconstitucionalismo, que, nos dizeres de Francisco Segado, após a Segunda Guerra
Mundial e o holocausto houve uma releitura da dogmática constitucional centrada na
dignidade da pessoa humana, que se torna o núcleo central do constitucionalismo, atrelado à
base dos direitos fundamentais, bem como do Estado Democrático de Direito (FERNANDES,
2013,p.58).
Observe-se que do ponto de vista do autor, é de se esclarecer a amplitude dessa
releitura e as implicações para o Direito Penal-Constitucional.
A questão que se coloca, a princípio, é a de que o neoconstitucionalismo se trata de
um novo constitucionalismo, de cunho contemporâneo, chegando ao Brasil, nos últimos anos,
por derivação da doutrina constitucional espanhola e italiana. (FERNANDES, 2013,p.59).
Ocorre que existem vários neoconstitucionalismos, com suas respectivas teses, como
adverte Daniel Sarmento:

Os adeptos do neoconstitucionalismo buscam embasamento no pensamento de


juristas que se filiam a linha bastante heterogênea, como Ronald Dworkim, Robert
Alexy, Peter Häberle, Gustavo Zagrebelsky, Luigi Ferrajoli e Carlos Santiago Nino,
e nenhum deles se define hoje, ou já se definiu, no passado, como
neoconstitucionalista. Tanto os referidos autores, como entre aqueles que se
apresentam como neoconstitucionalistas, constata-se uma ampla diversidade de
posições jusfilosóficas e de filosofia política: há positivistas e não positivistas,
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defensores da necessidade do uso do método na aplicação do direito e ferrenhos


opositores do emprego de qualquer metodologia na hermenêutica jurídica, adeptos
do liberalismo político, comunitaristas e procedimentalistas. Nesse quadro, não é
tarefa singela definir o neoconstitucionalismo, talvez porque, como já revela o bem
escolhido título da obra organizada por Carbonell, não exista um único
neoconstitucionalismo, que corresponda a uma concepção teórica clara e coesa, mas
diversas visões sobre o fenômeno jurídico na contemporaneidade, que guarda, entre
si alguns denominadores comuns relevantes, o que justifica que sejam agrupadas sob
o mesmo rótulo, mas compromete a possibilidade de uma compreensão mais precisa
(FERNANDES, 2013,p.60).

Em que pese a salutar advertência do autor acima, o fato é que há um consenso,


ainda que não unânime, ou seja, de forma majoritária, sobre os fundamentos, características e
consequências do neoconstitucionalismo para a sistemática jurídico-constitucional dos dias
atuais, até porque o movimento de uma tese, partindo do sistema filosófico-jurídico, para o
jurídico-sistemático ou dogmático não é linear ou segue um caminho pré-traçado, ou pré-
ordenado: ele vai seguir os fluxos e influxos do sistema em que transita, ora influenciando,
ora sendo repelido por ele.
Assim é que se pode traçar um panorama, em relação aos marcos característicos da
seguinte forma:

Mas quais seriam esses pontos comuns? Ou seja, esse conjunto de cânones que
permite (não sem divergências!) a boa parte da doutrina brasileira, por influência do
constitucionalismo do pós-Segunda Guerra Mundial que se descortinou na Europa,
trabalhar e afirmar a existência de um novo e diferenciado constitucionalismo
(contemporâneo).
Para Luís Roberto Barroso, adepto fervoroso e um dos precursores do
neoconstitucionalismo na doutrina pátria, teríamos como características principais
para o surgimento desse fenômeno, os seguintes marcos:
1) marco histórico: a formação do Estado Constitucional de Direito, cuja
consolidação se deu ao longo das décadas finais do século XX;
2) marco filosófico: o pós-positivismo, com a centralidade dos direitos fundamentais
e a reaproximação entre o direito e a ética;
3) marco teórico: o conjunto de mudanças que incluem a força normativa à
Constituição, a expansão da jurisdição constitucional e o desenvolvimento de uma
nova dogmática da interpretação constitucional, em que se atribui à norma
constitucional o status de norma jurídica, superando-se, assim, o modelo que
vigorou na Europa até meados do século passado, no qual a Constituição era vista
como um documento essencialmente político, um convite à atuação dos Poderes
Públicos. (FERNANDES, 2013,p. 61).

Uma vez traçados os principais pontos, acontecimentos ou limites que contribuíram


para o surgimento do neoconstitucionalismo, passar-se-á a analisar as principais perspectivas,
como a da constitucionalização do direito, com a irradiação das normas constitucionais e
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valores constitucionais, como já tratado acima, sobretudo os relacionados a direitos


fundamentais, no que se refere à busca pela efetividade dos direitos fundamentais, tendo em
vista sua eficácia irradiante, para todos os ramos do ordenamento, inclusive o direito penal e
processual penal, não é demais dizer, no sentido de que as normas constitucionais dotadas de
força normativa devem percorrer todo o ordenamento e condicionar a interpretação e
aplicação do direito, com destaque para os direitos e garantias fundamentais que tratam das
penas, inclusive.(FERNANDES, 2013,p.62).
Outro ponto, como já mencionado acima, é a perspectiva neoconstitucional do
reconhecimento da força normativa dos princípios jurídicos e a valorização de sua
importância no processo de aplicação do Direito, que vem ganhando destaque, quando se
analisam princípios como o da proporcionalidade, dignidade da pessoa humana, humanidade,
dentre outros, de aplicação direta no campo do Direito penal.(FERNANDES, 2013,p.62).
Ademais, é de se ressaltar, também, a rejeição do formalismo e a busca mais
frequente a métodos ou estilos mais abertos de raciocínio jurídico, como a ponderação, tópica,
teorias da argumentação, metódica estruturante, dentre outros, o que contribui para a evolução
do Direito como ciência, bem como no seu aspecto dogmático, cujo raciocínio de
construção/desconstrução ou o contrário permite-se tanto uma construção normativa quanto
uma evolução na interpretação e aplicação das normas, em função do tempo e das
contingências sociais.(FERNANDES, 2013,p. 62).
Em termos mais explícitos, Julio Fabrini Mirabete explica como se dá essa influência
da Constituição:

