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Enfermagem Psicodinamica Cherie Howk CREDENCIAIS E BACKGROUND DA TEORICA Hildegard E.Peplau nasceu a 1 de Setembro de 1909 em Reading, na Pensilvania, Faleceu pacificamente durante © sono aos 89 anos, a 17 de Margo de 1999, na sua casa em Sherman Oaks, na California. Era a segunda de sci fi- lhas de pais imigrantes, Gustav e Ourylie Peplau. Peplau iniciow a sua carreira de enfermagem em 1931, apés licenciacura em Pottstown, Pennsylvania School of Nursing. Fez um Bacharelato em psicologia interpessoal_no Deuniugion College, em Vermont, em 1943; tum mestrado em enfermagem psiquiétrica pelo Teachers College, Columbia, Nova lorque, em. 1947; e um Doutoramento em desenvolvimen- Avnores anteriores: Chétie Howk, Gail H. Brophy, Elizabeth T. Carey, John Noll, LyNere Rasmussen, Bryn Sere, and Naney 1. Sut, © autor dessa expeeear a sua grado a Hildegand por fer 2 anilise extiea do capitulo original. to curricular na Columbia University, em 1953.° Durante a sua prestigiante carreira, Peplau recebeu. graus de douroramento hono- rério das seguintes universidades: Alfred, Duke, Indiana, Ohio € considerada a mie da cenfermagem psiquicrica; contudo, os seus contributos para a profisionalizacio da enfer- magem transcendem a sua especializagio em enfermagem psiquitrica. Influenciou o avan- 50 dos padroes profissionais, educativos e pi ticos da enfermagem. Pioneira na sua drea, enfatizou a importincia da auro-regulagao pro- fissional através da credenciagio e introduziu conceito de advanced practice nursing’. O contributo mais importante de Peplau para a ciéncia de enfermagem, para a enfermagem pro- fissional e a especialidade de enfermagem psi- ica pode ser o desenvolvimento da Teo- mais lead de enermagem nos EUA, 8 que corres lo menos, 0 rau de Mestre (Nota de Tradusi} 23 424 UNDADE IV Teoria © Teonies de Midi Aleance ria das Relagdes Interpessoais, uma ecoria de médio alcance centrada na relagao entre a en- fermeira ¢ 0 doente. ‘Tem sido sugerido que a obra de Peplau criou uma mudanga paradigmdtica na nature- za da relagio entre enfermeira ¢ doente.”* An- tes do livro seminal de Peplau de 1952, Interpersonal Relations in Nursing, a. pritica de enfermagem envolvia acco sobre, para © pelo doente. O doente era considerado o objec- to da acgéo de enfermagem ¢ as enfermeiras deviam agir para ou pelo doente, O trabalho de Peplau mudou para sempre o caricter da enfermagem a0 conceptualizar 0 doente como parceiro no processo de enfermagem. O trabalho da vida de Peplau foi consteuido ccom base nas suas experiéucias pessoal ¢ préti~ ‘e. A percepcéo de Peplau acerca da influéncia da doenga ¢ da morte sobre os individuos ¢ as familias foi influenciada pelas suas primeiras experiéncias durante a grande epidemia de gripe A teorizagéo de Peplau era muito indutiva e baseada em observagbes profundas acerca do seu trabalho cfinico e do seu ambien- te, As suas expetiéncias profissionais ¢ de ensi- no foram muitas ¢ variadas. Foi supervisora da sala de operagées do Pottstown Hospital e, mais tarde, liderou 0 pessoal da enfermaria de Bennington, enquanto fazia a sua licenciatura Peplau exerceu nas instalagbes psiquidtricas do Bellevue and White Instituce, tempo du- rante © qual estudou com psiquiatras de reno- me como Eric Fromm, Frieda Fromm- Reichman ¢ Harry Stack Sullivan. Enquanto membro do Corpo de Enfermeiras do Exército durante a 2* Guerra Mundial, Peplaw traba- Iho num hospital neuro-psiquidtrico, em In- glaterra, onde conheceu ¢ trabalhou com figuras de proa da psiguiatria americana ¢ britanica Depois da guerra, Peplau trabalhow novamen- te com muitos destes homens, enquanto traba- Ihavam para reformular o sistema de saide ‘mental nos Estados Unidos através da promul- gagéo do “National Mental Health Act” de 1946. Peplau defendeu vigorosamente que as enfermeiras deviam tomar-se mais instruidas para poderem prestar verdadeitos cuidados tetaptuticos aos doentes, em vez do cuidado conservador que prevalecia nos hospitais psi- quidtricos nessa época. Peplau contribuiu imensamente para a pro- fissio de enfermagem, em especial para a espe- cialidade de enfermagem psiquidttica, com a publicagdo de Interpersonal Relations in Nursing.” Ao longo dos anos 50 ¢ 60, Peplau™*™ orientou workshops bascados em. apontamentos analisados de sess6es com doen- tes médicos ¢ psiquidtricos, “partilhando abun- dantemente 0 seu conhecimento € competén- cis clinicas..