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Este livro foi desenvolvido com muito estudo e dedicação para apresentar as
orientações teóricas e recursos que servirão como base para conduzi-lo(a) ao
diz respeito a vida social da comunidade surda sua escolarização e letramento, este
Sinais do nosso Pais, que a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS ou LSB – (Língua
de Sinais Brasileira).
identidade.
Assim como toda língua, as Línguas de Sinais são dinâmicas e está sempre em
surda.
Tradutor Intérprete com o aluno surdo e o professor regente. Finalizaremos este livro
com um minidicionário, com alguns sinais em LIBRAS, para que você, acadêmico
– LIBRAS.
Bons estudos!
TEORIAS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5
2 QUESTÕES GERAIS SOBRE A TRADUÇÃO .................................................... 5
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................... 11
AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 21
TÓPICO 2: TIPOS DE TRADUÇÃO ........................................................................ 24
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 24
......................................................................................................................... 28
3 TRADUÇÃO INTERLINGUAL ........................................................................... 32
CHEGADA ....................................................................................................... 38
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................... 40
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................... 48
AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 52
TÓPICO 3: FUNÇÕES DO TRADUTOR E DO INTÉRPRETE ................................ 55
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 55
2 INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA E INTERPRETAÇÃO CONSECUTIVA ....... 55
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................... 61
RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................................... 64
AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 66
1 INTRODUÇÃO
Olá, estudante! Você já parou para pensar que grande parte da vida moderna seria
impensável sem a tradução? Como você pode imaginar, esta é uma das atividades
mais antigas da humanidade e, num mundo cada vez mais diverso como o nosso,
afirmar que não há atividade linguística sem tradução. Como veremos adiante,
tradução.
Além disso, pensando no propósito específico deste material, cabe acrescentar que
pois ela se faz presente tanto na comunicação destes com os ouvintes como entre
os próprios surdos.
Ao que parece, são muitas as implicações da tradução na nossa vida, certo? Você
verá, porém, que elas vão muito mais além do que podemos imaginar. Na próxima
fenômeno que confere razão de ser a essa atividade. E na última seção, enfim,
outros sentidos. Não é incomum vermos, por exemplo, alguém falando em traduzir
Como Guerini e Costa (2006, p. 4) argumentam – e como você já deve ter inferido –
Há pouco falamos que a prática tradutória se faz presente tanto na comunicação dos
surdos com os ouvintes, como entre os próprios surdos. E isso vale para o interior
Nesse sentido, então, podemos assumir que não existe linguagem sem tradução.
devamos ressalvar que, ao longo dos tempos, seu status mudou por diversas vezes:
A primeira e mais positiva dessas visões – a de tradução como criação – pode ser
termos que os romanos tinham para essa atividade. Para diferentes nuances desse
judaico-cristão.
a tradução era “considerada uma atividade marginal, que só começou a ser vista
Perceba que as definições que vimos esboçando até aqui dão destaque ao papel do
tradutor e do leitor como sujeitos ativos nesse processo. Pereira (2008), no entanto,
observa que não são raras algumas tentativas de definir a tradução que deixam de
lado elementos essenciais dela. Segundo a autora, tais tentativas acabam reduzindo
conteúdo de um texto para os meios próprios de outra língua. Embora não sejam
inteiramente erradas, essas definições deixam lacunas importantes, pois
textos, uma espécie de adaptador de voltagem entre línguas, sem nunca alçar a
posição de autor.
que atuam.
3 DIVERSIDADE LINGUÍSTICA
Para Guerini e Costa (2006, p. 6), o mito da Torre de Babel, que mencionamos há
pouco, pode ser interpretado como uma expressão da interminável tarefa do
Você já parou para pensar em por que há tantas línguas no mundo? Steiner (2005)
Quando Steiner afirma que milhares de línguas diferentes foram e são faladas por
razões biogenéticas e biossociais, ele chama a nossa atenção para o fato de que,
variaram e mudaram por inúmeros fatores, como sexo dos falantes, idade, classe
social, região geográfica, registro (culto ou informal) etc. Com tantos fatores
multipliquem.