O Direito Processual Penal, como qualquer outro, deve submeter-se ao Direito


Constitucional em decorrência da supremacia da Constituição na hierarquia das leis.
É na Carta Magna que se institui o aparelho judiciário, se regula o exercício da
atividade jurisdicional, se definem as garantias individuais, se registram casos de
imunidade etc.
Na nova Constituição Federal, se disciplina a instituição do Poder Judiciário,
inclusive na sua atividade jurisdicional penal (arts. 92 a 126), se regula o Ministério
Público como o órgão destinado a deduzir em Juízo a pretensão punitiva (arts. 127 a
130), se organizam as polícias (art. 144) etc. No artigo 5°, a Carta Constitucional
prevê as garantias constitucionais, inclusive as relativas ao status libertatis da pessoa
humana, que devem encontrar na lei processual penal a maneira adequada de se
imporem no caso concreto. Referem-se elas: ao processo penal, com os princípios do
juiz natural (incs. XXXVII e LII), do devido processo legal (inc. LIV), do estado de
inocência (inc. LVII), da ampla defesa e do contraditório (inc. LV), da
inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos (inc. LVI), da ação penal
privada subsidiária (inc. LIX), da concessão de habeas-corpus em caso de
ilegalidade ou abuso de poder (inc. LXVIII) etc.; às formalidades essenciais
relativas à prisão (incs. XI, LXI, LXII, LXIII, LXIV, LXV, LXVI, LXVII); à
instituição do Júri, com competência mínima para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida (XXXVIII); às regras sobre fiança (incs. XLII, XLIII, XLIV, LXVI) e
liberdade provisória (inc. LXVI); à execução da pena privativa de liberdade (incs.
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XLVIII, XLIV, L); à extradição (incs. LI e LII); à assistência jurídica (inc. LXXIV)
etc. (MIRABETE, 2000, p.31).

E assim é que se permite trabalhar temas como o presente, já que devido sua
importância no sistema penal-prisional, merece atenção neste trabalho.
Em que pese a existência de toda uma postura metodológico-ideológica em que
promoveu um giro na interpretação e aplicação das normas de todos os ramos, há um debate
na doutrina e jurisprudência confrontando duas posições, uma a favor do RDD outra contra,
colocando-o numa posição de inconstitucionalidade e permitindo que se discuta a validade de
sua aplicação a presos de alta periculosidade.

1.2 PRINCIPAIS PRINCÍPIOS

Talvez o grande parâmetro de discussão sobre o tema, está na questão sobre os


princípios que norteiam a execução penal, já que a maioria possui status constitucional, o que
impõe raciocínio de ponderação.
Renato Marcão assim especifica que afirmar a natureza jurisdicional da execução
penal implica admitir sua sujeição aos princípios e garantias constitucionais incidentes:

Bem por isso o acerto das observações de PAULO LÚCIO NOGUEIRA, quando diz
que “é indispensável a existência de um processo, como instrumento viabilizador
da própria execução, onde devem ser observados os princípios e as garantias
constitucionais a saber: legalidade, jurisdicionalidade, devido processo legal,
verdade real, imparcialidade do juiz, igualdade das partes, persuasão racional ou
livre convencimento, contraditório e ampla defesa, iniciativa das partes,
publicidade, oficialidade e duplo grau de jurisdição, entre outros. Em particular,
deve-se observar o princípio da humanização da pena, pelo qual deve-se
entender que o condenado é sujeito de direitos e deveres, que devem ser
respeitados, sem que haja excesso de regalias, o que tornaria a punição
desprovida da sua finalidade”.
De fundamental relevância, ainda, o princípio da personalidade, também
denominado princípio da intranscendência, segundo o qual o processo e a pena,
bem como a medida de segurança, não podem ir além da pessoa do autor da
infração (art. 5º, XLV, da CF).(MARCÃO, 2012,p.65).

2 O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO E SUA ANÁLISE

Observe-se um caso prático a respeito do RDD:

A Justiça voltou a negar o isolamento em regime prisional mais rígido do líder do


Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
19

O pedido havia sido feito em outubro pelo secretário executivo do Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Everton Zanella, após o Estado
revelar uma megainvestigação do Ministério Público Estadual (MPE) sobre a
facção.
O pedido para inclusão no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), com até 22
horas de isolamento, foi negado na sextafeira pelo desembargador Péricles Piza.
Segundo ele, o MPE não apresentou documentos suficientes que demonstrassem que
o juiz da 5.ª Vara de Execuções Criminais da Capital, Tiago Henrique Papaterra
Limongi, agiu de forma ilegal ao não colocar o detento no RDD após um
representação do secretário de Administração Penitenciário do Estado de São Paulo,
Lourival Gomes. O magistrado da primeira instância entendeu que a conduta
criminosa atribuída a Marcola, como tráfico e ordens de execução, é praticada por
vários integrantes do PCC dentro do sistema prisional há muitos anos, com
conhecimento das autoridades e, portanto, não existiria urgência na medida. As
escutas usadas foram feitas entre 2009 e 2012. O preso nega que os diálogos
capturados ao longo da investigação sejam criminosos e justifiquem o seu
isolamento.(ESTADÃO, 2014).

A Lei de Execuções Penais traz, em seu artigo 52, a seguinte disposição:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando
ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou
condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com
as seguintes características: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003)
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção
por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena
aplicada; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)
II - recolhimento em cela individual; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
(Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou
condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. (Incluído pela Lei nº 10.792,
de 2003)
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório
ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou
participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
(Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003) (BRASIL, 1984).

A doutrina conceitua o RDD como uma sanção disciplinar aplicável aos presos
condenados ou provisórios, que decorre da prática de fato previsto como crime doloso (falta
grave), ocasionando subversão (tumulto) da ordem ou disciplina internas, independentemente
de trânsito em julgado da sentença condenatória.(FARIA,2012,p.60).
Em relação às hipóteses de cabimento, Rogério Sanches Cunha explica que
A primeira hipótese de cabimento da medida extrema se dá com a pratica de fato
previsto como crime doloso, que ocasione subversão da ordem ou da disciplina
internas. Logo, não será todo e qualquer crime doloso que sujeitará o seu agente ao
RDD, mas apenas aqueles que causam tumulto necessário.
Aqui incluímos, também, a prática de crime preterdoloso (ou preterintencional), pois
este nada mais é que um crime doloso agravado pelo resultado culposo. Aliás, para
reforçar esse entendimento, basta colocarmos a seguinte situação hipotética: dois
20

pavilhões de um presidio se deparam com alguns internos promovendo uma


rebelião, oportunidade em que colocam fogo nos colchões. Num dos pavilhões, o
fogo destrói vários cômodos e, apesar de causar subversão na ordem, não traz
maiores danos ao local. No outro, o fogo, além de subverter a ordem do local, causa,
culposamente, a morte de um agente penitenciário. Excluir o preterdolo do alcance
da norma seria aplicar o RDD para os faltosos do primeiro pavilhão, e não para os
do segundo, cujo resultado foi até mais grave. A situação ficaria, no mínimo,
esquisita.
Mesmo que o crime doloso, causador da desordem carcerária, fique no campo da
tentativa, será punido com a sanção correspondente à falta consumada (art. 49,
paragrafo único da LEP). No entanto, a circunstância do conatus será considerada na
duração da punição.
Sem prejuízo da sanção administrativa, o preso faltoso responderá penalmente pelo
crime doloso praticado, não se cogitando de bis in idem em face da diferente
natureza das punições. (CUNHA, 2012, p.61).

