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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

Estética e Fotografia

Mariana Capeletti Calaça

2010
Para iniciar o trabalho tive a difícil tarefa de escolher uma imagem,
dentre as inúmeras que me são impostas diariamente, e analisá-la segundo
uma bibliografia, as aulas de estética e o meu olhar. O trajeto para chegar até a
imagem não foi muito fácil, então eu decidi escolher o que dentro das aulas, me
chamou mais atenção. Optei pelo período do fotoclubismo brasileiro, que me
deixou instigada quanto ao esmero uso da técnica fotográfica.

Dentre as opções de fotógrafos, defini que seria Gaspar Gasparian e


uma fotografia sua intitulada Ondulantes1, de 1954.

Em meados da década de 1940, a fotografia brasileira recebe influência


da fotografia moderna que estava sendo feita na Europa e Estados Unidos
desde o início do século XX. A fotografia moderna veio da necessidade de
romper com a base pictorialista, mudando seu conceito estético e passando a
ser uma fotografia mais direta.

No Brasil, tal mudança veio através dos fotoclubes. O fotoclube que se


destacou no período foi o Foto Cine Clube Bandeirantes, de São Paulo,
revolucionando a fotografia brasileira, extremamente acadêmica até o
momento. Os fotoclubes e a fotografia moderna tinham como interesse

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Disponível em http://gaspargasparian.com/fotos.html acesso em: 30/11/2010
expandir a fotografia como arte, mas diferentemente do pictorialismo, utilizando
os elementos próprios da fotografia.

Gaspar Gasparian foi um dos fotógrafos da dita Escola Paulista e


observando algumas de suas imagens, é possível notar sua atuação entre o
pictorialismo (através de fotografias de natureza morta e paisagens) e o
moderno.

Na fotografia Ondulantes é possível perceber a composição harmoniosa


na obra de Gaspar Gasparian. O uso da luz e da sombra na imagem dá um
tom abstrato no primeiro momento, e após a observação cuidadosa é possível
perceber que se trata de telhas empilhadas.

A linguagem da fotografia é formada pela luz que incide nas telhas


formando ondas que dão movimento a imagem, uma luz estudada que carrega
o olhar do observador por toda a fotografia e que se sobrepõe ao escuro. A
imagem é extremamente geométrica, desde o seu corte preciso, as curvas
formadas pela luz até as laterais das telhas, que dão profundidade a fotografia.

O fotógrafo revela na imagem a beleza de algo que não é socialmente


conhecido como tendo a característica de belo. Para isso cria um ritmo entre a
composição e o alto contraste da luz e da sombra - o que retoma as discussões
nas aulas - onde o belo não está no objeto, mas sim no observador, que da a
ele através de seu olhar essa característica.

As telhas de Gasparian na imagem deixam de ser simples telhas, e


passam a ter sentidos diferentes, de acordo com cada observador. Podem ser
qualquer outro objeto que se movimente sincronizadamente com o soprar do
vento, por exemplo.

Para confirmar esse poder instigador da fotografia, afirma Soulages:

“É por isso que a fotografia é interessante: ela não


fornece uma resposta, mas coloca e impõe esse enigma dos
enigmas que faz com que o receptor passe de um desejo de
real a uma abertura para o imaginário, de um sentido ao uma
interrogação sobre o sentido, de uma certeza a uma
preocupação, de uma solução a um problema. A própria
fotografia é enigma: incita o receptor a interpretar, a questionar,
a criticar, em resumo, a criar e a pensar, mas de maneira
inacabável.” (SOULAGES, François. 2010 p. 346)

A sensação de movimento e sincronia, e o branco exaltado pela


escuridão, fazem com que os olhos do observador fiquem presos pela imagem,
fazendo e refazendo o caminho das ondas. A fotografia é tão instigante que
leva o observador a filosofar, a meditar sobre a imagem diante de seus olhos
(SOULAGES, 2010).

Nessa fotografia de Gasparian, notei também uma possível influência da


vanguarda construtivista, ao utilizar objetos da indústria e próprios da
arquitetura para formar a fotografia artística. Outra característica do
construtivismo presente na fotografia de Gaspar é o uso de elementos
geométricos para compor a cena.

Não pude deixar de observar uma semelhança entre a imagem de


Gasparian e uma outra de Thomaz Farkas, a fotografia Telhas2.

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Disponível em http://www.itaucultural.org.br/ acesso em 30/11/2010
É claro que são imagens diferentes, cada uma com suas características
específicas e suas complexidades analíticas, mas ambas as imagens exploram
a geometria, o claro e o escuro, para dar forma ao objeto fotografado, e
também são abstratas ao primeiro olhar, dando ao observador a possibilidade
de inúmeras interpretações da fotografia.

Nas duas imagens o objeto fotografado é o mesmo, porém por olhares


diferentes, corroborando Soulages (2010) ao falar da estética do ponto de vista,
do particular e do singular, que tornam um mesmo objeto passível de várias
interpretações estéticas, inclusive quando características técnicas se
assemelham.

O meu interesse pelo fotoclubismo se iniciou durante as aulas, é um


assunto ainda novo para mim, provavelmente novos estudos começarão e
permearão, em especial com Gaspar Garian, esse trabalho foi apenas o início
de uma análise sobre o artista, como disse Soulages (2010) “Não podemos
esgotar uma foto”.

Bibliografia

COSTA, Helouise; SILVA, Renato Rodrigues da. A Fotografia Moderna no


Brasil. São Paulo: Cosac Nayf, 2004

SOULAGES, François. Estética da fotorafia. Perda e permanência. São


Paulo: Editora Senac, 2010.

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