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Teaching Gauss’s law as a problem-solving tool for problems with enough symmetry is traditionally done
by using its integral form. Here we discuss the use of its differential form by solving problems with spherical,
cylindrical, or planar symmetry. We verify this approach does not lead to significant increase in difficulty compared
to the traditional one. As a matter of fact, we see the differential form avoids introduction of intermediate
abstractions, like the concept of gaussian surface, which shows some of the potentialities of this approach for
facilitating student’s understanding of this law.
Keywords: Gauss’s law, electrostatics, gaussian surface.
É prática comum, em livros sobre eletrodinâmica clássica inı́cio, então como resolver esta integral? Em geral, não
em nı́vel de graduação ouH pós-graduação, usar a forma é possı́vel fazê-lo. No entanto, se a distribuição de cargas
integral da lei de Gauss, S E · da = qint /εo , para resol- exibe simetriaH suficiente, podemosH encontrar argumentos
ver problemas com simetria suficiente [1]. Tal abordagem para escrever S E ·da como E S da e, assim, o problema
exige a especificação de superfı́cies gaussianas e possui está praticamente resolvido. Tais argumentos dependem
uma interpretação vı́vida em termos do fluxo de linhas de uma escolha sábia da superfı́cie gaussiana mas, mais
de campo elétrico. Estudantes se beneficiam desta abor- importante, também dos detalhes da estrutura do vetor
dagem por sua simplicidade visual e, matematicamente, campo elétrico — em particular, das coordenadas das
por lidar em grande parte com integrais e produtos esca- quais ele depende e das componentes vetoriais que possui.
lares simples. Pouco comum na maioria das estratégias O ponto principal é que tais detalhes dependem apenas
de ensino em cursos dos últimos anos da graduação ou das simetrias da distribuição de cargas, sendo totalmente
mesmo nos de pós-graduação é o uso da forma diferen- independentes da lei de Gauss, ainda que essenciais para
cial da lei de Gauss, ∇ · E = ρ/εo . Tradicionalmente, o uso da mesma neste contexto.
a equivalência das formulações integral e diferencial é Por que o uso bem sucedido da lei de Gauss para
apresentada de modo apenas formal, mas não através da a determinação do campo elétrico exige conhecimento
resolução de problemas — o que, acreditamos, proveria prévio de certos detalhes deste? É o conjunto de equações
ao estudante uma visão mais ampla das potencialidades ∇ · E = ρ/εo e ∇ × E = 0, junto com condições de con-
de ambas formulações. Nestas notas, buscamos preencher torno (por exemplo, como o campo se anular em pontos
essa lacuna ilustrando o uso da formulação diferencial na infinitamente distantes), que determina completamente o
resolução de problemas de eletrostática com distribuições campo elétrico. Tendo em vista o teorema de Helmholtz,
de carga suficientemente simétricas.H o divergente do campo fornece o que chamamos de sua
O uso da formulação integral, S E · da = qint /εo , componente longitudinal (irrotacional), enquanto que seu
baseia-se na resolução de uma integral do campo elétrico rotacional fornece as componentes transversas (de diver-
E sobre a área de uma superfı́cie S e na determinação gente nulo). Portanto, a lei de Gauss sozinha não é o bas-
da carga qint contida no interior desta. A questão fun- tante para se resolver um problema de eletrostática. No
damental é que não conhecemos o campo elétrico de contexto destas notas, o primeiro pedaço de informação
a respeito do campo é obtido após investigar-se suas
∗ Endereço de correspondência: andre.h.gomes@ufes.br. simetrias, o que revela sua forma vetorial e de quais co-
No caso da carga puntiforme, a densidade volumétrica onde σn é a densidade superficial uniforme de uma casca
é ρ(r) = qδ 3 (r) e a solução para o campo é facilmente carregada de raio Rn e ρvol é alguma densidade vo-
obtida comparando-se a expressão acima com a definição lumétrica que não inclui cargas puntiformes ou superfici-
da função delta de Dirac, ∇ · r̂/r2 = 4πδ 3 (r), de onde ais.