Note-se que a doutrina trata da configuração do crime de uma forma exemplificativa e


que tenha plausibilidade com o artigo referente ao RDD, sem entrar na questão da
constitucionalidade ou não ou no juízo de valor.
A quem o RDD se destina? Assim, essa pergunta se faz de maneira que seja
respondida da seguinte forma:

O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou


condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
O RDD também se aplica ao preso provisório ou definitivo que, independentemente
do crime praticado ou condenado, apresenta alto risco para a segurança interna do
estabelecimento prisional ou para a sociedade. É o caso do interno que, mesmo
dentro do presidio ou estabelecimento prisional, comanda crimes do lado de fora
(extra muro), colocando em risco a sociedade e a própria milícia.
Para se evitar um direito penal do autor, o alto risco apresentado pelo preso deve
derivar de fato pretérito por ele cometido ou para o qual concorreu direta ou
indiretamente.
Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o
condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação,
a qualquer titulo, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
Outra hipótese repousa no caso do preso provisório ou definitivo que integre
organização criminosa, quadrilha ou bando. Eis aqui a preocupação do legislador
pátrio em coibir, de maneira firme e convincente, os integrantes das empresas
criminosas, verdadeiros lideres, com seguidores dentro e fora do sistema carcerário,
merecendo, por isso, isolamento como forma de desmantelar o malfazejo grupo.
(SANCHES, 2012,p.61).

É de se ressaltar que existe a crítica em relação à expressão “fundada suspeita”


utilizada pelo inciso em análise, pois, ainda de acordo com Sanches, entende-se inaplicável
medida tão drástica quando presentes apenas fundadas suspeitas (indícios). Deve ser
devidamente comprovado algum fato ligando o interno, a qualquer titulo (coautor ou
partícipe, moral ou material), a uma sociedade criminosa. (CUNHA, 2012,p. 62).
Ademais, em complementação ao conceito, verifica-se que
21

Também é cabível imposição do RDD para aqueles presos que, mesmo não tendo
praticado crime doloso durante o encarceramento, apresentem alto risco para a
ordem e a segurança do estabelecimento e da sociedade (art. 52, §1º, LEP), bem
como para aqueles sobre os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento em
organização criminosa, quadrilha ou bando (art. 52, §2º, LEP). (FARIA, 2012, p.
61).

E a partir daí, com a constituição de um Regime Disciplinar Diferenciado surge uma


celeuma na doutrina e jurisprudência pátria cujos principais pontos serão aqui discutidos:

Punições menos diretamente físicas, uma certa discrição na arte de fazer sofrer, um
arranjo de sofrimentos mais sutis, mais velados e despojados de ostentação,
merecerá tudo isso um tratamento à parte, sendo apenas os efeitos em dúvida
de novos arranjos com maior profundidade?” (FOUCALT apud MOREIRA, 2015,
p.754)

Surgem também questionamentos de cunho humanista e observando a dignidade do


preso; é de se destacar aí o breve histórico da lei 10.792/03, que alterou a Lei de Execuções
Penais e instituiu o RDD:

No ano de 2003 foi promulgada uma lei que alterou o Código de Processo Penal e,
de quebra, modificando também a Lei de Execução Penal, instituiu entre nós o
chamado Regime Disciplinar Diferenciado – RDD. Como outras tantas leis no
Brasil, esta também foi ditada no afã de satisfazer a opinião pública e como uma
resposta à violência urbana (ao menos no que concerne à alteração produzida na Lei
de Execução Penal). (MOREIRA, 2015, p.754).

A crítica aqui se dirige no sentido de que a lei é uma maneira de se fazer política
criminal de forma superficial, no sentido de satisfazer a opinião pública em relação a eventos
criminosos de maior repercussão na mídia.
Ademais, a crítica da doutrina se dirige à utilização do Direito Penal como meio
absolutamente ineficaz em dissonância com os outros meios sociais que deveriam ser
utilizados no equacionamento do problema:

Mais uma vez, utiliza-se de um meio absolutamente ineficaz para combater a


criminalidade, cujas raízes, sabemos todos, está na desigualdade social que ainda
reina no Brasil (apesar da esperança que ainda também nos resta).Efetivamente,
nos últimos anos temos visto várias leis criminais serem apresentadas como um
bálsamo para a questão da violência urbana e da segurança pública, muitas delas
com vícios formais graves e, principalmente, outros de natureza substancial,
inclusive com mácula escancarada à Constituição Federal (MOREIRA, 2015,p.756).

Sobre os prazos, é de se verificar que o RDD se prolonga por


22

Duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção


até o limite de um sexto da pena aplicada (no caso de preso provisório, sem pena
aplicada, leva-se em consideração a pena mínima cominada); recolhimento em cela
individual, com direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol;
limitação de visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração
de duas horas.(FARIA, 2015,p.64)

