You are on page 1of 4

ATIVIDADE PARA AVALIAÇÃO – SEMANA 6

CURSO: Graduação em Pedagogia – UNIVESP

ORIENTADOR DE DISCIPLINA: Prof. Dr. Marcos Garcia Neira

ALUNO: Paulo Maurício Verussa RA: 1802821

POLO: Tatuí TURMA (ANO): 2018

DISCIPLINA: Teorias do Currículo

PROPOSTA DA ATIVIDADE: Implementação da política curricular: Tanto o artigo


sugerido para leitura quanto as videoaulas anunciam que os currículos oficiais nunca são
“implementados” da maneira como foram concebidos. Explique as razões disso.

DA CONCEPÇÃO À EXECUÇÃO DE POLÍTICAS CURRICULARES OFICIAIS

Com base em uma série de observações e estudos realizados ao longo de períodos de


reformas educacionais no Reino Unido, Ball e Bowe (1992) formularam uma ‘abordagem do
ciclo de políticas’, composta basicamente por cinco contextos: de influência, de produção
textual, de prática, de resultados/efeitos e de estratégia política. Essa abordagem, segundo
Mainardes (2006), constituiu-se num “referencial para analisar a trajetória de políticas sociais
e educacionais” em vários países.
Tal perspectiva, de cunho pós-estruturalista, exige, portanto, dinamicidade e
flexibilidade, uma vez que, para Ball e Bowe, as políticas curriculares oficiais serão moldadas
e caracterizadas pelos âmbitos específicos nos quais se inserem as políticas e os contextos
escolares. Como tal, serão “tanto objeto como sujeito de disputas por significado”.

Na identificação dos diferentes contextos da abordagem do ciclo de políticas, vê-se


que os contextos se interpenetram de forma complexa e não-linear. Nessa relação são
reconhecidas importantes influências, como os discursos políticos construídos, os grupos em
disputa, as instâncias e os processos governamentais, bem como os conceitos legitimizados.
1
ATIVIDADE PARA AVALIAÇÃO – SEMANA 6

Tais influências servem como base para a produção textual das políticas, até chegar a um
produto disputado, costurado, muitas vezes contraditório e incoerente. Quando o texto
influenciado chega ao contexto da prática (não necessariamente seguindo uma sequência
temporal específica), a interpretação local de significados e a escolha de métodos para a
aplicação curricular irá provavelmente tensionar-se com a proposta política original, recriando
o currículo na prática, revelando limites e desconstruindo políticas oficiais originais que
talvez buscassem se perpetuar pelo controle textual e discursivo.

Ball e Bowe concluíram em sua análise que, a despeito das expectativas


governamentais por consolidar controle e poder no estabelecimento de determinada política
curricular, essa previsão se mostrará muito limitada, pois o currículo oficial não será “tão
‘implementado’ nas escolas quanto ‘recriado’, e não tão ‘reproduzido’ quanto produzido’.”.
Tal poder estará de fato circunscrito fortemente às influências de cada arena macro ou
micropolítica (Ball e Bowe, 1992; Mainardes, 2006).

EXECUÇÃO DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO CONTEXTO BRASILEIRO

Mainardes (2006) considerou a reflexão sobre a abordagem de Ball e Bowe “bastante


útil” especialmente para a “análise de políticas educacionais brasileiras”. Para Mainardes, “os
professores e demais profissionais exercem um papel ativo no processo de interpretação e
reinterpretação das políticas educacionais e, dessa forma, o que eles pensam e no que
acreditam têm implicações para o processo de implementação das políticas.”
Corroborando e ampliando essa afirmação, podemos encontrar diversos casos no
Brasil em que não apenas professores e profissionais, como também diversos outros atores da
comunidade escolar e do seu entorno exercem um papel crucial na efetivação de políticas
curriculares especiais, que porventura transformem a política curricular oficial em si.

O CURRÍCULO ESPECIAL DA EMEF CAMPOS SALLES

Um exemplo concreto e recente de reinterpretação curricular micropolítica no Brasil,


especificamente na rede pública de ensino da capital estado de SP, se deu pelo parecer
apresentado pelo Conselho Municipal de Educação (CME) de São Paulo ao Projeto
2
ATIVIDADE PARA AVALIAÇÃO – SEMANA 6

Pedagógico Especial da EMEF Pres. Campos Salles, no bairro de Heliópolis. Em julho de


