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poucos temas têm chamado tanto a atenção quanto sua economia ervateira e, em seu
vida social nessa região: migrações, costumes, atividades produtivas e comerciais, vias
brasileiro).
Para iniciar a discussão desse tema, é preciso lembrar que a parte sul do atual
Mato Grosso do Sul (vale dizer, o extremo sul do antigo Mato Grosso)3 fazia parte da
vasta área, correspondente à porção central da bacia platina, onde era nativa a árvore
bebida, como uma espécie de complemento alimentar, remonta, como se sabe, aos
1
Texto elaborado no âmbito de um estágio de pós-doutoramento realizado na UFF, sob a supervisão do Prof.
Luiz Carlos Soares, entre agosto de 2008 e julho de 2009.
2
Professor da graduação e do mestrado em História da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).
3
Como se sabe, a porção meridional do antigo Mato Grosso foi transformada, em 1977, no novo estado de Mato
Grosso do Sul. Para facilitar a redação e, ao mesmo tempo, evitar o anacronismo, essa porção é referida, neste
trabalho, como “antigo sul de Mato Grosso”, “sul do antigo Mato Grosso” ou simplesmente SMT.
antigos habitantes dessa região, sobretudo os Guarani. Tendo sido esse hábito adotado
impulso após a guerra contra o Paraguai, que, tendo desorganizado a produção nessa
por populações indígenas e, de modo ainda mais esparso, por não-índios (sendo
da comissão demarcadora dos limites com o Paraguai, e obteve sua concessão graças
4
Manuel Aires de Casal, Corografia brasílica, Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1976. p. 126, nota 10.
5
Virgílio Corrêa Filho, À sombra dos hervaes mattogrossenses, São Paulo, Ed. S. Paulo, 1925; Odaléa C. Diniz
Bianchini, A Companhia Matte Larangeira e a ocupação da terra do sul de Mato Grosso (1880-1940), Campo
Grande, Ed. UFMS, 2000.
2
Desde o início a economia ervateira assumiu, no SMT, feições distintas em
relação às províncias sulinas brasileiras (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
por numerosos pequenos proprietários, cuja produção era vendida aos chamados
“moinhos” – os quais por sua vez a exportavam já pronta para o consumo. Já no SMT
configurou-se, durante um bom tempo, uma situação de monopólio, na qual uma única
junho de 1890, direitos exclusivos sobre a exploração de uma vastíssima área, que
julho do ano seguinte, Laranjeira obteve também autorização para organizar, sob a
denominação de Companhia Mate Laranjeira, uma sociedade anônima que teria como
que, das 15.000 ações em que se distribuía seu capital (3 mil contos de réis), nada
menos que 14.540 foram subscritas por uma outra empresa, recém-fundada,
Comercial do RJ, livro 62, registro 1565). Embora tenha assumido, ao longo do tempo,
nome adotado em 1891 e manteve uma posição predominante nos ervais sul-mato-
3
De fato, na década de 1890 a exploração ervateira era a mais lucrativa de todas
estenderam pelas décadas seguintes, ela veio a possuir seus próprios portos fluviais,
estradas de terra e até mesmo dois trechos de ferrovia do tipo Decauville, além de
importação e exportação. Para fazer funcionar todo esse aparato, a empresa chegou a
das matas – contingente esse formado por indígenas e principalmente por paraguaios,
Cabe notar que ao Banco Rio e Mato Grosso, acima referido, ligavam-se
exercida inicialmente por Joaquim Murtinho e em seguida por seu irmão Francisco.
Esse banco, contudo, foi liquidado entre 1902 e 1903. A CML desapareceu juntamente
com o banco, cujo acervo foi contudo adquirido, pelo menos formalmente, por Tomás
& Cia. na formação da sociedade Laranjeira, Mendes & Cia., igualmente sediada em
6
Cabe notar que, segundo os relatos disponíveis, o trabalho dos mineros era extremamente penoso e
desenvolvido em condições análogas à escravidão, uma vez que o trabalhador, além de ser engajado mediante
um adiantamento, ficava obrigado a abastecer-se nos armazéns da própria empresa e não podia deixar o trabalho
enquanto não saldasse integralmente seus débitos (cf., por exemplo, Isabel C. Martins Guillen. O trabalho de
Sísifo: “escravidão por dívida” na indústria extrativa da erva-mate (Mato Grosso, 1890-1945), Varia Historia,
Belo Horizonte, v. 23, n. 38, p. 615-636, jul./dez. 2007.
