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Coordenação editorial
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Carla Milano Benclowicz
Milton Santos
." Assistente editorial
Martha Assis de Almeida ,
Revisão
Maria Vieira de Freitas (coordenação)
METROPOLECORPORATIVA
Colaborador
FRAGMENTADA
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Dadoa de Oa'a1OCa\lÃ0 na Pll'blioapo (OU) Illteraaotonal
(01__a Braatle1ra 40 Livro, IP, BraaU)
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ISBN 8B·213-0661-2
ODD·711.4098161 fSeCfetârt8i
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90-1271
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l ti Capítulo 1
17
A especulação ....................................... . 30
Capitulo 2
CapituloJ
Imobilidade relativa e fragmentação da metrópole. Os transportes .. . 7S
Capitulo 4
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CapítuloS
A realidade como tendência. O que aponta o futuro .. , . , .. , , , . , . " 100 Introdução
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de apoio c considerá-los de maneira sistêmica, na busca de um esquema Para isso, a própria cidade, como materialidade, tem de ser colocada na
interpretativo abrangente. Esse esforço, que não deve e não pode deixar de frente da cena, porque ela se impõe aos demais figurantes como uma estru
lado as evidências empíricas, obrigar-se-á a retomá-las no contexto do pre tura de enquadramento - isto é, um dado dinâmico -, sem a qual, de
sente e de sua elaboração. Para tanto, pretendemos realçar as variáveis nosso ponto de vista, a própria vida social dificilmente pode ser entendida.
seguintes: o papel do Estado, seja ':.j';';. sua ação contingente, seja no de for Nosso ensaio busca valorizar esse dado explicativo, como se quiséssemos
mulador de um modelo econômico que perdura; a distribuição da renda e dizer, com insistência, que o urbano tanto pode ser mais, como pode ser
os contrastes agudos entre a riqueza e a pobreza; o papel do crescimento menos que a cidade; e que, sem o entendimento desta, considerada em
econômico e da crise econômica e sua influência sobre os diversos aspectos uníssono como corpo e ação, a interpretação do urbano é freqüentemente
da vida social; o tamanho da cidade e sua repercussão sobre a sociedade e a acanhada e insuficiente.
economia; o papel da especulação e o dos vazios urbanos; a questão da
metrópole corporativa, da relativa imobilidade dos mais pobres dentro da
cidade e da fragmentação da metrópole; o problema do gasto público e sua
seletividade social e espacial, assim como as tendências que podem ser
I )
inferidas da análise da realidade atual.
Muito numerosos têm sido os estudos já realizados para ajudar a en
tender o papel do Estado em relação à urbanização e à cidade no Brasil.
De tudo o que se sabe, pode-se, de um modo geral. asseverar que dois
traços fundamentais são comuns à ação das políticas públicas, ainda que
variem os aspectos particulares. De um lado, o Estado tem um papel impor
tante quanto ao processo de urbanização, através do modelo de desenvol
vimento que permite ou provoca e da conseqüente divisão territorial do
trabalho, o que tem a ver com o processo geral de urbanização e seus aspec
tos localizados, e, de outro lado, quanto ao próprio formato do crescimento
urbano, em seus aspectos físico e social, graças ao modelo de investimento
adotado para as áreas urbanas.
Mas cada uma das outras questões acima enunciadas dispõe de uma
certa autonomia, a despeito do seu entrosamento necessário com a instân
cia política e, desse modo, cada uma delas merece um estudo autônomo.
Somente assim o todo, que é o organismo urbano em seu conjunto, pode
chegar a ser definido, evitando-se que um fator isolado (seja ele o Estado
em si ou a economia em si) venha a ser visto como um dado absoluto, o que
implicaria arriscar-nos a laborar em abstrato, ainda que trabalhando com
dados empíricos. Não-se trata de um Estado em abstrato, assim definido de
uma vez por todas; nem de uma especulação fundiária em abstrato, inde
pendente de sua historicidade; nem de um tamanho urbano em abstrato,
I encerrado em si mesmo; nem de uma pobreza em abstrato, independente
;1. do espaço urbano em que se insere. Trata-se do entendimento de um sis
. tema, o que supõe sua historicidade, da qual lhe advém sua singularidade .
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nos anos 80, foram incorporados 480 km 2 de más periféricas que perma
w necem desprovidas dos principais serviços urbanos necessários à reprodu
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ção da força de trabalho". Conforme dados oficiais (Sumário de Dados de
Um dos estudiosos da metrópole paulistana, já em 1976, considerava
1983, Emplasa, p. 347), a Grande São Paulo conta hoje com 962 km 2, en
sua área "desproporcionalmente grande, seja em relação ao crescimento
quanto, em 1965, a área respectiva era de 550 km2, segundo Maria Adélia
A. de Souza (fev. 1982). demográfico e de atividades, seja em relação à capacidade do poder pú
blico promover os investimentos necessários para equipá-la dos serviços
Um dos traços dominantes da geografia paulistana são, pois, a enorme
) públicos" (Luiz Carlos Costa, 1976, p. 19). Um documento de 1978, da
extensão da cidade e o ritmo crescentemente rápido com que, desde fins do
Empresa Metropolitana de Planejamento (Emplasa 43021 A), dedicado ao
século passado, expande-se a aglomeração. Considera-se que, entre 1950 e
estudo da evolução da mancha urbana contínua da Grande São Paulo, de
1980, a área urbana cresceu nove vezes. enquanto a população se multi
plicou por 4.5 vezes. plora que essa expansão "planejada para ocorrer a leste e a nordeste da
aglomeração deu-se, porém. ao sul do município de São Paulo e a sudeste
Distâncias de alguns municípios
da Região Metropolitana, áreas onde não se devia construir para evitar o
da Região Metropolitana ao centro
que justamente aconteceu. isto é. o transbordamento do habitat dentro,
do município de São Paulo (em km).
mesmo. da área de proteção aos mananciais".
Os indicadores de crescimento territorial chamam ainda mais a atenção
Sales6polis (L.) 98
quando comparados com o que se verifica em países da Europa. Veja-se,
Biritiba-Mirim (L.) 79
Guararema (L.)
por contraste, o caso da Espanha, mencionado por Jacinto Rodriguez
76
Osuna (1983, p. 42), onde as principais cidades teriam mantido os mesmos
Rio Grande da Serra (S. E.) 52
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Expanslo da maru:ha urbana do municipio de Silo Paulo 0881, 1905, 1914, 1930, 1952,
1962, 1972, 1983)
In: GROSTEIN, Marta Dora, A cidatk clandntin.a, os ritos e os mitos, junho 1987. Fonte:
~ SAD, 1989. Fonte búica: VILLAÇA, 1978.
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Em Lima, segundo o mesmo autor, a superfície ocupada aumentou
mais 4,5 vezes no mesmo período, passando de 108,7 km 2, em 1950, para
142,1 km 2 , em 1960, e para 254,8 km 2, em 1970. Em Santiago do Chile a
expansão foi mais modesta, mas, ainda assim, foi significativa, crescendo a
ârea construída de 155,7 km 2 , para 294,5 km 2, em 1970_ Em San Juan de
Porto Rico, a ârea ocupada foi multiplicada por cinco, em 25 anos (1975),
enquanto a população apenas dobrou.
Se esse fenômeno é praticamente comum aos países subdesenvolvidos,
1972 Â
mostra, todavia, como aliâs é normal, uma especificidade para cada ci
dade. Assim, no caso de São Paulo, combinam-se causas gerais ligadas à
N história geral da urbanização no Terceiro Mundo a razões mais particula
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res, devidas à história do país, da região e do próprio lugar_
Na maior parte dos países hoje subdesenvolvidos (Argentina e Uruguai
sendo exceções) o desenvolvimento ferroviârio praticamente não se deu,
abortado pela implantação de um modelo rodoviârio, que iria dominar
tanto a configuração territorial do país como um todo, como a configura
ção urbana. No caso de São Paulo, as ferrovias não eram propriamente
urbanas ou suburbanas, contrariamente ao que ocorreu na Europa, no
leste dos Estados Unidos, na Argentina. Por outro lado, a criação de sub
ways é retardada de praticamente um século (Buenos Aires é, também
aqui, uma exceção). São Paulo inaugurou o seu metrô em 1974.
Aliâs, a extensão das linhas de metrô é relativamente reduzida nos paí
ses novos, quando comparada à de outros países. Em 1980, a rede paulis
tana contava com menos de 20 km sendo vinte vezes menor que a de Lon
dres, dezoito vezes menor que a de Nova York, dez vezes menor que a de
/
Paris e Moscou. No final dos anos 80, é pequena a densidade das linhas de
) metrô em relação à população, mesmo comparando-se o sistema paulis
tano com o de outros países da América Latina. 2
De um modo geral, nos primeiros decênios de seu desenvolvimento me
tropolitano, a cidade praticamente não é servida por transportes de massa,
jâ que os trens apenas veiculam uma pequena parcela de população. Os
tramways, rdativamente importantes na conformação de um primeiro es
queleto urban,>, vêem o seu papel limitado. Quando a cidade atinge maio
res proporções, no final da década de 50 e início da de 60, os bondes são
eliminados da circulação e seus trilhos retirados ou recobertos de asfalto,
de modo a permitir que se pudesse implantar o modelo de desenvolvimento
rodoviârio que é hoje ainda dominante. Isso parecia aos administradores
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\ da época e mesmo a uma boa parcela da opinião pública como um impe zontal. Segundo Nadia Somekh (1986, p. 70). as residências verticais ocu
rativo do progresso. pariam 13 789246 m 2, enquanto as horizontai&.utilizariam 235909498 m2 •
Essa expansão rodoviária, combinada a fatores institucionais, acarreta, Recentemente o ritmo de expansão da cidade vertical foi mais rápido
direta ou indiretamente, duas principais conseqüências: a primeira se dá que o da cidade horizontal, mas as casas ainda são a grande maioria dos
quanto ao desenho urbano, com a cidade se expandindo ao longo de aveni domicílios, assim como é maior a parcela correspondente da população.
das radiais mais ou menos adaptadas às linhas de relevo; a segunda, par Entre 1981 e 1985, o número de casas aumentou de 4.23% e o de seus
cialmente resultante da primeira condição, verifica-se através de um grande moradores de 1,81 %, enquanto o estoque de apartamentos cresceu em
empurrão no processo de especulação que iria acompanhar a evolução ur 9,36% e o dos respectivos habitantes em 5.91 %. consideradas as mé
bana até os nossos dias. A tendência à formação de uma cidade espalhada, dias anuais.
intercaladas as áreas ocupadas com grandes espaços vazios convidativos à
especulação, data dos primeiros decênios deste século (Maria do Carmo
Bicudo Barbosa, 1987). Essa tendência vai, porém, tornar-se exponencial Grande Silo Paulo
no último quartel do século. -_._----
Domicílios Moradores
O planejamento urbano tem um papel importante nesse processo, se 1981 1985 1981 1985
gundo as suas premissas. Para Nadia Somekh (1987, p. 16) a legislação
urbanística joga também um papel no processo. Ela utiliza o exemplo das Casa 2678170 3161308 11483095 12790373
cidades americanas cuja planificação prevê uma densificação e, portanto, Apartamento 390560 558576 1250420 1764284
gabaritos mais altos, para mostrar que, "de acordo com a legislação vi Rúsüco 97863 100461 472728 449295
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gente e mantidos os atuais índices, Nova York permitiria um volume de Quarto ou
construção capaz de abrigar uma população de 70 milhões de habitantes, cômodo 242670
Chicago 200 milhões e São Paulo (a cidade) apenas 20 milhões". Sem 879
51827 - 5715 -
A respeito da forma como cresce a aglomeração paulistana, Miranda
M. MagnoU, em sua tese de 1982 (p. 78), nota que "o modelo urbano de Total ~192~ _. 3923172 13355019 15246627
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habitação unifamiliar impõe uma extensão territorial de baixa densidade, Fonte: Sumário de Dados de 1987. v. 3. Emplasll. 510 Paulo (ediçlo provisória).
para o qual é impossível a estruturação funcional da totalidade do aglo
merado, a organização das infra-estruturas, a prevenção a sérios proble
mas do meio físico e o controle de efeitos decorrentes".
O crescimento horizontal é um traço antigo da evolução paulistana e Os vazios urbanos
que iria marcar a fisionomia da cidade. Em 1920, enquanto o Rio de Ja
neiro já contava com 3 016 prédios, com mais de três andares, todo o Es A cidade expande os seus limites, deixando, porém, no seu interior,
tado de São Paulo tinha somente 625 (Manuel Lemes, 1985, p: 20). Em quantidade de terrenos vazios. O fenômeno é antigo, embora sem a ex
1933, já havia 5 417 prédios desse gabarito no Rio, enquanto São Paulo vai pressão atual. Em seu famoso artigo sobre São Paulo, Caio Prado Jr., fa
alcançar 4702 somente em 1940 (Luiz Cezar de Queiroz Ribeiro, 1983, lando dos bairros da cidade, escreve o seguinte: "( •.. ) surgindo como sur
p. 52, e Nadia Somekh, 1987, p. 75). . giram da noite para o dia, ao acaso das conveniências ou oportunidades da
Mesmo com a tendência à verticalização, que também se tornarácaracte especulação, não são (os bairros), em regra, contínuos, sucedendo-se inin
~. ristica da São Paulo moderna, pois as torres se erguem tanto no centro quan terruptamente, como seria em uma cidade· planejada: espalham-se por aí
11
i to em bairros residenciais, São Paulo continua, também, uma cidade hori
lo à toa, fazendo de São Paulo, nestes setores mais afastados do centro, uma 11
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estrutura, criados na proximidade, para estabelecer 1951 lotes residen
Os terreaos vazios da Prefeitura
estariam assim distribuídas (em m 2):
ciais, 195 mansões e 175 casas comerciais, "distribuídos em quatro ou
cinco glebas de alto e bom padrão", que teriam entre 450 e 5 mil metros
Santana-Tucuruvi 2447903 quadrados (O Estado de S. Paulo, 21.5.1978). B, mais uma vez, a conhe
I taquera-Guaianases 407727 cida saga da especulação.
Penha 135566 O fenômeno é semelhante ao que se verifica em outra grande metrópole
Santo Amaro 134534 brasileira, o Rio de Janeiro. A estimativa de lotes não ocupados na respec
Freguesia do Õ 107475
Sé tiva Região Metropolitana, em fins do decênio anterior. é bem ilustrativa e
101988
Vila Maria-Vila Guilherme 88340 foi colhida em uma entidade oficial, a Fundrem (Macrozonealllento da Re
Mooca 46517 gião Metropolitana): um total de mais de 880 mil lotes vazios, para uma
Lapa 28174 população então de aproximadamente 9 milhões de habitantes, o que dá
Vila Mariana 22056 um lote a mais por cada duas famílias existentes ... 6
São Miguel Paulista- Em estudo mais recente sobre A questão fundiária urbana,
Ermelino Matarazzo 14996 Mauricio Nogueira fala de 1 200 mil lotes vazios na Região Metropolitana
Vila Prudente 10249 do Rio de Janeiro, "o que representa 60% da ocupação residencial ur
Pinheiros 5414 bana". São desse mesmo autor os comentários seguintes: "Instalando uma
Ipiranga 2563
Pirituba-Perus
família em cada um deles, estes lotes dariam para abrigar uma população
292
Butantã 238 da ordem de 5,5 milhões de habitantes, o que equivaleria a mais da me
Parelheiros-Capela do Socorro O tade da população em 1980. No município de São Paulo, 45"10 dos terrenos
edificáveis estão vazios. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em
1975, o município de Contagem tinha, desocupados, 67% do número total
de lotes e Betim possuía mais de 80% de lotes sem ocupação" ( ...). (Seria
A União possui 1,9 milhão de metros quadrados, em 76 propriedades, possível) ( ...) "duplicar o número de habitantes, sem ampliação da área
e o Estado de São Paulo dispõe de 909,4 mil metros quadrados em 73 imó urbanizada, em grande parte das cidades brasileiras" (segundo estudo feito
veis (O Estado de S. Paulo, 27.11.1988). Ã propriedade privada cabem pela Diretoria de Mobilização de Terras do BNH, em 1983).
225,5 milhões de metros quadrados, dos quais 42,8% estio em mãos de
apenas 954 donos, o que dá uma idéia de sua vulnérabilidade à espe A relação entre espaços vazios e especulação é reconhecida também em
culação. outras capitais do Terceiro Mundo: "Apesar dos esforços intensivos de
Segundo outra fonte, somente no município de São Paulo os terrenos planificação, os espaços vazios são um fenômeno freqüente no interior da
baldios representam 430 milhões de metros quadrados, com um valor esti zona construída principal, o que constitui ao mesmo tempo a causa e a
mado de 10 bilhões de dólares em 1981 (Movimento, 14 a 20.9.1981). Se conseqüência de uma especulação fundiária espantosa" (Mohamed A. B.
riam, então, cerca de 2 mil terrenos com área superior a 10 mil metros EI-Fadly, 1984). No entanto, em cada aglomeração, sua significação não é
quadrados cada um, verdadeiros latifúndios urbanos. independente dos outros aspectos da hist6ria urbana e da 'hist6ria nacional,
Em 1978, o maior terreno desocupado do município de São Paulo es e é isto o que lhe dá singularidade. No caso particular de São Paulo, é esse
tava localizado na região oeste, contando com 6 milhões de metros quadra contexto que explica, ao mesmo tempo, o enorme tamanho da cidade ma
dos e se estendendo desde a Marginal do Tietê até o Pico do Jaraguá. De terial, a importância dos vazios urbanos e o papel da especulação fundiária.
