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Excelentíssimo Senhor Desembargador Carlos Rodrigues do Egrégio Tribunal

Regional Eleitoral do Distrito Federal

Processo nº 0600176-96.2018.6.07.0000

Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal – SINPOL/DF,

devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem, respeitosamente, à

presença de V. Excelência, apresentar sua

DEFESA PRÉVIA

à Representação movida pelo PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO,

fazendo-o pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

I. TEMPESTIVIDADE

1. O Representado foi citado no dia 28.5.2018, iniciando-se o prazo

imediatamente e encerrando-se em 30.05.2017 (quarta-feira), data não

ultrapassada pelo presente protocolo.

2. Frise-se, ainda, que a Justiça Eleitoral tem entendido pela possibilidade

de transformação de prazo em horas em dias nos termos que seguem: "A

defesa, contudo, é tempestiva, pois apresentada no segundo dia seguinte à notificação.


Nesse ponto, registro que este Plenário recentemente reafirmou que o prazo em horas

pode ser transformado em dias, quando aquelas equivalem a estes." (Ementa não

transcrita por não reproduzir a decisão quanto ao tema). (Ac. de 14.9.2010 no

R-Rp nº 274328, rel. Min. Henrique Neves.)

3. Nestas circunstâncias, não subsiste qualquer dúvida sobre a

tempestividade desta defesa.

II. FATOS NARRADOS NA EXORDIAL

4. A Representante afirma que o sindicato teria fixado três faixas, no dia

19.4.2018, em rua movimentada em Brasília. Por esta razão, defende

categoricamente o cunho eleitoral destas faixas e a existência de propaganda

eleitoral antecipada negativa.

5. A partir deste ponto, incorre a Representante de maneira perfunctória

sobre o cunho eleitoral das faixas sem ponderar a importância da liberdade de

expressão, informação e das referências interpretativas no âmbito da

atividade sindical.

III. PRELIMINAR

a. Ausência de Legitimidade Ativa da Agremiação Partidária

6. A Representante ampara sua legitimidade ativa no art. 96, caput, da Lei

9.504/97, bem como na doutrina explicitada por Carlos Eduardo de Oliveira

Lula onde se reconhece a legitimidade ativa para qualquer partido político,

coligação, candidato e ao Ministério Público.

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7. Nesse sentido, assevera:

“(...) Dessa forma, é evidente, a legitimidade ativa do ora


representante, visto que este se constitui como agremiação partidária
regional na qual o seu pré-candidato, Rodrigo Rollemberg, que sofreu
a propaganda eleitoral antecipada negativa, proferida pelo
representados, encontra-se filiado.
Ademais, o partido político legitimidade ativa ad causam, diante do
seu claro interesse jurpidico de preservar a imagem do seu pré-
candidato que foi atacado de maneira veemente, desequilibrando,
assim, a isonomia do pleito. (...)” (página 2)

8. Excelência, a pretensão claudica logo de início em sua fundamentação.

É que não há nenhum pré-candidato em questão. Não existe nenhum

documento nos autos que comprove a condição de pré-candidato do atual

governador de Brasília.

9. Inclusive, suas declarações têm sido claras no sentido de que ele ainda

poderia decidir em sentido contrário, vejamos:

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(endereço eletrônico: https://g1.globo.com/df/distrito-
federal/noticia/candidatura-para-reeleicao-no-df-e-caminho-natural-diz-
rollemberg.ghtml)

10. Frisa-se que o partido em questão divulgou, recentemente, os seus pré-

candidatos para deputados distritais e federais, mas não fez qualquer menção

à pretensa candidatura do atual Governador do Distrito Federal, não

havendo, agora, de forma surpreendente, dizer que se trata de um pré-

candidato.

11. Ante o exposto, enquanto não houver formalização de pré-

candidatura, não há que se falar em legitimidade ativa para representar em

favor de um governador que não é candidato e nem pré-candidato

oficialmente.

IV. MÉRITO

12. Caso superada a preliminar acima mencionada, considerando que as

faixas com o conteúdo impugnado seja do SINPOL/DF, o que se admite para

fins de argumentação, é necessário destacar que também no mérito a

pretensão não merece acolhida.

a. Ausência de Propaganda Extemporânea Negativa

13. No presente caso, importa destacar que o não há propaganda eleitoral

antecipada negativa. O que existe é apenas o exercício legal da livre

manifestação do Sindicato, direito, este, consagrado constitucionalmente.

