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IV BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

no estudo de certos pormenores não indispensáveis para uma iniciação na


análise da estrutura da lingua poderiam eventualmente assustar e afastar.
Ora um dos nossos objectivos essenciais desde o inicio do projecto
foi, sem prejuízo do rigor cientifico na descrição da Iingua, fornecer, do
português-padrão actual, um modelo que pudesse servir na aprendizagem da
Iingua e principalmente da Iingua- escrita, na forma que presentemente se
Índice geral
pode considerar «correcta». Aliás sempre acentuámos o nosso propósito de
que, neste sentido (que não exclui a aceitação de inovações), a própria versão
inicial da Nova Gramática do Português Contemporâneo já tivesse um aspecto
normativo e uma aplicação p,!:dagógica. Vincámos até que essa caracterlstica
deliberadamente a afastava de outras gramáticas de carácter essencialmente
especulativo. Apresentação, lI!
Que esta obra, na sua versão breve, seja um factor no ensino que contri-
bua para que a juventude portuguesa, brasileira e africana de lingua oficial Capítulo I CONCEITOS GERAIS, 1
portuguesa - dispondo de um guia de fácil aceSSO e leitura que até ousamos
classificar como muitas vezes atractiva - aprenda a melhorar a sua, escrita Linguagem, lingua, discurso, estilo I
Língua e sociedade: variação e conservação lingu1stica, 2
e o seu falar da língua portuguesa é, sem dúvidá, a maior aspiração dos Diversidade geográfica da Jingua: dialecto e falar, }
autores e editor e a melhor recompensa possível para o trabalho feito e aqni A noção de correcto, J
apresentado.
Capítulo 2 DOMÍNIO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA, J
Setembro de '985.
Unidade e diversidade da Hngua portuguesa, J
Os dialectos do português europeu, J
Os Autores Os dialectos das ilhas atlânticas, 12
Os dialectos brasileiros, 13
O português de África, da Ásia e da Oceâpja, 16

Capítulo ~ FONÉTICA E FONOLOGIA, l8


Os sons da fala, I8
Som e fonema, 2I
Classificação dos sons linguísticos, 24
Classificação das vogais, 2 J
Classificação das consoantes, 32
Encontros vocálicos, 37
SHaba, 4I
Acento tónico, 42

Capítulo 4 ORTOGRAFIA, 45
Letra e alfabeto, 4J
Notações léxicas, 46
Regras de acentuação, JI
Divergências entre as ortografias oficialmente adoptadas em Por-
tugal e no Brasil, JJ
VI BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONlEMPORÂNEO
VII
ÍNDICE

CapItulo j CLASSE, ESTRUTURA E FORMAÇÃO ~E PALAVRAS, J7 Capitulo 9 ARTIGO, I}}


Palavra e morEcma, J7 Artigo definido e indefinido, I!J
Formação de palavras; 62 Formas do artigo, II6
Estrutura das palavras, " Valores do artigo, II9
F:imilias de palavras, 62 Emprego do artigo definido, I60
Repetição do artigo definido, '72
Omissão do artigo definido, '7J
Capitulo 6 DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO, DJ Emprego do artigo indefinido, I7J
Derivação prefixai, 6J Omissão do artigo' indefinido, '77
Derivação sufiXal; 66
Derivação regressiva, 7J
Derivação impróprja, 76 CapItulo 10 ADJECTIVO, I80
'Composição, 77 Flexões d<;>s adjectivos, 13J
Compostos eruditOS, 79 Número, r8)
Hibridismo, 84 Género, I84
Onomatopeia, 84 Grau, I86
Abreviação vocabular, 8, Emprego do adjectivo, I9J
Concordância do adjectivo com o substantivo, 196
Adjectivo adjunto adnominal, I96
CapItulo 7 FRASE, ORAÇÃO, PERfoDO, 87 Adjectivo predicativo de sujeito composto, 198
A frase e a 'sua constituição, 87
A oração e os seus termos essenciais:t I, Capitulo II PRONOMES, 200
O sujeito, !J I
O predicado, 97 Pronomes substantivos e pronomes adjectivos, 200
A oração e .os seus termos integrantes, 102 Pronomes pessoais, 200
Complemento nominal, 10) Emprego dos pronomes rectos, 20!
Coinplementos verbais, roi Pronomes de tratamento, 209
A oração e os seus termos acessórios, I 10 Emprego dos pronomes obUquos, 2I4
Adjunto adnominal, I II Pronomes possessivos, 227
Adjunto adverbial, II2 Pronomes demonstrativos, 2JJ
Aposto, 114- Pronomes relativos, 24I
Vocativo, 117 Pronomes interrogativos, 246
Colocação dos termos na oração, 117 Pronomes indefinidos, 249
Entoação oracional, 122

CapItulo I. NUMERAIS, 2JJ


CapItulo 8 SUBSTANTIVO, I JO
Espécies de numerais, 2!!
Classificação dos substantivos, I JO Flexão dos numerais, 2J6
Flexões dos substantivos, I JJ
Número, r}}
Formação do pl ural, I J4 Capitulo '3 VERBO, 26J
Género, I4I
Noções preliminares, 26J
Formação do feminino, I4J
Tempos simples, 27 I
Substantivos unifonnes, r-/8
Verbos auxiliares e o seu emprego, 278
Grau, rJr .
Conjugação dos verbos regulares, 287
Emprego do substantivo, II 2 Conjugação da voz passiva, 287
VIII fNDICE IX
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO

Conjugação dos verbos irregulares, 290 Capitulo 18 O PERÍODO E SOA CONSTROÇÃO, H3


Verhos com alternância vocálica, 291 Período simpI(:s e período composto, J93
Outros tipos de irregularidade, 2JJ Coordenação, 400
Verbos de partidpio irregular, JI8 Subordinação, 402
Verbos abundantes, JIJ Orações reduzidas, 408
Verbos impessoais, unipessoais e defectivos, J21
Sintaxe dos modos e dos tempos, J2f
Modo indicativo, J2 J Capitulo 19 FIGORAS DE SINTAXE, 414
Emprego dos' tempos do indicativo, J2J
Modo conjuntivo, JH Elipse, 414
Emprego do conjuntivo, JJ4 Zeugma, 4[6
Modo imperativo, li' Pleonasmo, 417
Emprego do modo imperativo, JH Hipérbato, 418
Emprego das formas nominais, J4I Anástrofe, 418
Emprego do infinitivo, J42 Prolepse, 419
Emprego do gerúndio, 34f Sinquise, 41J
Emprego do partidpio, 346 Asslndeto, 41J
Concordância verbal, 348 Polissindeto, 420
Regras gerais, i4J Anacoluto, 420
Casos particulares, )10 Silepse, 421
Regência, J60
Sintaxe do verbo haver, J62
Capitulo zo DISCORSO DIRECTO, DISCURSO lNDIRECTO E DISCORSO
INDIRECTO LIVRE, 42J
Capitulo 14 ADVÉRBIO, J6, Discurso directo, 42J
Discurso indirecto, 42J
Classificação dos advérbios, J66 Discurso jndire~to livre, 428
Gradação dos advérbios, 310
Palavras denotativas, J72
Capitulo ZI PONTUAÇÃO, 42f1
Sinais pausais e sinais melódicos, 429
Capitulo I j PREPOSIÇÃO, JN Sinais que marcam sobretudo a pausa, 42'
Sinais que marcam sobretudo a melodia, 434
Função das preposições, JN
, Significação das preposições, J7f
Conteúdo significativo e função relaciona!, 377 Capltulo.zz NOÇÕES DE VERSI'I'ICAÇÃO, 442
Valores das preposições, J30
Estrutura do verso, 442
Tipos de verso, 4fo
A rima, 4fJ
Capitulo 16 CONJONÇÃO, Jflo , Estrofação, 464
/
Conjunção coordenativa e subordinativa, JJo Poemas de' forma fixa, 468
Conjunções coordenativas, J!)I
Conjunções subordinativas, JJ2 índice ELENCO E DESENVOLVIMENTO DAS PRINCIPAIS
Locução conjuntiva, 3n ABREVIATURAS, 41I

Capitulo 17 lNrnR]ErçÃO, Jfl6


1.

Conceitos gerais

Linguagem, Iingua, discurso, estilo.

l. LINGUAGEM é (<um conjunto complexo de processos - resultado de


uma certa actividade pslquica profundamente determinada pela vida social -
que torna posslvel a aquisição e o emprego concreto de uma LÍNGUA
qualquer» 1. Usa-se também o termo para designar todo o sistema de sinais
que serve de meio de comuuicação entre os indivlduos. Desde que se atri-
bua valor convencional a determinado sinal, existe uma LINGUAGEM. A lin-
gulstica interessa particularmente uma espécie de LINGUAGEM, ou seja a
LINGUAGEM FALADA ,ou ARTICULADA.

2. LÍNGUA é um sistema gramatical pertencente a um grupo de


indivlduos. Expressão da consciência de uma colectividade, a LÍNGUA é o
meio por que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age. Utilização
social da faculdade da linguagem, criação da sociedade, não pode ser imutá-
vel; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à do orga-
nismo social que a criou.

3. DISCURSO é a lingua no acto, na execução individual. E, como


cada individuo tem em si um ideal lingulstico, procura ele extrair do sis-
tema idiomático de que se serve as formas de enunciado que melhor lhe
exprimam o gosto e o pensamento. Essa escolha entre os diversos meios
de expressão que lhe oferece o rico repertório de possibilidades, que é a
língua, denomina-se ESTILO 2.

1 Tatiana Slama-Casacu. Langagc cl ctm/ex/c. Haia, Mouton. 196x. p. :w.


2 Aceitando a distinção de Jules Marouzeau, podemos dizer que a LÍNGUA é <m soma dos
meios de expressão de que dispomos para formar o enunciado» e o ES'flLO «o :1specto c :J. qualidade
que resultam da escolha entre esses meios de expressão») (Préds de sly/iJliqf(c jrn"foüc, 2..110 cd. Paris,
Massan, 1946, p. 10).
2 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPoRÂNBO CONCEITOS GERAIS
3

4. A distinção entre LINGUAGEM, LÍNGUA e DISCURSO, indispensável Diversidade geográfica da língua: dialecto e falar.
do ponto de vista metodológico, não deixa de ser em parte artificial. Em
verdade, as três denominações aplicam-se a aspectos diferentes, mas não As formas características que uma língua assume regionalmente deno-
opostos, do fenómeno extremamente complexo que é a comunicação humana. roina:m-se nIALECTOS.
Alguns linguistas, porém, distinguem, entre as variedades diatópicas,
o FALAR do DIALECTO.
Língua e sociedade: variação e conservação linguística. DIALECTO seria <<um sistema de sinais desgarrado de uma língua comum,
viva ou desaparecida; normalmente, com uma concreta delimitação geo-
Em prindpio, uma língua apresenta, pelo menos, três tipos de diferenças gráfica, mas sem uma forte diferenciação diante dos outros da mesma ori-
internas, que podem ser mais ou menos profundas: gelID). De modo secundário, poder-se-iam também chamar dialectos «as
1.0) diferenças no espaço geográfico, ou VARIAÇÕES DIATÓPICAS (falares estruturas linguísticas, simultâneas de outra, que não alcançam a categoria
locais, variantes regionais e, até, intercontinentais); de língua»3.
2.°) diferenças entre as camadas socioculturais, ou VARIAÇÕES DIAS- F ALAR seria a peculiaridade expressiva própria de uma região e que não
TRÁTICAS (nivel culto, língua padrão, nível popular, etc.); apresenta o grau de coerência alcançado pelo dialecto. Caracterizar-se-ia,
3·°) diferenças entre OBtipOS de modalidade expressiva, ou VARIAÇÕES do ponto de vista diacrónico, segundo Manuel Alvar, por ser um dialecto
DIAFÁSICAS (língua falada, língua escrita, língua literária, linguagens espe- empobrecido, que, tendo abandonado a lingua escrita, convive apenas com as
dais, linguagem dos homens, linguagem das mulheres, etc.). manifestações orais. Poder-se-iam ainda distinguir, dentto dos FALARES
Condicionada de forma consistente dentro de cada grupo social e parte REGIONAIS, OS FALARES LOCAIS, que, para o mesmo linguista, correspon-
integrante da competência linguistica dos seus membros, a variação é, pois, deriam a subsistemas idiomáticos «de ttaços pouco cllferenciados, mas com
inerente ao sistema da língua e ocorre em todos os níveis: fonético, fonoló- matizes próprios dentro da esttutura regional a que pertencem e cujos usos
gico, morfológico, sintáctico, etc. E essa multiplicidade de realizações do estão limitados a pequenas circunscrições geográficas, normalmente com
sistema em nada prejudica as suas condições funcionais. carácter administrativo»4.
Todas as variedades linguisticas são estruturadas, e correspondem a No· entanto, à vista da dificuldade de caracterizar na prática tais
sistemas e sub-sistemas adequados às necessidades dos seus usuários. Mas o modalidades diatópicas, empregaremos neste livro - e particularmente no
facto de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas capitnio scgninte - o termo DIALECTO no sentido de variedade regional da
de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das caracterlsticas língua, não importando o seu maior ou menor distanciamento com referên-
das suas diversas modalidades diatópicas, diastráticas e diafásicas. A lin- cia à língua padrão.
gua padrão, por exemplo, embora seja uma entte as muitas variedades de
um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque actua como modelo, como
norma, como ideal linguistico de uma comunidade. Do valor normativo A noção de correcto.
decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se
torna uma ponderável força contrária à variação.
Todo o nosso comportamento social está regulado por normas a que
Numa língua existe, pois, ao lado da força centrífuga da inovação, a devemos obedecer, se quisermos ser correctas. O mesmo sucede com a
força centtípeta da conservação, que, contra-regrando a primeira, garante a
lingua, apenas com a cllferença de que as suas normas, de um modo
superior unidade de um idioma como O português, falado por povos que se
geral, são mais complexas e mais coercitivas. Por isso, e para simplificar
disttibuem pelos cinco continentes.
as coisas, ]espersen define o <dinguisticamente correcto» como aquilo que

J Manuel Alvar. Hncia los conccptos de Icngun, dialecto y habJas. NlltPd Repis/a dI FilologIa
Hispállita, Il: H. 1961.
4 Id' 1 Ibid., p. 60.
4 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

é exigido pela comunidade Iinguística a que se pertence. O que difere é o


«linguísticamente incorrectm). Ou, com suas palavras: <<falar corredo significa
2.
o falar que a comunidade espera, e erro em linguagem equivale a desvios
desta norma, sem relação alguma com o valor interno das palavras ou for-
mas». Reconhece, porém, que, independentemente disso, «existe uma valo- Domínio actual da língua
rização da linguagem na qual o seu valor se mede com referência a um ideal
linguístico», para cuja formação colabora eficazmente a «fórmula energética portuguesa
de que o mais facilmente enunciado é o qu.c se recebe mais facilmentc»5,
Se uma língua pode abarcar vários sistemas, ou seja, as formas ideais
de sua realização, a sua dinamicidade, o seu modo de fazer-se, pode também .
admitir várias normas, que representam modelos, escolhas que se consagra- i
Unidade e diversidade da llngua portuguesa.
ram dentro das possibilidades de realizações de um sistema Iinguístico. !
Mas - pondera Eugénio Coseriu, o lúcido mestre de Tübingen - se «é I,
um sistema de realizações obrigatórias, consagradas social e culturalmente», a i! Na área vastíssima e descontinua em que é falado, o português apresenta-
norma não corresponde, COPlO pensam certos gramáticos, ao que se pode i1
-se como qualquer língua viva, internamente diferenciado em variedades que
ou se deve dizer, mas «ao que já se disse e tradicionalmente se diz na comu- II divergem de maneira mais ou menos acentuada quanto à pronúncia, à gra-
nidade considerada» 6. . . .
A norma pode vatlar no SelO de uma mesma comumdade hnguisnca,
. . i:' mática e ao vocabulário.
Embora seja inegável a existência de tal diferenciação, não é ela sufi-
seja de um ponto de vista diatópico (português de Portugal I português do I: ciente para impedir a superior unidade do nosso idioma, facto, aliás, salien-
Brasil I português ae Angola), seja de um ponto de vista diastrático (lingua- li tado pelos dialectólogos.
gem culta I linguagem média I linguagem popular), seja, finalmente, de i' Exceptuando-se o caso especial dos CRIOULOS, que estudaremos adiante,
um ponto de vista diafásico (linguagem poética I linguagem da prosa) 7. I' temos, pois, de reconhecer esta verdade: apesar da acidentada história que
Este conceito linguístico de norma, que implica um maior liberalismo il foi a da sua expansão na Europa e, principalmente, fora dela, nos distantes
gramatical, é o que, em nosso entender, convém adoptarmos para a comuni- li, e extensíssimos territórios de outros continentes, a língua portuguesa con-
dade de fala portugnesa, formada hoje por sete nações soberanas, todas H seguiu manter até hoje apreciável coesão entre as suas variedades por mais
movidas pela legítima aspiração de enriquecer o património comum com fi afastadas que se encontrem no espaço.
formas e construções novas, a patentearem o dinamismo do nosso idioma, I'; A diversidade interna, contudo, existe e dela importa dar urna visão
o meio de comunicação e expressão, nos dias que correm, de mais de cento I, tanto quanto possível ordenada 1•
e cinquenta milhões de indivíduos. ii

li
:: Os dialectos do português europeu.

i' A faixa ocidental da Península Ibérica ocupada pelo galego-português


apresenta-nos um conjunto de DIALECTOS que, de acordo com certas carac-
,
ii
IJ

s Otto ]espersen. HU1I/anidad, nación, hldividllO, desde el pun/o de vis/a lingt7/s/ko, trad. por Fer-
nando VeJa. Buenos Aires, Revista do Occidente, 1947, p. 178. Veja-se, sobre o conjunto das variedades do português, ri Bibliografia dia/alal golelP-
-partllgllua, publicada pelo Centro de Estudos Filológicos, Lisboa 1974. Sobre o português do
6 Sincronia, diacronia e historio,. e/ prob!t:ma dei cambio hiJglIlJlko, 2.'" ed. Madrid, Gredos, 1973.
Brasil, em particular, possuímos hoje uma bibliografia muito completa: Wolf Dictrich. Bib/iograjifl
p. 55· da l/ngu{1 por/ugllufI do Brasil. Tübingcn, Guntcr Narr, 1980.
1 Veja-se Celso Cunha. Llnglla, nação, a/ienafão. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, p. 73-74 e ss.
6 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO i DOMÍNIO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA 7

terlsticas diferenciais de tipo fonético, podem ser classificados em três gran- !' 3. Nos dialectos portugueses centro-meridionais só aparecem as sibi-
des grupos: Jantes predorso-dentais que caracterizam a lJngua padrão:
a) a surda [s], tanto em seis e passo como em cinco e caça 3 ;
a) DIALECTOS GALEGOS;
b) a sonora [z], tanto em rosa como emfazer.
b) DIALECTOS PORTUGUESES SE'I'ENTRIONAIS; i,
c) DIALECTQS PORTUGUESES CENTRO-MERIDIONAIS2. ,.,;
1 As fronteiras entre as três zonas mencionadas atravessam a faixa galego-
Esta classificação parece ser apoiada pelo sentimento dos falantes comuns :! _portuguesa de oeste a leste, ou, mais precisamente, no caso da fronteira
do português padrão europeu, isto é, dos que seguem a NORMA ou conjunto 11 entre dialectos portugueses setentrionais e centro-meridionais, de noroeste
dos usos lingulsticos das classes cultas da região Usboa-Coimbra, e que !: a sueste.
distinguirão pela fala um natural da Galiza, um homem do Norte e um ': Mas há outros traços importantes em que a referida distinção se funda-
homem do Sul. H menta, sem que, no entanto, as suas fronteiras coincidam perfeitamente com
'I! as das características já indicadas.
A distinção entre três grupos funda-se principalmente no -sistema das k São eles:
SIBILANTES. Assim: ~ a) a pronúncia como [b] ou [~] do v gráfico (emitido como labiodental na
rj
pronúncia padrão e na centro-meridional) na maior parte dos dialectos por-

I
l. Nos dialectos galegos não existem as sibilantes sonoras /z/ nem u:gueses setentrionais e na totalidade dos dialectos galegos: billho, abó por
[~]: rosa articula-se com a mesma sibilante [~] ou [s] (surda) de passo; fazer, Vinho, avó;
com a mesma sibilante [a] ou [s] (surda) de caça. Não existe também a fri- b) a pronúncia como africada palatal [tIl do ch da grafia (emitido como
cativa palatal sonora /3/, grafada em português j ou g (antes de c ou i). Em , fricativa Ul na pronúncia padrão e em quase todos os dialectos centro-
galego só há a fricativa Ul (surda) do português C/Ixoda. ~ -meridionais) na maior parte dos dialectos portugueses setentrionais e na
" totalidade dos dialectos galegos: tchave, atchar por chave, achar;
2. Nos dialectos portugueses setentrionais existe a sibilante ápico- "
-alveolar [~], idêntica à do castelhano setentrional e padrão, em palavras '":
i c) a monotongação ou não monotongação dos ditongos [ow] e rej]o
a pronúncia [o] e [e] desses ditongos (por exemplo: ôrn por ouro, ferrêro
como seis, passo. A ela corresponde a sonora [~] de rosa.
Em alguns dialectos mais conservadores coexistem com estas sibilantes 'i,
l por ferreiro) caracteriza os dialectos portugueses centro-meridionais e, no
caso de [o], a pronúncia padrão, perante os dialectos portugueses seten-
as predorsodentais [s] (em cinco, caça) e [z] (em fazer), que, noutros dialectos, " trionais e os dialectos galegos 4 •
com elas se fundiram, provocando a igualdade da sibilante de cillco e caça Merecem menção especial - mesmo numa apresentação panorâmica
com a que aparece em seis e passo, ou seja [~], bem como a da de fazer com
dos dialectos portugueses - três regiões em que, a par dos traços gerais
a que se ouve em rosa, isto é [~l.
H que acabamos de apontar, aparecem características fonéticas peculiares que
afastam multo vincadamente os dialectos nelas falados de todos os outros
do mesmo grupo.
2 Quanto à classificação dialectal aqui adaptada, veja-se Luís Filipe Lindley Cintra. Nova
proposta de classificação dos dialcctos galego-portugueses. Bo/etim de Fil%gia, 22, 81-Il6 .
Trata-se, em primeiro lugar, de uma região (dentro da zona dos dia-
Lisboa, 1971 (ou EtlflJoI de dia/eel%gia por/llglltSd, Lisboa, Sá da Costa, 1983. p. Il7-165). ;: lectos setentrionais) em que se observa regularmente a ditongação de [e]
Entre as classificações anteriores, duas merecem realce particular: a de José Leite de Vascon-
celos c a de Manuel de Paiva BoIéo e Maria Helena Sanros Silva. A de Leite de Vascon-
celos, baseada na divisão de Portugal em provIncias, é mais geográfica do que linguística. Foi
publicada, inicialmente,no seu Mappa dia/eçt%gito do continente porlllf/tês (Lisboa, GuillareI, Aillaud,
1897), depois reproduzida na Erquisse d'une dia/eçt%gie porlllgnise (Paris-Lisboa, Aillaud, 19°1; 2.11.
ed., com aditamentos c correcções do autor, preparada por Maria Adelaide Valle Cintra, Lisboa, Pronúncia semelhante à do francês ou do italiano padrão, do castelhano meridional e do
Centro de Estudos Filológicos, 1970) e, com alterações, nos Oprímdol, IV, Filologia, parte II (Coim- hispano-americano.
bra, 1929, p. 791~796). A de Manuel de Paiva Boléo e Maria Helena Santos Silva, expost.'! em: 4 Com referência ao ditongo [ej], a pronúncia padrão e a de Lisboa (neste caso uma ilhota
O «Mapa dos dialectos e falares de Portugal Continentab) (Bo/e/i!}) de Filo/agir" 20: 8:;-112, Lis- de conservação ao sul) coincidem com os dialectos setentrionais na sua manutenção. Note-se con-
boa, 1961), assenta em factos Iingulsticos, principalmente, fonéticos, que, apresentados numa tudo que, devido a um fenómeno de diferenciação entre os dois elementos do ditongo, este se trans-
certa e possível hierarquizaçlio, permitiriam talvez um mais claro agrupamento das variedades. formou na referida pronúncia em [«j] .