4
Buenos Aires, que sucedeu a antiga CML nos negócios da erva no SMT. Em 1917,
mantendo embora os mesmos proprietários, a firma Laranjeira, Mendes – que era uma
como uma sociedade anônima com sede no Rio de Janeiro, mas controlada pela
antigo contrato de arrendamento de ervais com o estado de Mato Grosso, com validade
até fins de 1937. O Estado Novo varguista, contudo, agora responsável pelas terras
ervateiras. Seu novo contrato, no entanto, teve pouca duração: ainda em 1949 o estado
presença nos ervais, levou-a a “sequestrar”, por assim dizer, grande parte da história e
7
D. Francisco Mendes Gonçalves Panegírico de e sua grande obra, a Mate Laranjeira. Rio de Janeiro: Tip.
Mercantil, 1941, p. 8.
8
A empresa, contudo, embora se tenha retirado do ramo ervateiro, continua a existir até os dias atuais,
dedicando-se a atividades agropecuárias.
5
da memória de toda a região ervateira. De fato, pelo que consta em boa parte das obras
que “no começo nada existia, então veio a Matte Larangeira e se fez a história da
confundir, mais do que seria justo e desejável, a história da economia ervateira sul-
coisa. Essa confusão nem sempre é inocente, pois, como aponta a mesma autora, a
estudos, em vista da vastidão do tema – sendo isso o que explica, por exemplo, o fato
Desse modo, a empresa tende a aparecer não como um agente histórico entre
quase como um ente atemporal, isto é, a-histórico, como se ela já houvesse nascido,
qual autêntica Minerva, com toda a sua imensa estrutura, e tivesse atravessado o tempo
9
Isabel C. Martins Guillen,O imaginário do sertão: lutas e resistências ao domínio da Companhia Mate
Larangeira (Mato Grosso: 1890-1945), Dissertação (Mestrado em História) – IFCH/UNICAMP, Campinas,
1991, p. 21; Isabel C. Martins Guillen, O lugar da história: confronto e poder em Mato Grosso do Sul Revista
Científica, Campo Grande, UFMS, v. 3, n. 2, p. 37-44, 1996, p. 38,
10
Isabel C. Martins Guillen, Op, Cit, 1996, p. 38.
6
Na verdade, contudo, o universo da economia ervateira sul-mato-grossense foi
algo muito mais complexo, impossível de ser reduzido à exclusiva presença da CML.
Do mesmo modo, a empresa não ficou sempre imune, nem passou ilesa pelas
transformações ocorridas em seu ambiente ao longo das sete décadas entre o início
lembrar que, desde a primeira metade do século XIX, o SMT passara a acolher
Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul (sendo que a migração de
pecuária bovina, sendo que, na região ervateira, não se furtavam também à elaboração
de erva-mate, tanto para consumo próprio como para comércio. 12 Portanto, a presença
desses outros atores criava, por assim dizer, um universo “paralelo” à empresa, embora
empresa sobre os ervais começou a ser questionado, sob a pressão dos migrantes
11
Para os conceitos de frente de expansão e frente pioneira, ver José de Souza Martins, Frente pioneira:
contribuição para uma caracterização sociológica. Estudos Históricos, Marília, n. 10, p. 33-41, 1971; José de
Souza Martins, Fronteira: a degradação do Outro nos confins do humano, São Paulo, Hucitec, FFLCH/USP,
1997.
12
Virgílio Corrêa Filho, Op. Cit, p. 17.
7
(sobretudo gaúchos) e de parcela da elite dirigente mato-grossense. Um importante
marco, a esse respeito, foi uma lei estadual que, em 1915, ao mesmo tempo em que
extensão), garantiu aos posseiros estabelecidos na região dos ervais a “preferência para
aquisição” dos respectivos terrenos, de tal modo que, entre 1919 e 1924, o Estado
expediu centenas de títulos de propriedade de lotes situados nessa região.13 Nos anos
era Vargas, receberam certo apoio oficial, sobretudo após a criação do Instituto
quais, aliás, permaneceram no ramo ervateiro mesmo depois que a CML tendeu a
Com relação ao suposto caráter “atemporal” da empresa, cabe lembrar que ela,
Trajetória empresarial
Laranjeira “não contava com uma estrutura de organização empresarial moderna e não
13
Ibid, pgs. 83-86, 91.
