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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH)


Departamento de Ciência Polícia (DCP)
Graduação em Gestão Pública

Cristina Camila Teles Saldanha

Rachel Christina Dias Gomes

Fichamento do livro:

Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, de Celso Furtado.

Disciplina: Estado e gestão no pensamento político brasileiro


DCP 089 (GP1)

Professor: Juarez Rocha Guimarães

Belo Horizonte
Maio, 2014
SUMÁRIO

1- APRESENTAÇÃO DO AUTOR .................................................................................................. 3

2 - APRESENTAÇÃO DO LIVRO: INTRODUÇÃO .................................................................... 7

3 - FICHAMENTO: APRECIAÇÃO DA OBRA............................................................................ 8

3.1 Desenvolvimento ....................................................................................................................... 9


3.2 Subdesenvolvimento ............................................................................................................... 17
4 - CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 23

REFERÊNCIAS: .............................................................................................................................. 24

2
1- APRESENTAÇÃO DO AUTOR1
Celso Furtado (1920-2004) foi um economista e intelectual brasileiro que revolucionou o
pensamento econômico e social brasileiro com suas ideias e ações, tendo sido um participante ativo
da política nacional. Sua vida foi marcada por ricas experiências dentro e fora do Brasil, Celso
vivenciou um rico momento histórico desde o início de sua carreira, marcada pela Segunda Guerra
Mundial, pela Era Vargas, pela emergência dos debates norte-sul e início de uma afirmação dos
países de terceiro mundo no cenário internacional.
Em 1944 concluiu o curso de Direito e foi convocado a participar da FEB durante a Segunda
Guerra Mundial, assim, teve a oportunidade de observar o planejamento da Alemanha para a guerra
e, após sua destruição, o planejamento para sua reconstrução. Interessava-se pelo mundo, por isso
queria conhecê-lo e estudá-lo, enviesando-se - mais devido à política externa de seu país, que o
enviou à guerra e, posteriormente pelo exílio - para a Europa, rico destino acadêmico para Celso
que, como a maioria dos intelectuais da época, buscava especializar-se no exterior. Na França, fez
mestrado em Economia além de trabalhos na Inglaterra, Alemanha e Iugoslávia. Neste contexto, foi
exposta à teoria keynesiana que o mostrou, assim como a presença na guerra, que o Estado pode ser
um ator decisivo na história e que ele não deve ser tão passivo quanto prega o liberalismo, que
sempre foi uma ideia fora de contexto no Brasil, isso é uma percepção fundamental. Furtado vê o
pós-guerra como um “laboratório”, no sentido de que era o momento propício - uma vez que os
países europeus estavam abalados econômica e ideologicamente, com os papéis e forças se
rearranjando internacionalmente – para se chamar atenção aos negligenciados e explorados países
periféricos, e construir uma teoria que se adéque às necessidades dos mesmos, coisa que só era feita
até então, em favor dos países poderosos. Em 1949, então, Celso Furtado integra a recém criada
Comissão Econômica para a América Latina. Ele extraiu da realidade o diagnóstico: “o mundo está
composto por países centrais, que são os países que produzem manufaturas e controlam a inovação
tecnológica, que está consubstanciada com a manufatura e os países periféricos. Os países da
América Latina são periféricos. O que precisamos fazer é superar essa dicotomia centro-periferia”.
(FURTADO apud MARIANI, 2004).
Nos dois anos iniciais, Furtado afirma que houve a percepção da presença preponderante
das grandes potências, o que corrobora sua ideia de que o subdesenvolvimento é a realidade do
efeito da dominação, sendo muito mais grave politicamente de que se pode conceber. Feita a tese
original, 1949, de que nós não devíamos continuar como apenas produtores de matérias primas,
evidentemente os americanos não queriam que a Cepal continuasse nessa linha, queria que esta

1
Para não estender muito optamos por não inserir no texto toda a bibliografia do autor. Para acessar a bibliografia
completa de Celso Furtado - visitar o link : < http://www.centrocelsofurtado.org.br/interna.php?ID_M=72>.
3
fosse apenas uma secretaria auxiliar. No período de 1953 a 1954 Celso Furtado participou da
Comissão mista Cepal/BNDES para aplicar técnicas de planejamento ao Brasil, que teve um efeito
mobilizador importante, por exemplo, criar o clube dos economistas que reuniu um celeiro de
técnicos de governo, intelectuais que estavam pensando o problema do desenvolvimento
econômico. Daí em diante ele vai se tornar, Celso Furtado, a grande referência, o líder do
pensamento desenvolvimentista de orientação do nacionalismo no Brasil.
A escola monetarista da restrição monetária, da restrição de crédito, que culpava a inflação
foi abatida por teses da Cepal. Existiam pressões inflacionárias estruturais ligadas ao
estrangulamento externo, assim como os mecanismos de multiplicação como a taxa de câmbio, a
propagação pelos preços, todos os mecanismos semelhantes. Os desenvolvimentistas tomaram sua
posição do debate teórico, dentre eles o fez Furtado. Toda a década de 50, o debate que tem
dominado e influenciado Uma nova visão sobre a economia. A morte de Getúlio Vargas em agosto
de 1954, que Furtado entendia, apesar do choque, como partindo da realidade brasileira, sendo um
problema do país. Com a morte de Vargas houve uma intenção de golpe de estado, o que
desestabilizou os movimentos políticos, mas, felizmente, não foi uma interrupção do processo de
industrialização, nem da tese central ou da interrupção da luta sindical. Sucedeu-se o Plano de
Metas de Kubitschek que propõe uma associação entre o capital estrangeiro e o nacional, por
exemplo, para a indústria automobilística, ocorrendo uma divisão de tarefas, uma setorização, que
parte da idéia de pontos de estrangulamento que se transformam em pontos de germinação de
crescimento. Este plano, que contou com a participação de Furtado, foi concebido num momento
em que havia uma incerteza sobre o que o Estado faria e sobre a continuidade do processo de
industrialização - visto por muitos como a viabilização da riqueza e superação da miséria. Para o
plano, Celso trouxe técnicas de planejamento da Cepal que são aplicadas na Comissão Mista
Cepal/BNDES; além de inserir na Comissão mista Brasil/EUA, a ideia do planejamento setorial.
Entre 1957-1958, Celso Furtado passa o ano letivo na Universidade de Cambridge,
Inglaterra, onde estava escrevendo sua obra principal, que abordava a história econômica do Brasil,
que era “Interpretação do Desenvolvimento Brasileiro”. Neste, ele trata da originalidade dos ciclos
da econômica brasileira: dos econômicos, do ouro, da cana-de-açúcar, do café, que denotam a
manifestação do fenômeno do subdesenvolvimento. Formação Econômica do Brasil (1959) é um
livro importante na História e no pensamento econômico no mundo, com ele, Celso Furtado
combina a teoria econômica keynesiana e teoria macroeconômica com análise histórica, para na
verdade realizar uma espécie de dinâmica das estruturas que vão constituindo progressivamente o
capitalismo no Brasil e levando a um de seus principais problemas como a concentração de renda
(leia-se também, ‘de poder’), e, portanto, ao subdesenvolvimento, que se auto-reproduz. Furtado
não quis dar soluções na parte final de sua obra por acreditar que era necessária uma ideia muito
4
mais completa do desenvolvimento, de alcance global, assim como do subdesenvolvimento.
Preocupado também com os possíveis julgamentos ultrajantes sobre a sua pessoa, como acusações
de que ele seria um esquerdista ou marxista, prejudicassem “o avanço das ideias”. Para evitar essa
dificuldade, que era a falta de liberdade ideológica, preferiu não seguir adiante.
Furtado volta ao Brasil em 1958, neste momento pediram para que ele incorporasse a
direção da BNDES, um convite da Presidência do Banco. Ele demonstra interesse em participar do
banco, desde que o banco crie uma área especializada, um diretor que se preocupe com os
problemas do Nordeste. Ao aceitarem a proposta, Celso foi ao Nordeste para fazer estudos e a partir
dos mesmos, diagnosticou que o que debilita a economia no interior do nordeste é o latifúndio, uma
vez que, obriga as populações a produzirem produtos dos quais a ecologia da região não está
preparada, colocando uma situação de uma cultura permanente em uma região imprópria, árida.
Essa economia perpetua-se. E os pobres sofrem o efeito da e da distribuição da terra. Com seu
relatório pronto para ser entregue ao governo, Celso explicou que a política que estava sendo usada
baseava-se em velhas concepções de hidráulicas e era necessária uma visão completamente
diferente. Não lutar contra seca, mas considerá-la como parte do sistema ecológico do nordeste e,
portanto criar ali uma economia que pudesse conviver com a com a seca, não indo, portanto, contra
a seca, mas criando um sistema viável econômico capaz de desenvolver o Nordeste fazendo o
mesmo que foi feito em todo o Brasil, industrializando-o. JK comprou sua ideia e o projeto da
SUDENE (Superintendência para o desenvolvimento do Nordeste), foi implementado.
Em 1961, Celso Furtado publica o livro “Desenvolvimento e Subdesenvolvimento”. Neste
livro ele trata da permanência do subdesenvolvimento, mesmo em países subdesenvolvidos que
foram superando etapas e cresceram consideravelmente, mas nunca deixaram sua condição de
subdesenvolvidos. Assim, ele se questiona se não estaríamos presos numa armadilha teórica do
desenvolvimento, na qual a promessa de um futuro melhor pelo presente é uma constante, assim
como o eterno atraso da chegada deste futuro. Alguns países, como o Brasil, ficam subordinados a
outras forças econômicas que os condenam ao subdesenvolvimento.
Em 25 de setembro de 1962 – Celso Furtado é nomeado ministro do planejamento no
governo Jango. Furtado faz o Plano Trienal de desenvolvimento e estabilização, 1963, constituído
de três partes, porém, o plano não funcionou e ele volta para a SUDENE, sendo exilado
posteriormente, em 1964, pelo Ato Institucional nº 1, que caça seus direitos políticos por 10 anos.
Ele havia escrito em seu livro: Desenvolvimento e Subdesenvolvimento e A Pré-revolução
Brasileira. A esta altura ele já tinha plena consciência de que o subdesenvolvimento se reproduzia.
Celso Furtado muda-se para a França em 1965 e assume a cátedra de professor de
Desenvolvimento Econômico, lecionando na Sorbonne por 20 anos e, após a lei da Anistia, 1979,

