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ABSTRACT: The approach that has been done of fantastic narrative today tends
to recover the main ideas of Todorov about the theme. If, today, are scattered in a
jumble of publications, differing assertions and sometimes contradictory about the
fantastic; there is no doubt about the relevance of Todorovian studies for target-
ing everything that is being spoken today about genre. Therefore, this work aims to
present some traits which, according to the critic, are either discursive, strategically
planned for construction and maintenance of hesitation in narrative. The theoretical
framework of Todorov has served, among other things, to demonstrate that the fan-
tastic had a short duration, and that, therefore, what has been done, today, is too far
from the genre characterized by it, sometimes Strange and Wonderful.
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mentos surjam. Deseja-se acreditar em que tal fatos ou motivos que estejam fora do corpo
ocorrência retrata o próprio caráter do texto do discurso2 não serviriam para fundamentar
literário que, muitas vezes, semelhantemente a análise estrutural. Pensando assim, não é
às ciências exatas e/ou biológicas, evidenciam descabido imaginar que a esquematização
um elemento sem descartar fatos superpostos da estrutura de uma narrativa pressupõe um
em camadas anteriores. O não-fechamento do trabalho tão aplicado, minucioso e detalhado
debate é o que proporciona o enriquecimento quanto o científico, pois requer o levantamento
e o aprofundamento de ideias realmente per- de questões e dados precisos sobre elementos
tinentes ao tema que por hora interessa neste próprios da narratologia3. Levar o discurso li-
trabalho: “A literatura enuncia o que apenas terário para o campo da filosofia, da sociologia
ela pode enunciar. Quando o crítico tiver dito ou da psicologia, e buscar somente neles as
tudo sobre um texto literário, não terá ainda respostas às indagações pertinentes ao tema,
dito nada, pois a própria definição da literatura é correr o risco de cair na pura análise inter-
implica que não se possa falar dela.” (TODO- pretativa do texto ficcional, apenas ou sequer
ROV, 2008, p. 27) tangenciando os estudos de literatura. Antes
de imaginar o que levou, por exemplo, Kafka
No entanto, em meio a toda discussão a compor seus personagens e quais os motivos
que essas reflexões possam ter provocado filosóficos, sociológicos ou psicológicos que
no tocante aos estudos dos gêneros, retoma- existem em sua ficção, é necessário perscrutar
se, desde já, aquele posicionamento inicial e o discurso literário dele e tentar explicá-lo por
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ele mesmo para depois, caso seja importante, Metamorfose? Talvez sim ou talvez não. A
relacioná-lo a ocorrências externas à narrativa, verdade é que, tanto leitores e estudiosos do
pois só assim compreender-se-á a relevância assunto, são conhecedores da biografia de Ka-
do aspecto literário e só. Para Todorov “a lite- fka. A sombra do escritor invade as linhas do
ratura deve ser compreendida na sua especifi- discurso literário e, inevitavelmente, em uma
cidade, enquanto literatura, antes de se procu- discussão mais acalorada da questão, poder-
rar estabelecer sua relação com algo diferente se-ia levantar a hipótese de que aquele inseto
dela mesma”. (TODOROV, 1979, p. 81) asqueroso e nojento – a barata que surge no
quarto do rapaz – era uma visão distorcida de
Embora haja concordância com a ideia do sua própria imagem. Ora, como esse fato em
crítico, é importante salientar que as áreas do nada ajudaria à análise da estrutura daquela
conhecimento humano relacionadas acima são narrativa, pensa-se que Todorov a tenha aban-
uma boa ferramenta para buscar outras ques- donado, não por perceber que Kafka fosse um
tões que não sejam aquelas de caráter pragma- paradigma ou um problema insolúvel, mas
ticamente estrutural. Mesmo sabendo que tais sim, por acreditar em que fazer um estudo de
áreas constituem um conhecimento científico uma obra tão contaminada pela psique do autor
da humanidade com aplicações peculiares a levá-lo-ia a adentrar em questões que, com cer-
cada uma delas, não há a preocupação, agora, teza, fugiriam de seu objetivo primeiro. Ainda
de lançar mão de uma terminologia que não sobre isso, Todorov diz: “quando os marxistas
se enquadra no âmbito primeiro da literatura, e os psicanalistas tratam de uma obra literária,
pois, acredita-se em que é preciso direcionar não estão interessados no conhecimento dessa
a pesquisa para um posicionamento único e obra ela mesma, mas no conhecimento de uma
menos controverso, porque, seguindo o pensa- estrutura abstrata, social ou psíquica, que se
mento freudiano, “o que constitui o caráter es- manifesta através dessa obra”. (TODOROV,
sencial do trabalho científico não é a natureza 1979, p. 80) Esse, com certeza, não era o ob-
dos fatos de que trata, mas o rigor do método jetivo de Todorov quando começou a delinear
que preside à constatação desses fatos, e a pro- os caminhos para a categorização do gênero
cura de uma análise síntese tão vasta quanto Fantástico.
