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Jaime Marcos Lutenberg

Neste trabalho seleciono al-


guns conceitos específicos da teoria
de Bion. A partir de sua pontualiza-
ção descreverei minhas reflexões
referentes a cada ponto. Espero que
as mesmas se transformem, no lei-
tor, em um estímulo para suas pró-
prias idéias. Penso que assim pude
configurar um diálogo virtual com
meus colegas. Talvez uma comuni-
cação epistolar ou um encontro pes-
soal com meus leitores nos coloque,
em um momento futuro, frente a um
diálogo pessoal.

Jaime Marcos
Lutenberg
A relação continente-conteúdo
A relação continente-conteúdo
tem, dentro da teoria de Bion, a
mesma relevância e transcendência que o conceito de repressão, dentro da
teoria de Freud. Constitui uma noção fundamental para uma prática psica-
nalítica diferente. Para Bion, os pensamentos estão em primeiro lugar, de-
pois o pensador que os pensa. A possibilidade de pensar os pensamentos é
uma variável que, entre outras, depende das qualidades da relação conti-
nente-conteúdo. É por isso que este é um elemento fundamental da psica-
nálise; faz a essência da figuração mental do universo que vai ser simboli-
zado mediante as respectivas transformações alfa.
A teoria de Bion permite-nos efetuar operações psicanalíticas que não
nos seriam possíveis se dependêssemos / no que tange às teorias / à luz das
teorias precedentes. Possibilita-nos ver uma “verdade” em sua dimensão
vincular antes invisível. Graças a essa visão, é mais importante ter em con-
ta se a mente do analisando é capaz de ser continente dos conteúdos que
dela emanam e a ela chegam como estímulos, do que se os mesmos são
conscientes ou inconscientes.
A teoria da repressão nos conduz pelo caminho técnico de tornar cons-
ciente o inconsciente. A teoria da relação continente-conteúdo permite-nos
reconhecer os pensamentos pensados como os ejetados da mente do pensa-
dor por meio da identificação projetiva maciça (psicoses, delírios hipocon-
dríacos, acting out, etc.). Através do respaldo técnico que podemos ofere-
cer a esses analisandos mais graves, é possível tornar inconsciente o ejetado
por meio dos elementos beta (transferência psicótica).
Uma alucinação pode ser a expressão da incapacidade da mente para
conter os conteúdos que está ejetando. Se aceitarmos a idéia de que, no
vínculo psicanalítico, sempre se acham presentes a transferência psicótica
e a não-psicótica que emergem das respectivas partes em que Bion divide a
personalidade humana, devemos estar permanentemente atentos à emer-
gência alternada e/ou simultânea de ambos os elementos. Essa é uma ver-
dade clínica comprovável por todo analista, em sua prática cotidiana, uma
vez que aceite a possibilidade teórica de que isso ocorra (transferência
psicótica). A linguagem articulada é um dos variados continentes poten-
ciais dos conteúdos, porém não o único.
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É possível, também, conceber a transferência psicótica em termos de
conteúdos sem continente. O essencial do conceito teórico “relação conti-
nente-conteúdo” é justamente ser uma “relação”, indicando que a mente
humana opera basicamente de forma VINCULAR, NÃO SINGULAR.
Para Bion, os pensamentos são sempre o produto de um vínculo. Apesar
de, durante a sessão, nos ocuparmos de uma mente individual, estamos
sempre analisando um vínculo. A figura do par continente-conteúdo colo-
ca em cena, dramatiza e representa algo muito específico: a incessante
metamorfose mental da figura de casal combinada dos pais que, no mundo
interno, se vão recompondo em cada estado mental, em cada instante do
viver cotidiano e, portanto, do viver de cada sessão.
O ser humano nasce prematuro e é alojado pela dupla de pais: existe
uma dimensão histórica desse aninhamento, uma dimensão biológica, an-
tropológica, cultural, lingüística, etc. e uma dimensão mental. A
especificidade dessa dimensão mental do nascimento humano no inte-
rior de um casal está conceituada pela teoria da relação continente-
conteúdo. A dinâmica da transferência permite a visualização do estado
dinâmico em que essa relação se encontra, em cada um dos momentos do
vínculo transferencial. Como seres humanos, vamos sendo, quer dizer, “so-
mos” um par dinâmico entre conteúdos e continentes.
De acordo com esses modelos, tanto o continente como o conteúdo
podem ser fragmentados (Bion, 1959; Attacks on linking, ou “Ataque ao
vincular”). Essa hipótese teórica tem múltiplas implicações clínicas, se le-
varmos em conta a concepção de Bion a respeito da propriedade mental de
atacar a capacidade vinculadora do casal de pais internos. Esse autor postu-
la, no mencionado artigo que, quando os ciúmes e a inveja primitiva (nos
termos de Klein) aparecem, colorindo a experiência de frustração, se des-
trói a possibilidade de pensá-la com pensamentos, pois a alucinação que
surge da transformação psicótica ocupa esse lugar.
Existe uma enorme gama de formas clínicas que a figura teórica “ata-
ques ao continente” nos possibilita tipificar. Assim, orienta-nos para uma
sutileza clínica, no meu entender ausente em outras teorias. Quando um
analisando se desvincula da linguagem ou desarticula suas normas implíci-
tas no nível semântico (mas que também abrange o nível pragmático e
sintático), não só ataca sua própria mente, mas também a função
vinculadora que a linguagem tem na relação psicanalítica total. Não menci-
onando quando os distintos acting out destinados a romper a continuidade
do vínculo analítico aparecem na dinâmica da transferência, mostrando
esse ataque ao vincular.

