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(© Manuscrito Regius, ou Poema Re- ‘gins, 0 mais antigo documento ma: génico conhecido, com 794 versos escritos possivelmente em 1390, que hoje taz parte do acervo do Mu- seu Britinico, foi descoberto em 1839 pelo antiquério profano Ja- mes O. Halliwell. Por isso, ¢ tam- bém conhecido como Manuserito Halliwell © Poema Regits pode ser divido em tués partes. A primeira, da mesma maneia como fazem todas as Olid Charges (Antigas Obrigagées}, des- reve a historia da Arte a partir das proposigdes de Euelides. Prossesue com uma narragio dividida em 15 artigos e quinze pontos. ara fina- lizar, a partir do verso 471, apresen- ta uma miscelinea de outros regu lamentos, narrativas ¢ recomenda- bes Entre 08 versos 498 535, hé uma interessante referéncia a arte dos quatro coroados, ou, em latim, “Ars quatuor coronatorim”, composta pela oragao seguinte, traduzida ficl- ‘mente, mas sem compromisso com arima: *Supliquemos a0 nosso Deus Todo -Poderoso © a Virgem Maria / Para que sejam protegidos esses artigos 7B esses pontos, / Como os quatro martires, / Que no offcio foram con- siderados com grande honra,’ Eles foram os melhores magons da Ter- 1a, / Escultores em madeira, fabri cantes de imagens, / O imperador, que tinha alta estima/ Por esses no- bres obreiros, / Ordenou-lhes que criassem uma estitua de uma ima- gem, / Que seria venerada. /Ele que- ria assim desviar / O povo da lei de Cristo, /Esses homens tinham f€ na Jei de Cristo / E no seu oficio, que nndo desejavam desonrar. /Eles ado- ravam Deus ¢ 0 seu ensinamento, 7B desejavam permanecer ao seu servigo/ Eles eran homens puros ¢ sinceros, / Que viviam segundo a lei divina; / N3o queriam de forma al- sguma criar idolos, / Apesar do bene- ficio que podiatn obter com isso. / Recusaram-se a criar uma imitagio de Deus. /Eles no fariam isso, sob pena de desgraga; / Nao queriam re- nuneiar a sua fé, / E se perder nos ‘caminhos de uma falsa lei, / O im- perador irado ordenou que fossem detidos, / E mantidos em um pro- fundo calabougo. / Quanto mais ele 0 detinha prisioneitos, / Mais eles viviam na graga de Cristo. / Quan- do o rei viu que era imiitil, / Orde- rou que os matassem. / Se q rem saber mais, / Vocés encontra- 140 no livro / Da lenda dos santos, Os nomes dos Quatro Coroados, 0s seus famosos festejos si0 c0- inhecidos talvez por todos, / Sua da- ta ocorre no oitavo dia apés /O Dia de Todos 0s Santos” Esta referencia aos Quatro Coroa- dos invoca o clima de perseguicio martirios aos eristaos durante 0 sé- culo I, quando a intolerincia © 0 fanatisme religioso levaram ao sa- crificio milhares de fitis da nova doutrina, ade Cristo. Naquele mo- mento, ela encontrava forte tes téncia entre os adeptos da religido dominante, que reverenciava deu- ‘ses mitol6gicos e divindades pagas. Na época, quatro pedreiros das mi- nas de Parnnonia {antiga Tugoslavial, eximios cortadores de pedra, que atendiam pelos nomes de Cléudio, Castério, Nicostrato e Sinfrénio, por serem discretamente cristios, ecusaram-se atender a ordem do imperador Diocleciano, que no mo- ‘mento se cncontrava inspecionando 0s trabalhos nas minas, para fazer uma estétua de Eseulépio, o deus da medicina, Diz a mitologia que Esculépio, filho do deus sol Apolo, vinha adquirin- do tamanha eficiéncia na sua arte curadora que, além de curar os seus pacientes, conseguira descobrir um modo de ressuscitar aqueles que a Morte Ihe raptara em embates an- teriores, O tio eo pai de Esculipio, Meretirio © Apolo, respectivamente, rejubila- ram-se orgulhosos pelos feitos do ente querido e foram comemorar feliz noticia junto a Japiter, o deus dos deuses e, por que nao dizer, or gulhoso avé do médico mais prodi- #i0s0 que © mundo ja tivera, Porém, © irmao de Japiter, Plutio, que governava os infernos, mandou ‘0 scu emissario favorito, 0 barquei- ro infernal Caronte, até 0 Olimpo para argumentar que estaria haven- do uma subversio da ordem univer sal, pois as resides subterraneas, as profundezas, estavam ficando va- zias, Até a Moree 4 estava deses- petada ¢ muito adoentada, tudo em conseqiéncia da sua angistia por falta de clientes Como bom politico, Jipiter nao te- ve outra saida, 2 nao ser chamar Es- ceuldpio as falas, = Desculpe, meu neto, mas tenho que tomar providéncias ~ disse Ji piter, pondo a mio suavemente no ombro de Esculipio ~ Vood esta prestes a provocar uma verdadeira revolugdo na terra, nos céus e nos infernos. O meu irmdo Plutdo ja esid impaciente. Mas ndo se preo- cupe, a partir de agora farei de vo- cé urna bela constelacdo no firma- mento! ~ Grande coisa! ~ disse Esculapio ~ Vocé, meu avé, deveria parar com esta brincadeira de resolver os pro- blemas mais graves transformando ‘05 outros em constelacdo! ‘Comegava ai a nascer entre os mor- tais 0 culto a Esculépio. Evidén- cia que explica porque imperador Diocleciano tinha tanta devocio por este deus, principalmente em uma época em que @ medicina no estava tio evolufda. Portanto, jus- tifica-se por isso a determinacao do imperador em castigar agucles que teriam cometido erimes de heresia. Mas Diocleciano, em consideragao a habilidade deles, chamou o tribu- ‘no Lampédio e disse: - Prenda-os, mas 96 se eles se recu- sarem oferecer sacrificios a0 deus sol Apolo é que serao agoitados com cescorpides, Entretanto, se eles concordarem em fazé-lo, trate-os com bondade. Dias apés a prisio, Lampadio, de- eepcionado © desanimado porque ‘98 quatro nao concordavam, de for- ma nenhuma, em renegar a f€ cris tem favor do culto a Apolo, come- ‘gou a acoiti-los e mandou anunciar ‘que estava fazendo isto porque eles tinham desobedecido as ordens do imperador. Sem mais nem menos, ‘um belo dia, Lampidio foi acome- tido de um mal stibito e morreu na cadeira em que descansava, entre um castigo € outro, Os familiares do morto, assim que souberam da noticia, correram até o imperador e acusaram 05 quatro pela morte do tribuno. Diocleciano, quando soube 0 gue tinha acontecido, ordenou que fos sem feitos quatro caixées de chum- bo para que, dentro deles, os quatro figiscristios fossem lanados vivos no rio Danibio. Mas antes, os qua- ‘to ganharam 2 coroa do martiio, que consistia de uma coroa de ferro, fixada na cabega através de martela- das em cravos pontiagudos. Dai a denominagao de Os Quatro Marti- res Coroados. Por esse motivo, 05 Quatro Marti- res Coroados foram, para os primi- tivos Magons Operativos, o que So Jodo Batista e Sao Joao Evangelis- ta foram, e so, para 0s seus suces: sores, 0s Franco-Macons Especu- Iativos. Em homenagem a eles, a famosa Loja de Pesquisas Quatuor Coronati n° 2076, de Londres, é as- sim chamada, ‘A fama desta Loja de Pesquisa ¢ tal vez o principal caminho que leva ‘muitos Franco-Magons ao conheci- mento da antiga lenda dos Quatro Coroados, porque exceto no Poema Regius nao se tem noticia de outra referéncia em documentos antigos. A Loja, jurisdicionada a Grande Lo ja Unida da Inglaterra, foi estabele- cida em 1886 com a finalidade de estudar a hist6ria, 0s simbolos ¢ as lendas da