A língua portuguesa, por exemplo, por muitos considerada uma só, tem variedades
em Portugal.
Para saber um pouco mais sobre as causas da diversidade linguística, leia a seguir
o texto de Fábio de Oliveira, um breve artigo que aborda a questão de uma forma
leve e informativa.
LEITURA COMPLEMENTAR
Fábio de Oliveira
Algumas têm a mesma origem, como o hindu, o sueco, o inglês e o português. Eles
vieram de uma grande língua comum, chamada protoindo-europeu, que há milhares
de anos era falada na Ásia. Esse idioma deu origem a quase todas as línguas
ocidentais e algumas orientais. “Supõe-se que o indo-europeu tenha sido uma língua
só, que foi se diferenciando com o tempo”, explica o professor de linguística Paulo
É que as línguas são vivas – elas se transformam com o uso. Mesmo as que vieram
de uma raiz comum foram sendo modificadas pouco a pouco pela prática de cada
grupo falante, que seleciona os termos adequados ao seu ambiente e à sua cultura.
branco. Esses termos não fazem o menor sentido para um povo que mora no
deserto, concorda?
O Império Romano teve uma forte função na difusão e na construção de muitas das
línguas que são faladas hoje. Naquela época, na região de Roma, falava-se o latim,
medida que o império avançava, conquistando novos territórios, esse idioma foi
sendo imposto aos povos dominados, mas não sem sofrer influência das línguas
gente não ouve a maioria delas: mais de 90% dessas línguas estão na boca de
400 idiomas.
O português brasileiro
século 17, o tupinambá, um dos dialetos do tupi, era o que mais se escutava por
aqui. Para não perder o predomínio político na colônia, Portugal proibiu que
ainda hoje, 237 línguas são faladas no País. Desse total, 216 estão vivas. Delas,
1) O Ethnologue lista 237 línguas no Brasil. Desse total, 216 estão vivas e 21,
extintas. Das vivas, 201 são indígenas e 15, não indígenas. Além disso, 56 estão em
Franco, essas línguas foram proibidas, mas o decreto caiu no fim dos anos 1970.
estão vivas e 11, extintas. Das vivas, 196 são indígenas e 24, não indígenas.
Muitas das línguas que você sabe que existem vieram de uma raiz comum.
O protoindo-europeu
Boa parte da população mundial, incluindo países das Américas, da Europa e até a
Índia, fala línguas que se agrupam no que os linguistas chamam de filo protoindo-
europeu. Sua origem é incerta: há os que defendem que ele tenha surgido na
Anatólia, atual Turquia, há 9 mil anos, e outros, ao norte do Mar Negro, há 5 mil
anos.
Rumo ao Norte
dinamarquês.
“Quo vadis?”
A frase acima significa “para onde vais” em latim, língua que nasceu no Lácio, região
próxima a Roma. Com a expansão do Império Romano, ela migrou para regiões
onde hoje estão países como Espanha, França e Portugal. Com o declínio dos
romanos, cada um desses locais começou a falar o latim do seu jeito. Daí surgiram o
tornam cada vez mais salientes à medida que os limites sociais também se alargam,
e isso traz ensejo para o tradutor. A tradução, portanto, pode ser entendida como
situação;
o tamanho do texto e outras idiossincrasias editoriais (não raramente, frase
Eco (2007) defende que a noção de negociação, em certa medida, depõe a obsoleta
noção de fidelidade. Ele, que antes de tradutor é autor de obras originais, não só
aceita a negociação de sentidos nas traduções dos seus textos autorais, como
também estimula sua alteração, desde que se tencione recriar a mesma sensação
estética, a mesma emoção, quem sabe a mesma surpresa que ele pretendeu em
princípio. Eco, portanto, afirma ser tolerável – e geralmente inevitável – a
núcleo expressivo.