possível”. (FREUD, 1969, p. 23)
O estruturalista, mesmo que indiretamen-
A ideia que Todorov deixa transparecer em te, avança na questão kafkaniana quando fala
As estruturas narrativas direciona o estudioso ainda da importância das personagens para a
do assunto para uma teoria da literatura ou estrutura da narrativa. Segundo o crítico, “Que
uma teoria da poética. Buscar elementos que é uma personagem senão um determinante da
não pertencem ao universo da narrativa, para ação?” (1979, p. 118). E, ainda, “Que é a ação
analisar o discurso literário, significaria levar senão a ilustração da personagem?” (1979, p.
o texto para o divã, uma vez que a análise 118). Ao levantar tais questionamentos, ele
externa da obra submetê-la-ia a uma gama desfaz a ideia de que tudo na narrativa está
de possibilidades distantes do campo literário ou deveria estar sujeito à psicologia das per-
e, por conseguinte, da estrutura do mesmo. sonagens. Isso quer dizer que elas são seres
Talvez coubesse aqui uma possível explicação independentes e deflagradores do contínuo da
do porquê de o teórico búlgaro-francês ter narrativa, e os fatos ali elencados servem para
esbarrado na problemática kafkaniana sem emoldurar a personagem e não para o contrário.
se preocupar em retorná-la mais tarde4. Seria A personagem, destituída de qualquer traço de
possível uma análise puramente estrutural de psicologismo, caminhará pelo discurso como
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parte integrante e relevante deste e terá a fun- da narrativa Fantástica. A questão principal a
ção de movimentá-lo e determiná-lo enquanto ser levantada aqui seria: existe realmente uma
seu constituinte. Aquele ser envolvido na tra- gramática da narrativa Fantástica? Acredita-se
ma é apenas uma parte intrínseca do discurso. que sim, pois é exatamente essa gramática que
Neste sentido, a narrativa não é um caminho permitiria diferençar, por exemplo, o conto
para abrir acesso à personalidade do persona- Fantástico, do Estranho, do Maravilhoso. É
gem x ou y nem tampouco do autor; mas para através dos indícios espalhados pela teia tex-
demonstrar que as ações enumeradas no dis- tual que se chega a conclusões sobre o gênero.
curso importam por elas mesmas, e não como Para Todorov uma gramática da narrativa
indício de traço ou caráter de personagens. pressupõe a existência de uma narrativa ideal.
Isso significa dizer que a narrativa Fantástica
é a-psicológica5, pois, nesse caso, as ações a narrativa ideal começa com uma situa-
são intransitivas; elas se bastam: narrador é ção estável que uma força qualquer vem
narrador; personagem é personagem; o leitor é perturbar. Disso resulta um estado de
apenas o leitor e o autor é tão somente o autor. desequilíbrio; pela ação de uma força di-
Cada um desses elementos desempenha seu rigida em sentido contrário, o equilíbrio é
único papel de parte integrante e construtora restabelecido; o segundo equilíbrio é se-
(no caso do autor) do texto literário. melhante ao primeiro, mas os dois nunca
são idênticos. (TODOROV, 1979, p. 138)
Dando continuidade à teoria todoroviana,
é sabido que o conto Fantástico é, por exce- No caso da estrutura Fantástica, essa noção
lência, uma narrativa e, como tal, apresenta de uma narrativa ideal fica mais evidente se,
características próprias dessa modalidade. se levar em consideração a relação de subor-
Além daquelas mais palpáveis na trama tex- dinação entre um evento sólito8 e um evento
tual, o encaixe6 é um dos recursos mais bem insólito9. Como se observa em alguns contos
explorados na estrutura da narrativa de modo do gênero, a inserção de um elemento insólito
geral e, também, na do conto Fantástico. Res- no percurso da narrativa rompe com a noção
ponsável por atribuir ao discurso literário teor de equilíbrio experimentada logo no início do
de verdade, o encaixe de uma nova história ou texto, instaurando-se o desequilíbrio Fantásti-
personagem proporciona ao leitor a sensação co. É claro que esta noção de equilíbrio – de-
de verdade ou não-verdade. Essa duplici- sequilíbrio – equilíbrio levantada por Todorov
dade de sentimentos é um dos geradores da também se aplica à narrativa de forma geral,
ambiguidade7 no conto Fantástico, pois é ela mas, como a narrativa Fantástica prima pela
que opõe duas possibilidades dentro de uma ambiguidade, entende-se que a percepção des-
mesma estrutura: a narrativa antes e depois do sas noções corrobora com o caráter ambíguo
surgimento do encaixe da nova história. A par- da estrutura, uma vez que elas remetem perso-
tir daí, tudo que será dito será suficiente para nagem e leitor diretamente para o universo da
provocar dúvida em relação ao que aconteceu dúvida, quando estes percebem que o retorno
anteriormente, e esta dúvida, sendo mantida ao equilíbrio primeiro solucionaria todos os
até o termo do conto, é uma das responsáveis questionamentos desenhados no percurso tex-
pelo surgimento do Fantástico. tual. Esse sentimento não é o mesmo, ou pelo
menos não ocorre da mesma forma, que em
Um dos aspectos que mais se notam na uma narrativa real-naturalista10, onde a dúvida
teoria todoroviana é a defesa de uma gramá- ou a hesitação não aparecem representadas no
tica da narrativa e, neste caso em particular, próprio texto e as noções referidas acima ocor-
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como literatura Fantástica. Com relação a essa Esses são os principais pontos que diferen-
questão Todorov diz: ciam o Fantástico todoroviano de seus vizinhos
mais próximos: o Estranho e o Maravilhoso.
