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APOSTILA DE FONTES DE ENERGIA

Organizadora:

Profª Claúdia Lemons e Silva

Colaboradores:

Professores:

Amauri Barcelos

Eurico Castro Neves

Amilcar Barum

Acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária:

Carolina da Silva Gonçalves

PELOTAS, 2015
ÍNDICE

1. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ........................................................................... 4


2. CONSERVAÇÃO DE ENERGIA .................................................................... 7
3. ENERGIAS RENOVÁVEIS............................................................................. 9
3.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 9
4. ENERGIA HÍDRICA ..................................................................................... 11
4.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 11
4.2 CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA HÍDRICA ........................................ 12
4.3 GERAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA ..................................................... 14
4.3.1 TURBINAS ........................................................................................ 15
4.4 EQUAÇÕES ............................................................................................ 18
4.5 ENERGIA HÍDRICA NO MUNDO ........................................................... 19
4.6 ENERGIA HÍDRICA NO BRASIL ............................................................ 20
5. ENERGIA EÓLICA ....................................................................................... 22
5.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 22
5.2 CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA EÓLICA ......................................... 24
5.3 O VENTO E SUAS CARACTERÍSTICAS ............................................... 26
5.3.1 ROTORES ........................................................................................ 34
5.4 EQUAÇÕES BÁSICAS ........................................................................... 39
5.5 PANORAMA ATUAL DA ENERGIA EÓLICA .......................................... 43
5.6 ENERGIA EÓLICA NO BRASIL .............................................................. 46
6. ENERGIA SOLAR ..................................................................................... 49
6.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 49
6.2 O SOL E A RADIAÇÃO SOLAR.............................................................. 51
6.3 FUNDAMENTOS DE SOLARIMETRIA ................................................... 54
6.4 SOLARIMETRIA E OS INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO ....................... 59
6.5 ENERGIA SOLAR PASSIVA .................................................................. 62
6.6 ENERGIA SOLAR ATIVA – FOTOVOLTAICA ........................................ 67
6.6.1 EFEITO FOTOVOLTAICO ................................................................ 68
6.6.2 ARMAZENANDO ENERGIA ............................................................. 70
6.6.3 DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO ............ 72
6.6.4 MANUTENÇÃO DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS ..................... 73
6.6.5 MANUTENÇÃO DAS BATERIAS ..................................................... 73
6.7 SISTEMAS SOLARES TÉRMICOS ........................................................ 74
7. BIOMASSA................................................................................................... 76
7.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 76
7.2 CARACTERÍSTICAS DA BIOMASSA ..................................................... 77
7.3 DISPONIBILIDADE, PRODUÇÃO E CONSUMO DE BIOMASSA .......... 77
7.4 BIOMASSA COMO FONTE DE ENERGIA ............................................. 80
7.4.1 RESÍDUOS VEGETAIS (NÃO LENHOSOS E LENHOSOS) ............ 81
7.4.2 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS.................................................... 82
7.4.3 RESÍDUOS INDUSTRIAIS ............................................................... 83
7.4.4 RESÍDUOS ANIMAIS ....................................................................... 84
7.5 FLORESTAS ENERGÉTICAS ................................................................ 85
7.6 PANORAMA DA PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS ........................ 86
8. OUTRAS FONTES DE ENERGIA ................................................................ 88
8.1 ENERGIA NUCLEAR ............................................................................. 88
8.2 BIOGÁS .................................................................................................. 89
8.3 ENERGIA DOS OCEANOS .................................................................... 89
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 91
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1. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A energia permeia nossas vidas. Ela é utilizada para aquecer, refrescar,


iluminar, preparar alimentos bem como conservá-los. Serve para movimentar
carros e caminhões, além de outros meios de transporte e faz funcionar nossas
indústrias, comércios, escolas e parques de diversão. Nos países
industrializados, grande parte desta energia é proveniente de combustíveis
fósseis - petróleo, carvão mineral e gás natural – bem como de eletricidade. Ao
ligar máquinas, equipamentos e lâmpadas, raramente associamos a
eletricidade com as conseqüências oriundas de sua geração, da mesma forma
que ao encher o tanque de um automóvel com combustível, não nos
importamos com a procedência do combustível ou com as conseqüências de
seu uso em nossa cultura que, historicamente, utiliza-os intensamente. A
energia afeta nossas vidas de outras formas além do uso direto da energia,
inclusive as relações entre países, interferindo em suas economias e na
distribuição de renda do planeta. Sem computar impostos, um litro de gasolina
custa quase o mesmo que um litro de água engarrafada (GELLER, 2003).
A história do mundo industrial é recente e inicia com a intervenção
humana na natureza mediante a inovação e criação da tecnologia. As
intervenções deixaram de ser fruto exclusivo de trabalho humano ou animal e
foram sendo substituídas gradualmente por máquinas, oriundas do
desenvolvimento da capacidade humana de dar uma representação numérica
razoavelmente satisfatória aos fenômenos da natureza. Desta maneira, o
homem começou a fazer ciência, que permite a criação da tecnologia. Um dos
países pioneiros neste desenvolvimento foi à Inglaterra que, ainda na primeira
metade do século XVIII, contribuiu com numerosas invenções de grande
importância histórica. Alguns inventores ingleses como Kay, John Wyatt, Lewis
Paul, Daniel Bourn, Hargreaves, Arkwright, Samuel Crompton e Cartwright
revolucionaram a indústria têxtil confirmando o primado industrial têxtil inglês.
Um elenco de invenções e inovações pôde ser registrado para a indústria
metalúrgica a partir do uso do carvão, cujo interesse foi crescente ao se
descobrir a maneira de transformá-lo em coque. Em 1750, Huntsman
apresentava ao mundo o aço fundido. A fisionomia tradicional da Inglaterra
5

alterou-se rapidamente com a urbanização do país, e com ela, aumentaram a


superpopulação, insalubridade, exploração, alcoolismo e violência. A principal
qualidade dos negócios era estar próximo à matéria-prima ou à fonte de
energia necessária para a produção de bens de capitais. A Energia, com efeito,
era algo indispensável na nova idade. De forma geral o recurso havia sido o de
apelar para o método eólico ou hidráulico ou de tração animal, até que em
1769, James Watt patenteou sua máquina a vapor, que iria substituir, de forma
muito mais prática, todas as alternativas anteriores. A invenção foi de tal forma
conveniente, que seu uso já estava generalizado por volta de 1786, cerca de
vinte anos após. Houve, a partir do século XVIII, uma revolução na maneira de
agir do homem. O intenso movimento expansivo que a Grã-Bretanha
experimentou durante o período e que se seguiu, fez com que ampliasse muito
o nível econômico de sua sociedade e alcançasse a liderança industrial sobre
os demais países, alavancado pelos motores da energia e inovação (COSTA,
1996).
Segundo Geller (2003), a quebra do paradigma do extrativismo
predatório relacionou-se para a disponibilidade de energia, colocando em
primeiro lugar o aumento da produtividade e depois a melhoria da qualidade de
vida. O assunto conversão energética passou a ser o objetivo primordial
daqueles que entendiam a nova época e a busca por fontes de energia passou
a seu objetivo central, pois alavancavam o progresso e permitiam o comando
dos negócios mundiais. O crescimento no uso de energia, nos últimos 100
anos, ocorreu principalmente no mundo industrializado, que abriga cerca de
20% da população mundial.
O uso de energia no mundo aumentou vinte vezes desde 1850, dez
vezes desde 1900 e mais de 25% desde 1950. Este aumento proporcionou a
melhoria do padrão de vida de uma considerável parcela da crescente
população mundial e alterou consideravelmente a matriz energética mundial
nos últimos 50 anos. No século XIX consumia-se basicamente biomassa –
lenha, carvão e resíduos agrícolas – sendo que o carvão teve uma grande
expansão no final deste século. A matriz energética mundial sofreu grande
mudança nos últimos 150 anos, desde a biomassa, passando pelo carvão no
século XIX - por um período que durou cerca de 70 anos – até que em meados
do século XX, intensificou-se o uso de combustíveis fósseis com a produção e
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uso do petróleo que se tornou a fonte de energia dominante até os dias atuais.
O uso do gás natural e da energia nuclear cresceu rapidamente nos últimos 25
anos, representando o dinamismo da importância das fontes de energéticos
(CAMACHO, 2009).
Eficiência energética é aperfeiçoar o uso de energia com o objetivo de
produzir a mesma capacidade de trabalho num equipamento não eficiente.
Desta forma, com ela visa-se aperfeiçoar o uso das fontes de energia,
gastando menos e produzindo a mesma quantidade de trabalho (NETO et al.,
2011).
Conforme Sola (2006), em sistemas de conversão, defini-se eficiência
energética a relação de ligação à minimização de perdas na conversão de
energia primária em energia útil, que realiza trabalho. As perdas são
intrínsecas a processos de conversão de energia e ocorrem, em maior ou
menor escala, em qualquer tipo de energia disponibilizada, seja térmica,
mecânica ou elétrica. Uma parte importante das perdas deve-se aos
equipamentos e processos obsoletos utilizados em transportes, residências ou
indústrias, que foram desenvolvidos em uma época onde os recursos
energéticos eram fartos, baratos e as questões ambientais eram menos
importantes (KOVALESKI; SOLA, 2004). A matriz energética de um país,
representada pela estratificação da oferta interna de energia, é obtida pela
soma das perdas e do consumo final (SOLA 2006).
7

2. CONSERVAÇÃO DE ENERGIA

Segundo Fantini et al (2007), o termo conservação de energia refere-se


a técnicas e procedimentos que visam reduzir o desperdício e o uso ineficiente
da energia, principalmente elétrica, sem comprometer o conforto e/ou a
produção. Normalmente, a palavra conservação está ligada ao uso racional da
energia. Essa área tecnológica salientou-se na crise do petróleo na década de
1970, quando a elevação dos preços desse insumo alterou substancialmente a
estabilidade das estratégias de obtenção dos recursos necessários para
garantir a sustentabilidade do processo de desenvolvimento. De maneira
genérica, a conservação de energia pode ser aplicada em diversos níveis:
1. Eliminação dos desperdícios;
2. Aumento da eficiência das unidades consumidoras de energia;
3. Aumento da eficiência das unidades geradoras de energia;
4. Reaproveitamento dos recursos naturais pela reciclagem e redução do
conteúdo energético dos produtos e serviços;
5. Rediscussão das relações centro-periferia em setores como transporte e
indústria;
6. Mudança dos padrões de consumo em favor de produtos e serviços que
requerem menor uso de energia.
O Procel foi instituído pela Portaria nº. 1.877, de 30/12/1985, por
iniciativa conjunta do Ministério de Minas e Energia (MME) e do Ministério de
Indústria e Comércio (MIC), sendo operacionalizado pela Eletrobras. O objetivo
do programa é combater o desperdício na produção e no uso da energia, para
obter-se o mesmo produto ou serviço, com menor consumo, em função de
maior eficiência energética, assegurando, assim, redução global de custos e de
investimentos em novas instalações para o setor elétrico. Desde a sua criação,
o Procel tem contado com recursos orçamentários da Eletrobras, de
financiamentos, por meio da Reserva Global de Reversão (RGR), e de aportes
internacionais. O Procel é constituído por diversos subprogramas, dentre os
quais se destacam ações nas áreas de iluminação pública, industrial,
saneamento, educação, edificações, prédios públicos, gestão energética
municipal, informações, desenvolvimento tecnológico e divulgação.
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A importância do assunto emerge da análise do cenário energético


mundial, onde observa-se que, como insumo fundamental, há uma relação
direta entre desenvolvimento humano e consumo de energia (75% da
população mundial vive em países em desenvolvimento com uma significativa
demanda reprimida) e que o aumento do consumo de energia, com base nos
modelos atuais, implica uma série de investimentos que podem resultar em
degradação ambiental (poluição, chuva ácida, destruição da camada de
ozônio). Dessa forma, desenvolver formas de garantir a energia necessária
para as necessidades básicas bem como para propiciar melhorias do padrão
de vida, segundo critérios racionais e adequados, é parte fundamental do
processo de desenvolvimento sustentável (FANTINI et al., 2007).
9

3. ENERGIAS RENOVÁVEIS

3.1 INTRODUÇÃO

No âmbito das discussões sobre a questão energética, aprofundada pelo


cenário internacional de escassez do petróleo e pelas mudanças no clima,
ocasionadas pela queima de combustíveis fósseis, surgem pesquisas e
estudos técnicos, econômicos e de impactos socioeconômicos e ambientais de
empreendimentos de energias alternativas ou renováveis voltados para o
desenvolvimento de alternativas na produção de energia, a partir de matéria
orgânica de origem animal e vegetal, a biomassa; a partir da força dos ventos,
a chamada energia eólica; através da captação da luz do sol, a energia solar, e
a partir de pequenas centrais hidroelétricas, as quais atendem a demandas em
áreas periféricas ao sistema de transmissão (PACHECO, 2006).
Oitenta e um porcento da atual oferta energética mundial, estimada em
11.435 milhões de toneladas equivalentes de petróle é baseada nos
combustíveis fósseis International Energy Agency (IEA, 2007). As mudanças
climáticas decorrentes das emissões dos gases de efeito estufa apontam uma
crise ambiental em escala planetária sem precedentes. Neste contexto, as
energias renováveis aparecem como alternativa para reduzir os efeitos dessa
crise. Entretanto, é extremamente difícil prever-se que essas fontes possam ser
capazes de substituir a energia fóssil em um futuro próximo. A esse respeito,
as perspectivas estão longe de ser animadoras. As previsões para 2030
apontam para um cenário tendencial em que o petróleo manterá uma
participação de 35% da oferta energética mundial, enquanto o carvão mineral
responderá por 22% e o gás natural por 25%. Por seu turno, as assim
denominadas fontes renováveis – hidráulica, biomassa, solar, eólica,
geotérmica –, que atualmente respondem por 12,7% da oferta energética
mundial, poderão chegar a não mais do que 14% da oferta em 2030 (IEA,
2004).
Há diversas fontes alternativas disponíveis, havendo a necessidade de
um maior desenvolvimento tecnológico para que possam ser economicamente
10

rentáveis e, consequentemente, utilizadas em maior escala. Diz-se que uma


fonte de energia é renovável quando não é possível estabelecer um fim
temporal para a sua utilização, entre elas, destacam-se: o sol, o álcool, o vento,
o calor da terra, o carvão vegetal e o biogás. As energias renováveis são
virtualmente inesgotáveis, mas limitadas em termos da quantidade de energia
que é possível extrair em cada momento. As energias renováveis caracterizam-
se pela capacidade que têm de se regenerar e, como tal, serem virtualmente
inesgotáveis e ainda por respeitarem o ambiente. Ambas as propriedades
constituem a sua principal diferença em face das energias tradicionais. Estas
podem ser classificadas em primárias e em secundárias (MOREIRA;
CARDOSO, 2010).
Atualmente, a nova ordem mundial é a busca pela auto-suficiência em
geração de energia, aliada a uma diversificação da matriz energética, ou seja,
a procura por diferentes fontes de energias alternativas que supram a demanda
interna dos países, no caso de uma escassez de combustíveis fósseis. Para
tanto, os países têm que ter sob controle fontes primárias de geração de
energia elétrica, térmica e veicular e em um mundo globalizado é necessário
que haja uma interdependência entre os países e uma auto-suficiência em
alguma fonte de energia (IGNATIOS, 2006).
11

4. ENERGIA HÍDRICA

4.1 INTRODUÇÃO

A água é o recurso natural mais abundante na Terra: com um volume


estimado de 1,36 bilhão de quilômetros cúbicos (km³) recobre 2/3 da superfície
do planeta sob a forma de oceanos, calotas polares, rios e lagos. Além disso,
pode ser encontrada em aquíferos subterrâneos, como o Guarani, no Sudeste
brasileiro. A água também é uma das poucas fontes para produção de energia
que não contribui para o aquecimento global – o principal problema ambiental
da atualidade. E, ainda, é renovável: pelos efeitos da energia solar e da força
da gravidade, de líquido transforma-se em vapor que se condensa em nuvens,
que retornam à superfície terrestre sob a forma de chuva (ANEEL, 2008).
As usinas hidrelétricas são definidas como instalações que utilizam a
energia da queda d’água de um rio para a geração de energia elétrica. A
construção da primeira hidrelétrica do mundo foi no século XIX, atrelada às
quedas d’água das Cataratas do Niágara com o intuito apenas de ser utilizada
para a geração de energia mecânica. No mesmo período, no reinado de D.
Pedro II, Poulon (2000) relata que a primeira utilização de energia hidrelétrica
no Brasil veio com a construção da hidrelétrica localizada no município de
Diamantina (Minas Gerais) aproveitando-se da águas do Ribeirão do Inferno,
afluente do Rio Jequitinhonha, com potência de 0,5 (MW) Megawatt e linha de
transmissão de 2 quilômetros, com a finalidade de duas bombas de desmonte
hidráulico.
Além disso, embora desde a Antiguidade a energia hidráulica tenha sido
usada para gerar energia mecânica – nas instalações de moagem de grãos,
por exemplo – no século XX passou a ser aplicada, quase integralmente, como
matéria-prima da eletricidade. Assim, a participação na produção total da
energia final, que também inclui a energia mecânica e térmica, fica
comprometida. Já a redução da participação na matriz da energia elétrica tem a
ver com o esgotamento das reservas. Nos últimos 30 anos, também de acordo
com levantamentos da International Energy Agency (IEA), a oferta de energia
12

hidrelétrica aumentou em apenas dois locais do mundo: Ásia, em particular na


China, e América Latina, em função do Brasil, país em que a hidreletricidade
responde pela maior parte da produção da energia elétrica. Nesse mesmo
período, os países desenvolvidos já haviam explorado todos os seus
potenciais, o que fez com que o volume produzido registrasse evolução inferior
ao de outras fontes, como gás natural e as usinas nucleares.