Até aqui falamos de tradução entre línguas e de tradução entre variedades de uma
mesma língua, que podem ser sutis ou abissais. No entanto, também podemos
intersemiótica quando, por exemplo, uma obra literária é adaptada para o cinema,
negocial, gostaríamos de abordar uma operação que talvez esteja no meio de dois
polos, entre a tradução entre línguas fônicas e a tradução intersemiótica: a tradução
Desde que a linguística moderna varreu uma série de preconceitos históricos, frutos
de traduzir para o português o poema “Voo sobre o Rio”, composto por Fernanda
portanto, a vê primeiro bem pequena, ao longe; depois mais próxima, até que ela
preenche todo o campo de visão. A imagem a seguir reproduz essa parte do poema:
A tradutora assim explica suas estratégias tradutórias (ou negociais) para esse
trecho:
Estes sinais mostram as três dimensões referidas anteriormente.
Na ponta do dedo da poetisa, o planeta terra é minúsculo e
distante; quando polegar e demais dedos se juntam em letra “o”
(“grávidos no espaço”), já está mais próximo; por fim, quando o
efeito de aproximação da câmera chega ao seu máximo nível, o
planeta terra é grande e próximo e a configuração das mãos lembra
o embalar de um ser frágil. Assim, no início do poema, estes três
sinais foram traduzidos como: O astro distante: terra. / (gotícula de
terra viaja na ponta do dedo) / O planeta de percorrer com as
mãos: terra. / (o tamanho da terra quando polegar e dedos se
encontram grávidos no espaço) / O chão coberto de terra
(mãos
de embalar um ser frágil). (KLAMT, 2014, p. 115).
Perceba que a tradutora toma o cuidado de não impor soluções familiares ao falante
nativo de português. Talvez lhe seria mais cômodo recriar um poema mostrando
essa descida ao planeta Terra, com elocuções típicas do português brasileiro, mas a
tradutora cede nessa negociação e traz a língua alheia para dentro da sua: “o astro
negociação não apenas entre soluções textuais bilaterais, mas entre convenções e
perspectivas culturais.
segundo enunciado com a outra mão. Tal trecho é reproduzido nesta imagem:
A tradutora, por sua vez, comenta as opções feitas em relação a essa parte do
poema:
convencional que se faz entre textos de línguas fônicas modernas; não é uma
negociação radical que se faz entre sistemas semióticos diferentes; mas é uma
negociação delicada, entre línguas de natureza sensivelmente diferentes, que exige
– com a licença da analogia – uma destreza diplomática do tradutor para não ferir as
tradução. Começamos por uma definição mais geral, a de levar um significado para
além de uma língua em direção a outra, e em seguida vimos como esse conceito se
primordial: a grande diversidade de línguas existes. Essa diversidade, por sua vez,
advém de razões biogenéticas e biossociais (sexo dos falantes, idade, classe social,
Na última seção, por fim, debatemos a tradução vista como um ato de negociação
entre textos e entre culturas. Tal negociação acontece em vários níveis e entre
vários atores: o autor, seu texto original, as culturas de saída e chegada, os leitores
intermediário: a tradução entre uma língua fônica e uma língua gestual. Para isso,
comentamos a experiência de tradução, para o português, de uma poema composto
sucedido.
AUTOATIVIDADE
uma língua (léxico e gramática, por exemplo), mas também espelha convenções
muito particulares à cultura do seu autor, motivo pelo qual a tradução envolve
equalizar as diferenças entre o mundo do autor e o mundo do leitor.
(II ) A tradução era vista como uma deturpação do sentido original das palavras
2. Diante do que foi apresentado neste primeiro tópico, como você explicaria a
seguinte afirmação: “quanto mais as diferenças entre seres humanos se
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para os meios próprios de outra língua. Apesar de sucintas, ainda existem pontos
não explicitados nessas definições, pois descrevem um processo somente entre
língua-meta.
c) ( ) É aceitável que a tradução procure uma correspondência de aspectos
linguísticos, porém seus objetivos de interação podem ser perdidos numa busca
1 INTRODUÇÃO
Olá, estudante! No primeiro tópico, você deve recordar que, de forma ainda um
fazem dentro da própria língua (intralingual), traduções que se fazem entre línguas
diferentes (interlingual) e também comentamos – quando falávamos sobre a
Pois bem. Essa divisão corresponde à clássica tipologia proposta por Roman
2 TRADUÇÃO INTRALINGUAL
portuguesa queijo se souber que, nesta língua, ela significa “alimento obtido pela
coalhado.