A criatividade negativa
Os conteúdos também podem ser atacados em uma vasta gama de pos-
sibilidades criativas, caso em que se constroem figuras próprias do que
denominei CRIATIVIDADE NEGATIVA.
Existe uma criatividade negativa que, segundo comprovei em mi-
nha experiência, sempre entra em ação para completar a negação
psicótica da frustração. Graças à sua visualização, pude reconduzir dife-
rentes variáveis dos acting out destrutivos pelo caminho da recomposição
mental. A criatividade negativa contém muitos elementos a serem conser-
vados, já que, graças a eles, podemos configurar a criatividade positiva,
base técnica para a “cura” dos pacientes gravemente perturbados. As estru-
turas da criatividade negativa e da criatividade positiva são muito seme-
lhantes. A primeira opera com base no ódio, na inveja, nos ciúmes e na
rivalidade. A segunda alimenta-se de eros e de todos aqueles elementos
que Freud definiu como transferência positiva sublimada. A criatividade
negativa reforça a negação psicótica, no modo estrutural em que, se-
gundo Freud, a contracarga reforça a repressão neurótica no pré-cons-
ciente.

A Orfandade Mental
Quando associam livremente a respeito de sua orfandade, os
analisandos se referem, geralmente, aos fatos históricos que recordam, a
supostos acontecimentos factuais próprios da relação com seus pais e com
o mundo externo em geral. Simultaneamente, na sincronia da transferên-
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cia, nós, como analistas, podemos assistir, ao vivo e diretamente, à ativa e
atual destruição das funções mentais que levam à incapacidade de pensar
os pensamentos. Quando isso ocorre, a mente fica órfã para um pensamen-
to elaborativo potencial por-vir.
Assistimos, assim, à encenação de uma orfandade viva que adquire
mobilidade a cada momento em que o analisando se dispõe a pensar a frus-
tração. Isso nos pode dar uma noção cabal do desastre mental em que ele se
encontra permanentemente submerso. É justamente a transferência, e a
contratransferência correspondente a tal orfandade, que vai nos mostrar o
caminho operativo para resolver “aqui e agora, comigo” seus efeitos men-
tais tão complexos. NÃO SE TRATA DE TORNAR CONSCIENTE O
INCONSCIENTE, MAS DE EDITAR ALGO INÉDITO.
A capacidade de destruir a função continente não pode ser interpre-
tada em termos de falta de palavras, mais além da teoria que se utilize. Só
quando temos testemunhos atualizados da falha do continente é que nos
encontramos diante da encenação, da demonstração transferencial, da
“criatividade” empregada para reconstruir a “orfandade mental”, isto é, em
despojar a mente de sua capacidade de efetuar transformações alfa. A ses-
são nos dá a oportunidade de tomar contato com o vivo de uma mente e,
como sabemos, toda substância viva simultaneamente se constrói e é
destruída (Freud, 1920). O problema surge quando nós e os elementos com
que contribuímos ao analisando (enquadre) são destruídos.
A função continente de um analista evidencia-se no vínculo transfe-
rencial, através da capacidade que o analista tem de reconstruir-se depois
dos ataques que um analisando pode efetuar à sua “capacidade vinculado-
ra”. A fim de poder realizar essa operação em seu próprio interior, necessi-
ta de uma profunda convicção no que concerne às verdades psicanalíticas.
Através das vinculações cogitativas que ele estabeleça com tais verdades,
pode alcançar um insight do significado dos “ataques”, dos quais sua men-
te está em branco, por parte do analisando. Entretanto, seus insights devem
ficar reservados à sua intimidade, até o momento oportuno. Enquanto isso,
podemos supor que ocorra, em seu interior, uma metamorfose de conteú-
dos dentro de um continente.