4.2 CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA HÍDRICA

A energia hidráulica é produzida através da força do movimento das


águas. Para que isso seja possível, há alguns fatores que influenciam na
geração de energia elétrica. Os principais fatores de influência são: a vazão do
rio, a quantidade disponível de água em diversos períodos do ano, a topografia,
as alterações antrópicas, ou naturais, como as quedas de água naturais, ou
criadas artificialmente (ANEEL, 2008).
A usina hidrelétrica tem a finalidade de gerar energia elétrica através do
aproveitamento do potencial hidráulico de um rio. Esse potencial é aproveitado
de duas formas: 1) natural - quando o desnível concentra-se em uma queda
d’água; 2) artificial – quando é construída uma barragem, para concentração de
pequenos desníveis na altura desta ou ainda quando é feito o desvio do rio de
seu leito natural, concentrando-se os pequenos desníveis nesse desvio.
(LEÃO, 2009).
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL (2008),
um estudo sobre hidroeletricidade do Plano Nacional de Energia 2030
elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), são notáveis as taxas
de aproveitamento da França, Alemanha, Japão, Noruega, Estados Unidos e
Suécia, em contraste com as baixas taxas observadas em países da África,
Ásia e América do Sul. No Brasil o aproveitamento do potencial hidráulico é da
ordem de 30%. A questão do impacto na população, fauna e flora locais,
provocado pelas construções de hidrelétricas fizeram como que essa expansão
não ocorresse de forma prevista.
Segundo Queiroz (2013), as usinas hidrelétricas são fontes de energia
limpa, além de serem umas das fontes de energia mais viáveis
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economicamente, porém os custos de instalação destas usinas são altos.


Também, a instalação de hidrelétricas pode acarretar em impactos ambientais
tais como alagamento de áreas vizinhas (áreas produtivas ou florestas),
aumento no nível dos rios afetando a fauna e flora da região. Lembrando, que
essas usinas, normalmente, localizam-se longe dos centros urbanos,
necessitando de longas linhas de transmissão de energia, o que ocasiona na
perda de energia ao longo do trajeto.
Até bem pouco tempo defendia-se que a hidreletricidade era uma forma
de energia não poluente. Hoje se sabe que a decomposição da vegetação
submersa dá origem a gases como o metano, o gás carbônico e o óxido
nitroso, que causam mudanças no clima da terra. É importante ressaltar que
nas emissões de CO2 (gás carbônico) e CH4(metano) de uma barragem existe
responsabilidade natural (carga orgânica transportada pelos afluentes da
barragem, que naturalmente se decompõem, emitindo CO2 e CH4) e antrópica
(de interferência humana). No caso da responsabilidade antrópica, há as
emissões provenientes do esgoto doméstico despejado no reservatório, além
das emissões decorrentes da biomassa inundada pela barragem da
hidrelétrica. Mesmo assim, geralmente as usinas hidrelétricas são menos
prejudiciais do que as termelétricas, que emitem outros gases tóxicos, como o
dióxido de enxofre e de nitrogênio, além de material particulado (poeira e
fumaça resultantes da queima de combustíveis fósseis, especialmente das
termelétricas movidas a óleo combustível), prejudiciais à saúde (MMA,
disponível em: www.mma.gov.br)
A potência instalada determina se uma usina é de grande ou médio
porte ou uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH). A ANEEL adota 3
classificações: Centrais Geradoras Hidrelétricas (com até 1MW de potência
instalada), Pequenas Centrais Hidrelétricas ( entre 1,1 e 30 MW de potência
instalada) e Usina Hidrelétrica de Energia (UHE, com mais de 30 MW). PCH é
definida como toda usina hidrelétrica de pequeno porte cuja capacidade
instalada seja superior a 1 MW e inferior a 30 MW de potência instalada e área
total do reservatório igual ou inferior a 3,0 km quadrados (ANEEL, 2008). Além
do procedimento de sua instalação causar baixo impacto ambiental.
14

4.3 GERAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA

As usinas hidrelétricas são compostas, basicamente, por barragem, casa


de força, vertedouro e sistema de captação e adução de água, sendo que
funcionam em conjunto e de maneira integrada. A barragem interrompe o curso
normal do rio e desvia para um determinado local formando grandes
reservatórios, que estocam a água e permitem a formação de grandes quedas.
Estas produzem força, que é utilizada para movimentar turbinas e acionar o
gerador elétrico (PANZERA, GOMES e MOURA, 2010).
Acumulação e fio d’água são os dois tipos de reservatórios que existem,
os primeiros, possuem a característica de acumularem expressiva quantidade
de água para ser guardada e utilizada em período de estiagem. Normalmente
esses tipos de reservatórios localizam-se na cabeceira dos rios, em locais de
altas quedas d’água. Já as unidades a fio d’água geram energia a partir do
fluxo de água do rio, ou seja, pela vazão, com o mínimo ou nenhum acúmulo
de água e, elas diminuem as áreas de alagamento.
Além de “estocar” a água, os referidos reservatórios têm outras funções:
permitem a formação do desnível necessário para a produção da energia
hidráulica, a captação da água em volume adequado e a regularização da
vazão dos rios em períodos de chuva ou estiagem (SILVA, 2010).
Os sistemas de captação e adução são formados por túneis, canais ou
condutos metálicos que têm a função de levar a água até a casa de força. É
nesta instalação que estão as turbinas, formadas por uma série de pás ligadas
a um eixo conectado ao gerador. Durante o seu movimento giratório, as
turbinas convertem a energia cinética (do movimento da água) em energia
elétrica por meio dos geradores que produzirão a eletricidade. Depois de
passar pela turbina, a água é restituída ao leito natural do rio pelo canal de
fuga. Cada turbina é adaptada para funcionar em usinas com determinada faixa
de altura de queda e vazão (SILVA, 2010).
O vertedouro tem a função de permitir a saída da água sempre que os
níveis do reservatório ultrapassam os limites padrões. Um dos motivos para a
sua abertura é a chuva ou vazão em excesso, assim como um volume grande
de água se comparado ao necessário para o armazenamento ou a geração de
15

energia. A abertura de vertedouro em períodos de chuva ocorre como forma de


evitar enchentes na região em torno da usina.

4.3.1 TURBINAS

A energia elétrica em uma usina hidroelétrica é gerada pela passagem


da água através de uma turbina, acoplada a um gerador síncrono de pólos
salientes, formando o conjunto turbogerador. Esse conjunto gira a velocidades
relativamente baixas, de 50 a 300 rpm, quando comparadas às turbinas a
vapor. O eixo da turbina está diretamente ligado ao eixo do rotor gerador.

Conforme citado
Figura por SILVA
1- Turbina (2010),
hidráulica tipicamente
acoplada a gerador.turbinas
Fonte modernas
(HTTP://WWW.DEE.UFC.BR/~RLEAO/GTD/IIGeracao%20I%20-%20Geracao%20%Hidroeletrica.pdf
possuem eficiência entre 85% e 99%, que varia conforme a vazão de água e a
queda líquida. Sendo as principais perdas de energia: hidráulica, mecânica,
micro central (potência menor ou igual a 0,1 MW), micro central (entre 0,1 e 1,0
MW), pequena central (entre 1,0 e 30 MW), média central (30 a 100 MW) e
grande central (maior que 100MW). A geração de energia elétrica é,
geralmente, produzida por geradores síncronos movidos por uma máquina
primária chamada de turbina hidráulica do tipo Pelton, Francis, Kaplan ou
Bulbo.

● Turbinas de Ação ou Impulso: aquela em que o trabalho mecânico é obtido


pela obtenção da energia cinética da água em escoamento através do rotor. As
turbinas de ação são as do tipo Pelton.

● Turbinas de Reação ou Propulsão: são turbinas em que o trabalho mecânico


e obtido pela transformação das energias cinéticas e de pressão da água em
16

escoamento através do rotor. As turbinas de reação são as do tipo Francis e


Kaplan.

a) Turbinas Pelton: caracterizam-se por serem turbinas de ação, isso porque


elas utilizam a velocidade do fluxo de água para provocar o movimento de
rotação. Estas turbinas podem ser de eixo vertical ou horizontal e são
utilizadas em aproveitamentos hidrelétricos caracterizados por pequenos
caudais e elevadas quedas úteis (250 a 2500 m), sendo bem encontradas
em países montanhosos. Uma das problemáticas desse tipo de turbina,
devido à alta velocidade com que a água se choca com o rotor, é a erosão
provocada pelo efeito abrasivo da areia misturada com a água, comum em
rios de montanhas. As turbinas Pelton possuem um rendimento de 93%
devido à possibilidade de acionamento independente nos diferentes bocais.

Figura 2- Turbina hidráulica acoplada a gerador. Fonte


(HTTP://WWW.DEE.UFC.BR/~RLEAO/GTD/IIGeracao%20I%20-%20Geracao%20%Hidroeletrica.pdf

b) Turbinas de Francis: são turbinas de reação, pois o escoamento na zona da


roda se processa a uma pressão menor do que a atmosférica. Essas
turbinas são empregadas em quedas úteis entre 40 e 400 metros e estão
bem adaptadas a diferentes quedas e caudais. Um exemplo usina
hidrelétrica que utiliza turbina tipo Francis é a usina de Itaipu. Essas turbinas
possuem um rendimento máximo mais elevado, velocidades maiores e
menores dimensões.
17

Figura 3- Turbina hidráulica acoplada a gerador. Fonte


(HTTP://WWW.DEE.UFC.BR/~RLEAO/GTD/IIGeracao%20I%20-
%20Geracao%20%Hidroeletrica.pdf)

c) Turbina Kaplan e Hélice: denominam-se de reação, as mesmas, são


adaptadas às quedas fracas e caudais elevados. Se as pás que as
constituem são móveis, o que permite variar o ângulo de ataque por meio de
um mecanismo de orientação que é controlado pelo regulador da turbina,
chama-se a turbina de Kaplan. As Kaplans também possuem uma curva de
rendimento plana, garantindo um bom rendimento em uma ampla faixa de
operação.

Figura 4- Turbina Kaplan. Fonte (HTTP://WWW.DEE.UFC.BR/~RLEAO/GTD/IIGeracao%20I%20-


%20Geracao%20%Hidroeletrica.pdf

d) Turbinas Bulbo: essas turbinas operam em quedas menores que 20 metros.


Foi inventada na década de 30. Possui a turbina similar a uma turbina
Kaplan horizontal, mas, devido à baixa queda, o gerador hidráulico fica em
um bulbo por onde a água flui ao seu redor antes de chegar às pás da
turbina. No Brasil, esse tipo de turbina faz parte do projeto das Usinas de
Santo Antônio e Jirau.
18

Figura 5- Esquema da Usina Santo Antônio. Fonte


(HTTP://WWW.DEE.UFC.BR/~RLEAO/GTD/IIGeracao%20I%20-%20Geracao%20%Hidroeletrica.pdf

4.4 EQUAÇÕES

Para determinar o número de par de pólos dos geradores, utiliza-se a


fórmula:

, onde:
Velocidade angular em rpm
Freqüência de rotação em Hz

Número de pólos

A quantidade de energia produzida é proporcional à vazão da água e a


altura do nível do reservatório, sendo dada por:

, onde:

Potência em KW
Densidade da água em Kg/m³

Vazão da água em m³/s


Altura da coluna d’água em m
Aceleração da gravidade em m/s²
Rendimento do sistema por unidade
19

4.5 ENERGIA HÍDRICA NO MUNDO

A participação da água na matriz energética mundial é pouco expressiva


e, na matriz da energia elétrica, decrescente. Segundo o último relatório Key
World Energy Statistics, da International Energy Agency (IEA), publicado em
2008, entre 1973 e 2006 a participação da força das águas na produção total
de energia passou, conforme a Figura 1 abaixo, de 2,2% para apenas 1,8%. No
mesmo período, como mostra a Figura 2, a posição na matriz da energia
elétrica sofreu recuo acentuado: de 21% para 16%, inferior à do carvão e à do
gás natural, ambos combustíveis fósseis não-renováveis, cuja combustão é
caracterizada pela liberação de gases na atmosfera e sujeitos a um possível
esgotamento das reservas no médio e longo prazo. Vários elementos explicam
esse aparente paradoxo. Um deles relaciona-se às características de
distribuição da água na superfície terrestre. Do volume total, a quase totalidade
está nos oceanos e, embora pesquisas estejam sendo realizadas, a força das
marés não é utilizada em escala comercial para a produção de energia elétrica.
Da água doce restante, apenas aquela que flui por aproveitamentos com
acentuados desníveis e/ou grande vazão pode ser utilizada nas usinas
hidrelétricas – características necessárias para a produção da energia
mecânica que movimenta as turbinas das usinas (ANEEL, 2008).

Figura 6- Matriz energética no mundo nos anos 1973 e 2006.


20

Figura 7- Geração de energia elétrica no mundo por tipo de combustível nos anos de
1973 e 2006.

4.6 ENERGIA HÍDRICA NO BRASIL

O setor energético brasileiro enfrentou vários desafios de ordem política,


institucional e tecnológica nos últimos 35 anos. Após a crise energética de
1973, intensificaram-se as preocupações e pesquisas por novas fontes de
energia, visando a diversificação da matriz energética nacional e,
conseqüentemente, a independência energética. A questão energética passou
a ser discutida em diferentes meios, por constituir uma parte importante do
processo de desenvolvimento de qualquer nação (BARBOSA, 2004).
De acordo com a Empresa de Pesquisas Energéticas - EPE (BEN 2007,
p. 30), as indústrias brasileiras consumiram 37,85% de toda energia utilizada
no Brasil no ano de 2006. Deste total, os setores energo-intensivos
representados por segmentos como cimento, metalurgia/siderurgia, química e
papel/celulose consumiram 52,20%, ou seja, 19,80% de todo consumo
nacional de energia. A energia elétrica representou 16,53% do consumo
energético nacional em 2006, sendo as indústrias responsáveis por 47,11%
deste consumo. As indústrias energo-intensivas utilizaram aproximadamente
metade desta energia.
Mesmo com a redução da parcela de consumo desde o ano 2000, com o
estabelecimento do racionamento, o segmento industrial continua
21

representando uma expressiva parcela do consumo energético do país.


Naquela época, o cenário de incerteza na oferta e a grande perspectiva de
aumento no preço dos energéticos contribuíram para que muitos grupos
industriais investissem em medidas de eficiência e auto-suficiência energética,
visando garantir a disponibilidade de energia para seus processos. Estes
investimentos contribuíram para a diversificação da matriz energética brasileira
com o aumento do uso de biomassa, gás natural, urânio e força hidráulica,
principalmente para geração de energia elétrica através de termelétricas e
pequenas centrais hidrelétricas – PCH (BEN, 2007).
22

5. ENERGIA EÓLICA

5.1 INTRODUÇÃO

Nos primórdios da humanidade, mal tendo descido das árvores, os


caçadores pré-históricos já sabiam que se aproximar de um animal com o
vento soprando pelas costas significava fracassar: a caça conseguia farejá-los
de longe, além de poder ouvir ruídos com maior facilidade. O sentido em que
sopravam os ventos foi, certamente, um fator de extrema importância para
nossos longínquos antepassados.
Observando a natureza, o homem entendeu que a força dos ventos
poderia ser usada para mover objetos. Provavelmente, a vela de uma
embarcação rudimentar tenha sido o primeiro equipamento a utilizar a energia
eólica.
À medida que a técnica humana se aprimorava, novos equipamentos
foram sendo criados. Há registros de utilização da energia eólica na irrigação
de lavouras na China e na Índia no século IV a.C. Sabe-se que também os
persas usaram equipamentos movidos pelo vento para moer grãos cerca de
200 anos a.C. (WIND ENERGY FOUNDATION, 2015).
Os moinhos de vento foram especialmente importantes na Holanda,
tendo-se tornado um verdadeiro símbolo deste país. Os holandeses deram
uma grande contribuição para o desenvolvimento dos equipamentos eólicos,
graças aos quais conseguiram drenar a água do mar ou de charcos, que antes
ocupava grandes porções de terra; desta forma, lograram aumentar
consideravelmente a extensão de suas terras cultiváveis.
É interessante saber que os holandeses, durante sua guerra de
independência da Espanha (1634 a 1644), idealizaram e construíram uma
canhoneira terrestre, dotada de rodas e impulsionada por velas semelhantes às
de barco (Figura 1). Há registros de que tal aparato bélico, denominado
zeylwagen1, tenha sido utilizado com sucesso em um ataque surpresa contra

1
Carro a vela
23

os espanhóis. Este foi, provavelmente, o primeiro veículo terrestre totalmente


autopropulsado (ASSUNÇÃO FILHO, 2008).