Sobre as condições, Rogério Sanches Cunha (2012,p.60) destaca, ainda, que em


relação ao cumprimento da sanção e as características, se dará em cela individual (a conhecida
solitária), com acompanhamento psicológico: o isolamento deve ser implantado sem se
desconsiderar as proibições trazidas pelo artigo 45 da LEP, onde, no seu segundo parágrafo,
veda o emprego de cela escura, acrescentando a doutrina, ainda, os alojamentos inabitáveis ou
insalubres.
Em relação às visitas, o preso sujeito ao RDD se condiciona aos seguintes pontos:

visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas; A proibição parece simples. Contudo, o modo peculiar como foi redigida
trará discussão. A ressalva “sem contar crianças” quer exclui-las das visitas, ou
apenas não computa-las no limite máximo de dois visitantes?
As duas assertivas parecem possíveis de serem extraídas da simples leitura do inciso
em comento. No entanto, esse conflito é apenas aparente, extraindo-se a resposta do
próprio sistema jurídico.
Vejamos.
Sabemos todos ser fundamental ao regime penitenciário a regra de que o preso não
deve romper seus contatos com o mundo exterior e que não sejam debilitadas as
relações que o une aos familiares e amigos. Não há duvida de que os laços mantidos
principalmente com a família são essencialmente benéficos para o preso, porque o
leva a sentir que, mantendo contatos embora com limitações, com as pessoas que se
encontram fora do presidio, não foi excluído da comunidade (Mirabete, ob. cit.
p.124).
Dentro desse espirito, mesmo quando incluído no regime mais drástico de
cumprimento de pena, deve ser garantido ao interno faltoso o direito de relacionar-se
com seus entes queridos.
Contudo, considerando os princípios basilares traçados no Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei nº 8069/90) – principio da prevenção geral e especial; do
atendimento integral à criança; garantia prioritária; proteção estatal; prevalência dos
interesses do menor; indisponibilidade dos interesses do menor – a proibição de
visitas de crianças parece mais correta. Aliás, as regras mínimas da ONU, no seu
preceito, dispõe que se deve velar particularmente para que se mantenham e
melhorem as boas relações entre o preso e sua família quando estas sejam
convenientes para ambas as partes (grifamos). Ora, a visita de crianças, no caso, não
nos parece nada conveniente. (CUNHA, 2012, p.60).

IV – o preso terá direito a saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. 61

Fica claro que o direito do preso se limita à saída da cela por duas horas diárias para o banho de sol, sem um
horário pré-determinado para tanto (aliás, considerando o tipo de preso submetido a tal regime, evitar rotina é o
mais adequado). 61
23

O autor se utiliza de um relatório das consequências e da causa para se instituir o


RDD da seguinte forma:

Pela norma, estabelece-se que a prática de fato previsto como crime doloso constitui
falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o
preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
diferenciado, com a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave
e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
diferenciado, com as seguintes características: duração máxima de trezentos e
sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma
espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; recolhimento em cela
individual; visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração
de duas horas e direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
(MOREIRA, 2015, p.756).

Rômulo de Andrade Moreira ainda faz as seguintes indagações ao criticar o RDD, na


forma como se segue:

Também por força da referida lei, o RDD “poderá abrigar presos provisórios” (leia-
se: aqueles ainda sem uma condenação definitiva e, portanto, presumivelmente não
culpados, segundo a nossa Carta Magna) “ ou condenados, nacionais ou
estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do
estabelecimento penal ou da sociedade”, bem como “ o preso provisório (idem) ou o
condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação,
a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando”. O que seriam
mesmo fundadas suspeitas? Afinal, a presunção constitucional não é a de não
culpabilidade? E o que seria mesmo uma organização criminosa? Como se sabe, não
há no Brasil uma lei que traga tal definição, ferindo-se, destarte, o princípio da
legalidade, também de índole constitucional. (MOREIRA, 2015, p.757).

A ideia é a de que a norma deixa em aberto muitos conceitos que podem ser
enquadrados pelo Juiz da execução, por exemplo, ao considerar, por exemplo, o que sejam
fundadas suspeitas, o que fica a crítica deixada como forma de se rebater alguns pontos do
RDD.
Pois como afirma Luiz Flávio Gomes:

Nenhum ser humano pode sofrer tanta aflição por suspeitas. Viola o princípio da
presunção de inocência agravar as condições de cumprimento de uma pena em razão
de suposições ou suspeitas. E se o agente efetivamente integra alguma organização
criminosa, por isso irá responder em processo próprio. Aplicar-lhe mais uma
sanção pelo mesmo fato significa bis in idem (dupla sanção ao mesmo fato). Pela
gravidade do RDD e pelo nível de constrangimento que ele implica ao bem jurídico
liberdade, somente provas inequívocas relacionadas com um fato concreto
praticado dentro do presídio é que poderiam permitir a sua aplicação. O Estado
constitucional, democrático e garantista de direito é o que procura o equilíbrio entre
a segurança e a liberdade individual, de maneira a privilegiar, neste balanceamento
de interesses, os valores fundamentais da liberdade do ser humano. O desequilíbrio
em favor do excesso de segurança com a consequente limitação excessiva da
24

liberdade das pessoas implica, assim, em ofensa ao referido modelo de Estado


(GOMES, 2006).

Sobre as condições de decretação do regime, o Superior Tribunal de Justiça foi claro e


objetivo ao fazer uma interpretação constitucional do dispositivo referente ao RDD:

Para que haja a inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado (RDD), é ne-
cessário ocorrer ao menos uma das hipóteses previstas no art. 52 da LEP. Ademais, a
decisão judicial sobre a inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado terá
que ser fundamentada pelo juiz das execuções criminais e determinada no processo
de execução penal, bem como precedido de manifestação do Ministério Público e da
defesa. Na espécie, não verificada a ocorrência de nenhum dos requisitos, a Turma
concedeu a ordem para que se transfira o paciente do regime disciplinar diferen-
ciado para o conjunto penal em que anteriormente se encontrava”. (STJ – HC 89.935
/BA –Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura – j. em 06.05.2008). (BRASÍLIA,
2008)

Um dos requisitos da inclusão do RDD se refere ao prévio e fundamentado despacho


do juiz competente que também é alvo de críticas:

A inclusão no RDD será determinada por “prévio e fundamentado despacho do juiz


competente”, a partir de “ requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do
estabelecimento ou outra autoridade administrativa”, sendo imprescindível a
“manifestação do Ministério Público e da defesa”, devendo ser “ prolatada no prazo
máximo de quinze dias”. Pergunta-se: quem seria esta outra autoridade
administrativa? O Secretário de Estado da Justiça? O Governador do Estado?
Estariam eles então, agora, a figurar como partes ou sujeitos do procedimento
jurisdicional de execução penal?(MOREIRA, 2015, p.757).