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I veria ser objeto de uma importante operação imobiliária da Companhia
City de Desenvolvimento, que se prevaleceria dos investimentos de infra
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J A especulação rais demarcam possibilidades diferentes do que em São Paulo, mas isso
não quer dizer que o fenômeno não exista.na metrópole paulistana.
A especulaçlo é velha conhecida da aglomeração paulistana. O estudo A presença do Banco Nacional de Habitação desde 1964 é responsável
de Caio Prado Jr. sobre a São Paulo do primeiro quartel deste século mos por uma pressão recente das classes médias ampliadas, cujo acesso à pro
tra a ..... especulação de terrenos em 'lotes e prestações' (como) o maior priedade e à terra é facilitado pela sua ação. O modelo BNH te"iu sido
veio de ouro que se descobriu neste São Paulo de Piratininga do século XX. criticado sob muitos pontos de vista. Uma dessas críticas, trazida pela ar
Desenvolveram-se, muitas vezes mesmo, não porque o local escolhido fosse quiteta Miranda M. Magnoli, em sua tese de 1982 (p. 78), refere-se à sua
o melhor ou respondesse mais às necessidades imediatas da cidade, mas total desarticulação: "As soluções por unidades plurifamiliares são sempre
simplesmente porque eram vendidos com facilidades maiores de paga estereotipadas em blocos rígidos, desarticulados entre si, desarticulados
mentoou acompanhados de propaganda mais intensa ou mais hábil ( ...)". com o entorno, desarticulados com o suporte. Esquemas repetitivos, des
Langenbuch (1971, p. 219) revela como a especulação imobiliária é personalizados, anônimos, sem qualquer justificativa sequer de sistema
forte nos bairros mais ricos da cidade, quando São Paulo ainda não era construtivo" .
uma metrópole corporativa, assinalando "( ... ) nos bairros-jardins, Jardim O modelo BNH é também desarticulador da cidade como um todo.
Paulista, América, Europa, Paulistano, a ocupação relativamente lenta de Vista a posteriori, a escolha das terras para a edificação dos conjuntos pa
loteamentos residenciais de classe alta". E explica: "Isso se deve tanto à rece ter obedecido a um critério principal, o distanciamento do centro figu
pressão da população relativamente pequena, inferior à verificada nos rando praticamente em todos os casos como um dado obrigatório. 9 O resul
(bairros) destinados às classes pobres, quanto à especulação imobiliária, tado, como em São Paulo, é o reforço de um modelo de expansão radial,
sempre mais intensa nos lugares finos". deixando espaços vazios nos intersticios e abrindo campo à especulação
) fundiária. A localização periférica dos conjuntos residenciais serve como
Numa análise penetrante, Rodrigo Brotero Lefêvre (1979) busca enten justificativa à instalação de serviços públicos, ou, em todo caso, à sua de
der o papel dos preços de terrenos em negócios imobiliários em São Paulo, manda. ~ assim que se criam nas cidades as infra-estruturas a que Manuel
a partir do que chama de "preço geral de produção", cuja existência, a seu Lemes chama de "extensores" urbanos, como a adução de água, os esgo
ver, "pode ser explicada pela não importância (pelo menos, não impor tos, a eletricidade, o calçamento, que, ao m~smo tempo, revalorlzam dife
tância fundamental) da localização para o consumidor de apartamentos rencialmente os terrenos,IO impõem um crescimento maior à superfície ur
em grandes cidades, atualmente". Isso se deveria à disseminação do auto bana e, mediante o papel da especulação, asseguram a permanência de es
móvel, à existência de vias expressas, à atração dos serviços pela residên paços vazios. Como estes ficam à espera de novas valorizações, as extensões
cia. Desse modo, seriam "as camadas mais pobres e as mais ricas (não con urbanas reclamadas pela pressão da demanda vão, mais uma vez, dar-se
sumidoras de apartamento) que apresentar.'\m maiores exigências quanto em áreas periféricas. 1I O mecanismo de crescimento urbano torna-se, as
à localização". Quando, porém, as classes médias se instalam numa deter sim, um alimentador da especulação, a inversão pública contribuindo para
minada área criam, com os seus hábitos de consumo, uma "ecologia" par acelerar o processoP
ticular que participa do processo de valorização diferencial. 7 Os pobres são as grandes vitimas, praticamente indefesas, desse pro
e nosso ponto de vista que, nestas condições, pode-se falar na gestação, cesso perverso. "Num primeiro momento, para as classes trabalhadoras,
assim, de um verdadeiro sitio social, cujas conseqüências são semelhantes as transformações revelando-se em melhoramentos, benfeitorias proporcio
às do sítio natural como ingrediente do processo especulativo.' Ademais, nadoras de melhores condições de vida, slo aceitas com euforia. Sempre há
a acessibilidade depende da dotação diferencial dos serviços públicos na os que permanecem reticentes, preocupados em face da expectativa de au
cidade e é isso o que conduz à disputa das áreas consideradas melhores mento nos imRQStos e taxas a serem pagos" (Regina Célia Braga dos San Jj
entre as diversas classes sociais e de renda. Sem dúvida, o fenômeno é mais tos, 1986, p. 7i): Mas "qualquer investimento realiZado implica maior valo
acentuado em 'uma cidade como o Rio de Janeiro, onde as condições natu rização do espaço, em geral muito acima do que a parcela mais explorada da ."
30 31
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classe trabalhadora pode pagar. Ela é então expulsa para as áreas menos lação urbana e exige, cada ano, mais terra equipada, a acessibilidade dife
valorizadas, as quais, mais cedo ou mais tarde, também serão alcançadas rencial aos serviços e aos lugares são causas de uma valorização também
pelas inversões capitalistas e daí nova expulsão ... Assim. a cidade vai sem diferencial dos terrenos, justificando uma disputa acirrada entre os agentes
pre expandindo, incorporando novas áreas e sempre segregando os seus sociais e econômicos pelo uso e a propriedade da terra, o que conduz a uma
moradores de acordo com a estratificação social" (Regina Célia Braga dos "í;Ospeculação fundiária desenfreada. O papel do BNH nesse processo per
)
Santos. 1986, p. 72). mite afirmar que a especulação é alimentada pela ação governamental.
O resultado é o mesmo, diferenciação e espoliação, mas o fenômeno Isso se dá ao mesmo tempo em que o Estado proclama o seu empenho em
assume as mais diversas modalidades para cumprir o seu papel negativo. resolver a questão habitacional e os problemas urbanos.
Vejamos como Ariovaldo Umbelino de Oliveira (1978, p. 77-8) descreve a
realidade da especulação imobiliária, tomando como exemplo o caso de
São Paulo: "Numa rápida visão do processo que envolve os loteamentos na
cidade de São Paulo" (n.), "não é de todo comum os grandes investidores
do mercado imobiliário (de terra) estarem à frente dos loteamentos" ( ... ),
"mas uma empresa imobiliária" que o administra. (Superados os trâmites
imobiliários), "o segundo passo é colocar apenas parte da gleba loteada à
venda", a oferta dos lotes sendo, "sempre que possível, inferior à procura".
( ... ) "Instalados os serviços básicos (padaria, farmácia, botequim, mercea
rias, linhas de ônibus etc.), é chegada a hora de colocar novas áreas à
venda, obviamente por um preço superior à primeira, a 'melhoria' da loca
lização permitindo, dessa vez, aumentar a renda diferencial e, conseqüen
temente, a renda fundiária auferida pelo proprietário do solo. E assim vai
até o final das últimas áreas ou lotes, levando à evolução dos preços das
áreas mais bem localizadas, numa espiral que sobe vertiginosamente" .
Segundo compreendemos da conhecida argumentação de Ignácio Ran
gel, as tendências especulativas da terra ora existentes no Brasil, tanto no
mundo rural quanto no mundo urbano, serão contrariadas quando um
grande esforço for feito para suprimir as "áreas de estrangulamento", a
começar pelos grandes serviços de utilidade pública. Esse novo campo de
investimento atrairia os capitais que hoje não se podem empregar a con
tento em áreas econômicas nas quais a expansão cria problemas de mer
cado. A especulação com as terras seria causada exatamente pela falta de
serviços de utilidade pública. Essa falta é geradora de escassez de terrenos
viáveis e pressiona o seu preço para o alto. A especulação imobiliária seria
reduzida, desde que a dotação de infra-estruturas sociais fosse adequada e
os preços da terra tendessem a cair. '
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Notas 4. Ainda aqui variam as contagens, avaliaçl\es e estimativas. Enquanto Nadia Somelkh (1986) se refere
a 39,8"1. da terra urbana formada por terrenos vagos, Céline Sachs (1987) dá o percentual de 43,85%,
Iouvando-se em documento da Cogep (1977). Já G. Mathias (1985). p. 18, arredonda esse percentual
1. Assim como em muitos outros aspectos de hist6ria urbaoa. as fontes divergtm quanto aos dados. para 45%.
! Quanto ao crescimento da ãrea constru1da de Slo Paulo, essas divergências nlo empanam o fato da 5. Segundo Arlete M. Rodrigues e Manuel Seabra (1986), p. 19, "('.. l, dos 70 mil hectares de área
enorme expanlll." 4!lsuperficle urbana durante este s6c:ut0. Leiam-se os seguintes depoimentos: urbanizada do Município, cerca de 24 mil hectares estio desocupados, representando cerca de 400,;'. da
) "O enorme crescimento de Slo Paulo pode ser expresso através de um indicador, que ~ o crescimento área da cidade. Desse total, 25% concentram-se no corpo central e nas lreas intermediárias que dis·
do seu espaço urbano. Dos 130 Itm 2 que a cídade possuia de espaço urbano em 1940, passou para 420 põem de todos os serviços urbanos(. .. ) Na Zona Sul, 310,;'.; na Zona Sudoeste, 12%" (Jornal da Tarde,
em 1954, para triplicar após o surto de industrialli:açlo verificado a partir desta data, chegando hoje a 02.5.1983).
aproximadamente 1200 km2" (FranciscoCapuano Scarlato, 1987, p. 115).
"(...) desde 1930. a área de mancha urbana de Slo Paulo aumentou aproximadamente lIOve vezes,
sendo que, na última d~ada, foram incorporados a ela cerca de 480 Itm 2• o equivalente em lrea a quase 6. Et6mad... de Iota f1Io.ocupacb na aetlllo MetrepoIIfaaade RlodeJuelro,I978.
uma Pono Alegre ou uma Salvador e meia" (Folha de S. Paulo, 22.4.1986) .
..... a mancha urbana da Regílo Metropolitana possui. atualmente. mais de 1500 km2, nove vezes Munieipios Populaçllo urbana Lotes nlio-ocupados
superior à imperante em 1930, e ( ... ) somente na ~ada de 70 ela se expandiu em 470 1tm2, de uma (1000) (1000)
forma altamente especulativa e predatória" (Lúcio Kowarick, 1985, p. 14).
Rio de laneiro 5.254,3 198.4
2. Carllderistlcudoametriol~ Caxias 612,4 42,0
r Agloll1eraçio* Populaçlo
(milhões)
Superfície (kml)
aglomeraçlo cidade
Linhas
(ltm)
Inicio do
serviço
ItmllCJÓhab.
Itaboral
Itaguaí
Magé
53.4
34.7
143.4
68,0
128.3
36,2
Mangaratiba 9.5 7.2
México 18 1250 540 113 1969 6,28 Maricá 13,7 87,2
SIoPaulo
Rio de Janeiro
Buenos Aires
15
13
9
1350
(5925)
(3880)
84()
-
200
28,5
26,9
35,4
1974
1979
1913
1,90
2,06
3,93
Nil6poIis
Niterói
Nova Iguaçu
I 159,1
409.4
1.078,4
-
50.0
172.3
Santiago
Caracas
4,5
3,5
490
360
50
200
25,5
11,7
1974
1983
5,68
3,34
Paracambi
Petr6polis
32,6
195,0
-
22,9
SIoGonçalo 607.3 67.8
Fonte: Henry, E., 1988, p. 48 (Quadro 1) Slo Joio de Meriti 410.1
* Em outros casos, trata-se do conjunto de aglomeraçlo. RegíIo Metropolitana
do Rio de Janeiro 9.013,7 880,3
0- pela conflgUraçllo espacial da cidade", para defini·1a tanto como "um conjunto de mercadorias imobi
1000 20,49 15,73 5,80 7,79 quais "o espaço é diferentemente valorizado", explicando que "nlo se trata tlo-somente de suas poten
1001 - 5000 35,95 17.98 8,16 10.21 cialidades naturais no processo produtivo, mas, principalmente, nos dias de hoje, do valor que lhe é
5001 - 10000 8.66 8,79 5,38 6.05 atribuldo". ( ... )"0 preço da terra relaliviza·se no processo histórico de construçlo sobre 11 do upw;o".
10001 - 15999 4,15 5,10 3,69 3,08 (...) "ele ~ uma mediaçlo fundamental na determinaçlo do uso da terra latu se_. Mas ~ o valor
....
r
15999 - 6.66 29.•00 44,91 41,62 crWIo (tIO espaço) que cada vez mais determina o seu preço" • ~~
9. "A maior parte das glebas de tenas da Cohab e dos conjuntos habitacionais situa·se na Zona Leste
Fonte: Milton CampanArio, 1984, p. 15. do Munícipio, em áreas com caretlcia quase absoluta de equipamentos coletivos. distantes do centro ."
t
34 35
..
I·
L '.
metropolitano, dos meios de transporte e de loeais de emprego" (Arlete M. Rodrigues e Manuel Sea
bra,1986, p. 46).
10. "Como é óbvio, a especulaçlo imobiliária do se exprime tlo-somente pela retenção de terrenos
que se situam entre um centro e suas zonas periféricas. Ela se apresenta também com imenso vigor
2
dentro das pr6prias áreas centrais, quando zonas estagnadas ou decadentes recebem investimentos em
serviços ou infra-estruturas básicas. O surgimento de uma rodovia ou vias expressas, a canalização de
Ocupação periférica
um simples córrego, enfun, uma melhoria urbana de qualquer tipo, repercutem imediatamente no pre
ço dos terrenos" (Lúcio Kowarick, 1980, p. 37). e reprodução do centro
11. Um estudo muito bem documentado de Adriana R. C. Batistuzzo e Regina Silvia V. M. Pacheco
(1981) descreve e interpreta com detalhe o processo de valorização dos terrenos na Vila do Encontro,
bairro da periferia atingido pela intervenção concentrada do Estado.
12. Pablo Trivielli (982) chama a atenção para o fato de que "os investimentos públicos são fonte
importante de valorizaçlo dos terrenos numa primeira etapa e. precisamente por essa ruão, estimulam
a especulação quando nlo há uma poIftica compreensiva do solo" (p. 25). ~ desse modo que as in
versões públicas "dl\o orientação espacial li especulação com os terrenos" (p. 26).
o problema da habitação
A situação habitacional na Grande São Paulo, uma das respostas à pro
blemática anteriormente enunciada, é reveladora da crise profunda em que
vive a sociedade urbana e constitui um aspecto visível de uma estrutura
) socioeconômica flagrantemente inegalitária. Os dados de que se dispõem
para o conjunto da Região Metropolitana estão, todavia, muito aquém da
importância do problema, o que leva muitos autores a privilegiarem em sua
análise o que se passa no município de São Paulo, enquanto uma conso
lidação estatística interessando a toda a área metropolitana ainda espera
sua vez. mesmo se existem dados, nem sempre comparáveis, para certos
> municípios periféricos.
A introdução ao Sumário de Dados da Grande São Paulo de 1986 (pu
blicado pela Emplasa, em 1988) assinala que "a Região Metropolitana de
São Paulo possui cerca de 3,7 milhões de domicílios,' sendo que SOOJo deles
ostentam padrão de qualidade bastante baixo (barracos, favelaS e habita
ções precárias)" , e indica, também, que um terço da população dessa área
mora em cortiços ou favelas. Seriam, assim, mais de 5 milhões de pessoas
residindo sob condições infranormais.!
De acordo com a tabela V.12 do Sumário de Dados da Grande São
Paulo de 1986, da Emplasa, é a seguinte a distribuição dos domicilios.
segundo a relação de propriedade e a renda, dentro da Região Metro
i politana:
r .1
~
36
31
..