(e) encorajou as enfermeiras a usar a sua competéncia.... num processo continuo, educativo ¢ experimental.” Peplau obreve o grau de mestre pela Uni- vversidade de Columbia, em Nova Torque, ¢ foi convidada a claborar e ensinar a curso de li- cenciatura em enfermagem psiquidteica. Per- maneceu na ficuldade de Columbia durante cinco anos. Em 1954, Peplau foi para Rurgers, ‘onde desenvolveu e foi responsével pelo curso de enfermagem psiquidtrica até & sua reforma em 1974, Em Rutgers, Peplau ctiow o primei- ro curso de licenciatura para a preparacio de ‘especialistas clinicos em enfermagem psiqui rica." Apés a sua saida de Rutgers, aquando da sua reforma, Peplau foi professora convida- dana Universidade de Leuven, na Bélgica, onde ajudou a criar 0 primeiro curso de licenciatura da Europa. Em 1969, Peplau tornou-se directora exe- ccutiva da American Nurses Asociation. Foi pre- sidente desta associagio de 1970 a 1972 ¢ se- sgunda vice-presidente de 1972 a 1974.” Peplau a tinica enfermeira a ter sido directora execu- tiva ¢ vice-presidente da American Nurses Association, Foi igualmente directora da New Jersey Stare Nurses’ Association, membro do Expere Advisory Council da Organizagéo Mun- dial de Saude (OMS); “National Nurse Consuleane” para o Surgeon General of the Air Force; ¢ consultora de enfermagem para 0 United States Public Health Service, no Insti- tuto Nacional de Satide Mental em diversos paises. Foi responsivel pelo conselho editorial de Perspectives in Paychiatrie Care aquando da fandagio da publicacio e consultora-chefe de Nursing 74. Trabalhou no consclho edicorial do Journal of Psychosocial Nursing ¢ do Journal of Psychiatric and Mental Health Nursing. Em 1987, 0 Journal of Psychosocial Nursing discingiu-a como primeira enfermeira psico- social do ano. Em 1994, a carreira de Peplau foi distin- guida pela sua recomendagio para a American Academy of Nussing Living Legends Hall of Fame. Em 1995, Peplau foi seleccionada como uma das 50 Grandes Americanas escolhidas para serem incluidas na 5* Edigio de Who Who in América. Foi membro eleito da American Academy of Nurses ¢ da Sigma Thera Tau, a sociedade nacional de distingéo de en- fermagem. Peplau continuou a leccionar ocasionalmente ¢ a apresentar 0 set trabalho nos Estados Unidos, Canadé, Africa e América do Sul, até sua morte, em 1999. As publica- 6es, nas quais Peplau continuou a desenvol- ver ¢a melhorar seu trabalho, continuaram com consisténcia entre 1952 € 1996. ‘A profissio de enfermagem tem muito a agradecer a Hildegard Peplau. O seu contributo para a profissio surgiu das suas razdes par fazer da enfermagem a sua carreira. Malone" relatou que Peplau aficmara, uma vez, que as razées pelas quais se vornou enfermeira cram bastante irrelevantes, mas que as suas razées pasa permanecer ¢ fazer disso carreira foram enormes. As suas razSes para permanecet in- clufram 0 seu profundo interesse pelo traba- Iho, a prética de enfermagem, a oportunidade de desenvolver as suas capacidades e a oportu- nidade para ajudar a0 progresso da profissio na iniciativa publica. William E.Field, Js. perpetuou a obra de Peplau através da publicagio de The Pychotherapy of Hildegard E. Peplau."® Neste livro, Field compilou uma imensido de apon- tamentos sobre as iniimeras conferéncias que Peplau deu as enfermeiras psiquittricas Por fim, o livro de Field apresentou a teoria € 0 método de psicoterapia investigativa de Peplau, conforme desenvolvido entre 1948 ¢ 1974 Os arquivos de Peplau encontram-se depo- sitados na Arthur and Elizabeth Schlesinger CarTLO 21 Hfldegard E. Peplau 425 Library em Histéria das Mulheres na América no Radcliffe College em Cambridge, Massachusetts. FONTES TEORICAS Peplau estava empenhada em integrar 0 co- nhecimento estabelecido na sua estrutura conceptual, desenvolvendo um modelo de en- fermagem baseado na teoria. A Teoria das Relagdes Interpessoais de Peplau incluia no seu modelo teorias existentes numa altura em que © desenvolvimento da teoria