Poder-se-ia, aqui, defender pela edição de decreto regulamentador da lei, a fim de


indicar quem é a autoridade administrativa, no caso acima:

Diferentemente das outras sanções disciplinares, o RDD só pode ser aplicado pelo
juiz da execução, em decisão fundamentada, no prazo de quinze dias, ouvido o
Ministério Público e a defesa. A legitimidade para requerer a inclusão do preso no
RDD é do diretor do estabelecimento ou de outra autoridade administrativa. Não
cabe ao membro do Ministério Público pleiteá-lo, tampouco ao juiz aplica-lo de
oficio. (FARIA, 2012,p.63).

Mais uma vez, os argumentos a favor da inconstitucionalidade ainda adquirem os


seguintes contornos:

Cotejando-se, portanto, o texto legal e a Constituição Federal, concluímos com


absoluta tranquilidade ser tais dispositivos flagrantemente inconstitucionais, pois no
Brasil não poderão ser instituídas penas cruéis (CF/88, art. 5º, XLVII,“e”),
assegurando-se aos presos (sem qualquer distinção, frise-se) o respeito à
integridade física e moral (art. 5º, XLIX) e garantindo-se, ainda, que ninguém será
25

submetido a tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III). (MOREIRA,


2015.p.757).

Ponderando, convém aqui destacar o que a doutrina de Direito Constitucional entende


sobre os dispositivos acima, através das lições de Ives Gandra Martins:

Em primeiro lugar, o texto constitucional prevê que não haverá pena de morte.
Nosso Regime Democrático de Direito procura preservar a dignidade do cidadão,
ainda quando ele não teve um comportamento adequado na vida social. No passado,
conhecemos a tortura durante o regime militar. Por isso punimos rigorosamente o
torturador, mesmo que alegue estar aplicando a lei. O excesso de pena e a utilização
de métodos violentos a pretexto de agir em defesa da cidadania não são admitidos
pela Constituição. Por isso, o inciso inicia dizendo que a pena de morte é proibida
no Brasil.
Essa é uma das razões pelas quais sou contra o aborto, que nada mais é do que a
aplicação da pena de morte ao nascituro. Nosso ordenamento não comporta aborto
de nenhuma espécie, não só porque o direito à vida é garantido, mas por essa ser
uma pena de morte dirigida a um ser humano. Uma vez que o Brasil assinou o
Tratado de São José da Costa Rica, nossa legislação incorporou a disposição que
reconhece surgir a vida no momento da concepção. Essa é a razão de constar no art.
4o do Pacto de São José, o Tratado Internacional de Direitos Fundamentais. O
mesmo consta no art. 21 do Código Civil.(MARTINS, 2005,p.106).

As lições do constitucionalista mostram a fronteira ideológica que a Constituição


determina sobre o excesso de pena e a utilização de métodos violentos.
Ademais, destacam-se as seguintes lições:

A pena de morte não é admitida em hipótese alguma, exceção feita aos tempos de
guerra. Mas o Brasil só pode participar de guerras defensivas, como já examinamos
nos arts. 3o e 4o da Constituição, e, por esse motivo, não podemos participar de
guerras de invasão, de conquista. Uma outra vantagem é que, embora conste na
Constituição essa possibilidade, estou convencido de que, se nos envolvêssemos
numa guerra defensiva, dificilmente aplicaríamos a pena de morte, pois este
comportamento não é compatível com a maneira de ser do brasileiro.
A segunda impossibilidade refere-se às penas de caráter perpétuo. Não há pena de
caráter perpétuo no Brasil. Há limites. Muitas vezes, em decorrência da prática de
vários crimes e da soma das penas por eles cominadas, o cidadão é condenado a 110,
112 anos de prisão. Entretanto, o período máximo que um cidadão pode permanecer
no cárcere é 30 anos.
Em terceiro lugar, proíbe-se a pena de trabalhos forçados. As galeras que existiam
no tempo da civilização romana não seriam possíveis no Brasil.
Em seguida, proíbem-se as penas de banimento. O cidadão não pode ser deportado
para outro país, como aconteceu, por exemplo, com Aristides, na Grécia antiga. No
plebiscito, seus concidadãos o levaram para fora da cidade-estado de Atenas.
E, por último, não pode haver a imposição de penas cruéis. Ou seja, castigos
corporais do tempo da escravatura não podem ser aplicados hoje, pois agridem a
dignidade do ser humano.(MARTINS, 2005, p.106).

Em reforço à ideologia da Constituição, a dignidade do ser humano é um parâmetro


de delimitação das penas ou de medidas administrativas que visem à defesa da ordem e
segurança nacionais, uma vez que
26

Como o leitor percebe, entre esses dispositivos do art. 5o da Constituição há um


grande número de itens que foram postos para evitar qualquer tipo de violência do
Estado. Essa Constituição surgiu logo depois do afastamento do regime de exceção
que vigorou no Brasil. Por isso, os constituintes se preocuparam em detalhar os
comportamentos proscritos, temendo um retorno aos anos da ditadura. Acharam que
valia a pena explicitar, como cláusulas fundamentais da nossa Constituição,
garantias de proteção à dignidade humana. Pretenderam evitar torturas e tudo aquilo
que houve no Brasil nos primeiros anos da ditadura – embora em grau inferior ao
que se observou, praticamente na mesma época, em quase toda a América Latina,
lembrando-se que os guerrilheiros também assassinaram muitos civis e soldados do
país. (MARTINS, 2005, p. 107).

Nesse aspecto, em que pese os argumentos acima, há que se interpretar conjuntamente


com as teorias adotadas por ocasião da normatização constitucional das mesmas, como bem
explicam Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco:

Embora a presente, de forma exemplificativa, as penas aplicáveis ou não, é certo que


a Constituição não perfilha, de forma expressa, uma dada doutrina ou teoria quanto à
função da pena. Cogita-se na doutrina de teorias absolutas ou relativas. As primeiras
– absolutas – estão associadas à ideia de retribuição ou de expiação, reparação ou
compensação do mal do crime. Inicialmente, admitia-se que a pena destinava-se à
“igualação” ou “compensação” a operar entre o “mal do crime” e o “mal da pena”.
Superada a fase do talião, a igualação haveria de ser exclusivamente normativa.
Observa Figueiredo Dias que, qualquer que seja o valor ou desvalor das teorias
absolutas como teorização dos fins da pena, elas teriam tido o irrecusável mérito de
erigir a culpa como pressuposto e limite de toda aplicação de pena.
As teorias relativas reconhecem que as penas têm também um sentido social-
positivo que, em última instância, busca a prevenção ou profilaxia criminal. Nessas
teorias, distinguem-se as doutrinas da prevenção geral, destinadas “a atuar sobre a
generalidade dos membros da comunidade, afastando-os da prática de crimes,
através da ameaça penal estatuída pela lei, da realidade de sua aplicação e da
efetividade da sua execução”
Assim, a pena tanto pode ser vista como mecanismo de intimidação de outras
pessoas para que não cometam fatos puníveis (prevenção geral negativa), quanto
como instrumento de reforço da confiança da comunidade na vigência das normas
penais (prevenção geral positiva ou de integração) (MENDES; BRANCO, 2014,
p.487).

