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Fatores de Influência na Compatibilidade de

Cabos Protegidos, Isoladores e Acessórios


Utilizados em Redes Aéreas Compactas de
Distribuição de Energia Elétrica, sob
Condições de Multi-estressamento
M. Munaro, LACTEC, F. Piazza, LACTEC R. G., P. de Souza, LACTEC J. Ferracin, LACTEC, J. Tomioka,
LACTEC, A. Ruvolo, LACTEC e L. E. Linero, COPEL.

RESUMO cuitos na mesma "posteação" e aumentando a confiabilidade e


Neste artigo é descrito a implementação e os principais resul- segurança do sistema de distribuição aéreo [1,2].
tados de laboratório para realização de ensaio de compatibili- Basicamente, uma rede aérea compacta é composta
dade em instalações de distribuição elétrica segundo Norma
CODI 3.2.18.24.0. O sistema montado permite a utilização por três condutores cobertos com camada de material
da instrumentação como ferramenta de investigação e avalia- polimérico apoiados em espaçadores ou em separadores,
ção de desempenho de equipamentos e acessórios sob con- também em material polimérico, sustentados por um cabo
dições ambientais simuladas e demais solicitações inerentes a
mensageiro de aço. Os materiais poliméricos utilizados na
sistemas elétricos. Destaca-se que os resultados de envelheci-
mento acelerado, para dois trechos de rede compacta, em la- cobertura dos cabos são o polietileno reticulado (XLPE) e
boratório por 500 horas, reproduziu o ocorrido em ambiente o polietileno de alta densidade (HDPE), podendo atual-
marítimo de forte agressividade em 9 meses, ambos avaliados mente ser encontrado em cabo com cobertura em dupla
por inspeção visual e hidrofobicidade da superfície de alguns
acessórios. Com os resultados alcançados neste projeto e ex- camada [camada interna em polietileno de baixa densidade
periência adquirida em vários outros estudos já realizados, (LDPE) ou XLPE e externa em HDPE].
verifica-se que o estado de degradação da rede é fortemente Além dos espaçadores e separadores, geralmente em
afetado pelo design dos acessórios utilizados na rede.
HDPE, outros elementos envolvidos na configuração de
PALAVRAS-CHAVE uma rede aérea compacta são os isoladores e acessórios de
Ensaio de Compatibilidade, Envelhecimento Acelerado, Rede amarração (anéis, laços e fios), os quais podem ser em
Compacta, Multiestressamento.
HDPE, EPDM e borracha de silicone [8].
Por não possuírem blindagem metálica e apresenta-
rem campo elétrico não-nulo em sua superfície, os cabos
I. INTRODUÇÃO
utilizados nas redes compactas não podem ser considerados
As redes aéreas compactas surgiram na década de 50, nos isolados, apenas protegidos ou cobertos. A forma construti-
Estados Unidos, quando Bill Hendrix desenvolveu um sistema va destes cabos permite que os mesmos fiquem mais próxi-
que utilizava cabos cobertos, denominado cabo-espaçador mos uns dos outros, bem como de galhos de árvores, sem
(spacer cable). Este sistema foi desenvolvido para que a rede risco de curto-circuito propiciando a diminuição das inter-
aérea tivesse uma compactação próxima a encontrada nas re- rupções do fornecimento de energia elétrica, com conseqüen-
des subterrâneas, possibilitando a utilização de até quatro cir- te melhora de sua qualidade. Além da diminuição do túnel
de poda, obtém-se uma melhoria na estética visual e dimi-
nuição do número de podas [3]. Em resumo, este tipo de
M. Munaro trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento rede apresenta a versatilidade e economia própria de um
– LACTEC (e-mail: munaro@lactec.org.br).
sistema aéreo convencional, com a vantagem de
F. Piazza trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento –
LACTEC (e-mail: piazza@lactec.org.br). compactação e confiabilidade próprias de um sistema utili-
G. P. de Souza trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvi- zando cabos isolados.
mento – LACTEC (e-mail: gabriel@lactec.org.br). Redes aéreas compactas têm sido extensivamente uti-
R. J. Ferracin trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvi-
lizadas no Brasil como uma solução eficaz para distribui-
mento – LACTEC (e-mail: rferracin@lactec.org.br).
J. Tomioka trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento ção de energia elétrica, a custos economicamente compa-
– LACTEC (e-mail: tomioka@lactec.org.br). tíveis com a realidade nacional [4,5,6]. A utilização da rede
A. R. Filho trabalha na Universidade Federal de São Carlos – UFUSCar protegida traz inúmeros benefícios ecológicos, diminuição
(e-mail: adhemar@power.ufscar.br).
da poluição visual e melhoria da confiabilidade com rela-
L.E. Linero trabalha na Companhia Paranaense de Energia – COPEL
(e-mail: linero@COPEL.com). ção ao fornecimento de energia [7,8].

II Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica 555


A rede protegida tem seu sistema isolante constitu- pósitos, na presença de umidade, podem reduzir drasti-
ído por materiais poliméricos com formulações, quanti- camente a resistência superficial da isolação, criando
dade, cargas, aditivos e processamentos diferentes, que assim condições para fluir correntes entre pontos de di-
podem alterar as características físico-químicas dos ma- ferentes potenciais. Correntes superficiais circulando
teriais. A geometria dos espaçadores, isoladores e aces- continuamente através do filme condutor, podem cau-
sórios de fixação afetam a distribuição de campo elétri- sar evaporação não-uniforme, formando as chamadas
co e o aprisionamento de contaminantes e poluentes. O bandas secas. Consequentemente, o campo elétrico tor-
sistema aéreo de distribuição esta sujeito ainda, a solici- na-se não-homogêneo, podendo provocar a ocorrência
tações múltiplas como variações de temperatura, varia- de descargas superficiais que carbonizam o material e
ções do campo elétrico, solicitações mecânicas e influ- iniciam a formação de trilhas elétricas. Com a carboni-
ência do meio podendo portanto apresentar diferentes zação, aumenta-se a não-homogeneidade do potencial
comportamentos frente às diversas solicitações [9,10]. superficial, contribuindo assim para a aceleração do fe-
O sinergismo destes fatores degrada os materiais nômeno de trilhamento elétrico. Quando este fenôme-
poliméricos e podem causar para o sistema isolante a no ocorre sobre uma área limitada do polímero, pode
perda dos requisitos mínimos de suportabilidade para suceder a erosão. Além do estresse elétrico, outros fa-
continuidade de operação [11]. tores podem ter influência no envelhecimento superfici-
Entretanto, pouco se conhece sobre os mecanismos al de polímeros isolantes, tais como o estresse mecâni-
de envelhecimento dominante nos materiais poliméricos co, estresse térmico e ambiental, notadamente a inci-
utilizados em redes compactas, sob condição de multi- dência de radiação ultravioleta (UV).
estressamento. Os principais mecanismos de envelheci- Os fenômenos de trilhamento e erosão ocorrem nos
mento por estresse elétrico que ocorrem em cabos co- pontos de contato do cabo com objetos aterrados, tais
bertos empregados em redes aéreas compactas são o como galhos de árvores, e nos pontos de amarração do
trilhamento elétrico (tracking) e a erosão (erosion). cabo nos isoladores. Além disso, o uso de diferentes
Trilhamento elétrico é um mecanismo de envelhecimen- materiais nos cabos, isoladores e acessórios em diver-
to superficial do dielétrico que produz trilhas elétricas sos arranjos em uma mesma rede compacta pode acar-
como resultado da ação de descargas elétricas próximas retar a ocorrência de pontos de concentração de campo
ou na superfície do material isolante; erosão é a perda elétrico e de acumulação de carga espacial na interface
localizada e gradual de massa que ocorre pela ação de (efeito Maxwell - Wagner) [16,17].
descargas superficiais [12,13]. Este trabalho tem por objetivo: (1) Analisar o de-
Sabe-se que a estrutura molecular da superfície de sempenho de diferentes configurações cabo protegido /
Materiais