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passa a retornar com freqüência ao Brasil. Ele retornou para ajudar dado seu prestigio os círculos de
intelectuais europeus, voltou para ajudar na Comissão Econômica Europeia.
Ele vem a se tornar o ministro da Cultura, quando tinha escrito o “Mito do
desenvolvimento econômico” (1974), e se deu conta de que nosso problema mais grave era o
fenômeno da dependência tecnológica, financeira e consumista, que tinha suas origens numa crise
cultural. Reflexo disso eram as elites brasileiras, que eram “culturalmente vendidas” e alienadas.
Logo, estas elites formavam seu pensamento aos moldes intelectuais da escola neoliberal.
Para Celso, a situação do Brasil se configurava da seguinte forma: o crescimento era
bloqueado por uma descomunal dívida externa que deveria ser renegociada e por uma divida interna
que também imobiliza o Estado. Era necessário, portanto, um projeto de desenvolvimento que
trabalhasse os desequilíbrios e as desigualdades sociais do país. Desde suas escritas iniciais de sobre
a distribuição de renda, as coisas pioraram muito, revela-se então a atualidade de seu pensamento, e
seu desapontamento com a continuidade e reprodução dos mesmos problemas é expressa na
seguinte fala: “em nenhum momento de nossa historia foi tão grande a distancia entre o que somos
e o que esperávamos ser” (FURTADO, Celso; O longo amanhecer, 1999 apud MARIANI, 2004). O
pensamento de Celso Furtado sempre foi questionador: ”quem manda no Brasil? O porquê dessas
altas taxas de juros? Que deixa a margem de crescimento pequena?” (FURTADO apud MARIANI,
2004).
Em sua caminhada a procura de respostas, ele se fez um reformista, que se movia por sua
ânsia de superar e melhorar o presente, sempre dentro de seus valores. Acreditava que com
reformas estruturais era possível transformar o Brasil, “conseguir captar o essencial da realidade
através da análise, entender o Brasil” (FURTADO apud MARIANI, 2004). Furtado dá uma
contribuição adicional ao nosso pensamento econômica, alertando-nos com a ideia do círculo
vicioso da pobreza, que era uma realidade, mas que podia ser rompido. Ele insistia que, as
estruturas que são dominadas por elites, que por sua vez são dominadas pela cultura dos países
centrais e neste ciclo, a distribuição da renda é condicionada pela dominação, o que configura uma
difícil situação.
Transformar conhecimento em ação é o que marca e distingue Celso dos outros grandes
pensadores brasileiros. Ele sobre o presente e acreditou num futuro melhor. Furtado foi o único
grande intelectual crítico que foi ao governo, não se corrompeu e fez o que estava ao seu alcance,
dentro do quadro de forças político possível, sem ceder em sua postura intelectual, e isso,
definitivamente o qualifica mais que qualquer outro intelectual que este país já viu.

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2 - APRESENTAÇÃO DO LIVRO: INTRODUÇÃO
A obra Desenvolvimento e Subdesenvolvimento é composta por uma coletânea de escritos
de Celso Furtado redigidos por aproximadamente dez anos antes do lançamento da primeira
publicação deste livro - julho de 19612. De acordo com Rosa Freire d’Aguiar Furtado, viúva do
autor, o contexto da publicação da obra coincide com a implantação das reformas da SUDENE
(Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) durante o início da década de 1960, quando
Furtado foi ministro do planejamento.
Rosa Freire d’Aguiar Furtado fez a Apresentação da quinta edição e menciona a trajetória de
publicação da obra que após sua quarta edição, em 1965, o livro não pôde mais ser publicado no
Brasil devido à censura do Regime Militar (1964-1985). A temática do livro refere-se a uma análise
crítica dos processos de desenvolvimento econômico, bem como a concepção teórica de
subdesenvolvimento criada por Furtado. A Introdução da obra é feita pelo próprio autor que
descreve o conteúdo do livro.
O livro é composto por duas partes. A primeira parte foi denominada de “Desenvolvimento”
e compõe um apanhado crítico em relação aos princípios teóricos, bem como a importância das
teorias clássica, marxista e keynesiana para explicar os problemas dos países em desenvolvimento.
Furtado é cético quanto a utilidade de tais teorias para o estudo do desenvolvimento.
A segunda parte é uma reformulação dos estudos anteriores de Celso Furtado apresentadas
na primeira parte - enquanto “Desenvolvimento” contêm textos redigidos antes da composição deste
livro, durante os seus trabalhos na CEPAL (Comissão Econômica para America Latina e Caribe)
“Subdesenvolvimento” que é a segunda parte têm três capítulos novos. O autor manifesta a
convicção de que o subdesenvolvimento merecia uma interpretação teórica própria tendo em vista a
inadequação das teorias europeias. É nesta parte que o autor constrói o conceito de
subdesenvolvimento:
O subdesenvolvimento é, portanto, um processo histórico autônomo, e não uma etapa pela
qual tenham, necessariamente, passado as economias que já alcançaram grau superior de
desenvolvimento (FURTADO, 2009, p.11).

