15/04/2005
ANSIANENSES ILUSTRES
Padre Doutor António Freire
E mbora muitos dos ansianenses mais in-
formados ainda recordem o nome do
Padre António Freire, pois só desapareceu do
nosso convívio há cerca de oito anos, achá-
mos por bem iniciar agora a divulgação de
alguns dos seus dados biográficos.
Trata-se, efectivamente, de um dos mais
ilustres ansianenses do século XX, cujo nome,
nos meios académicos ligados à cultura clás-
sica, é dos mais proeminentes, tanto a nível
nacional como a nível internacional.
Nascido no nosso concelho, em 1919,
quando na Europa se reconquistava a Paz,
após o desenrolar trágico da 1.ª Guerra Mun-
dial, António Freire revelar-se-ia, logo nos
bancos da escola primária, uma criança dota-
da de uma inteligência fora do comum. Por
isso foi estimulado pelo seu Professor do
Ensino Primário a prosseguir os estudos, as-
sim como por sua mãe que, por viverem hu-
mildemente, contou com o apoio de seu pri-
mo, João Mendes Lopes, que promoveu a sua
entrada na Companhia de Jesus.
Aos dezassete anos de idade inicia o seu
noviciado na Comunidade dos Jesuítas, que
souberam aproveitar as suas brilhantes qua-
lidades de inteligência e de trabalho, moldan-
do-o naquilo que ele verdadeiramente foi –
uma solenidade, em matéria de cultura clás-
sica.
Estudou em Portugal, Inglaterra e Espanha,
doutorando-se na Pontifícia Faculdade de Fi-
losofia de Braga, com a nota elevadíssima de
19 valores.
Comunicador nato, o Padre António Freire
– como gostava de ser tratado – viajou por
muitos países da Europa e do Mundo, alian-
do o trabalho (participação em Congressos
Internacionais) ao prazer de conhecer, novas
paisagens, novos povos, novos saberes e
mentalidades. Para ele era relativamente fá-
cil comunicar, porque para além do dom na-
tural, dominava várias línguas estrangeiras.
Destas viagens, com espírito aberto ao co-
nhecimento, um pouco ao sabor dos portu-
gueses de quatrocentos e quinhentos, resul-
taram, muitas vezes livros e longos artigos,
onde António Freire partilhava com os leito-
res as suas reflexões sobre o que acabava
de “ver”!
A sua produção bibliográfica não tem pa-
ralelo com qualquer outro ansianense, con-
tando-se dezenas e dezenas de títulos da sua
autoria, embora muitos de carácter pedagó-
gico e religioso, ele que foi durante muitos
anos Professor da Faculdade onde se douto-
rou.
A cidade dos Arcebispos, onde viveu a mai-
or parte da sua vida, não quis esquecer um
nome tão ilustre, pelo que, após a sua morte,
em 1997, resolveu atribuir o seu nome a uma
das suas ruas.
SERRAS DE ANSIÃO
1ª Parte
Padre Doutor António Freire (Lisboinha, 18.11.1919–
Braga, 18.2.1997)
António Freire, Padre e Professor Universitário em Bra-
ga, foi um dos ansianenses mais ilustres, não só no con-
texto nacional, mas até no internacional. Nasceu em Lisbo-
inha, na freguesia de Pousaflores, no dia 18 de Novembro
de 1919, e viria a falecer aos 77 anos de idade, em Braga,
no dia 18 de Fevereiro de 1997, vítima de doença canceríge-
na.
Desde muito novo se manifestaram os seus dotes de
inteligência, levando o seu professor de instrução primária
a incentivá-lo a continuar os estudos. Como por perto não
havia qualquer estabelecimento de ensino onde pudesse
prosseguir os estudos, e era oriundo de uma família mo-
desta, em termos de rendimentos, seu primo João Mendes
Lopes, aconselharia a sua entrada na ordem religiosa dos
Jesuítas, onde se revelaria uma séria vocação sacerdotal e
uma inteligência muito acima da média.
António Freire entraria, aos 17 anos, na Companhia de
Jesus a que ficaria ligado o resto da sua vida. Inicia o seu
noviciado em Alpendurada, indo poucos meses depois para
o Mosteiro da Costa, em Guimarães.
Depois de quatro anos de noviciado e concluído o Curso
de Filosofia, em 1945, permanece em Guimarães a leccio-
nar Latim e Grego aos noviços jesuítas.
Em 1947, depois de dois anos de magistério, inicia os
seus estudos de Teologia, primeiro na Inglaterra, em Oxford,
até 1949, e daí segue para Espanha, Granada, onde, é or-
denado sacerdote, no dia 15 de Julho de 1950.