um só-lido difere do resto do material e a superfície pode isolador / acessórios, usualmente utilizadas na área de
ainda ser oxidada ou alterada quimicamente pelo ar ou concessão da COPEL, sob condições de multiestressa-
gases industriais, especialmente na presença de luz so- mento; (2) Desenvolver técnicas de medidas elétricas,
lar ou em operações a altas temperaturas [14,15]. Mui- dielétricas e físico-químicas para estudos de compatibi-
tos fatores afetam as propriedades da superfície do iso- lidade de cabos protegidos, isoladores e acessórios uti-
lante, podendo ser citados: aspectos topográficos lizando diferentes polímeros como isolantes sujeitos à
(rugosidade, presença de trincas); natureza molecular condição de multiestressamento. (3); Avaliar as propri-
(cristalino, amorfo); presença de impurezas na superfí- edades elétricas, dielétricas e físico-químicas de políme-
cie (presença de fibras) em contornos de grão ou em ros utilizados como isolante em cabos protegidos, iso-
regiões amorfas entre cristalitos nos polímeros. A ma- ladores e acessórios em redes aéreas compactas de dis-
neira pela qual os contaminantes depositamse na super- tribuição de energia elétrica; (4) Identificar os mecanis-
fície do isolante é especialmente importante no seu de- mos de envelhecimento nas diversas situações experi-
sempenho em serviço. Esta situação é difícil de des- mentais analisadas, notadamente os processos ocorren-
crever de maneira quantitativa, devido à quantidade de do nas interfaces polímero / polímero, polímero / cerâ-
parâmetros envolvidos. A presença, natureza e carac- mica e polímero / metal; (5) Identificar os mecanismos
terísticas de espalhamento do líquido contaminante na de ruptura dielétrica em interfaces polímero / polímero,
superfície são especialmente importantes. polímero / cerâmica e polímero / metal; (6) Desenvolver
O alto valor de resistividade superficial dos modelos teóricos de acumulação de carga espacial nas
polímeros isolantes usualmente empregados em redes interfaces polímero / polímero e analisar suas conseqü-
compactas limita a circulação de correntes superficiais ências para a determinação da vida útil remanescente de
responsáveis pelo fenômeno de trilhamento. Entretan- cabos, isoladores e acessórios para rede aérea compac-
to, fatores ambientais tais como (i) contaminação su- ta e (7) Formar e atualizar recursos humanos e banco de
perficial, (ii) poluentes industriais, (iii) sal e outros de- dados dos resultados.