Figura 1 – O zeylwagen.
(Imagem:
Keransanddaly.com, 2009)

No início do século XVI, os moinhos de vento chegaram à América,


trazidos pelos conquistadores espanhóis e, mais tarde, pelos colonizadores
ingleses. Ao longo de sua história, os norte-americanos fizeram largo uso dos
equipamentos eólicos, introduzindo-lhes sensíveis aperfeiçoamentos e tratando
de dar à sua fabricação um cunho comercial, com produção em série ao invés
de artesanal. A indústria desses equipamentos constituiu um importante fator
da economia norte-americana, movimentando cerca de 5 milhões de dólares e
gerando mais de 2.000 empregos ao iniciar-se o século XX (CRESESB, 2007).
O desenvolvimento da máquina a vapor, inventada no início do século
XVIII, deu início ao declínio dos equipamentos eólicos: o vento, com sua
instabilidade, não podia competir com o carvão ou a lenha, os quais podiam
ser estocados para utilização quando se fizesse necessária. O posterior
surgimento do motor de combustão interna foi mais um importante motivo para
o abandono das máquinas movidas a vento.
O golpe final contra o aproveitamento da energia eólica foi dado pela
popularização da energia elétrica, nas primeiras décadas do século XX. A
criação de cooperativas de eletrificação rural nos países mais desenvolvidos
permitia aos agricultores o uso de bombas para recalque de água e de motores
elétricos para os mais diversos fins. A energia gerada nas usinas hidrelétricas
ou termelétricas era, então, farta e disponível a qualquer instante. E -
maravilha! - podia ser até mesmo armazenada em baterias!
24

Porém este modelo energético assentado quase que exclusivamente no


petróleo cedo se mostrou pouco flexível e eficiente. A 2 a Guerra Mundial foi um
alerta: o abastecimento de combustíveis tornou-se um fator crítico e em muitos
lugares houve a necessidade de racionamentos.
Mas foi, talvez, a chamada Crise do Petróleo, iniciada na década de 60,
que escancarou à humanidade o erro que é depender de uma só fonte de
energia - o petróleo -, e mostrou a necessidade de buscarem-se outras formas
de geração. Foi a partir daí que ganharam impulso as pesquisas sobre as
chamadas “energias alternativas”, ou “não-convencionais”: solar, eólica,
biomassa, geotérmica, etc.
Para fugir à dependência do petróleo e considerando a falta de recursos
hídricos suficientes, os EUA e alguns países da Europa entenderam ser a força
dos ventos o meio mais imediato e eficiente para a geração de eletricidade,
criando programas para desenvolvimento de sistemas eólicos para
suplementar o sistema de distribuição de energia elétrica.

5.2 CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA EÓLICA

Desde as mais remotas eras os homens conhecem e respeitam o poder


dos ventos. Os antigos gregos cultuavam um deus, chamado Éolo, que detinha
o poder de controlar ventos e desencadear tempestades; do nome desta
divindade deriva-se o termo eólico, que serve de adjetivo a tudo o que se
relaciona com o vento.
Um equipamento eólico pode ser encarado como uma máquina cujo
“combustível” é o vento e,quando comparado a outros tipos de equipamentos,
ressaltam-se de imediato algumas vantagens e desvantagens. Entre as
vantagens pode-se citar:

• A gratuidade e a inesgotabilidade do “combustível” - o vento é livre sobre a


superfície da Terra, não havendo como criar taxas para a sua utilização.
Além disso, os ventos se originam da radiação solar; portanto, enquanto
houver o Sol, haverá vento. Isso não acontece com muitos tipos de
25

combustíveis largamente utilizados na atualidade, como o carvão e o


petróleo, cujas reservas são finitas.

• Facilidade de execução e baixo custo - pelo menos no que se refere aos


modelos mais simples. De fato, mesmo contando com poucos recursos
materiais e financeiros pode-se construir equipamentos que, apesar de
simples, podem ser extremamente valiosos em tarefas como bombeamento
de água ou moagem de grãos.

• Ausência de poluição - característica de relevante importância nos dias de


hoje. A utilização de energia eólica não é acompanhada de efeitos
poluidores térmicos, químicos ou nucleares.

• Baixo impacto ambiental - a instalação de equipamentos eólicos não precisa


ser acompanhada de desmatamento de grandes áreas verdes, alagamento
de grandes porções de terra ou mudanças de relevo. Por isso, os estudos
ambientais para a implantação de equipamentos eólicos são bastante
simplificados.

No rol das desvantagens podem ser citados:

• A inconstância dos ventos - pode acontecer que quando mais se necessita


da energia, não haja “combustível” para gerá-la.

• Impossibilidade de armazenamento do “combustível” - o vento não pode ser


armazenado, a fim de que dele se disponha quando necessário.

• Perigo de excesso de “combustível” - ventos excessivamente fortes podem


causar grandes danos na instalação, caso esta não possua dispositivos de
proteção adequados, os quais podem onerar os custos de instalação.

• Tamanho do equipamento - para se extrair grandes quantidades de energia


dos ventos é necessário um equipamento de grandes dimensões.

• Dificuldade de acesso ao combustível – pode acontecer que certa aplicação


deva ser implementada em um local onde o regime de ventos seja
insuficiente.

• Poluição sonora – há queixas de moradores próximos a turbinas eólicas


quanto ao ruído de baixa freqüência causado pela rotação das hélices
(DAVIS, 2007).
26

• Choque de pássaros e morcegos com as turbinas (WALD, 2007)–


equipamentos instalados em rotas de migração de aves foram alvo de
manifestações de naturalistas; as turbinas modernas, de grandes hélices
que giram mais lentamente, têm minimizado este inconveniente ecológico.

• Modificação da paisagem – algumas pessoas não gostam da visão de altas


torres inseridas no meio ambiente; no entanto, esta opinião não é unânime:
alguns parques eólicos chegaram a tornar-se atração turística.

5.3 O VENTO E SUAS CARACTERÍSTICAS

Vento é o movimento do ar sobre a superfície terrestre, resultado de um


aquecimento desigual da atmosfera pelo Sol. Assim, a energia eólica é uma
das formas que pode assumir a energia solar.
Como a radiação solar não se distribui igualmente pela superfície
terrestre, segue-se que algumas porções da atmosfera são mais aquecidas,
tornando-se mais densas e tendendo a subir em direção às camadas
superiores. O espaço deixado pela porção ascendente é logo ocupado por
massas de ar menos aquecidas, formando-se assim as correntes de vento.
Este processo de convecção explica alguns “padrões” de
comportamento dos ventos em determinadas regiões, como, por exemplo, as
chamadas brisas regulares, ilustradas na Figura 2 e comentadas a seguir.
Sobre grandes porções de água - como oceanos e lagos - boa parte da
energia incidente durante o dia é absorvida pelo líquido ou envolvida no
processo de evaporação, de modo que o ar que as encobre permanece
relativamente frio; já o ar circundante é mais aquecido - por causa do calor
refletido pela terra - e sobe, fazendo com que a massa de ar frio ocupe seu
lugar. Desta forma, durante o dia o vento tende a soprar da água para a terra.
À noite, a situação se inverte: como a água mantém por mais tempo a energia
calorífica recebida, o ar sobre ela mantém-se mais quente que o ar sobre a
terra e, assim, a tendência do vento é soprar da terra para a água.
Em regiões montanhosas também existe um padrão característico de
ventos: durante o dia, as encostas são mais aquecidas do que as regiões mais
27

baixas, de forma que o vento tende a soprar em sentido ascendente. À noite a


direção dos ventos tende a mudar, já que as regiões mais altas perdem calor
mais depressa.

Figura 2 - Processo
de formação dos
ventos no litoral e
em zonas
montanhosas.

Se não houvesse a rotação da Terra, o padrão de circulação geral dos


ventos seria o mostrado na Figura 3 (a): o ar da região equatorial, mais
aquecido, tenderia a subir para regiões mais elevadas da atmosfera, sendo seu
lugar ocupado pelo ar mais frio oriundo dos pólos. No entanto, a rotação
terrestre altera significativamente este padrão geral, introduzindo uma
componente chamada força de Coriolis, que desvia para a direita os ventos que
sopram na direção norte ou para a esquerda os ventos que sopram para o sul,
como mostra a Figura 3 (b).

(a) (b)

Figura 3 - Direção geral dos ventos sobre o globo terrestre:


(a) desconsiderando a rotação da Terra; (b) considerando o movimento de rotação.

Na verdade, este padrão é significativamente mais complexo. De acordo


com MARTINS et al. (2008) os movimentos atmosféricos e os sistemas
meteorológicos aos quais estão relacionados possuem diferentes padrões de
28

circulação, com diferentes dimensões espaciais e tempos de vida, de maneira


que o seu estudo, na Meteorologia, é realizado através da subdivisão em
escalas.
Neste capítulo não se fará o estudo aprofundado do processo de
formação de ventos, nem dos padrões encontrados em escala global. O
interesse, aqui, está voltado para as características do vento:

a) Direção e sentido
Os ventos são denominados de acordo com a direção e o sentido de onde
provém. Assim, por exemplo, o vento que sopra da região sul para a região
norte será chamado de vento sul.
A indicação do sentido dos ventos é dada pela chamada rosa-dos-
ventos, mostrada na Figura 4 e pode ser especificada por letras que
representam as direções geográficas (Tabela 1).

Figura 4- Rosa-dos-Ventos

Tabela 1 - Designação dos ventos de acordo com sua direção

Sentido Número Designação


N 0 Norte
NNE 2 Nor-nordeste
NE 4 Nordeste
ENE 6 Leste-nordeste
E 8 Leste
ESE 10 Leste-sudeste
SE 12 Sudeste
29

SSE 14 Sul-sudeste
S 16 Sul
SSW 18 Sul-sudoeste
SW 20 Sudoeste
WSW 22 Oeste-sudoeste
W 24 Oeste
WNW 26 Oeste-noroeste
NW 28 Noroeste
NNW 30 Nor-nororeste

Para determinar a direção e o sentido dos ventos pode ser usado um


dos dispositivos mostrados na Figura 5. Em (a) vê-se um equipamento
bastante rústico, chamado biruta; em (b) se mostra o galo-dos-ventos, muito
encontrado em torres de igrejas ou casarões antigos; um indicador mais
moderno é visto em (c).
a) b) c)

Figura 5 – Equipamentos para a determinação do sentido dos ventos: (a) biruta; (b) o “galo-
dos-ventos”; (c) monitor de direção do vento (MILINK II INTERNATIONAL LTD.)

b) Velocidade
Os instrumentos destinados à medida da velocidade dos ventos são
chamados anemômetros, que podem ser analógicos ou digitais. Os
anemômetros analógicos indicam a velocidade indiretamente, via de regra,
através da posição de um ponteiro sobre uma escala graduada, enquanto que
30

os digitais apresentam a leitura diretamente sob a forma de dígitos em um


display.
Quando o instrumento é capaz de registrar continuamente a velocidade
e a direção dos ventos é chamado anemógrafo. Este registro pode ser feito por
um tipo de caneta, solidária aos elementos indicadores de velocidade e
direção, que risca um papel milimetrado, o qual se desloca sob a ação de um
pequeno motor elétrico ou, em modelos muito antigos, por mecanismo ao qual
se deve “dar corda” periodicamente. Anemógrafos mais modernos armazenam
em meio digital os dados de velocidade e direção, que podem ser depois
recuperados e processados em computadores.
Existem muitos efeitos através dos quais se torna possível medir a
velocidade dos ventos. Por exemplo:
 a rotação de uma ventoinha ou de canecas;
 a variação de pressão em diferentes partes de um mecanismo (tubo de
Pitot);
 a taxa de decaimento da temperatura em corpos aquecidos.
Os anemômetros são designados em conformidade com o princípio de
funcionamento por eles utilizados. Na Figura 6 são mostrados alguns destes
tipos de anemômetros e anemógrafos.

(a) (b) (c)


31

(d) (e)

Figura 6 – Instrumentos de medida de vento: (a) anemômetro digital tipo “ventoinha” IMPAC
IP720; (b) anemômetro digital de fio quente ANEMOMASTER Lite; (c) anemômetro de canecas
LUFT 8368.03; (d) anemógrafo mecânico com rotor “de canecas”; (e) moderna estação
meteorológica AG SOLVE.

De um modo geral, quanto maior for a altura, maior será a velocidade do


vento numa mesma região. Os ventos de interesse para o aproveitamento em
equipamentos eólicos são os que ocorrem a baixas altitudes (cerca de 50
metros acima do nível do solo). Isto se deve ao custo e a complexidade das
estruturas necessárias à captação e sustentação em maiores altitudes.
Existem diversas equações empíricas que buscam estabelecer a
velocidade dos ventos a uma certa altura, considerando a velocidade dos
mesmos a uma altura de referência e, ainda, um parâmetro chamado de
rugosidade do solo. A rugosidade informa a influência que terão sobre o
abrandamento do vento. De acordo com CAMELO et al., as duas principais
utilizadas são a de potência e a logarítmica.
Na equação de potência, adota-se a uma altura hr acima do solo como
referência; para esta se terá a velocidade de referência vr. Então a velocidade
vh para uma altura h (superior à de referência) pode ser encontrada
empiricamente por
n
h
v h  v r  
 hr 
onde n é um coeficiente cujo valor depende basicamente da rugosidade do solo
(Tabela 2).
32

Tabela 2- Coeficiente de rugosidade do solo (n)

Rugosidade do solo N
Alta 0,143
Média 0,091
Baixa 0,067

O processo logarítmico propõe outra metodologia de cálculo, segundo a


qual a velocidade vh dos ventos a uma altura h é expressa pela equação

ln h 
vh  vr  0 
z
lnh r z 0 
onde hr é a altura de referência, para a qual se tem a velocidade de referência
vr e zo é o chamado comprimento da rugosidade (Tabela 3)

Tabela 3 – Classes e comprimentos de rugosidade


Comprimento de
Tipo de panorama
rugosidade (m)
0,0002 Superfície da água
Superfície completamente livre com cobertura suave,
0,0024 como pistas de concreto em aeroportos, gramado
aparado
Áreas agrícolas abertas, sem muros ou sebes, com
0,03
construções muito esparsas. Apenas colinas suaves
Áreas agrícolas com algumas casas e sebes de até 8
0,055
m de altura a uma distância aproximada de 1250 m.
Áreas agrícolas com algumas casas construções,
0,1 arbustos e plantas, ou sebes de até 8 m a uma
distância de aproximadamente 500 m.
Áreas agrícolas com muitas casas, arbustos e plantas,
0,2 ou sebes de até 8 m a uma distância de
aproximadamente 250 m.
Vilarejos, pequenas cidades, áreas agrícolas com
0,4
muitas ou altas sebes, florestas e superfície muito
33

acidentada.
0,8 Grandes cidades com altos edifícios
1,6 Metrópoles com altos edifícios e arranha-céus.

A aplicação dessas equações para várias alturas permite traçar uma


curva chamada perfil de velocidade dos ventos. Como se vê na Figura 11, a
altura para se ter uma certa velocidade (no desenho, 6,5 m/s) é inversamente
proporcional à rugosidade da superfície. Assim, se numa superfície muito
rugosa a velocidade de 6,5 m/s foi alcançada a uma altura de cerca de 200 m,
esta mesma velocidade será atingida a pouco mais de 100 m se a superfície for
de baixa rugosidade.

(a) (b) (c)


Figura 7- Perfil de velocidade dos ventos: (a) próximo a altos edifícios ou elevações (b) próximo
a construções baixas e árvores; (c) em superfícies planas e mar aberto.