.... _ __
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1:1.
iii
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llll galego ocidental ">
Dialectos
galegos
j
" 1I
galego oriental
t1
O

Olalectos
portugueses
j'l'/
setentrionais ' //
dialectos transmontanos
e alto-minhotos
dialectos baixo-minhotos-
-durienses-beirões
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~
"~,
Dialectos j=== ~:~~~~Itos do centro-

portugueses t;l
centro-
-meridionais
.
- - dlale~tos do centro-
s:
- _ -In tenor e do sul '"
O

limite de região subdia[eclal ~.


/ com caracterJsticas peculiares
bem diferenciadas O

t1
O
~,
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O
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C
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t1
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O
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~

>

HUELVA

o 100 km
'-' ----'----',

Classificação dos dialectos galego-portugueses


DOMÍNIO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA II

• . . . . t: ...i··:.··· .. ·:::::........ .
e [o] acentuados: pjeso porpeso,pworto por porto. Abrange uma grande parte
·............
....... ... , ~ . I
do Minho e do Douro Litoral (incluindo o falar popular da cidade do Porto

.. - ....~: .:-\.
I
1. Entre moger (e outras formas em -er) e
mugir. mOjar e afins: 2. Entre úbere e :::::::::::::::'
··........ . .. ,.,
/ e dos seus arredores).
Em segundo lugar, temos uma extensa área da Beira-Baixa e do Alto-
amojo: 3. Entre anho e cordeiro; ..... - .. ...
·-··........
.......
4. Entre espiga e maçaroca;
A primeira das formas citadas fica sempre ........ .
....... _Alentejo (compreendendo uma faixa pertencente aos dialectos setentrionais,
mas, principalmente, uma vasta zona dos dialectos centro-meridionais) em
ao Norte e a Oeste da segunda:
5. Área de recobrimento das formas mais , que se regista uma profunda alteração do timbre das vogais. Os traços
arcaicas;
6 .. Área de all)lece; no resto do país diz-se , mais salientes são: a) a articulação do 11 tónico como [ü] (próxiruo do
soro, excepto no Mlnho onde não se usa l/ francês), por exemplo tii, miila, por til, mllla; b) a representação do
nenhuma designação.
.. antigo ditongo grafado 011 por [o] (também semelhante ao som correspon-
dente do francês), por exemplo: põca por pOllca; c) a queda da vogal átona
.. ' .::. final grafada -o ou sua redução ao som [~], por exemplo cop(a), cop(a)s, por
..... copo, copos; tiid(a) por tlldo .
....... Por fim, no ocidente do Algarve situa-se outra regIão em que se
observam coincidências com a anteriormente mencionada, no que se refere
às vogais. Em lugar de 11, encontramos [ü]: tii, miila (mas o 011 está represen-
tado por [oD. Pór outro lado, o a tónico evoluiu para um som semelhante
a o aberto: bata é pronunciado quase bota, alteração de timbre que não é
estranha a alguns lugares da mencionada zona da Beira-Baixa e Alto-
-Alentejo, embora seja ai mais frequente a passagem, em determinados
contextos fonéticos, de a a um som [ã] semelhante a [E] aberto, por exemplo:
afilhédo, por afilhado, fim/ér por f1l",ar. A vogal átona final grafada o ~ambém
cai ou se reduz a [o]: cop(a), cop(a)s, por copo, copos; tlld(a) por tllth.
Não são, porém, apenas traços fonéticos que permitem opor os diversos
grupos de dialeetos galego-portugueses. Se, no que diz respeito a particu-
laridades ,morfológicas e sintáeticas, a grande variedade e irregularidade na
1 distribuição parece impedir um delineamento de áreas que as tome como
base 5, já no que se refere à distribuição do léxico podemos observar, ainda
2
que num restrito número de seetores e casos, certas regularidades. Não é
3
raro, por exemplo, que os dialeetos centro-meridionais se oponham aos seten-
4
trionais e aos galegos por neles se designar um objeeto ou noção com um
50
... termo de origem árabe enquanto nos últimos permanece o descendente da
palavra latina ou visigótica. É o caso da oposição all/Jece I soro (do queijo),
ceifar I segar.
6~ Talvez ainda mais frequente seja a oposição lexical entre os dialectos
do sul e leste de Portugal, caracterizados por inovações voc.bulares de
vários tipos, c os dialcctos do noroeste e ccntro~norte, que, como os galegos,

Alguns limites lcxicais


Quando muito, poder-se-á dizer, por exemplo, que certos trnças, como os perfeitos
(v. Orlando Ribeiro, A propósito de áreas lcxicais ... , BdF, 2I, 19 65) em -i, da I.n conjugação (/rl/lj por /mlei, ((m/i por (flfl/ci), s:10 c}iclusivmncntç centro-meridionais.
IZ BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO P DOMÍNIO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA 13
li
Esta ilha, assim como a Madeira, constituem casos excepcionais dentro
se distinguem pelo conservadorismo, pela manutenção de termos mais
do português insular. Independentemente uma da outra, ambas se afastam do
antigos na língua. É o caso da oposição de ordenhar a moger, mugir e alIJo/ar,'
que se pode chamar a norma centro-meridional por acrescentar-lhe um certo
de t/fI/ojO a úbere,. de borrego a cordeiro e a anho; de chibo a cabrito,. de HIOft/roca
número de traços muito peculiares.
a espiga (de milho), etc.
No que se refere à ilha de São Miguel, os mais característicos de entre
Advirta-se, por fim, que em relação a muitas outras noções é grande a OS traços que afastam os seus dialectos dos das outras ilhas coincidem, curio-
variedade terminológica na faixa galego-portuguesa, sem que se observe samente, com os traços que, na Península, distinguem a região da Bcira-
este ou qualquer outro esquema regular de distribuição. É que a distribui- _Baixa e do Alto-Alentejo (e também, parcialmente, com os que se obser-
ção dos tipos lexicais depende de numeroslssimos factores, não só linguls- vam no ocidente do Algarve): a) o 11 tónico é articulado como [ü]: tii,
ricos, mas sobretudo hist.órico-culturais e sociais, que 7/ariam de caso para !lliila; b) o antigo ditongo 011 pronuncia-se como [o]: poca, lõra; c) o a tónico
caso. A regularidade atrás observada parece depender, em alguos casos, da tende para o aberto [o]: quase bota por bata; d) a vogal final grafada -o cai
acção de um mesmo facto! histórico: a reconquista aos mouros do Centro ou reduz-se a [o]: cop(a), cop(a)s, tiid(a), põk(a) , por copo, copos, tlldo,pollco.
e do Sul do território português, movimento que teria criado o contraste Quanto à ilha da Madeira, os seus dialectos apresentam características
entre uma Galiza e um Portugal do Noroeste (e parte do Oeste) mais conserva- fonéticas singulares, que só esporadicamente (e não todas) aparecem em dia-
dores, porque de povoamento antigo, e um Portugal do Nordeste, Este e lectos continentais. Assim, o 11 tónico apresenta-se ditongado em [aw], por
Sul mais inovador, justamente o que foi repovoado em consequência daquele exemplo: ['Iawa] por 1110; o i tónico em [aj], por exemplo: ['[aj"a] por
acontecimento histórico 6 . fi'lia. Por outro lado, a consoante 1, ·precedida de i, palataliza-se: ['vaj"a]
por vila, ['fajÀot] por fila (confundindo-se portanto, desse modo, fila com
filha).
Os dialectos das ilhas atlânticas.

Os dialectos brasileíros.
Os dialectos falados nos arquipélagos atlânticos dos Açores e da Madeira
representam - como era de esperar da história do povoamento destas ilhas,
Com relação ao extensíssimo território brasileiro da Ilngua portuguesa,
desertas no momento em que os portugueses as descobriram - um prolon-
gamento dos dialectos portugueses continentais. a insuficiência de informações rigorosamente científicas sobre as diferenças
de natureza fonética, morfo-sintáctica e lexical que separam as variedades
Considerando a maior parte das características fonéticas que neles se
regionais nele existentes não permite classificá-las em bases semelhantes às
observam, pode-se afirmar, com maior precisão, que prolongam o grupo dos
que foram adoptadas na classificação dos dialectos do português europeu.
dialectos centro-meridionais. Com efeito, não se encontram nos dialectos
Deve-se reconhecer, contudo, que a publicação de dois atlas prévios regio-
açorianos e madeirenses nem o [!] ápico-alveolar, nem a neutralização da
nais - o do Estado da Bahia 7 e o do Estado de Minas Gerais 8 - e a anun-
oposição entre Ivl e Ibl, nem a africada [tn dos dialectos setentrionais do
continente. Quanto à monotongação dos ditongos decrescentes [ow] e [ej], ciada impressão do já concluldo Atlas dos falares de Sergipe 9, bem como a
elaboração de algumas monografias dialectais são passos importantes no
observam-se as mesmas tendências da !fngua padrão: o ditongo [ow] reduz-se
normalmente a [o], mas a redução de [ej] a [e] é fenómeno esporádico; sentido de suprir a lacuna apontada.
só ocorre como norma na ilha de São Miguel. Entre as classificações de conjunto, propostas com carácter provisório,
sobreleva, pela indiscutível autoridade de quem a fez, a de Antenor Nas-

6 Veja-se, a este respeito, principalmente, Luís F. Lindlcy Cintra, Areas lexicais no ter-
ritório português. Bole/im de Filologia, 20: '1.73-307. 196'1.; c Orlando Ribeiro, A propósito
7 Nelson Rossi. Atlas prévio dos falares baianos. Rio de Janeiro, MECJINL, 196~.
de áreas lexicais no território português, Bole1i1l1 de Filologia, 21: 177-2.05. 1962-1963 (artigos 8 José Riheiro et alii. Esbo(o de 111/1 alIai liflgllflli(o de Minas Gemi!. 1.0 vol. Rio de Janeiro,
reproduzidos. ambos, em L. F. Lindlcy Cjntra, Estudos de dia/eelo/agia porlllj.lluo, Lisboa, 19 83.
p. 55-94 e 16'-202). Cite-se, ainda, Luís F. Lindley Cinna. Une frontiere lex.ica1e et phonétiquc duns MECJCasa de Rui BarbosafUFJF, 1977.
9 Elaborado por Ne1son Rossi, com a colaboração de um grupo de professores da Uni-
Ic domainc Iinguistiquc portugais. Boiei;,,, de Pilologia, 20: 31-38, 1961 (artigo também reeditado nos
referidos EsllldoJJ p. 95-105). versidade Fedeml da Bahia.
r 14 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNEO r-!
i-i
I)
DOMÍNIO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA
'5

li centes, fundada e~
observações pessoais colhidas nas suas viagens por todos
',', oS Estados do palS.
i: p:base desta proposi~ reside - como no caso do português europeu-
I em diferenças de pronúnCIa.
I' De acordo com Antenor Nascentes, é posslvel distinguir dois grupos
L de dialectos 1O brasileiros - o do Norte e o do Sul-, tendo em conta dois
!: traços fundamentais:
,, i~ a) a abertura das vogais pretónicas, nos dialectos do Norte, em pala-
,~ , i: vras que não sejam diminutivos nem advérbios em -mente: pegar por pegar,
, correr por correr;
'., b) o que ele chama um tanto impressionisticamente a «cadência» da
AMAZÓNICO
,
,,, fala: fala «cantada» no Norte, fala «descansada» no Sul.
, A fronteira entre os dois grupos de dialectos passa por (ruma zona que
ocupa uma posição mais ou menos equidistante dos extremos setentrional e
meridional do paIs. Esta zona se estende, mais ou menos, da foz do rio
... ----.;;;;-;;;:'0;;'_
"
.,,,-,, Mucuri, entre Espírito Santo e Bahia, até a cidade de Mato Grosso, no
TERRITÓRIO INCARACTERíSTICO ~ ,
I ...... _ ...

Estado do mesmo nome» 11.


I
, ,1
,, I
, , BAIANO
,, ... _-, - Em cada grupo, distingue Antenor Nascentes diversas variedades a que
,,,
~

•, chama SUBFALARES. E enumera dois no grupo Norte: a) o AMAZÓNICO,


,, ;1 b) o NORDESTINO. E quatro no grupo Sul: o) BAIANO, b) o FLUMINENSE,
" ~', I) c) o MINEIRO, d) o SULISTA.
>- ... --
SULISTA
," ii
I
Assinale-se, por fim, que as condições peculiares da formação Iinguistica
o'" " ,i do Brasil revelam uma dialectalização que não parece tão variada e tão intensa
;: como a portuguesa. Revelam, também, estas condições que a referida dia-
i'
i'
lectalização é muito mais instável que a europeia.
I'

,
I,

•.• " ' - LIMITES COM O ESTRANGEIRO !

- - - - LIMITES ESTADUAIS,
- LIMITES DOS SUB FALARES

I'

10 Empregamos o termo DIALECTO pejas razões aduzidas no Capítulo I e para mantermos


Áreas Iingulsticas do Brasil (divisão proposta por Antenor Nascentes) o paralelismo com a designação adaptada para as variedades regionais portuguesas. Ao que cha-
mamos aqui DIALECTO Nascentes denomina SUBFALAR.
11 Antena! Nascentes. O liflfJlajar carioca, 2." edição completamente refundida. Rio de
Janeiro, Simões, 1953, p. 25. Por ser quase despovoada, considcrava ele incaracterística a área com-
preendida entre a parte da fronteira boliviana e a fronteira de Mato Grosso com o Amazonas e o
Pará.
,... DOMÍNIO AC'fUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA 17
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUts
16
b) o de Macau, macaísta ou macauenho, ainda falado por algumas famí.
o português de África, da Ásia e da Oceânia. lias de Hong·Kong;
c) o de Sri·Lanka, falado por famllias de Vaipim e Batticaloa;
No estudo das formas que veio a assumir a Hngua portuguesa em África, r
d) - os de Chaul, Korlai, TeIlicherry, Cananor e Cochim, no território
na Asia e na Oceânia, é necessário disringuir, preliminarmente, dois tipos { da União Indiana.
de variedades: as CRIOULAS e as NÃO-CRIOULAS.
As variedades CRIOULAS resultam do contacto que o sistema linguístico [1 Na Oceânia, sobrevive ainda o crioulo de Tugu, localidade perto de
português estabeleceu, a partir do século XV, com sistemas linguísticos indi. cc, Jacarta, na ilha de Java I2 •
s Talvez todas elas derivem do mesmo PROTo--CRIOULO ou -------1' " da ._
g erua . - i' Quanto as varIe des NÃO· CRIOULAS ha que considerar não só a pre·
CA q Ue durante os primeiros séculos da expansão portuguesa, serv1U ~ "" ' _
~ sença do portugues que e a lmgua ofiClal das repúblicas de Angola, de Cabo
FRAN , • _.
li
de meio de comurucação entre as populaçoes locals ~ os n~vegadores, c?mer. Verde, da Guiné.Bissau, de Moçambique e de São Tomé e Principe, mas
ciantes e llÚssionários ao lo~go das cos:"s da A~rIca OClden~al e Oriental, ~ as variedades faladas por uma parte da população destes Estados e, tam.
da Arábia, da Pérsia, da índia, da Malásia, da Chiria e do Japao. Aparecem. ~ be'm de Goa Damão Diu e Macau na Asia e Timor na Oceânia Trata.se
{li", " ' " •
·nos, actualmente, como resultados muito diversificados, mas com ~gumas~' de um português com base na variedade europeia, porém mais ou menos modi.
característic.1S comuns - ou, pelo menos, paralelas -, que se manifestam ficado, sobretudo pelo emprego de u!u vocabulário proveuiente das llnguas
numa profunda transformação da fonologia e da morfo·sintaxe ,do por. I nativas, e a que não faltam algumas características próprias no aspecto fono·
tuguês que lhes deu origem. O grau de afastamento em relação a lingua·lllógico e gramatical.
-mãe é hoje de tal ordem que, mais do que como DIALECTOS, os crioulos devemf) Estas características, no entanto, que divergem de região para região,
ser considerados como LÍNGUAS derivadas do português. H ainda não foram suficientemente observadas e descritas, embora muitas
Os crioulos de origem portuguesa em Africa, que são os de maior vita· ri delas transpareçam na obra de alguns dos modernos escritores desses países 13.
lidade, podem ser distribuídos espacialmente em três grupos:

I. Crioulos do Arquipélago de Cabo Verde, com as duas varie·


dades:
a) de Barlavento, ao norte, usada nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, ,-
São Nicolau, Sal e Boavista;
b) de Sotavento, ao sul, utilizada nas ilhas de Santiago, Maio, Fogor:
e Brava.

z. Crioulos das ilhas do Golfo da Guiné:


a) de São Tomé;
b) do Prlncipe;
c) de Ano Bom (ilha que pertence à Guiné Equatorial).

3. Crioulos continentais: 12 Sobre o estado actual dos crioulos portugueses, veja-se Celso Cunha. LIngua, nação, alie-
a) da Guiné·Bissau; nafão. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1981, p. 37-106. onde se remete nbibliografia especializlldaj
veja-se, ainda, José G. Herculano de Carvalho, Deux langues créoles: Ie criô/ du Cap Ve,rt et le/orro
b) de Casamance (no Senegal). de S. Tomé, em Biblos: J7, 1-15, 1981. I

13 Sobre n linguagem de um dcles, do maior significado, o angolano Luandino Vieiro,


Dos crioulos da Asia subsistem apenas: v. a ,tese recente de Michel Laban, L'ot:fll'fe lilflrairc de Luandillo Vieira, Paris 1979 (tese do
a) o de Malaca, conhecido pelas denominações de paPiá cristão, 3.° ciclo apresentada em 1979 à Universidade de Paris-Sorbonne); e a de SaIvllto Trigo, Lflalldillll
VMra, o logo/e/a, Porto, Brosflia Editora, 198r.
q/leiro} IIJa/aqflês, IIJa/aq/lcnho} lIIalaq/l8J1SB, serani, bahasa gerçrgau e português
FONÉTICA E FONOLOGIA '9

3. A GLOTE, que fica na altura da chamada mafã-de-adão, pomo-de-adão ou,


nO Brasil, gogá, é a abertura entre duas pregas musculares das paredes superio-
res da LARINGE, conhecidas pelo nome de CORDAS VOCAIS. O fluxo de ar
pode encontrá-Ia fechada ou aberta, em virtude de estarem aproximados ou
Fonética e fonologia afastados os bordos das CORDAS VOCAIS. No primeiro caso, o ar força a
passagem através das CORDAS VOCAIS retesadas, fazendo-as vibrar e produ-
zir o som musical caracterlstico das articulações SONORAS. No segundo caso,
relaxadas as CORDAS VOCAIS, o ar escapa-se sem vibrações !arlngeas. As
articulações produzidas denominam-se, então, SURDAS.
A distinção entre SONORA e SURDA pode ser claramente percebida na
pronúncia de duas consoantes que quanto ao mais se identificam. Assim:
OS SONS DA FALA
IbI [= SONORO] IpI [= SURDO]
OS SONS da nossa fala resultam quase todos da acção de certos órgãos
sobre a corrente de ar vinda dos pulmões. Ao sair da LARINGE, a corrente expiratória entra na CAVIDADE FARÍN-
Para a sua produção, três condições se fazem necessárias: GEA, uma encruzilhada, que lhe oferece duas vias de acesso ao exterior:
a) a corrente de ar; , o CANAL BUCAL e o NASAL. Suspenso no entrecruzar desses dois canais fica
b) um obstáculo encontrado por essa corrente de ar; o VÉu PALATINO, órgão dotado de mobilidade capaz de obstrnir ou não
c) uma caixa de ressonância. o ingresso do ar na CAVIDADE NASAL e, consequentemente, de determinar
Estas condições são criadas pelos ORGÃOS DA FALA, denooúnados, em a natureza ORAL ou NASAL de um som.
seu conjunto, APARELHO FONADOR. Quando levantado, o VÉu PALATINO cola-se à parede posterior da
FARINGE, deixando livre apenas. o CONDUTO BUCAL. As articulações assim
obtidas denominam-se ORAIS (adjectivo derivado do larim os, oris «a boc",».
O aparelho fonador. Quando abaixado, o VÉu PALATINO deixa ambas aS passagens livres. A cor-
rente expiratória então divide-se, e uma parte deIa escoa-se peIas FOSSAS
É constituldo das seguintes partes: NASAIS, onde adquire a ressonância caracterlstica das articulações, por este
a) os PULMÕES, OS BRÔNQUIOS e a TRAQUEIA - órgãos respiratórios motivo, também chamadas NASAIS.
que fornecem a corrente de ar, matéria-prima da fonação i
b) a LARINGE, onde se localizam as CORDAS VOCAIS, que produzem a
energia sonora utilizada na fala; Compare-se, por exemplo, a pronúncia das vogais:
c) as CAVIDADES SUPRALAIÚNGEAS (FARINGE, BOCA e FOSSAS NASAIS),
que funcionam como caixas de ressonância, sendo que a cavidade bucal I a I [= ORAL] I ã I [= NASAL]
pode variar profundamente de forma e de volume, graças aos movimentos
dos órgãos activos, sobretudo da LÍNGUA, que, de tão importante na fonação,
se tornou sinónimo de <<idioma». em palavras como:

lá Ilã mato I manto


Funcionamento do aparelho fonador.