Jakobson faz essa digressão para defender que o significado de um signo linguístico
não é mais que sua tradução por um outro signo correspondente, especialmente um
signo “no qual ele se ache desenvolvido de modo mais completo”, como afirmou
Peirce (1946, p. 91 apud JAKOBSON, 1969, p. 63). Feita essa defesa, o autor
distingue as três maneiras de interpretar um signo verbal que já conhecemos: ele
pode ser traduzido em outros signos da mesma língua, em outra língua, ou em outro
interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.
Jakobson (1969, p. 65), “a tradução intralingual de uma palavra utiliza outra palavra,
guarda, em alguma medida, um significado único. Assim, uma palavra como calor,
embora possa ser tomada como sinônimo relativo de quentura, tem nuances
semânticas particulares.
quando você fala sobre algo complicado para alguém, e essa pessoa não o entende.
O que você faz? Provavelmente vai explicar de outra forma para ela, com outras
latinos para tradução era o verbo explicar? Ora, esse sentido corresponde
justamente à tradução intralingual coloquial que estamos abordando aqui.
Frequentemente, fazemos esse tipo de operação para nós mesmos, quando
queremos clarear o nosso pensamento. A esse respeito, Paulo Rónai (1976, p. 1)
Muitas vezes, quando lemos textos antigos escritos na nossa própria língua, temos
algumas elocuções específicas, não temos? Bem, esse tipo de esforço também
pode ser visto como uma tradução intralingual. Steiner (2005, p. 54) a chama de
tradução diacrônica no interior da própria língua, que, para ele, é um fenômeno “tão
observar seja sua complexidade formal, seja o papel decisivo que ela exerce na
tornar um projeto editorial. É o que ocorre, por exemplo, quando algumas editoras
resolvem retextualizar alguns clássicos literários para leitores modernos, ou
para não-iniciados”. Nesses casos, esse tipo de tradução intralingual recebe o nome
de “adaptação”.
foi adaptado muitas vezes. No Brasil, uma das mais conhecidas é a adaptação na
No primeiro tópico, mencionamos que as línguas são diversas por conta de vários
região, sexo, entre outros. A esse respeito, Steiner (2005, p. 70-1) faz a seguinte
reflexão:
Guerini e Costa (2006, p. 9), por sua vez, corroboram a posição de Steiner ao
afirmar que:
temos que traduzir certos enunciados do nosso idioleto para a língua de outras
Para ilustrar como a tradução passa a ser mais e mais necessária à medida que as
línguas. Podemos citar, por exemplo, a tradução do grego para o latim da Odisseia
de Homero feita por Lívio Andrônico, em 240 a.C., que inaugurou a literatura latina e
serviu de modelo de língua para muitos poetas latinos e – por que não? – falantes
latim feita por São Jerônimo, em cerca de 400 d.C., que serviria de modelo para o
língua.
documento, restaram duas das treze cópias feitas e distribuídas por diferentes
entidades. Cada uma das treze cópias originais era destinada a uma região
alvo específicas.
(1979), seu autor, D. Afonso II, quando o escreveu, tinha apenas 28 anos de idade e
pouco mais de três anos de reinado. Ele era, porém, uma pessoa muito doente e
garantir a sucessão pela via masculina ou, na falta desta, pela filha mais velha. Além
a) Ambas foram escritas por mãos diferentes, como se pode observar pelo tipo
e corpo de letra que em cada uma delas aparece (não estão identificados os
copistas).
37 linhas.
etc.).