Veja-se que o RDD incorpora princípios da teoria da prevenção geral quando da


efetividade de sua execução, já que o executado que a cumpre é classificado como tal e lhe é
dado conhecimento público de sua condição, como se verá a seguir.
Ademais, prosseguem os autores explicando sobre as demais teorias que compõem o
panorama constitucional-penal acerca das penas:

Por seu turno, as doutrinas de prevenção especial ou individual assentam-se na


atuação sobre a pessoa do delinquente com o fim de evitar que venha a cometer
novos crimes. Objeto de críticas em razão de seu caráter pretensamente utópico, a
ideia de prevenção especial revela também compatibilidade com a função do direito
penal como direito de tutela subsidiária dos bens jurídicos. As doutrinas de
prevenção especial tanto podem ser vistas como instrumentos de prevenção especial
negativa (separação, segregação ou neutralização do delinquente) quanto como
27

mecanismo de prevenção especial positiva ou de socialização (inserção social,


socialização ou ressocialização). Cogita-se ainda de uma finalidade autônoma e
nova da pena, que seria a de realizar uma possível concertação entre agente e vítima
mediante a reparação dos danos patrimoniais e morais causados pelo crime (justiça
restaurativa). Figueiredo Dias considera questionável reconhecer na“reparação” um
tertium genus das sanções penais. (MENDES; BRANCO, 2014,p.488).

Como visto acima, a norma referente ao RDD visa também à realização da


prevenção especial, atuando sobre a pessoa do delinquente e tutelando a segurança pública.
Observe-se que a questão, ainda, deve ser analisada por conta do princípio da
necessidade da pena, o que torna o debate não tão simples de ser resolvido, já que no contexto
atual, de inércia dos poderes públicos em relação à determinados setores da sociedade, como
educação, saúde, dentre outros, não se justifica que o Direito Penal fique inerte de
desempenhar seu papel esperando que outros setores assim o façam:

Embora não o tenha formulado de forma expressa, é certo que, ao elencar os


diversos tipos de penas passíveis de serem aplicadas, o constituinte brasileiro consa-
grou também o princípio da necessidade da pena.
Em outros termos, a aplicação da pena e a determinação de sua medida hão de se
louvar pela ideia de necessidade. Daí aceitar-se que tanto as teorias de prevenção
geral como as de prevenção especial acabam por ter um papel na definição dos bens
tutelados e na medida da pena. A concepção puramente retributiva, observa
Figueiredo, nada tem a dizer em matéria de finalidade da pena, cabendo-lhe, sim,
como observado, o mérito de revelar a essencialidade do princípio da culpa e do
significado deste para o problema da finalidade da pena. A Constituição veda
expressamente a pena de morte, as penas de caráter perpétuo, as penas de trabalho
forçado, de banimento e as penas cruéis (art. 5º, XLVII). Determina-se, igualmente,
que se assegure a integridade física e moral dos presos (art. 5º, XLIX). (MENDES;
BRANCO, 2014,p.488).

Como é fato público e notório e como destacado acima, a ideia de necessidade da


pena pode ser vista como uma salvaguarda em momentos de crise em que os poderes públicos
não conseguem, através dos instrumentos sociais, reduzirem os problemas decorrentes da
criminalidade, não podendo haver a inércia de todos os setores, como o Direito Penal, o que
não autoriza, por outro lado, o mal uso das medidas como o RDD.
Ademais, é de se destacar as lições de Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gonet Branco
sobre os efeitos colaterais das penas:

Observa-se, porém, que a proibição de penas cruéis e a exigência de respeito à


integridade física e moral do preso não impedem o padecimento moral ou físico
experimentado pelo condenado, inerentes às penas supressivas da liberdade.
Quanto à pena de morte, a Constituição admite tão somente a sua aplicação nos
casos de guerra declarada nos termos do art. 84, XIX. Em razão do aumento da
criminalidade, tem surgido proposta de emenda constitucional com o objetivo de
introduzi-la entre nós para aplicação aos crimes comuns. Indaga-se daí se seria
28

possível tal opção tendo em vista o disposto no art. 60, § 4º, IV, da Constituição.
Na nossa visão, está-se diante de postulado que não poderá ser flexibilizado ou
relativizado em face da proibição constante da referida cláusula pétrea.
(MENDES; BRANCO, 2014,p. 488).

Há que se destacar que o raciocínio envolve também, a questão da individualização


da pena, já que

Outro tema importante diz respeito à cominação de pena, de alguma forma já


contemplado no âmbito da individualização in abstracto. Confere-se ao legislador
o poder-dever de proceder às avaliações com vistas a criminalizar determinadas
condutas e fixar as penas devidas. Assim, nota Cernicchiaro, homicídio e
infanticídio quanto ao resultado se identificam, pois sacrificam a vida humana.
Não obstante, tendo em vista as circunstâncias especiais em que a conduta da mãe
é realizada, adota -se aqui um tratamento penal mais benigno.(MORAES;
BRANCO, 2014,p.489).

