Como os professores que atuam no 1º ano foram prepara-
dos para a ampliação de mais um ano no Ensino Fundamental? Que formação receberam? Como as formações trataram essa nova organização? O que pensam sobre o ensino da leitura e da escrita nessa faixa etária? A criança deve ou não ser alfabetizada aos seis anos? Por que essa antiga questão é (re)colocada? O foco do trabalho foi o professor que atua nas classes do 1º ano a partir da implantação do Ensino Fundamental de nove anos: como lidaram com a nova organização da escola; suas crenças sobre os saberes das crianças; onde e como buscaram apoio para realizarem o trabalho pedagógico. O estudo consiste em uma pesquisa sobre o ingresso das crianças de seis anos no Ensino Fundamental de nove anos, em quatro escolas públicas do estado de São Paulo. Como fundamento para as análises dessa política educacional, o refe- rencial teórico adotado pauta-se em estudos sobre a legislação, a concepção de infância, os conhecimentos sobre os processos de aprendizagem da leitura e da escrita, a formação de profes- sores e o trabalho pedagógico perante as diretrizes do Ensino Fundamental de nove anos. Para tanto, foram utilizadas obras de autores que ajudam a pensar o processo inicial de construção do sistema de escrita alfabético e do letramento como Ferreiro e Teberosky (1985) e Magda Soares (1997); e outros que tratam do ensino e aprendizagem na educação infantil e discutem a prática dos professores no ensino da leitura e da escrita nas séries iniciais e a formação dos professores como Sonia Kramer (1995), Délia Lerner (2002), Colello (1995) e Telma Weisz (1999).
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Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, estruturada na análise das proposições dos documentos oficiais, na aplicação de um questionário (para 25 professores) e na realização de entrevistas de aprofundamento com cinco professores (dentre os que responderam o questionário). O propósito da aplicação do questionário e da realização de entrevistas teve como obje- tivos: traçar o perfil e conhecer aspectos da vida profissional dos professores (sujeitos da pesquisa); analisar as ideias que norteiam suas práticas de alfabetização; analisar como foram preparados para essa nova realidade; discutir sobre os avanços e/ou as dificuldades encontradas para desenvolverem o trabalho pedagógico com as crianças do 1º ano; e analisar sobre o que acreditam que deve ser garantido para o sucesso da escolari- dade dessas crianças. Para orientar e analisar os dados obtidos nas entrevistas, foram utilizados os seguintes autores e obras: Maria Laura Puglisi Barbosa Franco (2003) – Análise de conteúdo; Antonio Chizzotti (1991) – Pesquisa em Ciências humanas e sociais; e Laurence Bardin (1977) – Análise de Conteúdo. A pesquisa, em fase de conclusão, revela que incluir as crianças de seis anos no Ensino Fundamental foi, para os entre- vistados, uma medida positiva; no entanto, a implantação ocorreu sem o preparo das escolas e dos professores. Aos docentes que assumiram as classes de 1º ano coube o desafio de, mesmo sem as condições estruturais e a devida formação, organizarem o tempo e os espaços escolares. Ficou evidente nas análises acerca do relato das práticas dos professores entrevistados o destaque dado à alfabetização e ao letramento, embora todos reconheçam a importância da dimensão lúdica nas atividades pedagógicas da sala de aula. Esse destaque decorre das interpretações que fazem das determinações da Secretaria Estadual de Educação e das pressões indiretas percebidas por eles quanto ao compromisso com a alfabetização nesse 1º ano da escolaridade obrigatória, entre elas a expectativa da comunidade escolar – pais e profes- soras – dos anos seguintes do Ensino Fundamental. Por fim, os dados revelam, ainda, a necessidade de se garantir a formação dos educadores, bem como de discussões sobre o currículo das turmas de seis anos.
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