A Edição
Quando nos encontramos com um analisando que porta uma orfanda-
de mental para pensar a frustração, estamos diante de uma renúncia da
função “continente” da mente; para dar-lhe a conhecer previamente os con-
teúdos de seu insight, necessita-se restaurar a função continente do anali-
sando. A base dessa restauração reside na capacidade do analista para inau-
gurar ou fundar funções mentais ausentes: editá-las. Não me escapam as
complexas modificações técnicas implícitas nessas reflexões. Espero po-
der discuti-las.
Vivi e vivo, como psicanalista praticante, a maravilha e o assombro
que se produz quando existe uma transformação de um psicótico ou um
borderline muito grave em uma pessoa que pode pensar a frustração. A
partir dali, muitas outras situações são cogitáveis. A chave consiste em
valorizar cada um dos ínfimos sucessos mentais do analisando durante o
próprio fluxo do intercâmbio psicanalítico.
Quando digo isso, tenho presente o caso de um analisando que passa-
va a vida perdendo tempo sem se dar conta. Por meio de múltiplos rituais
tentava amenizar uma tendência aos transbordamentos psicóticos que limi-
tavam a cotidianeidade de sua vida. Essa pessoa não podia trabalhar, nem
estudar, nem se vincular a alguém. Ao introduzir uma dinâmica lúdica em
nosso diálogo, conseguimos pequenas mobilizações. Recordo um dia em
que, ao entrar na sessão, ele não me estendeu sua mão. Fiquei com a mão
estendida, representando o fato de que, se ele não me desse a mão, era
como se não tivesse entrado. Estava dramatizando seu pensamento
psicótico. Ele já havia passado o hall de entrada e se dirigiu ao consultório.
Fiquei esperando, à porta, que ele me estendesse sua mão, pois se não o
fizesse não teria passado. Esse era o subentendido lúdico.
Voltou para mim e disse: “Vamos, vamos, não me faça perder tempo”.
Fitou-me e, nesse olhar, estava subentendido o nosso diálogo a respeito do
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que ele considerava perder tempo... Fez silêncio e me disse: “Veja que dis-
so eu conheço um montão”. Essa observação pareceu-me genial. Estava
simbolizando verbalmente sua criatividade negativa e sua evitação ao “vi-
ver”. Eu me havia tornado, por um instante, depositário de sua imobilida-
de, do desprezo e da negação da existência (nesses elementos existiam
facetas da alucinação negativa, descritas por Green). O consultório e o en-
quadre psicanalítico eram também os continentes de conteúdos invisíveis.
Ao me transformar no continente “destruído”, ele se transformava na
palavra que o pensa. São instantes fugazes de verdade vincular que se cons-
tituem no núcleo mental da possibilidade de pensar os pensamentos. Fiquei
parado pelo efeito “mágico” do seu rechaço. Mostrei minha paralisia, meu
impedimento para me dirigir ao lugar habitual de meu trabalho, o consultó-
rio psicanalítico; ele me falava do meu “perder tempo”. Eu continha em
minha mente a insuportável vivência de perder o tempo.
Sabia que, para esse analisando, perder tempo era uma forma de des-
conhecer o estado de luto. Os pacientes mais graves muitas vezes emergem
de um mundo autista e simbiótico com um quadro psicótico. O mundo
autista move-se em duas dimensões (bidimensionalidade), nos termos em
que Meltzer (1979) explicou, quando definiu a identificação adesiva. Para
conceber a função continente, é necessária a inauguração da terceira di-
mensão. O tempo corresponde à quarta dimensão.
Um ano antes, havia estado “analisando” com esse paciente um fato
particular: parecia-lhe impossível usar os seus bolsos. Para ele, todos os
objetos pareciam contaminantes. Vinha ao consultório com sacolas de di-
ferentes tamanhos, nas quais colocava múltiplos objetos. Com extrema pre-
caução e minúcia, fui observando as variáveis distintas que se produziam,
no que se refere a esse fato pontual: o uso dos seus bolsos.
Para mim, revelava-se altamente significativo, como um elemento
próprio do intercâmbio transferencial, que ele me pudesse falar do seu im-
pedimento. Entendia que ele havia valorizado o fato de que eu, em geral, o
escutasse, sem lhe dizer nada durante os primeiros 30 minutos da sessão,
durante os quais ele evacuava conteúdos mentais sem sentido. Suas emis-
sões eram desorganizadas e ininteligíveis, expressando uma complexa con-
fusão psicótica. Complementando essa evacuação, emitia uma salva de
flatos que, segundo ele, surgiam de forma descontrolada e irrefreável.
É muito diferente considerar exclusivamente que, de um interior, saia
“algo” para ser ejetado ou evacuado, do que ter em conta que, através de
suas evacuações, o analisando está testando a função continente da minha
mente. Eu recebia suas palavras e suas ações, tentando estruturar uma in-
terpretação que, em geral, incluía observações de muitas sessões.
Indo um pouco mais longe no tempo, desejo esclarecer que, na reali-
dade, desde o início do tratamento ele já havia posto à prova minha função
continente, vomitando no consultório e eliminando flatos, sem falar. Quan-
do vomitava, limitava-me a colocar um balde ao seu lado e depois continu-
ávamos com a sessão. É por isso que, para mim, o uso dos seus bolsos
adquiria uma dimensão muito particular, no que diz respeito à terceira di-
mensão concebível pela mente e a concepção de um espaço mental que
aloja conteúdos. Usar os bolsos implica uma noção tridimensional de volu-
me. A tridimensionalidade coloca-o como alojador de conteúdos e me in-
clui, em sua fantasia inconsciente, como continente.
Espero que esta breve vinheta esclareça um pouco melhor minha vi-
são de relação continente-conteúdo e a noção de verdade vincular que daí
emerge. O vértice conceptual (teórico) de Bion me permite observar fenô-
menos que, de outra maneira, passariam absolutamente despercebidos den-
tro do fluxo do universo de signos que emanam da transferência psicótica.
Que eu tenha detectado, através do uso singular dos seus bolsos, a restaura-
ção da função continente de sua mente não quer dizer que o trabalho analí-
tico atraiu para sua “consciência” uma capacidade com a qual não contava,
pois a mesma se achava interdita pela repressão e por isso era inconsciente
para ele. Trata-se de uma visão técnica diferente, mas inclui a anterior.
Quando a mente efetua transformações alfa, é possível ao indivíduo
diferenciar o estado mental consciente do inconsciente. Quando conheci
esse paciente, parecia-lhe impossível ler ou escrever, porque havia perdido
o simbolismo das palavras. Juntamente com o uso dos bolsos, começou a
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ler jornais – coisa que há mais de seis anos não podia fazer. Sua mente
transformou-se, à medida que ele foi recuperando sua capacidade de fazer-
se continente de suas emoções.