O ar expelido dos PULMÕES, por via dos BRÔNQUIOS, penetra na TRA- É, porém, na CAVIDADE BUCAL que se produzem os movimentos fona-
QUEIA e chega à LARINGE, onde, ao atravessar a GLOTE, costuma encontrar dores mais variados, graças à maior ou menor separação dos MAXILARES,
o primeiro obstáculo à sua passagem. das BOCHECHAS e, sobretudo, à mobilidade da LÍNGUA e dos LÁBIOS.
,.- FONÉTICA B FONOLOGIA 21
da

SOM E FONEMA

Nem todos os sons que pronunciamos em português têm o mesmo


valor no funcionamento da nossa Hngua.
Alguns servem para diferenciar palavras que no mais se identificam.
Por exemplo, em:

erro

a diversidade de timbre (fechado ou aberto) da vogal t6nica é suficiente


para estabelecer uma oposição entre substantivo e verbo.
Na série:

dia via mia


tia fia pia

temos seis palavras que se distinguem apenas pelo elemento consonãntico


inicial.
1 . Cavidade nasal Toda a distinção significativa entre duas palavras de uma llngua esta-
2 . palato duro belecida pela oposição ou contraste entre dois sons revela que cada um
3 . véu palatino desses sons representa uma unidade mental sonora diferente. Essa unidade
4. lábios
de que o som é a representação (ou realização) física recebe o nome de
FONEMA.
5 . cavidade bucal
Correspondem, pois, a FONEMAS diversos os sons vocálicos e conso-
6. lingua
nânticos diferenciadores das palavras atrás mencionadas.
7 , faringe
A disciplina que estuda minuciosamente os sons da fala, as múltiplas
8. epiglote realizações dos FONEMAS, chama-se FONÉTICA.
9 . abóbada palatina A parte da gramática que estuda o comportamento dos FONEMAS numa
10. rinofaringe llugua denomina-se FONOLOGIA, FONEMÁTICA ou FONÉMICA.
11 . traqueia

12. esôfago Descrição fonética e fonológica.


13 . vértebras
14. laringe A descrição dos SONS DA FALA (DESCRIÇÃO FONÉTICA), para ser completa,
15 . maçã-de-adão deveria considerar sempre:
16 . maxilar superior a) como eles são produzidos;
17 . maxilar inferior b) como são transmitidos;
c) como são percebidos.
Aparelho fonador Ca laringe e as cavidades supralarlngcas) Sobre a impressão auditiva deveria concentrar-se o interesse maior
r BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGu&: CONTEMPORÂNB~'I ~ÉTICA E FONOLOGIA
22 23

da descrição, pois é ela que nos deixa perceber a variedade dos sons e o seu [<] _ português normal de Portugal e do Brasil: pé, ferro
funcionamento em representação dos FONEMAS. A DESCRIÇÃO FONOLÓGICA [e] - português normal de Portugal e do Brasil: ",edo, saber
mal se compreende que não seja de base acústica. português normal do Brasil: regar, sedellto
A FONÉTICA FISIOLÓGICA, de base articulatória, é uma especialidade [o] - português normal de Portugal: sede, corre, regar, sedellto
antiga e muito desenvolvida, porque bem conhecidos são os órgãos fona- [o] - português normal de Portugal e do Brasil: pó, cola
dores e o seu funcionamento. Dal serem os fonemas frequentemente des- [o] _português normal de Portugal e do Brasil: nJorro,força
critos e classificados em função das suaS características articulatórias, embora português normal do Brasil: correr) morar
se note, modemamente, uma tendência de associar a descrição acústica à [i] - português normal de Portugal e do Brasil: vir, bico
fisiológica, ou de realizá-las parálelamente. português normal do Brasil: sede, corre
[u] - português normal de Portugal e do Brasil: banJbu, sul, caro
português normal de Portugal: correr, nJorar
Transcrição fonética e fonológica.
2. Semivogais:
Para simbolizar na escrita a pronúncia real de um som usa-se um alfa- [jJ - português normal de Portugal e do Brasil: pai, feito, vário
beto especial, o ALFAllETO FONÉTICO. [w] - português normal de Portugal e do Brasil: pau, água
Os sinais fonéticos são colocados entre colchetes: [].
Por exemplo: ['kaw], pronúncia popular carioca, ['kal], pronúncia 3. Consoantes:
portuguesa normal e brasileira do Rio Grande do Sul, para a palavra [b] - português normal de Portugal e do Brasil: bravo (I), anJbos
pre escrita cal. português normal do Brasil: o boi, aba, barba, abrir
Os fonemas transcrevem-se entre barras obllquas: ff. [~] - português normal de Portugal: o boi, aba, barba, abrir
[d] - português normal de Portugal e do Brasil: dar (1), alldar
português normal do Brasil: ida, espada

I
Alfabeto fonético utilizado.
[3] - português normal de Portugal: o dar, ida, espada
Empregamos nas nossas transcrições fonéticas, sempre que posslvel, [d'] - português do Rio de Janeiro, de São Paulo e de extensas zonas do
o Alfabeto Fonético Internacional. Tivemos, no entanto, de fazer certas Brasil: dia, sede
adaptações e acrescentar alguns sinais necessários para a transcrição de sons [d3] - português popular do Rio de Janeiro e de algumas Zonas próximas:
de variedades da lingua portuguesa para os quais não existe sinal próprio dia, sede
naquele Alfabeto 1. português dialectal europeu de zonas fronteiriças muito restritas:
Eis o elenco dos sinais aqui adoptados: Jesus, jaqlleta
[g] - português normal de Portugal e do Brasil: gllarda (I), fra/lgo
I. Vogais: português normal do Brasil: a gllarda, agora, agrado
[y] - português normal de Portugal: a guarda, agora, agrado
[a] - português normal de Portugal e do Brasil: pá, gato 'I [p]
português normal do Brasil: pedra, fazer ri [t] I -
-
português normal de Portugal e do Brasil: pai, caprino
português normal de Portugal e do Brasil: til, canto
[<x] - português normal de Portugal: canJa, cana, pedra, jazer; português [t'] I: - português do Rio de Janeiro, de São Paulo e de extensas zonas do
de Lisboa: lei, l e l l h a : Brasil: tio} sete
português normal do Brasil: canJa, cana . [tf] - português de extensas zonas do Norte de Portugal e de áreas não
delimitadas de Mato Grosso e regiões convizinhas, no Brasil:
chaveJ ellcher
1 Nessas adaptações e acrcscentlunentos seguimos, em geral_ o Illfabeto fonético utilhado '" português popular do Rio de Janeiro e de algumas zonas próximas:
pelo grupo do Centro de l.inguistica da Universidade de Lisboa, encarregado da elaboração do :'
AI/OJ liflgllltlko-~Jnogrdjilo d6 Por/ligaI, da Ga/iza. tio, sete
r- 2
-
4 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO

I
F~NÉTICA E FONOLOGIA .2 5

[k] _ português
, normal de Portugal oI cosaJ porco,
al e ddo Brasil: •
que há sempre na caV1°dade bucaI o b '
stacuIo a, passagem da corrente exptratórla.
o o
[m] - portugues normal de Portug e o BraSI : mar, alIl1go 2. Quant o a'funçao- sil'b
a lca - outro cn°t'eno
o d e di stlllçao
o - - cab e
O

J
B il
[n] _ português normal d e P ortugal e d oras . : Da.a
.) cano
. Ii o -
salientar que, na nossa ngua, as vogats sao sempre centro de sHaba, ao
[J1] - português normal de Portugal e do Brasil: vmha, ca!llmho pasSO que as consoantes são fonemas marginais: só aparecem na sllaba junto
(I] - português normal de Portugal e do Brasil: la!lla, calo .. uma vogal.
[I] _ português normal de Portugal e de certas zonas do Sul do Brasil:
ai/o, Brasil
_ português normal de Portugal e do Brasil: filho, lhe Semivogais.
[Ã]
[r] - português normal de Portugal e do Brasil: caro, cores, dar
Entre as vogais e as consoantes situam-se as settúvogais, que são os
[f] - português normal de várias regiões de Portugal, do Rio
fonemas lil e lul quando, juntos a uma vogal, com ela formam sllaba. Fone-
do Sul e outras regiões do Brasil: roda, carro
ticamente estas vogais assilábicas traoscrevem-se [j] e [w].
[R] - português normal de Portugal (principalmente de Lisboa), do
de Janeiro e de várias zonas costeiras do Brasil: roda, carro Exemplificaodo :
[f] - português normal de Portugal e do Brasil: filho, afiar Em dito ['ditu] e viu ['viw] o lil é vogal, mas em pai ['paj] e vário ['varju]
[v] - português norma} de Portugal e do Brasil: vinho, uva é semivogal. Também é vogal o lul em !IIuro ['muro] e lua ['lua], mas semi-
[s] - português normal de Portugal e do Brasil: saber, posso, céu, caça vogal em !IIeu ['mew] e q/latro ['kwatru].
[z] - português normal de Portugal e do Brasil: azar, casa
[~] - português de certas zonas do Norte de Portugal: saber, posso;
noutras zonas, também: céu, caça CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS
[~] - português de certas zonas do Norte de Portugal: casa; e, noutra!\)
zonas, também: azar I. Segundo a classificação tradicional, de base fundamentalmente
[e] - galego normal: céu, facer (porto fazer), caZa (port. caça), azar o articulatória, as vogais da !Jngua portuguesa podem ser:
UJ - português normal de Portugal e do Brasil: chave, xarope
português normal de Portugal, do Rio de Janeiro e de algumas anteriores ou palatais
a) quanto à região de articulação centrais ou médias
costeiras do Brasil: este { posteriores ou velares
[3] - português normal de Portugal e do Brasil: já, gel/ro
português normal de Portugal, do Rio de Janeiro e de algumas abertas
costeiras do Brasil: /lJOSIIIO semi-abertas
b) quanto ao grau de abertura semi-fechadas
{
fechadas
CLASSIFICAÇÃO DOS SONS LINGuíSTICOS
o { orais
c) quanto ao papel das caVIdades bucal e nasal nasais
Os sons lingulsticos classificam-se em VOGAIS, CONSOANTES e
VOGAIS. É de b.ase acústica a classificação em:

Vogais e consoantes. o °dade {tónicas


ti) quanto à mtensl átonas

I. Do ponto de vista articulatório, as vo?ais pode~ ser considerad'li 2. Tem-se difundido recentemente uma classificação das vogais c?m
'i
sons formados opela vibração das cordas VOcalS e mod1ficados segundo base em certo número ode ~aços, que são «disrintivos" numa perspectiva
forma das caVIdades supra-Iarlngeas, q~e ~evem estar sempre abertas ?U fonológica ou fonemátIca, IStO e, que apresentam caracte~lst1cas o capazes
1
entreabertas à passagem do aro Na pronunCIa ,hs consoantes, ao contrárlO, por si só de opor um segmento fófiÍco a outro segmento fórucoo

.. --_ .. _~._._---_._---_._.
r 2.6 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNE0I FONÉTICA E FONOLOGIA

Por exemplo: o traço distintivo ABERTURA, ligado (como do-a do véu palatino, produzimos a série das vogais POSTERIORES ou
2.7

VELA-
adiante com mais pormenor), do ponto de vista fisiológico, à maior ou menorl RES, isto é, [+ RECUADAS]:
elevação ou altura da llngua no momento da articulação, opõe só por
[o], [o], lu].
peso (substantivo) a peso (forma verbal) e a piso (substantivo ou verbo). A
sença ou a ausência de cada traço é, neste tipo de classificação, assinalaclaR Dentro da classificação tradicional, que considera a boca dividida em
pelos sinais matemáticos (+) e (-). Assim: M de peso (verbo) duas regiões (anterior e posterior), as vogais [a] e [",], articuladas com a
[+ baixo], lei de peso (substantivo) será [- alto], mas também [- barxoJ,~ língua baixa, em posição de repouso, são denominadas MÉDIAS ou CENTRAIS.
ao passo que lil de piso será [+ alto]. De acordo com a classificação mais recente, devem ser incluJdas entre as
Os traços distintivos que devem ser considerados na classificação [+ RECUADAS].
fonemas vocálicos portugueses dependem: a) da maior ou menor Também importante como elemento distintivo na articulação das vogais
ção da llngua; b) do recuo ou avanço da região de articulação; c) do é a posição assumida pelos lábios durante a passagem da corrente de ar expi-
dondamento ou não arredondamento dos lábios. rada. Podem eles dispôr-se de modo tal que formem uma saída arredondada
De acordo com esta classificação, as vogais da llngua portuguesa podern~ +
para essa corrente, e teremos a série das vogais [ ARREDONDADAS]:
ser:
[o], [o], lu],
+ altas
ou permanecer numa posição quase de repouso, e teremos a série das vogais
altas
a) quanto à maior ou menor elevação da língua
{+ baixas
baixas
[- ARREDONDADAS]:

[a], [e], [E], [i].


+ recuadas
b) quanto ao recuo ou avanço da articulação { recuadas
Timbre.
c) quanto ao arredondamento ou não arredondamento
dos lábios {+ Para a distinção do TIMBRE das vogais - qualidade acústica que resulta
de uma composição do tom fundamental com os harmónicos - é ainda
determinante, do ponto de vista articulatório, a forma tomada pela cavi-
dade faringea e, sobretudo, pela cavidade bucal, que funcionam como tubo
Articulação. de ressonância.
A maior largura do tubo de ressonância, provocada principalmente pela
Dissemos que as vogais são sons que se pronunciam com a via menor elevação do dorso da lingua em direcção ao palato (quer duro, quer
livre. Mas, como acabamos de ver ao apresentar os vários critérios de classifi~ mole), produz as vogais chamadas ABERTAS e SEMI-ABERTAS [+ BAIXAS]:
cação, isto não significa que seja irrelevante para distingui-Ias o movimentorl
ABERTA: [a] SEMI-ABER\1l'AS: [E], lo]
dos órgãos articulatórios. Pelo contrário. Esses critérios bas.eiam-se na
sidade de tal movimento. O estreitamento do tubo de ressonância, causado principalmente pela
maior elevação do dorso da llngua, produz as vogais chamadas SEMI-.
Assim:
Ao elevarmos a lingua na parte anterior da cavidade bucal, - ALTAS]
-FECHADAS :
[ - BAIXAS
mando-a do palato duro, produzimos a série das vogais ANTERIORES
PALATAIS, ou seja [-RECUADAS]: [e], [",], [o]
[E], [e], [i]. e FECHADAS [+ ALTAS]:

Ao elevarmos a Hngua na parte posterior da cavidade bucal, aproximan.! [i], [u]

--
z9
z8

Intensidade e acento.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs

-
FONÉTICA E FONOLOGIA

Exemplos: •
li I lê, peso (s.) I peso (v.), pé I pá, sa<o I soco, po{ol posso, fot!o I tutlo.
A INTENSIDADE é a qualidade física da vogal que depende da força
ratórià e, portanto, da amplitude da vibração das cordas vocais. As vogais
que se encontram nas sflabas pronunciadas com maior intensidade chamam-I Observação:
-se TÓNICAS, porque sobre elas recai o ACENTO TÔNICO, que se caracteriza em No português normal do Brasil, a vogal [IX] só aparece em posição tónica antes
português principalmente por um reforço da energia expiratória. As vogais de consoante nasal. Por exemplo: (onla ['kIXma], (ano ['klXfia], sanha ['sIXJla].
que se encontram em sflabas não acentuadas denominam-se ÁTONAS. Não ocorre nunca em oposição a [a] para distinguir segmentos fónicos de
significado diverso. Do ponto de vista fonológico, funciona, pois, como
Vogais orais e vogais nasais. variante do mesmo fonema, e não como fonema autónomo.
No português europeu normal, [oc], quando tõIÚcO, também aparece, na maioria
Finalmente, é de grande importância na produção e caracterização, das dos casos, _antes de consoante nasal, a exemplo de cama, cana e sanha. Mas nessa
mesma situação tónica existe uma oposição de pequeno rendimento entre
vogais, do ponto de vista articulatório, a posição do véu palatino durante [a] e [!X], É a que se observa, nos verbos da La. conjugação, entre as primei-
a passagem da corrente expiratória. Se, durante essa passagem, o véu pala- ras pessoas do plural do presente (ex.: amamos [IX'motmuJ]) e do pretérito per-
tino estiver levantado contra a parede posterior da faringe, as vogais pro- .feito do indicativo (ex.: amámos [IX'mamuJ]).
duzidas serão ORAIS:
[i], [e], [e], [a], [o], [o], lu].
Vogais tónicas nasais.
Se, pelo contrário, essa passagem se der com o véu palatino abaixado,
uma parte da corrente expiratória ressoará na ,cavidade nasal e as vogais pro- Além das VOGAIS ORAIS que acabamos de examinar - corresponden-
duzidas serão NASAIS: tes a oito fonemas no português normal de Portugal, e a sete no do Bra-,
sil-, possui o nosso idioma, tanto na sua variante portuguesa como na
[I], [C], [~, [õ], [u].
brasileira, cinco VOGAIS NASAIS, que podem ser assim classificadas:

Vogais tônicas orais. Anteriores Média Posteriores


ou palatais ou central ou velares
Para o português normal de Portugal e do Brasil é o seguinte o qua-
dro das vogais orais em posição tónica: Fechadas [I] [íí] + altas
-altas
Anteriores Médias Posteriores Semi-fechadas [~] [ã] [õ] - baixas
ou palatais ou centrais 'ou velares

I + altas -recuadas + recuada +rccuadas


_ arredondadas _ arredondada + arredondadas
Fechadas [i] [u]

- altas
Semi-fecbadas [e] [IX] [o] - baiXas
Exemplos:
ScmiMabertas
Aberta ---
[e] I [a]
[o]
I+ baixas
rim, senda, canta, lã, bomba, atum.