Em 1951 e 1952 está em Salamanca, onde faz uma es-
pécie de segundo noviciado, regressando depois a Portu-
gal para retomar a sua carreira docente, fazendo os seus
últimos votos de Jesuíta no dia 2 de Fevereiro de 1955.
Doutorou-se com a elevada
classificação de 19 valores
Em Outubro de 1967, conclui na Pontifícia Faculdade de
Filosofia de Braga, o seu Doutoramento, que mereceu a
elevada classificação de 19 valores.
O jornal que então se publicava em Chão de Couce,
fundado e dirigido pelo Padre Adriano Simões Santo, e que
tinha no Padre António Freire um dos mais ilustres colabo-
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pelo Dr. Manuel Augusto Dias
radores, trouxe a notícia, na primeira página, com uma foto
alusiva ao relevante acto académico, sob o título: “Prof. Dou-
tor António Freire”:
«Na Pontifícia Faculdade de Filosofia de Braga concluiu
o seu doutoramento, apresentando duas importantes comu-
nicações o nosso ilustre conterrâneo, colaborador e amigo
sr. Padre Dr. António Freire, natural de Lisboinha, freguesia
de Pousaflores.
O acto revestiu-se da maior solenidade e brilho, tendo o
ilustre doutorando mais uma vez afirmado a sua superior
cultura, obtendo a classificação de 19 valores.
Daqui lhe enviamos, com a nossa amizade, um abraço
de felicitações».
Na sequência da conclusão, com o brilhantismo que se
acaba de ver, do doutoramento, com uma tese de cariz filo-
sófico-filológico, publicada em 1969, com o título O Concei-
to de Moira na Tragédia Grega, é convidado, ainda em 1967,
para leccionar na Faculdade de Filosofia de Braga o Curso
Filosófico-Humanístico e, posteriormente, também o de
Humanidades. Aí leccionaria várias cadeiras, designada-
mente, História da Filosofia Antiga, Filosofia, Cultura Clás-
sica, Literatura Latina e Grega e Filologia Portuguesa.
Terminou a sua carreira de Professor Universitário em
1992, passando, a partir dessa data, a orientar Mestrados,
a publicar livros e a visitar várias escolas secundárias, onde
procurou motivar os jovens alunos que frequentavam esses
estabelecimentos de ensino, para a língua portuguesa, par-
tindo das suas fontes greco-latinas, tão caras ao Dr. António
Freire que as conheceu como ninguém.
O Padre Doutor António Freire nunca
esqueceu a sua terra natal
É preciso dizer que o Padre Doutor António Freire, nunca
esqueceu a sua terra natal. Lia avidamente o jornal que
mais falava dela (Voz das Cinco Vilas), colaborou nele sem-
pre que podia e, quando os muitos afazeres académicos e
sacerdotais lhe concediam alguns momentos de tréguas,
gostava de vir à sua Lisboinha, matar saudades do bucolis-
mo local.
É ele próprio que o diz, numa entrevista publicada na Voz
das Cinco Vilas, aquando duma sua visita a Países da Eu-
ropa de Leste, a que, mais adiante voltaremos:
«(...) Leio sempre de fio a pavio “A Voz das Cinco Vilas”:
traz-me ecos longínquos das gentes e das terras que em
criança palmilhei e nas quais algumas vezes peguei já, de-
pois de padre. Embora compromissos profissionais só rara-
mente me permitam arribar por essas paragens tão bucóli-
cas, creia que eu não esqueço nem as paisagens, nem os
homens (muitos deles grandes admiradores meus e dedi-
cados amigos da minha família); e o meu único remorso é
conservar-me tão afastado de terras tão gratas e de pessoas
tão amigas. Permita-me que aqui pùblicamente agradeça e
retribua saudações simpáticas e generosas de amigos,
como: P.e Melo, P.e Manuel, P.e Adriano, P.e José Carlos, Sr.
Comendador Alberto Mendes Rosa, Prof. Oliveira, Sr. D. João,
Sr. Alfredo Caetano, Prof. M. da Silva, Fernando Marques e
tantos outros, cujos nomes, por brevidade, tenho de omitir».
A sua colaboração na Voz das Cinco Vilas, é feita, quase
sempre, através de artigos que assumem um carácter dou-
trinário e pedagógico, chamando a atenção de quem o lê
para a importância da preservação de certos valores, como
por exemplo o da amizade.
O primeiro artigo que publicou na Voz das Cinco Vilas,
logo na sua oitava edição, tem por título “Reflectindo sobre a
Amizade”, e dele, pela actualidade que ainda hoje tem, res-
pigamos a seguir, uma ou outra passagem:
«A verdadeira amizade é a união de duas almas: ou
antes, duas almas numa só; ou, como definiu S. Agostinho,
(Continua na pág. 15)