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14. Inclusive, a jurisprudência da Justiça Eleitoral é clara ao dispor que não

existe qualquer violação nos casos de não extrapolação da regra prevista na

Lei 9.504/97, vejamos:

“[...]. Propaganda Partidária. Crítica. Desvinculação. Discussão.


Temas. Interesse Político-Comunitário. Ofensa Pessoal. [...] 1. O
lançamento de críticas em programa partidário - ainda que
desabonadoras - ao desempenho de filiado à frente da administração é
admitido quando não ultrapasse o limite da discussão de temas de
interesse político-comunitário, vedada a divulgação de ofensas
pessoais ao governante ou à imagem de partido político, não exalte as
qualidades do responsável pela propaganda e não denigra a imagem
da agremiação opositora, sob pena de configurar propaganda eleitoral
subliminar, veiculada em período não autorizado pela legislação de
regência. [...]”
(Ac. de 28.6.2011 na Rp nº 118181, rel. Min. Nancy Andrighi.)

“[...] Representação. Propaganda eleitoral veiculada em rádio.


Alegação de danos à imagem de adversária política e intenção de
confundir o eleitorado. Não se podem considerar referências
interpretativas como degradante e infamante. Não ultrapassado o
limite de preservação da dignidade da pessoa, é de se ter essa margem
de liberdade como atitude normal na campanha política. Se houver
exacerbação do limite da legalidade, o Poder Judiciário deve intervir.
Não compete ao Tribunal Superior Eleitoral atuar em representações
para determinar como se faz propaganda política. [...]”
(Ac. de 25.8.2010 na Rp nº 240991, rel. Min. Joelson Dias, red.
designada Min. Cármen Lúcia.)

15. Na verdade, o que fica evidente pela argumentação da exordial é que

se trata de um ato político emanado pelo Governador do Distrito Federal que,

insatisfeito pela rejeição que sofre da categoria dos Policiais Civis do Distrito

Federal, tenta punir o ativismo sindical com a presente demanda judicial, o

que não pode ser permitido sob pena de violar as garantias previstas na

Constituição Federal, em especial inciso IX, art. 5º e art. 220.

16. Frisa-se que é natural que o Sindicato informe ao sindicalizado todos

os danos promovidos pelo gestor público e os efeitos negativos para

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categoria. Trata-se de uma discussão político-comunitária praticada nos

limites da legalidade mesmo que não seja de agrado do atual Governador -

que nem pré-candidato é.

17. Observe-se, ainda, que em nenhum momento houve ofensas pessoais;

houve, sim, críticas a atos do gestor público, não havendo que se falar em

existência de qualquer elemento contundente capaz de gerar a incidência de

propaganda antecipada negativa.

18. O conteúdo impugnado versa sobre uma mera crítica ao modelo de

administração/gestão implementado no Distrito Federal, inerente a uma

discussão político-comunitária, essencial em um Estado Democrático de

Direito, não se vislumbrando qualquer abuso de direto.

19. Nesse mesmo sentido, não faz sentido considerar referências

interpretativas como algo degradante ou infamante, pois não há nenhum

conteúdo pessoal desabonador nas mensagens – trata-se de livre manifestação

sobre a gestão/administração implementada no Distrito Federal.

20. Ora, o sindicato possui diversas responsabilidades e uma delas é

proteger a categoria deixando bastante claro quem são aqueles que atuam no

sentido de prejudicar os policiais. Vedar isso ou criminalizar esta conduta é

tolir a liberdade de expressão do representante máximo da categoria.

21. Em todos os momentos, a Representante tenta impedir a liberdade de

expressão do sindicato, bem como o direito a informação de seus

sindicalizados. Para tanto, ela tenta construir o viés de que estaria ocorrendo

propaganda eleitoral antecipada negativa quando, na verdade, trata-se

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apenas de manifestação sob a égide da liberdade de expressão, informação e

algumas referências interpretativas.

22. Neste sentido, importa destacar que a jurisprudência da Justiça

Eleitoral apenas veda o uso de ofensas pessoais sem proibir, contudo, que o

Sindicato informe aos seus sindicalizados quem é o agente público que tem

tentado prejudicar a categoria:

“[...]. Eleições 2010. Propaganda eleitoral extemporânea Não


configurada. Divulgação de entrevista no rádio. Pedido de voto.
Inexistência. Não provimento. [...] 3. A jurisprudência do TSE é no
sentido de que eventual antinomia de normas foi resolvida pelo
legislador ordinário com a prevalência dos direitos fundamentais da
livre manifestação do pensamento, da informação e da comunicação
sobre a atuação interveniente da Justiça Eleitoral [...].” NE: Trecho do
voto do relator: “Respeitadas as limitações legais, é necessário
preservar a liberdade de expressão, de imprensa e de comunicação,
que fomentam o debate político e asseguram o pluralismo de
ideias.”
(Ac. de 4.8.2011 no AgR-REspe nº 532581, rel. Min. Nancy Andrighi;
no mesmo sentido a dec. monocrática de 6.7.2010 na Rp 134631, rel.
Min. Henrique Neves.)