Costa (1979, p. 311) defende que as cópias foram feitas a partir de um ditado
simultâneo: “As variantes entre os exemplares [...] levam a supor que o original do
testamento foi ditado para serem simultaneamente escritos vários exemplares por
diferentes notários.” Castro (1991) não descarta essa hipótese de Costa, mas,
considerando uma série de diferenças radicais entre os dois textos, defende que
elas derivam ou de uma tradução a partir de um original em latim ou a partir de um
Toledo fica no centro do território, entre Coimbra e Lisboa. Pouco tempo antes do
podemos inferir que a cópia destinada a Braga é escrita em um dialeto mais próximo
encontradas não apenas em Avelino de Jesus da Costa (1979) e Ivo Castro (1991),
mas também em Edwin Willians ([1938] 1975), Joseph Huber ([1933] 1986), Ana
Maria Martins (1985), Anthony Naro ([1971]1973) e Joseph Maria Piel (1942).
A partir dessas análises, o que se pode afirmar é que – tenham sido essas cópias
evidentemente sabia que o público-alvo da sua cópia falava uma língua distinta e
3 TRADUÇÃO INTERLINGUAL
completa entre as unidades de código”. Por isso, ao traduzir de uma língua para
outra, o foco da atividade recai sobre a mensagem e não sobre suas partes
recurso à tradução. Guerini e Costa (2006, p. 11) aludem a esse fato quando
consideram que “com frequência não avaliamos bem sua importância. Na prática,
antiguidade clássica, especialmente entre os romanos. Não é à toa que dois dos
primeiros tradutólogos tenham vindo justamente da cidade latina: os escritores
Cícero (106 a.C - 43 a.C) e Horácio (65 a.C - 8 a.C) foram os primeiros a discutir a
A esta altura, você pode estar se perguntando: por que estamos falando de
questões mais gerais e históricas da tradução – sobre as quais já falamos no
tarde pelo modernos, que imprimem uma abordagem científica sobre a tradução
com vistas aos os textos literários, passando a admitir uma rica diversidade na
translação entre línguas; e aquele que se instala nos tempos medievais, quando as
intermináveis disputas sobre a tradução de textos religiosos focavam a
Para fins didáticos, vamos subdividir esta seção entre esses dois momentos
referidos. Acompanhe.
sempre tiveram a tradução como atividade essencial para a sua disseminação entre
os povos. As principais religiões do mundo, entre elas o cristianismo, o islamismo, o
hinduísmo e a religião tradicional chinesa, em certa medida, podem creditar o seu
sucesso às contínuas traduções de seus textos doutrinários.
quando o antigo testamento foi vertido do hebraico para o grego, num projeto
coletivo que envolveu mais de 70 tradutores de 12 tribos judaicas. Essa edição ficou
conhecida como Septuaginta (ou versão dos setenta). Mais tarde, a Septuaginta
seria transvertida para o copta (língua dos cristãos egípcios), o etíope e o gótico.
Todas essas traduções foram marcadas por uma preocupação explícita de
Em latim, a Bíblia passou por pelo menos duas traduções. A primeira delas foi feita
1400 d.C.
A Vulgata viria a ser, a partir de então, o texto basilar para todas as demais
traduções que se fariam posteriormente. E não foram poucas: “Se em 1450 havia já
33 diferentes traduções, e em 1800 esse número tinha saltado para 71, no final do
século XX, havia edições integrais em mais de 250 línguas e edições parciais em
E o que essa história toda das traduções bíblicas nos informam a respeito da
Não é à toa que Jerônimo de Estridão (seu nome secular) é considerado o patrono
dos tradutores. Guerini e Costa (2006) também salientam que, na Umbanda, São
Jerônimo é o sincretismo de Xangô, deus associado às leis e à sabedoria, o que
isso, não ignoramos que, não apenas o texto de Lutero, mas toda tradução da Bíblia
Ocidente:
1528 por Jacques Lefevre d’Étaples (ou Faber Stapulensis); a tradução para o
espanhol, publicada na Basileia em 1569 por Casiodoro de Reina (Biblia del Oso); a
inglês, conhecida como Bíblia do Rei James, publicada em 1611; e a tradução para
o holandês, conhecida como The States Bible, publicada em 1637. Todas essas
Numa das anotações feitas por seus alunos e colaboradores durante encontros
informais (as chamadas “Conversas à mesa”), Martinho Lutero (1532 apud FURLAN,