556 ANAIS DO II CITENEL / 2003


II. ENVELHECIMENTO DE SISTEMAS R1 – R2 → R1 + R2 (a)
ISOLANTES POLIMÉRICOS
R +
O2 → RO2 (b)
Apesar das vantagens apresentadas pela rede aérea com-
pacta, esta apresenta alguns problemas de origem intrínseca RO2 + RH → ROOH + R (c)
e extrínseca aos materiais empregados. Os principais pro-
blemas intrínsecos aos materiais envolvem: suscetibilidade ROOH → RO + HO (d)
ao trilhamento elétrico e a erosão; sensibilidade à radiação FIGURA 1 - Representação das reações químicas de degrada-
ultravioleta; presença de materiais com constantes dielétricas ção de polímeros: (a) formação dos radicais livres, (b) reação
distintas, levando a concentração de campo elétrico em lo- do radical livre com O2, (c) formação do hidroperóxido (d)
cais específicos; e susceptibilidade a esforços termomecâni- decomposição do hidroperóxido.
cos, os quais podem gerar o aparecimento de fissuras [18,
Nos cabos têm-se duas frentes de degradação, uma
19]. Entre os problemas extrínsecos aos materiais estão pro-
jeto inadequado de acessórios, causando concentração in- a partir da superfície externa causada pelos efeitos am-
bientais e outra a partir da superfície próxima ao condu-
desejável de campo elétrico e/ou fixação inadequada favo-
recendo o escorregamento do cabo; projeto de instalação tor por degradação térmica causada pelo efeito Joule.
inadequado, propiciando a proximidade das partes vivas com Esta temperatura depende da demanda de energia elé-
a amarração e possíveis contatos do cabo com galhos de trica da rede. Para aumentar a resistência à degradação
árvores; utilização de materiais incompatíveis com as solici- dos materiais poliméricos, estes podem ser aditivados
tações encontradas em campo; e susceptibilidade a contra os efeitos da radiação solar bem como contra a
sobretensões devido a proximidade entre fases e terra [20]. degradação térmica [24].
Todos estes problemas contribuem para o início e/ou acele-
ração dos mecanismos de envelhecimento que ocorrem nos
III. METODOLOGIA
materiais de proteção empregados nas redes aéreas com-
pactas [21,22,23]. Os principais mecanismos são o Foram realizadas as seguintes determinações e mon-
trilhamento elétrico e erosão, oxidação e fotodegradação. tagens experimentais: (a) Foram realizados ensaios em mon-
tagem para avaliar compatibilidade de materiais; (b) Fo-
A. Falhas superficiais ram realizadas inspeções visuais em cabos e acessórios re-
Nas redes aéreas compactas, o principal fator de enve- tirados da rede da COPEL e de montagem experimental;
lhecimento dos materiais poliméricos são as reações de oxi- (c) Foram realizados em laboratório determinações de
dação. Uma variedade de fatores pode promover estas rea- permissividade relativas e resistência superficial de cabos
ções, como radiação, calor, forças mecânicas, ou poluentes e acessórios, com a finalidade de validar os mecanismos de
como o ozônio, que pode freqüentemente ser gerado por distribuição de campo e trilhamento elétrico descritos na
descargas elétricas parciais em uma atmosfera contendo oxi- revisão bibliográfica; (d) Foram realizadas determinações
gênio [24,25]. Tem-se observado que os materiais de alterações da hidrofobicidade com a aplicação de solici-
poliméricos podem ser afetados pelas variações climáticas tações em laboratório e (e) Foram realizadas determina-
como temperatura e intensidade de radiação solar, umidade, ções de imagens térmicas de cabos e acessórios, submeti-
poluição atmosférica e oxigênio contido no ar [26]. das às solicitações de laboratório.
Como os materiais poliméricos em estudo estão su-
jeitos, além dos efeitos ambientais, a campo elétrico, aque- A. Montagem ensaio de compatibilidade
cimento por efeito Joule e esforço mecânico, que são tam- Diferentes configurações cabo/acessórios (espaçado-
bém fatores que podem promover a degradação dos res e anéis/laços de amarração), de rede protegida, foram
polímeros, pode-se considerar desta forma que estes equi- instalados e avaliados em montagem, conforme CODI
pamento estão sob solicitações múltiplas. 3.2.18.24.0 [28], e solicitados por condições específicas
Na reação de degradação, ligações químicas dos de carregamento e alta agressividade salina. Esta monta-
polímeros quebram formando radicais livres por aqueci- gem para ensaio, conforme mostrado na figura 2 permite a
mento, radiação ionizante, esforço mecânico entre outros. variação de temperatura, tensão elétrica aplicada e asper-
O radical livre reage com oxigênio transformado-o em ra- são salina sobres as amostras.
dical peróxi, que por sua vez abstrai hidrogênio de outra Os cabos e acessórios podem ser solicitados por apli-
cadeia polimérica, gerando um radical livre na mesma. O cação de tensão elétrica trifásica de até 40kV por 3 transfor-
grupamento hidroperóxido é pouco estável e se decompõe madores monofásicos, potência térmica de 4000VA, relação
em dois novos radicais, um hidroxílico e outro 350/600:1, tensão primária de 69000/ 3, tipo 00J68-69 e
hidrocarboxílico, que atacam duas novas posições no fabricação HITACHI-LINE. A regulação da tensão é realiza-
polímero aumentando a taxa de degradação do material da através de variador de tensão trifásico motorizado, 50/60Hz,
[27], como mostra a Figura 1. 100A, 0-220VCA, tipo T - 34100 de fabricação AUJE.

II Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica 557


A solicitação por temperatura na superfície do cabo foi Na figura 6 pode ser observado trilhamento elétrico e
produzida pela indução de corrente através de conjunto erosão para o mesmo conjunto cabo espaçador e laço de
transformador de corrente de fabricação LACTEC e re- amarração após 500horas em arranjo submetido a 22kV en-
gulador de tensão de núcleo variável, 440/0-440VCA, tre fases, aspersão 1mm/minuto de água com condutividade
150A, motorizado de fabricação AUJE. A solicitação de de 1300µS/cm de 5 minutos a cada 15 minutos e temperatu-
aspersão de solução salina foi realizada através da ra induzida por corrente na superfície do cabo de 60oC.
pressurização desta solução através de conjunto bomba -
motor de fabricação WEG, modelo 56, trifásico, 220/380V,
3,4 / 1 A, 3450 rpm.
A montagem permite variar as grandezas solicitantes atra-
vés da intervenção no regulador de tensão elétrica para ajus- FIGURA 5 - Imagem do cabo e da amarração mostrando
tes na tensão entre fases, regulador de tensão da fonte de cor- trilhamento elétrico na superfície do cabo da rede instalada
rente, e precipitação e condutividade da solução salina. A próximo da arrebentação do mar.
figura 3 e a figura 4 mostram detalhes destas montagens.