Como se vê no quadro da página anterior, as vogais nasais da I1ngua


- recuadas I
+ recuadas I+ recuadas portuguesa são sempre fechadas ou semi-fechadas. Só em variedades regionais
- arredondadas - arredondadas + arredondadas aparecem vogais abertas ou semi-abertas como as francesas.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS J10NÉ'I'ICA E FONOLOGIA 3'

Vogais átonas orais. 3. No português normal de Portugal, em posiçã3' átona não final,
também se anulou a distinção entre [e] e [e], mas, em lugar de qualquer
Em posição átona, o quadro das vogatS orais do português apresenta destas vogais da série das anteriores ou palatais, aparece geralmente a
diferenças cons~de~á:eis em relação à posiÇã~ :ó~ca, diferenças 'l.ue, por vogal [o], média ou central, fechacJ:' J+
aI:a, +
recuada, - arredondada],
nem sempre cotnCldirem nas duas normas prtnClpalS da I1ngua, serao estu. realização que não ocorre em poslçao tóruca e é completamente estranha
dadas separadamente" aO português do Brasil. A série fica, assim, representada apenas pela vogal [i]"
B· li em pOSlçaO
I . N o P o rtuguês normaI d oras, " - .atona nao
- final ,anulou.. por outro lado,. tendo
.desaparecido a distinção
;. entre, r:>], [o] e lu], toda a
- se a "
distin - tr [J [] t d "d
çaoenee:ee,eno-seman1!10apenaseel,nasleas [.] [O] ér" d série das. vOgals posterlOres
, ou
. velares esta hOJe reduzlda a lu], grafado o
vogal "s anten" r s al tal" ra1 I ul di
o e ou p as; pa e amente, ao ou-se a Stlnçao entre " - ou 11 Ftnalmente, a vogal média ou central [a], aberta, corresponde a vogal
[-]
.J e [o], com o que fi cou reduzl"da a [] o e [] ." d as vogrus
u a seIle " postenores
"
o, •

também média. ou

. central, mas senu·fechada . r,,],


grafada
' naturalmente a•
ou velares" O que f01 dito pode ser expresso no segumte quadro:
:É, pois, o seguinte o quadro das vogais átonas em posição não final
absoluta, particularmente em posição PRETÓNICA: Anterior Médias Posterior
ou palatal ou centrais ou velar
Anteriores Média Posteriores
ou palatais ou central ou velares Fechadas [i] [o] [u]

Fechadas [i] Semi-fechada [,,]


[u] --- ---_.- ---- -

Semi·fechadas [e] [o]

Aberta [a] Exemplos:

Exemplos: ligar [li'gar], legar [l.'gar], lagar (l,,'gar], lograr [lu'grar], lugar (lu'gar];
á/anJO ['alO<lllu], véspera [',efpora], diálogo [di'alugu].
ligar [li'gar], legar (le'gar], lagar (la'gar], lograr [Io'grar], lugar [Iu'gar];
álamo ['alamu], véspera ['vefpera],"diá/ogo [di'alugu], c1c!olron ['siklotron]"
2. Em posição final absoluta, a série anterior ou palatal apresenta.se 4. Em posição final absoluta, a série anterior ou palatal aesaparece e
reduzida a uma única vogal [i], grafada e," e a série posterior ou velar tam. em seu lugar surge a vogal já descrita [,,], grafada e," e a série posterior ou
bém a uma só vogal lu], escrita o. velar reduz·se à vogal lu], escrita o. Donde o quadro:
Temos, assim, três vogais em situação POSTÓNICA FINAL ABSOLUTA:
Médias Posterior
Anterior Média Posterior ou palatais ou velar
ou palatal ou central ou velar
Fechadas [o] [u]
Fechadas [i] [u]
Semi-fechada [,,]
Aberta [a]

Exemplos: Exemplos:
larde ['tardi], povo ['povu], çflSa ['kaza]. tarde ['tardo], povo ['povu], çasa ['kaz<x].
32 BREVE GRAMÁTICA DO PORTIJGUÊS CONTEMPORÂNE~'I FONÉTICA B FONOLOGIA ;;

Observação:
2. Recentemente, porém, difundiu-se, como para .s vogais, outro
sistema de classificação, com base em certos TRAÇOS DISTINTIyOS.
É necessário ressaltar que algumas vogais átonas, por razões em geral rela.. Os traÇOS que se têm em conta neste sistema relacionam-se também com
cio1L'1das com a história dos sons ou com a sua posição na palavra, não sofre.. caracterJsticas da articulação, mas nem sempre coincidem com os que estão
ram a REDUÇÃO a [a], [a], [u] no português de Portugal. Assim aconteceu na base da classificação anterior.
com as vogais que provêm:
a) da crase entre duas vogais idênticas do português antigo; é o caso do Segundo o novo sistema classificatório, as consoantes podem ser:
[a] de padeiro « paadeiro), do [e] de esquecer « esqueccer), do [o] de corar [+ continuas]
« coorar); a) quanto ao modo de articulação [- continuas]
b) da monotongação de um antigo ditongo, como o [o] que se ouve na pr().. [+ laterais]
nlÍnda normal de dOllfflf"J doutrina. { [ - laterais]
Também não se reduziram as vogais átonas de cultismos, como o [a] de detor,
o [e] de dircetor, o [o] de qdopçdo, e bem assim o [o] inicial absoluto de ooelha, [+ anteriores]
ohter, oPinião, o [e] inicial absoluto de enorme, erguer, que se pronuncia geral.. b) quanto à zona de articulação [ - anteriores]
mente [i], e as vogais [a], [e], [o] protegidas por I implosivo de altar, delgado, { [+ coronais]
soldado, eolchao, Setlíbal e amável. [- coronais]
Finalmente, também não sofreram, em geral, redução as vogais tónicas de
palavras simples nos vocábulos delas derivados, particularmente com os c) quanto ao papel das cordas VOcaIS
. {[[ + sonoras]
_ sonoras]
sufixos -mente ou -inho (-züJho): avaramente, brevellJente, docilmente, docemente,
pezinho, aoezinha, amorzinho (mas mesinha, casinha, folhinha, com [o], [ot] e lu]). . { [+ nasais]
d) quanto ao papel das caVIdades bucal e nasal [ _ nasais]
É de base mais acústica do que articulatõria a classificação:
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSOANTES .,) quanto ao efeito acústico mais ou menos próximo ao de { [+ soante]
uma vogal [- soante]

l. As consoantes da IIngua portuguesa, em número de dezanove, Modo de articulação.


tradicionalmente classificadas em função de quatro critérios, de base essen-
cialmente articulatória: A articulação das consoantes não se faz, como a das vogais, com a pas-
sagem livre do ar através da cavidade bucal. Na sua pronúncia, a corrente
oclusivas
a) quanto ao modo de articulação, em .. f~icativas cxpiratória encontra sempre, em algum~ parte da boca, ou um obstáculo
{ constnt.1vas laterais total, que a interrompe momentaneamente, ou um obstáculo parcial, que
{ vibrantes a comprime sem, contudo, interceptá-la. No primeiro caso, as consoantes
bilabiais dizem-se OCLUSIVAS ou [- CONTÍNUAS]; no segundo, CONSTRITIVAS ou
labiodentais [+ CONTiNUAS].
b) quanto ao ponto de articulação, em J linguodentais
alveolares São OCLUSIVAS as consoantes [p], [b], [t], [d], [k], [g]: pala, bala, tala,
palatais
velares
dá-Ia, cala, gala.

. { surdas Entre as CONSTRITIVAS, distinguem-se as:


e) quanto ao papel das cordas VOCaIS, em sonoras

. { orais I. FRICATIVAS, caracterizadas pela passagem do ar através de uma


d) quanto ao papel das caVIdades bucal e nasal, em nasais
estreita fenda formada no meio da via bucal, O que produz um ruldo com-
parável ao de uma fricção.
São fricativas as consoantes [f], [v], [s], [z], [fl, [3]: fala, vala,
- 5 P ALATAIS
· ' formadas pelo contacto do dorso da Hngua • com o palato
.
35

(passo, céu, caça, próximo), zelo (rosa, exame), xarope (encher), já (ge/o)2. duro, o u céu da boca. São as consoantes [fl, [3], [).], [p]: acho, aJo, alho,
anho.
2., LATERAIS, cara~terizadas pela p~ssagem da corren,te eXPitatórial 6. VELARES, formadas pelo contacto da parte posterior da lfngua com
pelos dois lados da caVldade bucal, em vIrtude de um obstaculo formado alato mole ou véu palatino. São as consoantes [k], [g], [R]: calo, galo,
no centro desta pelo contacto da língua com os alvéolos dos dentes ou COIll o P ,
o palato. ralo.
São laterais as consoantes [I] e [Ã]: fila, filha.
Se considerarmos a zona em que se situam o contacto ou a constrição
que caracteriza~ a consoante, a classificação com base nos traços distinti-
3. VIBRANTES, caracterizadas pelo movimento vibratório rápido
VOS será a segulflte:
um órgão activo elástico (a IIngua ou o véu palatino), que provoca uma
várias brevlssimas interrupções da passagem da corrente expiratória. I. CONSOANTES [+ ANTERIORES], formadas na zona anterior da cavi-
São vibrantes as consoantes [r] e [i'] ou [R]: caro, carro. dade bucal: [P], [b], [f], [v], [m], [t], [d], [s], [z], [n], [I], [r] e [f];
2. CONSOANTES [- ANTERIORES], formadas na zona posterior da cavi-
dade bucal: [fl, [3], [ç], [Ã], [R];
o ponto ou zona de articulação.
3. CONSOANTES [+ CORONAIS], formadas com a intervenção da «coroa»,
ou seja do dorso (pré-dorso, médio-dorso) da Hngua: [t], [d], [s], [z], UJ,
o obstáculo (total ou parcial) necessatlo à articulação das consoantesl
pode produzir-se em diversos lugares da cavidade bucal. Dal o conceito
[3], [n], [ç], [I], [Ã], [r];
PONTO DE ARTICULAÇÃO, segundo o qual as consoantes se classificam 4. CONSOANTES [- CORONAIS], formadas sem a Intervenção do dorso
da língua [P], [b], [m], [f], [v], [k], [g], [RJ.
I. BILABIAIS, formadas pelo contacto dos lábios. São as consoantes.
[P], [b], [m]: pato, bato, mato.
2. LABIODENTAIS, formadas pela constrição do ar entre o lábio
o papel das cordas vocais.
rior e os dentes incisivos superiores. São as consoantes [f], [v]: faca,
Enquanto as vogais são notlnalmente sonotas (só excepcionalmente
3· LINGUODENTAIS (ou DORSo-DENTAIS), formadas pela aparecem ensurdecidas), as consoantes podem ser ou não produzidas com
do pré-dorso da IIngua à face interna dos dentes Incisivos superiores, vibração das CORDAS VOCAIS.
pelo contacto desses órgãos. São as consoantes [s], [2], [t], [d]: CiIlCO, ZillCO, São SURDAS [- SONORAS] as consoantes: [p], [t], [k], [f], [s], [fl.
tardo, dardo. São SONORAS [+ SONORAS] as consoantes: [b], [d], [g], [v], [z], [3],
[1], [Ã], [r], i!], [R], [m], [n], [Jl].
4· ALVEOLARES (ou ÁPICO-ALVEOLARES), formadas pelo contacto
ponta da Ilngua com os alvéolos dos dentes Incisivos superiores. São
consoantes [n], [I], [r], [i'J: noJa, cala; cara, carro (na pronúncia de ,certas. Papel das cavidades bucal e nasal.
regiões de Portugal e do Brasil).
Como as vogais, as consoantes podem ser ORArs [- NASAIS] ou NASAIS
[+ NASAIS]. Por outras palavras: na sua emissão, a corrente expiratória
pode passar apenas pela cavidade bucal, ou ressoar na cavidade nasal, caso
encontre abaixado o véu palatIno.
2 Como dissemos, na pronúncia normal de Portugal, do Rio de Janeiro e de alguns
da costa do Brasil, as fricativas palatais [f) e [3] aparecem também em formas como São NASAIS as consoantes [m], [n], [p]: amo, ano, anho.
111611110, respectivamente.
Todas as outras são ORAIS.

~_ ••• _ _... ', •• 0 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _•


r 6 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS FONÉTICA E FONOLOGIA 31

~
Quanto ao modo de articulação (bucal), as consoantes nasais são OCLU-
';;;' '"
.~
~ ~
'a ~.~
'"

• .-1
'" o
I

I=l
,....,
Cf)

OI
'" OI
OI ..
.. o
o o: ]: :s ~

.s
SIVJ\S [- CONTÍNUJ\S]. Atendendo, no entanto, à forte individualidade que
~ o: ~ " ~ o: o lhes confere o seu traço nasal, costuma-se isolá-las das outras oclusivas,
'õ I ;: o '"
z.±, o~ "'.±, tratando-as como classe à parte.
~~
';;;'
'" '" '"
~ ~.; .. OI
Quadro das consoantes.
o: o: .. !l 15
~ tIS ~
.. o OI
.o",~
gg E g
o "
~.±~ "'+ ~
Resumindo, podemos dizer que o conjunto das consoantes da I1ngua
portuguesa é constituldo por dezanove unidades, cuja classificação se expõe
Ui' "üj' 'Ui'
........v·...
U!I
~
Q)
~
~
~ esquematicamente no quadro da página anterior.
~;tI ~;:
(1)";'
1'II(\l
~ot;
C'Su.t_
do
0100
B 2: Observação:
.i': ê >-l ................
++ '" ........
+I II
.-:=: '.jj
tld o:8
o
I '; ;'
ai
as
1'II
~.
I
Neste quadro, _procuramos integrar a classificação por traços distintivos
e a classificação tradicional de base articulatória. Para se fazer a análise em
traços disdntivos de qualquer som consonântico do português, bastará juntar
u+ ~
150:
= o E
~

.!!.
~

.!l os vários traços associados no quadro à sua classificação articulatória corrente.


';;;' =i'~ o '" Por exemplo: as consoantes [P] e [b] serão ana1isadas deste modo:
s "'+
",'~

'; ~
.. - OI
':rJ d '-4 ~

õa
Co:j Co:j
" ow_
.... OI ~
[p] [ - continua] [b] [- contínua]
..!... ..
11<~~
I I
~ ã" [- sonora ] [+ sonora ]
"'o: :;:;: ~ 5 [ - nasal ] [ - nasal ]
1l iil \ [ + anterior] [+ anterior]
"'..!... [ - corona! ] [ - coronal ]

~..
'"..
';;;'
~
o Posição das consoantes.
'" OI
~

'"

o "
e ~ ::§
~ ~
';;! .fi "'+ ~
Só em posição intervocálica é posslvel encontrar as '9 consoantes por-
-t§ tuguesas que acabamos de descrever e classificar. Noutras posições, o número
."
~

o" lO
",g
~
~ de consoantes possíveis reduz-se sensivelmente.
..!... ~ :;:;:: ~ Assim, por exemplo, em posição inicial de palavra, além das consoantes
1l o
"," OCLUSIVJ\S e FRICJ\TIVJ\S, só aparecem: das LJ\TERJ\IS, o [I]; das VIBRJ\NTES,
..!... o [R] ou [r]; das NAS"'S, o [m] e o [n]. São caSOS isolados os de emprésti-
~

"~
~
~
mos, principalmente do espanhol, em que ocorrem [Ã] ou [J1]: Ihallo, I/Jal/la,
.g o
'a, 'H'" ." "
"'01'"
"'~
~ ·ã Cf)
"'~
e·; nhato.
:; ·~·8 ~ .t: Cl ~.. ~ c:I
-11 ..
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.o " o " o ~ lU o
OI - .. - 15 ~da
,,"
i
'f;! '" !;IClO
Ba .~ 1<1"" ã" .... ENCONTROS VOCÁLICOS
++
~~
I I
~~
'" "
-11] .g
71 ~ .g ~ =
o,,'"
o
I~ Ditongos.
"".o 71 "'~
~ ~ ~"ã o encontro de uma VOGJ\L + uma SEMIVOGJ\L, ou de uma SEMIVOGJ\L +
~ o O:'p
P-1~; + uma VOGJ\L recebe o nome de DITONGO.
38 BREVE GRAM ..(TICA DO PORTUGUÊS
FONÚTICA E FONOLOGIA 39

OS DITONGOS podem ser: ,.


[iw] : viu
a) DECRESCEN'fES e CRESCENTES;
[oi] : boi
b) ORAIS e NASAIS.
[oj] : herói
[ui] : azuis

Ditongos decrescentes e crescentes.


Observação:
Quando a vogal vem em primeiro lugar, o DITONGO
Nem na pronúncia normal de Portugal nem na do Brasil se conserva
DECRESCENTE. Assim:
o antigo ditongo [ow], que ainda se mantém vivo em falares regionais do
Norte de Portugal e no galego. Na pronúucia normal reduziu-se a [o], desa-
pai céu muito parecendo assim a distinção de formas como ponpa I popa, bonba I boba.
Quando a semivogal antecede a vogal, o DITONGO diz-se
2. Existem os seguintes DITONGOS NASAIS DECRESCENTES:
Assim:

[ai] correspondente às grafias ãe, ãi e, no português normal de Portugal,


qual linguiça frequente
em (em posição final absoluta) e en (no interior de palavras deri-
vadas): mãe, cãibra; no português normál de Portugal: vem, levem,
Em português apenas os DECRESCENTES são DITONGOS estáveis.
DITONGOS CRESCENTES aparecem com frequência no verso. Mas na lingua.1 benzinho.
gem do colóquio normal só apresentam estabilidade aqueles que têm a [aw] : correspondente às grafias ão e am: nlão, vdam.
vogal [w] precedida de [k] (grafado q) ou de [g]. Assim: [eU : correspondente, no português do Brasil e em falares meridionais de
Portugal, às grafias em (em posição final de palavra) e en (no inte-
quase igual quando enxaguando rior de palavras derivadas): vem, levem, benzinho.
equestre goela lingueta quinquénio
quota quiproquó tranquilo
[ói] correspondente à grafia õe: põe, sermões.
saguiguaçu
[üi] correspondente à grafia ui: muito.

Ditongos orais e nasais.


Tritongos.
Como as vogais, os DITONGOS podem ser ORAIS e NASAIS, segundo
na:rurcza oral ou nasal dos seus elementos.
Denomina-se TRITONGO o encontro formado de SEMIVOGAL VOGAL + +
+ SEMIVOGAL. De acordo com a natureza (oral ou nasal) dos seus compo-
l. São os seguintes os DITONGOS ORAIS DECRESCENTES: nentes, classificam-se também os TRITONGOS em ORAIS e NASAIS.

[ai] : pai
[<xi] : sei, no português normal de Portugal I. São TRITONGOS ORAIS:
[aw] : mau
[ei] : sei, no português normal do Brasil e em falares meridionais de [wai] : Umguai
Portugal [w<xil : ellxaguei, no português normal de Portugal
[ei] : paPéis [weil : enxaguei, no português norllli\l do Brasil e em falares meridionais
[ew] fI'CU
de Portugal
[ew] : céu [wiw] : de/illquiu
pr
, fONÉTICA E FONOLOGIA
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuts CONTEMPORÂNEO 41

SÍLABA
2. São TRITONGOS NASAIS

[wiiw] correspondente às grafias fIiIo, liam: saguão, enxáguam. Quando pronunciamos lentamente uma palavra, sentimos que não o
[wiij] correspondente, no português normal de Portugal, à grafia lIem fazemoS separando um som de outro, mas dividindo a palavra em pequenos
(em posição final de palavra): delinquem. segmentos fónicos que serão tantos quantas forem as vogais. Assim, uma
[wej] correspondente, no português normal do Brasil e em falares meri- palavra como
dionais de Portugal, à grafia lIem (em posição final de palavra):
alegrou,
delinquem.
[wõj] correspondente à grafia IIÕe: saguões. não será por nós emitida

a-l-e-g-r-o-u
mas SIm:
Hiatos.
a-le-grou
Dá-se o nome de HIATO ao encontro de duas vogais. Assim, compa-
rando-se as palavras pais (plural de paI) e país (região), verificamos que: A cada vogal ou grupo de sons pronunciados numa s6 expiração damos
o nome de SfLABA.
a) na primeira, o encontro ai soa numa s6 silaba: ['paiSl. A SÍLABA pode ser formada:
b) na segunda, o a pertence a uma sllaba e o i a outra: [pa'in.
a) por uma vogal, um ditongo ou um tritongo:
A passagem que, por vezes, se observa de um hiato da pronúncia normal
a ditongo no interior da palavra dá-se o nome de SINÉRESE. E chama-se é eu uail
DIÉRESE o fen6meno contrário, ou seja a transformação de um dito'_Jo nor-
mal em hiato. b) por uma vogar, um ditongo ou um tritongo acompanhados de
Quando a ditongação do hiato se verifica entre vocábulos, diz-se que consoantes:
há SINALEFA. a-plau-dir trans-por U-ru-guai
Estes fen6menos têm importância particular no verso.
Classificação das palavras quanto ao número de silabas.

Dfgrafos. Quanto ao número de SÍLABAS, classificam-se as palavras em MONOS-


SfLABAS, DISSÍLABAS, TRISSÍLABAS e POLISsfLABAS.
Não é demais recordar ainda uma vez que não se devem confundir MONOSSÍLABAS, quando constituídas de uma s6 sllaba:
CONSOANTES e VOGAIS com LETRAS, que são sinais representativos daque-
.les sons. a eu mão
ti grou quais
Assim, nas palavras carro, pêssego, chave, malho e cOl/hoto as letras rr, Si,
ch, Ih e nh representam uma s6 consoante. Também não se pode afumar DISSÍLABAS, quando constituldas de duas sílabas:
que exista ENCONTRO de CONSOANTES em palavras como campo e ponto,
ru-a he-rói sa-guão
embora a análise, em fonética experimental, de palavras como estas revele á-gua li-vro so-nl1ar
a existência de um resíduo de consoante nasal imperceptivel ao ouvido;
o ,,/ e o 11 funcionam portanto nelas essenciaimente como sinal de nasali- TRISsfLABAS, quando constituídas de três slIabas:
dade da vogal anterior, equivalendo, no caso, a um TIL (cãpo, põto).
a-lu-no Eu-ro-p. ban-dci-ra
A esses grupos de letras que simbolizam apenas um som dá-se o nome cri-an-ça por-tu-guês cn-xa-guou
de OfGRAFOS.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO foNÉTICA E FONOLOGIA 43
42

POLISSÍLABAS, quando constituídas de mais de três sílabas: PROPAROXÍTONAS, ou esdrúxulas, quando o acento recai na antepe-
núltima sílaba:
es-tu-dan-te u-m-ver-si-da-de
li-ber-da-de em-pre-en-di-men-to aritmética lâmina público
exército pêssego quilómetro
ACENTO TÓNICO
2. Quando se combinam certas formas verbais com pronomes áto-

Examinemos este período de Raul Bopp: nOS, formando um só vocábulo fonético, é possivel o acento recuar mais
uma sílaba:
Dias e noites os horizontes se repetem.
amávamo-lo faça-se-Ihe
Nele distinguimos, numa análise fonética elementar, as sílabas ACEN-
TUADAS (em normando) das INACENTUADAS (em romano). Diz-se BISESDRÚXULA a acentuação dessas combinações.
A percepção distinta das sílabas acentuadas (t6nicas) das inacenruadas
(átonas) provém da dosagem maior ou menor de certas qualidades físicas 3. Os MONOSsfLABOS podem ser ÁTONOS oU T6NIcos.
que, vimos, caracterizam os, sons da fala humana: ÁTONOS são os pronunciados tão fracamente, que, na frase, precisam
a) a INTENSIDADE, isto é, a força expiratória com que são pronunciados; apoiar-se no acento tónico de um vocábulo vizinho, formando, por assim
b) o TOM (ou alrura musical), isto é, a frequência com que vibram dizer, uma sllaba deste. Por exemplo:
as cordas vocais na sua emissão;
c) o TIMBRE (ou metal de voz), isto é, o conjunto sonoro do tom fun- Diga-me I o preço I do livro.
damentaI e dos tons secundários produzidos pela ressonância daquele nas
T6NICOS são os emitidos fortemente. Por terem acento pr6prio, não
cavidades por onde passa o ar;
necessitam apoiar-se noutro vocábulo. Exemplos: cá, flor, mOIl, mão, mli"
d) a QUANTIDADE, isto é, a duração com que são emitidos.
li/i"" pór, vou, etc.
Assim, pela INTENSIDADE, os sons podem ser FORTES (t6nicos) ou FRA-
COS (átonos); pelo TOM, serão AGUDOS (altos) ou GRAVES (baixos); pelo
TIMBRE, ABERTOS ou FECHADOS; pe1a QUANTIDADE, LONGOS OU BREVES. Valor distintivo do acento t6nico.
Em geral, porém, esses elementos estão intimamente associados, e o
conjunto deles, com predominância da intensidade, do tom e da quanti- Pela variabilidade da sua posição, o acento pode ter em porruguês valor
dade, é que se chama ACENTO T6NICO. distintivo, fonol6gico.