2004, p. 13) afirma que a “A verdadeira tradução é a adaptação do que foi dito numa
língua estrangeira à sua própria língua.” Ocorre que a “própria língua” de Lutero não
estava bem consolidada quando ele se propôs a traduzir a Bíblia. Naquela época, o
que hoje se conhece como alto-alemão era um conjunto de dialetos distintos, nem
sempre compreensíveis entre si. Ciente da importância política e religiosa de unificar
existentes, a fim de que o povo pudesse se identificar com aquela língua e, por
tabela, com aquela Bíblia. É por isso que na sua “Carta Aberta sobre a Tradução”,
Lutero afirma:
entretenimento. Por esse motivo, a tradução literária foi até então um tópico amplo
debate teórico e consequentemente um campo de muita experimentação. Todo esse
Em seu clássico ensaio “A maneira de bem traduzir de uma língua para outra”, Dolet
os seguinte princípios:
chegada.” Cabe observar que ele é, de certo modo, pioneiro por prenunciar certos
Um desses sucessores é o inglês John Dryden, que traduziu o poeta latino Ovídio e,
enfatiza o texto de chegada, é o método mais sensato por permitir extrair do original
minúcias do estilo e da forma, e reelaborá-las na tradução.
Ainda que a visão de Schleiermacher possa parecer simplista à primeira vista, sua
classificação foi uma das mais prósperas nesse debate, tendo sido retomada mais
tarde, no século XX, por teóricos como Walter Benjamin e Lawrence Venuti. Este
último reformulou a divisão schleiermacheriana na – hoje famosa – dicotomia
“tradução identificadora”.
Como você pode perceber, ao longo da história, a maior parte das abordagens
Acreditamos, porém, que, para os fins a que este texto se destina, a dicotomia em
De todo modo, a fim de que você possa aprofundar o tema e aceder a nuances mais
LEITURA COMPLEMENTAR
2006. p. 16-18.
Diante desta variedade de teorizações, vamos agora ver como o professor, crítico e
teórico George Steiner agrupa as teorias da tradução. Para ele, a produção teórica
estatísticos à tradução;
Como se pode perceber, muito se falou sobre a tradução entre línguas diferentes e,
grosso modo, a teoria sobre o assunto debate:
1) tradução literal;
Steiner vai observar, por exemplo, que embora a história da tradução seja muito
Mas há autores como Jorge Luís Borges, por exemplo, que vai além desse tipo de
do original que podem, eventualmente, ser tão ou mais significativas do que este.
Assim, um conjunto de traduções realizadas para diferentes línguas pertencentes a
sistemas literários sofisticados pode ser representar para seu leitor mais riqueza
estética do que para o leitor monolíngue do original. Borges ilustra o aparente
que pelo fato de não conhecer grego, pôde ler a Odisseia em várias traduções para
diferentes línguas.
Para Borges, que era um grande conhecedor de línguas estrangeiras, a sua leitura
estilos e épocas, constituiu uma experiência literária mais rica do que sua leitura de
estilo.
Aliás, muitos escritores como, por exemplo, o italiano Giacomo Leopardi (1798-
aprende a compor com estilo. Convém frisar que quando Leopardi fala que é
traduzindo que se aprende a escrever, ele se refere à tradução de excelentes
autores clássicos gregos e latinos, como Homero, Virgílio e Horácio. Mas no caso de
ser escritor e escrever bem, a probabilidade de uma boa tradução é bastante alta,
Giordani, ele diz: [...] dou-me conta de que traduzir, assim por exercício, deve
convém antes haver composto e ter sido bom escritor: enfim, uma tradução perfeita
Como se pode perceber, Leopardi coloca a prática da tradução como requisito para
se tornar um bom escritor, porque para o escritor italiano, a tradução possibilita o
mais íntimo e profundo contato com determinados textos literários, com suas formas,
mas também com o conteúdo das obras dos escritores que estão sendo traduzidos.
escritor pode ser um bom tradutor. Claro que esta ideia pode ser contestada e há
muitos autores que defenderam uma ou outra posição, embora a balança pareça
4 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
Rónai (1976, p. 2), por sua vez, oferece um conceito mais amplo, afirmando que a
tradução intersemiótica é
ilustração de livros;
Todavia, a tradução intersemiótica também pode se dar entre dois sistemas não-
música e dança;
música e pintura;
etc.