8
possuía capital suficiente para a constituição de infra-estrutura necessária para
14
dinamizar a produção”. Assim, pode-se talvez caracterizar a empresa de Laranjeira
consumidor de Buenos Aires”, o que foi obtido “graças aos esforços e auxílios
prestados pela importante firma daquela praça Francisco Mendes e Cia.” 16 Pelo que se
conhecido Tomás Laranjeira por ocasião da guerra com o Paraguai, quando eram
teriam idealizado o futuro negócio da erva. Assim, após a guerra, “por conveniência do
e constituiu seu lar, fundando em 1874 a sociedade comercial Francisco Mendes &
Laranjeira.17
Uma nova fase, contudo, teria início com a constituição da CML, em 1891. Na
avaliação de Arruda, com a entrada, no negócio, dos capitais providos pelo Banco Rio
14
Gilmar Heródoto Arruda, In: Ciclo da erva-mate em Mato Grosso do Sul: 1883-1947, Campo Grande,
Instituto Euvaldo Lodi, 1986, p. 235.
15
Ver, a esse respeito, Ciro Cardoso & Héctor Brignolli, Os métodos da História, 2. ed. Trad. João Maia, Rio
de Janeiro, Ed. Graal, 1981, p. 338-340; Eulália L Lobo, História empresarial, In: Ciro Cardoso; Ronaldo
Vainfas (Org.), Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia, Rio de Janeiro, Campus, 1997, p. 218.
16
A indústria da herva matte, 1914, p. 1.
17
D. Francisco Mendes Gonçalves Panegírico de e sua grande obra, a Mate Laranjeira, Op. Cit, p. 7.
9
empresariais, o que permitiu a instalação de uma infra-estrutura mais sofisticada”18.
Tal avaliação é reforçada por Fernando Faria, segundo quem a companhia procedeu à
A julgar pelo que registra o citado Panegírico, a constituição da CML não teria
em tom de absoluta naturalidade. Com “o correr dos tempos”, diz-se, aos dois
passou a ser a elaboradora e exportadora do produto para a firma Francisco Mendes &
versão desse documento, na medida em que se noticiam ações, por parte da CML, que
parecem indicar uma certa mudança, ou diversificação, das antigas relações entre
produção que levamos ao mercado, como também integrar as funções desta companhia
com o preparo completo do seu produto antes de entregá-lo ao consumidor’” 21. Desse
18
Gilmar Heródoto Arruda, Op. Cit, 1986, p. 234-235. Vale notar, contudo, que o processo de produção, tal
como realizado na empresa, não parece haver chegado a envolver a utilização de quaisquer mecanismos de
complexa tecnologia. Ao contrário, prevaleciam, apenas com poucos aperfeiçoamentos, os métodos ancestrais,
cujas origens remontavam aos antigos processos indígenas e jesuíticos – embora uma autora avalie ser possível
considerar o “rancho ervateiro” como uma unidade fabril (GUILLEN, 1991, p. 211).
19
Fernando A. Faria, Os vícios da Re(s) pública: negócios e poder na passagem para o século XX, Rio de
Janeiro: Ed. Notrya, 1993, p. 226-227.
20
D. Francisco Mendes Gonçalves Panegírico de e sua grande obra, a Mate Laranjeira, Op. Cit, p. 7.
21
Cf. Fernando A. Faria, Op. Cit., p. 226.
10
modo, pode-se deduzir que a CML estava, de certa forma, avançando sobre os espaços
dos Mendes Gonçalves, numa expansão tanto horizontal quanto vertical de seus
negócios.
Uma nova fase, de todo modo, se iniciaria após a liquidação do Banco Rio e
Laranjeira. A julgar pelo pouco que ainda se sabe sobre esse assunto, teria havido
então uma reversão nas tendências há pouco mencionadas, pelas quais a CML parecia
estar investindo sobre esferas antes ocupadas por Francisco Mendes & Cia. É certo
que, ainda aqui, a historiografia enfatiza uma continuidade, apenas mesclada de novos
elementos: segundo Corrêa Filho, a nova empresa Laranjeira, Mendes & Cia.
capitalista” – grupo esse agora apenas acrescido, nas palavras do autor, por um
22
“recém-vindo”, isto é, Francisco Mendes & Cia. De todo modo, se a CML parecia
neutralizada com a presença direta de Mendes na sucessora da CML. Seja como for,
no Brasil, como já foi dito, a Companhia Mate Laranjeira, como uma sociedade
22
Virgílio Corrêa Filho, Op. Cit, p. 42-43. A suposta continuidade é afirmada também pelo citado Panegírico, p.