•
t
/ C-.
Rendimento
Condição de ocupação dos domicílios
mensal do domicílio
Pr6prios Alugados Cedidos ou . Total
outra
.... .
~\1\-1l·
1980
domicílios cedidos e de outras formas de ocupação. Aqui, a condição de
pobreza parece mais definidora, já que a distância entre os índices relativos
aos diversos grupos de renda é bem maior que na coluna dos domicílios ."",*-"iIIt" U lHImICOa
.. "..... .. ao ..... ..,....
próprios e na dos alugados.
Quanto menor a renda, maior o recurso aos domicílios cedidos ou a ...
1".... , .-.....--'* ........
~...,.".,
I....
I~ que têm os niveis de renda mais babc:os ou mais altos. (Ver a primeira
tabela da página seguinte.)
um ou dois dormit6rios. assim como o crescimento da população neles
residente.
39
38
•
2
)
l
•
/
Nesses cinco anos, o estoque de domicílios com um único dormitório foi
Domicílios particulares permaueate.s, por eendIçio de oeapaçio, acrescido de quase 380 mil unidades e o de seus moradores cresceu de
segando o rendimento lIIeDUl do domiclUo quase 840 mil. Quanto àqueles com dois dormitórios, seus efetivos aumen
taram cerca de 290 mil e os respectivos moradores de perto de 1,5 milhão .
Rendimento mensal . fPróprios
Alugados
Cedidos ou Total Quanto aos domicílios de três dormitórios, seu número cresceu um pouco
outra menos de 35 mil e a população respectiva de perto de 66 mil. Enquanto nos
Até 1 salário mínimo 63689
dois primeiros casos a densificação é evidente, no último as condições de
39616 31920 135225
De 1 a 2 salários mínimos 165818 129602 69939 365359
vida melhoraram.
De 2 a 5 salários mínimos 590793 521341 167567 1279701 Os dados publicados em 1986 pela Emplasa mostram que, em 1984,
Mais de 5 salários minimos 1307712 652420 104078 2064668 assim se distribuíam os domicilios da Grande São Paulo, de acordo com a
Total 2172654 1367518 382S4a 3923178 respectiva densidade de moradores:
Em%
Número de pessoas Percentagem de
Até 1 salário mínimo 47,1 29,3 23,6 100 por dormitório domicílios
De 1 a 2 salários mínimos 45,4 35,5 19,1 100
! De 2 a 5 salários mínimos 46,2 40,7 Até 1 10,6
13,1 100
Mais de 5 salários mínimos 63,3 31,6 5,0 100 De 1 a 1,5 14,3
Outros
Total
-
55,4
-
34,4
-
-
De 1,5a2,0
De2,Oa3,O
31,7
24,9
9,8 100
Maisde3 18,6
Fonte: Emplasa, 1987, tabela V. 11.
Fonte: SlImário de Dadm da GrlUJde São Palllo,
Emplasa. SIo Paulo, 1986, tabela V. 9.
Fonte: PNAD, 1985. tir que, de um lado, têm melhor situação aqueles cuja renda é mais alta d
(mais de cinco salários DÚnimos, em vez de um a quatro) e, de outro lido,
defendem-se ainda melhor os que se encontram na base da pirâmide das
40
41
.1
...
:
-_._----_.~ ~---"~-=-~~---
l
rendas, obrigados, pela sua extrema pobreza, a fabricar, como podem, os tações para à população de baixa renda atingia apenas 4 % da população
4JW" seus alojamentos e impossibilitados de qualquer outro recurso para morar, (SuzanaPasternakTaschner, mar. 1985). .
como o aluguel por exemplo. Aproximemos, somente a titulo de curiosi Não é, pois, de se estranhar que 77% do déficit habitacional se situe
dade, os seguintes números: em 1984, 62416 domicílios próprios perten nas famílias cujos rendimentos são inferiores a três salários mínimos. Esse
ciam a fa::nÍlias com renda menor que um salário mínimo e 51039 domicí percentual (do déficit) cai para 120/0 nas familias cujas rendas estão entre
lios com apenas um morador por dormitório correspondiam à mesma classe três e cinco salários mínimos, que devem ser postos em paralelo com a
de renda I menos de um salário mínimo). constatação de que apenas 6,5% do saldo de financiamento da casa pró
Enq~tO se avoluma o déficit de habitações, os recursos postos à dis pria foi encaminhado para famílias com renda de até 3,5 salários mínimos
posição ê..a população pelo poder público ficam muito longe de correspon e outros 14% para aquelas situadas na faixa de 3,5 a 5 salários mínimos,
der ao agravamento da situação. Apesar da relativa ampliação dos esforços totalizando, porém, 20,5% apenas. O restante foi para as camadas de ren
a partir êe 1'f79. o número de alojamentos entregues é ainda bem menor do das mais elevadas (Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, abro 1985).
que as ne..:essidades.
Uma resposta à problemática da habitação popular foi, por muito
O es:-.:..:io de Arlete M. Rodrigues e Manuel Seabra (1986, p. 46) nos
tempo, a disseminaÇão dos chamados loteamentos "clandestinos", ou irre
mostra C'5 :-esultados obtidos pela Cohab-SP, entre 1965 e1984:
gulares, isto é. formas de urbanizar desobedientes, em parte ou no todo,
aos regulamentos vigentes, por isso, também, chamados de loteamentos
C nldades habitacionais construídas ilegais. A proibição dessa prática, em 1979, teria tido como resposta o agra
vamento das condições de moradia da população carente,2 aumentados,
Hat-::.=..;ôes Casas i Aparta Lotes Embriões Total assim, os contingentes forçados a morar em favelas e cortiços. Ermínia
mentos Maricato, entre outros, defende esta tese ("O usucapião urbano e a gafe da
Fiesp", Folha de S. Paulo, 14.7.1988).
. - - 3597
IEntregues.ué 1975
Dd9"ó "'"9
De 1%0, 1984
2801
5324
2191
I
1296
10356
47770
-
1863
528
6098
16388
57916
Mais de 70% das casas construídas na metrópole paulista são produtos
de autoconstrução. J Esse processo de construção é mais freqüente no anel
externo da Região Metropolitana, atingindo os 90% e mais nos municípios
Total 9816 I 59602 1863 6626 -
I
de Embu, Franco da Rocha e Jandira e, se aproximando desse índice, em
Itapevi e Francisco Morato (Revista Construção São Paulo, n~ 1494,
Uma outra avaliação das realizações da Cohab-SP nos dá conta de 27.9.1976).
68858 apanamentos. 8635 casas e 11957 lotes e embriões, durante o pe "O fenômeno da autoconstrução ". traz em si a marca da exclusão".
ríodo de 19ó6 a 1985 tCéline Sachs, 1987, tabela A.7.1). Estes números diz o relatório Construção de moradias na periferia de São Paulo; aspectos
incluem @TIllldes conjuntos residenciais, como I taquera I (com 11 610 apar socioeconômicos e institucionais, trabalho produzido em 1979, para a Se
tamentos e 650 casas). Itaqueras 11 e III (com 17240 apartamentos, 1782 cretaria de Planejamento do Estado de São Paulo, que acrescenta: "A essa
casas e 5-& embriões e lotes preparados) e Carapicuíba (Conjunto Presi forma de se produzirem os alojamentos destinados a abrigar a maioria das
dente CasteUo Branco. com 13504 apartamentos e 856 casas). massas trabalhadoras não se contrapõem alternativas capazes de viabilizar
A participação do BNH na produção da moradia destinada às famílias lhes o acesso à casa própria" e que sejam compatíveis "com as' suas pre
-., ) urbanas que ganham menos de cinco salários minimos é de apenas 5 % do cárias condições de existência", Das 610 mil famílias que em 1975, na
~~
total(Amaldo Barbosa Brandão, 1985). Os mais pobres tem de inventar as Grande São Paulo, utilizavam o processo de autoconstrução, mais de me
fórmulas possíveis de ajudá-los a resolver esse problema fundamental da tade tinha uma rendaJamiliar entre dois e cinco salários mínimos (Pedro
existência. So caso panicular de São Paulo, o mercado público de habi Jacobi, 1982, p. 55).
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42 43
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Na Região Metropolitana, os loteamentos clandestinos ocupam 35% da rias. isto é. 55% da população em condições de moradia subumanas, se
área urbanizada e abrigam 4 milhões de pessoas. Somente a cidade de São gundo dados oficiais da Prefeitura Municipal de São Paulo (Folha de S.
"I
Paulo contava, em 1982, com 3500 loteamentos clandestinos. ocupando Pau/o. 20.11.1988).5
uma área de 34 mil hectares dos 60 mil hectares da área urbana (Pedro Em 1978. quando Olavo Setúbal constatava que 32% dos moradores da
Jacobi, 1982, p. 57). cidade de São Paulo viviam em condições totalmente insatisfatórias, eram,
Em São Paulo, entre 1972 e 1980. o número de barracos cresceu de então. nas favelas, 490 mil pessoas vivendo em 90 mil unidades (O Estado
403%, enquanto a população aumentou um pouco mais de 40% (Lauro de S. Paulo. 23.11.1978). Em 1971, havia apenas 41 mil favelados e,
Ferraz, 1982). Entre 1975 e 1977, o número de favelados dobrou, pas mesmo em 1975. não passariam de 120 mil. É fato que as estatísticas cor
sando de 117 mil a 230 mil, distribuídos em 919 núcleos. Segundo Suzana respondentes se subordinam aos critérios mais diversos (por exemplo. para
Pasternak Taschner (1984), os favelados seriam, em 1980. perto de 600 a Proluz haveria 146939 barracos em 1985. enquanto, para a Eletropaulo,
mil. isto é, 70/0 do total da população municipal. HA favela aparece como seriam 158694. Quanto ao número de favelados, uma fonte contabiliza
uma das únicas trajetórias possíveis para um crescente número de traba 460 mil e outra 866500. também no mesmo ano), e uma das melhores
lhadores de baixa ou nenhuma qualificação", diz a autora (1984, p. 37-65). estudiosas do assunto, Suzana Pastemak Taschner (1984) mostrou muitas
) Segundo suas observações, se, em 1973, já se percebia que a favela não das incongruências reveladas pelas diversas contagens e propôs uma conso
concentrava uma população com características de lumpen, agora se sabe lidação interessante e fiável, porque foram utilizadas diversas fontes e
! que ali habitam muitos trabalhadores do setor secundário, e o percentual mencionados os respectivos critérios. É a partir dos seus estudos que reu
de autônomos não era 40,5% como em 1973, mas somente 14,23%.4 nimos, aqui, alguns dados reveladores da rapidez com que se acelera o
Os cortiços são uma antiga presença na paisagem urbana paulistana fenômeno. numa cidade onde praticamente quase não havia favelas, nem
(Kowarick e Ant, 1982), mas os últimos decênios mostram uma expansão favelados há ainda trinta anos.
como, somente no município de São Paulo, 5060 mil pessoas, isto é, 52,7%
Em 1981, haveria 3567 loteamentos clandestinos, apenas no município
da população, habitam alojamentos precários, sendo 460 mil em favelas de São Paulo, ocupando uma área total de 311474774 hectares, a maioria
(4,73%); 2576 mil em cortiços e em casas subnormais (26,5%) e 2024 mil esmagadora situada na zona urbana, enquanto os da zona rural dispu
em casas autoconstruidas (20,83%), números tirados do Plano Habita nhamem média de áreas maiores. (Ver segunda tabela na página seguinte.)
cional do Município de São Paulo 1983-87. São cifras encontradas tam Um fato importante deve ser concluido dessas contagens às vezes con
bém no Plano Diretor do Município de São Paulo. publicado em 1985. tradit6rias . .:;:, conforme jâ vimos, a agravação do problema da residência
I" Esses dados se referem a 1983. Já em 1987 haveria 600 mil pessoas mo na maior cidade brasileira. Na década 1970-80. a taxa de crescimento do
-,,-
• rando em favelas. 2970 mil em cortiços e 2420 mil em habitações precá fenômeno é três vezes mais rápida que a do processo migratório, o que
44 45
... )
I- \
L
Número total de favelados e percentagem bitação Popular (HabO. O número de barracos aumentou de 713% entre
;1
~bea~~doMumclpW 1975 e 1985 (Folha de S. Paulo, 10.3.1985), A população urbana cresce a
!!li uma taxa de 5% ao ano, enquanto que o número de favelados conhece uma
"!I Número de favelados Proporção!população taxa igual a 300/'0 (Pedro Jacobi, 1982, p. 61).
(%) Das 1530 favelas existentes, 39% estavam em terrenos públicos. 41 <r/o
1971 41000 0,75
em terrenos particulares e os 20% restantes em áreas mistas. Segundo
1973 71000 1,20 reportagem da Folha de S. Paulo 00.3.1985), 453 mil favelados dispu
1975 117237 1.60 nham de iluminação elétrica e somente 262 mil de água. Entre metade e
1976 208000 2.53 um terço das favelas (segundo a avaliação) está a menos de cinco metros
1978 321259 4.01 dos córregos e entre 15 e 20% se situam em encostas de morros.
1979 266506 3,20 Se a favela pode testemunhar casos de ascensão social, o cotidiano vi
1980 (a) 335344 3,94 vido dentro dela é extremamente difícil para os seus moradores. Tem razão
1980(b) 594525 7,00 Ana Maria de Niemeyer (1984, p. 64), quando assinala que a favela "nos
1985 (a) 46(}OOO 5,00 envia uma mensagem de fragilidade, transitoriedade e esmagamento".
1985 (b) 866500 8,63
Fonte: Suzana Pasternak Taschner, 1985.
A ocupação periférica
Loteamentos clandestinos no município de SIo Paulo
r 1
I
Onde viio se localizar os novos moradores urbanos? Como se relocaliza Rela.çlo entre a renda familiar e a distância a partir do centro da cidade de S10 Paulo. 1966
O"
,Mi a populaçiio já residente? Jean Philippe Damais (1987) se refere a "uma Renda familiar mensal em cruzeiros de 1967
,a: forte turbulência centrífuga interna à própria aglomeraçiio", dizendo que
'11
,,;;'
,,'
"uma primeira observaçiio quanto à mobilidade residencial intra-urbana 15001 •
entre 1970 e 1980 permite verificar que, de um total de 920 mil pessoas
". residindo há menos de dez anos nos municipios onde foram recenseados
em 1980, masj! moradoras na Grande São Paulo em 1970, eram 12,50/'0 as
que se haviam mudado de uma sub-regiiio para outra, cerca de 19,50/'0
dentro de uma mesma região, enquanto dois terços saíam do municipio de uso I
São Paulo para um ou outro dos municípios da Região Metropolitana".
Pelo fato de que o preço da terra sobe nas áreas mais bem dotadas,
perto do centro, a maior parte das pessoas termina sem poder instalar-se
em localizações centrais, devendo ir morar cada vez mais longe. Em 1960,
77,4% da populaçiio da Grande Siio Paulo vivia no município de São 10001- • •
•
Paulo; são 64% em 1984. Em 1950, 83% da populaçiio da área metropo •
litana vivia nas partes centrais e 170/'0 apenas na periferia; já em 1980,
as áreas centrais abrigam 720/'0 e a periferia, 28%. Entre 1960 e 1970, a
•
Fonte: 11I0MSON. l.,n, "EI tr&n$porre urbano en América Latina. consideraciones acerca de lU
Isto se verifica a despeito do fato de que o incremento demográfico da igualclad y eficiencia!'. Revista d4 Cepdl, n!' 17, aaosto, 1982
área metropolitana de São Paulo é, em grande parte, absorvido pelo Muni
cípio da Capital.
48 49
....
'.
