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Osvaldo Guadagnin
RESUMO
A experiência refere-se a um secador de grãos que utiliza energia solar como fonte
de fornecimento de calor, instalado nos meses de março e abril do ano de 2002, na
propriedade do senhor Adilson Peruzzo, comunidade de Tredezeta, município de Nova
Bassano. Trata-se de um secador de leito fixo modificado em que a fornalha é substituída
por túneis plásticos baixos com a função de aquecer o ar, que posteriormente é
impulsionado por ventiladores em direção a massa de grãos. As vantagens do secador de
grãos solar são: a eliminação do uso de lenha para a secagem; o baixo custo de
implantação, operação e secagem; a dispensa de mão-de-obra durante o processo de
secagem; e a qualidade dos grãos. O secador tem capacidade de secagem para 400 sacos
por vez e pode ser usado no beneficiamento de qualquer tipo de grão. A única desvantagem
é que o tempo de secagem é cerca de cinco vezes maior que o tempo em secador a lenha.
PALAVRAS-CHAVE
CONTEXTO
lenha. Os agricultores porém concluíram que a manutenção era onerosa por causa do alto
custo de implantação (esses sistemas de secagem necessitam grandes investimentos na
unidade para a aquisição de balança, máquina de pré-limpeza, elevadores, armazéns
graneleiros e no secador); da qualidade do grão que é prejudicada, devido a alta
temperatura de secagem; da utilização de lenha em grande quantidade para secagem; do
alto custo da secagem; da necessidade de transporte para levar e posteriormente buscar o
grão, do produtor até o local do secador grupal; e da exigência do acompanhamento
constante de uma pessoa, com o mínimo de conhecimento para a operação de secagem e
armazenagem.
O próximo passo foi uma excursão ao município de Cruzeiro do Sul/RS, em
setembro de 2001, para conhecerem um secador solar em operação1
Com a visita, os agricultores concluíram que esse sistema de secagem apresentava
grandes vantagens. A idéia inicial que a comunidade possuía era construir um silo e um
secador comunitário para beneficiar todos os moradores, a proposta derivou para a
construção de secadores solares menores para atender produtores individualmente (os que
possuem áreas de cultivo maior) ou pequenos grupos de produtores (3 a 4), com objetivo
de evitar o transporte do produto da propriedade até o silo. O armazenamento passou a ser
efetuado nas propriedades através de células de alvenaria, de baixo custo, com recursos
financiados pelo PRONAF.
A experiência a ser descrita aqui refere-se à propriedade de 48 hectares do
agricultor Adilson Peruzzo, localidade de Tredezeta, município de Nova Bassano, que
cultiva 33 hectares de milho na propriedade que possui juntamente com seu sogro o Sr.
Antônio Berlatto. A propriedade tem área total de 48 hectares, produzindo, na safra
2001/2002, 4.400 sacos de milho.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
1
Esse modelo foi desenvolvido na UNICAMP (Campinas-SP) em 1975. O engenheiro agrônomo Ricardo Martins, extensionista da
EMATER/RS-ASCAR na região de Estrela/RS, tomou conhecimento da pesquisa no ano de 1997 e forneceu a assistência técnica para a
implantação do secador solar na propriedade do Sr Cleto Joner no município de Cruzeiro do Sul/RS.
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um tempo necessário de 72 horas, para baixar a umidade de um milho que entrou com 26
% de umidade para até 15 %. Nos dias nublados e com umidade relativa alta deve-se
continuar injetando ar na massa de grãos, com a utilização dos dois ventiladores de
secagem, de forma contínua, para evitar que o produto sofra aquecimento, mesmo que,
mediante essas condições, perca pouca umidade. É uma medida recomendada enquanto se
aguarda a melhora das condições climáticas.
Para o dimensionamento dos túneis e ventiladores foi levado em consideração um
estudo das condições climáticas históricas, tais como: número de horas de sol, precipitação
pluviométrica, temperaturas máximas e mínimas, (informações buscadas junto à Estação
Experimental da Fepagro, em Veranópolis).
Após a secagem dos grãos, o produtor faz a pós-limpeza (processo que demora
cerca de 4 horas a cada 400 sacos secados, sendo o tempo estabelecido pela capacidade da
máquina de limpeza) e dá destino ao grão, que pode ser a armazenagem na propriedade ou
a comercialização. Nos secadores a lenha, sempre é realizada a pré-limpeza, pois as
impurezas podem queimar devido a alta temperatura. No secador com energia solar não há
esta necessidade pois a temperatura de secagem é menor, desta forma as impurezas (grãos
partidos e o farelo do milho) poderão servir de alimento para os animais da propriedade já
que elas estarão secas, não correndo o risco de rápida deterioração.
Nesta propriedade, para o armazenamento dos grãos foi realizada uma adaptação,
utilizando a mão-de-obra familiar, em um armazém de alvenaria antigo, já existente na
propriedade, e que armazenava o milho em espigas. A modificação básica introduzida no
armazém de alvenaria foi a colocação de um piso ripado de madeira a 30 cm de altura do
chão onde, quando houver necessidade para resfriamento da massa de grãos, possa ser
injetado ar. Para a injeção desse ar também é utilizado um sistema de ar forçado com
ventilador. O produtor fez um reforço com uma viga de concreto na metade do armazém,
pois a parede foi projetada para receber milho em espigas, de menor densidade que o milho
em grãos.