Para se manter, o fantástico implica pois Contudo, é importante ter em mente que o
não só a existência de um acontecimento que direcionará uma narrativa para aquilo que
estranho, que provoca uma hesitação no Todorov chamou de Fantástico, é, na verdade,
leitor e no herói, mas também um certo um conjunto de marcas que, simultaneamente
modo de ler, que se pode definir negativa- configurada na história, aparece no texto com
mente: ele não deve ser nem poético nem o objetivo de provocar a ambiguidade e a hesi-
alegórico. (TODOROV, 1979, p. 151) tação como estratégias discursivas.
e a hesitar entre uma explicação natural terá sempre um caráter teórico e não descriti-
e uma explicação sobrenatural dos acon- vo; por outras palavras, o objetivo de tal estudo
tecimentos evocados. Em seguida, essa nunca será a descrição de uma obra concreta.
hesitação deve ser igualmente sentida por A obra será sempre considerada como a mani-
uma personagem; desse modo, o papel do festação de uma estrutura abstrata, da qual ela
leitor é, por assim dizer, confiado a uma é apenas uma das realizações possíveis; o co-
personagem e ao mesmo tempo a hesita- nhecimento dessa estrutura será o verdadeiro
ção se acha representada e se torna um objetivo da análise estrutural”. (TODOROV,
dos temas da obra... (TODOROV, 1979, 1979, p. 80)
p. 151-152)
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“A ambiguidade não surge aleatoriamen- Colocando-se, como se disse, nos an-
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te no discurso literário; ela deve ser encarada típodas do idealismo romântico, o Realismo
como propriedade relevante, desde que sua privilegia uma visão materialista das coisas e
utilização favoreça uma configuração seman- dos fenômenos: desse ponto de vista, confere-
ticamente plural (mas também internamente se proeminência à realidade material e empiri-
coerente) do texto literário... Uma ambiguida- camente verificável, como elemento que deve
de [...] não é satisfatória em si mesma, nem, colher primordial e constante atenção de um
considerada artifício por si só, algo para ser observador que se pretende neutro, desapaixo-
tentado; ela deve, em cada caso, emergir dos nado e tanto quanto possível objetivo. (REIS,
requisitos peculiares de uma situação e ser por 2001, p. 437). (...) Assim, a base realista do
eles justificada”. (REIS, 2001, p. 127) Naturalismo verifica-se na orientação antir-
romântica e anti-idealista que o movimento
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Do latim solitus, -a, -um. I – Particípio naturalista cultiva; no seu propósito crítico e
passado de soleo (costumar, estar acostumado, reformista; na preocupação em adotar, em re-
estar habituado); II – Adjetivo: Habitual, cos- lação ao real observado, uma atitude desapai-
tumeiro. (FARIA, 1992, p. 510) xonada e mesmo objetiva. (...); essencialmente
materialista, antimetafísico e experimentalista,
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Do latim insolitus, -a, -um. Adjetivo: o Naturalismo afirma-se também confiante na
Sentido próprio: I – Insólito, que não tem o Ciência, nas suas conquistas e nas suas certe-
hábito de, desusado, estranho, novo. (FARIA, zas. (REIS, 2001, p. 447)
1992, p. 284). Ainda segundo Lenira Marques
Covizzi, elemento essencial da economia Segundo Carlos Reis, no livro O conhe-
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da obra de arte no seu caráter de produto da cimento da literatura: introdução aos estudos
imaginação: trata-se do insólito, que carrega literários, “cânone é o elenco de autores e
consigo e desperta no leitor, o sentimento do obras incluídos em cursos básicos de literatura
inverossímil, incômodo, infame, incongruen- por se acreditar que representam o nosso lega-
te, impossível, infinito, incorrigível, incrível, do cultural”. (REIS, 2001, p. 38)
inaudito, inusitado, informal... (LENIRA,
1978, p. 25-26) PAES, José Paulo (org.). Maravilhas do
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