Não se deve, assim, inferir que a periferia urbana (no :;cntido de áreas Esses gastos com água, energia elétrica e limpeza urbana são inversamen te
'" distanciadas do centro) acolha menos gente que o miolo metropolitano. proporcionais à renda, consumindo uma parcela substancial da renda dos
~" Devido ao seu tamanho e à sua conformação, há áreas no próprio munici menos favorecidos. Isto significa que a chegada de melhoramentos urbanos
pio de São Paulo que podem e devem ser consideradas periféricas. a uma área conduz,a médio prazo, à expulsão dos pobres, pela impossi
Nabü Georges Bonduki (1982, p. 111) parece associar crescimento peri bilidade de arcarem com as respectivas despesas.
férico, seletividade na instalação de infra-estruturas e valorização diferen Pobreza e periferização aparecem como dois termos e duas realidades
cial dos terrenos, quando escreve a respeito de São Paulo no inicio do sé interligadas. O nexo entre os dois é assegurado pelo processo especulativo,
culo: "C ..) pode-se dizer que não existia, até 1918, uma clara e definida que aparece segundo diversas fisionomias, agrupando fatores diversos,
segregação espacial na cidade de São Paulo. Estava ocorrendo, no entanto, conforme dive"fsas modalidades. Henrique Rattner(1975, p. 27-8) chama a
o início de um processo segregatório, que já levava setores da classe domi atenção para o fato de que "(. .. ) a política de 'desapropriação' para fins de
nante a procurarem bairros exclusivos da elite e a transformar o centro 'modernizaçlo' do sistema viário - sobretudo em função do número sem
numa zona nobre, assim como a discriminar os bairros que apresentavam pre crescente de carros particulares - contribui para expulsar para a 'peri
uma característica mais acentuada de ocupação operária. Estes, no en feria' contingentes crescentes de habitantes, distanciados assim de seus an
tanto, nlo eram habitados exclusivamente pela população de baixa renda, tigos lugares de trabalho, tendo como efeito a intensificação da demanda
mas incluíam também, por vezes, habitações de classe média e até bur de transportes". Na sua busca de solução para o problema da moradia, os
guesas, além de indústrias e do comércio local, como é o caso do Ipiranga e pobres seriam condição e vítimas desse processo especulativo desenfreado.
mesmo do Brás. O que nos parece fundamental notar é que a 'solução cor O afluxo de populações de baixa renda, expulsas das áreas centrais, e de
tiços e casas alugadas', sem incluir o fenômeno da periferização, é, na sua migrantes para os bairros periféricos teve, entre outros, o efeito de elevar os
natureza, um modelo que não permite, numa cidade densa e concentrada preços dos terrenos e propriedades imobiliárias, afastando ainda mais para
da escala de São Paulo de então, a existência de uma segregação espacial a periferia os economicamente menos aptos.
muito acentuada que possibilite uma distribuição totalmente desigual dos Há uma relação entre o valor médio da terra, as diferenças de acessi
investimentos públicos, como a que será viável a partir do desenvolvimento bilidade e a segregação espacial.
do padrão periférico de crescimento urbano".
Esta nova realidade é assinalada pelo testemunho de Lúcio Kowarick DomiclIios
(1986, p. 14-5): ..... com a chegada de melhorias urbanas em áreas antes
ÚlCalizaçlo Valor médio Comigoa Ligados à rede Ugados à rede
desprovidas, cresce seu preço econ&mico na medida em que decai seu ônus de terra (1975) geral de esgotos elétrica
social. No momento em que ocorre este processo de valorização, estas
áreas, antes acessíveis às faixas de remuneração mais baixa, tendem a ex Núcleo 4993 81,6 73,9 97,2
pulsar a maioria dos locatários, os proprietários que não podem pagar o Periferia
aumento de taxas e impostos, transformando-se em zonas para camadas imediata 1070 80,7 33,9 94,5
melhor remuneradas" C.. ). "(Igualmente), o contingente de: novos mora
dores pauperizados deve procurar, em outro local, desprovido de benfei
Periferia
jn.....,
.. 93 59,6 4 88,6
torias, um terreno para construir a sua 'casa própria'."
São os mais pobres que buscam a periferia. Um gráfico estabelecido
por lan Thomson (1986) mostra a relação entro. a receita familiar e a dis Na medida em que muita gente é obrl8ada a viver na periferia, os pre
tância do centro da cidade, no caso de São Paulo. ços da terra sobem nas áreas mais próximas ao centro. Desse modo, a ten
I· Uma das razões pelas quaís os pobres tendem a nlo se fixar, sendo le
vados para localizações sempre mais periféricas, vem do custo dos serviços.
dência à expansão espacial da aglomeração se mantém, deixando vazias
l~ paréelas do território urbano, quase metade dele.
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I
50
51
...
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Na medida em que a pópulação vai se espraiando ao longo das vias de tários de terras, cuja causa é menos simpática. Assim, no Rio de Ianeiro,
transporte, aumentando o tamanho da cidade, os preços da terra e das entre 1970 e 1980 o valor do imposto predial passa de crS 32,30 para
~. ' casas vão normalmente aumentando dentro da cidade. Ê assim que a ex
J;j:: Cr$ 11.407,40, enquanto o do imposto territorial sobe de Cr$ 42,20 para
pansão territorial e a especulação se dão paralelamente, uma sendo a causa Cr$ 31.262,10, tomado o exemplo de um morador em terreno de 400 m 2
e o efeito da outm. Ê um terrlvel circulo vicioso. (Hélio de Araújo Evangelista, O impacto da expansão metropolitana numa
Para David McKee (s.d., p. 3). "nos paises maduros o setor desvan área periférica, mar. 1981). O imposto predial é multiplicado por 3S6. en
tajado da economia urbana tende a criar problemas no centro da cidade. quanto o imposto territorial cresce 744 vezes.
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Ele é caracterizado por bairros decadentes, slums, e, naturalmente, por O progresso técnico também dá sua contribuição ao apressamento do
problemas sociais que paralelamente podem ser esperados. Isso resulta na processo de expulsão das favelas, porque a evolução dos processos constru
queda dos valores da terra urbana, uma evasão de impostos e, em geral, tivos facilita a conquista dessas áreas por habitantes das camadas mais
um êxodo da classe média, que deixa o centro da cidade. Isso resulta num altas da sociedade urbana.
crescimento explosivo nos subúrbios - daí o fenÔmeno conhecido como O progresso técnico certamente não atua isoladamente. ele não tem
urban sprawl, exteriorização da cidade. Assim, enquanto o dualismo ur força causal por si só. Ao mesmo tempo, colaboram as novaS condições da
bano constitui um elemento restritivo nas economias não maduras, é uma especulação numa sociedade crescentemente de consumo, a pressão das
força explosiva na economia madura, levando as cidades a se expandirem novas classes médias geradas pelo sistema econômico e político e o próprio
de forma descontrolada". Para esse mesmo autor, "nos países emergentes, papel do Estado, através das facilidades abertas às classes médias para
o dualismo intra-urbano tende a ser um problema da periferia urbana. obterem uma casa ou apartamento próprios. Onde os habitantes de favela
Assim, tende a interferir na expansão ordenada da cidade". puderam se organizar politicamente, o processo de expulsão não se deu ou
Um traço distintivo - real desta vez - entre as cidades dos países foi mais lento.
desenvolvidos e as dos países subdesenvolvidos estaria na existência nestes
de extensas periferias ocupadas por gente pobre, a qual, seja qual for sua
localização na cidade, é geralmente desamparada pelo poder público que,
além de não lhe proporcionar os serviços essenciais, raramente lhe paga Centro e periferia: a cidade carente
alocações de desemprego, quando este é o caso. O exemplo do Brasil é o de
um país onde o salário-desemprego foi instituído apenas em 1986, o nú A oposição entre a cidade visível e a cidade invisível, subterrânea, é cho
mero de beneficiários e o tempo de remuneração são mínimos e a soma que cante. A paisagem urbana se estende muito mais depressa do que os ser
é paga, ridícula em relação às necessidades básicas, pois, em geral, nem viços destinados a assegurar uma vida correta à população. Desse modo,
alcança um salário minimo. a parcela maior da sociedade urbana, em grau mais ou menos grande. fica
Quando o imposto territorial conhece um crescimento mais rápido que excluída dos beneficios do abastecimento d'água, dos esgotos, do calça
o do imposto predial, os proprietários de terra mais abastados têm maior mento, dos transportes etc. Eis ai, também, um dos aspectos mais chocan
oportunidade de reter seus terrenos que os mais pobres, muitos dos quais tes dos contrastes entre centro e periferia.
também não podem construir. O aumento do imposto territorial, tantas Por volta de 1973, 900/0 de todos os investimentos feitos na cidade de
vezes apontado como solução à questão da especulação, não garante os São Paulo incidefll sobre o centro expandido. Quanto à Região Metropo
resultados assim desejados mas, ao contrário, pode p~ipitar o movimento litana de São Paulo, ela repete uma constante: as despesas com infra-estru
no sentido da concentração das terras dispomveis em poucas mlos. Infeliz turaS econômicas e sociais são muito mais elevadas no município central do
mente, a tendência nas cidades brasileiras é a elevação mais rápida do im que nos municípios periféricos; na Grande São Paulo, a proporção é de,
posto territorial do que a do imposto predial. A pressão dos moradores e 1,8:1, menor, aliás, que no Grande Rio; onde é de 4,7:1 (Diagnóstico 75,
suas associações é, nesse particular, mais convincente que a dos proprie Emplasa).
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Os recursos sociais são gritantemente concentrados, como exibe o qua dezesseis médicos e dez funcionários da saúde sem nível universitário. As
droabaixo: escolas consideradas caren tes eram 78 %. ,
Em sua comunicação ao colóquio A metrópole e a crise (mar. 1985),
Grande Sio Paulo, 1986 Suzana Pasternak Taschner nos dá indicações reveladoras acerca das con
dições sanitárias reinantes no município de São Paulo e na Regiao 'Metro
:' í Hospitais Leitos Ambulatórios Pronto-socorros
; politana. Enquanto, no Jardim América, 98,81 % dos domicílios são liga
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(0J0) (0J0) (0J0) (0J0 ) dos à rede geral de esgotos, esse percentual baixa para 65,34% no Butantã
~t· Municipio de, e para 32,72% na Capela do Socorro. Os índices para o Municipio e para a
São Paulo 63,5 65,8 67,9 70,5
15,4
Região Metropolitana eram próximos: 53,88 e 52,89%. Nos barracos, a si
Sudeste 15,9 12,5 16,2
tuação, em 1980, era ainda mais precária que em 1973, pois eram 66,05%
,I Santo André
S. B. do Campo
4,7
5,1
3,5
3,4
7,3
4,4
! 6,7
4,7 os que se liberavam dos dejetos ao ar livre ou em córregos, contra 29,69%
S. C. do Sul 2,2 1,4 1,4
-~
I 2,0 em 1973.6 Já a utilização de fossas secas ou negras baixou de 68,17% para
30,890/0 nesse período de sete anos.
Fonte; Emplasa, 1987, tabela 111.2.3.
Os bairros cuja população dispõe de uma renda alta são mais bem con
Um estudo da Emplasa mostra que os municípios que mais centrali templados com serviços públicos do que aqueles onde a renda 'é mais
zam investimentos em infra-estrutura social são os municípios de São Pau baixa.' Veja-se o exemplo do percentual de residências com instalação sani
lo, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Guaru tária ligada à rede geral. Hâ variações segundo os subdistritos, mas essas
lhos, sendo que Santo André, São Caetano do Sul e São Bernardo do Cam variações são entre níveis máximos nos subdistritos mais ricos e entre níveis
po são os de maiores investimentos per capita, notadamente São Bernardo mínimos naqueles mais pobres.
do Campo. Quanto ao volume de gastos por habitante, a primazia na Re
gião Metropolitana de São Paulo está com os municípios de São Paulo, Subdlstritos com renda média mais alta (%)
Santo André, São Caetano do Sul, Ribeirão Pires e São Bernardo, que são
os que mais investem em infra-estrutura econômica, sendo São Bernardo Jardim América 98,1 de ligações
do Campo o primeiro. Todavia, em todos os municipios os investimentos Indian6polls 87,2 de ligações
em infra-estrutura econômica são maiores que os com a infra-estrutura Aclimação 98,3 de ligações
social (Pesquisa de Campo, Emplasa, 1980). Vila Mariana 94,9 de ligações
Na Grande São Paulo, a presença de iluminação elétrica domiciliar Ibirapuera 71,2 de ligações
variava, em 1970, segundo os municipios. Apenas em cinco deles, mais de
900/0 dos domicílios contavam com esse serviço (São Caetano do Sul, Slo SubcUstritos com renda média mais baba (%)
Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André e Osasco). Eram oito os que
Guaianases 0,8 de ligações
contavam com 80 a 90%: Taboão da Serra, Ribeirão Pires, Poá, Moji das' 2,6 de ligações
São Miguel Paulista
Cruzes, Mauá, Guarulhos, Franco da Rocha e Diadema. Mas nove dentre ltaquera 3,3 de ligações
os municipios da Região Metropolitana dispunham de menos de .500;0 de Ennelino Matarazzo 6,6 de ligações
residências com instalações elétricas, dentre os quais um, luquitiba, con Vila Nova Cachoeirinha 11,8 de ligações
tava com menos de 20%.' Na área urbalta do municipio de Guarulhos,
apenas 5% dispõem de redes de esgotos e 59% de água canalizada. Para
atender à população da área em Guaianases, Itaquera e São Miguel Pau Não se trata aí de uma relação de causa e efeito, como pode ter sido
lista, em meados da década de 70 (1974), havia dezessete postos de saúde, invocado oú tende a parecer à primeira vista. A explicação deve ser encon-
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trada na decisão política de satisfazer a certas camadas de população, em efeito positivo ou negativo - uma externalidade - em torno do ponto
9: detrimento de outras, mesmo quando estão em jogo serviços essenciais. onde estão localizadas e em função do fato de serem bens de consumo
,t O esquema centro-periferia desfavorece amplamente os habitantes dos
·Ir:. positivos ou negativos. É esse 'efeito da externalidade' que atribui aos
~; municípios periféricos, quanto à distribuição dos serviços de saúde. O mu bens de consumo sua dimensão espacial". Bens de consumo positivos são
",, nicipio clt: São Paulo dispõe, sozinho, de 69,2% dos hospitais, 78,6% dos
leitos hospitalares, 69,40/'0 dos ambulatórios e mesmo 7lA% dos pronto
os que favorecem e valorizam as localizações e os bens de consumo nega
;-: tivos, pelo contrário, são aqueles que as desvalorizam ou desfavorecem.
socorros e 75,90/'0 dos centros de saúde da Região Metropolitana. A distri A relação entre atividades e serviços cuja utilização supõe a presença do
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buição geográfica do número de leitos hospitalares varia, em 1975, de usuário no lugar, como a educação ou a saúde, ajuda a explicar a queda da
1 a 40, sendo a Oeste a sub-região mais bem servida e a menos equipada a quàlidade de vida na aglomeração e a acessibilidade cada vez menor a tais
Norte. Mas o centro reúne uns 64% do total de leitos. Quase dez anos
depois, em 1984, as disparidades se mantêm, os coeficientes variando entre
a
serviços dos estratos mais pobres. Isso equivale um empObrecimento
ainda mais sensível dos já pobres e das classes médias, pelo fato de que,
um mÚlimo de 0,15 e 12,66 leitos por 1000 habitantes, isto é, uma variação para aceder a esses bens que deveriam ser fornecidos pelo poder público,
de 1 para 84. Os leitos em hospitais privados correspondem a 73,420/'0 do essa camada da população tem de pagar, isto é, utilizar, na remuneração
total, mas em quatro subáreas chegam a 100%. No município de São de bens de mercado, recursos que poderiam ser poupados.
Paulo, tomado isoladamente, o esquema se reproduz, pois o conjunto for A forma como a cidade é geograficamente organizada faz com que ela
mado pelo centro e pelo centro expandido reúne 57,40/'0 dos ambulató não apenas atraia gente pobre, mas que ela própria crie ainda mais gente
rios, 56,2 % dos pronto-socorros e 15,30/'0 dos postos de saúde. pobre. O espaço é, desse modo, instrumental à produção de pobres e da
Mais de 780/'0 da população escolar do ensino primário, ou seja, 1062872 pobreza: um argumento a mais para considerarmos o espaço geográfico
crianças vão a pé para a respectiva escola (Primeiro censo escolar, Prefei não apenas como um dado ou um reflexo, mas como um fator ativo, uma
tura Municipal de São Paulo, 1917). Isso faz com que uma parcela consi instância da sociedade, como a economia, a cultura e as instituições (Mil
derável da popuiação seja, para esse serviço, dependente da área contigoa. ton Santos, 1980 e 1986).
O fato de que essa função é largamente exercida pela iniciativa privada
mostra até que ponto o ensino pago pesa sobre o orçamento de centenas de
milhares de pessoas, empobrecendo-as assim.
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Na Grande São Paulo, a participação do setor privado quanto ao nú E<pl&bdido
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mero de leitos de hospitais gerais é maior que a de leitos especializados,
o que é, exatamente, o opqsto do que se poderia esperar, sobretudo quando
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A reprodução do centro da indústria. A indústria é, pois, mais descentralizada que o comércio. 9
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Relação entre o número de viagens por motivos e por renda familiar
São Paulo, 1977
Notas
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Viqen& por famltia por dia
.b~
Sem declaração 0,8 0,8 0,8 0,8
Total 100,0 100,0 100,0
-~
4 .~~ Fonte: SumáriQ de Dados da G,.and~ São Paulo, de 1986, Emplasa, São Paulo, tabela V. 11.
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2.e: assim que, nos últimos quinze anos, diz Miranda M. MagnoU (1982, p. 78), "a extensão do espaço
do tecido urbano se fez especialmente em agrupamentos de moradias sem a menor condição de habi·
tabilidade" .