de enfermagem ra relativamente novo. A natureza da ciéncia de enfermagem diz respeito a0 “corpo de conhecimentos compro- vado dentro da disciplina de enfermagem... [isto 4] principalmente conhecimento das ciéncias biolégica e comporcamental.”" A “sfntese, rcorganizacio ou extensio dos conceitos extra- {dos das ciéncias bésicas e aplicadas, que na sua reforma tendem a tornar tos,” conduziram 4 evolu enfermagem.2*"? Peplau usou o conhecimento retirado da cigncia comportamental ¢ daquilo que pode apelidar-se de modelo psicoldgico para elaborar a sua Teoria de RelagGes Interpessoais. A tracgio de conhecimentos do modelo psicol6- gico “permitiu que a enfermeira comecasse a afastar-se de uma orientagéo da doenga para outra através da qual o significado psicoldgico dos eventos, sentimentos ¢ comportamentos podia ser explorado e includo nas interven- bes de enfermagem. Deu as enfermeiras uma oportunidade de ensinar os doentes a experi- mentarem os seus sentimentos ¢ de explorarem com os clientes como lidar com os seus senti- mentos.”* A estrutura conceptual das rela- .6es interpessoais procura desenvolver a com- peténcia da enfermeira na utilizagio destes con- ceitos. Sullivan, Symonds,® Maslow ¢ ‘Mitdeman,” ¢ Miller sfo algumas das princi- pais fontes que Peplau usou no desenvolvimen- to da sua estrutura conceptual. Alguns dos conceitos terapeuticos que estes tedricos lega- ram emergiram directamente das obras de Freud” ¢ de Fromm." io da ciéncia de 426 UNDADE IV Teoria ¢Trorias dev Médio Meance USO DE PROVAS EMPIRICAS As teorias dispontveis quando Peplau elaborou a sua teoria descreviam o comportamento dentro das perspectivas da teoria psico-analitica, os princlpios da aprendizagem social, 0 conceito de motivasio humana e o conceito de desenvol- vimento da personalidade. Peplau combinow as diversas ideias de Maslow, Sullivan, Miller ¢ Symonds. O génio de Freud, Fromm, Adler € Pavlov foram os iniciadores destas teorias. ‘Apesar de Peplau nao considerar a teoria de Freud muito dcil em si, especialmente no traba- Iho clinico com os doentes, as hipéteses de Freud foram uma fonte rica de estudo de investigasio. Freud enfatizou a importincia da motivacio, do conflio ¢ do papel da familia no inicio da in- fincia e descobriu a importincia do inconscien- te. Os principios Freudianos tém sido largamente experimentados e a sua influéncia nas hipéteses dos teéricos posteriores ¢ dbvi. ‘A teoria da motivacio humana de Maslow & muito conhecida e a seguir & sta publicagso surgiu uma grande quantidade de investiga- g6es de confianga. Maslow teorizou que as pessoas sio motivadas para atingir 0 seu po- tencial inerente, um processo refetido como uto-realizacao. O trabalho de Miller cencra-se za teoria da personalidade, em mecanismas de ajuste, psicoterapia e princfpios de aprendiza- gem social. © modelo de resposta ao estimulo de Pavlov influenciou os princfpios de apren- dizagem social de Miller. Miller auxiliou na tradusio da teoria ¢ pritica psico-analiicas para termos da teoria de aprendizagem, criando os fandamentos para que os behavioristas encras- sem no campo da rerapia. Sullivan foi pioneiro no campo da psiqui- atria moderna, Com outros te6ricos ¢ peutas proeminentes. alargou a psicandlise Freudiana bésica. Sullivan trabalhou no senti- do da inclusio de decerminantes culeurais € sociais na visio Freudiana e enfatizou o de- senvolvimento das relacées interpessoais como prolongamentos necessirios da visio psico- analitica.”” PRiNciPAIs Concertos cj DEFINIGOES ENFERMAGEM PSICODINAMICA Peplau define enférmagem psicedindmica porque 0 set modelo surge através deste tipo de enfermagem. “A enfermagem psicodi- | nimica estd a ser capaz de compreender 0 ‘comportamento de uns para ajudar outros a identificar as dificuldades sencidas, ¢ a apli- | car principios de relagdes humanas aos pro- blemas que surgem, cm. todos os niveis de | experiencia.” Peplau desenvolye 0 mode- Jo, descrevendo os conceitos estruturais do processo incerpessoal, que sivas fases da roe lagao enfermeira-doente. Defende que isto é byisico para a enfermagem psicodinimica, RELAGAO ENFERMEIRA-DOENTE Peplau descreve quatro fases da relagio ‘enfermieira-doente. Apesar de independentes, clas