Franco-Magonaria. Na realidade, € uma sociedade literé- ria ¢ arqueol6gica macénica, limita- da a quarenta membros plenos, mas com um Circulo de Correspondén- ia, estabelecide jé em 1887, que conta com milhares de s6cios espa- Thados por todas as partes do plane- ta, Os trabalhos da Loja sio publi- cados sob o titulo de Ars Quatuor Goronatorum, titulo latino ja men- cionado inserido como epigrafe no Poema Regis. Por outro lado, a lgreja Catdlica tem uma basiliea em Roma, a dos Qua- ‘tro Martires Coroados, ou, em idio- ma italiano, Santé Quattro Corona +i, construida provavelmente no sé- culo VI. A Igreja Anglicana faz tam- bém a sua reveréncia com a capela dos Quatro Mairtires Coroados, em Canterbury, Inglaterra, erguida em 619. Curiosamente, a Igreja Catdlica, mesmo com nome Quattro, co: memora nio quatro, mas cinco nrtires coroados, porque, segundo a tradigio, havia um quinto pedrei- 0, chamado Simplicio, que foi tor- turado e morto junto com os outros quatro. Simplicio teria sido convertido so cristianismo. Quando trabalhava, nio entendia porque as suas ferra- ‘mentas nao produziam o mesmo re~ sultado positivo observado nos tra- halhos dos quatro cristios. Um dia, ele chegou até Claudio e disse: = Fortalece, eu te pego, as minhas ferramentas, que 56 estdo a que- rar. Claudio tomou as maos dele © dis- ~ Em nome do Senhor Jesus Cristo, aqui em diate sejar estes ferra- ‘mentas fortes ¢fiis ao teu trabalho. A partir daf, Simplicio fez bem o seu trabalho e teve sucesso em tu- do aquilo que tentou fazer. Surpre- so com a mudanga, ele indagou e foi convencido que tudo tinha sido fru- to da sua nova {6 em Cristo. Cons- quia. Portanto, os quatro coroados seriam cinco se nao tivessem omi- tido 0 bendito Simplicio na conta- gem. ‘Ainda hé uma tereeira versio, a que indica que os mértires nao foram ‘nem quatro e nem cinco, mas nove santos coroados. Diza lenda que quando Diocleciano regressou a Roma, edificou um tem- plo dedicado ao culto de Apolo, ou de Esculépio, E deu ordem para que todos os seus soldados rendessem hhomenagem e queimassem incen- 0 a0s pés das imagens dos deuses. Quatro conturiées eristios, que ne- garam submeterse, foram agoita- dos até a morte e seus corpos lan- ados aos cdes. Estes soldados mar- tirizados atenderiam pelos nomes de Severo, Severiano, Corp6foro ¢ Vitério. Posteriormente, 0 bispo de Roma mandou edificar uma igreja como 0 nome de Os Quatro Marti- 1es Coroados, em meméria dos n0- ve santos sacrificados, edeterminow que a sua festa fosse celebrada no dia 8 de novembro Embora a Igreja Catdlica tenha 0 cuidado de celebrar anualmente, na data antes citada, a festa dos Qua- tro Santos Coroados, seus missais e brevidrios nao trazem maiores in formagdes sobre a acio destes ho- mens santos. O fato é um pouco es- tranho, mas a explicagio talvez se- ja porque a Igreja de Roma sempre ‘manteve um maior ou menor grau de antagonismo em relacio a Fran- co-Magonaria, mesmo durante a fa- se operativa da Fraternidade. Pelo ‘menos, € 0 que parece. a Bibliografia consultada: Mackey, A.G. ~ Encyclopedia of Freemasonry, New York, 1874 Poema Regius, Manuserito, 1390. ‘Mackey, A.G. - The symbolism of Freemasonry, Clark Maynard, New ‘York, 1882. Franchini, A.S. & Seganfredo, C. - As 100 melhores hist6rias da mito- Jogia, L&PM Editores, Porto Alegre, 2008. Girardi, J.1. - Do Meio-Dia a Meia “Noite. Ed. Nova Letra, Blumenau, 2006. Costa, W.V. ~ Magonaria ~ Escola de Mistérios. Madras, Sao Paulo, 2006.

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