7-8.
11
anônima controlada pela matriz argentina23. Ao que parece, essa mudança foi
função da crescente produção nacional argentina. 24 Sabe-se de fato que, desde o início
do século XX, a República Argentina (que não possuía, em seu território, senão uma
mate mato-grossense”. 25
Desse modo, parece possível entender o episódio de 1929 como uma tentativa
da empresa no sentido de separar a “parte boa” da “parte má”, pois, como assinala
Ronco, “La Cia. Francisco Mendes continuó su actuación en la Argentina y con éxito,
(2004, p. 21). Além disso, pode-se talvez identificar aí uma tentativa de dotar o ramo
23
D. Francisco Mendes Gonçalves Panegírico de e sua grande obra, a Mate Laranjeira, Op. Cit., p. 8. Logo em
seguida (1935), aliás, fundiram-se na Argentina a Francisco Mendes & Cia. e a Sociedad Anónima Empresa
Mate Laranjeira dando origem à Empresa Mate Larangeira Mendes S. A., que existe até os dias de hoje naquele
país.
24
Adriana Patricia Ronco, La Mate Laranjeira y el monopolio del comercio de la yerba mate (1890-1930),
Jornadas de Historia Economica, 19., San Martín de los Andes, oct. 2004, p. 1-2.
25
Alvanir de Figueiredo, A presença geoeconômica da atividade ervateira: com destaque da zona ervateira do
Estado de Mato Grosso, tomada como referência, Tese (Doutoramento em Geografia) – Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras, Presidente Prudente, 1968, p. 251.
12
Dentre as características que acompanharam por longo tempo a história da
Mato Grosso. Estudos preliminares que acabei de efetuar sobre o Banco Rio e Mato
Grosso, contudo, sugerem ser necessário evitar a idéia de que as alianças e rupturas
políticas tiveram sempre em Mato Grosso, nessa época, um fundo econômico, isto é, a
Sugere-se, de modo diverso, que tais rupturas e alianças podem explicar-se sobretudo
Corrêa da Costa, antes aliada aos Murtinho, rompeu com estes em 1899 e tornou-se
desde então uma forte adversária dos privilégios concedidos à CML e suas sucessoras.
Penso, contudo, que essa ruptura foi motivada acima de tudo por razões
ordem contra a CML tornam-se, desde então, sobretudo um instrumento de luta pelo
26
Paulo R. Cimó Queiroz, Joaquim Murtinho, banqueiro: notas sobre a experiência do Banco Rio e Mato Groso
(1891-1902), Congresso brasileiro de história econômica, 8/Conferência internacional de história de empresas, 9,
Campinas, set. 2009, Anais... Campinas, ABPHE, 2009.
13
gaúcha para o SMT e a consequente criação, nessa região, de uma nova base social
entre o Brasil e a Argentina (desse modo, a própria separação formal entre os ramos
argentino e brasileiro da empresa, em 1929, pode haver sido influenciada também por
esses motivos). Essa situação tornou-se ainda mais aguda depois de 1930, quando a
nacional brasileiro – tanto que ela precisou, por exemplo, nacionalizar seu capital e
27
seus dirigentes. De fato, a chamada “Marcha para Oeste”, lançada por Vargas logo
agudas, devido à grande presença de cidadãos paraguaios e seus descendentes (de tal
modo que, nessa região, era intensa a influência cultural paraguaia, inclusive com uma
como por exemplo a recusa em renovar suas concessões, a imposição de taxas sobre a
erva cancheada, o apoio aos produtores independentes e a criação, nas áreas de atuação
27
D. Francisco Mendes Gonçalves Panegírico de e sua grande obra, a Mate Laranjeira, Op. Cit, p. 8.
14
da empresa, de territórios federais e colônias agrícolas nacionais (cf. QUEIROZ,
2008).
domínios da empresa.
da região. Ele escreve que Laranjeira, “não sendo um ganancioso, nem um egoísta,
sempre amparou a quantos apareceram para trabalhar e produzir. Ele mesmo indicava
procurando um rincão para viver”.28 Do mesmo modo, Linhares assinala que, sendo
dado “a melhor das acolhidas” aos primeiros desses “retirantes” que chegaram ao sul
Laranjeira com relação à presença de possíveis competidores – o que por sua vez pode
28
Astúrio Monteiro de Lima, Mato Grosso de outros tempos: pioneiros e heróis, São Paulo, Ed. Soma, 1985, p.