concluimos que E(r) = q/4πεo r2 , que é a lei de Coulomb Em problemas com simetria cilı́ndrica, uma distri-
para uma carga puntiforme na origem, naturalmente. No buição de cargas com tal simetria possui seu eixo longi-
caso de distribuições extensas, ρ(r) pode ser superficial tudinal coincidindo com o eixo z e satisfaz ρ(r) = ρ(s),
ou volumétrico. Para ambos casos, a Equação (1) pode considerando-se um sistema de coordenadas cilı́ndricas
ser integrada como (s, φ, z). Tal distribuição permanece inalterada mesmo
após ser girada em torno da direção axial, deslocada ao
Z h i 1
Z longo desta, ou ter o sentido desta invertido. Isto implica
d r2 E(r) = ρ(r)r2 dr. (2) que todos pontos a uma mesma distância do eixo z são
εo
equivalentes, de modo que magnitude do campo satisfaz
Quais são os limites de integração? Existem duas regiões |E(r)| = E(s), não dependendo de φ ou z. A respeito
a se considerar: uma no interior da distribuição (r < das componentes vetoriais, notemos que a distribuição
R) e outra no exterior (r > R). Não existindo cargas de cargas não se alteraria caso a orientação axial fosse
puntiformes no interior, o campo elétrico é regular nesta invertida, mas componentes axiais ou longitudinais do
região e deve ser finito na origem (r = 0). Uma boa campo mudariam de sinal. Logo, estas devem ser nulas e
escolha, portanto, é integrar-se da origem até um ponto o campo deve possuir apenas a componente radial E s .
em alguma destas regiões a uma distância r do centro. Exigir simetria cilı́ndrica como uma condição de con-
Após esta integração, o lado esquerdo da equação anterior torno para o campo elétrico impõe que sua estrutura
resulta, para ambas regiões, em seja do tipo E(r) = E(s)ŝ, a qual também satisfaz
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 1, e1701, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0109
Gomes e1701-3
O caso de uma linha de cargas, ρ(s) = λδ 2 (s), sendo λ Esta solução é a mais geral para o campo produzido
uma densidade linear uniforme, merece atenção distinta, por qualquer distribuição com simetria planar. Casos
pois deve ser comparada à definição da função delta particulares comuns são o do plano infinito, descrito
de Dirac bidimensional, ∇ · (ŝ/s) = 2πδ 2 (s), de onde por ρ(z) = σδ(z), cujo campo vemos que vale σ/2εo , e
podemos concluir que E(s) = λ/2πs, como esperado o de uma placa de espessura 2d com densidade uni-
para uma linha de cargas uniformemente espalhadas ao forme ρ, onde encontramos que o campo vale ρz/εo
longo de todo o eixo z. A distribuição ρ(s) também pode dentro da placa e ρd/εo fora dela (notando-se que seu
ser superficial ou volumétrica, de modo que para ambos valor é nulo em z = 0, como exigido por argumentos
casos a Equação (5) pode ser integrada em duas regiões de simetria). Superposições podem ser tratadas analo-
distintas: uma interior à distribuição de cargas (s < R) e gamente aos casos anteriores — por exemplo, o caso
outra exterior a esta (s > R). Integração desde a origem de uma distribuição uniforme σ em z = 0, envolta
até uma distância s resulta em por planos de cargas iguais localizados simetricamente
acima e abaixo,Ppossui densidade de carga dada por
Z s ρ(z) = σδ(z) + σn [δ(z − dn ) + δ(z + dn )], onde dn é
1
ρ(s)sds, se s < R,
a distância entre o plano xy e cada membro do n-ésimo
εo s 0
E(s) = (6) par de planos com densidade de carga σn .