2015, o CME aprovou a proposta da escola de uma “integração escola/comunidade para a
construção de um bairro educador”, através de uma metodologia inspirada na “integração
entre as áreas de conhecimento (ruptura das paredes entre as disciplinas) e o estudante como
ser integral, capaz de organizar-se individual e coletivamente para aprender”.
Alicerçada pela “liberdade concedida pela Lei de Diretrizes e Bases” (1996) e com
base nos princípios norteadores de “Autonomia, Responsabilidade e Solidariedade”, essa
iniciativa escolar e comunitária criou um Projeto Político Pedagógico inovador e diferenciado
em relação a outras unidades educacionais da Rede Municipal de Ensino. Buscando “acolher,
cuidar e educar”, a proposta apresentou como alguns de seus principais objetivos estabelecer
um diálogo permanente entre escola-comunidade, professor-pai, professor-estudante,
professor-professor e estudante-estudante, sendo que em meio a esse processo seria preciso
reorganizar tempos e espaços da escola, derrubar muros, elaborar roteiros de estudos com
planejamento coletivo, fomentar diversas parcerias extraescolares e criar condições favoráveis
para o protagonismo dos estudantes, “descentralizando o processo de aprendizagem na
construção do Bairro Educador Heliópolis”.
O caso da EMEF Campos Salles – posto em prática, revisado, aprovado e
dinamicamente constituído – é particularmente exitoso ao inovar dentro da maior rede pública
de ensino municipal no país (na cidade de São Paulo), a partir da vontade expressa por uma
comunidade local considerada por muitos à margem, enquanto ao mesmo tempo devolve e
demonstra à sociedade um conjunto de parâmetros de reescrita curricular junto a um diálogo
bem-sucedido com a Secretaria Municipal de Educação e demais órgãos oficiais, a ponto de a
iniciativa servir como referência potencial para outras unidades escolares e comunidades de
aprendizagem que desejem fundamentalmente estabelecer, com autonomia, respeito e
interdependência, seus próprios currículos e projetos pedagógicos especiais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cada passo que o currículo dá, desde sua concepção e até sua realização efetiva no
processo ensino-aprendizagem, há muitas transições, mudanças, resistências, inadequações,
reinterpretações, redimensionamentos, entre tantas outras variáveis, que alteram sua
formulação original. Essa particularização do currículo oficial irá, segundo a perspectiva aqui

3
ATIVIDADE PARA AVALIAÇÃO – SEMANA 6

anunciada, inevitavelmente variar – provavelmente em proporção à distância (conceitual e


socioempática) entre a dimensão oficial que formulou o currículo e a realidade na(s) qual(is)
cada sistema de ensino, comunidade, escola, sala de aula, professor(a) e aluno(a) se inserem.
Em síntese, na complexa trajetória de programas e políticas educacionais, desde sua
formulação inicial até sua efetuação prática em salas de aula, é possível reconhecer que não
apenas ocorre uma intrincada articulação entre os diversos processos micro e
macrocontextuais, mas também vemos que a própria prática escolar/comunitária pode
reescrever o texto oficial e chegar até mesmo a retroalimentar e propor transformações às
próprias estratégias de políticas públicas educacionais.

REFERÊNCIAS

BALL, S.J.; BOWE, R. Subject departments and the “implementation” of National


Curriculum in policy: an overview of the issues. Journal of Curriculum Studies., London, v.
24, n.2, p. 97-115, 1992. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/248986176_Subject_Departments_and_the_Imple
mentation_of_National_Curriculum_Policy_An_Overview_of_the_Issues/references>

MAINARDES, Jefferson. Abordagem do Ciclo de Políticas: uma contribuição para a


análise de políticas educacionais. Educ.Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p. 47-69, jan/abr.
2006. Disponível em < https://www.cedes.unicamp.br/publicacoes/edicao/122>

SÃO PAULO. Parecer CME no 433/15, de 30 de julho de 2015. Aprovação do Parecer de


Projeto Pedagógico Especial da EMEF Pres. Campos Salles pelo Conselho Municipal de
Educação. Diário Oficial [da Cidade de São Paulo], São Paulo, SP, 28 ago. 2015, pp. 13-14.
Disponível em:
<http://cms.aprofem.com.br/Arquivos/Empresa_014CONTEUDO_00000967_Anexos/Origin
al/014000009670002_0.pdf >

UNESPTV. Teorias do currículo - Aula 11 – O ciclo de políticas. NEIRA, M.G. Acesso em


17 abr. 2018. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Zadhjsc3Feg>.

UNESPTV. Teorias do currículo - Aula 12 – Currículos oficiais. NEIRA, M.G. Acesso em


18 abr. 2018. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=d384YHnB6SA>.
4

You might also like