Bion mostra-nos, por meio da equação O K, que, em um processo


de interação bipessoal, revelam-se transcendentais tanto as transformações
que vão de O a K como as que vão de K a O. Como olhos mentais, a
intuição nos aproxima muito mais de O do que o pensamento verbal, que
nos aproxima mais das transformações “K”.
Essa concepção teórica nos coloca em um dos paradoxos da associa-
ção livre: muitas vezes, o analisando pode distanciar-se do vértice O,
apesar de uma verbalização fluente. Uma pessoa em silêncio pode,
mesmo assim, estar muito mais perto do vértice O do que aquele que
está associando verbalmente. Podemos, assim, conceber o falar como
uma resistência, e o silêncio como uma não-resistência. A intuição nos
apontará a “verdade” a partir da avaliação apropriada das transformações.
A experiência psicanalítica indica-nos que podem ocorrer transformações
em O, sem que existam transformações em K.
Quando analisamos a parte psicótica da personalidade de pacientes
psicóticos, ou de neuróticos, essa concepção é fundamental, em particular
no que tange a não confundir o silêncio com uma resistência. Muitas vezes,
o silêncio também é uma demonstração do vazio mental. Submersos no
vértice O, podemos intuí-lo, ainda que não possamos perceber esse vazio
mediante os registros precisos dos nossos sentidos.
Para Bion, todo o cognoscível é uma transformação emanada ou evo-
luída de O, porém O não pode ser conhecido, só pode ser “sido”. Quando
estamos em O, podemos emergir narrando aquilo de que participamos.
Podemos mencionar um fato, porém quando o fazemos deixamos de ser o
próprio fato. Por essa razão é que, para Bion, a transformação K nos
pode trazer um nível de “verdade” diferente do que lhe corresponde a
verdade última, o O inacessível. Dentro da sessão psicanalítica, a intui-
ção mental é o “sentido” apto para observar os fatos a partir do vértice O. A
visão e a audição são os sentidos aptos para efetuar somente as transforma-
ções K.
A importância da narração de qualquer fato “histórico”, que um pa-
ciente nos conta durante a associação livre dessa sessão, adquire sua
transcendência em função de sua re-encenação potencial, dentro da totali-
dade do vínculo transferencial.
Guiados pela intuição, podemos dirigir-nos até aos fenômenos que
emergem da narração do analisando e nos conduzem à experiência psica-
nalítica, o O, a coisa em si. Aí nos encontramos com a verdade a ser desve-
lada por meio das transformações que o analista é capaz de produzir, me-
diante sua função alfa.
É fundamental que nossa atenção, como analistas, esteja livre de toda
interferência (sem memória, sem desejo), de maneira que em nossa cons-
ciência nada ocupe um lugar na funcionalidade operacional da atenção,
para que essa mesma atenção possa submergir livre quando nos encontra-
mos perante “a coisa em si”.
Uma vez que tomamos contato com O, podemos reconhecer, em fun-
ção de nossa experiência compartilhada, em que nível se encontra a verda-
de que a experiência narrada pelo analisando encerra. Esse é o caminho
que torna possível a avaliação, ao vivo e direta, da qualidade perturbadora
das lembranças que são narradas por meio da associação livre do analisan-
do. A verdade emanada da transformação K do analista, a partir da
experiência em O, permite-nos reconhecer qual é o valor atual que um
problema mental passado tem, mais além do tempo e do espaço em que
ocorreu. O ponto de partida do vértice psicanalítico é a própria experiência
emocional. A palavra é a única portadora das transformações; só a ela cabe
a não-verdade.
Segundo Bion, todos temos acesso a reconhecer a verdade e a não-
verdade. Esse conceito teórico representa uma aposta otimista no que diz
respeito à capacidade humana de participar de uma experiência autêntica
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ou falsa. A diferença não está em O, “a coisa em si”, no vivido, mas em K,
isto é, na transformação que se produz a partir da própria experiência. O
caleidoscópio do intercâmbio transferência-contratransferência mostra-
nos, de forma constante, que tipo de transformações se está operando em
cada instante e, desse modo, nos abre o acesso ao inenarrável que subjaz
além da narração. As transformações que um analisando é capaz de produ-
zir a partir da experiência em si mesma nos mostram o modo sob o qual sua
mente é capaz de se nutrir com verdades, ou de se intoxicar com não-ver-
dades.