1
Z R Como exemplos de soluções alternativas para proble-
ρ(s)sds, se s > R.
mas tradicionais de livros-texto, os apresentados nestas
εo s 0
notas servem para mostrar a equivalência, na prática, das
Naturalmente, essa é a solução geral para qualquer distri- duas formulações da lei de Gauss e também para expan-
buição de cargas cilindricamente simétrica, pois também dir o catálogo de técnicas matemáticas que os estudantes
engloba distribuições lineares. Por exemplo, o caso da constroem durante o curso de Fı́sica. Incidentalmente,
2
R 2 reta carregada é obtido usando-se ρ(r) = λδ (s) e
linha notamos que a resolução por meio da forma diferencial
δ (s)sdsdφ = 1 (integração em todo o espaço). Análogo contém menos passos e conceitos intermediários em com-
ao caso esférico, a distribuição com simetriaP cilı́ndrica paração com o equivalente via formulação integral. Isso
mais geral possı́vel é dada por ρ(r) = λδ 2 (s)+ σn δ(s− nos motiva a fazer o seguinte questionamento: será que
Rn ) + ρvol (r), envolvendo uma linha de cargas e distri- exemplos resolvidos por meio da formulação diferencial
buições uniformes em cascas e cilindros sólidos. também poderiam ser utilizados para melhorar a compre-
Por fim, distribuições de carga com simetria planar ensão dos estudantes a respeito do uso da lei de Gauss?
centradas na origem de um sistema Cartesiano (x, y, Ao que aparenta, estudantes em cursos introdutórios
z), são infinitas em extensão e, por exemplo, paralelas ou avançados de eletricidade e magnetismo compartilham
ao plano xy, satisfazendo ρ(r) = ρ(z). Como tais dis- praticamente as mesmas dificuldades conceituais a res-
tribuições não são afetadas por deslocamentos paralelos peito da lei de Gauss, como indicado pelos estudos das
ao plano xy, todos pontos a uma mesma distância deste Refs. [2,3]. Os autores destes identificaram equı́vocos, pro-
plano são equivalentes. Logo, a magnitude do campo vavelmente interligados, que incluem relacionar a simetria
depende apenas de z e tem-se |E(r)| = E(z). Para a do campo à carga englobada pela superfı́cie gaussiana
estrutura vetorial do campo, apenas a componente E z ou ao formato do objeto onde a carga está, ao invés
não é nula, pois as linhas de campo não podem mudar de relacioná-la à Hdensidade de carga; usar atalhos ma-
se girarmos a distribuição de cargas em torno do eixo z. temáticos, como S E · da = EA, mesmo quando estes
Finalmente, como o campo em um determinado ponto não são aplicáveis; e relacionar o campo, ao invés do fluxo,
não deve mudar se invertermos o plano carregado de diretamente a qint . Ainda que estes estudos tenham sido
cabeça para baixo, ele deve satisfazer E(z) = −E(−z). realizados fora do Brasil, acreditamos que nossa realidade
Incidentalmente, isso também implica que E = 0 em não apresente diferenças significativas.
z = 0 caso não exista uma distribuição superficial de car- Motivados por tais estudos, gostarı́amos de expor aos
gas no plano xy. Logo, distribuições com simetria planar professores de disciplinas de eletricidade e magnetismo
produzem campos da forma E(r) = E(z)ẑ, apontando avançado a possibilidade, que julgamos merecer ser explo-
para fora da distribuição se ρ > 0 ou para dentro desta rada em sala de aula, de se amenizar tais dificuldades dos
se ρ < 0. Neste caso, a lei de Gauss assume uma forma estudantes pela exposição, também, do uso da formulação
bastante simples, ∇ · E = dE(z)/dz = ρ(z)/εo . Como diferencial no ensino da lei de Gauss. Em particular, es-
E(−z) = −E(z), um bom intervalo de integração na peramos que ensinar a forma diferencial antes da integral
variável z é de −z a z, resultando em ajude a amenizar alguns dos equı́vocos mencionados ante-
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0109 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 1, e1701, 2018
e1701-4 Lei de Gauss sem superfı́cies gaussianas
Referências
[1] Exemplos tradicionais incluem D.J. Griffiths, Introduc-
tion to Electrodynamics (Prentice Hall, 1999), 3ª ed.,
e J.D. Jackson, Classical Electrodynamics (Wiley, New
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[2] C. Singh, Am. J. Phys. 74, 923 (2006).
[3] R.E. Pepper, S.V. Chasteen, S.J. Pollock and K.K. Per-
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[4] J. Guisasola, J.M. Almudı́, K. Zuzae and M. Ceberio,
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Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 1, e1701, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0109