14.
29
Temístocles Linhares, História econômica do mate, Rio de Janeiro, Ed. J. Olympio, 1969, p. 150.
15
reforçar a hipótese da predominância, nessa fase, da esfera comercial sobre a
colocasse não apenas como produtor mas também (ou talvez principalmente) como
por parte de terceiros, antes reforçaria que comprometeria sua posição, na medida em
que tal produção terminaria por convergir, na maior parte, para suas mãos.
uma indicação do caráter mais propriamente industrial da nova empresa, que já não
recursos de coerção. Além disso, tendo obtido, como foi dito, o apoio de importante
parcela das elites políticas, os novos povoadores lograram obter importantes triunfos,
30
Virgílio Corrêa Filho, Op. Cit, p. 43-44; Temístocles Linhares, História econômica do mate, Rio de Janeiro,
Ed. J. Olympio, 1969, p. 151.
31
Gilmar Arruda, Frutos da terra: os trabalhadores da Matte-Laranjeira, Londrina, Ed. da UEL, 1997.
16
certo apoio estatal, como já referido, e em seguida pela retração da Companhia. O
produtores 32. Desse modo, o “ciclo” ervateiro (mantendo ainda suas características
definitivamente. 33
Para finalizar este item, cabem aqui algumas referências à segunda vertente
acima mencionada, que coloca, na verdade, a seguinte questão: até que ponto a grande
Conclusão
32
Capataz Caati Athamaril Saldanha, In: Ciclo da erva-mate em Mato Grosso do Sul: 1883-1947, Campo
Grande, Instituto Euvaldo Lodi, 1986, p. 472-473; ver também, Laércio Cardoso de Jesus. Erva-mate – o
outro lado: a presença dos produtores independentes no antigo sul de Mato Grosso (1870-1970), Dissertação
(Mestrado em História) – UFMS, Dourados, 2004.
33
Capataz Caati Athamaril Saldanha, Op. Cit., p. 504.
34
Cf. Paulo R. Cimó Queiroz, A navegação na Bacia do Paraná e a integração do antigo sul de Mato Grosso ao
mercado nacional. História Econômica & História de Empresas, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 165-197, jan./jun.
2004.
17
Por sua grande complexidade, e em face da exiguidade do espaço, deixo de
de trabalho – tema esse que, para além de sua importante dimensão econômica, possui
uma candente dimensão humana, relacionada, sobretudo à sorte dos mineros. Note-se
apenas que, com relação a esses trabalhadores, são bastante difundidos os relatos que
descrevem a dureza, quando não o horror, de sua vida nos ervais 35. Outros autores,
contudo, embora sem negar a dureza nem o eventual horror, assinalam que, no mundo
verdade que a história da economia ervateira sul-mato-grossense não pode ser reduzida
à dessa empresa, é igualmente verdadeiro que esta foi um ator decisivo naquele
conhecimento das demais facetas desse complexo e fascinante mundo. É certo que,
como foi parcialmente visto aqui mesmo, essa trajetória tem motivado uma produção
35
Rafael Barrett, Lo que son los yerbales, In: Obras completas [de] Rafael Barrett, Asunción, RP Ediciones,
Instituto de Cooperación Iberoamericana, 1988; Hernâni Donato, Selva trágica: a gesta ervateira no
sulestematogrossense, São Paulo, Autores Reunidos, 1959.
36
Gilmar Arruda, Op. Cit., 1997; Isabel C. Martins Guillen,O imaginário do sertão: lutas e resistências ao
domínio da Companhia Mate Larangeira (Mato Grosso: 1890-1945), Dissertação (Mestrado em História) –
IFCH/UNICAMP, Campinas, 1991.
18
Tais são portanto as circunstâncias que justificaram meu projeto de pesquisa no
Rio e Mato Grosso, à Laranjeira, Mendes & Cia. e à Empresa Mate Laranjeira, S.A. –
efetuar uma análise mais detalhada das fontes relativas ao Banco Rio e Mato Grosso,
do que resultou o trabalho aliás já citado no presente texto. Desse modo, apenas num
contribuir de modo mais efetivo para a importante tarefa delineada no projeto, a saber,
sagrada) para um terreno mais “profano”, isto é, aquele do processo histórico real.
19