Quando Bion define a verdade psicanalítica como a coisa em si, nos
indica que não é a teoria psicanalítica que nos dará a noção precisa das
verdades mentais, mas a própria sessão psicanalítica, o lugar onde a verda-
de se aloja; é aí que há de encontrá-la. Daí minha hipótese que indica a
condição vincular da verdade: deve-se buscar a verdade psicanalítica no
vínculo transferencial. Como tal, só tem uma existência localizada entre o
analista e o analisando; a palavra só a menciona. As teorias apenas nos
podem ajudar a nos aproximarmos ou distanciarmos da captação e poste-
rior compreensão intelectual da verdade.
A equação O K representa o constante movimento que vai do infini-
to ao delimitado, do irrepresentável ao representado. A linguagem nasce a
partir das transformações que o ser humano tem da experiência O. Quanto
mais evolui a capacidade transformacional de um indivíduo, quanto mais
confiança adquire em sua possibilidade de dar significado à experiência,
mais natural lhe parecerá submergir-se em O e sair enriquecido por meio
de novas transformações K. Os elementos alfa e beta se constroem a partir
de O. A teoria das transformações, de Bion, explica sua arquitetura
morfológica; isto é, como um indivíduo faz para construir os elementos
alfa e beta a partir da experiência. Bion idealizou uma grade na qual inclui
as múltiplas variáveis possíveis das transformações O K.
Quando transformamos nossa experiência em elementos pensáveis,
adquirimos fé e confiança suficientes para submergirmos novamente no
infinito, desaprendendo o sabido para voltar a aprendê-lo melhor. Bion de-
nomina “FÉ em O” a essa disposição mental. “TENTO DESCONHECER
PARA MELHORAR MEU SABER”. Essa é a máxima que, ao meu enten-
der, resume o movimento implícito em O K. A não-verdade emerge de
uma transformação de O.
Dentro dessa perspectiva, o conhecimento psicanalítico construído em
cada sessão adquire vigência só como verdade provisória, exposto a futu-
ras transformações a partir da experiência por vir. Desse ponto de vista, a
memória pode ser usada como uma função mental continente de futuras
incógnitas, isto é, que dá confiança no que diz respeito à capacidade de
registro da experiência. O desejo não condiciona a experiência futura, mas
pode ser transformado em uma capacidade mental particular, que é a fé no
método psicanalítico. As palavras e a linguagem em geral poderão, desse
modo, ser utilizadas para chegar à verdade, mas jamais ser a verdade, pois
se a linguagem é o lugar em que a verdade se aloja como “a coisa em si”
caímos no problema da alucinação.
Quando nos dedicamos ao estudo do problema que o reconhecimento
da verdade representa dentro da teoria de Bion, nos defrontamos com a
exceção limitativa que esse autor estabelece em relação à significativa bre-
cha ou cesura que existe entre o conhecimento individual alcançável e o
universo infinito existente. Na profundidade dessa brecha se materializa
uma ferida narcisista que a onisciência humana tende a evitar, por meio da
arrogância atribuída às teorias, porém sustentada por seus seguidores. De
forma permanente nos deparamos, seja como clínicos, seja como teóricos,
com uma análise que podemos resumir na figura da seguinte equação:
“onisciência” Fé.
Existe uma verdade psicanalítica que Bion estabelece como a coisa
em si. Com isso nos propõe que o encontro psicanalítico é, em si mesmo,
uma estrutura total, ponto de partida do qual devemos efetuar todas as nos-
sas leituras. A noção de rêverie materno, relação continente-conteúdo, os-
cilação PS-D e transformação O-K, assim como a dos elementos alfa e
beta, nos ajudam a repensar cada uma das sessões psicanalíticas, depois
que as mesmas já tenham ocorrido. Todos esses componentes foram
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reagrupados em uma “grade”, que Bion idealizou com o objetivo de ajudar
o psicanalista a reconstruir cada sessão, a partir de determinados elementos
constantes da psicanálise; desse modo, tenta relacionar as múltiplas variá-
veis de uma sessão a algumas constantes, previamente cotejadas, mediante
as teorias que as definem.
O prognóstico da análise dos pacientes mais graves depende do
modo como é pensado por seu analista. A equação O K metaforiza a
concepção da alternância entre o ser “pensado” e o ser “esquecido”. O sa-
ber é só uma fulgurante presença de uma parcialidade microscópica do
infinito inacessível, nunca é a verdade. SABEMOS PARA ESQUECER E
ESQUECEMOS PARA SABER.