Classificação das palavras quanto ao acento t6nico. Comparando, por exemplo, os vocábulos:

I. Quanto ao ACENTO, as palavras de mais de uma silaba classificam-se dúvida I duvida


em OXÍTONAS, PAROxíTONAS e PROPAROxfTONAS.
OXÍTONAS, ou agudas, quando o acento recai na última sílaba:
percebemos que a poslçao do acento tónico é suficiente para estabelecer
café funil Niterói uma oposição, uma distinção significativa.
dispor mandacaru parabéns

P ARoxiTONAS, ou graves, quando o acento recai na penúltima sílaba: Acento principal e acento secundário.
baia escola retorno
brasileiro heróico tritongo Normalmente os vocábulos de pequeno corpo s6 possuem uma sflaba
r 44 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS

acentuada em que se apoiam as demais, átonas. Os vocábulos longos, prin.


cipalmente os derivados, costumam no, entanto apresentar, além da sflaba
4.
tónica fundamental, uma ou mais subtónicas.
Dizemos, por exemplo, que as palavras decididamente e inacreditavel1lJent,
são PARoxíTONAS, porque sentimos que em ambas o acento básico recai
na penúltima sllaba (1llen). Mas percebemos também que, nas duas pala.
Ortografia
vras, as sílabas restantes não são igualmente átonas. Em decididamente, a sHaba
·di-, mais fraca do que a sllaba -men-, é sem dúvida mais forte do que as
outras. Em inacreditave/I/Jente, as sllabas -ere- e -ta-, embora mais débeis do
que a sllaba -men-, são sensivelmente mais fortes que as demais. Dal con.
siderarmos PRINCIPAL o acento que recai sobre a sílaba -men- (nos dois exem~
pios) e SECUNDÁRIOS os que incidem sobre a sllaba -di- (em decididamente) LETRA E ALFABETO
ou sobre as sllabas -ere- e -ta- (em inacreditavelme1Jte).
I. Para reproduzirmos na escrita as palavras da nossa llngua emprega-
mos um certo número de sinais gráficos chamados LETRAS.
f:nclise e próclise. O conjunto ordenado das letras de que nos servimos para transcrever
os sons da linguagem falada denomina-se ALFABETO.
2. O ALFABETO da lingua portuguesa consta fundamentalmente das
Denomina-se ÊNCLISE a situação de uma palavra que depende do acento
seguintes letras:
tónico da palavra ant~rior, com a qual forma, assim, um todo fonético,.•
PRÓCLISE é a situação contrária: a vinculação de uma palavra átona à
a b c d e f g h i j 1m n o p q r s t- u v x Z
vra seguinte, a cujo acento tónico se subordina. São PRocLfncos, por exem.
pio, o artigo, as preposições e as conjunções monossilábicas. São geral.
mente ENCLÍTICOS os pronomes pessoais átonos. Além dessas, há as letras k, 1P e y, que hoje só se empregam em dois
casOS:
a) na transcrição de nomes próprios estrangeiros e de seus deriva-
Acento de insistência. dos portugueses:

Franklin Wagner Byron


Além dos acentos normais (PRINCIPAL e SECUNDÁRIO), uma palavra frankliniano wagnerlano byroniano
pode receber outro, chamado de INSISTÊNCIA, que serve para realçá-Ia em
determinado contexto, quer impregnando-a de afectivid.,de (emoção), quer b) nas abreviaturas e nos símbolos de uso internacional:
dando ênfase à ideia que expressa. Dal distinguirmos dois tipos de ACENTO
DE INSISrlNCIA: o ACENTO AFECTIVO e o ACENTO INTELEC'I'UAL. K. ( = potássio) kg (= quilograma) km (= quilómetro)
W. (= oeste) w (=watt) yd. (= jarda)

Observa9ão:
o h usa-se apenas:
a) no inicio de certas palavras:

haver hoje homem


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊs
46 ORTOGRAFIA
47

b) no fim de algumas interjeições: 3. O ACENTO CIRCUNFLEXO é empregado para indicar o timbre semi-
ah! oh! uh! fechado das vogais tónicas a, c e o:

c) no interior de palavras compostas, em que O segundo elemento, iniciado câmara cânhamo hispânico
por h, se une ao primeiro por meio de hifen: mês dêem fêmea
avô pôs cômara
anti-higiénico pré-histórico super-homem

d) nos dlgrafos ,h, Ih e nh: o til.


chave talho bauho
O TIL (~) emprega-se sobre o a e o o para indicar a nasulidade dessas
vogais:

NOTAÇÕES LÉXICAS maçã mãe pão


caixões põe sermões
~
Além das letras do alfabeto, servimo-nos, na llngua escrita, de um
certo número de sinais auxiliares, destinados a indicar a pronúncia exacta
da palavra. Estes sinais acessórios da escrita, chamados NOTAÇÕES LÉXICAS, o trema.
são os seguintes:
O TREMA ( ••) só se emprega na ortografia em vigor no Brasil, em que
assinala o ti que se pronuncia nas sílabas gue, gui} que e qui.'
O acento.
agüentar cinqüenta
o ACENTO pode ser AGUDO n, GRAVE (') e CIRCUNFLEXO C). argüição tranqüilo

I. O ACENTO AGUDO é empregado para assinalar:


o ap6strofo.
a) as vogais tónicas fechadas i e ti:
ai horrlvel O APÓSTROFO (') serve para assinalar a supressão de um fonema - geral-
físico
baú açúcar lúgubre mente a de uma vogal- no verso, em certas pronúncias populares ou em
palavras compostas ligadas pela preposição de:
b) as vogais tónicas abertas e semi-abertas a, c e o: CIoa esp'rança 'ti bem! (popular)
há pau-d'a1ho pau-d'arco galinha-d'água
amável pálido
pé tivésseis exército
pó herói inóspito
A cedilha.
2. O ACENTO GRAVE é empregado para indicar a crase da preposi-
ção a com a forma feminina do artigo (a, as) e coni os pronomes demons-
A CEDILHA (,) coloca-se debaixo do " antes de a, o e lI, para representar
trativos a(s), aql/clc(s), aql/cla(s), aql/ilo: a fricativa linguodental surda [s]:
à àquele(s) àquilo
às caçar maciço açúcar
àquela(s) praça cresço muçulmano
rr~
BREVE GRAMÁTICA PORTUGUÊS ORTOGRAFIA
48 49

o hifen. 6.0) nos compostos ·com sem, além, aquéllJ e recéllJ: seIJJ-cerillJÓllia} além-
_lI/ar, aquém-fronteiras} recém-casado.
o HÍFEN (-) usa-se: Advirta-se, por fim, que as abreviaturas e os derivados desses com-
a) para ligar os elementos de palavras compostas ou derivadas postoS conserva~ o ~: fen.-c." (= tenente-coronel), pára-quedista, bem-
prefixação: ~te-vizinhoJ sem-cenmonzoso.

couve-flor guarda-marinha pão-de-ló


pré-escolar super-homem ex-director Emprego do bifen na prefixação.

b) para unir pronomes átonos a verbos: o prefixo escreve-se geralmente aglutinado ao radical. Há casos, porém,
em que a ligação dos dois elementos se deve fazer por HÍFEN. Assim, nos
ofereceram-me retive-o levá-Ia-ei
vocábulos formados pelos prefixos:
a) contra-, extra-, infra-, intra-, supra- e ultra-, quando segnidos de
c) para, no fim da linha, separar uma palavra em duas partes:
radical iniciado por vogal, h, r ou s: contra-almirante, extra-regimental, infra-
estudan-fte estu-fdante es-ftudante -escritOr intra-hepático, supra-sumo, ultra-rápido; exclni-se a palavra extraordiná-
rio, cuja aglutinação está consagrada pelo uso;
b) ante-, anti-, arqui- e sobre-, quando seguidos de radical principiado
Emprego do bifen nos composto.s. por h, r ou s: ante-histórico, anti-higiênico, arqui-rabino, sobre-saia,.
c) super- e inter- quando segnido de radical começado por h ou r:
o emprego do HÍFEN é simples convenção. Estabeleceu-se que «s6 Jltper-holJlem, super-revista, inter-hclénico} inter-resistente/
ligam por HÍFEl" os elementos das palavras compostas em que se mantém. d) ah-, ad:, oh-, sob- e sub-, quando seguidos de radical iniciado por
a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas r: flb-rogar, ad-rogação, ob-reptício, sob-roda, sub-reino;
mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria. e) sota-, soto-, vice- (ou vizo-) e ex- (este último com o sentido de ces-
acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido». sarnento ou estado anterior): sola-piloto, sOlo-ministro} vice-reitor} vizo-rei,

I
Dentro desse principio, deve-se empregar o HÍFEN: ex-director;
f) pós-, pré- e pró, quando têm significado e acento pr6prios; ao con-
!,O) nos compostos, cujos elementos, reduzidos ou não, perderam trário das formas hom6grafas inacentuadas, que se aglutinam com O radical
a sua significação pr6pria: água-marinha, arco-íris, Pé-de-meia (= pecúlio), seguinte: pós-diluvial/o, mas pospor,. pré-escolar, mas preestabelecer,. prá-briti!-
pára-choqlle, bel-prazer, és-slleste,. Ilico, mas procôfliul.
2.0) nos compostos com o primeiro elemento de forma adiectiva,1
reduzida ou não: afro-asiático, dólico-Iol/ro, galego-por/ltguês,
lúrico-geográfico, íllfero-allterior, la/iI/o-dmericallo, II/so-brasileiro, lusitano-castelhano.1 Emprego do bifen com as formas do verbo haver.
3.0) nos compostos com os radicais (ou pseudoprefixos) auto-,
p/'%-, pselldo- e ·semi-, quando o elemento segninte começa por vogal, Em Portugal, a ortografia oficialmente adoptada impõe o emprego do
ou s: ollto-educação} allto-retrato} auto-sugestão} neo-esco/ástica} neo-humani.fmo, HíFEN entre as formas monossilábicas de haver e a preposição de: hei-de, hás-de,
-repllblicallo, proto-árico, pr%-histórico, proto-renascença, proto-sulfure/o, pSCI/d~1 há-de, hão-de. No Brasil, não se usa nestes casos o HiFEN, escrevendo-se:
-herói, psel/do-revelação, pselldo-sábio} selJ/i-holJ/eIlJ, semi-recta, semi-selvagem; hei de, hás de, há de, hão de.
4.0) nos compostos com os radicais pall- e mal-, quando o elemento.
seguinte começa por vogal ou h: pall-americano, pan-heléllico, mal-edllcado, Partição das palavras no fim da linha.
-blllJ/orado;
l.O) nos compostos com bem, quando o elemento seguinte Quando não há espaço no fim da linha para escrevermos uma pala-
autónoma, ou quando a pronúncia o rel1uer: bC1JJ-d~toso} bClIJ-aventurallfo;1 vra inteira, podemos dividi-la em duas partes. Esta separação, que se indica
,r-
BREVE GRAMÁTICA DO 'PORTUGUÊS ORTOGRAFIA 51

por meio de um HÍFEN, obedece às regras de silabação. São inseparáveis Os


z.a Embora o sistema ortográfico vigente o permita, não se deve escre-
ver no princípio ou no fim da linha uma só vogal. Evite-se, por conseguinte,
elementos de cada sllaba. a partição de vocábulos como áglla, ai, aqui, baú, rua, etc. Melhor será tam-
Convém, portanto, serem respeitadas as seguintes normas: bém que se dividam vocábulos como abrasar, agllcntar, agradar, cquidadc, orto-
grafia, pavio e outros apenas nos lugares indicados pelo HÍFEN:
1.a) Não se separam as letras com que representamos:
a) os ditongos e os tritongos, bem como os grupos ia, ie, io, oa, lia, abra-sar aguen-tar agra-dar
equi-da-de or-to-gra-Ea pa-vio
fie e tiO, que, quando átonos finais, soam normalmente numa sílaba (DITONGO
CRESCENTE), mas podem ser pronunciados em duas (HrATo):

au-to-ta Pa-ra-guai má-goa Ditongos.


mui-to gló-ria ré-gua
par-tiu cá-rie té-nue Vimos no capitulo anterior que, normalmente, se representam por
a-guen-tar Má-rio con-ti-guo ie 1/aS serruvogais dos ditongos orais:
Observe-se, porém, que:
b) os encontros consonantais que iniciam sllaba e os dígrafos ch,
~

Ih e nh: a) a La, .2.. 3 e 3. 3 pessoa do singular do presente do conjuntivo, bem


pneu-má-ti-co a-bro-lhos ra-char como a 3.- pessoa do singular do imperativo dos verbos terminados em
psi-có-lo-go es-cla-re-cer fi-lho -oor escrevem-se com -oe, e não -oi:
mne-mó-ni-co re-gre-dir ma-nhã
abençoe amaldiçoes perdoe
2.') Separam-se as letras com que representamos:
b) as mesmas pessoas dos verbos terminados em -Nar escrevem,se
a) as vogais de hiatos: com -lIe, e não -ui:
co-or-de-nar fi-e! ra-i-nha
cultue habitues preceitue
ca-i-eis mi-ú-do sa-ú-de

b) as consoantes segnidas que pertencem a sllabas diferentes:

ab-di-car bis-ne-to sub-ju-gar REGRAS DE ACENTUAÇÃO


ahs-tra-ir oc-ci-pi-tal subs-cre-ver

3. a ) Separam-se também as letras dos dígrafos rr, ss, se, sf e xc: A acentuação gráfica obedece às seguintes regras:

ter-ra des-cer cres-ça ..") Assinalam-se com o acento agudo os vocábulos oxítonas que
pro-fes-sor abs-ces-so ex-ce-der terminam em a aberto, e e o semi-abertos, e com acento circunflexo os que
acabam em e e o setnifechados, seguidos, ou não, de s: cajá, hás, jacaré, pés,
Observações: scridó, sós,. dendê, lês, trisovô,. etc.
1.& Quando, a palavra já se escreve com HÍFEN - quer por ser composta,
quer por ser uma. forma verbal seguida de pronome átono - , e coincidir o Observação:
fim da. linha. com o lugar onde está o HfFEN, pode-se repeti-lo, por clareza,
no inicio da linha seguinte. Assim: Nesta regra se incluem as formas verbais em que, depois de fi, c, O, se assi-
milaram ° r, o s e o Z ao I do pronome lo, la, los, los, caindo depois o pri-
couve = couve-l-flor meiro I: dá~/o, cOII/á-la, fá-lo-á, fê-los, IIJové-los-ia, pô~/os) qllé-Ios) sIIM-los-emos,
unamo~nos = unamo-l-nos trá-Io~ás) etc.
ORTOGRAFIA 53
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
5'
ela é semifechada no presente e aberta no pretérito perfeito do indicativo.
z.-) Todas as palavras proparoxítonas devem ser acentuadas grafi- Assim sendo, nenhuma das formas é acentuada no Brasil, ao passo que, pelo
camente: recebem o acento agudo as que têm na antepenúltima sllaba as sistema ortográfico português, recebe acento agudo a forma do pretérito per-
vogais fi aberta, e ou o semi-abertas, i ou !f; e levam acento circunflexo aque. feito: au/amos (presente), amámos (pretérito perfeito).
las em que figuram na sílaba predominante as vogais a, e, o semifechadas: 3.a. Também no português-padião do Brasil a forma demos pronuncia-se
com e seroifechado [e], seja ela r.a pessoa do presente do conjuntivo ou do
ára/J~) exército, gótico, límpido, IO/lvaríamos, público, úfl,vricoj lâlJJina, lâmpada,
pretérito perfeito do indicativo, razão por que não recebe nenhum acento
devêssemos, Jéll,,,rcs, pêlldllJa, fôlego, recôlldito, etc. gráfico. Já no português-padrão europeu, a vogal é setnifechada no pre-
sente do conjuntivo~[e] e semi-aberta no pretérito perfeito do indicativo [e],
pelo que a ortografia portuguesa manda apor-lhe um acento agudo no segundo
Observações: caso. Dai as grafias demos (presente do conjuntivo) e démos (pretérito perfeito
do indicativo).
1,80 Incluem-se neste preceito os vocábulos terminados em encontros vocá.. 4. 3 .As palavras paroxítonas terminadas em -00, apesar de terem a mesma
licos que costumam ser pronunciados como ditongos crescentes: área, CSPOIJ- pronúncia em todo o dominio do idioma, não são acentuadas graficamente
lâueo, ignorância, illJtlndlcic, lírio, mágoa, régua, vácuo, etc. no português de Portugal, ao passo que no português do Brasil recebem um
2.:80 Nas palavras proparoxitonas que têm na antepenúltima silaba as vogais acento circunflexo no primeiro o. Assim: eo/0o, voa (em Portugal), enjôo, vôo
a, e e o seguidas de UI ou n, estas são, no português-padrão do Brasil, semprc (no Brasil).
semifechadas (em geral nasa~izadas), razão por que levam acento circunflexo. 5. a .."....Tanto em Portugal como no Brasil emprega-se o acento circunflexo
No português-padrão de Portugal podem ser ou semifechadas ou semi-abcr- sobre a vogal tónica setnifechada da forma pôde, do pretérito perfeito do indi-
tas, pelo que a ortografia em vigor manda que se lhes ponha acento circun- cativo, para distingui-la de pode, do presente do indicativo, com vogal tónica
flexo, se são semifechadas, e acento agudo, se semi-abertas. Por isso, de acordo semi-aberta.
com a pronúncia-padrão, escrevem-se no Brasil: âmago, ânimo, fêmea, sêmola, 6. a Pelos sistemas ortográficos vigentes nos dois pa1ses, os paroxítonos
cômoro e, da mesma forma, acadêmico, anêmona, cênico, Amazônia, Antônio, fenô- terminados em -11m, -uns recebem acento agudo na silaba tónica: á/bllm, álbllns,
Uleno, q/ti/ômetro; ao passo que em Portugal, também de acordo com a pronún- etc.
cia-padrão, se adoptam as grafias â1llago, ânimo, feíllCa, sêlllo/a, cômoro, mas 7. 3 Também é comum aos dois sistemas ortográficos não se acentuarem os
acadéolico, anêulona, cénic(J, Amazónia, António, fenómeno, qlfi/ótJ/etro. pseudoprefixos paroxítonos terminados em -i: semi-oficial, etc.

3-") Os vocábulos paroxítonos finalizados em i ou ti, seguidos, ou 4. a) Põe-se acento agudo no i e no ti t6nicos que não formam ditongo
não, de s, marcam-se com acento agudo quando na sHaba tónica figuram com a vogal anterior: aí, balaústre, cafeina, cais} contrai-Ia} distribui-lo) egoista}
a aberto, e ou o semi-abertos, i ou 11: lápis, béribéri, miosótis, iris, jlÍri. faísca} heroina} juizo, país} peúga, saía, salMe, timbolíua, vitíuo, etc.

Observações: Observações:

La. Paralelamente ao que ocorre com as palavras proparoxitonas, nas pala- 1. 3 Não se coloca o acento agudo no i e no 11 quando, precedidos de vogal
vras paroxítonas que têm na penúltima silaba as vogais a, e e o seguidas de que com eles não forma ditongo, são seguidos de I, IIJ} li, r ou Z que não ini-
1/1 ou li, estas são, no português-padrão do Brasil, sempre semifechadas (em
ciam silabas e, ainda, nh: adail, contribllinte, demillrgo, juiZ} paul, retribJlirdes,
geral nasalizadas), pelo que levam acento circunflexo. No português-padrão ruim, ventoinha, etc.
2.(1, Também não se assinala com acento agudo a base dos ditongos.tóni-
de Portugal podem ser ou sernifechadas ou semi-abertas, pelo que recebem
acento circunflexo, se são semifechadas, e acento agudo, se semi-abertas. Estas cos ill e ui quando precedidos de vogal: atraiu, contriblliu, palfis, etc.
as raZões por que se adaptam, no Brasil, as grafias âl1llS, certâflJen, e também
fÔlllllr, Fêllix, tênis, ônl/s, bônl/s; ao passo que, em Portugal, se escrevem âlJlls,
certáflJen, mas féIJlllr, Fénix, tênis, ónl/s, bónus.
5. a) Assinala-se com o acento agudo o ti t6nico precedido de g ou q
c seguido de e ou i: argúi, argúis, averigúe, averigúes, ohliqúe, obliqúes, etc.
.
2..(1, Entre as palavras paroxitonas, cumpre ressaltar o caso da I,a. .pessoa do
plural dos verbos da L(I, conjugaçlo, que, no presente e no pretérito perfeito
do indicativo, apresentam a tónico seguido de m. No português-padrão do 6,::1.) Põe-se o acento agudo na base dos ditongos semi-abertos éi, éu,
Brasil (e em vários dialectos portugueses meridionais) a vogal é igualmente ói, quando tórucos: bacharéis, chaPéu,Jibóia, lóio) paral/óico, rouxil/óis, etc.
sernlfechada nos dois tempos, enquanto no português-pa?-rão de Portugal
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS
54 ORTOGRAFIA 55

"" Observação:
No português-padrão do Brasil distinguem-se na pronúncia dois grupo,
Observação:
Se é átona a sHaba onde figura O til, acentua-se graficamente a predominante:
de palavras terminadas em -eia: um em que .a vogal é semi-aberta e VClll acórdão} bênção} órfã, etc.
marcada com acento agudo: assembléia) hebréia, idéia; outro em que a vogal é
scmifcchada c) por conseguinte, não se acentua graficamente: feia, meia) pas_
seia. No português-padrão de Portugal não se diferenciam forucamente estes n. a) No Brasil, de acordo com a ortografia oficial em vigor, empre-
dois grupos de palavras, razão por que o e nuuca vem acentuado. O ditongo a-se o trema no ti que se pronuncia depois de g ou q e seguido de e ou i:
neste caso é sempre pronuuciado [ai]. ;gncntar, argüição, eloqijente, tranqüilo, etc. Em Portugal, o emprego do trema
foi abolido em todos os casos a partir do acordo ortográfico de '94 j.
7.a.) Marca-se com o acento agudo o e da terminação em ou uns das
palavras oxItonas: alguém, armazém} convém} convéns, detém-lo, mantém-na,.para_ 12.8.) Recebem acento agudo os seguintes vocábulos que estão em
bélls, refélJI-no, também, etc. homografia com outros: ás (s. m.), cf. às (contr. da prep. a com o art. ou
pron. as); pára (v.), cf. para (prep.); pé/a, pêlas (s. f. e v.), cf. pela, pelas (agI.
da prep. per com o art. ou pron. Ia, las); Pêlo (v.) cf. pelo (agI. da prep. per
Ob~ervações: com o art. ou pron. lo); pêra (eI. do s. f. comp. Pêra-fita), cf. pera (prep.
I.a Não se acentuam: graficamente os vocábulos paroxítonos finalizados nnt.); pólo, pólos (s. m.), cf. polo, polos (agI. da prep. por com o art. ou pron.
por DIII ou em: anlcf/I, i!lIogens} jovens) nfl1)cns, etc. lo, los); etc.
2." A terceira pessoa' do plural do presente do Indicativo dos verbos ler,
vir e seuS compostos recebe acento circunflexo no e da sllaba tónica: (eles) '3'") O acento grave assinala as contracções da preposlçao fi com
contêlll, (elas) convêlll, (eles) têUl, (elas) Vêlll, etc. o artigo a e com os pronomes demonstrativos a, aquele, aqueloNtrO} aq1lilo,
;.& Conserva-se, por clareza gráfica, o acento circunflexo do singular crI,
as quais se escreverão assim: à} às} àquele, àquela, àqueles} àqueles, àtj/lilo} àqtlc-
dê, lê, vê no plural crêe/ll, dêem, lêslll, vêem e nos compostos desses verbos, como
descrêem, desdêenl, relêem, revêem, etc. 10/llro) àqueloutra} àqueloutros, àqueloutras.