Figura 4 – A música de Ernesto Lecuona traduzida em dança pelo Grupo Corpo, de
Belo Horizonte: exemplo de tradução intersemiótica
Assim, de acordo com Guerini e Costa (2009, p. 23), na passagem de texto para
ou
sentido, o tradutor intersemiótico acaba por operar recortes no texto original. Como
[...] toda tradução irá [...] oferecer sempre algo além ou aquém do
chamado original, e o sucesso não dependerá apenas da
criatividade nem da habilidade, mas das decisões tomadas pelo
tradutor, seja sacrificando algo, ou encontrando a todo custo um
equivalente. Se nos lembrarmos de que o sentido é o resultado de
uma interpretação, de uma leitura, e da função que o texto/tradução
terá para a audiência a que se destina, nunca poderemos avaliar
uma tradução com critérios de fidelidade. (DINIZ, 1998, p. 330).
cinema. Como sabemos, uma parte ínfima do texto escrito se converte em falas de
personagens no cinema. A maior parte se transforma em gestos, sons,
texto verbal, “é imprescindível fazer uma subdivisão racional do original para decidir
quais elementos da composição fílmica são confiáveis para tradução de
determinados elementos estilísticos ou narratológicos do original”.
Christiane Nord (2012 apud PONTES; PEREIRA, 2017). Conforme essa visão, o
tradutor sabe intuitivamente que a tradução de um texto se faz por partes e, em
tomando por base a estrutura de partida. Ao fazê-lo, porém, depara-se com itens
escolhas, suspender problemas não solucionados etc. Para sair desse labirinto, a
Transpondo tal teoria para o contexto da tradução intersemiótica, vemos que este
tipo recorre justamente a uma seleção de unidades tradutórias a fim de reconstruí-
tão diferente das demais quanto parece à primeira vista. Sua dificuldade, e
LEITURA COMPLEMENTAR
A tradução intersemiótica
Bruno Osimo
Fonte: http://courses.logos.it/
[...] a tradução de um sistema de signos (por exemplo, o sistema verbal) para outro
dos estudos da tradutologia. O fato de, neste caso, no início ou no fim do processo,
não se ter um texto verbal não lhe tira importância; pelo contrário, devido a algumas
Jakobson, por alguma razão, incluiu em seu clássico ensaio sobre os aspectos
Se interpretarmos isso em seu sentido mais amplo, sem ter em conta que Segre fala
aos demais".
as artes figurativas em geral), que são contínuas. O que significa isto? Que nas
linguagens discretas podemos distinguir entre um signo e outro, mas nas linguagens
Temos repetido que todo tipo de ato comunicativo, inclusive todo processo tradutivo,
nunca é completo, pois sempre existe resíduo, ou seja, uma parte da mensagem
signos verbais por meio de outros signos da mesma língua. A tradução interlingual
ou tradução propriamente dita consiste na interpretação dos signos verbais por meio
1. Reflita sobre a dicotomia “foco no texto de partida vs. foco no texto de chegada”
Resposta esperada:
Ainda que o tradutor seja sempre livre para fazer as suas escolhas, neste caso,
seria cabível o foco no texto de partida, já que o seu valor se encontra justamente na
sua forma. Assim, seria conveniente buscar, em Libras, alternativas para recriar o
Na tradução para libras, você focaria no texto de partida ou no texto de chegada, por
quê?
Resposta esperada:
Ainda que o tradutor seja sempre livre para fazer as suas escolhas, neste caso,
a. Tradução interlingual
b. Tradução intralingual
c. Tradução sociolinguística
d. Tradução intersemiótica
a) ( ) a, d, b, c.
b) ( ) b, d, c, a.
c) (X ) b, d, a, c.
d) ( ) c, d, b, a.
base a estrutura do texto partida. Em situações práticas, porém, nem sempre uma
solução.
a) ( ) I e II estão corretas.