No que se refere ao RDD, a sua fixação em abstrato, como visto, está contida no
artigo 52 da Lei de Execuções Penais, de forma que, como observado, as críticas de várias
formas e argumentos.
O artigo 5º, inciso XLVI, estabelece que a lei regulará a individualização da pena e
adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c)
multa; d) prestação social alternativa e, por último, e) suspensão ou interdição de direitos.
(BRASIL, 1988).
Sua melhor interpretação se dá no sentido de que a Constituição não regulou
diretamente o instituto da individualização, deixando ao legislador ordinário a atribuição da
definição dos critérios de sua aplicação; em outras palavras, trata-se de norma constitucional
de eficácia limitada (aplicação concreta diferida), uma vez que é a lei que vai oferecer ao juiz
os elementos subjetivos e objetivos “de aplicação individualizada da pena, da aplicação da
pena em função do caso concreto”. A ressalva é no sentido de que não é uma norma
programática, em que algum setor da doutrina penal costuma defender, já que “a
individualização é uma garantia constitucional inafastável”. (SILVA, 2006).
Tratar sobre a questão do encarceramento é tratar, primeiramente, sobre a
individualização da pena, que se trata de uma garantia constitucional relativa, uma vez que,
como visto, sua regulamentação depende de lei: seu fundamento está no princípio da justiça,
devendo-se dar a cada um aquilo que é seu, “de acordo com as circunstâncias do seu agir”, ou
seja, em matéria penal, significa a aplicação da pena levando em conta não a norma penal em
abstrato, mas, os aspectos subjetivos e objetivos do crime.(SILVA,2006, p.145).
A doutrina trata da individualização em três planos, ou perspectivas, visando melhor
29

compreender a questão, com fundamento nos estudos de José Frederico Marques:

A compreensão da individualização da pena não será completa se não se levarem em


conta os três planos em que se verifica: o legislativo, o judicial e o executório.
Individualização legislativa. Para compreendê-la basta recorrer ao seguinte texto de
Frederico Marques: “A individualização legislativa é a que o legislador estabelece
quando discrimina as sanções cabíveis, delimita as espécies delituosas e formula o
preceito sancionador das normas incriminadoras ligando a cada um dos fatos típicos
uma pena que varia entre um mínimo e um máximo claramente determinados”.
(SILVA, 2006,p.145).

Na individualização legislativa, fica claro que o legislador deve observar desde a


constitucionalização do direito, ao instituir os bens jurídicos mais importantes e observar até
que ponto, como analisado acima, a influência que os fins da sociedade podem atingir o
trabalho legislativo de construção das normas penais, desde aquelas que tipificam crimes, até
as que estabelecem as sanções e o modo de se aplicá-las. (BARROSO, 2009).
Em relação à individualização da pena, em relação ao Poder Executivo ou de caráter
executório:

Mediante tratamento penitenciário ou pena alternativa que leve em conta também os


mesmos critérios que levaram o juiz a dar dimensão individualizada a cada
criminoso. A Constituição não ficou alheia a essa questão quando estabeleceu que
“a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado” (inciso XLVIII). Mas aí está apenas a
orientação mínima, porque o princípio da individualização, no plano da execução da
pena, requer muito mais. Lamentavelmente, nem o mínimo exigido na Constituição
tem sido observado. A individualização executória da pena só seria cumprida de
forma cabal se se pudesse dar atenção a cada reeducando em estabelecimentos
pequenos de cumprimento da pena. A execução em massa da pena não possibilita
obediência adequada à individualização. (SILVA, 2006, p.146).

Por sua vez, a individualização judicial, que se diferencia da legal, uma vez que esta
não pode descer a minúcias, não havendo como, em abstrato, estabelecer pautas ou tarifas
penais em modelos em que pudessem ser enquadrados todos os criminosos, já que a norma
tem sempre um grau apreciável de abstração, “daí que a efetiva graduação da pena se faz com
o trabalho meticuloso do juiz penal, cuidadoso em distribuir justiça em função de cada pessoa
humana submetida a seu julgamento”, havendo margem para a discricionariedade do juiz, que
é balizada, inclusive, pelo princípio da legalidade (SILVA, 2006,p.147).
A questão da individualização alcança um status de verdadeiro princípio
constitucional, em que se denomina princípio constitucional criminal da individualização
punitiva, cuja pena deve ser adaptada ao condenado, consideradas, inclusive, as características
do sujeito ativo e do crime. (BULOS, 2014, p.652).
Ademais, e também de forma importante atinge o tema, no campo da
individualização judicial, é de se destacar o que o Supremo Tribunal Federal já decidiu, no
30

sentido de que a referida individualização foi ampliada e não mais está restrita apenas ao
“processo de fixação in abstracto por parte do legislador e in concreto por parte do juiz,
quando da aplicação da sanção, mas abrange também a própria execução da pena”.
(MENDES, 2014, p.602).
É de se observar o seguinte ponto:

(...) III – Crime hediondo: regime de cumprimento de pena: progressão. Ao julgar o


HC 82.959, Pl., 23.2.06, Marco Aurélio, DJ 01.09.06, o Supremo Tribunal declarou,
incidentemente, a inconstitucionalidade do § 1 º do art. 2º da L. 8.072/90 – que
determina o regime integralmente fechado para o cumprimento de pena imposta ao
condenado pela prática de crime hediondo – por violação da garantia constitucional
da individualização da pena (CF, art. 5 º, LXVI) (...). RE -QO 534.327/RS, 1ª Turma
do STF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 25 -6 -2007, DJ de 9 -8 -2007.(SILVA,
2006, p.170).

Veja-se que o debate sobre o RDD se situa no plano da individualização da pena,


passando pela questão de sua constitucionalização, em tudo promovendo uma ponderação de
princípios e valores, de forma que:

Sobre o tema, vale mencionar o trabalho de Luciano Feldens, ao discorrer sobre a


tarefa de afirmar em que situações a tutela penal é exigível ou não. Confira-se, a
propósito, precedente da Corte alemã referido no estudo de Luciano Feldens:“2. a)
Cada norma penal contém um julgamento de desvalor ético-social, exercido com
autoridade estatal. O conteúdo concreto deste julgamento de desvalor resulta do
suporte fático penal e da ameaça penal (BverfGE, 25, 269[286]). A graduação das
diversas penas, segundo seu conteúdo de injustiça, corresponde, no Estado de
Direito, à sanção estipulada, segundo o tipo de injusto e o montante da pena. As
penas, mensuradas de acordo com a ideia de Justiça, precisam estar objetivamente
sintonizadas entre si, em face do suporte fático sobre o qual incidem. Por um lado,
o montante da pena se direciona conforme o valor normativamente fixado ao bem
jurídico protegido por disposição legal que foi lesado e pela culpa do autor. Por
outro lado, só é possível extrair o peso (a carga) de um crime a partir do conteúdo
de desvalor da ação. Assim, também a ameaça de punição é de significado decisivo
para a caracterização, avaliação e interpretação dos fatos delituosos. Somente a
partir de uma avaliação diferenciada do conteúdo de desvalor dos diferentes crimes
é que se justifica a graduação das sanções penais de forma compreensível e
objetiva. Ela também se fundamenta na diferenciação entre crimes e meras
irregularidades (ilícitos extrapenais); b) É tarefa do Direito Penal proteger os
valores elementares da vida comunitária. O que sem dúvida pertence ao núcleo
(cerne) do Direito Penal consegue-se averiguar com base no ordenamento de
valores da Lei Fundamental (BverfGE, 5, 85 [204 e seguintes]; 6, 32 [40 e
seguintes]; 7, 198 [204 e seguintes]; 21, 362 [372]). Com a mesma determinação
pode-se dizer que certos suportes fáticos de menor importância estão fora deste
núcleo. Mais difícil é traçar a linha limítrofe exata entre o núcleo do Direito Penal
e o âmbito das meras irregularidades (ilícitos extrapenais), uma vez que nesta área
limítrofe, os enfoques (pontos de vista) que dominam na comunidade jurídica
acerca da avaliação do conteúdo de injustiça nos modos de conduta particulares
estão sujeitos a mudanças especiais”. (MORAES; BRANCO, 2014,p.489).
31