Com relação à topografia do terreno, os esquemas para a avaliação de


velocidades são pouco precisos, mesmo em se tratando de rápidos
levantamentos. Normalmente, em pequenas elevações a velocidade do vento é
maior no topo e a sotavento (lado oposto àquele de onde sopra o vento). Já no
caso de superfícies mais elevadas e escarpadas, o comportamento é
imprevisível, podendo mesmo ocorrer inversão no sentido do vento em
algumas partes do terreno.
34

5.3.1 ROTORES

O componente básico em qualquer equipamento eólico é o rotor. É ele


quem efetivamente capta a energia do vento e a transforma em energia
mecânica, através de um movimento rotativo.
A posição relativa do eixo de rotação relativamente à superfície terrestre
divide os equipamentos eólicos em dois grupos: os de eixo vertical e os de eixo
horizontal.

a) Rotores de eixo vertical (REVs): são aqueles cujo eixo de rotação é à


superfície terrestre. Nesta categoria enquadram-se as primeiras máquinas
eólicas, utilizadas para a moagem de grãos por povos da Antiguidade.
A principal vantagem dos REVs é sua capacidade de funcionar seja qual
for a direção do vento, não necessitando de mecanismos de orientação que
podem onerar o custo do equipamento. Também a disposição vertical do eixo é
uma vantagem, pois, geralmente, são requeridas estruturas de sustentação
mais simples, além de permitir a tomada de energia mecânica ao nível do solo
(isto é, o acoplamento do rotor com a máquina a ser acionada é feito próximo
ao solo).
Em contrapartida, de um modo geral esses rotores desenvolvem pouca
potência por unidade de área de captação do vento. Outro inconveniente dos
REVs é o de não atingirem velocidades superiores à do vento, o que limita sua
utilização como força motriz de equipamentos de moagem de grãos ou
bombeamento de água.
A seguir, são destacados alguns REVs especialmente importantes.

b) Rotor Savonius: os rotores Savonius ou rotores "S": são REVs muito usados,
devido a facilidade de construção e baixo custo. Sua estrutura básica pode
ser descrita como "um tonel cortado ao meio e soldado em torno de um eixo",
como se vê na Figura 8(a). Possuem alto torque de partida, o que os torna
apropriados para tarefas como bombeamento de água ou moagem de grãos;
por outro lado, trabalham com baixa velocidade e não possuem alto
rendimento, sendo desaconselhados para a geração de energia elétrica.
35

Conforme se vê na Figura 8(b) e (c), podem ter uma ou mais camadas,


coincidentes ou não, o que se reflete em seu rendimento.

Figura 8– Rotor Savonius: (a) forma básica; (b) Savonius de 2 camadas; (c) Savonius de 3
camadas;

c) Rotor Darrieus

Outra classe de REV, os rotores Darrieus, mostrados na Figura 9, tem 2


ou 3 lâminas unidas nos extremos ao eixo vertical; quando se dá a rotação
essas lâminas são curvadas pela força centrífuga, assumindo a forma de uma
catenária com o diâmetro aproximadamente igual à distância entre as pontas.
Como o seu torque de partida é bastante reduzido, é comum acoplar-se
ao eixo deste tipo de rotor um ou dois Savonius, como se vê na Figura 13(b).
Os rotores Darrieus apresentam ótimas características de rendimento,
podendo ser usados para a geração de energia elétrica.

(a) (b)
36

Figura 9– Rotores Darrieus: (a) de duas lâminas; (b) de três lâminas, com dois rotores
Savonius acoplados para aumentar o torque de partida.

d) Rotores de eixo horizontal (REH)

São aqueles cujo eixo de rotação é paralelo à superfície da terra. Esses


rotores são constituídos por pás (ou lâminas), que podem ser construídas com
diversos materiais: madeira, tecido (como o algodão ou o "dacron"), metal, fibra
de vidro, etc.
O número de pás – que pode variar de 1 até cerca de 50 depende de
uma série de fatores, como a finalidade a que se destina o rotor, sua estrutura
de suporte, regime de velocidade dos ventos na região, etc. Em princípio, a
velocidade de rotação do rotor é inversamente proporcional ao número de suas
pás.
Os REH são capazes de desenvolver maior força e potência por unidade
de área de captação do vento, tendo ainda, via de regra, melhor rendimento
que os REV. Além disso, são capazes de atingir velocidades mais altas que as
dos ventos incidentes, o que os torna excelentes para aplicações que
requeiram altas velocidades de rotação, como a geração de energia elétrica.
Um dos principais inconvenientes desse tipo de rotor é a necessidade de
incorporação de algum mecanismo de orientação, a fim de que suas lâminas
sempre se posicionem perpendicularmente à direção dos ventos incidentes.
Em unidades pequenas, usa-se um simples leme, mas no caso de grandes
equipamentos são necessários mecanismos mais sofisticados.
Em qualquer desses casos, o rotor é montado sobre uma gávea
giratória, capaz de se movimentar em torno do eixo de sustentação.
Entre os rotores de eixo vertical destacam-se, por sua importância, os
multipás (também chamados de moinhos americanos) e os de pás
aerodinâmicas.

e) Rotor Multipás

Este rotor, visto na Figura 10(a), possui bom torque e estabilidade, e é


usado principalmente para o bombeamento de água, motivo pelo qual é
também chamado de aerobomba. É, talvez, o equipamento eólico mais
37

utilizado em todos os tempos. Alguns historiadores chegam até mesmo a


atribuir parcela do sucesso e da rapidez da expansão colonizadora do Oeste
dos EUA à disponibilidade de cata-ventos multipás de baixo custo – que
facilitaram o acesso à água e a fixação de apoios em grandes áreas áridas ou
semi-áridas (CRESESB, 2007).
Neste tipo de rotor, o leme, além de orientar o catavento, serve também
como dispositivo de proteção. Quando a velocidade do vento atinge valores
que possam afetar a integridade do equipamento, o leme é “rebatido”, isto é
posicionado paralelamente ao plano de rotação das lâminas, como mostra a
Figura 10(b); nesta situação, diz-se que o rotor está desorientado e para de
girar.

a) b)

Figura 10 – Rotor multipás: (a) em funcionamento; (b) desorientado.

f) Rotor de Pás Aerodinâmicas

São também chamados de aerogeradores, pois sua principal aplicação é


na geração de eletricidade. O perfil de suas pás se assemelha à das asas dos
aviões e seu número depende de uma série de fatores, como finalidade a que
se destina, estrutura de suporte, regime de velocidade dos ventos na região,
etc. São mais comuns os rotores com hélices de 2 ou 3 pás, porém existem
equipamentos com uma única pá e contrapeso e outros com mais de 3 lâminas
38

(Figura 11). Se, num passado recente havia divergência sobre o melhor
desempenho de rotores de 2 ou de 3 pás, atualmente quase todas as indústrias
de aerogeradores de grande porte adotam este último modelo.

(a) (b) (c) (d)

Figura 11 – Exemplos de rotores de pás aerodiâmicas: (a) de 1 pá e contrapeso; (b) de 2 pás;


(c) de 3 pás; (d) de 6 pás.

O comprimento das pás é calculado de acordo com a potência de saída


desejada. Ao longo dos anos de estudos e experiências com aerogeradores,
foi-se obtendo equipamentos com potências cada vez maiores e, por
conseguinte, com torres e pás mais longas, como mostra a Figura 12.

Figura 12 – Evolução da potência e das dimensões de aerogeradores (Fonte: CRESESB,


2014).

A Figura 13 mostra a estrutura de um aerogerador moderno, com


rotor de 3 pás aerodinâmicas (1), capazes de girar sobre seu próprio eixo para
modificar seu ângulo de ataque (3) e, assim, manter a velocidade de rotação
39

estável. Esta velocidade, transmitida ao eixo de baixa rotação, tipicamente está


na faixa de 15 a 200 rpm, insuficiente para acionar o gerador. Para aumentar a
rotação usa-se um conjunto de engrenagens chamado multiplicador de
velocidade (6), tendo em sua saída o eixo de alta velocidade (12) ao qual se
conecta o gerador.
O posicionamento do rotor relativamente ao vento é controlado por
sensores (10), que acionam o motor da gávea. O anemômetro (9) lê
continuamente a velocidade do vento e é capaz de desligar o equipamento
quando houver perigo.

Figura 13 – Estrutura de um moderno aerogerador.

5.4 EQUAÇÕES BÁSICAS

A energia cinética dos ventos que incidem sobre um rotor é:


1
 mv 2v
2
onde m é a massa de ar em movimento e vv é a velocidade do vento incidente.
A massa de ar em movimento, ao passar pelo rotor, ocupará um volume V,
como exemplificado na Figura 14. Se considerarmos a densidade volumétrica 
do ar, definida como:
40

m

V
têm-se m = V = (Ad), onde A é a área útil do rotor (isto é, aquela sobre a
qual atua o vento) e x é a distância percorrida pelo vento na unidade de tempo.
Então,
1
 (Ax) v 2v
2
A potência disponível no vento incidente (P v) será a "velocidade" com
que esta energia é fornecida, isto é:
 1 Ax 2
Pv   vv
t 2 t
Note-se que a razão entre a distância x percorrida pelo vento e o tempo t
gasto para percorrê-la é a própria velocidade do vento, ou seja:

Figura 14 - Volume "criado" pela passagem do vento em um rotor.

1 d 2 1
Pv  A v v  Av v v 2v
2 t 2
Portanto:
1
Pv  Av 3v
2
Esta equação pode também ser expressa através da relação:

Pv  KAv 3v

onde K é uma constante cujo valor, dado na Tabela 4, dependerá das unidades
com que as demais grandezas são expressas.
41

Tabela 4 - Valor da constante K, expresso em função das unidades de potência contida no


vento (Pv), área varrida pelo rotor (A) e velocidade do vento (v v).
Potência (Pv) Área (a) Velocidade (vv)
K
dada em dada em dada em
W m2 m/s 645  10-3
Kw m2 m/s 645  10-6
kW m2 km/h 13,824  10-
6

Cv m2 m/s 876,4  10-6


kW pé2 mi/h 5,321  10-6
HP pé2 mi/h 7,131  10-6

As equações anteriores fornecem a potência P v disponível no vento.


Porém, devido a fatores tais como o perfil da lâmina de ar que se desloca
através do rotor ou a turbulência causada pelo vento, apenas uma fração desta
potência disponível pode ser captada pelo rotor. Denomina-se coeficiente de
potência à relação:
Pr
CP 
Pv

Um estudo proposto pelo cientista alemão BETZ (1920), baseado na


conservação da energia antes e depois da passagem do vento em um rotor,
chega ao valor:
16
Cp   0,593
27
Isto significa que, segundo Betz, um rotor com perfeita eficiência
conseguiria extrair, na melhor das hipóteses, cerca de 60% da potência contida
no vento incidente. Este é o valor mais aceito para o coeficiente de potência.
Já o russo SABININ, que se baseou no estudo do vórtice produzido pelo
vento ao incidir no rotor, chegou a um número um pouco melhor:
C p  0,687

Nenhum dos estudos desenvolvidos levou em consideração fatores tais


como perdas rotacionais, atrito, possíveis variações de velocidade do vento nos
vários pontos do rotor, etc. Estes fatores reduzem ainda mais a eficiência de
42

um rotor, de modo que, na prática, os coeficientes de potência são menores


que o proposto por Betz e Sabinin.
A análise do desempenho de diversos projetos mostra que o valor do
coeficiente de potência Cp também é função da chamada razão de velocidade
de ponta (do termo inglês tip speed ratio), simbolizada por , dada pelo
quociente entre a velocidade vpna ponta dapá e a velocidade vv do vento, isto é
vp

vv
A relação entre o coeficiente de potência Cp e a razão de velocidade de
ponta  para alguns tipos de rotores é mostrada no gráfico da Figura 15. Como
se vê, para um dado tipo de rotor existe um valor de  para o qual Cp será
máximo. Observa-se, ainda, que o valor de Cp tende a 0,593 - o máximo teórico
proposto por Betz - à medida que  aumenta.

Figura 15 – Curvas de coeficiente de potência (Cp) em função da razão de velocidade de ponta

Existem, basicamente, dois tipos de turbinas eólicas modernas:


a) Os sistemas de eixo horizontal são os mais conhecidos. Consistem numa
estrutura sólida elevada, tipo torre, com duas ou três pás aerodinâmicas
que podem ser orientadas de acordo com a direção do vento;

b) Os sistemas de eixo vertical são menos comuns, mas apresentam a


vantagem de captarem vento de qualquer direção.

Apesar de não ser um dos países mais ventosos da Europa, Portugal


tem condições bastante favoráveis ao aproveitamento da energia eólica do
que, por exemplo, algumas zonas da Alemanha, onde os projetos se
43

implementam a um ritmo impressionante. Os arquipélagos da Madeira e dos


Açores constituem zonas de território nacional onde o potencial eólico é muito
elevado. Ainda que Portugal esteja já bem posicionado relativamente a outros
países, e de as perspectivas atuais apontarem para um crescimento acentuado
neste sector, está ainda muito aquém do seu potencial eólico. Este
corresponde a mais de 3 500 MW quando, atualmente, apenas se encontram
instalados cerca de 200 MW.
Os locais com regime de vento favorável encontram-se em montanhas e
em zonas remotas. Daí que coincidam, em geral com zonas servidas por redes
elétricas antigas e com fraca capacidade, dificultando o escoamento da energia
produzida. As soluções imediatas para o problema passam pela construção de
linhas muito extensas, cujos custos tornam os projetos pouco atrativos.
De referir também, que existem implicações a nível ambiental que põem
em causa a viabilização de alguns projetos, tais como o ruído, o impacto visual
e a influência na avifauna.
Qualquer destes aspectos tem conhecido grandes desenvolvimentos.
Quer seja através da condução de estudos sistemáticos que mostram serem
exagerados os receios anunciados, quer através da conscientização dos
promotores para os cuidados a adotar, mormente na fase de construção, quer
ainda pelas inovações tecnológicas que vão sendo incorporadas (perfis
aerodinâmicos mais evoluídos, novos conceitos de regulação, máquinas de
maior potência permitindo reduzir o número de unidades a instalar, etc.), a
evolução é, claramente, no sentido da crescente compatibilização ambiental da
tecnologia. Pelas razões anteriormente referidas, em grande parte dos casos é
exigido ao promotor de um parque eólico a realização de um estudo de
incidências ambientais, cujo grau de profundidade depende da sensibilidade do
local.

5.5 PANORAMA ATUAL DA ENERGIA EÓLICA

Nas últimas décadas, a constatação dos efeitos da poluição, como o


aquecimento global e a diminuição da camada de ozônio – produzidos
principalmente pelos países do chamado Primeiro Mundo -, incentivou ainda
mais a busca de desvinculação com a energia gerada a partir do petróleo. Os
governos de muitos países, entre eles o do Brasil, criaram programas de
44

incentivo ao aproveitamento de energia renováveis como complementação da


matriz elétrica.
A Figura 16 mostra a capacidade eólica global instalada no período
1997-2014, com um aumento médio de aproximadamente 24% ao ano.
Somente nos últimos 5 anos, a produção aumentou mais de 200.000 MW, algo
equivalente a 14 hidrelétricas como Itaipu.
Na Tabela 5 vê-se os 10 países com maior capacidade eólica e o
percentual de sua produção relativamente à capacidade instalada global. A
China capitaneia este grupo, com um impressionante crescimento de 25,4% no
ano de 2014 (GWEC, 2015). Os EUA ocupam a segunda posição, porém seu
crescimento em 2013 foi de somente 7,8%.
Em 2014, o Brasil passa a ser a figura entre os 10 países que mais
utilizam energia eólica. Em grande parte, deve-se a isso o início de
funcionamento do Complexo Eólico Campos Neutrais, no sul do RS, com mais
de 580 MW gerados.
400.000

318.644
369.597
283.132
350.000
238.435
197.943

300.000
159.079

250.000
120.715

200.000
93.901
73.949

150.000
59.091
47.620
39.431
31.100
23.900
17.400
13.600
10.200

100.000
7.600

50.000
0

Figura 16 – Capacidade de potência eólica instalada cumulativamente (MW), por ano. (Fonte:
GWEC, 2015).