sobrepdem-se ¢ ocorrem durante 0 tem- 10 da relagao” (Figura 21-1): Orientagso Durante a fase da orientagio, 0 individuo tem uma necesidade sentida © procura ajuda profissional, A enfermeira ajuda 0 doente a reconhecer e compreender o:seu problema ¢. a-dererminar a sua necessidade de ajuda.” O doente identifica-se com quem 0 pode ajudar (relacio). A enfermeira permite a ex- ploragao de sentimentos para ajudar 0. doe te a pastar pela docnga como uma exprrié cia que reorienta os sentimentos, fortalece as forcas positivas da personalidade ¢ fornece & satisfagio necesséria. Exploragao Durante a fase da exploragio, 0 doente tenta retirar toda a valia do. que Ihe é ofere- és da relagio. A enfermeita pode | Identificagao. | ido. atr CAPITULO 21 Hildegard B. Peplan 4% PRINCIPAIS CONCEITOS cj" DEFINIGOES ~ continuagao projectar novos. objectivos a acingit através do esforco pessoal ¢ de deslocasies do poder da enfermeira para 0 doente , i medida que © docnte revarda a gratificasio para. atingir 6s objectivos recém-propostos.”” Resolugao doente coloca, gradualiente, de parte objectivos antigos e adopta novos. Este é um processo no qual o doente se liberta da iden- tificagéo com enfermeira.”” PAPEIS DE ENFERMAGEM Peplau® descreve seis papéis de enferma- gem quic surgem nas diversas fases da relacéo enfermeira-doente: (1) papel de estrana, (2) papel de pessoa de recurso, (3) papel de professora, (4) papel de lider, (5) papel de substituta e (6) papel de conselheita. Papel de Estranha Peplau declara que pelo facto de a enfer- meta e o doente serem estranhos, a enfermei- ra deve tratar 0 doente com a cortesia co- ‘mum. Por outras palavras, 2 enfecmeiea nio deve pré-julgar o doente, mas aceité-lo como pessoa. Dutante esta fase iiio-pessoal, a enfer- meira deve tratar o doente como sendo emo- cionalmente capaz, até prova em contr Isto coincide com a fase de identificagto.’ Papel de Pessoa de Recurso Acenfermeira fornece respostas especificas as questoes; especialmente informacio sobre satide, ¢ explica ao doente o tratamento ou plano. de cuidados médicos. Estas questées surgem, muitas vezes, dentro do contexto de tum problema mais vasto. A enfermeira de- termina qual o tipo de resposta adequado 3 aprendizagem construtiva, tanto dando ces postas factuais claras como prestando acon- selhamento.”” Papel de Professora © papel de professora ¢ uma combina- ‘Go de todos 0s paptis e “procede sempre daquilo que 0 docate sabe e... desenvolve 0 | seu interesse em querer ¢ da capacidade de usar..informacao.”” Peplau'? desenvolve 0 papel. de professora cm documentos. poste- flores. Separa o ensino em duas categorias: (1) educativa, que consiste, de forma geral, em fornecer informacio e é a forma expli- cada na literatura educativa, ¢ (2) empirica, | que ¢ “usar a experiéncia daquele que apren- de como base a partir da qual sio desenvol- vidos os produtos de aprendizagem."* Os produtos de aprendizagem sio. generaliza- {Ges € apreciagbes que 0 doente faz acerca das suas experiéncias, Este conccito de aprendizagem. usado no papel de professo- ta, sobrepoe-se a0 papel de enfermeira conselheira, porque a enfermeira transporra o.conceito de aprendizagem através das téc- nicas psicoterapéuticas.” Papel de Lider © papel de lider envolve 0 processo democrético, A enfermeira ajuda 0. doen- te 2 cumprir as tarefas através de uma relagio de cooperacio e de participacio activa.” | Papel de Substituta © doente coloca a enfermeira no papel de substitura. As formas de estar ¢ os com- portamentos da enfermeira criam modelacées de sentimento no doente que reactivam 05 sentimencos gerados numa relacio anterior. A funcao da enfermeira & a-de ajudar 0 do- fente a reconhecer as semelhangas entre a en- fermeira ¢ a pessoa de quem o doente se Jembra. A enfermeira ajuda, entio; 0 doente a ver as diferencas entce o papel da enfermei- ra e 0 da pessoa que o, doente recorda, Nesta fase, doente ¢ enfermeisa definem dreas de dependéncia, independéncia e incerdependén- Papel de Conselheira Peplau'! acredita que 0 papel de acon- selhamento tem 0 maior énfase na enferma- Conta 428 UNIDADE IV Teorteas e Teoria de Média Meance PRINCIPAIS CONCEITOS

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