Entendo que cada um de nós configura elementos alfa e beta, que


correspondem às transformações de nossa relação com um universo de vi-
vências, decantadas em nossa mente por meio de conjunções constantes de
diferente qualidade. Forma parte do vértice pessoal de “verdade”. A verda-
de é o reflexo dinâmico do estado de nossa aproximação de “O”.
Os elementos alfa, beta (e gama, para D. Sor e M. Sénet) correspon-
dem ao decantado de nossa visão pessoal, isto é, das conjunções constantes
agrupadas segundo os vínculos que fomos estabelecendo com o universo
infinito. A conjunção constante é um encerramento de experiências emo-
cionais que agruparam os elementos alfa.
Em geral, alguns elementos beta permanecem capturados na conjun-
ção. Em um novo ciclo de abertura e oscilação PS D, os elementos beta
capturados na conjunção constante precedente se expressam como fenô-
menos de identificação projetiva maciça. Isso explica o insólito e
desconcertante de algumas transformações evolutivas, como aquelas que
percebi em “D”, um paciente adolescente com uma psicose simbiótica.
A pergunta que quero deixar em aberto para ser discutida é: o que
existe além da conjunção constante e sua qualidade negativa? Se aceitar-
mos que a parte não-psicótica e a parte psicótica sempre estão operando
simultaneamente, como os produtos derivados da parte psicótica interagem
com a parte não-psicótica?
Os elementos beta podem configurar uma espécie de conjunto que
ameaça a parte não-psicótica com a capacidade de localizá-la diante de um
equivalente, que Freud denominou “situação traumática”. Na teoria de
Bion isso seria conceituado como a irrupção de conteúdos que fazem ex-
plodir o continente.
É um problema sério em pacientes borderline, pois muitas vezes o
analista é o depositário desses elementos beta, que se configuram na mente
do analisando em simultaneidade com os elementos alfa. Isso transforma o
analista em um “objeto bizarro”, ou seja, que, cada vez que “interpreta”, o
analisando supõe que lhe está enviando (via identificação projetiva maciça
reversa) os elementos beta previamente ejetados.
Bion especifica que, por meio da identificação projetiva maciça, é
possível ao bebê expelir da mente todas as unidades constitutivas do regis-
tro mental que naturalmente levariam a parte não-psicótica à construção de
um pensamento; essas unidades são: (1) o registro do objeto ausente; (2) a
noção mental de ausência; (3) os órgãos dos sentidos encarregados do re-
gistro da ausência (vista, ouvido, tato, olfato, além dos proprioceptivos);
(4) a capacidade de ordenar o registro cenestésico da ausência; e (5) o setor
da mente capaz de pensar a ausência.
Os elementos beta estão configurados pela aglutinação de todos esses
componentes. Constituem o produto da ejeção, até o espaço exterior da
mente, da maioria dos elementos acima mencionados; ao serem expelidos,
evitam a possibilidade de que um pensamento seja pensado. É por isso que,
para Bion, o ataque ao pensamento implica em um ataque a um vínculo e à
função vinculadora do pensar. Mediante esse recurso onipotente, a mente
consegue um alívio transitório às custas de um empobrecimento que com-
promete todo o seu futuro evolutivo. A hipótese dos elementos beta nos
ajuda a compreender tanto os pacientes psicóticos como a parte psicótica
da personalidade dos pacientes borderline, psicossomáticos ou neuróticos.
A teoria de Bion, que conceitua os elementos beta, permite conceber
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facetas muito sutis da transferência psicótica. Graças a isso, a técnica psi-
canalítica abre múltiplas possibilidades não só para a prática da psicanálise
como também para as psicoterapias de base psicanalítica. Quer trabalhe-
mos sob a égide do enquadre psicanalítico, ou dentro do enquadre de uma
psicoterapia, a transferência é inevitável, porém não só a neurótica, mas
também a transferência da parte psicótica da personalidade. Em todo vín-
culo humano, a frustração é inevitável. Nem sempre a associação livre ver-
bal emerge como corolário de uma frustração. Os elementos beta fazem
parte da verdade mental da parte psicótica.