2
Esta edição faz parte da coleção “Economia Política e Desenvolvimento”, editada pelo Centro Internacional Celso
Furtado em parceria com a editora Contraponto. Essa obra inaugurou a coleção tendo em vista sua relevância - consta
com os trabalhos preliminares de Furtado feitos durante seu trabalho como economista na CEPAL (Comissão
Econômica para America Latina e Caribe) e depois foi reformulado em outro livro Teoria e política do desenvolvimento
(1967), que além dos textos anteriores de Desenvolvimento e subdesenvolvimento (1961), continha um vasto material
que foi ministrado nas aulas de desenvolvimento econômico e economia latino-americana na Sorbonne. Esse livro de
1967 foi publicado visando atender aos ensinamentos universitários. Furtado ressentia que faltava um material
adequado para os estudos do subdesenvolvimento dos países periféricos na teoria de desenvolvimento econômico
(D’AGUIAR FURTADO, 2009, pp. 15-16).
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3 - FICHAMENTO: APRECIAÇÃO DA OBRA
O livro se inicia com a Introdução feita por Furtado em fevereiro de 1961 onde é exposto o
conteúdo da obra. O autor explicita seu objetivo que é “encontrar os caminhos de acesso à
inteligência dos problemas específicos do subdesenvolvimento” (FURTADO, 2009, p. 17).
A partir deste objetivo, Furtado demonstra a trajetória que ele percorreu em seus estudos.
Para tal, ele utilizou os ensinos provenientes dos Estados Unidos e da Europa em termos de teorias
do desenvolvimento econômico: a teoria dos preços, inserida na concepção de equilíbrio geral e
excluindo-se da dinâmica social, a teoria se baseava nas abstrações teóricas e não aceitava qualquer
noção de diferença estrutural pautada em estudos de geografia econômica e na descrição de
instituições, seu papel foi impor a disciplina metodológica; a construção keynesiana contribuiu para
romper com o preconceito com o rigor metodológico e o problema do desenvolvimento foi
dimensionado por um enfoque macroeconômico, favorecendo uma melhor compreensão da função
do estado no plano econômico; e por fim a teoria marxista cuja contribuição foi a aproximação dos
economistas aos grandes problemas culturais e humanos. Apesar da atitude crítica e inconformista,
o marxismo dificultava o trabalho científico, pois seus postulados eram tidos como dogmas.
Com a necessidade de diagnosticar o problema dos sistemas econômicos nacionais nas
diferentes fases do subdesenvolvimento, o autor se aproximou do método histórico e fez uma
análise econômica via estudos comparativos de problemas similares nos diferentes contextos
nacionais. Para tal, ele cria uma tipologia das estruturas em decorrência do enforque estrutural dos
problemas econômicos.
Em seguida, Furtado menciona o teor de cada capítulo do livro: no capitulo 1, o autor faz uma
esquema com as ideias sobre o desenvolvimento por meio da evolução das teorias citadas acima.
Nesta parte, ele questiona “até que ponto essas teorias lograram em explicar o processo de
crescimento” (FURTADO, 2009, p. 19). O segundo capítulo, Furtado volta ao mecanismo de
crescimento e apresenta uma tentativa de identificar dentre as categorias de análise econômica atual,
alguma que possuí alguma validade universal para o processo do desenvolvimento. O capítulo três
constitui uma conexão da análise econômica com o método histórico para assim tentar explicar as
origens da economia industrial na qual se baseia a cultura ocidental. A partir do capítulo quarto, o
problema do subdesenvolvimento é debatido e seu conteúdo, juntamente com o do quinto capítulo,
refere-se a monografia defendida autor em 19583. Por fim, o sexto e último capítulo é uma tentativa
de aplicar as ideias formuladas nos dois penúltimos capítulos nas décadas de 1930,1940 e 1950.

3
Tese de concurso à cátedra de Economia Política da Faculdade de Direito da Universidade do Brasil.
8
3.1 Desenvolvimento
O capítulo 1 intitulado “A teoria do desenvolvimento na ciência econômica” inicia com a
compreensão sobre a teoria do desenvolvimento econômico - explica numa perspectiva
macroeconômica as causas e o mecanismo do aumento da produtivdade do ‘fator trabalho’ e suas
repercussões na organização da produção e na maneira como distribui e se utiliza o produto social
(FURTADO, 2009, p. 25).
Contudo, antes de analisar as teorias existentes do desenvolvimento, Furtado (2009) aponta
para o ‘problema metodológico’ que persiste na ciência econômica. Na economia, há o predomínio
das formulações abstratas, o que na tarefa de explicar o processo de desenvolvimento por processo
simplificados e generalizados pode ser um equívoco - induzir ou deduzir uma teoria ou um caso
particular negligenciando a influência dos diferentes contextos não é eficaz para compreender a
realidade. Outra forma de explicação é através de um estudo crítico que confronte a realidade dada
com as categorias definidas pela análise abstrata. Para o autor, não é possível desconsiderar o tempo
ou ignorar o irreversibilidade dos processos históricos nem ocultar as diferenças estruturais nos
distintos graus de desenvolvimento. Para exemplificar ele cita Ricardo e outros autores cuja teoria
teve que ser repensada por citar apenas o contexto da Inglaterra e generalizar, sem considerar as
diferentes realidades4.
De acordo com Ricardo, salários elevados propiciavam acumulação de capital e que não
pode utilizar os lucros dos empresários e os proprietários de terra eram um peso social, sendo
necessário uma política de livre exportação de produtos agrícolas. Nesse sentido, havia uma luta
contra os proprietários de terra e contra a organização da classe operária. A partir deste contexto,
Stuart Mill desenvolve sua teoria que postula o progresso técnico retarda a vinda de um estado
estacionário, mas isso não pode ser evitado, pois haveria uma pressão maior para baixar os lucros.
Ricardo polemiza essa discussão ao mencionar a concorrência entre as forças mecânicas e humanas.
O adversário da classe industrial seria os donos de terra, aqui também tende-se a uma noção de
estagnação. Para a maioria dos economistas clássicos, a mão de obra seria substituída por capital no
processo técnico.
Adam Smith atribui o aumento da produtividade à divisão do trabalho o que gerou certa
confusão - o aumento da produtividade então deveria ser atribuído ao trabalho e não ao capital e a
acumulação seria uma demanda de divisão do trabalho. Smith acreditava que o progresso
econômico ocorreria quase em todas as nações, mesmo aquelas com governos ‘menos cautelosos’.