Na safra de 2001/2002, foi a primeira vez que o produtor utilizou o sistema do
secador solar. Foram secados 4.250 sacos em 12 vezes, sendo que o processo iniciou-se na
primeira quinzena de abril e terminou em início de junho. Nesse ano, o tempo médio de
secagem variou entre 60 e 96 horas, ou seja, de 2 a 4 dias por lote de 400 sacas, sendo que
o tempo de secagem varia com o teor de umidade do grão e com as condições climáticas. A
umidade do grão, quando colhido, variou entre 21 a 30 %.
Descrevem-se os custos para construção do secador solar e adaptação do armazém
na tabela abaixo.
RESULTADOS
Tabela 2 - Relação de custos entre o secador solar (Adilson Peruzzo) e secador a lenha.
a) Impactos e Produtos
Esta unidade foi implantada, em 2002, na comunidade de São Brás e dela são
sócios quatro produtores. Começou a operar na safra de 2002/2003, secando e armazenado
milho e soja.
Os produtores Décio Boito, Jamir Boito, Alfonso Boito e Diógenes Boito
construíram um secador que utiliza a energia solar com capacidade para secagem de 450
sacas e armazenagem de 5.200 sacas. Na unidade, cada produtor possui uma célula com
capacidade para armazenar 1.300 sacos ou 78 toneladas. O grupo já secou e armazenou as
seguintes quantidades:
− Safra 2002/2003 secaram e armazenaram ......4.700 sacas
− Safra 2003/2004 secaram e armazenaram ......4.950 sacas
− Safra 2004/2005 secaram e armazenaram ......1.300 sacas
− Total: 10.950 sacas
A energia consumida para a secagem e movimentação dos grãos nos 11.350 sacos,
nas três safras, foi de 4.896 kW. O consumo foi possível de ser medido pois a unidade
possui medidor de consumo de energia (Contador) próprio. A preços atualizados, o custo
de secagem e movimentação de uma saca de grãos é de R$ 0,09836. (4.896 kW x R$ 0,22 :
10.950 sacas = R$ 0,09836).
2 - Unidade Mattiollo
Esta unidade foi implantada no ano de 2003, na Linha Doze, e dela fazem parte os
agricultores Adenilson Mattiollo, Alcides Mattiollo e Dirceu Capellari. Com capacidade
para secar 6.400 sacas (384 toneladas) de grãos, é composta por um secador com
capacidade de secagem de 500 sacas e quatro silos armazenadores com capacidade de
1.600 sacas cada.
Até o momento já foram secadas e armazenadas as seguintes quantidades:
− Safra 2003/2004 - 5.460 sacas de milho e soja
− Safra 2004/2005 -1.650 sacas de milho (redução do volume em decorrência da
estiagem ocorrida nesta safra)
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Esta unidade grupal está localizada na comunidade de São Brás constituída por
um secador com capacidade para secar 550 sacas de grãos por vez e de armazenar 6.200
sacas nas suas quatro unidades armazenadoras. Os agricultores Arseni, Adilson, Ademirio
e Adriano Mattiollo fazem parte da associação. Cada sócio possui uma unidade
armazenadora – silo - o que permite a armazenagem de vários tipos de grãos mantendo sua
individualidade. A unidade está sendo finalizada e poderá operar na safra de trigo no ano
de 2005.
Esta unidade está em construção e dela fazem parte os irmãos Joanir, Isair
Antônio, Sérgio, Olivar e Boito Matiollo. É constituída por dois secadores com capacidade
de secagem de 500 sacas cada um e possui oito silos armazenadores com capacidade de
1.500 sacas cada. Está localizada na comunidade da Linha Doze e tem sua conclusão
prevista para o mês de julho de 2005.
POTENCIALIDADES E LIMITES
A experiência tem enorme potencial, pois utiliza energia não poluidora (elétrica e
solar), sem necessidade de mão-de-obra especializada, com baixo custo de implantação e
de operação, mantendo a qualidade do grão inalterada, reduzindo ou eliminando o passeio
do produto. O sistema se adapta a todos os produtores, pois pode ser dimensionado para
secar 10 sacos de grãos por vez, até o número que se possa imaginar, desde que se façam
baterias de secadores. O sistema tem longa vida útil, pois não trabalha com altas
temperaturas, diminuindo em muito o custo de manutenção. Atualmente, no estado, estão
sendo desenvolvidas experiências com o secador solar para secagem de outros produtos,
como erva-mate e plantas medicinais.
O tempo longo de secagem é com certeza a maior, senão a única, desvantagem do
sistema. No caso do produtor Adilson Peruzzo que produz em média 4.400 sacas por safra
são necessárias 11 secagens de 400 sacas cada vez, isto leva até dois meses para a secagem
da safra. Se por um lado o produtor não tem gastos com mão-de-obra, há o problema de
que, pelo fato do mesmo não possuir colheitadeira própria, necessita contratá-la de
terceiros para poder colher a cada 4 ou 5 dias as 400 sacas necessárias para a secagem Isto
é um inconveniente, porém, de outro lado, possibilita ao produtor fazer a separação dos
vários tipos de grãos, por exemplo: grãos duros de grãos moles, lavoura com milho
“chuvado” (que ficou exposto a muita chuva) de lavouras normais. Além disso, como o
plantio nesta região é realizado em três meses (de outubro a dezembro) possibilita o
produtor colher o milho tão logo esteja maduro (nos meses de março a maio) e não ficar
esperando para realizar apenas uma colheita nos meses de maio a junho. É prática comum
na região o plantio e a colheita escalonada. A colheitadeira fica na comunidade por toda a
safra realizando colheitas de vários produtores alternadamente.
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