Segundo Arlete M. Rodrigues (1981), "o espaço ocupado pelas favelas caracteriza·se. no geral. pela
insalubridade, topografia acidentada e dificil acesso: margens de c6rregos (36,7"û; áreas com declivi·
dades média e alta (51.8"û; charcos e áreas sujeitos a freqüentes inundaçi'ies (22.4"10). Ocupam as
piores terras as que nio interessam, num determinado momento. à expansllo do casario urbano. as
áreas de topografia mais acidentada. onde são freqUentes os deslizamentos de terra e desbarranca·
mentos de barracos; as margens de c6rregos, onde são lançados os esgotos a c6u aberto e que. em geral,
exalam mau cheiro e 510 focos de doenças. além de periodicamente sofrerem inundaçi'ies". .
3. Em 1975. já se registravam na Grande Sio Paulo cerca de 610 mil moradias autoconstruídas, sendo
aproximadamente 4.50 mil na periferia do munidpio de Sio Paulo e ce'n:a de 160 mil nos outros muni
dpios. Segundo Pedro Iacobi (1982. p. 55). "mais de SO"Ã> dessa populaçio tinha renda familiar entre
dois c cinco sa16.rios minimos". Esse mesmo autor indica que. "em 1977, as famllias autoconstruidoras
já estavam em tomo dos 700 mil, localizadas, na sua grande maioria. na periferia da cidade". Dal em
4. Baseando-se em diferentes fontes bibliográficas, indicadas no texto, o estudo Corliços ~m São Pau
""rIO
lo: frent~ ~ (1988) define o cortiço (p. 13) atribuindo-Ihe "o caráter de habitação coletiva, ou
seja, uma ou mais construçi'ies no mesmo lote. com indice de ocupaçio excessivo; deficiências de insta·
Iaçi'ies hidri.ulicas e sanitArias; e6modos afugados e congestionados. com uso COII'lum do banheiro c,
5. Viver nas favelas é defrontar cotidianamente com o desconforto e a doença. Segundo dados reco
lhidos por Suzana Pasternak Taschner, constata-se que é grande a distlncia entre os tndices de abas·
tecimento de qua, de ligaçi'ies 1 rede de esgotos e da coleta de lixo entre as favelas e a média observada
, I t.. no munic!pio de São Paulo. Constata-se. também, a tendência a que a situação se tome cada vez pior.
~
Reada famill.v mensaI_ erur.eIros de 1971
Fonte: TIfOMSON. IlUI, "EI transporte urbano em América Latina. consideraciones ac:en:a de lU
iaualdad y eficiência", Revi#a dD Ceptú, n!' 17, agosto 1982.
64
6S
Distribulçio dos domicílios desprovidos de serviços urbanos no município de São Paulo sua reprodução 110 espaço urballo da Região Metropolitalla de São Paulo (CNPq 201220/80, Sílvia
e nos aglomerados de barracos. Viotto Monteiro Pacheco mostra que, das quatorze linhas interminais que cortam a área, dez se di·
~
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, '.:;:; rigem a Santo André, importante local de emprego para moradores na Zona Leste do municipio de São
Cd'~
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)
Número total de Rede de Rede de Paulo: outras linhas fazem ligações com outros bairros, destacando-se a Penha, que é um centro secun·
'.., Agua esgoto lixo dArio de serviços dentro do municipio de Silo Paulo.
domicílios
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(%) (%)
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( "1.) 10. A propósito da reestruturação recente do centro da cidade de SIC'Pa\dne da aglomeração paulis
tana, ver Helena Kohn Cordeiro. 1986.
~:
Favelas do município de
São Paulo {19731 8673 79.8
I 99,3 I 84.9
Favelas do município de
OS" São Paulo (I 9S01 327 77.37 99.99 57.19
{ Domicílio~ do município de
f São Paulo (19701 14501\92 22.4 41.3 15.9
..f' . Domicílios do município dt'
ó. Os equipamentos de lazer têm uma localiz!I\;ão seletiva no município de São Paulo, privilegiando as
áreas mais centrai~. isto é, o centro histórico e o centro expandido. onde viviam cerca de 20% da
população da cidade. Nestas duas áreas se en<:ontram 73.6% dos cinemas. 97,79"10 dos hotéis. 61.7%
dos museus, 39,99% dos parques e jardins, 63.16% das praças e largos, 90.66% dos restaurantes e
90.7% dos teatros. Esta centralidade extrema talvez seja uma das causas do fato de que. para as
mesmas faixas de renda, a freqüentaçlo aos cinemas seja maior em cidades como Juiz de Fora, Recife e
Rio de Janeiro. Estes últimos dados são deduzidos do estudo de Renato Raul Boschi( 1977).
7. Na Região Metropolitana de São Paulo, o trifego de passageiros no interior do municipio de São
Paulo era quase nove vezes e meia maior que o existente nos demais municípios da área metropolitana e
quatro vezes mais que o volume total de viajantes nos respectivos ônibus intermunicipais (Revista dos
Transportes Públicos, ano 6. n? 22. out. 1983).
Na Regilio Metropolitana do Rio de Janeiro, onde as disparidades de renda são ainda maiores, para um
lotai de 4 471823 viajantes, em agosto de 1981 slo 3480 mil os que correspondem ao município do Rio
de Janeiro (PlaIlO Diretor de Transportes da Região Metropolitano, Secretaria de Planejamento. 1982).
Na Região Metropolitana de Curitiba, o fenômeno é ainda mais eloqüente. pois o trifego intramuni·
cipal de Curitiba interessava a 100 mil pessoas por dia, o intermunicipal metropolitano a cerca de 160 mil.
enquanto o trifego interno aos demais municlpios conespondia somente a 30 mil passageiros por dia
(Aperfeiçoamellto instituciollal do sistema metropolitano de trallsportes coletivos. tese do município de
Arauciria ao 1~ Encontro de Municlpios Integrantes de Regiões Metropolitanas. Curitiba. 1984). So
mente cinco municípios dessa Area metropolitana "têm linhas de transportes coletivos intramunicipais
com alguma expressão".
8. Uma pesquisa de campo empreendida em fins da década de 80 pela Emplasa identificava na Grande
São Paulo. além do centro principal. quatro centros especializados: Bom Retiro (vestuirio), Avenida
Paulista (serviços financeiros). Avenida Faria Lima (escrit6rios) e Vila Mariana; quatorze centros locais
polarizando ireas definidas: Lapa, Santana, BrAs.Belenzinho, Pinheiros, Santo Amaro, Osasco, Silo
Bernardo do Campo, Santo André. São Caetano do Sul. Saúde, Ipiranga•.Penha, Guarulhos, Moji das
I
Cruzes; e dois centros locais em formaçilo: Ibirapuera e Jabaquara.
9. Areas periféricas do municipio de Slo Paulo também nlo dispôem praticamente de ligações com
~ outros centros periféricos. Por exemplo. a maioria dos &nibus que passam por ltaquera têm o centro da
cidade(também centro da Regiilo Metropolitana) como seu ponto final. Slo trajetos sinuosos. atravessan·
do ireas onde hi oferta de emprego. Em seu projeto de pesquisa sobre a Ci1'C1l.Iação da foTÇQ de tralxlfho e
66 67
~.
_.- 1
Anexos (continuação)
)'i Alguns indicadores sodais em 1987
) ,
A B C D B:A C:AD:A c
A B
) Domicilios Número Ugação ligação
particulares de de de Domicilios Número Ugação
permanentes veiculos água esgotos particulares de de
permanentes veiculos água
Arujá 5246 3061 4906 - 0.58 0.93 -
Barueri 25187 2949 18456 4421 0.12 0.73 0.17 Osasco 147311 33696 126485
Biritiba-Mirim 3364 720 1244 968 0.21 0.37 0.29 Piraporado
Bom Jesus 1097 139 646 523 i 0.13, 0.59' 0.48
Caieiras 7621 1118 6918 4235 0.15 0.91 0.56 6903 • 0.18 0.85 0.45
1380 0.07 0.59 0.19 Poá 15451 2723 13108
Cajamar 7158 484 4250 13573 6109 0.44 0.73 0.33
Carapicuíba 88141 3435 32972 1301 0.04 0.37 0.01 Ribeirão Pires 18618 8238
Cotia 17243 5056 12850 1629 0.29 0.74 0.09 Rio Grande
3794 85 . 0.07
I I
0.53 i 0.01
Diadema 107060 9531 43083 20972 0.09 0.40 0.20 da Serra 7095 469
Salesópolis 2278 737 1589 792 0.32 0.70 I 0.35
Embu 62197 2159 22115 1640 0.03 0.36 0.03 3600 0.28 0.461 0.40
8902 2477 4141
Embu-Guaçu 6928 147 4166 - 0.02 0.60 - Santa Isabel
i
Ferraz de Santana
do Parnaíba 2898 209 1840 899 0.07 0.6310.31
Vasconcelos 19093 1430 14282 4376 0.07 0.75 0.23 0.7510.73
Santo André 153434 104 443 115262 111497 I 0.68
Francisco 75023 I 0.79 0.57 0.46
0.01 0.65 0.04 S. B. do Campo 162188 128 279 93167
Morato 10636 149 6945 415 33344 1.26 0.79 0.79
0.11 0.76 0.18 S. C. do Sul 42055 53018 33344
Franco da Rocha 16201 1792 12278 2893 0.67 0.37
Guararema 3487 1258 1960 1241 0.36 0.56 0.36 São Paulo 2516011 3016834 1680380 923158 1.20
Suzano 31519 11752 20309 10682 0.37 0.64 0.34
Guarulhos 200446 68444 102543 52816 0.34 0.51 0.26 0.67: 0.14
Taboão da Serra 37356 3703 24887 5187 0.10
Itapecerica
da Serra 22047 5563 11503 1 0.21 0.52 0.00 Vargem Grande
Paulista 3183 243 1497 0.08 0.47
Itapevi 16742 1661 12402 1759 0.10 0.74 0.10
Itaquaquecetuba 26011 2672 17647 545 0.10 0.68 0.02 Região Metropo
litana 3945408 13517050 12537896 1402623 0.89 0.641 0.35
Jandira 15643 1039 8541 1173 0.07 0.55 0.07
Juquitiba 3620 554 1702 - 0.15 0.47 -
Mairiporã 7212 1538 3578 1765 0.21 0.49 0.24 Fonte: Grande Silo Plllllo -lndiclldores básicos. Emplasa. São Paulo. 1980.
Mauá 71767 6696 45448 29386 0.09 0.63 0.41
Moji das Cruzes 52932 29634 42826 38013 0.56 0.81 0.72
(continua)
68 69
L_
) ~f
1982 1982
I 1982 1982
70 71
•
•
1
)
CGeficfentell de mortalidade infmtU CrIaçio de DOVOS emprecoa
li: Âgua encanada Rede de esgotos
1982 1982
')~ 1982 1982
Ferraz de Vasconcelos 125,52 Capitai 111389
/~ 6994
.: São Paulo/Capital 1495299 Capital 688655 Itapevi 101,58 S. B. do Campo
GuaruJhos 5443
l ')
1~ Santo André 103572 Santo André 100498 Mairiporil 98,54
Santana do Parnaíba 95,89 Diadema 3795
S. B. do Campo 74988 S. B. do Campo 73472
); "
Guarulhos 72962 Guarulhos ]5016 I Poi 94,89 Embu 3768
f Pirapora do Bom Jesus 93,02 Osasoo 3471
l f" Diadema 34807 S. C. do Sul 32798
Itaquaquecetuba 92,52 S.C. do Sul 2496
i Mauá 34419 Diadema 8910
\''1 Diadema 90,68 Barueri 1434
!
, S. C. do Sul 32798 Mauá 7091
Embu 85,50 Cotia 1350
Taboão da Serra 20301 Suzano 5879
li: Itapecerica da Serra 85,19 Mauá 1242
Embu 17302 Ribeirão Pires 4412
Carapicuiba 84,63 Ribeirlo Pires 755
' Suzano 14691 Poá 4252
)
Francisco Morato 75,81 Tabolo da Serra 700
Barueri 11977 Santa Isabel 2795
Poi Osasco 74,75 ltapevi SSO
10497 Ferraz de Vasconcelos 2511 455
Arujá 73,57 Ferraz de Vasconcelos
Ferraz de Vasconcelos 9625 Caieiras 1656
Juquitiba 72,65 Poi 433
Itaquaquecetuba 9308 Franco da Rocha 1337
Iandira 72,00 Santo André 386
Cotia 8133 Maíriporã 1112
Caieiras 66,75 Santana do Parnaiba 268
Itapevi 7969 Guararema 1043
Santa Isabel 66,67 Suzano 259
I tapecerica da Serra 7665 Biritiba-Mirim 842 147
Ribeirão Pires 7414 563
MauA 64,72 Embu-Guaçu
Embu 145
Franco da Rocha Suzano 61,43 Franco da Rocha
7138 Salesópolis 316 123
Rio Grande da Serra 61,22 Cajamar
Jandira Barueri 228 122
Moji das Cruzes 56,67 Rio Grande da Serra
Caieiras 4030 Cotia 114
Franco da Rocha 55,49 ltapecerica da Serra 111
Santa Isabel 3515 Cajamar 61
S. B. do Campo 54,49 Car3.picuíba 110
Francisco Morato 3012 Taboão da Serra 2 51
Ribeirão Pires 54,43 Francisco Morato
Embu-Guaçu 2910 4S
Biritiba·Mirim 54,23 Guararema
Rio Grande da Serra 2813 33
Guarulhos 48,08 Pirapora do Bom Jesus
Cajamar 2804
Capital 47,90 Sales6polis 10
Arujá 2472' 4
Mairiporã Cotia 45,51 Juquitiba
2395 Biritiba·Mirim • 13
Guararema 42,74
Guararema 1487 Santo André 41,85 Aruji • 16
Salesópolis 1214
Cajamar 41,43 Jandira • 24
Biritiba-Mirim 930
Tabolo da Serra 38,05 ltaquaquecetuba • 41
Juquitiba 772 -66
~ ....... _ -~ ....... _-- Salesópolis . 37,74 Mairipori
Barueri 33,28 Santa Isabel ·515
S. C. do Sul 24,04 Moji das Cruzes -63S
72 73
.'
1
_
_.... ...._--_ .. ~
.---, - -_.----------,
••
Leites espeetaliudos
leitos gerais (por 1000 habitantes)
1982 ! (por 1000 habitantes) 3
I i 1982
ImobUidade relativa e fragmentação
4,9 Franco da Rocha 109,8
Suzano
S. C. do Sul 4,8 Mairiporii. 8,9 da metrópole. Os transportes
Caieiras 4,5 Ribeirii.o Pires 6,2
Guararema 4,2 ltaquaquecetuba 6,1
Capital 3,3 Cotia 2.3
Osasco 2,8 Taboii.o da Serra 2,0
S. B. do Campo 2,6 Carapicuíba 1,8
Moji das Cruzes 2,5 Diadema e Itapecerica da Serra 1,4
Diadema 2,4 Guarulhos 1,1
Cotia e Guarulhos 2,3 Santo André 1,0 A problemática dos transportes
Arujá, Sales6polis e Mauá 0,9
),
. Itapecerica da Serra 2,2 S. B. do Campo 0,8 Em 1985. o sistema metropolitano de transporte público transportava
Ribeirii.o Pires e Santo André 2,1 Capital 0,7 diariamente quase 3,S milhões de passageiros na Grande São Paulo. Desse
Mairipor! e Santa Isabel 2,0 Moji das Cruzes e Barueri 0,4 total. 79.3% cabiam aos ônibus, 12.1% ao metrô e 8,6% aos trens.
Santana do Parnaíba 1,9
Ferraz de Vasconcelos 1,7 Como as viagens são feitas
Mauá 1,6
Cajamar e Carapicuiba 0,6 Considerando-se o número de viagens diárias, eram, em 1983, 20 mi
Taboão da Serra 0,4 lhões, sendo que 12.S milhões eram feitas em veículos coletivos e 7,S mi
Itapevi 0,3
ltaquaquecetuba e Barueri 0,2 lhões em carros individuais. Cabiam, pois, 37,SCt,1o a estes últimos e 62,5%
aos meios coletivos de transporte (10,39 milhões aos ônibus. 1.26 milhão ao
metrô e 0,85 milhão aos trens).