4
Tendo em vista os elementos de produção classificados por Say (terra, capital e trabalho) e a teoria malthusiana junto
com a lei dos rendimentos decrescentes, a rende da terra tendia a crescer toda vez que se utiliza terras de qualidade
inferior e a população tendi a crescer quando o salário elevava ao nível de subsistência. O preço dos alimentos subia, o
custo da mão de obra aumentava junto com a renda da terra - produtividade abaixava e a renda da terra elevava, pois o
benefício proveniente da elevação dos salários não iria para os operários, mas sim para os donos de terras.
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Apesar de se relacionar com a acumulação de capital, este teórico não percebe a relação com o
aumento da produtividade e o progresso técnico. A preocupação era em torno do problema da
distribuição em detrimento da acumulação em si. Mill contesta sua tese de estagnação ao considerar
o avanço da técnica e a exportação de capital, antes ele tinha reforçado a tese de Ricardo por
demonstrar que os lucros é que era o motor do progresso social, seja pela elevação salarial ou por
uma política protecionista proveniente da elevação do preço da terra.
Após o diagnóstico dos teóricos da economia clássica, Furtado (2009) parte para um estudo
do modelo marxista que se diferencia dos modelos dos economistas clássicos. As contribuições de
Marx atuaram de forma a fundamentar uma teoria da história ao partir de uma posição filosófica
para a análise econômica. Os clássicos também possuíam um viés revolucionário, mas Marx
conseguir traduzir os anseios de renovação da cultura moderna emergidas pela revolução
industrial5. A obra de Marx se baseia no fato social que a produção dos meios de subsistência do
homem decorre de relações de produção determinadas e necessárias e tais relações correspondem ao
grau de desenvolvimento das forças produtivas. A partir daí Marx se esforça para:
1) Identificar as relações de produção fundamentais do regime capitalista
2) Determinar os fatores que atuam no sentido de desenvolvimento das forças produtivas
(FURTADO, 2009, p. 37).
Marx utiliza o que ele chama de “ciências das leis gerais dos movimentos” (dialética hegeliana)
para observar o capitalismo quanto no seu desenvolvimento como as suas contradições internas.
Tendo em vista o problema das relações de produção, Marx utiliza elementos da teoria clássica para
fundamentar a sua teoria da mais-valia cujo teor refere-se a luta de classes no capitalismo. A partir
das teorias da lei do valor ou teoria do valor-trabalho onde o trabalho é definido como o conjunto da
capacidade de trabalho de uma coletividade, independente do preço que um bem venha o ter no
mercado -o seu valor para coletividade é dado pela parcela de valor abstrato, Marx tira suas
conclusões6. O trabalho abstrato é a ‘força de trabalho’ dos trabalhadores, sendo, portanto uma
mercadoria. Tem-se ai as concepções de valor-de-uso que é a capacidade criadora de ‘valor’ do
trabalho abstrato e o valor-de-troca o preço da força de trabalho (FURTADO, 2009, p.39). Esse
valor da força de trabalho o seu preço que corresponde ao salário. Dada as distinções expostas por
Marx entre trabalho, força de trabalho, valor e preço, o teórico afirma que a força de trabalho do
assalariado é a única fonte de trabalho socialmente útil e o seu somatório é a capacidade produtiva
da coletividade. A mais-valia seria o percentual de trabalho que não é pago aos empregados.