FIGURA 6 - Imagem do cabo e da amarração mostrando


trilhamento elétrico na superfície do cabo obtida pelo ensaio de
compatibilidade em laboratório.

Na figura 7 pode ser observado trilhamento elétri-


co e erosão em cabo protegido de 35mm2 de fabricação
após o período de um ano e meio de instalação em rede
da COPEL de 15kV instalada próximo a orla marítima.
Na Figura 8 pode ser observado trilhamento elétrico e
FIGURA 2 - Vista Lateral e de topo da configuração de erosão para o mesmo conjunto cabo espaçador e anel de
solicitação elétrica e precipitação salina
amarração após 500horas em arranjo submetido a 22kV
entre fases; aspersão de 1mm/minuto de água, com
IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES
condutividade de 1300µS/cm, de 5 minutos a cada 15
A. Inspeção visual minutos e temperatura induzida por corrente na superfí-
Materiais

Na Figura 5 pode ser observado trilhamento elétrico cie do cabo de 60oC.


e erosão em cabo protegido de 35mm2 após o período de
um ano e meio de instalação em rede da COPEL de 15kV
instalada próximo a orla marítima.

FIGURA 7 - Imagem do cabo na região em contato com o


espaçador fixado com anel de amarração onde é observado um
trilhamento elétrico e acúmulo de depósitos na superfície do
cabo, da rede instalada próximo da arrebentação do mar.

FIGURA 3 - Vista dos controladores dos processo.


FIGURA 8 - Imagem do cabo na região em contato com o
espaçador fixado com anel de amarração onde é observado um
trilhamento elétrico na superfície do cabo testado no ensaio de
compatibilidade em laboratório.

A figura 9 apresenta trilhamento e erosão que foram


observados, tanto no ensaio de compatibilidade como na
rede instalada na orla marítima, estas degradações foram
notadas onde os cabos fazem contato com o berço do
espaçador e nas regiões de contato com as amarrações as
FIGURA 4 - Vista da montagem. quais permitem o acúmulo de contaminantes.

558 ANAIS DO II CITENEL / 2003


trução do laboratório. Contudo, pelos resultados obtidos,
foi possível demonstrar que os fenômenos observados em
campo são possíveis de reprodução em laboratório e deste
modo, em projetos futuros, espera-se estudar e avaliar
melhor o efeito de cada um das variáveis sobre a rede com-
FIGURA 9 - Imagem do cabo na região em que o cabo estava
pacta instalada em laboratório e extrapolar estes resulta-
apiado no berço do espaçador onde observa-se acumulo de sal
e trilhamento formado. dos para redes compactas instaladas em campo.

A figura 10 apresenta regiões com trilhamento, ob- V. CONCLUSÕES


servados no corpo dos espaçadores, em várias regiões onde Do observado até o momento pode-se afirmar que:
não há contato direto com o cabo ou acessórios. Estas de- a)Para evitar o aprisionamento de contaminantes, sugere-se,
gradações podem ter sido causadas por imperfeições e/ou geometria que não promova a formação de vórtices, ou seja,
pela geometria destes acessórios que permitem acumulo devem ser evitados os cantos vivos de forma a promover
de contaminantes, criando caminhos condutivos que favo- fluxos que não ocasionem aprisionamento de partículas;
recem o trilhamento elétrico. b)As rebarbas observadas nos espaçadores dos três fabri-
cantes propiciaram o aprisionamento de depósitos e,
portanto, devem ser evitados;
c)Dispositivos de amarração tais como laços e alças pré-
formadas podem ser otimizados de forma a não permitir
o aprisionamento de partículas.