O metrô de São Paulo era um dos que menos transportava passageiros,
tanto em números absolutos como em relação à população. Vejam-se os
números de pessoas transportadas em 1979 (em milhões):
74 75 .. ·1
distribuidos, quase eqüitativamente, entre a linha Norte-Sul, inaugurada Sistema Metropolitano de Transporte Público ( 1985)
moram nos respectivos setores, mas trabalham fora. Tomando o setor A, De acordo com estudos de inícios de 1985, da Secretaria de Transpor
).
que corresponde grosso modo ao município de São Paulo, para um total de tes do Município de São Paulo, quase metade (49,2%) dos usuários de ôni
858088 empregos industriais, somente 304 761 opermos trabalham e mo bus têm renda entre um e três salários mínimos (Folha de S. Paulo,
ram nos mesmos setores, enquanto 553 327 vêm de outros setores trabalhar 05.5.1985),
e 553471 trabalham fora do seu setor de residência. Se tomamos o setor B, Da força de trabalho residente na ZOna Leste 2, 92,40/0 tinham renda
que reúne os municípios de Guarulhos e Arujá, os empregos industriais são inferior a cinco salários mínimos, índice a comparar com os 75% do muni
532S5. São 32278 pessoas as que vivem e trabalham nesses dois municí cípio de São Paulo tomado como um todo. O terciário era a principal ati
pios. Enquanto isso, 20977 operários vêm de outros setores trabalhar nes vidade, interessando a 53,6% da população economicamente ativa mo
ses dois municípios da Região Metropolitana de São Paulo e 12404 aí mo rando aU, enquanto 42,9% tinham empregos industriais e 3,5%. na cons
ram mas trabalham fora (Pesqui.sa Origem e Destino, Emplasa, 1977). Em trução civil. Na Zona Leste como um todo, 77,4% da população economi
Guarulhos, a mão-de-obra ocupada nas indústrias locais vinha, por 60%, camente ativa ganha até três salários mínimos.
do município de São Paulo e igual percentagem da mão-de-obra industrial Assim, as camadas inferiores da sociedade urbana estão subordinadas
ali residente trabalha em São Paulo. a meios de locomoção freqüentemente precmos e pelos quais devem pagar
A chamada Zona Leste 2, formada por Guaianases, Itaquera e São uma parcela cada vez maior dos seus ganhos. Essa vocação é agravada por
)
Miguel Paulista, abrigava, em 1974, uma força de trabalho de 236710 dois fatores concomitantes: a expansão territorial da cidade e a diversi
pessoas, mas nessa área havia apenas 77 664 empregos. ficação do consumo das fammas.
A participação dos transportes nas despesas familiares sobe, em média,
A locomoção dos pobres de 2,9%, em 1958, para 11,5%, em 1970 (Dieese, 1974). Os gastos em
\ ')
Quanto mais pobre o individuo, mais dependente ele é dos transportes transporte pesam mais, de ano a ano, nos gastos familiares. Um estudo da
coletivos. Um estudo de lan Thomson (1986, p. 65, tabela 4) permite-nos Fipe (Pesquisa de Orçamentos Familiares, São Paulo, 1971-72 e 1981-82)
apreender o que se passa em São Paulo, onde a relação é inequívoca entre mostra essa evolução para diferentes estratos de renda, computados em
salários mínimos.
nível de renda e meios de transporte.
Indicadores de renda familiar dos lDUárlOS
Salários mÍDimos 1971-1972 1981-1982 I
dos diferentes meios de transporte em SIo Paulo
DeOa2 4,2 7,7 I
, De2a6 6,4 11,5
) Renda familiar mensal 10,0 18,6
aproximada em 1977 De6a 12
Meios de transporte
(em crS) De 12 a33 12,3 19,8 i
Onibus exclusivamente 7750 Compravam-se em São Paulo 400 passagens de ônibus com um salário
Automóvel exclusivamente 14000 mínimo, em janeiro de 1986, e apenas 207, em junho de 1988 (Marcos
Táxi exclusivamente 12750 Mendonça, 1988).
Metrô exclusivamente 12500
Trem exclusivamente 5500
I I 7000
Onibus/Onibus* Ascensio e predomínio do transporte individual
Onibus/Metra* 8750
Onibus/Trem* 7000
o desenvolvimento econômico do país é acompanhado pelo incremento
• Trata-se de viagens com transbordo entre os meios de transporte indicados. no uSo do autom6vel particular como meio de transporte urbano. Isso é
78 79
.~
particularmente sensível na cidade e na Regilo Metropolitana de São por meios coletivos, sendo que por ônibus contavam-se 38,5% e pelas es
Paulo, onde são sensiveis..as mudanças observadas nos modos de viagem, tradas de ferro e metrô 26%. Esses percentuais mudavam para 62, 31 e 7%
durante o "milagre econÔmico". Segundo dados da Companhia do MetrÔ, se se contavam os 5 800 mil deslocamentos por motivos diferentes do traba
esta foi a evolução no uso de carros particulares, táxis e Ônibus, entre lho (1. Beaujeu-Garnier, 1973, p. 669). Números do Banco Mundial para
1968 e 1975: diversas cidades inglesas também mostram o predomínio do transporte pú
blico como meio de deslocamento:
Carro particular Táxi ODibus
Cidades (%)
1968 28,6 8,28 60,06 Binningham 68
1975 38,6 11,58 46,70 Uverpool 74
Londres 84
Manchester 73
A parte relativa aos transportes individuais pula de cerca de 37 para Newcastle 71
SOo/'o entre 1968 e 1975, enquanto cai a parcela correspondente aos Ônibus.
O transporte em automóveis cresce de 10,70/'0 ao ano entre 1967 e 1977. 2 Fonte: IBRO, Worlcing Paper 162, Automohiles
Enquanto o número de viagens em carros particulares quase triplica and citiu. p. 55.
entre 1967 e 1977, passando de 1,9 milhão para 5,4 milhões diários, os
números correspondentes às viagens em ônibus não chegam a dobrar, evo Em Paris, em cada dez deslocamentos entre o domicílio e o trabalho ou
luindo de 4,4 milhões de viagens, por dia, para 8,4 milhões. entre o domicílio e a escola, cinco são feitos pelo metrô ou em ônibus (53%
Entre 1977 e 1983, a tendência conhece uma ligeira inversão. Isso, po para essas duas modalidades em conjunto), três a pé (230/'0) ou em veiculos
rém, é conjuntural, graças à crise econÔmica, pois a importância do trans com duas rodas (5%), eos outros dois são realizados em automóv~is 09%)
porte por meios individuais é ainda muito considerável, permanecendo (Jean-Baptiste Vaquin, 1987).
elevada. Uma comparação, tomando por base o ano de 1966 para Caracas e uma
média das principais cidades norte-americanas, mostra que entre sete e
1968 1977 1983 oito horas da manhã na capital da Venezuela, 62% dos movimentos para
o centro eram feitos em automóveis privados, enquanto, nos Estados Uni
Transporte coletivo 63,9% 60,6% 62,5% dos, 71 % dessas viagens eram feitas em veículos coletivos.
Transporte individual 36,10/0 39,4% 37,5%
A tendência à ascensão do transporte individual nos países subdesen
volvidos é mais forte em certas aglomerações que em outras, mas sempre se
A situação é flagrantemente diversa nos países desenvolvidos. Vejamos dá acompanhada da degradação da qualidade do transporte público.
,1 alguns exemplos. No caso de São Paulo, e limitando-nos ao período do "milagre econÔ
Em Tóquio, 48% das pessoas circulavam por estradas de ferro, 14% de mico", enquanto a demanda por transporte em ônibus cresce 75% entre
metrÔ, 11 % em Ônibus e 17% por meios individuais e táxi (Maurice Mo 1968 e 1974, o número desses veículos aumenta apenas 12% (Movimento,
reau, 1976). Em Nova York, apenas 704 mil viagens num.total de 3103 mil 14.6.1976).
se faziam em automóveis. No Distrito Central de Nova York, a parte que Em 1976, os cerca de 90Ô mil carros trafegando na cidade de São Paulo
. cabia aos carros individuais era ainda menor: 111 mll num total de 1564 transportava uma média de 2,3 pessoas por dia (um total de 2 milhões
mil viagens. Em Londres, apenas 35,5% das 5400 mil viagens ligadas ao aproximadamente), enquanto os 1080 ônibus da Companhia Municipal de
trabalho se faziam em automóveis particulares, enquanto 64,5% se faziam Transportes Coletivos conduziam unS 600 mil passageiros (Movimento,
80 81
--L__,
14.6.1987). Mas a cidade é também servida por empresas particulares. Por Meios de transporte Custos públieos e privados Centavos de dólar por .
isso, a interpretação dada pela Emplasa aos dados obtidos com a mencio (dólares) paasagekos/~Uha
} , nada pesquisa origem e destino indica que os ônibus em circulação, cerca
Carro e motorista 2.64 26.4
de 50 mil, representando um décimo do total de automóveis em circulação,
Trânsito ferroviário
transportam mais passageiros que todos os veículos particulares reunidos. rápido 2.46 24,6
Enquanto cada ônibus, em média, transporta quarenta passageiros, Onibus convencional 0,86 8.6
cada veículo particular leva apenas 1,56 pessoa. Lúcio Kowarick (1980. Carro com 2 ocupantes 1,32 13.2
p. 35) fala, porém, de uma média de 1,2 pessoa por veiculo. em carros Carro com 3 ocupantes 0,88 8.8
privados. Carro com 4 ocupantes 0,66 6,6
Se tomamos a Região Metropolitana de São Paulo entre 1970 e 1980,
o número de carros passa de 573010 para 2123854. Havia 69,83 carros por
mil habitantes em 1970. Já em 1980, são 142,36. Em outras palavras, o nú Enquanto os automóveis queimavam cerca de 30% do consumo brasi
mero de habitantes por auto diminuiu de 14,4 para 7,0 no mesmo decênio. leiro de gasolina em 1979, os ônibus consumiam 6% do consumo nacional
Aumentou o número de carros, em termos absolutos, diminuiu a relação de óleo diesel. Mas as viagens em automóveis eram 30% do total e as em
entre o número de habitantes e o número de automóveis, o que contribuiu ônibus representavam 60% do total. Quanto aos trens e metrôs. com 5%
para agravar duplamente a carga do tráfego individual sobre as vias ur das viagens, eram responsáveis pelo dispêndio de 1% da energia elétrica
), banas existentes. produzida no país.
Um automóvel ocupa um espaço 150 vezes maior que um "homem con Em 1980, somente os automóveis que circulavam nas cidades foram
fortavelmente de pé" e um carro estacionado 1500 vezes. Uma pessoa an responsáveis por 48% de todo o consumo nacional de gasolina, segundo o
dando ocupa uma área cinqüenta vezes menor que a de um automóvel em presidente do Geipot (Empresa Brasileira de Planejamento dos Transpor
movimento (F. W. Boal, 1970, p. 79). Num estudo feito por Josef Barat tes) durante o Congresso da Associação Nacional de Transportes Públicos
'I' para o Ipea, em 1975, vemos que, nos principais eixos de circulação do Rio (Diário de Pernambuco, 09.4.1981). Para cada passageiro, foram consu
de Janeiro, a ocupação pelos automóveis correspondia a 560/0 da superfície midos 0,96 litro de gasolina, enquanto no ônibus o consumo por passageiro
das vias, ficando para os táxis e ônibus 35 e 9%, respectivamente, en era de 0,06 litro, dezesseis vezes menos que o automóvel, considerando-se
quanto os primeiros transportavam 1,7 passageiro, em média, os táxis 1,1 que cada ônibus transporta quarenta passageiros em média.
e os ônibus 29,8. Esses dados revelam o peso da difusão do transporte individual sobre os
A pressão dos automóveis sobre o sistema viário é bem maior que a dos recursos públicos, na medida em que os automóveis fazem pressão sobre o
ônibus. O percentual do espaço viário principal consumido pelos ônibus sistema viário, exigindo mais vias e consomem mais combustível que os
pouco mais que duplica entre 1960 e 1970, enquanto que o índice de con ônibus ou trens e metrôs. Isso resulta em maior contribuição da população
sumo pelos automóveis mais que triplica(Josef Barat, Ipea, Rio de Janeiro, como um todo para que uma parcela de privilegiados possa circular: o com
1975). "O automóvel é o maior consumidor de espaço público e pessoal já bustível é subsidiado (gasolina e depois álcool) pelos cofres públicos, atra
criado pelo homem. Em Los Angeles, a cidade do automóvel por excelên vés dos impostos. Em 1977, havia na Região Metropolitana de São Paulo
cia, Barbara Ward descobriu que 60 a 70% do espaço é dedicado aos carros 1382 mil famílias possuindo autos, mas 291 mil possuíam dois, enquanto
(ruas, estacionamentos e vias expressas) (Edward T. Hall, 1977, p. 15). as fanúlias sem automóvel eram 1352 mil. Isso se dá ao mesmo tempo em
Um estudo de Marshall F. Reed (1973) mostra o custo diferencial de que, "com a entrada em cena do automóvel, muitos investimentos na infra
alguns meios de transporte: estrutura viária urbana passaram a ter um caráter acentuadamente regres
sivo, beneficiando um número reduzido de proprietários de veículos e agra
82 83
)
vando a limitação de recursos locais para aplicações alternativas em trans
porte público" (J. Barat e M. S. Nogueira Batista, 1978, p. 173). De um modo geral, quanto mais longe é a moradia, tanto mais tempo é
Limitando-nos ao perfodo de 1960-1978, é a seguinte a progressão do - gasto em transporte, contabilizados o percurso dentro do veículo e o que é
número de automóveis em São Paulo: feito a pé para alcançá-lo. A tendência, aliás, é ao aumento do tempo gasto
em viagem. Em seu actigQ "Nordeste, Capital São Paulo", publicado em
1960 120000 Contraponto, ano lI, 1977, n? 2, veja-se como Ana Valderez Amorim Ba
1975 978000 tista descreve a situação: "O distanciamento entre o trabalho e a residência
1978 1200000 tem aumentado a tal ponto que, nos últimos seis anos, elevou-se em 30%
o tempo médio do deslocamento. Em 1974, havia na região 13,9 milhões de
deslocamentos diários, realizados, em geral, pelos 7 mil ônibus que carre
Isso significa que o número de carros decuplicou, enquanto a população gam, nos momentos de rush, o dobro da lotação máxima prevista ( ... ),
apenas dobrou. os trens suburbanos ( ...) 900 mil passageiros por dia ( ...), cerca de 700
Os anos 70 merecem ser mencionados em primeiro lugar, porque é passageiros por viagem, quando não poderia ultrapassar o número de 300
nesse decênio que se afirma o fenômeno da metrópole corporativa. Entre (...). ( ...) a perda de três a quatro horas diárias dentro dos transportes
1950 e 1960, o número de automóveis na Grande São Paulo aumenta em coletivos pressupõe um 'prolongamento' da jornada de trabalho (além dos
25%, passando de 96 mil para 120660, com um acréscimo de quase 25 mil muros da fábrica), pois reduz o tempo livre do trabalhador e aumenta o seu
unidades. No decênio seguinte, o acréscimo é de 372 mil, um crescimento desgaste físico e mental".
de 3000/0, pois o seu número sobre de 120660, em 1960, para 492 mil Os moradores da Zona Leste despendem uma média de três horas
em 1970 (Alberto de Oliveira Filho, 1975). e 55 minutos diários quando viajam de trem e cerca de quatro horas quando
Mas, a frota de veículos na Grande São Paulo não pira de crescer. Ela utilizam conjuntamente o ônibus e o trem. As jornadas de trabalho mais
aumenta deSS,6%, entre 1976e 1985, passando de 1 719 S06 para 2676229, elevadas podem tomar doze horas e dez minutos dos que circulam de trem
um acréscimo de 956723, ou seja, mais de 100 mil veículos, em média, e de treze horas e cinqüenta minutos para quem usa o trem e o ônibus.
cada ano. Em outras palavras, entre 1970 e 1985, o número de carros é Quanto menor a renda, de um modo geral, maior é o tempo gasto para
multiplicado por mais de cinco vezes. O que isso representa em termos de se fazer transportar do domicilio ao trabalho. Entre os que necessitam de
investimento público tem de ser considerado quando se avalia o papel do apenas vinte minutos para o seu deslocamento estão 61 % dos que circulam
modelo automóvel no desenvolvimento da metr6pole. J de autom6vel, 56,6% dos que usam táxi e apenas 15,5% dos que tomam
ônibus. Para os quc se utilizam de trem e metrô, os percentuais são, res
Imobilidade relativa e fragmentação da metr6pole pectivamente, de 1,2% e 6,6%. Ao contrário, os que precisam de mais de
uma hora para se deslocar são 7,3% dos usuários de autom6veis, 7,9% dos
que circulam de táxi, 81,6% dos que tomam o trem, 49,5% dos que usam o
Segundo assinala Josef Barat (1979), "a fixação de população na peri
metrô e 39,7% dos usuários de ônibus.
feria não tem sido acompanhada pela implantação ou ampliação de um
A maior mobilidade é obtida pelos que andam de bicicleta ou motoci
sistema de transportes coletivos adequado, seja por fatores de escassez de
cleta, ... em automóveis privados ou táxis. 42,1% das viagens em bicicleta
recursos, ou pela existência de obras consideradas mais prioritárias. Isto se
e 35,9% daquelas em motocicleta se faziam em menos de dez minutos,
traduz na perda de qualidade de vida destas populações, porquanto seu
enquanto eram 30,7% as realizadas no mesmo tempo em automóveis e
transporte para os locais de trabalho é oneroso e operado em condições
~
16,8% as em táxi. 35,7% das viagens em táxi tomavam quinze minutos.
precárias" (Josef Barat, Os transportes e o planejamento da Região Metro
Quanto às viagens em ônibus, 39,1 % levavam até 3S minutos, 33,1 % das
politana do Rio de Janeiro, documento apresentado ao seminário "O creS
viagens em metro levavam até 40 minutos e 30,5'10 das viagens em trem
cimento urbano do Grande Rio", PUC, Rio de Janeiro, 1979).
consumiam até uma hora. Percentuais pr6ximos a 40'10 das viagens repre
84 8S
-
)
~
sentavam assim quantidades de tempo extremas, segundo o meio de trans
Atividades Industriais no município de Cotia
porte utilizado.