5
Os teóricos clássicos teriam uma posição ideológico-revolucionária (consolidar uma situação histórica em avanço) e a
posição marxista seria utópico-revolucionária (superar uma situação histórica consolidada). (FURTADO, 2009, p.38).
6
Marx também utiliza da teoria dos preços de Adam Smith em que duas coisas que foram produzidas ao mesmo tempo
deveriam ter aproximadamente o mesmo valor, logo o mesmo preço, apesar de sua interpretação se adequar com o
contexto de sua época.
10
Marx enfatizou no fator de produção ‘trabalho’ e atribuiu todos os aumentos de
produtividade a este fator, ignorando o ‘tempo’ no processo produtivo. Para o teórico, a poupança
que era o sacrifício dos teóricos clássicos é na verdade concentração de recurso nas mãos de
poucos, formação de monopólios, essa poupança remete a parcela de trabalho não paga. O trabalho,
segundo Marx é abstrato, independente de tempo e espaço, desconsiderando a acepção de valor e
consequentemente o seu aumento. O Valor da força de trabalho seria o preço de produção, aquilo
que é necessário para manter e produzir a força de trabalho. E há um valor mínimo a ser atribuído a
mais-valia, considerando as condições de subsistência fisiológica dos trabalhadores. A mais-valia é
o aparato para a luta de classes, com dois grupos antagônicos - os que estão impedidos de apropriar
do fruto de seu trabalho e esses negociam com o outro grupo, os que detêm os instrumentos de
produção. O montante da mais-valia seria decorrente de fatores históricos ligados a um nível
mínimo psicológico de subsistência dos trabalhadores paralelamente a capacidade de defesa dos
operários e a agressividade da classe capitalista. A atuação individual do capitalista pretende acirra
a concorrência, em termos de maior acumulação e num nível macroeconômico refere-se a pressão
para elevar a mais-valia. O processo acumulativo fica a cargo dos capitalistas, que querem ampliar
sua poupança e eliminar a concorrência. Marx era contra a concepção clássica de que era
impossível ampliar a qualidade de vida dos trabalhadores ao forçar a elevação salarial, tendo em
vista a existência da taxa da mais-valia que deveria ser retornada aos trabalhadores.
Após analise da teoria marxista, Furtado (2009) parte para teoria neoclássica, considerada
defensiva e reacionária por não revolucionar nada em sua realidade. Parte de algumas concepções
clássicas, com a ideia de sacrifício no acúmulo de poupança, justificação moral da propriedade e em
defesa contra o ascendente socialismo. Os clássicos revolucionaram considerando seu contexto e
suas soluções em curto prazo no combate ao resquício de uma estrutura feudal. Já os neoclássicos,
com a teoria do equilíbrio geral, contribuem para a teoria do desenvolvimento da seguinte maneira:
o aumento da produtividade do trabalho, dado a elevação do salário real, é consequência da
acumulação de capital e está depende da taxa antecipada de remuneração de novos capitais e do
preço de oferta da poupança. Para os neoclássicos, a estagnação é uma condição necessária ao
funcionamento ótimo da economia em vez de um limite como era para os clássicos. A taxa de juros
estabelece o equilíbrio entre a oferta de poupança e a procura de capital, e também induz o sistema
econômico a criar poupança e regula as reais possibilidades do sistema aos impulsos inversionistas.
Por esse arranjo é possível a acumulação de capital e o progresso econômico. Aqui
desenvolvimento pressupõe acumulação de capital. Mas poupança individual não pode ser
considerada de forma autônoma como para os neoclássicos. O consumo reflete em grande parte nos
orçamentos individuais. Para o pensamento neoclássico, todos os agentes econômicos tentam
maximizar sua posição.
11
Conseguinte, Furtado (2009) parte para uma perspectiva teórica do ponto de vista do
empresário e do lucro. Nesse sentido podem-se mencionar três aspectos do processo acumulativo: a
poupança de recursos; a inversão que é a incorporação desses recursos ao processo produtivo e a
transformação da inversão em fonte de renda. A partir desses, tem-se as formulações de Schumpeter
de uma teoria de formação do lucro e sua repercussão. Wiksell foca na procura de capital e
flutuações nos preços, enquanto Schumpeter centraliza-se na ação criadora do empresário como
motor do processo produtivo. Schumpeter peca em considerar universal sua teoria, pois a empresa
aqui seria uma categoria abstrata e ele não considera o tempo nem a ordem institucional e essa
teoria surge com complemento a teoria do equilíbrio geral, mas sua explicação em torno das
inovações aparenta ser insuficiente. Existe o lucro do monopolista. Portanto, o processo de
desenvolvimento estaria atrelado ao processo de acumulação de capital, e não somente as
inovações. E o desenvolvimento econômico compreende mais do que mera formulações abstratas,
mas sim a estrutura econômica como um todo.
Para finalizar o capítulo 1, o autor analisa o pensamento keynesiano. O objetivo de Keynes
era explicar o desemprego por meio da identificação dos níveis de emprego, ignorando o problema
de acumulação de capital, crescimento populacional e das transformações tecnológicas. Ele
considerava negativo a distinção de oferta e procura na teoria do equilíbrio geral. Um dos pontos
centrais para o problema do desemprego, de acordo com Keynes é os diferentes motivos que levam
indivíduos a poupar e os que levam a inverter. Se o impulso para inverter não for suficientemente
forte para absorver toda a poupança formada, haverá desemprego. Hensen afirma que o sistema
econômico perdeu grande parte de sua flexibilidade em decorrência das menores oportunidades de
inversão - as novas inversões tende a fazer crescer mais a produtividade do capital do que a mão de
obra. Essa teoria também não poderia alcançar universalidade visto que nesta época, a década de
1930, a economia capitalista ainda não havia absorvido a população inteira.
O capítulo 2 “O mecanismo do desenvolvimento” Furrtado (2009) destitui das teorias
cíclicas expostas no capítulo anterior que dificultava a abordagem do problema do crescimento
independente da mecânica do ciclo. Surgem políticas anticíclicas que visavam ações coordenadas
sobre as variáveis estratégicas do sistema econômico, com a delimitação de objetivos e metas a
serem alcançados, em função do tempo, em certos setores da atividade econômica que têm um
papel estratégico. Mas deve-se ter cuidado para não confundir uma política anticíclica ou de
estabilização com uma política de desenvolvimento. Para se concretizar as inversões planejadas sem
criar altas pressões inflacionárias seria, por exemplo, uma política de estabilização. A ação
anticíclica exige uma formulação teórica que ultrapasse a análise das causas das flutuações em nível
do emprego para atingir uma explicação sobre o processo geral de desenvolvimento. Verifica-se
também uma interdependência dentro do sistema econômico. Dessa forma, foi necessário dinamizar
12
o modelo de Keynes que em seu contexto previa somente ações a curto prazo, ele analisou as
inversões apenas como fator de renda, porém as inversões também criam a capacidade em face da
acumulação de capital. O aperfeiçoamento dos elementos conceituais possibilitou o estudo do
mecanismo do desenvolvimento.
A teoria do desenvolvimento econômico atrela-se a uma análise tanto em termos da
dinâmica das mudanças sociais como em termos econômicos pelas relações estáveis entre as
variáveis quantificáveis. O processo de desenvolvimento resulta de dois elementos - combinações
novas de fatores existentes no nível da técnica conhecida e pela introdução de inovações técnicas.
Numa dicotomia entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos: nos países desenvolvidos, apenas
é possível ampliar a produtividade ao introduzir novas técnicas, aqui o crescimento é um problema
de acumulação de novos conhecimentos científicos e progressos na aplicação tecnológica desses;
enquanto os estados subdesenvolvidos o crescimento é um processo de assimilação da técnica que
vigora em determinada época e que a produtividade ampliaria pela implantação das técnicas já
conhecidas. Nos países subdesenvolvidos a deficiência nos fatores de produção é decorrente da
escassez do fator capital, e não na má combinação dos fatores existentes. Portanto, o maior
problema do subdesenvolvimento ocorre na oferta virtual dos fatores de produção e na orientação
da tecnologia (FURTADO, 2009).
O desenvolvimento econômico configura na combinação dos fatores de produção que
tendem a ampliar a produtividade do fator trabalho. A medida que a produtividade cresce aumenta a
renda real social que é a quantidade de bens e serviços à disposição da população.Essa elevação da
renda real provoca nos consumidores uma modificação na estrutura de procura. Com baixos níveis
de produtividade, há grandes dificuldades de desenvolvimento. Caso se estabeleça uma corrente de
intercâmbio externo cria-se a possibilidade de desenvolvimento sem a acumulação prévia de capital
para uma economia com baixos níveis de produtividade. A elevação da produtividade física média,
ocasionada pela assimilação de técnicas novas e pela acumulação de capital amplia a renda real da
coletividade. Na economia de livre-empresa, o crescimento é manifestado de forma cíclica, dando
lugar a desocupação periódica dos fatores de produção. As inversões novas se fazem visando a
procura futura, essa procura de diversifica e o aparato produtivo tende a modificar a estrutura ao
elevar a renda real. Mesmo que uma economia seja extremamente aberta, há uma quantidade de
bens que não são possíveis de importar, ou seja, ainda que a economia esteja bastante integrada ao
comércio internacional, ainda possui uma estrutura produtiva diversificada.
Furtado (2009) menciona duas relações que medem a intensidade de crescimento de uma
economia: 1- função entre inversões e renda territorial (renda total gerada em um território); 2- e a
riqueza reproduzível aplicada no processo produtivo, mais a renda territorial. É a quantidade de
produto que é obtido em média por unidade de capital já invertido na economia. O capital
13
reprodutível refere-se a soma total do trabalho realizado no passado para aumentar a produtividade
do trabalho no presente. O autor estabelece algumas considerações como a dificuldade em
determinar até que ponto a acumulação de capital é condicionada pelo progresso tecnológico e a
