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Resenha do livro:

Leitura e escrita na escola e na formação docente: experiências, políticas e práticas

Organizadores

Jacqueline de Fátima dos Santos Morais


Jose Ricardo Carvalho
Mairce da Silva Araújo

O livro “Leitura e escrita na escola e na formação docente: experiências, políticas e práticas”


sob a organização dos professores e pesquisadores Jacqueline de Fátima dos Santos Morais,
José Ricardo Carvalho e Mairce da Silva Araújo, publicado pela editora CVR, apresenta
um conjunto de reflexões sobre princípios que estão envolvidos na formação do professor
alfabetizador em uma dimensão histórico-social, considerando os desafios da Educação
no contexto da América Latina para ensinar e aprender a ler e escrever. Inspirado em uma
concepção freiriana, o livro reúne uma coletânea de artigos de pesquisadores com a proposta de
apresentar experiências de formação decente realizadas em projetos de extensão e pesquisa em
universidades de diferentes estados do Brasil e duas cidades do México. Cada artigo traz questões
envolvidas na formação docente situadas em diferentes contextos e realidades de estados e cidades
brasileiras - Rio de Janeiro: São Gonçalo, Niterói, Santo Antônio de Pádua; São Paulo: Campinas,
Rio Claro; Mato Grosso do Sul: Dourados; Sergipe: Aracajú. Além disso, o livro traz contribuições
de pesquisadores que relatam experiência de formação docente realizada na capital do México e em
Guadalajara, Por esse motivo, todos os artigos dessa obra correspondem uma tentativa de retratar o
universo de práticas educativas e políticas públicas emancipadoras configurados na América Latina.
Por esse caminho, os relatos e as pesquisas divulgadas na coletânea assumem o compromisso de
romper com práticas formadoras e educativas restritas ao domínio dogmático e tecnicista.

Para cumprir o desafio de apresentar reflexões críticas sobre políticas educativas


excludentes e homogeneizadoras que expiram práticas curriculares mecânicas e destituída de
significação que afastam os alunos da cultura escrita, o livro propõe a exibição de experiências
promotoras de práticas formativas que atendam a demanda das classes populares, divulgando
experiências de cunho transformador e emancipador no plano da relação ensino-aprendizagem da
leitura e da escrita, tomando como ponto de partida a valorização da cultura local e do conhecimento
internalizado que o aluno possui, bem como a compreensão da dinâmica do cotidiano escolar.
Sendo assim, o livro é organizado em três eixos: Leitura e Escrita na Escola; Leitura e Escrita na
Formação Docente; Leitura e Escrita: Outras Experiências, Políticas e Práticas.

Na seção do 1º eixo: Leitura e Escrita na Escola, composta por 5 artigos, encontram-se


reflexões sobre os processos de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita na escola. No
primeiro artigo ‘É assim: quando eu brinco de escrever, escrever é brincar’ as
crianças e o seu linguagear” as autoras, Carmen Lucia Vidal Perez e Monica Ledo
Silvestri, apresentam uma pesquisa realizada em classes de alfabetização, na qual se
observa os saberes das crianças e o processo de diferentes lógicas operatórias,
considerando espaços e tempos cognitivos, no qual se consubstancia a experiência
estéticas, éticas e o jeitos de fazer no processo de construção do conhecimento. No
segundo artigo da seção: “Entre múltiplas alfabetizações, práticas alfabetizadoras e
reflexões docentes”, Maria Fernanda Pereira Buciano, Ítala Nair Tomei Rizzo e
Guilherme do Val Toledo Prado, relatam a implementação do Projeto Piloto da Escola
de Educação Integral, na rede municipal de Campinas (São Paulo) realizado por duas
alfabetizadoras. Observa-se a organização do tempo, dos planejamentos, dos espaços
coletivos, pelas professoras polivalentes com as crianças dos primeiros anos.