Tomando como referência um percentual próximo dos 90% das via
Local de residência
gens, o tempo de viagem varia entre 40 e 120 minutos:
Quem mais ganha, mais viaja. Quem ganha pouco quase não se loco pesquisa iam, em média, 64 vezes ao ano ao cinema e quinze ao teatro,
move. Esse fato é, para São Paulo, ilustrado pelo gráfico estabelecido por números que baixam para 44 e nove vezes, respectivamente, em 1984.
Ian Morrison (HEI transporte urbano en América Latina, consideraciones Quanto às refeições fora de casa nos fins de semana, hábito enraizado nas
acerca de su igualdad y eficiencia", Revista da Cepal, n~ 17, ago. 1982), classes médias paulistanas, a freqüência de 37 vezes em 1982 cai para
a partir de estatisticas obtidas em fonte oficial. 29 vezes em 1984. As visitas às manicures diminuem em 35% e mesmo
Uma tese recente (1986) de doutoramento, de autoria de Ana Fani 46% dos fumantes teriam mudado de marcas de cigarros, . devido ao au
Alessandri Carlos, que trata da industrialização do municlpio de Cotia, na mento dos préços. Trinta por cento das crianças dessa faixa econômica
Região Metropolitana de São Paulo, permite distinguir, no total de empre (renda entre seis e 33 salários mínimos) que freqüentavam escolas particu
gados, aqueles diretamente ligados à produção, isto é, os operários, e aque lares transferiram-se para escolas públicas, numa busca de acomodação
les não diretamente envolvidos no processo de fabricação, isto é, os terciá aos novos orçamentos domésticos. (Entrevista do economista Miguel Cola
rios industriais. São os primeiros os menos móveis, vivendo mais próximos suonno, présidente da Ordem dos Economistas de São Paulo, ao Jornal da
do lugar de trabalho. Entre os "quadros", cujos salários são, para muitos, Tarde, 20.11.1984, e ao Diário do Comércio, 20.11.1984).
superiores aos dos simples operários, o percentual dos que residem em São Além do mais, o custo dos transportes se elevou mais depressa que os
Paulo é considerável. (Ver a tabela na página seguinte.) . salários. Entre I? de maio de 1979 e 1? de maio de 1981, o salário mínimo
O número de viagens é, na Região Metropolitana de São Paulo, redu cresce de 273% e o preço de uma passagem de ônibus, de 400%. OJornal
zido de 8% entre 1981 e 1984. Entre 1984 e 1985, o incremento é de apenas do Brasil (18.10.1981) aponta um estudo feito em São Paulo, segundo o qual
10/0. O número de pessoas "expulsas" do tráfego pode ser avaliado compa a participação do custo do transporte nas despesas familiares era de 4%,
rando-se um ano a outro o número total de passageiros nos transportes em 1972, de 5%, em 1975, e de 120/0, em 1978. Entre janeiro de 1979 e
coletivos ou individuais, sendo que o índice ainda é mais eloqüente quanto setembro de 1981, o custo das passagens sobe 733%, enquanto os salários
aos transportes coletivos. crescem àpenas 590%. Em setembro de 1984 (O Estado de S. Paulo,
Em 1981, 47% das familias de classe média (pesquisa da Ordem dos 30.9.1984) o transporte consome 300/0 da renda dos usuários.
Economistas de São Paulo) utilizavam-se dos seus próprios veículos para ir A tendência no longo prazo é ao aumento relativo da parcela de gastos
trabalhar; eram 42%, em 1984. Em 1982, as pessoas atingidas por essa familiares com transporte, conforme mostra muito bem o gráfico publicado
86 87
•
•
no Sumário de Dados do. Grande São Paulo, 1984, da Emplasa (p. 133). Tais índices indicam uma queda do movimento de passageiros mais
Essa tendência toma-se. porém, exponencial a partir da segunda metade acentuada que a do número de viagens, queda acentuada até o ano 1984,
da década de 70 e frenética nos anos 80. Por um estudo oficial realizado em correspondendo à crise econômica, e recuperação a partir de 1984, quando
1985 no Ministério dos Transportes, sabe-se que ... ':em São Paulo, em uma ligeira retomada da economia se esboça.
1965, era possível adquirir com um salário mínimo 609 bilhetes de ônibus,
em 1981 esse número passou para 437 e, em março de 1985, para apenas O baixo poder aquisitivo da maioria das populações periféricas é. pois,
405" (Folha de S. Paulo, 09.3.1985). Segundo o diretor do Dieese, econo responsável pela relativa imobilidade de uma grande parcela da população.
mista Walter Barelli, as 600 passagens de ônibus que um operário, ga Esta seria ainda maior se nesse cômputo fossem incluídos os que apenas se
nhando salário mínimo podia comprar em 1965, reduzem-se para S36 em deslocam para o trabalho. Uma pesquisa origem e destino. realizada em
1970, enquanto eram somente 333 em fins de maio de 1984. (Folha de 1977 (a última que foi feita), para conhecer os hábitos de viagem e as carac
terísticas socioeconômicas da população, mostra que os menores índices de
S. Paulo, 05.5.1985).
A crise econômica repercute sobre o volume da circulação na cidade: mobilidade se encontram ou na área da Sé, centro do Município, onde a
maioria das pessoas não toma condução para ir ao trabalho. ou em bairros
1979 1980 1981 distantes, como São Miguel Paulista, Itaquera e Perus, graças. nestes últi
mos casos, ao baixo poder aquisitivo dos moradores.
Viagens realizadas 14900846 15373852 150878301 O problema da imobilidade das pessoas nas cidades tem sido estudado,
Passageiros transportados 1264038229 1293528776 1266231386
embora sem muita freqüência, nos paises ocidentais e em relação apenas
Fonte: Anuário Estatístico do Estado de sao Paulo. 1981. com as pessoas idosas. Robert F. Wiseman (Spatial Aspects o/ Aging, Ass.
AM. Geographers, Washington, 1978, Resource Paper, n? 78-4) assim re
o número de passageiros do sistema de transporte por ônibus intermu trata a situação:"e aparente que as pessoas mais velhas se defrontam com
nicipais da Região Metropolitana de São Paulo baixa a partir de 1981 até problemas associados com sua mobilidade espacial crescentemente limi
I '
1983 e conbece um novo incremento em 1984 e 1985, quando a economia tada dentro de uma sociedade crescentemente móvel. Eles são limitados em
recomeça a crescer. O número de quilômetros rodados deve aumentar em termos físicos (em relação à saúde), econômicos (em relação aos custos)
1985 em relação a 1984, segundo previsões oficiais, mas ainda estará muito e sociais (poucos contatos)". O autor se pergunta se tais condições afetarão
longe de recuperar os índices dos anos anteriores (Revista dos Transportes "a distribuição dos idosos aos níveis do Estado, da região ou da área de
Públicos, n? 9, ano 7, set. 1985, p.112). vizinhança" .
Tomando-se o índice 100 para 1981, assim evoluem o número de via Em nosso caso, não são apenas os velhos que são as vítimas da imobi
gens de ônibus intermunicipais e a correspondente quilometragem dentro lidade, e esta, causada pela pobreza e baixos salários, resulta, também.
da Grande São Paulo: pelas condições do lugar de residência que, na cidade, cabe aos mais po
bres. Como os pobres se tomam praticamente isolados ali onde vivem, po
Número de QuUometragem !
demos falar da existência de uma metrópole verdadeiramente fragmen
riagens
tada. Sem dúvida, muitas pessoas de outras áreas vão trabalhar em certos
1981 100 100 setores da aglomeração. Outras, deixam o seu pr6prio setor e vão trabalhar
1982 98,29 97,63 em outras áreas, em ocupações freqüentemente pequenas, acidentais e
1983 98,08 95,27
91,98
temporárias. Muitos, todavia, são prisioneiros do espaço local, enquanto
1984 99,77
105,50 92,96 outros apenas se movem para trabalhar no ceRtro da cidade, fazer compras
1985
- ou utilizar os serviços quanto têm a possibilidade e os meios.
A imobilidade de tão grande número de pessoas leva a cidade a se tor
88 89
... .~
perto de onde vivem ou ficam sem trabalhar e acabam por não precisar 510 Paulo 59,3 29.5 2.0 3,2 6.0 100
regularmente de transporte. Pode-se pensar que, desse modo, levam ao
paroxismo a situação definida por Sarabia e Velasco, contribuindo para Fonte: Cortiços, 1986, p. 149.
a extensão espacial da cidade. Fosse outra a sua situação salarial e o pro
blema da residência teria uma outra solução e a pr6pria especulação imo
Tais n6meras podem estar em correlaçlo com o fato de que boa paroela dessa populaçlo encontra
biliária seria menos forte, conforme já discutimos. emprego nas áreas centrais, bem como ai realiza suas compras e encontra os serviços de que utiliza.
A elevaçãO dos preços de transporte para a periferia tem um impacto 2. Segundo Vilmar Parias (1985), a parte das viasens dimas que, em 1982, cabia aos transportes
sobre a elevação dos preços de terrenos no centro, aumentando. ainda coletivos alcançava 61 % do total (11,8 milbtles de viagens) e aos transportes individuais, 39"lo do total
(7,5 milhões de viagens).
mais. os diferenciais de preços relativos não apenas entre centro e periferia, 3. Entre 1981 e 1982. o número de carros passa de 1524236 para 1547388. O nlimero de veiculas
mas entre áreas mais próximas ou mais distantes do centro. Isso reforça a praticamente Dlo cresce, se comparamos esses 23 152 novos carros com o acréscimo de 363 2SS entre
tendência para uma extensão territorial ainda maior do organismo urbano. 1976 e 1980, uma média anual de mais de 90 mil.
A frota de Yelculos cadastrados conhece, pois, na Grande São Paulo, a partir de 1981, uma evolução
bem mais lenta que nos anos anteriores. Tomando-se o índice 100 para 1977, o dos anos seguintes varia
assim:
1977 100
1978 114
1979 123
...
1980 132
1981 140
1982 143
1983 145 (atéjunbo)
•
90
91
-
.---1
Essa é, porém, uma situação conjuntural. A estrutura da sociedade nilo havendo mudado, nem a da 4
aglomeração. a tendência é a que o número de automóveis volte a crescer. Na Cidade de São Paulo, a
frota de veiculos passa de 2.1 milh!les. em 1983 e 1984. para 2." milh!les. em 1986 (Folha de S. Paulo.
30.7.1988).
Crise fiscal ou metrópole corporativa?
A dlatrlbulçlo desigual dos autoJDÓve!s partlculara . . Grande Sio Paulo, 1987
(veículos por mil babltuttea).
Mairiporli 53,S
Arujá 140.3
Mauá 24,3
Baroeri 29,5
50,0 Moji das Cruzes 142.4
Biritiba-Mirim 60,3
Caieirll$ 38.6 Osasco
Cajamar 15.9 Pirapora do Bom Jesus 29,2 G€nese da metrópole corporativa
9,8 Poã 44.7
Carapicuiba 111,6
70.1 Ribeirilo Pires
Cotia
24.5 Rio Grande da Serra 15,5 Recapitulemos. brevemente. o que até agora foi visto. O modelo radial,
Diadema
Embu 8,8 Sa1es6polis 77.9 levando as cidades a se expandir seguindo os eixos da circulação regional e
72.1
Embu-Guaçu 5,2 Santa Isabel
16.2
inter-regional, conduz. espontaneamente, à formação de espaços vazios
18.3 Santana do Pamalba
Ferraz de VII$COncelos
Santo André 191,8 nos países de economia liberal. Isto se dá com ainda maior força quando o
Francisco Morato 3,3
Franco da Rocha 33.7 SIo Bernardo do Campo 218.9 poder público é incapaz de atribuir serviços essenciais à totalidade da
376.8
Guararema 89.3 Slio Caetano do Sul
285.9
população. Lugares onde não chegam a água encanada, os esgotos, a ele
Ouarulhos 89,4 Silo Paulo tricidade, o calçamento são, por definição, desvalorizados. Sua desvalori
Suzano 93.2
Itapecerica da Serra 50,1
rtapevi 23,8 Tabolo da Serra 25.3 zação é relativa, em comparação com aquelas outras áreas providas desses
19.2
ltaquaquecetuba 23,S Vargem Grande Paulista
219.9
serviços básicos. Este é um dos fundamentos da especulação. De tal modo
16.9 Regiilo Metropolitana
Judira que o provimento de recursos sociais a áreas urbanas até então deles des
Juquitiba 36.9
providas acarreta uma valorização e uma conseqüente redistribuição da
Fonte: Grande São Paulo -Indicadores Ixbicos. Emplasa, Silo Paulo. 1988. população, segundo os seus níveis de renda. A cidade é teatro de um sis
tema de pressões em que as classes altas e médias buscam ocupar os luga
4. Um estudo recente de C. A. Cedano Cabrejos (1985), examinando o comportamento dos transportes
públicos em 39 cidades latino-americanas. revela que, "entre 1978 e 1983, a taxa de mobilidade média resjá consolidados ou em via de consolidação em matéria de serviços e pre
sofreu um declínio passando de 0,9 para 0,8 viagem/habitante/dia. ou seja. uma perda de mobilidade viamente ocupados pelos mais pobres, enquanto estes. sob a pressão do
próxima a 10%, principalmentejunto às populações de baixa renda". consumo, deixam-se seduzir pela perspectiva de uma melhoria financeira
apenas momentânea e abandonam os lugares que ajudaram a valorizar,
indo se localizar mais adiante, em frações da cidade onde há menos ameni
dades. A chegada incessante de novos urbanos tem. também, um papel de
pressão, graças à sua demanda de terras suplementar para residência.
No caso brasileiro, esse esquema geral ganha tonalidades ainda mais
fortes, graças à forma genuinamente brasileira de ação do Estado sobre o
desenvolvimento urbano, após 1964. ~ dessa data a fundação do Banco
Nacional de Habitação (BNH), cujo objetivo declarado foi o de ajudar a
resolver o problema da habitação que já era então explosivo. Esse Banco.
porém, se afirmou muito mais como o agente financeiro da transformação
93
.. :, 92
~
.1
)
da cidade do capital competitivo na cidade do capital monopolista. O indispensáveis do funcionamento da máquina econômica e do organismo
BNH vai ter um papel decisivo na conformação da metrópole corporativa. social. Numa fase de transição, o poder público é levado a assumir cada vez
Devemos ter em mente que o crescimento urbano se dá ao mesmo tempo mais esses encargos, mas as obras públicas também beneficiam uma par
em que a industrialização se desenvolve e a modernização da cidade por cela considerável da população e um número importante de empresas. Na
isso se impõe. cidade corporativa, o essencial do esforço de equipamento é primordial
Os habitantes urbanos, novos e antigos, reclamam por mais serviços. mente feito para o serviço das empresas hegemônicas; o que porventura
mas os negócios, as atividades econômicas também necessitam das chama interessa às demais empresas e ao grosso da população é praticamente o
das economias de aglomeração, isto é, dos meios gerais de produção. O residual na elaboração dos orçamentos públicos. Isso obedece à mais es
orçamento urbano não cresce com o mesmo ritmo com que surgem as novas trita racionalidade capitalista, em nome do aumento do produto nacional,
necessidades. A ideologia do desenvolvimento que tanto apreciamos nos da capacidade de exportação etc.
anos 50 e sobretudo a ideologia do crescimento reinante desde fins dos Esse é o processo pelo qual se criam novas economias de aglomeração e
anos 60 ajudam a criar o que podemos chamar de metrópole corporativa. novas acessibilidades, ambas mais condizentes com o progresso tecnoló
muito mais preocupada com a eliminação das já mencionadas desecono gico, e postas à disposição de um número reduzido de empresas e de pes
mias urbanas do que com a produção de serviços sociais e com o bem-estar soas. Essa criação pública, oficial, da desigualdade reflete-se no território
coletivo. urbano por disparidades ainda mais acentuadas de valor, cuja reação à de
e desse modo que os contrastes observáveis não são apenas entre dis manda é o recrudescimento cada vez mais acentuado da especulação.