renda per capta não indica necessariamente o grau de acumulação de capital já atingido e o esforço
desenvolvimento já realizado numa dada região, apesar de poder alcançar um elevado grau de
capitalização por pessoa ativa sem que sua renda per capta atinja o nível das outras que
acumularam menos capital e usam técnicas menos avançadas (FURTADO, 2009). A primeira
relação (inversões e renda territorial) refere-se a proporção de renda corrente que se transforma em
capacidade produtiva. A taxa de capitalização traduz o esforço de crescimento de uma economia em
um período de tempo. Ela delimita a parte do produto obtido nesse período que a população deixa
de consumir para transformar em capacidade produtiva. Para finalizar esse capítulo, o autor cita o
caso brasileiro no período dos anos 1920-1940 aproximadamente. Entre 1925-29, o teto das
inversões elevou-se. Em decorrência desse aumento, a dívida externa e a propriedade de pessoas
não residentes de fatores de produção diminuiu. As inversões estrangeiras no Brasil reduziram no
período de 1929 para 1950. Para entender o fato, autor cita que o produto territorial do Brasil se
divide em três partes: 1- satisfação das necessidades de consumo da população; 2- propósitos de
capitalização dos inversionistas; 3- transferência ao exterior. Quanto maior o montante de renda
referente as transferências ao exterior, menor será parcela do produto destinadas as inversões dentro
território nacional. Essas transferências ao exterior não competem com o consumo, mas sim com as
inversões. No período de 1925-29 houve grandes entradas de capital no Brasil, além dos
empréstimos públicos.
O capítulo 3 “O processo histórico do desenvolvimento” refere-se ao fluxo de renda, mas
numa conjuntura econômica o desenvolvimento está atrelado a ampliação do fluxo de renda real,
dada a quantidade de bens e serviços, por uma unidade de tempo, disponível a uma certa
coletividade. Todavia, a formação dos preços remonta a valorização qualitativa, pois os preços são
relativos dependo do tempo, da influência cultural. O preço é o denominador comum dos bens e
serviços que são objetos de transação. Contudo, o objetivo da análise econômica é fluxo da renda
social. O comportamento do fluxo de renda pode ser afetado pelos fatores que condicionam o
aumento da capacidade produtiva. Em seguida, Furtado (2009) retoma o conceito de excedente de
produção que reflete a acumulação, essencial ao processo de desenvolvimento. De acordo com o
autor, qualquer sistema produtivo tem a capacidade de produzir além do que é necessário para a
totalidade da população viver nas condições de níveis mais baixos de renda. Em todas as sociedades
formam-se grupos minoritários que apropriam do excedente de produção. A acumulação deste
grupo é facilitada, principalmente nas etapas mais avançadas da organização social, quando os
recursos acumulados podiam ser transformados em fatores de produção. A escravidão é o exemplo
14
do acúmulo do excedente da produção pelos grupos minoritários, mas em vez de investir na
capacidade produtiva, os proprietários investiam no próprio consumo, o que criava uma
diversificação deste consumo. O beneficio do processo acumulativo ficava então nas mãos dos
comerciantes.
A partir dessas ideias, o autor reconstrói o mecanismo de desenvolvimento das comunidades
pré-históricas: 1 - excedente de produção, acompanhado pelo sistema de escravidão; 2- apropriação
do excedente por grupos minoritários; 3- padrões elevados nos níveis de consumo, necessidade de
diversifica-los; 4- necessidade de intercâmbio, que permite a especialização geográfica juntamente
com uma maior divisão do trabalho e o aumento da produtividade nas comunidades participantes; 5-
concentração de riqueza; e 6- incorporação dos recursos acumulados pelos comerciantes no
processo produtivo. “Ao transformar se o excedente de produção em fonte de renda, o processo
acumulativo tenderá a automatizar-se” (FURTADO, 2009, p.109). Do ponto de vista da produção,
tem -se a criação do excedente, da distribuição, a apropriação do excedente por um grupo
minoritário; e da parte da acumulação, há a possibilidade de incrementar a produtividade com o
excedente incorporado ao processo produtivo. O crescimento é possibilitado justamente pela
possibilidade de aumentar a produtividade e a apropriação desse aumento por grupos minoritários.
Tanto os bens acumulados como os consumidos tem a mesma natureza, logo podem ser
intercambiáveis. O consumo pelos grupos minoritários de torna indispensável para evitar que o total
do consumo seja absorvido.
Em seguida, Furtado (2009) estabelece o desenvolvimento como expansão do universo
econômico que é totalmente heterogêneo, composto por unidades mais isoladas, outras mais
dependentes e complexas, todas ligadas num cadeia de comunidades distintas, dotadas de diferentes
recursos naturais em diferentes graus de acumulação. Logo, o processo de desenvolvimento
econômico se apresenta de forma desigual. Caso o universo econômico apresentasse segmentos
similares, a única forma de aplicar novos recursos ao processo produtivo seria via inovação
tecnológica. Mas como há uma rede, os recursos são transferidos para outra comunidade cujo
capital seja mais escasso. A atividade que atraí capitais era o comércio e o transporte de bens era a
maneira mais fácil para criar valor. O procedimento de apropriação do excedente que leva a níveis
diversificados de consumo induz a aquisição de bens de longas distâncias. Os grupos especializados
em transações comerciais ganham destaque no processo de desenvolvimento. Há uma aproximação
das comunidades antes isoladas, difusão de inovações, propagação de novos meios de produção.
Com a abertura dos mercados, aqueles que controlam o comércio detêm um fluxo de lucros
permanente. O acúmulo de riquezas também serviu para financiar guerras e obras improdutivas.
A apropriação e o papel social dos grupos dominantes verificam-se desde os impérios
antigos quando havia escravidão e tributação, o que ocasionava numa transferência de renda e
15
consequentemente uma melhoria nos padrões de consumo e inversões em obras e o excedente de
mão de obra formaria um exército. A distinção entre as economias escravistas puras e as comerciais
se da na forma da apropriação do excedente, enquanto no primeiro há uma transferência direta de
renda as classes dominantes via tributos, no segundo a apropriação também se relaciona com o
aumento da produtividade cujo lucro é o expoente de poder e prestígio ao comerciante.
Furtado (2009) também cita os caso de involução do sistema econômico que ocorre quando
uma estrutura econômica-política, uma instituição, um sistema-ordem política é destruído e
substituído por outro, como foi o caso do Império Romano do Ocidente que depois culminou no
Sistema feudal. Foram destituídos os aparatos administrativo e militar e assim como as condições
de segurança que mantinham o comércio e também os tributos que mantinham a população urbana
foram extintos. Uma forma retrógrada de organização social emerge - o feudalismo. A mão de obra
servil do feudalismo é suplantada com o avanço da técnica. Dentre os fatores exógenos que
provocaram o desenvolvimento da economia comercial europeia estão as correntes comerciais, o
surgimento de uma nova classe - a burguesia que era dissociada da elite dominante no mundo
feudal, o intercâmbio comercial e com isso a interdependência das regiões vizinhas provocaram a
integração política, além da mudança crescente do rural para o urbano.
O autor cita dois sistemas de organização da produção da nascente Europa moderna: o
regime das corporações de ofício, que surgiu de forma espontânea e se refere a um compromisso
entre os artesãos e a classe comerciante dominante. A produção artesanal era a base dessa economia
comercial. O outro era o regime do laisser-faire, o da livre concorrência implantado pelo comércio
externo. Diferente das corporações que equipara a concorrência, o laisser-faire possibilita ao mais
forte liquidar o mais fraco devido a ausência de regulamentações. Neste regime, as margens de
lucro crescem e a capitalização aumenta. Com o passar do tempo, o comércio europeu fica saturado,
criando uma tensão nas linhas de comércio e a concorrência ficou intensificada. Surgimento de uma
política mercantilista de proteção das burguesias nacionais. Os comerciantes exigem dos artesãos
custos mais baixos, com a redução de custos criam-se unidades de produção que são as fábricas e
ascendência progressiva das técnicas de produção. O aperfeiçoamento das técnicas de produção
incentivou a valorização da pesquisa empírica. Com a economia industrial, surgiu novas
possibilidades de inversões - incorporação de recursos, equipamentos e outras formatos de capital.
Nessa etapa, o empresário não precisa abrir novas linhas de comércio. O capital é empregado no
incremento da produtividade, aumento da renda global e expansão do mercado externo. O
empresário poderia reduzir os custos, sem cortar a folha de pagamentos dos operários. A fonte de
lucro do empresário seria o avanço da técnica e a eficiência produtiva.
Por fim, Furtado (2009) observa que os custos de produção são o problema básico da
economia industrial, e dessa forma o processo de desenvolvimento tendia a ser um processo de
16
avanço da tecnologia. Diferentemente das economias comerciais, a economia industrial não carece
de uma fronteira geográfica para se expandir, o seu desenvolvimento é através da intensificação da
capitalização do processo produtivo. Na economia comercial, as linhas de comércio podem estar
saturadas e o comerciante seria obrigado a investir em inversões improdutivas como objetos de luxo
ou acumular sua riqueza em tesouro. Na economia industrial, o lucro é um fator residual, pago
todos os fatores de produção, o empresário trata de vender ao preço mais caro. Há uma incerteza
quando se utilizam as operações de crédito. Os fatores de produção são pagos antes da venda do
produto. Ao receber o montante da venda, o gasto é abatido e tem-se o lucro, mas como não se pode
prever o comportamento do consumidor, a venda de produtos é incerta. O objetivo da economia
industrial de livre-empresa é ampliar sua capacidade produtiva. A economia de livre-empresa não se
desenvolve linearmente, sendo caracterizada por uma sucessão de fases de grande acumulação de
capital e descapitalização.