Já no artigo “Movimentos de aprender e ensinar no cotidiano escolar da educação


infantil”, Cristiana Callai descreve como crianças organizam suas brincadeiras,
interagem entre os pares, resolvem as tensões dentro do grupo, negociam papéis, criam
roteiros em uma classe de Educação Infantil. No artigo seguinte “La alfabetización
inicial: de la risa a la prisa” de Angélica Jiménez Robles acompanhamos a discussão
dos dilemas da alfabetização inicial a partir de três perguntas: “em que idade se considera
conveniente começar a ensinar a ler e escrever? Se a alfabetização é uma conquista
humana de longa duração porque se pretende que as crianças adquiram a lectoescritura
de maneira rápida, como uma cultura “Fast Alfabetização”? E, por último: a pressa no
ensino da língua pode retirar o riso e o prazer em ler e escrever, chegando a constituir
uma “violência alfabética”?” As reflexões convidam o leitor a refletir sobre formação de
leitores e escritores competentes nos sistemas educativos.

O último artigo do 1º eixo, “Diálogos interculturais escola/comunidade:


repercussões no processo de alfabetização das crianças das classes populares”,
Mairce da Silva Araújo e Nádia Cristina de Lima Rodrigues, analisam o processo de
alfabetização em uma escola de classes multisseriadas que atende a uma comunidade
tradicional. As autoras investigam até que ponto uma perspectiva monocultural, que
transforma diferenças culturais em desigualdades sociais, sobrepõe novos empecilhos ao
processo de apropriação da leitura e da escrita. Nesse contexto, as autoras buscam também
encontrar pistas para a produção de um diálogo intercultural na escola, que contribua para
a re-valorização das vozes, dos conhecimentos, das práticas sociais das populações
historicamente excluídas da escola.

Abrindo o 2º Eixo: Leitura e Escrita na Formação Docente, composta por 7 artigos,


tem como foco os processos de formação docente que ajudam a pensar sobre o processo
de construção da leitura e da escrita, Eliane Greice Davanço Nogueira e Sandra Novais
Sousa em artigo intitulado “As narrativas de si e os ateliês biográficos: ressignificando
os sentidos da alfabetização em ambientes (auto) formativos”, analisam políticas de
intervenção da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul, direcionadas
para a formação dos professores alfabetizadores, investigam as práticas pedagógicas
referentes à alfabetização inicial, a partir da narrativa das professoras, tendo como
referencial o método auto (biográfico). No artigo seguinte, “Formação como
movimento alteritário”, Marisol Barenco de Mello e Jader Janer Moreira Lopes,
analisam o desenvolvimento de propostas pedagógicas que apostam na autonomia do
aluno no processo de construção de seu conhecimento e a importância do professor
mediador que ajuda o aluno a promover autocrítica e a tomada de decisões diante de
contextos concretos de aprendizagem. No artigo “Escrita na formação inicial: partilha
e atenção ao outro”, a autora Laura Noemi Chaluh, compartilha uma experiência de
formação no Ensino Superior, construída a partir de projetos que articulam duas
instâncias formativas: projeto de pesquisa e intervenção desenvolvido em escolas dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental e um curso de extensão, do qual participam alunos
da graduação em Pedagogia e educadores da rede municipal de ensino. No quarto artigo
da 2ª seção “Alfabetização na teia da significação em formação de professores”, Iara
Maria Campelo Lima apresenta as reflexões sobre o processo de formação continuada do
professor alfabetizador, elegendo a escrita narrativa como eixo da discussão. a autora
abarca o caminhar epistemológico da pesquisa, a articulação da escrita narrativa com a
formação do professor alfabetizador e a ressignificação conceitual da alfabetização. Em
seguida, o artigo “Hablar, leer, escribir, sentir, imaginar. La necesidad de crear una
narrativa desde la cultura escrita y el ser maestra/o en procesos de formación
docente” de Jorge Alberto Chona Portillo trata de questões que envolvem a leitura e
produção escrita de textos significativos tanto para os estudantes quanto para os docentes.
A partir de sua experiência como professor e formador de professores, o autor defende a
importância de recuperar o diálogo no espaço escolar a fim de possibilitar a produção da
palavra que permita imaginação e emancipação. No capítulo do 2º eixo “Desafios da
leitura e escrita em processos formativos de professores/as das infâncias e de jovens
e adultos”, as autoras Maria Tereza Goudard Tavares e Marcia Soares de Alvarenga
propõe uma reflexão sobre as políticas de formação de professores/as na atualidade. As
autoras apresentam um quadro de questionamentos “por que formar”, “como deve ser a
formação de professores/as?”, “Qual o papel da leitura e da escrita nos processos
formativos de professores?”, dentre outras questões. As autoras compartilham
experiências realizadas no espaço da Faculdade de Formação de Professores da UERJ,
por meio da apresentação de registros narrativos escritos por estudantes de Pedagogia no
qual denominam de Cadernos de Formação. Fechando o segundo eixo, Rosaura Soligo
e Guilherme do Val Toledo Prado, no capítulo intitulado “A experiência da formação
para alfabetizar”, realizam uma ampla reflexão sobre a formação do professor
alfabetizador, buscando compreender o papel da experiência pessoal de aprendizagem e
formação institucional como processos que atuam na identidade do professor. O capítulo
aborda uma série de desafios que são colocados aos professores para ampliar
conhecimentos vinculados a práticas docentes que garantam a aprendizagem dos alunos;
bem como a compreensão dos sentidos da instituição escolar para o ofício docente. Sendo
assim, os autores buscam compreender o papel da cultura profissional e a influência
profissional dos mais experientes no processo de formação docente.