8.a) Sobrepõe-se o acento agudo ao a aberto, ao e ou O semi-abertos


e ao i ou ti da penúltima sllaba dos vocábulos paroxítonos que acabam em
I, n, r e x,' e o acento circunflexo ao a, e e o semifechados: aflÍcar, afável, aM· DIVERGf:NCIAS ENTRE AS ORTOGRAFIAS
me», córtex, éter, hifen, aijôfar, âmbar, cânon, Ixul, etc. OFICIALMENTE ADOPTADAS EM PORTUGAL E NO BRASIL

Além das divergências atrás mencionadas que dizem respeito ao emprego


Observação: do trema, do hlfen e, principalmente, da acentuação - divergência esta que,
Não se acentuam graficamente os prefixos paroxítonos terminados em r: como vimos, corresponde, em geral, à diversidade de pronúncia de certas
iIJler-h/lll1olJO, s/per-hollJellJ, etc. vogais tórucas -, persiste ainda uma importante diferença entre os sistemas
ortográficos oficialmente adaptados em Portugal! e no Brasil2: o tratamento
9. ) Marca-se com o competente acento, agudo ou circunflexo, a das chamádas «consoantes mudas».
0

vogal da sílaba tónica dos vocábulos paroxítonos acabados em ditongo oral: No Brasil, por disposição do For1J1t1lário Ortográfico de '943, as consoan-
tÍgeis} devêreis} escrcvêsseis, fadeis, férteis, fósseis, fôsseis, imóveis, jóquei, pênsciJ,
tes etimológicas /inais de sílaba (implosivas), quando não articuladas - ou
p/{sésseis, q/{isésseis, tínheis, tlÍneis, IÍteis, variáveis, etc. ~

10.0 )Usa-se o til para indicar a nasalização, e vale como acento tónico 1 Em Portugal, a ortografia oficialmente adoptada é a do A(ordo Orlogrdfko de 1945, assinado
em Lisboa, a 10 de Agosto de 1945. por uma Comissão composta de membros da Acadcmia das
se outro acento não figura no vocábulo: afõ, cflpilões, caraf(io, devofões,põclJ/} etc. Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras. Essc Amrdo não entrou em vigor no Bm~
sil por não ter sido ratificado pelo Congrcsl'io Nacional.
2 No Brasil vigoram oficialmente as normas do ForlllllM,-io Or/ogrtífico de 1943, consubs4
r-- j6 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS

seja, quando «mudas» - deixaram de se escrever. Em Portugal, no


em conformidade com o texto do Acordo de 1945, continuaram a ser grafa.
entanto'l
5.
das sempre que se seguem às vogais átonas a (aberta), e ou o (semi-abertas).
como forma de indicar a abertura dessas vogais3. Por uma razão
rência, mantêm-se tais consoantes em sílaba tónica nas palavras pertencen.1
tes :1 mesma família ou flexão. Classe, estrutura e formação
Essa forma de distinguir, no português europeu, as pretónicas
tas ou semi-abertas das reduzidas, não se justifica no português do Brasil, de palavras
em cuja pronúncia-padrão não há pretónicas reduzidas, tendo-se as vogais
nesta posiçãO neutralizado num a aberto e num e ou num o semifechados.
Daí escrever-se em· Portugal: aeto, aCfão, aceionar, accionista, baptismo, bap/i.
zar, dirce/or, correcto, correcfão, óptimo, optimismo, adaptar, adopção; e no Palavra e morfema.
si!: ato, ação, acionar, acionista, batismo, batizar, diretor, correto, correção, ótil/JOj
oti1llismo) adotar, adoção. I. Uma lingua é constitulda de um conjunto iniinito de frases. Cada uma
Existe, no entanto, u1!l certo número de palavras em que a consoante delas possui uma face sonora, ou seja a cadeia falada, e uma face significa-
final de sllaba é articulada tanto em Portugal como no Brasil e, nesse caso, tiva, que corresponde ao seu conteúdo. Uma frase, por sua vez, pode ser
a ortografia dos dois países é uniforme. Assim: autóctone, compacto, aptoJ diddida em unidades menores de som e significado - as PALAVRAS-
in,pto, etc. C em unidades ainda menores, que apresentam apenas a face significante

Raríssimos são os exemplos que se apontam em que esta consoante é _ os FONEMAS.


efectivamente pronunciada em Portugal e não no Brasil, como jacto (em As palavras são, pois, unidades menoreS que a frase e maiores que o
Portugal) e jato (no Brasil). fonema. Assim, na frase
Finalmente, há casos em que se verifica uma oscilação em ambas as
variantes do português e nos quais a ortografia brasileira (e não a portu. Évora! Ruas ermas sob os céus
guesa) admite grafias duplas: asp,cto f asp,to, dactilografia f datilografia, inf,ç· Cor de violetas roxas ...
ção f inj'ção, etc. (Florhela Espanca, S, '49')

distinguimos dez palavras, todas com independência ortográfica. E em cada


u01a dessas palavras identificamos um certo número de fonemas. Por exem-
plo, cinco em Évora:

fef fvf fof frf faf,

e quatro em rIJas:

frf fuf faf fsf


~
2. Existem, no entanto, unidades de som c conteúdo menores que
t.,tncindas no Vocobllldrio OrJogrójico J publicado no mesmo ano, com as leves alterações determi· as. palavras. Assim, em rllas temos de reconhecer a existência de duas uni-
nadas pela Lei n.O 5765, de 18 de Dezembro de 1971. dades significativas: ma e -s. O primeiro elemento - I'IId - também se
3 Há, porém, no português-padrão de Portugal vogais pretónicas. provenientes de antiga
crase, que conservam o timbre aberto ([aD ou semi-aberto ([tI, [~D. sem que o facto seja assinalado emprega como palavra isolada ou serve para formar outras palavras iso-
na escrita. Assim: padtiro, jMgatlaJ corar. ladas: arrllflça, arrJJtJlIJenlo} etc. Já a forma plural -s, que vai aparecer no final
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS
l8 CLASSE, ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS 19

de muitas outras palavras (erma", céus, violetas, roxas, etc.), nunca Já a significação dos morfemas gramaticais é interna, pois deriva das
realizar-se como palavra individual, autónoma. relações e categorias levadas em conta pela IIngua. Assim, na nossa frase-
A essas unidades significativas minimas dá-se o nome de MORFEMA. .exemplo, o artigo o, as preposições de e sob, a marca de feminino -a (rox-a,
cr/II-a) e a de plural -s (rua-s) erma-s} o-s} cén-s} violeta-s} roxa-s).
3. Os morfemas podem apresentar variação, por vezes acentuada,
nas suas realizações fonéticas. É o caso do morfema plural do português, 3. Outras características, não semânticas, opõem os morfemas lexi-
cuja pronúncia está sempre condicionada à natureza do som seguinte. cais aoS gramaticais. Aqueles são de número elevado, Indefinido, em vir-
Nos falares de Lisboa e do Rio de Janeiro, por exemplo, o -s plural tude de constitulrem uma classe aberta, sempre passível de ser acrescida de
de casas ~ssume forma fonética diferente em cada um dos três enunciados: noVOS elementos; estes pertencem a uma série fechada, de número defi-
Casas amarelas. nido e restrito no idioma. Consequentemente, se os examinarmos num dado
Casas bonitas. texto, verificaremos que os primeiros apresentam frequência média baixa,
Casas pequenas. em contraste com a frequência média alta dos últimos.

Realiza-se:
Classes de palavras.
a) como [z], ao ligar-se à vogal inicial da palavra amarelas;
b) como [3], antes da palavra bonitas, iniciada por consoante sonora; l. Estabelecida a distinção entre morfema lexical e morfema grama-
c) como U], antes da palavra pequenas, iniciada por consoante surda. tical, podemos agora relacionar cada um deles com as CLASSES DE PALAVRAS.
A última realização mé também a que apresenta o morfema de plural São morfemas lexicais os substantivos, os adjectivos, os verbos e os
advérbios de modo. São morfemas gramaticais os artigos, os pronomes,
diante de pausa, como podemos observar nas formas amarelas, bonitas e
pequeI/as dos exemplos citados. os numerais, as preposições, as conjunções e os demais advérbios, bem
como as formas indicadoras de número, género, tempo, modo ou aspecto
A essas manifestações fonéticas diferentes de um único morfema dá-se
verbal.
o nome de VARIANTE DE MORFEMA ou ALOMORFE.

2. As classes de palavras podem ser também agrupadas em VARIÁ-

Tipos de morfemas VEIS e INVARIÁVEIS, de acordo com a possibilidade ou a impossibilidade de


se combinarem com os morfemas flexionais ou desinências.
l. Quando, na análise da palavra mas, distingnimos dois morfemas, São variáveis os substantivos, os adjectivos, os artigos e certos nume-
observamos que um deles - rua - forma por si s6 um vocábulo, enquanto rais e pronomes, que se combinam com morfemas gramaticais que expres-
o morfema -s não tem existência aut6noma, aparecendo sempre ligado a um sam o género e o número; o verbo, que se liga a morfemas gramaticais deno-
morfema anterior. Os lingnistas costumam chamar MORFEMAS LIVRES os tadores do tempo, do modo, do aspecto, do número e da pessoa.
que podem figW:ar sozinhos como vocábulos, e MORFEMAS PRESOS aqueles São invariáveis os advérbios, as preposições, as conjunções e certos
que não se encontram nunca isolados, com autonomia vocabular. pronomes, classes que não admitem se lhes agregue uma desinência.
A interjeição, vocábulo-frase, fica excluída de qualquer das classifi-
2. Quanto à natureza da significação, os morfemas classificam-se em cações.
~
LEXICAIS e GRAMATICAIS.
OS morfemas lexicais têm significação externa, porque referente a factos ESTRUTURA DAS PALAVRAS
do mundo extralingulstico, aos slmbolos básicos de tudo o que os falantes
distinguem na realidade objectiva ou subjectiva. Assim: Radical.
Évora céu roxa tristeza
erma cor rua violeta Ao que chamámos até agora MORFEMA LEXICAL dá-se tradicionalmente
r 60
BREVE GRA~r.{TICA DO PORTUGUES CONTEMPORÂNEO CLASSE, ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS 61

o nome de RADICAL. B o radical que irmana .IS palavras da mesma famUia reiro, noviNho e novamente, encontramos os SUFIXOS:

c lhes transmite uma base comum de significação. -oso, que do substantivo terra forma um adjectivo (terroso);
A ele se agregam, como vimos, os MORFEMAS GRAMATICAIS, que podem -eiro, que do sl,1bstantivo terra forma outro substantivo (terreiro);
ser uma DESINÊNCIA (ou MORFEMA FLEXIONAL), um AFIXO (ou MORFEMA -inho, que do adjectivo novo forma um diminutivo (novinho);
DERIVACIONAL) ou uma VOGAL l·EMÁTICA. -mente, que do feminino do adjectivo novo forma um advérbio (novamente).

Desinência. vogal temática.

As DESINÊNCIAS, OU MORFEMAS FLEXIONAIS, servem para indicar: Na análise da forma verbal renovamos, distinguimos três elementos for-
a) o género e o número dos substantivos, dos adjectivos e de certos mativos:
pronomes; a) o RADICAL: IIOU-
b) o número e a pessoa dos verbos. b) a DESINÊNCIA NÚMERO-PESSOAL: -mos
Assim, no adjectivo er?JJOS e numa forma verbal como rmovamos, temos c) o PREFIXO: re-
as seguintes desinências:
Falta identificarmos apenas a vogal a, que aparece entre o radical 1I0V-

-a, para caracterizar o feminino (em ermos); c a desinência -!/JOS, vogal que encontramos também na forma de infinitivo
-s, para denotar o plural (em trInas); flllllar, entre o radical fU!/J- e a desinência -r.
-mos, para expressar a I,a. pessoa do plural (em renovamos).
Nos dois casos, vemos, ela está indicando que os verbos em causa per-
Há, por conseguinte, em português DESINÊNCIAS NOMINAIS e DESIN!N. tencem à loS conjugação. A essas vogais que caracterizam a conjcgação
elAS VERBAIS. dos verbos dá-se o nome de VOGAIS TEMÁTICAS. São das:

-a-, para os verbos da I.s conjugação (jllm-a-r, reJ/ov-a-mos) I'


-e-, para os da 2." (dev-e-r, fo,,:;e-mos);
Afixo. -i-, para os da 3.& (part-i-r, constrn-f-mos).

OS AFIXOS, ou MORFEMAS DERIVACIONAIS, são elementos que modifi-


C:\ITI geralmente de maneira precisa () sentido do radical a que se agregam.
o RADICAL acrescido de uma VOGAL TEMÁTICA, isto é, pronto para
receber uma desinência (ou um scfix:o), denomina-se TEMA.
OS AFIXOS que se antepõen1 ao radical chamam-se PREFIXOS; os que a ele
se pospõem denominam-se SUFIXOS.
Vogal e consoante de ligação.
Assim, em desterrar e 1'eI10VOJl/OS aparecem os PREFIXOS:

dcs-, que empresta ao primeiro verbo a ideia de separação; Os elementos mórficos até aqui estudados entram sempre na estrutura
rc-, que ao segundo acrescenta o sentido de repetição de um facto. do vocábulo com determinado valor significativo externo ou interno. Há,
porém, outros que são insignificativos, e servem apenas para evitar disso-
OS SUFIXOS, como as desinências, unem-se à parte final do radical. nâncias (hiatos, encontros consonantais) na juntura daqueles elementos.
Mas, enquanto estas caracterjzam apenas o género, o número ou a pessoa Se examinarmos, por exemplo,' os vocábulos gasó!/Jetro e cafeteira, veri-
da palavra, sem lhe alterar o sentido lexical ou a classe, os SUFIXOS trans· ficamos que:
f~rmam substancialmente o radical a que se juntam. Assim, em terroso, ler· +
a) O primeiro é formado de dois radicais - gás- -Ihelro - , ligados
r BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEo
6.

pela vogal-0-, sem valor significativo;


+
b) o segundo é constituído do radical eafé- o sufixo -eira, entre os
6.
quais aparece a consoante insignificativa -t- para evitar o desagradável
hiato -Iê-.
A esses sons, empregados para tornar a pronúncia das palavras mais
fácil ou eufóruca, dá-se o nome de VOGAIS e CONSOANTES DE LIGAÇÃO.
Derivação e composição
FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Palavras primitivas e derivadas.


DERIVAÇÃO PREFIXAL
Chamam-se PRIMITIVAS as palayras que não se formam de nenhuma
outra e que, pelo contrário, permitem que delas se originem novas pala. Os prefixos que aparecem naS palavras portuguesas são de origem
vras no idioma. Assim: latina ou grega, embora norma1mente não sejam sentidos como tais.
pedra Alguns sofrem apreciáveis alterações em contaeto com a vogal e, prin-
fumo mar nOVO
cipalmente, com a consoante inicial da palavra derivante. Assim, o. prefixo
Denominam-se DERIVADAS as que se formam de outras palavras da grego aa-, que indica «privação» (aa-óa;mo) assume a forma a- antes de
lingua, mediante o acréscimo ao seu radical de um prefixo ou um sufixo. consoante: a-palia; ia-, o seu correspondente latino, toma a forma i- antes
de I em: in-Jeliz, in-aelivo; mas i-legal, i-moral.
Assim:
Não se devem confundir tais alterações com as form..o vernáculas,
fumoso marinha novinho pedreiro oriundas de evolução normal de certos prefixos latinos. Assim: a-, de ad-
defumar marear renovar empedrar (a-dofar); et/1- ou en-, de in- (em-barear, ea-terrar).
Na lista a segnir, colocaremos em chave as formas que pode assumir o
Palavras simples e compostas.
mesmo prefixo: em primeiro lugar, daremos a forma originária; em último,
a vernácula, quando a houver.
As palavras que possuem apenas um radical, sejam primitivas, sejam
derivadas, denominam-se SIMPLES. Assim:
Prefixos de origem latina.
mar marinha pedra pedreiro

São COMPOSTAS as que contêm mais de um radical: Prefixo Sentido Exemplificação

qucbrl,l-mar guarda-marinha
pernalta
pedra-sabão
pontapé
pedreiro-livre
vaivém
ab-
abs- } afastamento, separação ................. .
abdicar, abjurar
abster, abstrair

aguardente { amov1vel, aversão
a-
ad- adjunto, advcnticio
FAMÍLIAS DE PALAVRAS a- (ar-, as-) } aproximação, direcção ................. . { abeirar, arribar, assentir
ante_ anterioridade ............................. . antebraço, antepor
Denomina-se FAMfLIA DE PALAVRAS o conjunto de todas as palavras
circum- circum~adjacente, circun-
que se agrupam em torno de um radical comum, do qual se formaram pelos } movimento em torno ................. .
(cirenn-) vagar
processos de derivação ou de composição que estudaremos desenvolvida·
mente no Capitulo seguinte. eis- posição aquém .......................... . cisalpino, cisplatino
DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO 6)
64

Prefixo Sentido Exemplificação Prefixo Sentido Exemplificação

··dade, companhia .............. . compor, conter


com- (con-)} conngul 8Upra- posição acima, excesso ............ o ••••• supradito, supra-sumo
co- (
cor-
) { cooperar, corroborar

m.;'=~~to ..:.~.. ~~~...~~:.. :.~~~:~.~


trans- transpor, transalpino
contra- oposição, acção conjunta ........... . contradizer, contra-selar traS- traslad~, traspassar
} { tresvarlar, tresmalhar
movimento de cima para baixo .•.. ,_ decair, decrescer tres-
dc-
separação, acção contrária ........... . desviar, desfazer ultra- posição além do limite .............. . ultrapassar, ultra-som
des-
separação, movimento para diversos dissidente, distender vice- vice-reitor, vice-cônsul
dis- } substituição, em lugar de
} lados, negação { dilacerar, dirimir vis- (vizo-) { visconde, vizo-rei
di- (dir-)
entre- posição. intermediária ................. . entreabrir, entrelinha
Prefixos de origem grega.
ex- . { exportar, extrair Eis os principais prefixos de origem grega com as formas que assu-
es-
e-
} ':f::m~.~~~ ..p~~~..:~.~~: ..~~~~.~~ ..~~~~: ~:?::::: :!~:;er mem em português:

extra- posição exterior (fora de) ............ extra-oficial, extraviar Prefixo Sentido Exemplificação
in-I (im-) ingerir, impedir
} movimento para dentro .............. . imigrar, irromper an- (a-) privação, negação anarquia, ateu
i- (ir-)
em- (en-) { embarcar, enterrar aná- acção ou movimento inverso, repe-
tição ...............................•....... anagrama, anáfora
in- 2 (im-) inactivo, impermeável
} negação, privação { ilegal, irrestrito anfi- de um e outro lado, em tOrno ......... anflbio, anfiteatro
i- (ir-)
anti- oposição, acção contrária ........... . antiaéreo, antlpoda
intra- posição interior intradorso, intravenoso
apó- afastamento, . separação .............. . apogeu) apóstata
intro- movimento para dentro ........•...... introversão, intrometer
árqui- (arc-, } .. arquiduque, arcanjo
justa- posição ao lado justapor, justalinear arque-, arce)- supenondade ............................. . { arquétipo, arcebispo
ob- objecto, obstáculo catá- movimento de cima para baixo,
0-
} posição em frente, oposição ........ . { ocorrer, opor oposição ............................... .. catadupa, catacrese
per- movimento através .................... . percorrer, perfurar diá- (di-) movimento através de, afastamento diagnóstico, diocese
dis- dificuldade, mau estado ................. . dispneia, disenteria
pos- posterioridade .......................... . pospor, postóruco
ec- (ex-) movimento para fora ................. . eclipse, êxodo
pre- anterioridade ............................. . prefácio, pretóruco en- (em-, e-) posição interior ...................... .. encéfalo, emplastro, elipse
pro- movimento para a frente ........... . progresso, prosseguir endo- (end-) posição interior, movimento para
re- movimento para trás, repetição refluir, refazer dentro .................................. .. cndotérmico, endosmose
retro- movimento mais para trás ............ retroceder, retrospectivo epi- posição superior, movimento para,
soto-
Bota- } posiçãO inferior
soto-mestre, sotopor
{ sota-vento, sota-voga eu- (ev-)
hiper-
posterioridade ......................... ..
bem, bom ................................ .
epiderme, epllogo
eufonia, evangelho .
posiÇão superior, excesso ........... . hipérbole, hipertensão
sub- subir, subalterno