Veja-se, então, que a individualização da pena abarca o campo da execução penal, de


forma que o Regime Disciplinar Diferenciado se encontra.
Assim, deve-se ressaltar que ainda que haja doutrina e jurisprudência com fortes
argumentos contrários à aplicação em tese e em concreto ao regime, não se pode deixar de
analisar os argumentos favoráveis, já que soam condizentes com as teorias da pena abarcadas
pela Constituição, ainda que consideradas de forma isolada.
Em resumo, valendo-se das lições de Rogério Sanches Cunha, existe um balanço feito
na doutrina de direito processual penal e execução penal sobre os argumentos que ora
defendem a constitucionalidade, ora defendem a inconstitucionalidade do RDD:

Os argumentos a favor da inconstitucionalidade são os seguintes:


O RDD fere a dignidade da pessoa humana, constituindo sanção de caráter cruel,
desumano e degradante.
O RDD configura sanção desproporcional aos fins da pena (da execução).
O RDD ofende coisa julgada, representando quarta modalidade de regime de
cumprimento de pena.
O RDD desrespeita o principio da legalidade, gerando verdadeiro bis in idem.
(CUNHA, 2012,p.62)

Na verdade, aí existe uma relação de pontos sendo que na maioria já foram destacados
acima, como a questão do bis in idem, outra modalidade de regime de cumprimento de pena,
ofendendo a coisa julgada, bem como desproporcional.
Por outro lado, os argumentos da doutrina a favor da constitucionalidade são:

O RDD não representa, por si, a submissão do encarcerado a padecimentos físicos e


psíquicos, impostos de modo vexatório, o que somente restaria caracterizado nas
hipóteses em que houvesse, por exemplo, o isolamento em celas insalubres, escuras
ou sem ventilação.(CUNHA, 2012,p.62).

Veja-se que é um argumento importante, mas que não fosse por ser fato público e
notório dos problemas referentes às celas, caberia a afirmativa acima, à exceção dos presídios
de segurança máxima em que se vê uma certa realidade nisso:

Pesadelo de qualquer detento, o regime disciplinar diferenciado reduz muitas


regalias dos presos, que não têm acesso à energia elétrica, televisão, jornais e
revistas. O fundo da cela não tem teto e até o banho de sol tem os minutos contados.
A medida foi adotada pelo governo da Paraíba na tentativa de frear a violência no
quarto Estado mais violento do país. A reportagem foi exibida no SBT Brasil
(UOL,2013).
32

Outro ponto em apoio ao argumento a favor:

O sistema penitenciário, em nome da ordem e da disciplina, bem como da regular


execução das penas, há que se valer de medidas disciplinadoras, e o regime em
questão atende ao primado da proporcionalidade entre a gravidade da falta e a
severidade da sanção.(CUNHA, 2012,p.63).

Transitada em julgado a sentença condenatória, surge entre o condenado e o Estado, na


execução da pena, uma nova relação jurídica. O regime instituído pela lei nº 10.792/2003
(RDD) visa propiciar a manutenção da ordem interna dos presídios, não representando,
portanto, uma quarta modalidade de regime de cumprimento de pena, em acréscimo aqueles
previstos pelo Código Penal (art. 33, CP). (CUNHA, 2012,p.62).

É expressa a lei (art. 52 da LEP) no sentido de que, havendo a pratica de crime,


devem ser instaurados os dois processos (penal e administrativo) de que resultarão
as sanções de duas espécies. Não se trata, evidentemente, de violar o principio non
bis in idem, pois, de acordo com a melhor doutrina, constituem-se em infrações a
ordenamentos jurídicos diversos (de direito penal e de execução penal), como aliás
ocorre também com a aplicação de sanções penais e civis quando da prática de crime
de que resulta perigo. (CUNHA, 2012, p.62).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
33

O sistema prisional no Brasil e no mundo enfrenta um dilema sobre a justiça do


cumprimento de suas decisões de forma que não há consenso na doutrina e jurisprudência
sobre isso.
A polêmica ganha mais um capítulo com o Regime Disciplinar Diferenciado, que sofre
duras críticas sobre sua instituição e cumprimento, ainda mais considerando-o diante da
constitucionalidade.
Como visto, existem argumentos a favor da constitucionalidade e contra, ou seja, pela
inconstitucionalidade e invalidez do regime.
É certo que ambos os argumentos devem ser levados em conta, já que não se trata de
uma interpretação isolada a lei que instituiu o RDD, como visto.
Por outro lado, considerar a aplicação do RDD fora do contexto prisional brasileiro é
levar a conclusões que realmente podem distorcer o entendimento, já que a situação dos
presídios e de uma jaula, algumas vezes é de se assustar pela semelhança.
No mais, deixar o sistema prisional isento de um regime parecido com o RDD é abrir
mão de um controle que, no presente contexto, pode ser um importante instrumento nas mãos
do Estado e no auxílio ao combate ao crime organizado praticado dentro dos presídios, como
já ocorreu.
O que se poderia buscar é uma solução, um meio termo na interpretação e aplicação
das normas correspondentes ao RDD, ponderando-se princípios com as respectivas normas de
forma a aplicá-lo, visando à dignidade da pessoa humana ou mediante a técnica da
interpretação conforme a Constituição, em requisitos como da subversão da ordem ou
disciplina interna.
Do contrário é de se concluir que o RDD possui realmente forte tendência a ser
declarado inconstitucional, pela norma do artigo 52 da Lei de Execuções Penais, considerando
os argumentos colhidos contra a norma que vem configurando o regime.

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