O 3º Eixo: Leitura e Escrita: Outras Experiências, Políticas e Práticas, composto por


5 artigos, tem em comum a proposta de refletir sobre experiências de leitura e escritura
que repercutem sobre práticas desenvolvidas no chão da escola e no processo formativo
do professor para além do território nacional. Mitsi Pinheiro de Lacerda abre o eixo com
capítulo “Alfabetizar: uma prática pensada” realizando uma reflexão sobre os
princípios que configuram o ato de conhecer e sua relação com a prática alfabetizadora.
Para tanto, a autora apresenta um conjunto de indagações sobre a dinâmica das estruturas
formativas que se consolidam nos cursos de formação continuada oferecidos a
alfabetizadoras. A autora faz uma leitura crítica das formações que assumem o desenho
de instrução programada, com pretensão de efeito multiplicador. Na sequência, o capítulo
“professoras alfabetizadoras: sentidos produzidos sobre a implementação de
projetos oficiais nas escolas cariocas”, as autoras Jacqueline de Fatima dos Santos
Morais e Aline Gomes da Silva apresentam dados de uma pesquisa de mestrado que busca
compreender a contexto educacional que envolve a formação de professoras
alfabetizadoras do Rio de Janeiro. No contexto da pesquisa, ocorre um trabalho de escuta
das professoras que relatam experiências e ações docentes vinculadas à universidade e a
programas de formação. As professoras descrevem suas experiências formativas a partir
de conversas que rememoram, refletem e ressignificam suas práticas alfabetizadoras em
meio ao processo narrativo, analisando o contexto onde as desenvolvem. O terceiro artigo
da seção “Alteridade, diferença e singularidade: notas para pensar uma
alfabetização como experiência” de Tiago Ribeiro, Carmen Sanches Sampaio e Ana
Paula Venâncio, apresentam uma pesquisa longitudinal realizada em uma escola pública
localizada na zona norte da cidade do Rio de Janeiro em que se observa movimento
alfabetizador constituído pela curiosidade. Na sequência, o artigo “Autoría entre vocês”
de Sarah Corona Berkin discute um projeto educativo que integra educadores indígenas
mexicanos wixáritari e professores da Universidade de Guadalajara. Tal projeto se
sustenta na necessidade de educar para a convivência com a diferença, tendo resultado
em várias publicações e materiais didáticos produzidos de forma dialógica e horizontal.
Fechando a sequência do 3º eixo, o artigo “A formação do professor leitor-narrador
de textos ficcionais em atividades realizadas no projeto PIBID” escrito por José
Ricardo Carvalho da Silva relata o processo de formação de professores voltados para a
atividade de contação de histórias nos anos iniciais do ensino fundamental. O autor
apresenta princípios para se trabalhar com contos de tradição popular na sala de aula,
apresentando uma série de elementos capazes de expandir o gosto pela língua, pela
literatura e pelos conteúdos que estas narrativas trazem.

Observamos que os artigos que compõe este livro configuram diferentes perspectivas e
pressupostos, nos permitem pensar sobre os desafios da formação docente, considerando o papel da
universidade e do cotidiano escolar como espaços de produção e apropriação da leitura e da escrita.
As discussões inseridas nessa obra se configura para além do domínio técnico da lecto-escritura,
apostando numa dinâmica complexa para compreender as relações envolvidas entre ler, escrever e
formar-se professor/a alfabetizador/a.”

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