tintos setores da cidade como entre uma paisagem visível e uma paisagem O papel do Banco Nacional de Habitação mostra-se eficaz no que se
invisível. refere à formação territorial da cidade corporativa. O BNH presta-se ao
Com poucos recursos para construir canalizações de água e esgotos. serviço da unificação de capitais necessários aos grandes investimentos em
uma grande parte do organismo urbano não tem esses serviços ou. se conta infra-estrutura que as grandes firmas nacionais e multinacionais iriam exi
com eles, é segundo modelos extremamente elementares. A população gir para facilitar sua ação e o seu lucro. Sem esse instrumento de unificação
pobre inventa tantas soluções quantas pode para obter água ou se desfazer seria certamente impossível dotar as cidades brasileiras, sobretudo as maio
e
dos dejetos. irônico que os melhoramentos obtidos pelos pobres, com os res, de equipamentos modernos e capazes de permitir a operação de firmas
seus próprios meios, com sua imaginação e suas mãos, terminem por criar modernas. Utilizando uma parcela de salário, compulsoriamente subtraída
as condições para que se exerçam novas formas de especulação. A trampa todos os meses de todos os trabalhadores, foi criado um verdadeiro fundo
da especulação os persegue, convidando-os a vender suas casas melhoradas de modernização urbana, graças ao qual se criaram distritos industriais e
e a se deslocar para ainda mais longe. se reduziram as distancias entre cidades e dentro destas com a construção
Especulação, consumo, metrópole corporativa mantêm viva a tendência de vias expressas comparáveis às melhores dos países ricos e cujo uso deve
para a ampliação do tamanho urbano e a cidade continua a crescer. ria ser do interesse primordial das grandes firmas. Assim foram suprimidas
Assim, o poder público é chamado, nos últimos trinta anos, a exercer deseconomias externas que ameaçavam a saúde das empresas já existentes
um papel extremamente ativo na produção da cidade. Seguindo o movi e desencorajavam a instalação de novas. Isso também iria facilitar a des
mento geral do sistema capitalista que consagra concentrações e centrali concentração industrial, já que grandes fábricas podiam se instalar ao
zações, a cidade do capital concorrencial cede lugar à cidade do capital longo das novas autopistas, porque as distancias entre produções comple
monopolista ou oligopolista. Temos, agora, no caso das cidades maiores de mentares eram, desse modo, consideravelmente reduzidas.
um país, verdadeiras metrópoles corporativas. Num primeiro momento, A enorme expansão dos limites territoriais da área metropolitana cons
boa parte (variável segundo os lugares) da formação do capital geral devia
" se aos próprios atores principais do jogo econômico, que arcavam com uma
parcela de responsabilidade na implantação das economias de aglomeração
truída, a presença na aglomeração de uma numerosa população de pobres
e a forma como o Estado utiliza os seus recursos para' a animação das
atividades econômicas hegemônicas em lugar de responder às demandas
94 95
firmas e considerando os demais como questões residuais. montante igual a 56 orçamentos municipais para cobrir as carências exis
Crise fiscal ou seletividade do gasto público? Apenas para termos uma idéia mais justa do custo que implica a re
Fala-se, freqüentemente. de crise fiscal da cidade. quando se quer sig bana de São Paulo e o da construção das estradas transamazônicas. Para
nificar que é tão grande a amplitude dos problemas gerados pela urbani construir 282 km de vias expressas dentro da metrópole paulistana foi ne
zação e pela metropolização, que os recursos públicos são insuficientes cessário gastar 21 vezes mais que para construir 2775 km de estradas em
para fazer face à problemática social. Nesse caso, a culpa das carências plena selva amazônica. Os primeiros 14 km de linhas de metrô, na mesma
pode ser atribuída às vagas migrat6rias. aos seus baixos níveis de ocupação aglomeração, custavam dez vezes mais que aquele conjunto de rodovias
e de salário pelos quais seriam finalmente responsáveis em virtude do seu transamazônicas. Isso quer dizer que a mesma soma foi gasta para fazer
nível educacional, ou seja, por sua própria pobreza. Na verdade. se os re I km de metrô ou 2000 km de estradas de rodagem em uma região inóspita.
cursos faltam para obras de caráter social. é porque são encaminhados Outros números são igualmente eloqüentes quando comparados ao que
para obras de caráter econômico.! foi despendido para tornar as cidades mais fluidas ou para construir o
Vejam-se, por exemplo. os depoimentos seguintes. Para financiar o dé esqueleto viário do país como um todo. Tomando ainda como comparação
ficit de infra-estrutura registrado em 1978, o prefeito de então, o sr. Olavo aqueles 2775 km de vias amazônicas, compare-se o custo das seguintes
obras urbanas:
Setúbal, dizia que seriam necessários 48 orçamentos iguais ao daquele ano,
caso o déficit pudesse ser congelado. A pavimentação das ruas sem calça
mento, que perfazem 6681 dos 12855 km de rede de logradouros em 1978, Via Leste (São Paulo)
23 vezes mais
custaria uma soma igual a duas vezes o orçamento municipal para aquele Rodovia dos Imigrantes (São Paulo) 4,7
Aeroporto do Galeão (Rio) 5.5
ano. Os 2000 km de córregos a canalizar exigiriam um gasto de três vezes o Metrô de São Paulo (até 1972)
orçamento. Lembre-se, também, por exemplo, que o município de São 10
Metrô do Rio (até 1972)
Paulo necessita, para sua iluminação pública, de cerca de 450 milluminâ 6
ries, dispondo de apenas 200 mil. As novas luminárias consumiriam cerca
de 10% do orçamento (O Estado de S. Paulo, 16.4.1987). "Nos últimos O preço do quilômetro construído da Rodovia dos Trabalhadores, que
20 e 30 anos, a média do investimento urbano em São Paulo foi de 200 dó serve o novo aeroporto de São Paulo e atravessa a Zona Leste da aglome
lares anuais por habitante, cifra, porém, não atingida desde 1983. Aumen ração, foi de 6.4 milhões de d6lares (carta à Folha de S. Pau/o, 08.9.1984.
tando esse investimento para 410 dólares anuais, a partir de 1985, e se a de Alípio Beccari, assessor de Imprensa da Secretaria dos Transportes do
•
96
97 ..
1 •
quanto a receita (em termos constantes) aumenta menos de 5 % (entre 197 4 Notas
1970 1977
(%) (%)
98
I
99
-
1
100 101 ti
te
Leste Noroeste
\ A região sudeste da Região Metropolitana se distingue também pelo
menor número relativo de alvarás concedidos para a autoconstrução: Suzano 62 Barueri 16
Moji das Cruzes 4S Sudoeste
(%) Poá, Sales6polis 28 Juquitiba 17
Norte/Nordeste 54,45 I taquaquecetuba 26. Oeste
Leste 53,90 Ferraz de Vasconcelos e 18
Nordeste 40,00 Jandira 18
Guararema
Sudeste 22,77
Fonte: Emplasa, 1975.
102
103 ..
••
Comparando-se as famflias com renda familiar menor do que dois salá
rios mínimos e aquelas com mais de cinco salârios m1nimos, verifica-se a Desde o decênio de 70, o investimento social era mais elevado na sub.
situação vantajosa dos municípios do ADC, em relação ao municlpio de região do ABC do que na Região Metropolitana como um todo, conforme
demonstram os quadros seguintes:
São Paulo, cabeça respectiva da Região Metropolitana.
(970)
loformações das Regiões de Gcwerno, jan. 1985.
S. B. do Campo 2135 47
S. C. do Sul 2273 300
Porceataaeai' dos que gauhavam São Paulo 38 269
Porcentagem dos que ............ 983 46
meDOI de um aalárlo 0ÚDIlD0 em m.eDOI de melo salário miaImo Santo André 973 236
1980 Da Gnmde SIo Paulo e em Grande 48 380
em 1980, .... dttenM aab-re I
manlclplos escoIIddos (%). . . . eemmwdciploseseeJhWos. SâoPaulo 914 50 208
Grande Silo Paulo e sub-regiões ( ")
Grande Slo Paulo
Municipio de São Paulo
Santo André
9,3
8,5
8,5
Grande São Paulo
Centro da Grande São Paulo
Sudeste da Grande São Paulo
1,9
1,6
1,9
r"",,·,...m
da população
Porcentagem Porcentagem
da população de analfabetos
servida por atendida por
S. B. do Campo 8,7 Norte da Grande São Paulo 4,0 água (970)
S. C. do Sul 7,3 esgoto
Leste da Grande São Paulo 4,4 (1970)
Salesópolis 35,4 (1970)
Embu-Guaçu 22,7 Municlpios da Grande Silo Paulo (,,)
Pirapora do Bom Jesus 26,S SioPaulo 1,6
Santo André 1,9 S. B. do Campo 77
S. C. do Sul 69 18
S. B. do Campo - 1,7;
96 95
Embu-Guaçu 6,4 ;
São Paulo 96 14
40
..
Santo André 16
~:~ l~
Guararema
74 56
Grande 16
Juquitiba
--~
J 105
-
Gastos públicos na Região MetropoUtana de São Paulo tino de suas viagens em direção a São Paulo, e Moji das Cruzes, que envia
(Municípios onde a média per capita da despesa pública 12,7% do seu trânsito de saída para Poá/Suzano/Ferraz de Vasconcelos
foi maior do que a média geral em 1970 e 1975, em e 10,2% para fora da área da pesquisa.
Cr$ de 1975).
1970 1975
Freqüência de viagens de pessoas por ônibus, trem e metrô entre Slo Paulo,
Grande São Paulo 565,81 914,13 Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Mauá e Diadema,
São Paulo 605,95 983,37 em percentagem do total de viagens (a partir dessas localidades) na Região
Santo André 629.79 972,53 Metropolitana de São Paulo_
S. B. do Campo 1214,81 ,
2134.85
678,09 1273,37
~
S. C. do Sul São Paulo Santo S. B. do S.C. do Mauá Diadema
Suzano 572,07 562.85 André Campo Sul
194,96 900.14 Origem
Arujá
São Paulo 89,3 1,2 0.9 0,9 0,3 0,4
Santo
André 18,4 59,2 8.4 6,6 4,2 0,1
Uma simples inspeção à distribuição das linhas de ônibus em anos re S. B. do
centes, como a que fizemos a partir de documentos oficiais, deixa claro Campo 23,1 14,1 47,5 7,1 1,1 6,1
que, de um modo geral, o isolamento dos lugares periféricos e seus habi S.C.do
. Sul 32,4 15,8 10,1 36,3 3,4 0,3
tantes continua sendo uma realidade. I Para um número muito grande de
linhas, os lugares mais centrais de São Paulo são o ponto de partida ou de
Mauá 33,1 27,1 4,5 9,2 9,3 -
chegada e a maior parte das linhas intermunicipais atravessa o município
Diadema 54,5 1,2 34,9 1,0 - 7,4
de São Paulo. Na periferia metropolitana, é na região do ABC onde encon
tramos maior número de relações locais via ônibus. Além dessa área, no
tam-se relações, aliás bem numerosas, a partir de Osasco (para Carapi
~
São Paulo Santo S. B.do S. C. do Mauá Diademal
cuíba) e de Moji das Cruzes. Orige André Campo Sul
O papel de São Paulo como lugar de trabalho de moradores periféricos
e como lugar central é mantido, enquanto fica nítida a importância das São Paulo 92,6 0,6 0,9 0,4 0,1 0,2
relações mantidas entre os núcleos periféricos indicados na página seguinte: Santo
Santo André, São Bernardo do Campo. São Caetano do Sul, Mauá e Diade André 20,4 57,0 5,4 7,3 3,4 0,5
ma. Nota-se alguma nucleação de Os asco em relação a Carapicuíbae de Moji S. B.do
das Cruzes em relação a Ferraz de Vasconcelos/Suzano/Poá. Quanto aos Campo 45,6 8,7 37,2 3,6 0,9 0,7
outros pontos analisados na Região Metropolitana de São Paulo, a regra é S. C. do
a raridade de relações entre eles, enquanto as relações com São Paulo apa Sul 27,5 17,6 5,5 40,2 3,5 -
recem bem mais importantes (superiores a 40% e indo até 900/0 do total) Mauá 12,3 18,8 3,0 7,8 45,3 -
que aquelas mantidas por Santo André(18,4%), Moji das Cruzes (22,1 %),
Diadema 69,0 ~,4 6,0 - - 12,6
J
São Bernardo do Campo (23,1 %), São Caetano do Sul (32,4%), Mauá
(33,10/0). As exceções são, de um lado, Diadema, que tem 54,5% do des
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São Bernardo do Campo pulou, em 1985, de 3866 para 4 976 dólares. Em massa de trabalhadores assalariados, organizados em torno a seus sindi
Santo André, a evolução foi de 2366 para 3 154 dólares. Em São Caetano catos e outras associações como as Comunidades Eclesiais de Base ou Asso
do Sul houve crescimento relativamente menor: de 4231 dólares, em 1985, ciações de Moradores ou de Bairro, que agem como elo e linha de trans
para 4 827 dólares, em 1988. Esses números ficam mais expressivos quando missão das principais reivindicações. A concentração de atividades fabris
os comparamos com os do município de São Paulo, onde a renda per ca em certas áreas metropolitanas, como o Sudeste, favorece o movimento.
pita, em 1988, foi de 2470 dólares (Folha de S. Paulo, 24.2.1989). E o contrário do que se passa na Região Metropolitana do Rio de Janeiro,
onde a massa operária é geograficamente dispersa, tomando difícil a sua
mobilização pela sua separação, dentro da cidade. Em São Paulo, a quan
o que aponta o futuro tidade se metamorfoseia em qualidade, graças à vizinhança geográfica e à
mobilidade maior dos trabalhadores. de cujos ramos industriais certos ofe
A realidade aponta para o futuro como tendência. O futuro (no plu recem remunerações mais compensadoras. E à presença de maiores salá
ral, pois, na verdade, em cada momento os futuros são muitos) pode ape rios que, junto com o número de assalariados, permite a criação de uma
nas ser reconhecido pelas tendências, que são manifestações do real orien vida local e de relações ativas, garantindo a existência ao mesmo tempo de
tadas às mudanças. estabelecimentos comerciais e de serviços numerosos e de categorias diver
Entre essas tendências está um certo influxo dos transportes coletivos. sas e de um forte movimento de intercâmbio entre os diversos municípios,
A ameaça de paralisia a curto prazo de muitas capitais brasileiras levou a cuja área constitui uma verdadeira subunidade funcional dentro da aglome
uma combinação de esforços entre autoridades brasileiras, sobretudo fede ração paulistana. Guarda muitas relações com o centro da Região Metro
rais e instituições internacionais, sobretudo o Banco Mundial, no sentido politana, isto é, com os centros do municipio de São Paulo. mas existe
de favorecer um programa consistindo na ampliação da frota de ônibus e no também uma forte interdependência local.
estabelecimento ou melhoria de corredores de tráfego, porções das vias pú Podemos, desse modo, imaginar que se o gasto público fosse mais so
blicas deixadas exclusivamente ao serviço dos transportes coletivos e proi cialmente orientado, ao menos uma parte dos problemas ligados à pobreza
bidas aos carros particulares. A crise do petróleo e, em seguida, a estag encontraria remédio. Se, por outro lado, os salários não fossem tão baixos,
nação ajudaram essa tendência, já que o número de veículos privados esta outra parte desses mesmos problemas teria solução. Ora, a melhoria dos
ciona ou diminui. A observar, entretanto, uma certa displicência das me salários dos trabalhadores não constitui uma ameaça à estabilidade das
trópoles para exercerem a sua própria regulaçlo diante de graves proble empresas conforme se propala. Dados da Relação Anual de Informações
mas emergentes, tarefa que é assumida por instituições extra-regionais e. Sociais de 1983 (RAIS), computando elementos fornecidos por 1012094
mesmo extranacionais, como o Banco Mundial. estabelecimentos em todo o país que empregavam 17766 mil pessoas, mos
Outra tendência é a uma espécie de "fortificação" dos bairros de clas tra que deste total quase metade (48,5%) ganhava até 2 salários mínimos,
ses médias e dos segmentos mais abastados da população. Medrosos da seus ganhos representando 18,20/0 da folha global de pagamentos. É a par
violência urbana, causada pela extrema pobreza de centenas de milhares tir destes dados que o economista Paul Singer (1985) afirma que "uma
de habitantes urbanos, proprietários e inquilinos criam verdadeiros "gue elevação real de 10% da remuneração desses que recebem até dois salários
tos" às avessas, isolando-se dentro de suas mansões e apartamentos, mili mínimos aumentaria em 1,82% a folha de pagamento das empresas"...
tarmente guardados por policiais privados armados, além da vasta criada com efeito negligenciável.
gem dedicada à segurança dos moradores. Se acrescentássemos 10% aos salários dos 2,8% mais bem pagos, inje
A terceira tendência, que mais nos interessa neste trabalho, é à criação taríamos tanta energia na economia como se melhorássemos em 10% a
de uma vida local regional em certos setores da periferia, a exemplo do que renda de quase metade de todos os trabalhadores. O que se costuma ch8
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se passa no centro e nos subcentros do município central. Este traço é pró mar de a eCOIlOlnm contenta-se com a energIa que provém de uns poucos e
prio à Região Metropolitana de São Paulo e se deve à presença aí de uma continua a orientar a produção para esses poucos. Nenhuma solução du
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