Tabela 5 – Os 10 países de maior produção eólica e sua participação relativamente à


capacidade global, em Dezembro de 2014 (Fonte: GWEC, 2015)
%
Ordem País MW Partic.
1 China 114.763 31,1
2 EUA 65.879 17,8
3 Alemanha 39.165 10,6
4 Espanha 22.987 6,2
45

5 Índia 22.465 6,1


6 Reino Unido 12.440 3,4
7 Canadá 9.694 2,6
8 França 9.285 2,5
9 Itália 8.663 2,3
10 Brasil 5.939 1,6
Resto do Mundo 58.275 15,8
Total 10 Mais 311.280 84,2
Total Mundial 369.555 100,0

O gráfico da Figura 17 apresenta o aumento global da capacidade eólica


no período 1997-2014. Se até 2012 o aumento médio desta capacidade se
aproximava de 30% ao ano, nota-se um decréscimo em 2013. De acordo com
o site ENERGIA EÓLICA (2014), isso se deve principalmente a dificuldades de
acesso aos grids de conexão na China e à desaceleração de crescimento nos
EUA como resultado de incertezas sobre a expiração de programas de
incentivo. Porém já em 2014 houve o retorno do crescimento dos anos
anteriores.
51.773

60.000
44.929
40.943
38.989
38.478

35.692

50.000
26.952

40.000
20.286

30.000
14.701
11.531
8.207
8.133

20.000
7.270
6.500
3.760
3.440
2.520
1.530

10.000

Figura 17- Aumento global da capacidade de energia eólica (MW), por ano
(Fonte: GWEC, 2014)
46

5.6 ENERGIA EÓLICA NO BRASIL

O primeiro passo da energia eólica no Brasil foi modesto e data de 1992


com a instalação de uma pequena unidade de testes em Fernando de Noronha
(PE) de 1 MW. Até 1999, período anterior ao início dos leilões de energia e
ainda sem um planejamento determinativo para contratação de investimentos
em novas unidades geradoras, alguns poucos projetos privados (dois de 15
MW no Ceará e outro de 2,5 MW no Paraná) elevaram a capacidade instalada
de energia eólica para 18,5 MW. No modelo de contratação de energia vigente
no período entre a desestatização de parte do setor, na segunda metade dos
anos 1990 a 2004, havia liberdade na decisão de investimentos e era possível
a compra livre de energia entre os agentes, permitindo inclusive que os grupos
ligados às concessionárias de distribuição gerassem sua própria energia, o
chamado self dealing. Os preços eram regulados pelo conceito de Valor
Normativo que estabelecia o preço teto de repasse dessa energia aos
consumidores (ANEEL, 2013).
Esse modelo foi totalmente reformulado pelas Leis 10.847 e 10.848 de
2004 que estabeleceram o princípio de planejamento determinativo para a
geração de energia nova e instituíram a necessidade de contratação por parte
das distribuidoras de 100% da carga de energia necessária para o atendimento
da demanda futura. Essa demanda é projetada a cada ano por todas as
distribuidoras e centralizada na Empresa de Planejamento Energético (EPE),
que passou a coordenar a contratação da carga requerida pelo sistema por
intermédio de leilões. Assim, os leilões de energia nova passaram a ser o
mecanismo por excelência de contratação e de ajuste de preços e quantidade
de energia entre agentes distribuidores e geradores no Ambiente de
Contratação Regulada (ACR) (ANEEL, 2013).
De acordo com GWEC (2015), ao final de 2014, o Brasil tinha uma
capacidade instalada de aproximadamente 6.000 MW, correspondendo a cerca
de 4% do consumo nacional. A intenção do governo brasileiro é que até 2022 a
energia eólica participe com 9,5% do consumo de eletricidade.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEÓLICA, 2014),
o Brasil produz atualmente 56.790MW de energia eólica em 270 usinas,
47

majoritariamente instaladas em estados do Nordeste e no Rio Grande do Sul,


regiões com maior potencial eólico, de acordo com o Atlas do Potencial Eólico
Brasileiro (Figura 18).

Figura 18 – Potencial eólico brasileiro (ANEEL, 2014)

A Tabela 6 mostra os 5 maiores empreendimentos eólicos brasileiros e


sua localização. A produção desses complexos eólicos corresponde a
aproximadamente 20% do total de energia elétrica produzida a partir da energia
eólica no país.

Tabela 6 – Os cinco maiores empreendimentos eólicos brasileiros, sua localização e


capacidade instalada.
Capacidade
Nome Localização Instalada
(MW)
Compl. Eólico Campos Neutrais RS 583
Compl. Eólico Alto Sertão I BA 294
Parque Eólico de Osório RS 150
Usina de Energia Eólica de Praia
Formosa CE 104
Parque Eólico de Cerro Chato RS 91

O custo da geração de eletricidade a aerogeradores ainda é bem maior


que o baseado em hidrelétricas, como se pode ver na Figura 19. No entanto, as
48

políticas de implantação de complexos eólicos, aliadas à crescente


nacionalização de componentes das usinas vêm baixando constantemente o
preço de geração.

Térmica a óleo diesel 796,86


Térmica a óleo combustível 672,23
Térmica a gás natural 353,76
Térmica a biomassa 338,67
Térmica a carvão 328,43
Térmica nuclear 165,61
Pequena central hidrelétrica … 158,94
Hidrelétrica de porte médio 147,46
Eólica 99,58
Hidrelétrica de grande porte 84,58
0 200 400 600 800 1000
Custo da geração (R$/MWh)

Figura 19 – Custo de geração de energia elétrica a partir de fontes primárias (em R$ por MWh
gerado). Fonte: Brasil Economia e Governo, 2012).
49

6. ENERGIA SOLAR

6.1 INTRODUÇÃO

No planeta Terra, com exceção das energias Geotérmica e Nuclear,


todas as outras fontes de energia são formas indiretas de energia solar. A
energia hidráulica é oriunda dos ciclos das chuvas nos processos de
evaporação e condensação provocados pelo calor do Sol; a biomassa se
desenvolve a partir da fotossíntese que promove o crescimento das plantas e
também ocorre sob a influência da luz solar; a energia eólica é resultado do
processo de aquecimento de massas de terra e água, que possuem gradientes
térmicos diferentes e, portanto aquecem e esfriam em tempos diferentes
provocando deslocamentos das massas de ar que sem encontram sobre essas
superfícies; os combustíveis fósseis, são originários de massas de florestas
que existiram há milhões de anos atrás, foram soterrados e sofreram processos
físico-químicos que transformaram essas matérias orgânicas em gás, petróleo
e carvão; por fim a energia dos oceanos oriunda das mudanças cíclicas das
marés.
A radiação solar é utilizada como fonte direta de energia térmica, desde
o surgimento do homem. Além de fornecer a luz que dava a segurança aos
primeiros homens, o Sol fornecia o calor que os mantinha aquecidos durante o
dia, até mesmo depois da descoberta do domínio do fogo (ROMERO, et al.,
2010). Além disso, o calor do Sol é utilizado, com as novas tecnologias, para
aquecimento de fluidos com sistemas de aquecimento de água para
residências, piscinas e sistemas de refrigeração, servem para climatização de
ambientes e também pode ser utilizada para geração de potência mecânica ou
elétrica. Em outra forma de utilização, a energia solar pode ainda ser
convertida diretamente em energia elétrica, por meio de efeitos sobre
determinados materiais, entre os quais se destacam o sistema termoelétrico
onde um par de dois materiais metálicos diferentes são unidos e produzem
uma diferença de potencial, quando submetidos a uma fonte de calor. Em
1821, Thomas Johann Seebeck observou que quando unia um fio de cobre
50

com um fio de ferro e submetia essa junção a uma fonte de calor, a mesma
gerava em seus terminais uma diferença de potencial. Algum tempo depois foi
descoberto que isso ocorria devida à dois fenômenos que receberam seus
nomes por causa de seus descobridores. O primeiro efeito é conhecido com
efeito Peltier. Nesse efeito, sempre que uma corrente circula por uma junção de
dois metais diferentes, calor é gerado ou absorvido no ponto da junção dos
dois metais. Essa absorção é proporcional ao valor da corrente que circula pela
junção. Esse mesmo efeito ocorre no sentido contrário. Quando aplicamos frio
ou calor em uma junção ela gera uma corrente. O segundo efeito é conhecido
como efeito Thomson. Nesse caso, quando aplicamos calor em uma
extremidade de um fio uniforme e frio na outra, surge uma diferença de
potencial nas duas extremidades desse condutor. No caso de um sistema
fotovoltaico uma junção semicondutora, quando submetida à ação dos fótons
produz uma diferença de potencial em seus terminais.
O aproveitamento da iluminação natural e do calor para aquecimento de
ambientes, denominado aquecimento solar passivo, decorre da penetração ou
absorção da radiação solar nas edificações, reduzindo-se, com isso, as
necessidades de iluminação e aquecimento. A arquitetura moderna, associada
às novas tecnologias de Engenharia, tem melhorado o planejamento e a
construção de moradias que aproveitem de forma racional a energia solar.
Ainda nesse aproveitamento térmico temos as tecnologias de
aquecimento de fluidos que são feitos com o uso de coletores ou
concentradores solares. Os coletores solares são mais usados em aplicações
residenciais e comerciais e servem para o aquecimento de água usada na
higiene pessoal, piscinas e na lavagem de utensílios e de ambientes. Por outro
lado, os concentradores solares destinam-se a aplicações que requerem
temperaturas mais elevadas, como a secagem de grãos, a produção de vapor
ou na produção de frio e gelo. No caso da produção de vapor, esse processo
gerar energia mecânica com o auxílio de uma turbina a vapor, e,
posteriormente, eletricidade, por meio de um gerador, exatamente da mesma
forma que ocorre em usinas termelétricas de combustível fóssil.
A conversão direta da energia solar em energia elétrica ocorre pelos
efeitos da radiação (calor e luz) sobre determinados materiais, particularmente
os semicondutores. Como já falamos anteriormente, entre esses processos,
51

destacam-se os efeitos termoelétrico e fotovoltaico. O primeiro caracteriza-se


pelo surgimento de uma diferença de potencial, provocada pela junção de dois
metais, em condições específicas. No segundo, os fótons contidos na luz solar
são convertidos em energia elétrica, por meio do uso de células solares.

6.2 O SOL E A RADIAÇÃO SOLAR

O Sol é uma estrela cuja constituição é, basicamente de hidrogênio e


hélio, os dois gases mais leves da tabela periódica. Ele tem uma massa cerca
de 332959 vezes a massa da Terra. Essa massa foi determinada com base na
lei da Gravitação Universal de Isaac Newton. Isso equivale a uma massa de
1,989.1030 Kg. Essa estrela possui um raio de 695500 km. Sua densidade é de
1.4 g/cm3 e sua temperatura na superfície é de 5770 K, ou seja,
aproximadamente 1.600.000 oC. Não é uma massa sólida em sim uma mescla
de plasma e gás. No Sol, o principal combustível é o hidrogênio que, aquecido
e comprimido acaba originando uma reação de fusão nuclear e transforma
esse hidrogênio em hélio. Internamente a estrutura do Sol pode ser vista na
figura 1.

Figura 1 - Estrutura do Sol - (fonte http://theuniversalmatrix.com/pt-br/artigos/wp-


content/uploads/2011/12/Sol-Estrutura-Interna.png)
52

Praticamente toda a energia recebida pela Terra vinda do Sol ocorre por
radiação, que é a única que pode atravessar o relativo vazio do espaço. O
sistema composto pela Terra e sua atmosfera está constantemente absorvendo
radiação solar e emitindo sua própria radiação para o espaço. Se fizermos uma
média entre as taxas de absorção e emissão de radiação na Terra, veremos
que em um período de longo prazo esses valores se aproximam. Sendo assim
podemos dizer que todo o sistema esta quase em equilíbrio radioativo. Essa
radiação também tem papel importante na transferência de calor entre a
superfície da Terra e a atmosfera e entre diferentes camadas da atmosfera.
A forma como a radiação solar atinge o planeta em cada latitude e em
um dia especifico do ano pode ser visto na figura 2.

Figura 2- Ângulo de incidência da radiação solar em relação a latitude -


(fonte: http://aprendegeografia.no.sapo.pt/recursos_radiacao_solar.html)

A altura do Sol influencia a intensidade de radiação solar, ou irradiância,


que é a quantidade de energia que atinge uma área unitária por unidade de
tempo (também chamada densidade de fluxo), de duas formas em particular.
Em primeiro lugar, se os raios solares atingem a Terra verticalmente, sua
concentração é maior e, portanto eles têm melhor aproveitamento. Quanto
menor é a altura solar, mais espalhada e menos intensa será a radiação. Esses
efeitos podem ser vistos na figura 3.
53

Figura 3- Distribuição da radiação solar de acordo com a latitude - (fonte :


http://www.cmosarchives.ca/ProjectAtmosphere/module10_sunlight_and_seasons_e.ht
ml)

Em segundo lugar, a altura do sol influencia a interação da radiação


solar com atmosfera. Se a altura do sol decresce, o percurso dos raios solares
através da atmosfera aumenta conforme mostra a figura 4. Consequentemente,
a radiação solar sofre maior absorção, reflexão ou espalhamento, o que reduz
sua intensidade na superfície.

Figura 4 - Distância percorrida pela radiação solar na atmosfera até atingir a superficie da Terra -
(fonte:
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?id_projeto=27&ID_OBJETO=58852&tipo=
ob&cp=000000&cb=&n2=Desenvolvimento%20Profissional&n3=Minicursos&)

Para calcular o cálculo aproximado da declinação utilizamos a seguinte


fórmula:

Onde: d – declinação
54

N – número do dia, 1 de janeiro = dia 1, 4 de março = dia 63 ou


64, dependendo de fevereiro.

Figura 5 - Representação dos elementos de orientação na superfície terrestre -


(fonte: https://www.mar.mil.br/dhn/bhmn/download/cap25.pdf)

6.3 FUNDAMENTOS DE SOLARIMETRIA

Irradiância – é o valor instantâneo da energia que chega por unidade de tempo


e por unidade de área. A potência recebida em um coletor solar que esta
perpendicular aos raios solares é igual ao produto do valor da irradiância G
pela área da superfície A (W/m2). A irradiância pode ser direta ou difusa. Muitas
vezes não conseguimos medir a irradiância devido a falta de equipamentos
para tal atividade. No entanto, é possível estimar matematicamente esse valor
a partir de alguns elementos meteorológicos tais como nebulosidade, duração
do número de horas de brilho solar e outros. A equação empírica mais utilizada
para essa determinação foi apresentada por Ângström em 1924 e,
posteriormente foi modificada por Prèscott (CECHIN, 2012)2
55

Onde: Rg – Irradiância solar global na superfície


Ro – Irradiância solar global diária extraterrestre
a, b – Coeficientes empíricos obtidos por análise de regressão
linear para uma determinada localidade
n – duração do brilho solar observado em horas
N – duração astronômica do período diurno, ou fotoperíodo, em
horas.
A radiação solar global diária Ro é dada pela seguinte equação:

Onde: Ro – Irradiância solar global diária extraterrestre em MJ/m2

– Fator de correção para a distância Terra-Sol

(adimensional)
 - Ângulo de declinação solar
 - Latitude do local
H – Ângulo horário do por do sol

Para estimar o valor da duração do dia (N), desprezamos os efeitos da


refração da atmosfera e calculamos através da seguinte equação:

Onde: N – duração do fotoperíodo em horas


H – o ângulo horário do por do sol em graus.

Se quisermos mais precisão podemos aplicar a equação proposta por


Varejão-Silva (VAREJÃO-SILVA, 2006):
56

O ângulo horário do por do sol é dado por:

A declinação solar, ângulo formado pelo vetor centro da Terra ao centro


do Sol e o plano do Equador, pode ser estimada de duas formas:

(Cooper – 1969)

ou

(Pereira et al – 2002)

Onde : nj é o dia do ano


Checin, citando Vianello e Alves (1991) que cita Spencer (1971) diz que
o fator de correção para a distância Terra-Sol pode ser estimado através da
seguinte equação:

Onde nj – dia do ano

Simplificando temos:

A irradiância, quando medida, se divide em:


57

Irradiância solar direta (GB) - podemos definir como sendo a fração da


irradiação solar que atravessa a atmosfera terrestre sem sofrer qualquer
alteração em sua direção original.
Irradiância difusa (GD): refere-se à componente da irradiação solar que, ao
atravessar a atmosfera, é espalhada por aerossóis, poeira, ou mesmo, refletida
pelos elementos constituintes dessa atmosfera.
Irradiância global (G): é a soma das radiações solar direta e indireta.