A linguagem estética, própria da arte, ajuda a dizer com outros códi-


gos (musical, poético) o que a linguagem “oficial” não admite. Essa dedu-
ção abre a discussão referida à complexidade que encerra o pensamento
psicótico. Também a complexidade própria do artifício estético, que os
poetas usam em suas narrações, por exemplo, quando determinam que um
personagem deve tornar-se cego para que sua “mente” possa ver a “realida-
de que o circunda”.
Essa “cegueira” é um artifício poético que metaforiza o ato que permi-
te à mente situar-se no infinito e romper as conjunções constantes que “dei-
xam cega a intuição mental”; é um passo para ver a verdade oculta pelas
conjunções constantes que, ao serem usadas para pensar, “não deixam ver
a verdade”.
Na obra de Shakespeare, por exemplo, tornando-se cego, o Rei Lear
pôde ver com sua mente a traição de suas duas filhas aduladoras “que o
cuidavam” para atraiçoá-lo e tirar-lhe tudo, ao contrário de Cordélia, por
ele antes rechaçada. Também, segundo a trama, quando enlouqueceu, reco-
nheceu tudo o que, lúcido, não podia reconhecer.
Entendo que, como psicanalistas, podemos contar com essa visão, a
partir do que Bion denomina “capacidade negativa”.
Isso nos abre novas complexidades. Quando, na clínica psicanalítica,
se nos evidenciam os aspectos da configuração das fantasias inconscientes
(ou da identidade do analisando) “em positivo”, podemos inferir, de nossa
observação, o universo configurado por toda a identidade negativa à qual
somos “cegos” no vínculo transferencial. A mesma é inconcebível para o
pensamento lógico, próprio da metapsicologia corrente.
Compreendo que o “outro antitético” é um objeto que mantém aberta
ao infinito a parte da personalidade que se precipitou nas conjunções cons-
tantes que o caracterizam.
Nos termos de Bion, o narcisismo é o universo das conjunções cons-
tantes. A abertura ou a intransigência do narcisismo depende da qualidade
continente do universo configurado pelas conjunções constantes.
Nos termos da teoria de Freud, essa união – conjunção constante
infinito – segue materializada por meio da relação id ego inconsciente,
id superego.
Estou convencido de que existe um id no sentido conceitual, isto é,
forças que, a partir do universo, convergem no sujeito para que adquira
uma diferenciação que lhe permita habitar em si mesmo – esse é o
narcisismo, e a partir de habitar-se, encher-se de conjunções constantes, ou
melhor, as conjunções constantes que cada um vai configurando tornam
possível que esse “cada um” se habite em si mesmo. A partir desse mo-
mento, começa-se a construir uma figura mental contornada pelas conjun-
ções constantes que, ilusoriamente, nos indicam que cada um é si mesmo,
discriminado do universo infinito.
A partir do plano mental, é muito diferente conceber que as conjun-
ções constantes têm sede de voltar ao infinito, onde está o não-diferencia-
do, como o sugere Bion, mediante sua equação O K, do que considerar,
desde uma visão positivista, que o ser humano “é” o que “é”, como nos
sugere a ontologia de Parmênides. Essa última visão conduziria à curiosi-
dade, que abre a personalidade para uma mudança evolutiva, pelo caminho
da desestruturação ou “catástrofe”, em vez de uma “mudança catastrófica”.
Por sorte, porém, existem os heróis épicos que testemunham a sua cultura e
podem voltar inteiros e fortalecidos depois das exposições perigosas a que
foram conduzidos por sua curiosidade. Entendo que, no plano mental,
Jaime Marcos Lutenberg
ocorre o mesmo com a curiosidade unida à função continente da mente,
que empurra para um saber mais, para abrir-se ao infinito. É como abrir o
ego ao id, sem que isso implique em uma “regressão”, no sentido clássico
do termo.
Como seres humanos, somos a espécie que mais transformações fez
desde o infinito, já que contamos com uma linguagem que nos permite um
pensamento em uma direção ou em outra. Esse pensamento foi mudando
com o passar dos séculos. Sofreu uma guinada muito particular, a partir do
positivismo que definiu os séculos XIX e XX em conjunto, desde o desco-
brimento da anatomia, das bactérias, etc., porém nos deixou um ônus a
respeito de que quanto mais evoluída se torna nossa capacidade de discri-
minar o universo, mais nos vamos distanciando de sua infinitude.
Na atualidade, contamos com uma enorme ajuda proveniente da
psicofarmacologia. Entretanto, parece imprescindível uma adequada arti-
culação entre o processo psicanalítico e o fornecimento dos psicofármacos
específicos. Isso concerne tanto à farmacodinâmica quanto às mudanças
psicodinâmicas. Existe uma relação “indivíduo que padece” óanalista
óinstituição psicanalítica, que é a chave para avaliar-se as diferentes variá-
veis das relações continente ó conteúdo, do processo terapêutico total.