1 INTRODUÇÃO
surgiu, em que situações atuam, que especificidades cada papel pressupõe? Neste
último tópico, vamos abordar a essa distinção, discutindo a importância desses dois
atores para a comunicação.
Como já falamos bastante sobre o tradutor até aqui, para iniciar a nossa conversa,
cremos que seja conveniente apresentar uma breve introdução à tarefa
interpretação. Acompanhe.
Já, na tradução consecutiva, “a pessoa que tem a palavra faz pausas periódicas em
sua fala, a fim de permitir que o intérprete faça o translado da língua original (língua-
convém lembrar o filósofo Schleiermacher (2001 [1813]), que, ainda no séc. XIX, no
no campo da ciência e da arte. Você concorda com essa afirmação? Ela lhe parece
atual?
contextualizada.
Embora já tenhamos esboçado algumas respostas para essa questão, vale a pena
nos determos um pouco mais sobre ela: afinal, o que diferencia o intérprete e o
tradutor?
tradutores.
A fim de simplificar essa diferença, podemos dizer que
Segundo Osimo (2004), essa diferença vai um pouco mais além. Para o autor, o que
Magalhães Jr. (2007, p. 19), por sua vez, aborda a especificidade do intérprete, em
contraposição ao tradutor, comparando-o a um artista:
Pereira (2008) traz essa discussão para o domínio das línguas de sinais, mostrando
que, neste caso, a interpretação tem, historicamente, muito mais relevância que a
tradução stricto sensu. Com exceção de iniciativas mais modernas, como a de Klamt
(2014), que vimos no Tópico 1, em que há um projeto de tradução a longo prazo e
bem delimitado, grande parte das translações envolvendo a libras sempre recorreu à
interpretação simultânea.
operações que partem da língua sinalizada para uma língua escrita e estabelece
Para além dessa questão, Pereira (2008) também chama a nossa atenção para um
estigma dramático que marca a vida do intérprete. Para ela, sua profissão é
atormentada por estereótipos como o velho e surrado traduttori, tradittori (tradutor,
traidor), que a coloca sob permanente desconfiança, fazendo com que a culpa de
LEITURA COMPLEMENTAR
Rosângela Fressato
social e por isso não poderia deixar de ser inserida no aprendizado oferecido pela
Com o conhecimento da Libras, mais oportunidades o profissional terá, uma vez que
os atendimentos, prestação de serviços e as demais interações sociais ainda não
a principal forma de promoção humana. Sendo assim, a escola (solo fértil para
Universidade dispõe de vasto material para consulta, como, por exemplo, dicionários
Libras.
A Libras deve estar presente não só na sala de aula em que há o aluno surdo (via
Sim. A libras é visual-gestual; é uma língua pronunciada pelo corpo. Os sinais são
gramatical própria.
RESUMO DO TÓPICO 3
assistentes.
Na tradução consecutiva, a pessoa que tem a palavra faz pausas periódicas em sua
fala, a fim de permitir que o intérprete faça o translado da língua original (língua-
formulações mais complexas daquele texto. Embora seja a situação ideal, nem
mais relevância que a tradução stricto sensu? Que especificidades envolvendo esse
Resposta esperada:
meio surdo surge no meio familiar e, aos poucos, foi se estendendo aos professores
legal das línguas de sinais fez surgir, finalmente, o ILS profissional. A função
precisam também do intérprete ou de aprender uma língua que não é a sua língua
natural.
retomadas.
e) ( ) Foi usada pela primeira vez, após a Segunda Guerra Mundial, nos
qualquer falante bilíngue possua competência comunicativa nas línguas que domina,
c) (X ) conhecimentos – habilidades
interpretação:
quando necessário.
a) ( ) I e II estão corretos.
Aberta, 1991.
Record, 2007.
<http://www.englishforbusiness.com.br/index.php/professional-interpreters>. Acesso
http://www.faders.rs.gov.br/portal/index.php?id=servico&cat=21&cod=28. Acesso em
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87.
1975.