FIGURA 10 - Imagem do espaçador onde são observados A concepção do laboratório de compatibilidade permite
trilhamento em ma região cujo o desenho da peça permite o testar condições específicas de configuração de rede e combi-
acúmulo de poluentes e região onde a peça apresenta irregula-
nações das variáveis estressamento, onde a intensidade de cada
ridades na superfície permitindo o maior temo permanecia dos
contaminantes solicitação pode ser ajustada (intensificando ou reduzindo)
identificando possíveis aspectos mais susceptíveis do projeto
Pelo observado pode-se inferir que o ensaio de com- e dos materiais de construção (características elétricas, físico-
patibilidade montado pelo LACTEC pode reproduzir al- químicas, mecânicas, "design", entre outros).
guns resultados obtidos em campo. Embora as redes pro- A figura 11 ilustra as possibilidades de combinações
tegidas não sejam projetadas para às solicitações a que das condições de multiestressamento a que pode-se sub-
foi submetida, os resultados do ensaio de compatibilida- meter uma determinada configuração de rede. É importan-
de pode auxiliar na melhoria do desempenho dos te salientar que várias combinações de solicitações em di-
espaçadores para uso em ambiente de baixa e média ferentes intensidades podem apresentar características se-
agressividade. Salienta-se que o procedimento de impri- melhantes de desempenho para um mesmo projeto de rede.
mir solicitações extremas pode ser utilizado para se obter A aparente dificuldade devido ao grande número de
resultados mais rapidamente. variáveis do teste de compatibilidade que podem ser com-
binadas, demonstra que para determinados ambientes, pode-
B. Montagem do ensaio de compatibilidade se submeter diferentes arranjos de montagem de rede a
No sistema desenvolvido e instalado é possível mani- condições específicas intrínsecas da região e determinar os
pular individualmente os níveis de solicitações (elétrica, limites de suportabilidade de outras varáveis de
chuva, salinidade, etc.) sobre um trecho de rede o qual estressamento. Outra aplicação deste laboratório é o teste
utiliza diversos equipamentos e acessórios disponíveis no comparativo de desempenho de novos projetos de equipa-
mercado e observar em curto espaço de tempo a compati- mentos e acessórios sob condições pré-determinadas.
bilidade entre as diversas concepções de engenharia e ma-
Implantado
teriais de fabricação sob solicitações específicas. Os resul- Possibilidade de implementação
Intensidade
Aceleração

tados obtidos foram validados com a comparação com al-


ica
de
Elétrica

Outras
Mec ân
Sa linida

guns resultados observados em redes compactas de distri-


ão
As pers
Térm ica

o
Poluiçã

Normal
buição avaliada em outros projetos executados pelo grupo
o
Radiaçã
Redução

de Pesquisadores do LACTEC.
Este se trata do principal resultado físico deste proje-
Tipo de Solicitação
to, já que este sistema permite que seja feita uma avaliação
da compatibilidade de materiais em resultado mais curto. FIGURA 11 - Ilustração de possibilidades de combinações de
O ensaio utilizou somente uma configuração de parâmetros vaiáveis de multiestressamento no ensaio de compatibilidade
devido ao fato que houve atraso nas obras civis de cons- elétrica.

II Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica 559


A comparação da temperatura que é atingida nestes [10] DENSLEY, R. J.; BARTNIKAS, R.; BERNSTEIN, B. Multiple
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sidade Federal do Paraná / Setor de Tecnologia / PIPE – Programa
em operação com relação aos limites de suportabilidade
Interdisciplinar de Pós-graduação em Engenharia / Área Engenha-
determinados nos ensaios referidos. ria e Ciência dos Materiais, 2000.
Esta metodologia torna disponível a execução de tes- [13] Piazza, F., “Avaliação do Estado de Envelhecimento do Sistema
Isolante de Transformadores de Papel-Óleo e Cabos Extrudados em
tes para novos acessórios e equipamentos e vem auxiliar XLPE, Utilizando a Técnica de Tensão de Retorno”, Dissertação
na avaliação da expectativa de vida útil e em soluções de de Mestrado, UFPR – Universidade Federal do Paraná / Setor de
Tecnologia / PIPE – Programa Interdisciplinar de Pós-graduação
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560 ANAIS DO II CITENEL / 2003

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