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ANFOPE

ASSOCIAÇÃO NACIONAL PELA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

RESISTÊNCIA PROPOSITIVA E CONTRA HEGEMÔNICA

POSIÇÂO DA ANFOPE SOBRE A ADESÃO AOS EDITAIS 06/2018 – PROGRAMA DE


RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA e 07/2018 -PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE
INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

A ANFOPE – Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação, entidade que
historicamente contribui na constituição de um projeto e das políticas públicas de formação de
professores, vem a público manifestar seu posicionamento quanto aos Editais CAPES n. 06/2018
e 07/2018, que tratam, respectivamente, do Programa de Residência Pedagógica (PRP) e do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid).

Reiteramos o posicionamento de crítica e resistência, manifesto em conjunto com outras


entidades cientificas, em 06 de março de 2018, e consideramos inadequado que os dois Editais
estipulem como critérios a vinculação das propostas à BNCC, pois isto fere a autonomia
universitária e conflitua com os projetos institucionais das IES, debatidos e aprovados nas
instâncias colegiadas das instituições formadoras, e mais, está em total desacordo com as
orientações da Resolução CNE 02/2015 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação Inicial e Continuada de Professores no Brasil.

Entretanto, no momento em que o Governo golpista de Michel Temer corta investimentos na


educação pública, ao mesmo tempo em que destina recursos públicos para a iniciativa privada,
entendemos que uma das formas de resistência possível é lutar para que os recursos públicos
sejam destinados às IES públicas, e nesse sentido, propomos a apresentação de projetos
institucionais que subvertam a ordem imposta e se efetivem como propostas contra
hegemônicas.

Assim, defendemos que os projetos apresentados pelas IES públicas se ancorem nos princípios
historicamente defendidos para uma formação docente crítica e referenciada socialmente, sem
submissão a concepções pragmáticas e padronizadas. Dessa forma acreditamos ser possível
ocupar o espaço da escola pública em defesa de uma concepção de educação e formação
emancipadora, que assegure condições para o exercício da análise crítica da sociedade
brasileira e da realidade educacional, promovendo a articulação entre o espaço formativo da
universidade pública e da escola pública. Para tal é importante reafirmar:

O trabalho coletivo e interdisciplinar como eixo norteador do trabalho docente, abrangendo a
gestão e a docência, problematizando as condições concretas de trabalho;

A unidade teoria-prática, indissociável em todo o percurso formativo do licenciando, garantindo


o trabalho como princípio educativo na formação profissional;

A sólida formação teórica e interdisciplinar sobre o fenômeno educacional e suas bases
históricas, políticas, sociais e curriculares, e o domínio dos conteúdos da educação básica
visando ao aprimoramento do desempenho profissional;

O compromisso social do profissional da educação, com ênfase na leitura da realidade, nas
demandas coletivas da escola e nas lutas articuladas com os movimentos sociais;
A gestão democrática da educação construída sobre a participação coletiva dos diversos
atores envolvidos no cotidiano da escola à luz do projeto político-pedagógico.

Consideramos importante para a formação dos licenciandos a possibilidade de imersão


profissional nos espaços escolares, desde os primeiros anos da formação, aproximando
Universidade e escola e estabelecendo estratégias exitosas que contribuam para a escolha pela
docência e a permanência no curso de licenciatura, respeitadas a autonomia das instituições
formadoras e seus projetos político-curriculares e das escolas-campo e seus projetos político-
pedagógicos. Nesse sentido, entendemos que a adesão aos Editais é uma forma de
resistência propositiva e não de submissão, visando ocupar o espaço da escola pública com
projetos que apresentem uma concepção de educação e formação emancipadora, promovendo
a discussão crítica e analítica do currículo, afinado com as demandas formativas e realidades
locais, e não subscrito na BNCC, mas como movimento de identidade da formação do sujeito,
da escola e da educação básica.

A perspectiva defendida é de que as propostas a serem submetidas precisam enfatizar e


fortalecer o projeto institucional de formação via implementação das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores (Resolução CNE 02/2015), assim como a concepção
de trabalho docente, formação e teoria e prática que as informa, rejeitando, portanto, o
pragmatismo e o aligeiramento da formação sintonizada unicamente com a BNCC, que reduz e
padroniza os conteúdos a serem ensinados e aprendidos no interior das escolas, ameaçando
com a redução da qualidade da escola pública a patamares mínimos.

Nesse sentido, repudiamos qualquer ingerência dos Editais nos projetos curriculares dos cursos
de licenciatura, nas suas concepções de estágios supervisionados, práticas de ensino e
formação docente, e na indução de propostas padronizadas, descontextualizadas e esvaziadas
de sentido, e conclamamos as IES a apresentarem projetos que comunguem os princípios de
uma formação comprometida com a docência como atividade intelectual e criadora, crítica e
emancipatória.

Confiantes no papel da Universidade Pública e em sua capacidade propositiva de elaborar


projetos comprometidos com uma formação de professores emancipatória, que se oponham a
BNCC valorizando o espaço formativo da escola pública, nos posicionamos pela adesão aos
editais com projetos que reforcem a autonomia universitária, sem perder de vista os princípios
que nos unem, a defesa da escola pública, gratuita, laica, inclusiva, de qualidade referenciada
no social. Assim, o consenso possível aponta para a importância de não entregarmos, sem luta
e proposições, o recurso público disponibilizado para a iniciativa privada, como forma de
resistência ao projeto neoliberal de caráter privatista e excludente: recurso público deve ser
destinado para a educação pública – bandeira que publicamente defendemos e assumimos.
2 de abril de 2018

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