Para mim, a idéia de infinito em Bion tem como antecedente (pré-


Bion) o conceito freudiano de “id”. O ser humano individual, ou o “Ego”
personalizado, seria o negativo do Id. Dito de outra forma, o ego
corresponde ao discriminado de um existente infinito indiscriminado, po-
rém, como tal, inconcebível. Para Bion, o vértice “O”, infinito, é o vértice
da psicanálise.
A linha de transformação “O” K guarda muitas semelhanças
conceituais com a relação que Freud concebe entre “Id” ”Ego incons-
ciente”. Freud estabeleceu a possibilidade de que, pela ação
descomplexante da pulsão de morte, as representações e as identificações
egóicas se “des-integrem” e percam seu vínculo transformacional, que vai
do id ao ego inconsciente.
Após a versão do id freudiano e do infinito de Bion, não posso deixar
de incluir, para entender o conceito, a história do conceito de infinito em
relação a Deus. De fato, na história do pensamento, em particular no
medievo, Deus era o depositário de todo o cognoscível, não só do conheci-
do. Essa perspectiva foi estudada por A. Koiré, em seus textos.
A visão emocional, que a intuição possibilita, torna visível à nossa
mente aquilo que resulta invisível aos sentidos (vista, ouvido, etc.). No
entanto, esse vértice emocional muitas vezes nos coloca no próprio limite
do tolerável, sem perceber a presença da loucura.
Ao conceber teoricamente a existência de um universo mental infini-
to, destrói-se a ilusória segurança narcisista projetada nas teorias conheci-
das. Ao mesmo tempo, o “eterno” se transforma em uma variável depen-
dente das vicissitudes cotidianas do devir mental vincular. Porém, a partir
dessa concepção, também se redefine e se faz reversível tudo o que um
psicanalista pode considerar como INCURÁVEL.
É muito difícil tolerar a incerteza que emana de desconhecer o que se
supõe que se conhece; a noção de infinito implica despojar-se da noção de
centro. As teorias podem ser usadas como centro. Submersa a noção de
verdade dentro do vértice infinito, qualquer noção de certeza, que emerge
do próprio insight (D), se converte na base que dá capacidade e contenção
mental a futuras incertezas (PS). Nessa dimensão, os conceitos que dão
consistência pétrea à rocha viva formulada por Freud, no meu entender,
não têm vigência. A diferença entre o nível psíquico e o nível mental nos
marca a cesura entre o finito e o infinito.

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