3.2 Subdesenvolvimento
No capítulo 4, “Elementos de uma teoria Subdesenvolvimentista”, Celso Furtado, trabalha
com a conceituação da teoria do desenvolvimento através de uma perspectiva que está embasada em
contextos econômico e regional, nos termos de sua concepção.
Vários modelos figuram na bibliografia existente pelo assunto, seguindo-se pela linha de que
em uma estrutura econômica, reconstituindo seus processos fundamentais, de modo a identificar as
variáveis exógenas que respondam pela variação no ritmo do crescimento e sua intensidade.
Um modelo que generalize historicamente apresenta problemas, assim como aqueles que
negam apresentarem uma nítida dimensão histórica. Assim, a partir desse diálogo, analisa o
desenvolvimento econômico pré- industrial – antes da Revolução – e o posterior à Revolução
Industrial.
O desenvolvimento antes da Revolução Industrial consistia em um processo de aglutinação
de pequenas unidades econômicas e marcada pela divisão geográfica dos trabalhos. A classe
comercial era o agente de desenvolvimento que promoveria essa aglutinação e criaria formas mais
complexas de divisão do trabalho, criando a possibilidade de especialização geográfica.
Os frutos dos trabalhos eram colhidos pelos grupos dirigentes, formando grandes
concentrações de capitais financeiros, que quase não articulava com a classe comercial, não
permitindo, dessa forma, que os lucros chegassem às mãos dos comerciantes ou tivessem efeito
direto sobre as técnicas de produção.
As transformações que levaram à uma economia industrial, concentra-se essencialmente em
dois pontos:
1)- Fatores causais-genéticos do crescimento econômico, passaram a ser endógenos ao sistema
17
econômico e não mais exógeno, diferente das ideologias anteriores.
2)- O imperativo do avanço tecnológico que se traduz em uma articulação entre o processo de
formação do capital com o avanço da ciência experimental.
Explica o conceito, alocação e disposição, bem como as diferenças, de lucro nas economias
pré-industriais (marcada pela apropriação direta de bens) e economias industriais (marcada pela
elasticidade dos preços, aumento na renda e o que importa é que se tem uma ação dinâmica – opera-
se pelo lado da oferta e da procura). Essa observação pode ser mais bem representada se olharmos
pela experiência Inglesa.
Demonstra esses conceitos comparativos traçando um histórico de fases do desenvolvimento
das economias industriais, que são 3 fases :
1ª Fase de desenvolvimento: se processava em condições onde a oferta de mão de obra era
elástica, com um nível de salário real constante, em termos de alimentos (salário do operário, era
especificamente para a sua sobrevivência). Pode-se chamar de fase pré-capitalista. Sendo assim,
essa fase foi caracterizada por um aumento substancial da participação da indústria de bens de
capital no total da produção industrial. Essa oferta de mão de obra elástica foi o fator determinante
para o crescimento econômico e aumento da capacidade da indústria de bens de capital, porém,
quando a oferta de mão de obra se torna pouco elástica, leva a uma redução no ritmo de crescimento
e uma baixa da taxa de lucro.
2ª Fase de desenvolvimento: marcada pelo desequilíbrio fundamental entre a capacidade de
produção de bens de capital e a possibilidade de absorção das mesmas. Apresenta-se quando a
oferta de capital aumenta mais rapidamente que o fator trabalho, o que gera pressão no sentido da
redistribuição da renda a favor dos trabalhadores, o que acarretaria uma baixa na taxa de lucro -
reações para reduzir o volume de inversões, criando desempregos temporários, reduzindo o ritmo
do crescimento econômico.
O excesso estrutural da oferta no setor de bens de capital tende a refletir na redução dos
custos da inversão no setor de bens de consumo, onde utilizarão os equipamentos. Esse fator não
está em crescimento e tende a criar uma pressão no sentido da baixa de preços, significando um
aumento do salário real.
Essa tendência se incidirá mais forte em indústrias de bens de capital operando com baixa
rentabilidade. Consistiu em um deslocamento de suas fronteiras de características semelhantes em
que essas populações alcançaram desde o início, elevados níveis de vida, o que contribui para o
sucesso dessa expansão para além.
3ª Fase de desenvolvimento: foi em direção de regiões já ocupadas, todas de natureza pré-
capitalista. O efeito dessa expansão variou de região para região, resultado quase sempre de
estruturas híbridas tendiam a comportar-se como um sistema capitalista, mas também manter-se
18
dentro das estruturas preexistentes, e é esse tipo de dualismo que cria o fenômeno do
subdesenvolvimento observado na contemporaneidade. É um processo histórico e não uma etapa
pela qual todas as economias desenvolvidas já tinham passado.
A economia capitalista tem seu dinamismo garantido pela forma como a renda é utilizada
de maneira a reverter aos empresários, e a poupança destes. Economias híbridas não se comportam
em todas as circunstâncias como pré capitalistas, o Brasil é um bom exemplo, pois a massa de
salários no setor ligado mercado internacional foi suficiente para dar caráter monetário a uma faixa
importante do sistema econômico, com a diversificação nos hábitos de consumo, que gerou como
consequência o desenvolvimento posterior da economia.Uma experiência dessa fase é a brasileira –
expansão cafeeira- até a procura de manufaturas, passando pela mão de obra, expansão exportadora
até a busca de importações.
Estruturas subdesenvolvidas mais complexas (núcleo central ligado ao mercado interno)
podem surgir transformações estruturais no sistema. O fator dinâmico básico continua sendo a
procura externa, multiplicada internamente. A etapa superior do subdesenvolvimento é alcançada
quando se diversifica o núcleo industrial e este, passa então, a ser capacitado a produzir parte dos
equipamentos requeridos para a expansão de sua própria capacidade produtiva.
Subdesenvolvimento, é então, um processo particular, resultante da penetração de empresas
capitalistas modernas em arcaicas estruturas, não constitui uma necessária etapa de formação das
economias pré-capitalistas, e apresenta-se sob várias formas e em diferentes estádios, partindo de
casos mais simples até mais complexos.
No capítulo 5, intitulado, “O Desequilíbrio Externo nas Estruturas Subdesenvolvidas”,
Celso Furtado, irá se ater às causas estruturais do desequilíbrio apresentado no capítulo anterior
como uma tendência no balanço de pagamentos em países de economia subdesenvolvida,como o
Brasil. De modo que toma a definição de estrutura subdesenvolvida como aquela em que a plena
utilização do capital disponível não é uma condição suficiente para que a força de trabalho seja
completamente absorvida no nível de produtividade correspondente à tecnologia.
Do ponto de vista do empresário de país subdesenvolvido, não apenas a tecnologia se
apresenta como variável independente, mas a própria forma de desenvolvimento do setor industrial
da economia, levando à substituição de importações pela adoção de uma tecnologia compatível com
a que prevalece no mercado em termos de custos e preços.
Subdesenvolvimento é por si mesmo um desequilíbrio, pelo qual é impossível se alcançar ao
mesmo tempo a utilização plena do capital e da mão de obra (aqui, infere-se que o
subdesenvolvimento são estruturas híbridas, constituídas por setores ou departamentos específicos.
Essa definição possui grau de generalidade suficiente para explicar uma série de casos que se
tomam por base nível de renda per capita e grau de utilização de recursos naturais.
19
O crescimento de uma economia subdesenvolvida implica modificações estruturais
(exemplo: forte aumento da procura de produtos intermédios de origem industrial gera uma
tendência à elevação do coeficiente de importações). A partir dai, o autor apresentará modelos
numéricos para ilustrar uma situação em que admite-se dois setores A e B, em que A é mais
adiantado que B, que transfere mão de obra para o setor A, que predomina num setor tecnológico
avançado, que para expandir-se depende da transferência de força de trabalho, desse modo o setor
mais atrasado, no caso o B, realiza essa transferência.
Seus modelos números ilustram a situação com avaliações ex ante e ex post, traduzindo um
processo de crescimento de fora para dentro. Como o impulso de A vem de fora, a primeira fase se
caracteriza pela elevação da capacidade de importação em relação à renda real.
Economias subdesenvolvidas possuem, no geral, um grau de dependência elevado, no
processo de formação de capital. Nos primeiros estágios de subdesenvolvimento, tal dependência se
acentuava enfaticamente do lado da poupança, pelo menos pelas que se expandiram pela fronteira
agrícola, como é o caso da economia cafeeira no Brasil.
Apresenta dados do coeficiente de importações em fase de acelerações para estruturas
subdesenvolvidas e desenvolvidas, além de contextualizar esses coeficientes em relação à histórica
economia brasileira.
O crescimento mais lento das economias subdesenvolvidas explica uma notória tendência ao
desequilíbrio do balanço de pagamentos, observados em todos os países com esta economia, que de
uma forma ou outra, tentam intensificar o crescimento.
Para abordar o desequilíbrio, há que se definir uma posição deste no balanço de pagamentos.
É um método que segue pela simples teoria do equilíbrio geral, no qual, em determinadas condições
institucionais, a economia tende para uma posição que se consegue utilização ótima de recursos e
fatores, em que cada fator recebe de acordo com o que produz. Um balanço de pagamentos bom é
aquele que permite que um país, em média de anos, honre seus pagamentos sem depender de
receitas de transações correntes e entradas normais de capital, sem ser forçado a manter sua
atividade econômica em níveis inferiores aos desejados, ou apenas restringir suas importações para
evitar déficit no balanço.
A “normalidade” afirma que flutuações são cíclicas, e o remédio para isso é a movimentação
de reservas. As causas de afastamento dessa normalidade são: existe desequilíbrio no balanço de
pagamentos sempre que o saldo tenda a superar limites definidos, para mais ou para menos;
ampliação do mecanismo multiplicador; expansão inflacionária.
Na prática, tem gerado consequências danosas para países subdesenvolvidos, pois o
tratamento do desequilíbrio externo resume-se, na maioria das vezes à deflação e a desvalorização.
O processo de ajustamento, implícito no balanço de pagamentos, tem por fundo a ação dos efeitos
20
do preço durante a desvalorização. Em países subdesenvolvidos é importante observar que embora
suas exportações sejam pouco diversificadas, cada produto de relevância é exportado em
quantidades relativamente grandes. A deflação direta, como método corretivo do desequilíbrio
externo, encontra sua justificativa no pré suposto que sempre que houver um saldo negativo num
balanço de pagamentos, o volume da inversão terá que exceder a poupança disponível, ou seja, os
gastos de consumo em sua coletividade, não são dispêndio.
No processo de formação do capital, o sistema de preços é por todos reconhecido como um
instrumento impreciso de orientação , e para incorporar seus esquemas que os economistas criaram
a teoria do risco.
No capítulo 6, “Industrialização e Inflação - Análise do desenvolvimento recente do Brasil”
analisa como a economia brasileira tem se desenvolvido, passando pelas economias agrícolas até a
industrial.
A primeira etapa da industrialização brasileira contava com mecanismo cambial como
instrumento de defesa do seu nível de renda. Esse mecanismo por parte dos exportadores resultou
ser favorável aos grupos manufatureiros incipientes.
A consequência da política de manutenção do nível de emprego, imediatamente, foi a
elevação da rentabilidade nas indústrias. Veio a somar-se persistente depressão nos mercados
mundiais dos produtos primários. O desenvolvimento industrial estava sendo feito sem orientação
de uma política, e novos e graves problemas foram se acumulando, os serviços de transporte para
servir à economia de exportações foram se adaptando.
O desenvolvimento que vai do século XX, podemos dizer que a estrutura econômica
colonial foi superada (deslocamento do centro dinâmico para o setor industrial e mudança do centro
de decisão) e a etapa das pressões inflacionárias incontáveis chegou ao seu apogeu, devendo estar
em declínio.
Com a transferência dos centros de decisão teve consequência de maior alcance, os graus de
autonomia é limitado, pois os grupos que controlam a economia mundial dos produtos primários,
sobrepõem seus interesses aos de cada país exportador considerado isoladamente.
Na medida em que esses grupos começaram a se firmar no Brasil, a mentalidade
desenvolvimentista se firmou, de modo a formular uma primeira política sistemática de
industrialização nos últimos dez anos.
Consideremos as etapas das pressões inflacionárias incontáveis - são duas : a primeira é
formada pelos 3 decênios iniciais - primeira fase de crise do café, marcada pelo grande esforço para
recuperar a capacidade de importar - organização do mercado desse produto e abertura de novas
frentes de exportação. A Segunda fase é marcada pelos três decênios seguintes , é caracterizada
pela diferenciação progressiva do setor industrial, firmado como centro dinâmico do sistema
21
econômico, época das grandes ondas inflacionárias.
A industrialização ocorrida no Brasil nos últimos decênios apresenta características próprias.
O primeiro movimento industrial a se firmar, teve lugar na região de imigração europeia recente, ou
seja, na região cafeicultora de São Paulo. A industrialização fixou-se na região de grande expansão
agrícola para exportação, de mão de obra relativamente escassa, e forte imigração europeia, origem
de salários iniciais relativamente altos, essa região constituía parte de uma constelação e nas outras
regiões o que prevalecia eram condições de vida totalmente diferentes e salários com níveis bem
inferiores.
O tipo de desenvolvimento industrial gerou múltiplas consequências:
1. Todo desenvolvimento se faz com elevado custo social;
2. Uma alta taxa de lucro, sempre traz junto uma taxa de distribuição de dividendos também
elevada.
3. Tendência à concentração de riquezas (grande números de inversões através do sistema de
autofinanciamento).
4. Conjunto das populações urbanas predominam os pontos de vista políticos moderados, em
consonância com fatores profundos que mantém o nível de salários estacionários. Aumento
de tecnologia na prestação de serviços evolui no sentido de poupar mão de obra para
indústria.
O Desenvolvimento industrial no Brasil vem se traduzindo em termos de transferância de
mão de obra : a) de setores com menor produtividade (Minas Gerais e Nordeste) para setores de
maiores produtividades (São Paulo e Paraná); b) da agricultura para as indústrias ; c) desses dois
setores para outros empregos urbanos. Em todos, a transferência, se traduz em aumento do salário
real, e em quase todos, aumento da produtividade.
Nos últimos decênios, seu centro foi os grandes investimentos industriais, que permitiram a
expansão do emprego, e a urbanização, que atuou permitindo aumento da área cultivada. O
desenvolvimento abriu caminho para duas direções crescentes: 1) aumento da produtividade nas
indústrias e transferência doa frutos de maior produtividade para os setores assalariados, admitindo
um crescimento mais rápido do poder de aquisição da população, inclusive rural. 2) transformação
direta da estrutura agrária - racionalizar o uso dos fatores (principalmente mão de obra) - que
poderia se traduzir em ampliação nas zonas urbanas - mercado de manufaturas.
Celso Furtado conclui sua análise sobre o caso brasileiro, dizendo que a falta de objetividade
no passado brasileiro será traduzido em políticas falhas e incoerentes, dado isso, segundo ele, o
desenvolvimento no Brasil só se realizará se realizarem uma maior condição de participação em
seus frutos das massas urbanas e rurais.