Irradiação (I) – é o valor da energia que chega durante um período de tempo


para cada unidade de área. (MJ/m2) ou (kWh/m2)
Insolação (H) – indica a quantidade de energia solar que chega, por unidade de
tempo e por unidade de área, a uma superfície perpendicular aos raios solares,
à distância média Terra-Sol, se chama constante solar, e vale 1376 W/m2. Esse
valor da constante solar é medido por satélites logo acima da atmosfera
terrestre. Devido à rotação da Terra, a energia média incidente no topo da
atmosfera, por unidade de área e por unidade de tempo, é
aproximadamente 1/4 da constante solar. Além disso, a atmosfera reflete 39%
da radiação, de forma que apenas 61% é usada no aquecimento da Terra.
Chamando EZ a energia média que chega perpendicularmente à superfície da
Terra, por unidade de tempo e por unidade de área, temos que:

Na verdade o valor que nos interessa é o que determina a quantidade de


energia por unidade de área e por unidade de tempo que chega em um
determinado ponto da superfície da Terra. Isso determina a insolação local.
Desse modo sabemos que ela varia de acordo com o lugar, a hora do dia e a
época do ano. Pela definição, então podemos dizer que a insolação solar é
dada por:
58

Considerando que a quantidade de energia solar recebida em diferentes


pontos da Terra é a mesma então podemos entender que a insolação em
diferentes pontos só depende da área sobre a qual essa energia se distribui, ou
seja, da inclinação com que os raios solares atingem a superfície da Terra no
local e data considerados.
Quando o Sol está a pino (no zênite, altura de 90°), a área sobre a qual
a energia se distribui é mínima e a insolação é máxima (densidade de energia
máxima). Nesse caso, a área é Az e a densidade de energia luminosa é:

Quanto menor a altura do Sol maior a área de intersecção entre os raios


e a superfície da Terra, consequentemente menor a insolação. Esse efeito
pode ser visto na figura 6.

Figura 6 - Incidência do Sol - (fonte: http://www.if.ufrgs.br/fis02001/aulas/insolacao.htm)

Na figura 6 vemos que a área A’ é dada por:

Sendo assim, a irradiação é dada por:


59

mas, a razão entre a energia E e a área A pode ser escrito por:

6.4 SOLARIMETRIA E OS INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO

Quando desejamos medir a radiação solar, precisamos determinar a


componente direta e a componente difusa que atingem a superfície terrestre. A
componente direta corresponde a radiação que atinge a superfície sem
nenhum tipo de interferência. Já a componente difusa é o resultado de todas as
energias refletidas nas diversas superfícies que constituem o espaço percorrido
pela radiação solar desde sua entrada na atmosfera até atingir a superfície da
Terra.
A construção de um histórico de medidas para um determinado ponto
permite uma análise mais aprofundada no caso de um projeto de
aproveitamento solar.
De acordo com as normas estabelecidas pela Organização Mundial de
Meteorologia, existem limites de precisão admissíveis para os quatro tipos de
instrumentos de medição. Existem os equipamentos considerados de
referência, os instrumentos de primeira classe, os de segunda classe e os de
terceira classe. De acordo com o equipamento o dado tem uma maior ou
menor confiabilidade. Os dados à serem levantados são a radiação global e
difusa em um plano horizontal e a radiação direta normal. Os instrumentos
utilizados para essas medições são:

Piranômetros – são equipamentos capazes de medir a radiação global. Ele


possui uma termopilha, que nada mais é do que um par termelétrico, e que
60

mede a diferença entre a temperatura das duas superfícies, uma pintada de


preto e outra pintada de branco, igualmente iluminadas. Com a incidência da
radiação solar sobre o sensor, as superfícies absorvem essa energia de formas
diferentes gerando uma diferença de potencial que pode ser medida e mostra o
valor instantâneo da energia solar. Alguns modelos substituem o par
termelétrico por uma célula fotovoltaica de silício monocristalino para colher as
medidas solarimétricas. Esse segundo tipo de piranômetro possui um custo
menor do que os sistemas com par termelétrico, mas apresenta uma limitação
em termos de sensibilidade pois é capaz de detectar somente 60% da radiação
solar incidente. Os equipamentos desse tipo que pertencem ao grupo de
primeira classe, possuem uma precisão de 2%, enquanto os de segunda classe
tem 5% de precisão.

Figura 7a - Piranômetro para medição de radiação Figura 7b - Piranômetro com anel de


direta - (fonte: http://www.jma.go.jp/jma/jma- sombra para medição de radiação difusa -
eng/jma-center/ric/material/1_Lecture_Notes/CP7- (fonte:http://www.faqs.org/patents/imgfull/2
Sunshine.pdf) 0130277532_02)

Figura 7c- Diagrama esquemático de um


piranômetro - fonte
(http://www.omniinstruments.co.uk/environmental/s
olar-radiation-sensors/product.php?p=1654)
61

Pireliômetro – São instrumentos para medir radiação direta. Possui uma


pequena abertura que fica direcionada para o disco solar e a região vizinha que
recebe o nome de “circunsolar”. Esse equipamento segue o movimento solar
para que a abertura fique sempre ajustada para focalizar o disco solar no
centro do sensor. Os pireliômetros são autocalibráveis e apresentam uma
precisão na faixa de 5%.

Figura 8 - Diagrama de um Pireliômetro –


(fonte : http://www.powerfromthesun.net/Book/chapter02/chapter02.html)

Heliógrafo – é utilizado para registrar a duração do brilho solar. A radiação


solar passa por uma esfera de cristal de 10 cm de diâmetro que focaliza a
radiação solar sobre uma fita que fica escurecida com a ação dessa radiação.
O comprimento dessa linha escurecida fornece o número de horas de
insolação.

Figura 9 - Heliógrafo –
(fonte: http://www.sapiensman.com/ESDictionary/H/Technical_vocabulary_Spanish(H5-
A).htm)
62

Actinógrafo – É um instrumento de pouco uso pois é considerado um


instrumento de terceira classe e, portanto, com baixa precisão, entre 15 e 20%.
É utilizado para medir a radiação global. Ele é composto por um conjunto de
sensores baseados na expansão diferencial de um par bimetálico. Os sensores
são conectados a um sistema de registro gráfico que registra o valor
instantâneo da radiação solar em uma folha de papel.

Figura 10 - Actinógrafo - (fonte: http://www.rfuess-mueller.de/html/radiation-


intensitymeter.html)

6.5 ENERGIA SOLAR PASSIVA

Como já mencionamos a Energia Solar pode ser utilizada das mais


variadas formas. Ela pode ser utilizada para climatização, aquecimento e
refrigeração de fluidos, geração de vapor e geração de energia.
Convencionalmente tratamos todas as formas de utilização da radiação
infravermelha como formas passivas de uso da Energia Solar, enquanto o uso
da faixa de luz visível, com seus fótons que possibilitam a geração de energia,
são conhecidos como energia solar ativa.
Quando associamos a energia solar com o projeto de fachadas de
prédios e residências, estamos trabalhando em uma área denominada
arquitetura bioclimática. Esse conceito não é totalmente novo, os construtores
na Roma antiga já utilizavam esse conceito ao construir seguindo orientações
que permitiam aproveitar ao máximo as condições climáticas. Para isso
utilizavam todos os recursos naturais disponíveis, tais como, chuva, vegetação,
Sol e regime de ventos. Hoje em dia os projetos arquitetônicos modernos
63

mantém as mesmas ideias acrescentando as modernas tecnologias e


aumentando a eficiência desses aproveitamentos.
O aproveitamento do calor fornecido pela energia solar térmica é muito
mais amplo do que simplesmente o aquecimento de água ou ar. Ele pode ser
utilizado em processos de dessanilização de água, secagem de grão, geração
de vapor e até produção de energia elétrica. Para cada caso existe uma faixa
de temperatura apropriada como nos mostra o gráfico 1.
Veremos a seguir algumas formas de aproveitamento dessa energia
solar com função de aquecimento e/ou climatização.

Gráfico 1 - Temperaturas
de uso da Energia Solar -
(fonte: (FARIA, 2010)

Calefação solar – é um processo onde o ar é aquecido em coletores e utilizado


como fonte de calor nas edificações. Para sua instalação tornam-se
necessárias intervenções na arquitetura da edificação e, por esse motivo,
envolve etapas da chamada arquitetura solar. O sistema é composto por
coletores solares e tubulações que são integrados aos dutos de ar
64

condicionado das edificações. Normalmente o coletor solar é uma placa


pintada de preto com pequenos orifícios por onde o ar entra e, quando
aquecido se movimenta por convecção que ocorre pela diferença de densidade
do ar. Em alguns casos essa circulação pode ser forçada por sistemas

Figura 11 - Sistemas de calefação e refrigeração com energia solar –


(fonte: http://jmc-mote.jimdo.com/tecnologia-e-informatica/2-periodo/la-
energia/)

Estufas solares – Outra utilização da energia solar é na secagem de grãos.


Esse processo utiliza coletores solares que são instalados em pequenas
estufas que, com o calor, secam e desidatram, grãos, verduras e frutas.
Construtivamente existem três modelos básicos de secadores solares:
secadores de absorção – onde o alimento fica exposto a radiação solar direta;
os secadores indiretos ou por convecção – em que o produto fica sujeito a uma
corrente de ar aquecido por um coletor solar e; os secadores combinados –
onde os alimentos ficam expostos a radiação solar direta e, ao mesmo tempo,
estão sujeitos a uma corrente de ar que foi aquecido por um coletor solar.

Figura 12a - Secador indireto – Figura 12b - Secador de absorção -


(fonte:
(fonte: https://bioculturasanluis.wordpress.com/2012/11/)
http://www.cubasolar.cu/Biblioteca/Ener
gia/Energia06/HTML/articulo06.htm)
65

Fogão solar – A energia solar, além de economizar energia com várias


tecnologias diferenciadas, também executa uma função social. Essa função é
exercida pelos chamados fogões solares. Esse tipo de equipamento tem uso
principalmente em regiões com grande número de pessoas situadas abaixo da
linha de pobreza e que, portanto, não possuem condições de cozinhar
utilizando os meios tradicionais, tais como fogões a gás. Os principais países a
utilizarem essa tecnologia são a Índia, China, Paquistão, Nigéria, Uganda,
Sudão, Colômbia dentre outros.
Além de permitirem que famílias que não tem acesso a outras fontes de
energia e, portanto, utilizam lenha como combustível. A utilização de fogões
solares evitam também o desmatamento, principalmente o ocasionado por
populações que vivem próximos à matas nativas.

Figura 13 c - Fogão solar modelo


Figura 13a - Fogão Figura 13b - Forno solar -
painel de Bernard - (fonte:
solar parabólico - (fonte: (fonte:
http://solarcooking.org/portugues/sp
http://www.sempresuste http://www.sempresustentav
c-pt.htm)
ntavel.com.br/solar.htm) el.com.br/solar.htm)

Concentradores solares – São equipamentos construídos com a finalidade de


concentrar a radiação solar em um só ponto e, com isso vaporizar um fluido.
Esse fluido poderá ser uma mistura refrigerante, com a finalidade de gerar frio
em congeladores solares, ou água, para geração de vapor que irá acionar uma
turbina e produzirá energia elétrica. Os concentradores podem ser parabólicos
ou um conjunto de espelhos. Eles operam com temperaturas altas, mas
inferiores à 1000°C.
66

Figura 14- Tipos de concentradores solares - (fonte: (CONRADO,


2010)

Torre solar – Essa tecnologia aproveita a energia térmica para gerar energia
elétrica a partir de vapor a alta pressão. Um conjunto de espelhos que recebem
o nome de heliostatos, que são instalados de forma que podem acompanhar o
movimento do Sol durante todo o ano. Os raios solares, ao atingirem os
espelhos são concentrados em uma torre situada no centro do conjunto. Essa
incidência de toda essa energia em um único ponto faz com que o fluido
térmico armazenado na torre atinja temperaturas entre 1500 oC e 2000 oC.
Essa temperaturas fazem que o fluido seja transformada em vapor que é
enviado sob pressão para uma turbina onde se expandia gerando energia
elétrica. Esse funcionamento é similar ao funcionamento de uma usina
termelétrica convencional, que utiliza carvão ou gás natural.

Figura 15 - Torre solar - (fonte: http://www.sqm.com/mv/en-


us/products/industrialchemicals/thermo-
solarsalts/concentratedsolarpower(csp)systems.aspx)
67

Chaminé solar – Essa tecnologia a energia térmica é aproveitada para gerar


eletricidade com a circulação de ar aquecido. Ela possui uma base onde é feita
a captação da energia e funciona como uma estufa. No centro existe uma torre
cujo formato favorece a convecção e faz com que o ar aquecido atinja o ponto
mais alto dessa torre. Todo esse processo gera ventos com velocidades
aproximadas de 60 km/h que se movimentam em direção ao topo da chaminé.
No interior dessa chaminé existe um conjunto de turbinas que são
movimentadas pelo ar em ascensão e geram energia elétrica.

Figura 2 - Torre solar - (fonte: http://www.global-


greenhouse-warming.com/solar-tower.html)

6.6 ENERGIA SOLAR ATIVA – FOTOVOLTAICA

Um sistema de produção de energia que utiliza o principio fotovoltaico é


um sistema capaz de converter os fótons contidos no espectro eletromagnético
da luz solar, na faixa da luz visível em eletricidade através da ação desses
fotos sobre um junção semicondutora do tipo P-N. Esse tipo de sistema
apresenta uma série de vantagens, tais como:
● Não consome combustível
 Não produz poluição nem contaminação ambiental
 É silencioso
 Tem uma vida útil superior a 20 anos
68

 É resistente a condições climáticas extremas (granizo, vento, temperatura e


umidade)
 Não tem peças móveis e, portanto, exige pouca manutenção (só a limpeza
do painel)
 Permite aumentar a potência instalada por meio da incorporação de
módulos adicionais
Essas vantagens apresentadas por esse tipo de sistema permitem a
utilização do mesmo em uma série de aplicações. Uma das primeiras
aplicações é a sua utilização em zonas afastadas da rede de distribuição
elétrica, podendo trabalhar de forma independente ou combinada com
sistemas de produção elétrica convencional. Isso possibilita levar a zona rural:
luz, TV, rádio, comunicações, bombeamento de água, eletrificação de cercas.
Os painéis solares fotovoltaicos também podem ser utilizados em iluminação
pública, sinalização de vias, proteção catódica e em embarcações náuticas.

6.6.1 EFEITO FOTOVOLTAICO

Para entendermos o funcionamento dos sistemas fotovoltaicos é


necessário, em primeiro lugar que entendamos como funciona uma célula solar
de silício,
O silício é um elemento encontrado em abundância na natureza cuja
característica química é a de possuir 4 elétrons na sua camada de valência. O
que lhe garante uma característica de “instabilidade” que o diferencia dos
materiais condutores, que possuem 1,2 ou 3 elétrons na camada de valência,
e dos materiais isolantes que possuem 5,6,7 ou 8 elétrons na mesma camada.
Para a fabricação de um dispositivo eletrônico semicondutor capaz de ser
controlado é necessário que o silício passe por um processo de purificação
que o deixe na sua forma pura. Essa forma pura é o cristal de silício que não
possui elétrons livres e, portanto, é um mau condutor elétrico. Para que se
possa alterar essa característica, o cristal de silício é submetido a um processo
que é denominado dopagem. Nesse processo, o cristal de silício, submetido a
altas temperaturas é impregnado com fósforo, por exemplo. Essa impregnação
com o material dopante proporciona o surgimento de um determinado número
69

de elétrons livres tornando esse material um portador de carga negativa, ou


um material ionizado negativamente denominado silício tipo N. A realização do
mesmo processo, mas agora utilizando um material como o boro vai fazer com
que esse outro cristal de silício adquira um déficit de elétrons, ou seja,
aumenta o número de cargas positivas tornando esse material um silício tipo
P. Essa montagem, não é feita em cristais separados, na verdade ela é feita
no mesmo cristal, utilizando um processo que em cada momento, mascara o
material que não desejamos dopar, criando então uma junção P- N. As células
solares são construídas dessa forma, sendo assim uma célula solar é
composta por uma fina camada de material tipo N e outra de espessura maior
do tipo P. Nessa junção gera-se um campo eletromagnético devido aos
elétrons do silício tipo N que ocupam os vazios da estrutura do silício tipo P.
Quando a luz incide sobre uma junção P – N, os fótons entram em
choque com os elétrons da estrutura de silício fornecendo-lhes energia e
transformando o material em um condutor. Devido a existência do campo
elétrico que foi gerado na junção os elétrons são orientados e com isso fluem
da camada P para a camada N. Ao fecharmos o circuito através da ligação de
um condutor externo, conecta-se a camada positiva e a camada negativa
fazendo surgir uma corrente elétrica. Em todo o tempo que a luz estiver
incidindo sobre a junção o material estará gerando corrente elétrica e a
intensidade dessa corrente é proporcional a intensidade da luz que incide
sobre a junção. Cada célula tem a capacidade de fornecer uma certa
quantidade de energia que naturalmente é baixa. Para obtermos valores
suficientemente altos para tornar o sistema utilizável é necessário associarmos
células em sistemas chamados de painéis solares. Quando associamos as
células em série obtemos um valor de tensão maior, quando as associamos
em paralelo é possível aumentar o valor da corrente que o sistema pode
fornecer.
Existem no mercado três diferentes tipos de células solares e elas são
diferenciadas pelo seu método de produção:

Silício Monocristalino- é produzido a partir de uma barra de cristal preparando


em fornos especiais fazendo com que a estrutura do material fique
praticamente uniforme. As células são obtidas pelo corte da barra em forma de
70

pastilhas com espessura entre 0,4 e 0,5 mm. Essas pastilhas são montadas em
painéis que possuem uma eficiência superior a 12%.
Silício Policristalino- é produzido a partir de blocos de silício fundidos de silício
puro em moldes especiais. Após ser fundido o silício é deixado nos moldes
para esfriar lentamente e solidificar. Durante esse processo os átomos não se
organizam em um só cristal e são formadas estruturas policristalinas com
superfícies de separação entre os cristais o que fornece uma aparência de
material trincado. A eficiência desses materiais é ligeiramente menor do que
os painéis de silício monocristalino.