“[...]. Recurso em representação. Propaganda eleitoral não


caracterizada. Divulgação de periódico em sítio eletrônico de pessoa
jurídica. Comparação entre governos: crítica política. Direito do
eleitor à informação. Recurso ao qual se nega provimento.”
(Ac. de 17.3.2011 no R-Rp nº 380081, rel. Min. Cármen Lúcia.)

“[...]. Propaganda eleitoral extemporânea (art. 36 da Lei nº 9.504/97).


Arts. 5º e 220 da Constituição Federal. Ausência de violação. - As
restrições à veiculação de propaganda eleitoral não afetam os
direitos constitucionais de livre manifestação do pensamento e de
liberdade de informação e comunicação, previstos nos arts. 5º, IV e
IX, e 220 da CF, até porque tais limitações não estabelecem controle
prévio sobre a matéria veiculada. Precedentes da Corte. [...].”
(Ac. de 4.9.2007 nos EAAG nº 7.501, rel. Min. Gerardo Grossi.)

“[...]. Representação. Propaganda eleitoral extemporânea. Propaganda


eleitoral subliminar. Outdoors. Fotografia. Nome. Candidato.
Mensagem. Aniversário natalício. Cores. Partido político.

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Circunstâncias. Caso concreto. Futura candidatura. Vice-prefeito.
Ausência promoção pessoal. Alegações. Aplicação. Multa. Ofensa.
Razoabilidade. Proporcionalidade. Falta de prequestionamento.
Violação ao art. 220 da Constituição Federal. Manifestação
pensamento. Inocorrência. [...]. É assente nesta Corte o entendimento
de que ‘[...] I – As limitações impostas à veiculação de propaganda
eleitoral não afetam o direito à informação e à livre manifestação do
pensamento, constitucionalmente garantidos, até porque não
estabelecem controle prévio sobre a matéria a ser veiculada [...]’
[...].”
(Ac. de 5.12.2006 no AAG nº 7.119, rel. Min. Gerardo Grossi.)

23. In casu, infelizmente, nota-se que o gestor público resolveu alterar sua

estratégia para atacar este Sindicato. Pois, além de negar seus direitos como

categoria profissional passou a tentar buscar multas eleitorais para criar

embaraços e constrangimentos para a categoria.

24. Ora, os direitos defendidos por este sindicato são caros aos seus

sindicalizados. Em todas as imagens apresentadas apenas se observa o desejo

de informar os sindicalizados e demonstrar os prejuízos gerados por este

agente público – sem ofensas e sem denegrir a imagem.

25. Por todo o exposto, não há que se falar em existência de propaganda

eleitoral negativa antecipada, não havendo qualquer escopo para aplicação da

multa pleiteada ou de restrição do direito à livre manifestação sindical.

II. CONCLUSÃO

26. Diante do exposto, requer, preliminarmente, seja reconhecida a

ilegitimidade ativa da agremiação partidária, vez que não existe documento

oficial demonstrando que o atual Governador do Distrito Federal – Rodrigo

Rollemberg – seria pré-candiato do partido.

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27. No mérito, requer a integral improcedência da presente ação,

afastadando a aplicação de qualquer tipo de multa ou restrição à livre

manifestação sindical, uma vez que não houve violação a qualquer

dispositivo de lei eleitoral.

28. Por fim, requer a condenação dos representantes aos ônus

sucumbenciais, nos termos do art. 85 do CPC.

29. Por oportuno, com fulcro no artigo 272 § 2º do CPC, requer-se que as

publicações referentes a este processo sejam feitas em nome dos patronos

Dr. Kauê de Barros Machado, OAB/DF nº 30.848 e Dra. Thaisi Alexandre

Jorge Siqueira, OAB/DF nº 35.855, sob pena de nulidade.

Nesses termos, pede deferimento.

Brasília, 30 de maio de 2018.

Kauê de Barros Machado Leandro Oliveira Gobbo

OAB/DF nº 30.848 OAB/DF nº 30.851

Thaisi Alexandre Jorge Siqueira

OAB/DF nº 35.855

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