I
hipó- posição inferior, escassez ........... . hipodérmico, hipotensão
8US- . . suspender, suster
8U- movimento de baixo para Clma, lfl- suceder, supor metá- (met-) posterioridade, mudança .............. . metacarpo, metátese
80b- ) ferioridade .. , .................. o" 00. ••• sobestar, sobpor pará- (par-) proximidade, ao lado de .............. . paralogismo, paramnési.
80- soerguer, soterrar peri- posição ou movimento em torno ... pedmetro, perlfrase
super- superpor, supexpovoado pró- posição em frente, anterior ........ . prólogo, prognóstico
sobre- } posição em cima, excesso ...... ...... { sobrepo!, sobrecarga 8in- (siro-, si-) simultaneidade, companhia ........... . sinfonia) simpatia, srIaba

•• - • __ . _ . _ . _ •• __________• _ _ _ _o
r
66 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO 67

DERIVAÇÃO SUFIXAL casarão. Só os adjectivos fazem diferença entre o masculino e o feminino,


diferença que, naturalmente, conservam quando substantivados: choriJo - cho-
rona,. solteirão - solteirona.
Pela DERIVAÇÃO SUFIXAL formaram-se, e ainda se formam, novoS subs_
tantivos, adjectivos, verbos e, até, advérbios (os advérbios em -mente). Dal
classificar-se o sufixo em: Sufixos diminutivos.
a) NOMINAL, quando se aglutina a um radical para dar origem a um
substantivo ou a um adjectivo: pont-eiro, pont-inha, pont-udo; São estes os principais SUFIXOS DIMINUTIVOS empregados em portu-
b) VERBAL, quando, ligado a um radical, dá origem a um verbo: guês:
bord-ejar, slIflv-izar, fllllanh-ecer;
c) ADVERBIAL, que é o sufixo -mente, acrescentado à forma feminina
de um adjectivo: bondosa-mente, fraca-mente, perigosa-mente. Sufixo Exemplificação Sufixo Exemplificação

_inho,--a } toquinho, vozinha -elho, a } folhelho, rapazelho


_zinho, _3 cãozinho, ruazinha -ejo acimalejo, lugarejo
Sufixos nominais.

r-rem-
..ino, ..a pequenino, cravina -ilha, ..a pecadilho, tropilha
..im espadim, fortim
Entre os SUFIXOS NOMiNAIS, mencionaremos em primeiro lugar Os ..ete
SUFIXOS AUMENTATIVOS e DIMINUTIVOS, cujo valor é mais afectivo do que ..acho, ..a } fogacho, riacho -eto, -a esboceto, saleta
lógico. ..icho, ..a governicho, baxbicha -ita, -a rapazito, casita
..ucho, ..a papelucho, casucha -zito, ..a jardinzito, florzita
..ate, -a velhote, velhota
-ebre casebre
Sufixos aumentativos. ..eco, ..a } livreco, soneca ..isco, ..a } chuvisco, talisca
..ico, -a burrico, marica(s) ..usco, ..a chamusco, veIhusco
Eis os principais SUFIXOS AUMENTATIVOS usados em português: -ela ruela, viela -ola fazendola, rapazola

Sufixo Exemplificação Sufixo Exemplificação


Observações:
~ão caldeirão, paredão -anzil corpanzil
-alhão grandalhão, vagalhão -aréu fogaréu, provaréu I." O sufixo -illho (-Zillho) é de enorme vitalidade na llngua. Junta-se não
-(",)arrão gatnrrão, homenzarrão -arta bocarra, naviarra só a substantivos e adjectivos, mas também a advérbios e outras palavras
-cirão asneirão, toleirão -orra beiçorra, cabeçorra invariáveis: cedil/ho, sozinho, adellsil/ho.
-aça barbaça, ba·i:caça -astro medicastro, poetastro
2.a Ao contrário dos aumentativos em -ão, os diminutivos em -inho (e tam-
-aço animalaço, ricaço -a", lobaz, roaz
-á",io copázio, gatázio -alha", facaihaz bém em -ito) não sofrem mudança de gênero. O diminutivo conserva o gênero
ouça dentuça, carduça -arraz. pratarraz da palavra derivante: casa-casinha,' cão-cãozinho, cãoZito, canito. Em forma-
ções com outros sufixos não é, porém, estranha tal mudança: ilha - ilho/e,
ilhéu,' chllva - chllvisco.

Observações: Diminutivos eruditos.


La Nem sempre o sufixo aumentativo se junta ao radical de um substantivo.
I-lá derivações feitas sobre adjcctivos (ricaço) de rico; sabichão, de sábio) e tam~
Na llngua literária e culta, especialmente na terminologia cientlfica,
bém sobre radicais verbais (chorão, de chorar; mandão, de II,ondar). aparecem formações modeladas no latim em que entram os sufixos -li/O,
2..
a Nos aumentativos em -lia, o género nonnal é o masculino, mesmo quando (-llla) e -culo (-cuia), com as variantes -óculo (-ócula), -ím/o (-ím/a), -Iísm/o
a palavra dcrivantc é fcminin.1.. Assim: /{fila ll11dher-III/J IIIII/heTão; a casa-o (-Iíscu/a) e -fíllculo (-/Íllm/a):
68 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

- OERIV AÇÃO E COMPOSIÇÃO 69

corpo corpúsculo nota nótula Sufixo Sentido Exemplificação


febre febrlcula ol?ra opúsculo
globo glóbulo parte particula .ama noção colectiva e de quantidade.... dinheirama, mourama
gota goticula pele película vasilhame, velame
grão grânulo questão
_ame noção colectiva e de quantidade•...
questiúncula
homem homúnculo raiz radicula a) actividade, ramo de negócio .. . carpintaria, livraria
modo módulo rei . régulo b) noção colectiva .......... , ........ . gritaria, pedtaria
monte

montlculo
nÓdulo
verme
verso
vermiculo
versículo
~ia
{
ç) .
a~~:s :.~~~~i~.~~ ~~~~.~.~~~~: patifaria, pirataria "
a) ocupação, oficio, profissão .... . operário, secretário
_ário { b) lugar onde se guarda algo .... . herbário, vestiário
Observação:
a) lugar onde crescem vegetais ••... olivedo, vinhedo
• edo { b) noção colectiva .......... , ........ . lajedo, passaredo
Como vemos, nestas formações latinas, ou feitas em idênticos moldes, o sufixo
-C/l/o (-a) c sua variante -lÍfIclllo (-a) podem juntar-se ao radical directamentc a) ocupação, oficio, profissão 0.0 •• barbeiro, copeira
(mlÍl-ctllo) hom-IÍnCIIlo)J ou por intermédio da vogal de Jigação -i- (vers-I-C/lJo, b) lugar onde se guarda algo •... galinheiro, tinteiro
q/lcst-i-Iínt/lla) .
c) árvore e arbusto ................. . laranjeira, ,craveiro
-eiro (-a) d) ideia de intensidade, aumento .. . nevoeiro, poeira
e) objecto de uso .................. . cinzeiro, pulseira
Outros sufixos nominais. f) noção colectiva ................... . berreiro, formigueiro
a) profissão, titulatura .............. . advocacia, baronia
I. FORMAM SUBSTANTIVOS DE OUTROS SUBSTANTIVOS:
-ia
{
b) l~~e~~~~~.~.~~~~~.~.~~~.~~~~~ delegacia, reitoria
Sufixo Sentido Exemplificação c) noção colectiva ................... . cavalaria, clerezia

a) multidão, colecção .............. . boiada, papelada ..io noção colectiva, reunião ......... o o gentio, mulherio
b) porção contida num objecto .. . bocada, colherada ..ite inflamação o.. o........ o.. o............... bronquite, gastrite
ç) marca feita com um instrumento penada, pincelada
-ada -ugem semelhança (pejorativo) ............. ferrugem, penugem
d) ferimento ou golpe ........... . dentada, facada
e) produto alimentar, bebida ..... . bananada, laranjada ..ume noção colectiva e de quantidade... cardume, negrume
f) duração prolongada .............. . invernada, temporada
g) aeto ou movimento enérgico .. . cartada, saraivada
2. FORMAM SUBSTANTIVOS DE AD]ECTIVOS. OS substantivos derivados,
a) território subordinado a titular. bispado, condado
-ado { b) instituição, titulatura ............ . geralmente nomes abstractos, indicam qualidade, propriedade, estado ou
almirantado, doutorado
modo de ser:
a) instituição, titulatura ............ . baronato, cardinalato
-ato { b) na nomenclatura química = sal carbonato, sulfato
Sufixo Exemplificação Sufixo Exemplificação
a) noção colectiva ................... . folhagem, plumagem
-agem { b) acto ou estado .................... . aprendizagem, ladroagcm -dade crueldade, dignidade -ice tolice, vellúce
a) ideia de relação, pertinência.. o, dedal, portal -(i)dão gratidão, mansidão -icie calvlcie, imundfcic
-aI b) cultura de vegetais .............. . arrozal, cafezal
-ez altivez, honradez -or alvor, amargor
{
ç) n~~~~ .~.~~~~~.~~.. ~~.. ~~..:.~~.~~: areal, pombal -<za beleza, riqueza -(i)tude altitude, magnitude
-alha colcctivo-pcjorativo .0.0 •• 0.0 ••• 0.00.0
cana1ha, gentalha -ia alegria, valentia -ura alvura, doçura
BREVE GRAMÁTICA DO POR'ruGUÊS CONTEMPORÂNEO pERIV AÇÃO E COMPOSIÇÃO
7° 7'

Observações: 5' FORMAM SUl3STANTIVOS DE VERBOS:

I.a Antes de receberem o sufixo -Jade} os adjectivos terminados em -a-t


-iZ' -oz e -ve! retomam a forma latina em -ac(i), -ic(i), -oc(i) e -bi/(i): Sufixo Sentido Exemplificação
sagaz"> sagacidade atroz> atrocidade
feliz> felicidade amável> amabilidade _ança { lembrança, vingança
.. ãncia observância, tolerância
2.a O sufixo -íeis só aparece em palavras modeladas sobre o latim.: ca/vl..
eie (latim calvities), plauleie (latim ploniti8s), etc. Tambémjllstiço não apresenta
..ença
..ência
} acção ou o resultado dela, estado... des:re~ça, diferen~a .
anuenCla, concotrenCla
propriamente o sufixo -ifo, porque a palavra é continuação do latim jmtitia.
Da mesma forma cobiça (do baixo latim cupiditia), preguiça (do latim Pigritia), etc. ..ante { estudante, navegante
.. ente
..inte
} agente ......... ... ........................ afluente, combatente
ouvinte, pedinte
3. FORMA SUl3STANTIVOS DE SUBSTANTIVOS E DE ADJECTIVOS:
_(d)or { jogador, regador
Sufixo Sentido Exemplificação
_(t)or
_(a)or } agente, instrumento da acção.. ..... inspector, interruptor
agressor, ascensor

_ção
artisticos ...
a) doutrinas ou sis- filosóficos ..
realismo, simbolismo
kantismo, positivismo
.. são } acção ou o resultado dela............
{ nomeação, traição
agressão, extensão

temas { políticos ... federalismo, fascismo


-ismo
religiosos .. budismo, calvinismo
-douro
..tório } . { bebedouro, suadouro
lugar ou Instrumento da acção... lavatório, vomitório

b) modo de proceder ou pensar .. . heroismo, servilismo _(d)ura . { pintura, atadura


c) forma peculiar da llngua ...... .
d) na terminologia cientifica .... ..
galicismo, neologismo
daltonismo, reumatismo
-(t)ura
_(a)ura } resul~ado ou I~strumento da acção, formatura, magistratura
noçao colectlva ...................... clausura, tonsura

{ a) acção ou resultado dela ......... acolhimento, ferimento


..mento b) instrumento da acção ............ ornamento, instrumento
4. FORMA SUBSTANTIVOS E ADJECTIVOS DE OUTROS SUl3STANTIVOS E
c) noção colectiva ................... armamento, fardamento
ADJECTIVOS:

Sufixo Sentido Exemplificação


6. FORMAM AD]ECTIVOS DE SUBSTANTIVOS:
a) partidários ou sec- { artlsticos ... realista, simbolista
tários de doutri- filosóficos .. kantista, positivista
nas ou sistemas politicos ... federalista, fascista
..iata (em -lsmo) religiosos .. budista, calvinista Sufixo Sentido Exemplificação
b) ocupação, ofIcio .................... . dentista, pianista
c) nomes páttios e gentilicos .... .. nortista, paulista ..aco estado intimo, pertinência, origem maniaco, austríaco
a) provido ou cheio de ........... . barbado, denteaclo
-ado { b) que tem o carácter de .......... .
Observação: aclamado, amarelado
..aico referência, pertinência .............. . judaico, prosaico
Nem todos os designativos de sectários ou partidários de doutrinas ou sis~ -ai campal, conjugal
temas em ~iSf)JO se formam com o sufixo -ista. Por exemplo: a protestalltislJJo -ar } relação, pertinência................... { escolar, familiar
correspondente protestmlte; a IJJaonJetisnJo, IJJaolJJetaflo,. a iSlanJistlJo} islotIJita.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNE.O DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO 73
7'
7. FORMAM ADJECTIVOS DE VERBOS:

Sufixo Sentido Exemplificação


Sufixo Sentido Exemplificação
li) proveniência, origem, pertença romano, serrano
_ano b) sectário ou partidário de ...... . luterano, parnasiano
{ c) semelhante ou comparável a .. . ..ante semelhante, tolerante
bilaquiano, camoniano
.. ente acção, qualidade, estado............... doen~e, ,resistente .
proveniência, origem ............... . alemão, beirão } { constitu1nte, segwnte
-ão _inte
Mário diár~o, fra~ci<:>nário _(á)ve1 possibilidade de praticar ou sofrer { durável, louvável
} relação, posse, origem ............ . { caseIro, mIneIro } uma acção ................................
_ciro _(i)vel perecível, punível
-engo relação, pertinência, posse ........ . mulherengo, solarengo ..ia fugidio, tardio
_(t)ivo } acção, referência, modo de ser ..... . { afirmativo, pensativo
_enho semelhança, procedência, origem .. . ferrenho, estremenho
-eno referência, origem ... 0.0 • • • • • • • • • • • • • • • terreno, chileno _(d)iço possibilidade de praticar ou sofrer movediço, quebradiço
_(t)icio } uma acção, referência .... , .......... .. { acomodatício, facticio
_cnse fore?se, parisie~se
} relação, procedência, origem ...... . { cortes, noruegues
Mês _(d)ouro - pertlnenCla
} acçao, ... .. , .................... . duradouro, casadouro
a) provido ou cheio de ........... . ciumento, corpulento _(t)ório { preparatório, emigratório
-(l)ento { b) que tem o carácter de ........... . { barrento, vidrento
-eo relação, semelhança, matéria ...... . róseo, férreo Observação:
-eseo burlesco, dantesco Os sufixos -ante, -ente e -inte provêm, como dissemos, das terminações do
-isco
} referência, semelhança ...... _........ . { levantisco, mourisco
participio presente latino com aglutinação da vogal temática de cada uma das
-este relação agreste, celeste conjugações. Servem para formar substantivos e, com mais frequência, adjec-
Mestre relação campestre, terrestre tivos, que se substantivam facilmente.
-eu relação, procedência, origem ..... . europeu, hebreu
-ido referência ... alimentício, natalício
Sufixos verbais.
Mico participação, referência geométrico, melancólico
-il referência, semelhança ............... . febril, senhoril
Os verbos novos da língua formam-se em geral pelo acréscimo da ter-
Mino relação, origem, natureza" ........ , londrino, cristalino
minação -ar a substantivos e adjectivos. Assim:
Rita pertinência, origem .................. , ismaelita, israelita
-onho propriedade, hábito constante .. .. enfadonho, risonho esqtÚ-ar radiograf-ar (a)doç-ar (a)frances-ar
-050 provido ou cheio de .............. .. brioso, venenoso niveI-ar telefon-ar (a)fin-ar (a)portugues-ar
-tieo relação .................................. . aromático, rústico
Mudo provido ou cheio de ............... . pontudo, barbudo A terminação -ar, já o sabemos, é constitulda da vogal temática -a-,
caracterlstica dos verbos da lo" conjugação, e do sufixo -r, do infinitivo
impessoal.

Observações: Por vezes, a vogal temática -a- liga-se não ao radical propriamente
dito, mas a uma forma dele derivada, ou, melhor dizendo, ao radical com
l.a Alguns desses sufixos servem também para formar adjectivos de outros
adjectivos. Por exemplo: -aI junta-se a angélico, formando angelical; -anho acres- a adição de um sufixo. É o caso, por exemplo, dos verbos:
centa-se a tristc, produzindo tristonho.
afug-ent-ar lamb-isc-ar ded-ilh-ar salt~it-ar
2.. 3 São peculiares aos adjectivos os sufixos eruditos -;!I'O e -Issinlo, que se
ligam a radicais latinos: hllllJlI-iIlIO, ftdd-Issilllo. Do seu valor e emprego tra- bord-ej-ar cusp-inh-ar depen-ic-ar amcn-iz-ar,
tamos no Capitulo 10.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO~' DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO 75
74

em que encontramos alguns sufixos anteriormente estudados: -enl(o), -ej(o), sentido de «intenção» e, depois, com o de «maneira», passou a aglutinar-se
-ise(o), -inh(o), -ic(o) e -il(o). • adjectivos para indicar circunstâncias, especialmente a de modo. Assim:
São tais sufixos que transmitem a esses verbos matizes significativos boallJenle = com boa intenção, de maneira boa.
especiais: FREQUENTATIVO (acção repetida), FACTITIVO (atribuição de uma Como o substantivo latino mens era feminino (compare-se o português
qualidade ou modo de ser), DIMINUTIVO e PEJORATIVO. Mas, como neles a a II/e/lle), junta-se o sufixo à forma feminina do adjectivo:
combinação de SUFIXO +
VOGAL TEMÁTICA (-a) +
SUFIXO DO INFINITIVO
bondosa-mente nervosa-mente
(-r) vale por um todo, costuma-se considerar não o sufixo em si, mas o pia-mente
fraca-mente
conjunto daqueles elementos mórficos, o verdadeiro SUFIXO VERBAL. Esta
conceituação, por simplificadora, apresenta evidentes vantagens didácticas,
Desta norma exceptuam-se os advérbios que se derivam de adjectivos
razão por que a adoptamos aqui.
terminados em -ês: burg;;es-menle, porlugues-mCIIle, etc. Mas o facto tem expli-
Eis os principis SUFIXOS VERBAIS, com a indicação dos matizes signi_
cação histórica: tais adjectivos eram outrora uniformes, uniformidade que
ficativos que denotam:
alguns deles, como pedrês e monlês, ainda hoje conservam. Assim: um galo
pedrês, uma galinha pedrês,o UIII eabrilo montês, uma cabra monlês. A formação
Sufixo Sentido Exemplificação
adverbial continua a seguir o antigo modelo.
Os vocábulos formados pela agregação simultânea de prefixo e sufixo
-ear frequentativo, durativo ............... . cabecear, folhear
a determinado radical chamam-se PARASSINTÉTICOS, palavra derivada do grego
-ejar fre~u.entativo, durativo ............. 0.0 gotejar, velejar
.. entar fact1t1vo ................................... . aformosentar, amolentar pará- (= justaposição, posição ao lado de) e {JInlhelikós (= que compõe,
-(i)ficar factitivo ................................... . clarificar, dignificar que junta, que combina).
-icar frequentativo-diminutivo , ........... . bebericar, depenicar A PARASSÍNTESE é particularmente produtiva nos verbos, e a prinçi-
-ilhar frequentativo-dirninutivo o., ••••••..•• dedilhar, fervilhar paI função dos prefixos vernáculos a- e em- (en-) é a de participar desse tipo
-inhar frequentativo-diminutivo-pejorativo. escrevinhar, cuspinhar
-iscar frequentativo-diminutivo ............ . chuviscar, lambiscar especial de derivação:
..itar freq~~ntativo-diminutivo ............ . dor1lÚtar, saltitar
...izar abotoar amanhecer
fact1t1vo .................................... . civilizar, utilizar
embainhar ensurdecer

Das outras conjugações apenas a z.a possui um sufixo capaz de formar


verbos novos em português. É o sufixo -eeer (ou -eseer), caracterlstico dos
verbos chamados INCOATIVOS, ou seja dos verbos que indicam o começo
de um estado e, às vezes, o seu desenvolvimento:
DERIVAÇÃO REGRESSIVA
alvor-ccer amadur-ecer envelh-ecer Hor-escet
anoit-ecer embranqu-ecer escur-ecer rejuven-escer
Nos tipos de derivação até aqui estudados a palavra nova resulta sempre
Em verdade, também -ecer não é sufixo. Decompõe-se esta termina- do acréscimo de AFIXOS (l'REFIXOS OU SUFIXOS) a determinado RADICAL.
ção em: SUFIXO (-e[s]c-)+ VOGAL TEMÁTICA (-e-)+ SUFIXO (-r). Neles há, pois, uma constante: a palavra derivada amplia a primitiva.
Existe, porém, um processo de criação vocabular exactamcntc con-
trário. É a chamada DERIVAÇÃO REGRESSIVA, que consiste na reduçã.o da
Sufixo adverbial. palavra derivante por uma falsa análise da sua estrutura.
A DERIVAÇÃO REGRESSIVA tem importância maior na criação dos SUBS-
o único SUFIXO ADVERDIAL que existe ctn português é -lI/elJte, oriundo TANTIVOS DEVERBAIS ou PÓS-VERBAIS, formados peJa junção de uma das
do substantivo latino IIJeIJS, IIJClJtiS «a mente, o espírito, o intento». Com o vogais -o, -a ou -(f ao radical do vprbo.
76 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPOnÂNP:Q pJl.RIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO 77

Exemplos: A este processo de enriquecimento vocabular pela mudança de classe


das palavras dá-se o nome de DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA, e por ele se explica
Verbo Deverbal Verbo Deverbal Verbo Devcrbal a passagem:
a) de substantivos próprios a comuns: damasco, macadame (de Mac
abalar abalo amostrar amostra aIcançar alcance
adejar adejo aparar apara atacar ataque Adam), qllixote;
afagar afago buscar busca cortar corte b) de substantivos comuns a próprios: Coelho, Leão, Pereira;
amparar amparo caçar caça debater debate c) de adjectivos a substantivos: capital, circular, vcmziana;
apelar apelo censurar censura enlaçar enlace d) de substantivos a adjectivos: burro, (café)-concerlo, (colégio)-modelo;
arrimar arrimo ajudar ajuda levantar levante
e) de substantivos, adjectivos e verbos a interjeições: silêncio I bravo!
chorar choro comprar compra rebater rebate
errar erro perder perda resgatar resgate vjva!
recuar recuo pescar pesca tocar toque f) de verbos a substantivos: afazer, jantar, prazer;
sustentar sustento vender venda sacar saque g) de verbos e advérbios a conjunções: quer ... quer,já ... já;
h) de particípios (presentes e passados) a preposições: mediante, salvo,-
-- -- ---- -- --- -

i) de particlpios (passados) a substantivos e adjectivos: conteúdo, reso-


Alguns deverbais possuem forma masculina e feminina: lI/Ia.

