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Paulo M. Oliveira*, Victor Lobo*, Victor Barroso , Fernando Moura Pires
A análise de Fourier é, claramente, um caso A busca por este tipo de métodos iniciou-se há já
paradigmático desta classe de métodos. Quando algumas décadas (ver [1]). A primeira aproximação
fazemos a decomposição de Fourier ( S ( f ) ) do sinal ao problema foi extremamente simples. Se os
métodos conhecidos não conseguiam lidar
gravado ( s ( t ) ), a variável t (tempo) desaparece da
convenientemente com períodos de observação em
nossa descrição do fenómeno, como se pode que o conteúdo espectral dos sinais sofresse
facilmente apreciar em (1). alterações, então tudo o que havia a fazer era
∞ subdividir o sinal observado em blocos
∫ s(t ) e
− j 2πft
S( f ) = dt (1) suficientemente pequenos para que, dentro de cada
−∞ um deles, o conteúdo espectral do sinal fosse
aproximadamente constante. Particularizando
Este tipo de abordagem tem a enorme vantagem novamente para o caso da transformada de Fourier,
de ser intuitiva, já que consiste, de forma mais ou tudo se resume à subdivisão do sinal observado em
menos directa (dependendo do método em causa ) na blocos menores (dentro dos quais se possa considerar
mera decomposição dos sinais recolhidos em funções o espectro constante), e à obtenção de uma
elementares (exponenciais complexas) que transformada de Fourier para cada um deles. A
correspondem directamente à noção física do dinâmica espectral do sinal sob análise estará patente
conceito de frequência. Esta vantagem é, porém, nas diferenças espectrais entre blocos sucessivos.
também a sua maior fraqueza. Uma exponencial Este procedimento (ainda hoje bastante utilizado)
complexa tem uma frequência bem definida, mas não ficou conhecido pelo nome de Short-Time Fourier
tem início nem fim. Dura para sempre. Determinar Transform (STFT).
quais são as exponenciais que constituem um sinal
diz-nos pois quais as frequências que ele contém, mas É claro que, quando pretendermos implementar a
nada nos diz sobre o momento em que essas STFT, teremos uma decisão a tomar: de que tamanho
frequências ocorreram. Se, por outro lado, deverão ser os blocos? A resposta não é fácil. Na
permanecermos no domínio do tempo, saberemos verdade, para obter a resposta correcta, precisaríamos
quando ocorreram os efeitos registados, mas não de conhecer o sinal. Mas conhecer o sinal é
teremos informação espectral sobre eles. Parece, pois, precisamente o nosso objectivo. Se utilizarmos
que a extracção de informação relativa a um dos blocos demasiados longos, perderemos a capacidade
domínios nos impede de ter informação sobre o de detectar transientes e outros fenómenos de duração
outro, e que não será possível fazê-los coexistir. inferior à de um bloco, já que cada bloco será tratado
pela transformada de Fourier como tendo um
Para piorar um pouco as coisas, todos os métodos espectro constante. Por outro lado, se, na esperança
convencionais produzirão valores médios para o de detectarmos fenómenos de curta duração,
período de observação do sinal recolhido. Este efeito reduzirmos demasiado a duração de cada um dos
é facilmente perceptível, no caso particular da blocos, então perderemos a capacidade de análise
decomposição de Fourier, pela mera existência do espectral, já que a capacidade de resolução em
integral em (1). O facto de obtermos valores médios frequência é inversamente proporcional à duração do
para o período de observação tem o efeito perverso bloco em análise. No que respeita a transientes de
de fazer com que a grande maioria dos efeitos curta duração, a escolha parece pois estar entre
transientes não sejam detectados. Um transiente de sermos capazes de os detectar mas sem os conseguir
curta duração, ainda que intenso, em pouco analisar devidamente, ou não os detectarmos de todo.
influenciará os valores médios do período de
observação. Ou seja: os métodos de análise espectral III - ANÁLISE TEMPO FREQUÊNCIA
convencionais não só não nos localizarão
temporalmente os transientes, como, ainda para mais, Na tentativa de colmatar as insuficiências da
nos dificultarão bastante a sua detecção. STFT, vários métodos têm sido sugeridos, com maior
ou menor sucesso. Desses métodos, ir-nos-emos forma eficaz, a informação que a distribuição contém.
restringir à classe das distribuições bilineares tempo- Esses observáveis poderão, depois, ser entregues a
frequência. Estas distribuições conseguem-nos um classificador automático.
fornecer uma descrição espectral do sinal recolhido
num plano bidimensional, cujos eixos são o tempo e a IV - A FUNÇÃO DE AMBIGUIDADE
frequência. Ou seja. Ao contrário dos métodos
convencionais de análise espectral, estas distribuições Mas como reduzir o número de observáveis?
conseguem caracterizar a evolução do espectro do Escolher apenas alguns dos N2 pontos? Quais? O
sinal ao longo do tempo, lidando facilmente com a problema está em que os pontos que identificam um
existência de dinâmica espectral dentro do bloco em determinado transiente poderão ser diferentes de cada
análise. Como exemplo ilustrativo do seu vez que o transiente ocorre, já que basta não termos a
desempenho, veja-se a Figura 1, onde se representa imagem do segundo transiente temporalmente
um sinal monocomponente, cuja frequência central alinhada com a imagem do primeiro para que os
varia sinusoidalmente dentro do bloco analisado. pontos que caracterizam o transiente sejam diferentes
num e noutro caso. Se conseguíssemos o alinhamento
temporal das distribuições relativas a um mesmo
transiente, poderíamos efectivamente escolher alguns
pontos característicos do transiente e, assim, reduzir a
dimensionalidade do problema. Obter este
alinhamento é normalmente, porém, um problema
bem maior do que o nosso problema inicial.
Legenda
REFERÊNCIAS