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4 - CONCLUSÃO

Celso Furtado foi um dos grandes expoentes da economia brasileira que introduziu a noção
de planejamento democrático. Ele rompe com os estudos europeus e norte-americanos sobre o
desenvolvimento que compreendiam o subdesenvolvimento como um estágio histórico evolutivo
anterior ao desenvolvimento. Furtado reitera a necessidade de uma concepção teórica diferenciada
do subdesenvolvimento, que considere as diferenças estruturais existentes entre as nações, não
reproduzindo os processos pelos quais os países desenvolvidos passaram. Os contextos social,
histórico, econômicos são distintos entre as nações, portanto não poderiam ter um desenvolvimento
similar.

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REFERÊNCIAS:

Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento . Disponível em:


<http://www.centrocelsofurtado.org.br/> . Acesso em: 27 abr. 2014.

CEPAL - Comissão Econômica para America Latina e Caribe. Nações Unidas. Disponível em: <
http://www.eclac.cl/default.asp?idioma=PR>. Acesso em: 27 abr. 2014.

FURTADO, Celso. Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Contraponto: Centro


Internacional Celso Furtado, 2009. 5ed. 234p.

O LONGO AMANHECER: Cinebiografia de Celso Furtado. Direção: José Mariani. Produção:


João Vargas e José Mariani. [S.l.]: Prefeitura do Rio/Rio filme; Andaluz, 2007. 1 DVD (73 min),
ntsc, cor. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=aFZf6ROiyiI>. Acesso em 28 abr.
2014.

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