Filme Fino ou Silício Amorfo – Esse material é obtido por meio da deposição de
camadas muito finas de silício ou de outros materiais semicondutores sobre
superfícies de vidro ou metal. Sua eficiência fica entre 5% e 7%.

6.6.2 ARMAZENANDO ENERGIA

Painéis fotovoltaicos produzem energia, mas são incapazes de


armazenar a energia gerada. Para isso é necessário que os painéis sejam
associados à sistemas de acumuladores capazes de armazenar a energia
gerada. Esses acumuladores são baterias com vários tipos de construção.

Baterias de chumbo-ácido de eletrólito líquido – Esse tipo de bateria é a mais


utilizada em sistemas fotovoltaicos pelo seu baixo custo. Dentre as baterias
desse tipo as de chumbo-antimônio, chumbo-selênio e chumbo-calcio são as
mais comuns. Elas são construídas a partir de um conjunto de células no
mesmo processo de construção da pilha de volta, duas placas de materiais
diferentes, separados por um material isolante. Cada célula tem uma
capacidade de produzir 2 volts e as mesmas são comercializadas em conjuntos
que fornecem 4, 6, 12, 24 e 36 volts. Ao ligarmos as baterias em paralelo, a
tensão não varia porém a capacidade de fornecimento de corrente aumenta. As
baterias podem ser classificadas com base na sua capacidade de
armazenagem de energia e no seu ciclo de vida. A capacidade de
armazenagem é medida em termos de Ampére-hora enquanto o ciclo de vida
71

significa o número de vezes que a bateria pode ser carregada e descarregada.


É importante entender que a vida útil da bateria diminui sempre que a bateria é
descarregada abaixo de 70% da sua carga máxima. Tipicamente uma bateria,
em sistemas fotovoltaicos, tem um tempo de descarga de 100 horas, isso
significa, por exemplo que, uma bateria que tem uma capacidade de 80 Ah em
10 Hs (capacidade nominal), em 100 Hs, terá uma capacidade de 100 Ah. As
baterias de baixo conteúdo de antimônio possuem, caracteristicamente um
ciclo de vida de 2500 ciclos quando a descarga for inferior a 20% de sua
capacidade nominal e cerca de 1200 ciclo quando a bateria atinge 50% da
carga. Elas também tem uma baixa descarga residual, isto é, descarga quando
está em repouso, ela gira em torno de 3% ao mês. Para comparar é importante
lembrar que em uma bateria de chumbo-ácido convencional, essa taxa é de
20% ao mês.

Baterias seladas – As baterias ditas seladas são divididas em três tipos:


 As gelificadas são baterias que incorporam um gel que funciona como
eletrólito e com consistência que pode variar desde um estado denso até
uma consistência similar a uma geleia. Esse tipo de eletrólito não derramam,
permitindo que a bateria seja montada em quase todas as posições, no
entanto, não admitem descargas profundas;
 As de eletrólito absorvido consistem de baterias em que o eletrólito é
absorvido em uma fibra de vidro microporoso ou então em um entrançado de
fibra polimérica. Do mesmo jeito que as baterias gelificadas, esse modelo
não derramam e também podem ser montadas em varias posições, no
entanto, admitem descargas moderadas. Tanto essa bateria quanto a
anterior não exigem manutenção com reposição de água, também não
desenvolvem gases o que evita o risco de explosão.
 O último tipo de bateria selada é composto pelas baterias de níquel-cádmio
(NiCd) ou Niquel Metal Hidreto (NiMH). Essa baterias possuem um eletrólito
alcalino e admitem descargas profundas que podem atingir 90%, tem um
baixo coeficiente de autodescarga, alto rendimento sob variações extremas
de temperatura. O valor típico de tensão por elemento é de 1,2 Volts com
alto rendiento de absorção de carga (superior a 80%), o problema é que
possuem custo muito elevado em comparação com as baterias ácidas VI-D.
72

6.6.3 DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO

Para dimensionarmos um sistema fotovoltaico e o sistema de bateria


para acumulação de energia são necessários os seguintes dados:

 Tensão nominal do sistema que é a tensão com que operam as cargas que
serão ligadas no sistema. Alem do valor da tensão, devemos especificar se
essa alimentação será em corrente contínua ou alternada.

 Potencia exigida pela carga o valor dessa potência deve ser aquela exigida
por cada equipamento que ser colocado no sistema. Em comunidades
remotas, onde a comunicação é feita por rádio, é importante lembrar que
sistemas de rádio, quando fazem transmissão, consomem mais energia para
alguns minutos de transmissão por dia. Durante o resto do tempo os
transmissores gastam baixíssima potência. Esse comportamento deve ser
considerado no dimensionamento do sistema.

 Perfil de carga – Assim como necessitamos determinar as potências


exigidas pelas cargas devemos estipular o tempo médio que cada carga
ficará ligada durante o dia. Ao multiplicarmos a potencia da carga pelo
número de horas que a carga é utiliza teremos a energia consumida em um
dia dada em Watts por hora.

 Localização geográfica do sistema – como já vimos anteriormente, para


determinar a inclinação adequada para o módulo fotovoltaico e o nível de
radiação local é necessário sabermos a latitude, longitude e altitude em
relação ao nível do mar.

 Autonomia prevista – Como se trata de um sistema fotovoltaico e depende


da luz solar é necessário prever o número de dias em que o Sol está
73

encoberto por nuvens o que reduz ou interrompe a geração dos painéis.


Para sistemas rurais domésticos, convencionamos um período entre 3 e 5
dias, enquanto para sistemas de comunicações remotos devemos estipular
entre 7 e 10 dias de autonomia.

6.6.4 MANUTENÇÃO DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Uma das grandes vantagens dos sistemas de produção fotovoltaicos é


que não necessita de manutenção alguma. A parte frontal dos módulos é
constituída por um vidro temperado com 3 a 3,5 mm de espessura, o que os
torna resistentes até ao granizo. Além disso, admitem qualquer tipo de variação
climática. Eles são auto-limpantes devido à própria inclinação que o módulo
deve ter, de modo que a sujeira pode escorrer assim que ocorrer chuva. De
qualquer forma, nos lugares onde seja possível, será conveniente limpar a
parte frontal dos módulos com água misturada com detergente. Deve-se
verificar periodicamente se o ângulo de inclinação obedece ao especificado,
isto por que é comum que as estruturas de fixação sofram pequenos desvios
pela ação dos ventos e até mesmo desgaste mecânico. Deve-se confirmar que
não haja projeção de sombras de objetos próximos em nenhum setor dos
módulos entre as 9 e as 17 horas, pelo menos. A simples sombra de um varal
um mesmo uma sombra parcial de árvore afeta drasticamente o rendimento do
painel solar. Deve-se verificar periodicamente se as ligações elétricas estão
bem ajustadas e sem sinais de oxidação. Sugere-se o reaperto dos terminais
do controlador pelo menos anualmente. (SOLARTERRA, 2008)

6.6.5 MANUTENÇÃO DAS BATERIAS

Desde que possível recomenda-se sempre o uso de baterias do tipo sem


manutenção e que, portanto, não permitem reposição de água. Estas baterias
possuem uma vida útil que pode atingir até 4-5 anos. Regularmente deve-se
observar os terminais e remover a oxidação que se forma sobre os mesmos.
(SOLARTERRA, 2008).
74

Aproveitar a energia solar significa utilizá-la diretamente para uma


função, como seja aquecer um fluído (sistemas solares térmicos), promover a
sua adequada utilização num edifício (sistemas solares passivos) ou produzir
energia elétrica (sistemas fotovoltaicos).
A produção de eletricidade usando o sol é possível através de painéis
solares fotovoltaicos ou de painéis solares térmicos. No primeiro caso, as
células fotovoltaicas ao receberem os raios solares transformam-nos em
eletricidade. No segundo caso, usam-se espelhos que concentram a luz solar
para aquecer um fluido, gerando vapor que faz rodar as pás de uma turbina,
criando um movimento de rotação do eixo do gerador que produz eletricidade.
O Sol também pode ser usado para aquecer as águas domésticas, ou de
processos industriais evitando o uso de eletricidade ou de gás.
O nosso país é, a nível europeu, dos que tem mais horas de sol por ano:
entre 2 200 a 3 000. Perante este cenário, seria natural que fôssemos, também
um dos maiores consumidores de energia solar. No entanto, no nosso país
existem cerca de 220 000 m2 de painéis solares instalados, o que é muito
pouco comparativamente com a Grécia, que tem 2,6 milhões m2, e a mesma
exposição solar.
O sol, não só é uma fonte de energia inesgotável, como permite obter
uma energia limpa e gratuita (após a instalação das unidades de captação e
armazenamento). Embora sejam necessários sistemas auxiliares, que não
utilizam energia renovável, ao nível de poluição é muito reduzido. Por outro
lado, os sistemas de aproveitamento de energia solar são os mais acessíveis,
monetariamente, ao consumidor.

6.7 SISTEMAS SOLARES TÉRMICOS

O aquecimento de um fluído, líquido ou gasoso, em coletores solares, é


a utilização mais frequente da energia solar. O aquecimento de água por esta
via é hoje uma tecnologia fiável e economicamente competitiva em muitas
circunstâncias. No nosso país as aplicações mais correntes verificam-se no
sector doméstico, para produção de águas quentes sanitárias e, em alguns
75

casos, para aquecimento ambiente. Além do sector doméstico, existem


também aplicações de grandes dimensões, nomeadamente em piscinas,
recintos desportivos, hotéis e hospitais. Também o sector industrial é
susceptível de utilizar sistemas solares térmicos, quer para as aplicações
acima mencionadas, quer quando há necessidade de água quente de processo
a baixa ou média temperatura.
Este tipo de sistemas capta, armazena e usa diretamente a energia solar
que neles incide. Os edifícios constituem um bom exemplo de sistemas solares
passivos. Um edifício de habitação pode ser concebido e construído de tal
forma que o seu conforto, a nível térmico, no Inverno e no Verão, seja mantido
com recurso reduzido a energias convencionais (como a eletricidade ou o gás),
com importantes benefícios econômicos e de habilidade. Para isso, existe um
grande número de intervenções ao nível das tecnologias passivas, desde as
mais elementares, como sejam o isolamento do edifício e uma orientação e
exposição solar adequados às condições climáticas, a outras mais elaboradas,
respeitantes à concepção do edifício e aos materiais utilizados. Em muitas
dessas intervenções o sobrecusto relativamente a uma construção sem
preocupações energéticas é mínimo. Em situações em que esse sobrecusto é
maior, ele é facilmente recuperado em economia de energia e em ganhos de
conforto.
76

7. BIOMASSA

7.1 INTRODUÇÃO

Apenas há pouco mais de 100 anos a biomassa começou a perder cada


vez mais sua liderança histórica para a energia do carvão, e depois, com o
crescimento contínuo do petróleo e do gás natural, a utilização da biomassa foi
reduzida praticamente às residências particulares em regiões agrícolas. Porém
hoje, em maior ou menor intensidade, a maioria dos países, sejam eles
desenvolvidos ou não, está promovendo ações para que as energias
alternativas renováveis tenham participação significativa em suas matrizes
energéticas. A motivação para essa mudança de postura é a necessidade de
redução do uso de derivados do petróleo e, conseqüentemente, a dependência
energética desses países em relação aos países exportadores de petróleo.
Além disso, a redução no consumo dos derivados do petróleo também diminui
a emissão de gases promotores do efeito estufa. Analisando as tecnologias das
fontes energéticas alternativas renováveis, já suficientemente maduras para
serem empregadas comercialmente, somente a biomassa, utilizada em
processos modernos com elevada eficiência tecnológica, possui a flexibilidade
de suprir energéticos tanto para a produção de energia elétrica quanto para
mover o setor de transportes (CORTEZ et al., 2008). A biomassa é a matéria
orgânica de origem vegetal ou animal, que pode ser utilizada no estado sólido,
líquido ou gasoso.
Antes da descoberta dos combustíveis fósseis a nossa sociedade era
dependente da biomassa vegetal para satisfazer a suas necessidades de
energia. A biomassa surge assim no século XXI como a única fonte sustentável
de carbono orgânico para a produção de Energia. Pode ser classificada em
Biomassa natural, produzida na natureza sem a intervenção humana;
Biomassa residual, gerada em qualquer atividade humana com origem nos
processos agrícolas, pecuários, humanos, agro-industriais, águas residuais e
77

Biomassa produzida, cultivada com o propósito de obter biomassa


transformável em energia. (álcool, etanol, florestas energéticas).

7.2 CARACTERÍSTICAS DA BIOMASSA

A biomassa é uma das fontes para produção de energia com maior


potencial de crescimento nos próximos anos. Tanto no mercado internacional
quanto no interno, ela é considerada uma das principais alternativas para a
diversificação da matriz energética e a consequente redução da dependência
dos combustíveis fósseis. Dela é possível obter energia elétrica e
biocombustíveis, como o biodiesel e o etanol, cujo consumo é crescente em
substituição a derivados de petróleo como o óleo diesel e a gasolina (ANEEL,
disponível em: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/biomassa/5_2.htm).
A utilização de resíduos para a produção de energia tem sido crescente
e talvez seja, no futuro, uma das aplicações de maior importância da biomassa.
Umas das razões se justifica pela necessidade de diversificação da matriz
energética, com a destaque as alternativas menos poluidoras e a necessidade
de redução da dependência das fontes fósseis. No Brasil, a biomassa
representa uma das mais importantes fontes de energia.

7.3 DISPONIBILIDADE, PRODUÇÃO E CONSUMO DE BIOMASSA

Embora grande parte da biomassa seja de difícil contabilização, devido


ao uso não-comercial, estima-se que, atualmente, possa representar até cerca
de 14% de todo o consumo mundial de energia primária. Em alguns países em
desenvolvimento, essa parcela pode aumentar para 34%, chegando a 60% na
África (Tabela 1).
78

Tabela 1- Consumo mundial de energia primária (1995-MTEP)

Atualmente, várias tecnologias de aproveitamento estão em fase de


desenvolvimento e aplicação. Mesmo assim, estimativas da Agência
Internacional de Energia (AEI) indicam que, futuramente, a biomassa ocupará
uma menor proporção na matriz energética mundial - cerca de 11% em 2020
(IEA, 1998). Outros estudos indicam que, ao contrário da visão geral que se
tem, o uso da biomassa deverá se manter estável ou até mesmo aumentar, por
duas razões, a saber: 1) crescimento populacional; 2) urbanização e melhoria
nos padrões de vida (HALL et al., 2000). Um aumento nos padrões de vida faz
com que pessoas de áreas rurais e urbanas de países em desenvolvimento
passem a usar mais carvão vegetal e lenha, em lugar de resíduos (pequenos
galhos de árvore, restos de materiais de construção etc.).
Estudos indicam que, nos Estados Unidos, a capacidade instalada no
final dos anos 1970 era de apenas 200 MW, subindo para 8,4 GW no início dos
anos 1990 (WALTER; NOGUEIRA, 1997). A maioria corresponde a plantas de
co-geração, com utilização de resíduos agrícolas e florestais. Embora com
eficiência termodinâmica relativamente baixa (18% a 26%), essas plantas têm
sido economicamente competitivas. Os custos foram avaliados em cerca de
US$ 1.400,00 por kW instalado e entre US$ 65,00 e US$ 80,00 por kWh
gerado.
No Brasil, a imensa superfície do território nacional, quase toda
localizada em regiões tropicais e chuvosas, oferece excelentes condições para
a produção e o uso energético da biomassa em larga escala. Além da
produção de álcool, queima em fornos, caldeiras e outros usos não-comerciais,
a biomassa apresenta grande potencial no setor de geração de energia
79

elétrica. No caso específico do Estado de São Paulo, a produção de biomassa


energética, por meio da cana-de-açúcar, é intensa, sendo comparável à
produção de energia hidráulica. O Estado é importador de eletricidade (40% do
que consome) e exportador de álcool para o resto do País. Verifica-se,
portanto, que, apesar da produção de biomassa ser mundialmente considerada
uma atividade extremamente demandante de terras, mesmo numa região com
alta densidade demográfica é possível encontrar áreas para essa atividade. A
maior parte da energia dessa biomassa é utilizada na produção do etanol.
(ANEEL, disponível em
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/biomassa/5_2.htm).
A produção de madeira, em forma de lenha, carvão vegetal ou toras,
também gera uma grande quantidade de resíduos, que pode igualmente ser
aproveitada na geração de energia elétrica. Como ilustrado na Figura 1, os
estados brasileiros com maior potencial de aproveitamento de resíduos da
madeira, oriunda de silvicultura, para a geração de energia elétrica são Paraná
e São Paulo. O tipo de produção de madeira, atividade extrativista ou
reflorestamento, influi na distribuição espacial dos resíduos gerados. Nos casos
de extração seletiva e beneficiamento descentralizado, o aproveitamento de
resíduos pode se tornar economicamente inviável (ANEEL, disponível em:
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/biomassa/5_2.htm).

Figura 1- Potencial de geração de energia elétrica a partir de resíduos florestais


(silvicultura).
80

7.4 BIOMASSA COMO FONTE DE ENERGIA

Qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em energia


mecânica, térmica ou elétrica é classificada como biomassa. De acordo com a
sua origem, pode ser: florestal (madeira, principalmente), agrícola (soja, arroz e
cana-de-açúcar, entre outras) e rejeitos urbanos e industriais (sólidos ou
líquidos, como o lixo). Os derivados obtidos dependem tanto da matéria-prima
utilizada (cujo potencial energético varia de tipo para tipo) quanto da tecnologia
de processamento para obtenção dos energéticos. Nas regiões menos
desenvolvidas, a biomassa mais utilizada é a de origem florestal. Além disso,
os processos para a obtenção de energia se caracterizam pela baixa eficiência
– ou necessidade de grande volume de matéria-prima para produção de
pequenas quantidades. Uma exceção a essa regra é a utilização da biomassa
florestal em processos de co-geração industrial. Do processamento da madeira
no processo de extração da celulose é possível, por exemplo, extrair a lixívia
negra (ou licor negro) usado como combustível em usinas de co-geração da
própria indústria de celulose (ANEEL, disponível em:
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/biomassa/5_2.htm).
A principal fonte para gerar energia da biomassa está nos seus resíduos.
Os resíduos gerados em todo o mundo são um recurso de grande potencial
para a obtenção de energia apenas sob uma adequada exploração. Uma dos
principais argumentos para esta afirmativa, reside na questão ambiental, com
destino adequado e aproveitamento de resíduos como co produtos,
aumentando o valor agragado de cadeias de produção agrícolas ou industriais.
Atualmente, o recurso de maior potencial para geração de energia
elétrica no País é o bagaço de cana-de-açúcar. A alta produtividade alcançada
pela lavoura canavieira, acrescida de ganhos sucessivos nos processos de
transformação da biomassa sucroalcooleira, têm disponibilizado enorme
quantidade de matéria orgânica sob a forma de bagaço nas usinas e destilarias
de cana-de-açúcar, interligadas aos principais sistemas elétricos, que atendem
a grandes centros de consumo dos estados das regiões Sul e Sudeste. Além
disso, o período de colheita da cana-de-açúcar coincide com o de estiagem das
81

principais bacias hidrográficas do parque hidrelétrico brasileiro, tornando a


opção ainda mais vantajosa. O setor sucroalcooleiro gera uma grande
quantidade de resíduos, que pode ser aproveitada na geração de eletricidade,
principalmente em sistemas de co-geração. Ao contrário da produção de
madeira, o cultivo e o beneficiamento da cana são realizados em grandes e
contínuas extensões, e o aproveitamento de resíduos (bagaço, palha, etc.) é
facilitado pela centralização dos processos de produção (ANEEL, disponível
em: (http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/biomassa/5_2.htm).

Figura 2- Fontes de biomassa: Fonte (MME,1982)

7.4.1 RESÍDUOS VEGETAIS (NÃO LENHOSOS E LENHOSOS)

Os Resíduos vegetais (não lenhosos) são produzidos no campo,


resultantes das atividades da colheita dos produtos agrícolas. O Brasil, é país
essencialmente agrícola, e esta produção a partir de diversos cultivos, .gera
uma grande quantidade de resíduos que são aproveitados energeticamente em
virtude das tecnologias existentes. Os resíduos agrícolas são constituídos
basicamente de palha, folhas e caules e podem ser aproveitados tanto
energeticamente, como para ração animal , como cobertura do solo e como
fertilizantes.
82

Tabela 2- Culturas temporárias mais representativas – grandes regiões e Brasil (2009).

Os resíduos florestais (resíduos lenhosos) são constituídos por todo


aquele material que é deixado para trás na coleta da madeira, tanto em
florestas e bosques naturais como em reflorestamento, e pela serragem e
aparas produzidas no processamento da madeira. Estes resíduos deixados no
local de coleta são as folhas, os galhos e o material resultante da destoca. Para
todos estes casos, incluindo os resíduos de serragem, que pode ser superior à
produção de madeira trabalhada, deve ser assumido o poder calorífico da
madeira de 13,8 MJ/kg de resíduo produzido (CORTEZ, 2008).

7.4.2 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Os resíduos sólidos urbanos são obtidos dos resíduos domiciliares e dos


resíduos comerciais. O teor de matéria orgânica (C, H, O, N) do lixo brasileiro
está em 60% aproximadamente, o qual lhe confere bom potencial energético. O
Poder Calorífico Inferior (PCI) médio do resíduo domiciliar é de 1.300 kcal/kg
(5,44 MJ/kg). Os resíduos sólidos urbanos são obtidos dos resíduos
domiciliares e dos resíduos comerciais. Segundo a VEJA Engenharia, empresa
de limpeza pública de atuação nacional, há um crescimento em torno de 5% ao
ano na quantidade de lixo gerado (CORTEZ et al., 2008).
83

Tabela 3- Geração de resíduos domiciliares nos municípios de São Paulo

7.4.3 RESÍDUOS INDUSTRIAIS

Os resíduos industriais são considerados os resíduos provenientes do


beneficiamento de produtos agrícolas e florestais, e agroindústrias. Os resíduos
do uso de carvão vegetal no setor siderúrgico de ferro-gusa e aço, e do gás de
alto-forno a carvão vegetal, lignina da produção de celulose e papel, resíduos
da indústria madeireira, também são exemplos de resíduos com potencial
energético.
A indústria madeireira — serrarias e mobiliário — produz resíduos a
partir do benefi ciamento de toras. Os tipos de resíduo produzidos são casca,
cavaco, costaneira, pó de serra, maravalha e aparas. As indústrias de
alimentos e de bebidas produzem resí- duos na fabricação de sucos e
aguardente (laranja, caju, abacaxi, cana-de-açúcar etc.), no benefi ciamento de
arroz, café, trigo, milho (sabugo e palha), coco da Bahia, amendoim, castanha-
de-caju etc (CORTEZ et al., 2008).
O que determina o processo utilizado de conversão energética dos
resíduos é o seu teor de umidade, pois, em termos práticos, só é possível
queimar resíduos com até 50% de umidade. Então, resíduos como a vinhaça
resultante da produção de álcool, os afluentes de matadouros, derivados do
leite etc, são apropriados para a produção de biogás (CORTEZ et al., 2008).
84

Tabela 4- Disponibilidade de resíduos agroindustriais

Os resíduos industriais no Brasil ainda são pouco controlados, de acordo


com o estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas,3 que revela que o país
desconhece dados sobre a própria geração de resíduos industriais. Só para se
ter uma idéia do tamanho problema, dos 5.471 municípios do país, apenas 551
fi zeram o controle dos resíduos gerados pelo setor produtivo privado em 2003,
e foram 1,4 milhão de toneladas de resíduos gerados somente nos principais
pólos industriais do Brasil. De acordo com esse estudo, são geradas
anualmente no Brasil aproximadamente 2,9 milhões de toneladas de resíduos
sólidos industriais, sendo 600 mil toneladas, um valor próximo de 22%, que
recebem tratamento adequado (CORTEZ et al. 2008).

7.4.4 RESÍDUOS ANIMAIS

Os resíduos animais apresentam uma importante quantidade de matéria


prima para a obtenção de energia gerada pelos principais rebanhos (bovino,
ovino e suíno). Entre os resíduos gerados pela atividade biológica podemos
destacar os produzidos pelos rebanhos bovino, suíno, com alto potencial de
aproveitamento energético na produção de biogás.
O interesse pelo biogás, no Brasil, intensificou-se nas décadas de 1970
e 1980, especialmente entre os suinocultores. Programas oficiais estimularam
a implantação de muitos biodigestores focados, principalmente, na geração de
energia e na produção biofertilizante e diminuição do impacto ambiental. O
objetivo dos programas governamentais era reduzir a dependência das
pequenas propriedades rurais na aquisição de adubos químicos e de energia
térmica para os diversos usos (cozimento, aquecimento, iluminação e
refrigeração), bem como reduzir a poluição causada pelos dejetos animais e
aumentar a renda dos criadores (KUNZ; OLIVEIRA, 2006).
85

Tabela 5- Potencial de geração de biogás a partir de diferentes resíduos orgânicos animais.

No Brasil, a gordura animal representa a segunda matéria-prima mais


utilizada para a produção de biocombustíveis.

7.5 FLORESTAS ENERGÉTICAS

Historicamente, a biomassa florestal constitui-se em um importante


insumo energético para a humanidade, principalmente naqueles países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. O conceito de florestas energéticas
se deu a partir do cultivo de plantações florestais com grande número de
árvores por hectare, de curta rotação, que tinham como finalidade a produção
com menores espaçamentos entre árvores, em menor tempo e com alta
produtividade por área. Entre as mais plantadas, o gênero Eucalyptus é o mais
importante, pelas suas características, para a implantação de florestas com fins
energéticos. Outra gênero importante é o da região sul do Brasil, a Acácia
negra - Acácia measrnsii é bastante difundida para produção de e lenha e
carvão de excelente qualidade e para a produção de tanino.
A biomassa florestal possui características tais que permitem a sua
utilização, como fonte alternativa de energia, seja pela queima direta da
madeira, pela sua transformação em combustíveis tais como o carvão vegetal
ou o gás de madeira e pelo aproveitamento de resíduos da exploração e do
processamento industrial (COUTO et al., 2000).
86

Figura 3- Central Termoelétrica de Mortágua

Em Portugal, existe apenas uma instalação de produção de electricidade


utilizando como principal combustível a biomassa. Esta central é a Central
Termoelétrica de Mortágua, localizada na zona Centro do País, na margem
direita da albufeira da Aguieira.

7.6 PANORAMA DA PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS

O etanol é um álcool, também denominado álcool etílico (C2H5OH),


derivsdo de biomassa renovável, como cana-de-açúcar, beterraba, milho e
mandioca, embora também possa ser obtido por outros processos como no
refino de petróleo. No Brasil, o álcool é produzido predominantemente pelo
processo de fermentação por leveduras do caldo extraído da cana-de-açúcar.
Em outros países, como Estados Unidos e China, o etanol é produzido a partir
do milho; já na Europa a matéria-prima mais usual é a beterraba. A matéria-
prima utilizada para a produção do etanol depende das condições climáticas
de cada região, de acordo com as culturas que mais se adaptam a estes
locais (SALLA et all., 2009).
O etanol, ou álcool etílico, é uma substância com fórmula molecular
C2H6O, que pode ser utilizado como combustível em motores de combustão
interna com ignição por centelha (ciclo Otto) em misturas de gasolina e etanol
anidro; ou como etanol puro, geralmente hidratado.
87

No Brasil, desde a década de 1980, o teor de etanol anidro em toda a


gasolina comercializada nos postos revendedores esteve acima de 20%. Nos
Estados Unidos, pais que também passou a utilizar misturas etanol-gasolina
naquela de cada, esse teor ficou limitado a 10%, também conhecido como
E10, e passou a ser considerado pela industria automobilística padrão
Maximo para adoção da mistura sem necessidade de alterações de materiais,
componentes ou recalibrações de motor. Em anos recentes, diversos países,
como China, Tailândia, Austrália e Colômbia, adotaram o E10 como ponto de
partida para a introdução do uso do etanol em seus mercados (livro bioetanol:
BNDES e CGEE, 2008)
88

8. OUTRAS FONTES DE ENERGIA

O aumento da demanda por combustíveis líquidos, o aquecimento global


causado pelo efeito estufa, questões de segurança energética devido à
redução de reservas petrolíferas e a vontade política para favorecer o
desenvolvimento nos campos agrícola, social e energético são novas áreas de
interesse e oportunidades para pesquisas e desenvolvimento na Academia e
na Indústria, pois ao as forças motoras responsáveis pela renovação do
interesse na produção de biocombustíveis (DABDOUB; BRONZEL, 2009).

8.1 ENERGIA NUCLEAR

A energia nuclear, produzida a partir do átomo de urânio, voltou à


agenda internacional da produção de eletricidade como alternativa importante
aos combustíveis fósseis. Conhecida desde a década de 40, nos últimos anos
passou a ser considerada uma fonte limpa, uma vez que sua operação acarreta
a emissão de baixos volumes de gás carbônico (CO2), principal responsável
pelo efeito estufa e, em conseqüência, pelo aquecimento global. Além da
característica ambiental, contribui para a tendência à expansão a existência de
abundantes reservas de urânio no planeta – o que, a médio e longo prazos,
garante a segurança no suprimento. Em 2006, a energia nuclear ocupou o
penúltimo lugar entre as principais formas para produção de energia elétrica do
mundo, segundo a International Energy Agency (IEA).
Ainda assim, as usinas nucleares têm participação importante na matriz
da energia elétrica. De acordo com as últimas estatísticas da IEA, em 2006
responderam por 14,8% da produ- ção total, conforme destacado na Tabela 8.1
a seguir. Como a energia nuclear é usada quase que exclusivamente para a
produção de energia elétrica, sua participação no ranking global de fontes de
energia primária (que também considera outros usos da energia) é menor:
89

6,2% ou 727,94 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep),


segundo a IEA.

8.2 BIOGÁS

Por se tratar de uma fonte de energia renovável, o biogás é considerado


um biocombustível, que pode ser obtido natural ou artificialmente. Com um
conteúdo energético semelhante ao do gás natural, sua forma gasosa é
constituída principalmente por uma mistura de hidrocarbonetos (compostos
químicos formados por Carbono e Hidrogênio) como o Dióxido de Carbono
(CO2) e o gás Metano (CH4). Como os outros combustíveis, este também é
inflamável quando colocado sob pressão. A obtenção do biogás é feita
obedecendo a critérios de fermentação, temperatura, umidade, acidez e com a
ausência de oxigênio. A forma natural do biogás é conseguida pela ação de
micro-organismos bacteriológicos sobre o acúmulo de materiais orgânicos
(Biomassa) como lixo doméstico, resíduos industriais vegetais, esterco de
animais, entre outros. E a forma artificial é dada pelo uso de um reator químico-
biológico chamado de Biodigestor Anaeróbico. Dependendo da matéria a ser
digerida ou o tipo de biodigestor a ser utilizado, a porcentagem de cada gás
presente no Biogás pode sofrer variações (ROYA et al., 2011).

8.3 ENERGIA DOS OCEANOS

Atualmente, a energia proveniente dos mares tem sido explorada


principalmente para a geração de eletricidade. Estima-se que o potencial
energético global seja da ordem de 500 a 1.000 TWh/ano (HAMMONS, 1993).
Embora seja um valor significativo, apenas alguns poucos lugares do mundo
possuem amplitudes de marés significativas, além de outras condições
geográficas adequadas a este tipo de exploração. Um dos locais de maior
destaque em termos de potencial extraível é o Reino Unido, onde se estima
cerca de 18 TW/h em aproveitamentos disponíveis , ou ainda alguns locais na
90

América do Sul, como a costa norte do Brasil ou o Chile, por exemplo, onde
neste último estima-se um potencial extraível de pelo menos 500 MW (Marine
Power-Global Resource, disponível em:
www.atlantisresourcescorporation.com).
Existem, atualmente, cinco formas de energias oceânicas
(SOERENSEN; WEINSTEIN, 2008; KHAN e BHUYAN, 2009): Energia de
ondas, de maré, de correntes, do gradiente de temperatura e do gradiente de
salinidade. Estas energias poderiam ser usadas não só para geração de
eletricidade, como também para geração direta de água potável ou para suprir
necessidades térmicas, como resfriamento. As pesquisas em energias
oceânicas se intensificaram a partir dos anos 1990 e estão distribuídas em
diversos países (KHAN; BHUYAN, 2009). O Reino Unido lidera em número de
dispositivos, apenas com dispositivos de correntes e barragens de maré e de
ondas. O Brasil aparece com apenas um dispositivo de energia de ondas.
91

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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