Verbo Dcverbais Verbo Deverbais

ameaçar ameaço ameaça gritar grito grita COMPOSIÇÃO


custar custo custa trocar troco troca
A COMPOSIÇÃO, já o sabemos, consiste em formar uma nova palavra
pela união de dois ou mais radicais. A palavra composta representa sempre
Observação:
uma ideia única e autónoma, muitas vezes dissociada das noções expressas
Nem sempre é fácil saber se o substantivo se deriva do verbo ou se este se pelos seus componentes. Assim, criado-mlldo é o nome de um móvel; f/lil-
origina do substantivo. Há um critério prático para a distinção, sugerido folhas, o de um doce; vitória-régia, o de uma planta; Pé-de-galinha, o de uma
pelo filólogo Mário Barreto: «se o substantivo denota acção, será palavra ruga no canto externo dos olhos.
derivada, e o verbo palavra primitiva; mas, se o nome denota algum objecto
ou substância, vcrificar-se-á o contrário.» (De gramática e de lingJlagelll, II,
Rio de Janeiro, 1922, p. 247') Assim: dança, ataqJfe e amparo- denotadorcs,
respectivamente, das acções de dançar, atacar e aHlparar - são formas deriw Tipos de composição.
vadas; âncora, azeite e escudo, ao contrário, são as formas primitivas, que dão
origem aos verbos ancorar, azeitar e estudar. I. Quanto à FORMA, os elementos de uma palavra composta podem
estar:
DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA a) simplesmente justapostos, conservando cada qual a sua integri-
dade:
As palavras podem mudar de classe gramatical sem sofrer modificação beija-flor bem-me-quer madrepérola
na forma. Basta, por exemplo, antepor-se o artigo a qualquer vocábulo da b) intimamente unidos, por se ter perdido a ideia da composlçao,
llngua para que ele se torne um substantivo. Assim: caso em que se subordinam a um único acento tónico e sofrem perda da
Ele examinou os prós c os contras da proposta. sua integridade silábica:
Esperava um sim e recebeu um não. aguardente (água + ardente) pernalta (perna + alta)
pERIV AÇÃO E COMPOSIÇÃO
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO 79
78

Daí distinguir-se a COMPOSIÇÃO POR JUSTAPOSIÇÃO da COMPOSIÇÃO


4.0) ADJECTIVO + ADJ.ECTIVO:
POR AGLUTINAÇÃO, diferença que a escrita procura reflectir, pois que na ruruJ-marinho luso-brasileiro tragicómico
JUSTAPOSIÇÃO os elementos componentes vêm em geral ligados por hífen, 5.0) NUMERAL + SUllSTANTIVO:
ao passo que na AGLUTINAÇÃO eles se juntam num só vocábulo gráfico.
mil-folhas segunda-feira trigémeo

Observação: 6.0) PRONOME + SUBSTANTIVO:


Reitere-se que o emprego do hifen é uma simples convenção ortográfica. meu-bem nossa-amizade Nosso Senhor
Nem sempre os elementos justapostos vêm ligados por ele. Há os que se
escrevem unidos: pasfatel1JpO~ varapall} etc.; como há outros que conservrun 7.0) VERBO + SUllSTANTIVO:
a sua autonomia gráfica: pai de Jamil/a, fim de semana, Idade Média, etc.
beija-flor guarda-roupa passatempo

2. Quanto ao SENTIDO, distingue-se numa palavra composta o ele- 8.0) VERBO + VERBO:
mento DETERMINADO, que contém a ideia geral, do DETERMINANTE, que corre~corre perde-ganha vaivém
encerra a noção particular. Assim, em escola-modelo, o termo escola é o DE'l'ER~
MINADO, e' modelo o DETERMINANTE. Em mãc-pátria, ao inverso, mãe é o 9.°) ADVÉRBIO + ADJECTIVO:
DETERMINANTE, e pátria o DETERMINADO. bem-bom não-euclidiana sempre-viva
Nos compostos tipicamente portugueses, o DETERMINADO em regra
precede o DETERMINANTE, mas naqueles que entraram por via erudita, ou 10.°) ADVÉRBIO (ou ADJECTIVO .EM FUNÇÃO ADVERBIAL) + VERBO:
se formaram pelo modelo da composição latina, observa-se exactamente bem-aventurar maldizer vangloriar-se
o contrário - o primeiro elemento é o que expdme a noção específica, e
o segundo a geral. Assim: agricultura (= cultivo do campo), suaviloq/lêllcia Observações:
(= linguagem suave), lIJundividência (= visão do mundo), etc. I.a No último grupo podedamos incluir os numerosos compostos de bem
e ma/ + SUBSTANTIVO ou ADjECTIVO, porque, neles, tanto o substantivo
3. Quanto à CLASSE GRAMATICAL dos seus elementos, uma palavra como o adjectivo são quase sempre derivados de verbos, cuja significação
ainda conservam. Assim: bem-aventuranfa, bem-aventllrado, benqllerenfa, bem-
composta pode ser constituída de: -vindo, maldizente, ma/-encarado, maljêitor, IHaisoante, etc.
2.a Nem todos os compostos da língua se distribuem pelos tipos que cnu-
r,0) SUllSTANTIVO + SUBSTANTIVO: roerámos. Há, ainda, uma infinidade de combinações, por vezes curiosas,
manga-rosa porco-espinho tamanduá-bandeira como as seguintes: bem-te-vi, benl-te-vi-do-bico-chato, disse-que-disse, /ouva-a-
-deus, nla/mequer, não-me-deixes, não-me-toques, nào4e-esqffcças-de-mim (miosótis),
nilo-sei-quc-diga (nome do diabo), etc.
2.0) SUllSTANTIVO + ADJECTIVO:
a) com o adjectivo posposto ao substantivo:
COMPOSTOS ERUDITOS
aguardente amor-perfeito criado-mudo

b) com o adjectivo anteposto ao substantivo: A nomenclatura cientlfica, técnica e literária é fundamentalmente cOns-
tituída de palavras formadas pelo modelo da composição greco-latina, que
alto~forno be1as..artes gentil-homem
consistia em associar dois termos o primeiro dos quais servia de determi-
nante do segundo.
3.0) SUDSTANTIVO + PREPOSIÇÃO + SUllSTANTIVO: Examinaremos, a seguir, os principais radicais latinos e gregos que
chapéu-de-sol mãe-d'água pai de familia participam dessas formações, distribuindo-os por dois grupos, de acordo
com a posição que ocupam no composto.
80 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CON'I'EMPORÂNEQ DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO 81

Radicais latinos.
Forma Sentido Exemplos
Entre outros, funcionam como primeiro elemento da composi.
I.
-fugo que foge, ou faz fugir centrifugo, febrifugo
ção os seguintes radicais latinos, em geral terminados em -i: _gero que contém, ou produz arllÚgcro, beligel:o
_paro que prOdtlZ muItiparo, ov1paro
Forma Origem latina Sentido Exemplo -pede pé palllÚpede, velocipede
-sono que soa horríssono, uníssono
-vomo que expele fumivomo, ignívomo
ambi... amho ambos ambidestro ...voro que come carn1voro, herbívoro
arhori- arbo!, -oris árvore arborfcola
avi- avis-, -is ave avifauna
bis- { bisavô
bi- } bis
calor, -oris
duas vezes
calor
blpede
calorífero
caloei- Radicais gregos.
cruci- crux, -ucis cruz crucifixo
curvi- curvus, -a, -um curvo curvilíneo
equi- aequus, -a, -um igual equilátel:o I. Mais. numerosos são os compostos eruditos formados de elemen-
{ ferrífero
ferri-
ferro- } ferrum, -i ferro ferrovia
ignivomo
toS gregos, fonte de quase todos os neologismos filosóficos, literários, técni-
cos e científicos.
igni- ignis, -is fogo
10cus, -i lugar locomotiva Entre os mais usados, podemos indicar os seguintes, que servem geral-
loco-
morri- maIS, mortis morte mortífero mente de primeiro elemento da com;: osição:
olei.. { olelgeno
oleo- } oleum, -i azeite, óleo oleoduto
omnipotente Forma Sentido Exemplos
omm- omnis, -c todo
pedi- pes, pcdis pé pedilúvio
pisei- piseis, -is peixe piscicultor anemo- vento anemógrafo, anemómetro
quadri- } { quadrimotor antropo- homem antropófago, antropologia
quadru- quattuor quatro quadrúpede arqueo- antigo arqueografia, arqueologia
reeti- rectus, -a -um reeto rectiUneo biblio- livro bibliografia, biblioteca
sesqui- sesqui- um e meio sesquicentenário caco- mau cacofonia, cacograf1a
tri- tres, tria três tricolor ca1i- belo califasia, caligrafia
uni- unus, -a, -um um urussono cosmo- mundo cosmógrafo, cosmologia
vermi- vermis, -is verme verrnlfugo cromo... cor cromolitografia, cromossomo
erono- tempo cronologia, cronómetro
dactilo- dedo dactilograJia, dactiloscopia
2. Como segundo elemento da composição, empregam-se: deea- dez decaedro, decalitro
di- dois dipétalo, dissllabo
enea.. nove eneágono, eneass11abo
Forma Sentido Exemplos etno- raça etnografia, etnologia
farmaco- medicamento farmacologia, farmacopeia
-cida que mata regicida, fratricida :Bsio- natureza fisiologia, fisionomia
-cola que cultiva, ou habita vitícola, arbor1cola helio- sol heliografia, helioscópio
-cultura aeto de cultivar apicultura, piscicultura hemi- metade hemisfério, hemistlquio
-fel:o que contém, ou produz hemo-
-fico
..forme
que
que
faz, ou produz
tem forma de
aurífero, fIamifero
benéfico, frigorlfico hemato- } sangue hemoglobina, hernatócrito
cuneiforme, uniforme hepta- sete heptágono, heptassllabo
8z BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPoRÂNno

-
DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO

Observação:
83

Forma Sentido Exemplos Como vemos, a maioria destes radicais assume na composição uma forma ter-
minada em -o. Alguns empregam-se também como segundo elemento do
hcxa.. seis hexágono, hexâmetro composto. É o caso, por exemplo, de -antropo (filantropo), -crono (isócrono),
hipo- cavalo hipódromo, hipopótamo -dáctilo (pterodáctilo), -filo (germanófilo), -lito (aerólito), -pótamo (hipopótamo)
hom(e)o- semelhante homeopatia, homógrafo e Quttos.
ictio.. peixe ictiófago, ictiologia
iso- igual isócrono, isóscele(s)
lito- pedra litografia, Iitogravura 2. Funcionam, preferentemente, como segundo elemento da com-
mega(lo)- grande megatério, megaIomanlaco posiçãO, entre outros, estes radicais gregos:
melo.. canto melodia, me10peia
mcso" meio mesóclise, Mesopotâmia
míria- dez mil miriâmetro, miríade Forma Sentido Exemplos
miso.. que odeia misógino, misantropo
mito- fábula mitologia, mitómano _agogo que conduz demagogo, pedagogo
nceto- morto necrópole, necrotério _algia dor cefalalgia, nevralgia
nco.. novo neolatino, neologismo _arca que comanda heresiarca, monarca
neuro-
nevro- } nervo neurologia, nevralgia
_arquia
_astenia
comando, governo
debilidade
autarquia, monarquia
neurastenia, psicasterua
oeto- oito octossílabo, octaedro _céfalo cabeça dolicocéfalo, microcéfalo
odonto.. dente odontologia, odontalgia ..cracia poder democracia, plutocracia
oftalmo- olho oftalmologia, oftaImoscópio _doxo "que opina heterodoxo, ortodoxo
onomato- nome onomatologia, onomatopeia ..dromo lugar para correr hipódromo, velódromo
ora- montanha orogenia, orografia _edro base, face pentaedro, poliedro
orto- recto, justo ortografia, ortodoxo _fagia aeto de comer aerofagia, antropofagia
oxi- agudo, penetrante _fago que come antropófago, necrófago
oxigono, oxítono
palco- antigo _filia amizade bibliofilia, lusofilia
paleogntfia, paleontologia fotofobia, hidrofobia
-fobia inimizade, ódio, temor
pan- todos, tudo panteísmo, pan~ericano
xenófobo, zoófobo
-fobo que o,dcia, inimigo
pato- (sentimento) doença patogenético, patologia -foro que leva ou conduz electróforo, fósforo
pcdo- criança pediatria, pedologia _gamia casamento monogamia, poligamia
potamo- rio potamografia, potamologia _gamo que casa bigamo, pollgamo
psico- alma, espírito psicologia, psicanálise -géneo que gera heterogéneo, homogéneo
quilo- mil quilograma, quilómetro _glota, -glossa llngua poliglota, isoglossa
quiro- mão quiromancia, quiróptero _gono ângulo pentágono, pollgono
rino- nariz rinoceronte, rinoplastia
_grafia escrita, descrição ortogntfia, geografia
rizo.. ralz _grafo que escreve caIlgrafo, poligrafo
rizófilo, rizotónico telegrama, quilogmma
..grama escrito, peso
sidcro- ferro siderólita, siderurgia discm:so, tratado, ciência arqueologia, filologia
-logia
taqui- rápido taqulcardia, taquigrafia -logo que fala ou trata diálogo, teólogo
tco- deus teocracia, teólogo -maneia adivinhação necromancia, quiromancia
tetra- quatro tetrarca, tetraedro ..mania loucura, tendência megalomania, monogamia
tipo- figura, marca tipografia, tipologia -mano louco, inclinado bibliómano, mitómano
topo- lugar topografia, toponfmia -maquia combate logomaquia, tauromaquia
xcno- estrangeiro xenofobia, xcnomania -metria medida antropometria, biometria
xilo- madeiro xilógrafo, xilogravura -metro que mede hidrómctro, pentâmetro
zoo .. animal zoógrafo, zoologia que tem a forma antropomorfo, polimorfo
-mono
84 BREVE GRAMÁTICA DO PORl'UGUÊS CONTEMPORÂNEO DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO 85

ABREVIAÇÃO VOCABULAR
Forma Sentido Exemplo.

agronomia, astronomia
o ritmo acelerado da vida intensa dos nossos dias obriga-nos, neces-
-nomia lei, regra
..nomo autónomo, metrónomo sariamente, a uma elocução mais rápida. Econonúzar tempo e palavras é
que regula
-peia acto de fazer me1opeia, onomatopeia uma tendência geral do mundo de hoje.
-pólio, -pole cidade Petrópolis, metrópole Observamos, a todo momento, a redução de frases e palavras até limi-
-pteto asa diptero, helicóptero teS que não prejudiquem a compreensão. É o que sucede, por exemplo,
-scopia acto de ver macroscopia, microscopia com os vocábulos longos, e em particular com os compostos greco-latinos
-.cópio instrumento para ver microscópio, telescópio
de criação recente: auto (por automóvel), foto (por fotografia), moto (por moto-
-sofia sabedoria filosofia, teosofia
-atico verso d1stico, monóstico cicleta), ónibtls (por aulo-ónibus), pneu (por pneumático), quilo (por quilograma),
-teca lugar onde se guarda biblioteca, discoteca etc. Em todos eles a forma abreviada assumiu o sentido da forma plena.
-terapia cura fisioterapia, hldroterapia
-tomia corte, divisão dicotomia, nevrotomia
-tono tensão, tom barítono, monótono
Siglas.

Também moderno - e cada vez mais generalizado - é o processo


HIBRIDISMO
de criação vocabular que consiste em reduzir longos titulos a meras SIGLAS,
constituídas das letras iniciais das palavras que os compõem.
São PALAVRAS HÍBRIDAS, OU HIBRIDISMOS, aquelas que se formam de
Actualmente, instituições de natureza vária - como organizações inter-
elementos tirados de línguas diferentes. Assim, em automóvel o primeiro
nacionais, partidos políticos, serviços públicos, sociedades comerciais, asso-
radical é grego e o segundo latino; em sociologia) ao contrário, o primeiro é
ciações operárias, patronais, estudantis, culturais, recreativas, etc. - são,
latino e o segundo grego.
em geral, mais conhecidas pelas SIGLAS do que peJas denominações com-
As formações hibridas são em geral condenadas peJos gramáticos, mas
pletas. Assim:
existem algumas tão enraizadas no idioma que seria pueril pretender eli-
miná-las. É o caso das palavras mencionadas e de outras, como: ONU = Organização das Nações Unidas
UNESCO = United Nations Educational, Scientific and Cultural Orga-
autodave dedmetro monocultura
bicicleta endovenoso neolatino ruzation
blgamo monóculo oleogra6a OEA = Organização dos Estados Americanos
OUA = Organização de Unidade Mricana
ONOMATOPEIA ABI = Associação Brasileira de Imprensa
APU = Aliança Povo Unido
As ONOMATOPEIAS são palavras imitativas, isto é, palavras que procuram PCP = Partido Comunista Português
reproduzir aproximadamente certos sons ou certos ruídos: PPM = Partido Popular Monárquico
PS = Partido Socialista
tique-taquc zás-trás zunzum PSD = Partido Social Democrático
PDS = Partido Democrático Social
Em geral, os verbos e os substantivos denotadores de vozes de ani- PDT = Partido Democrático Trabalhista
mais têm origem onomatopeica. Assim: PMDB = Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PT = Partido dos Trabalhadores
ciciar cicio (da cigarra)
chilrear chilreio (dos pássaros) PTB = Partido Trabalhista Brasileiro
coaxar coaxo (da rã, do sapo) FRELIMO = Frente de Libertação de Moçambique
86 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPoRÂNeo

MPLA = Movimento Popular de Libertação de Angola


PAIGC
MEC
=
=
Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde
Ministério da Educação e Cultura 7.
CGTP = Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses
UGT = União Geral dos Trabalhadores
UNE = União Nacional dos Estudantes
TAP = Transportes Aéreos Portugueses Frase, oração, período
VARIG = Viação Aérea Rio-Grandense
FIFA = Fédération Internationale de Football Association

E não é s6. Uma vez criada e vulgarizada, a SIGLA passa a ser sentida
como uma palavra primitiva, capaz, portanto, de formar derivados: cege/isla,
pelebis/a, etc. A FRASE E A SUA CONSTITUIÇÃO

Observação: I. FRASE é um enunciado de sentido completo, a unidade rnlnima de


comunicação.
Nem sempre uma instituição é conhecida pela mesma sigla em Portugal c
no Brasil. No Brasil, por exemplo, denomina-se OTAN (= Organização A parte da gramática que descreve as regras segundo as quais as pala-
do Tratado do Atlântico Norte) o organismo que em Portugal se chama NATO vras se combinam para formar FRASES denomina-se SINTAXE.
(= North Atlantic Treaty Organization), por ter-se aqui vulgarizado a sigla
inglesa. 2. A FRASE é sempre acompanhada de uma melodia, de uma entoa-
Por vezes há diferença de acentuação da sigla nos dois países. Diz-se, por
exemplo, ONÚ em Portugal e ONU no Brasil. ção. Nas frases organizadas com verbo, a entoação caracteriza o fim do
enunciado, geralmente seguido de forte pausa. É o caso destes exemplos:
Bate o vento no postigo ... I
Cai a chuva lentamente .. .
(Da Costa e Silva, PC, 307.)
Se a frase não possui verbo, a melodia é a única marca por que pode-
mos reconhecê-la. Sem ela, frases como

Atenção! Que inocência! Que alegria!

seriam simples vocábulos, unidades léxicas sem função, sem valor gra-
matical.

Frase e oração.

A FRASE pode conter uma ou mais ORAÇÕES.

r. 0) Contém apenas uma oração, quando apresenta:


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊs CONTEMPORÂNEo FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
89
88

a) uma só forma verbal, clara ou oculta:


I 2. O PElÚODO termina sempre por uma pausa bem definida, que se
marca na escrita com ponto, ponto de exclamação, ponto de interrogação,
o dia decorreu sem sobressalto. reticéncias e, algumas vezes, com dois pontos.
Ooaquim Paço d'Arcos, CVL, 49")

Na cabeça, aquela bmúta coroa. A ORAÇÃO E OS SEUS TERMOS ESSENCIAIS


Oosué Montello, A, 32.)
Sujeito e prediC2do.
b) duas ou mais formas verbais, integrantes de uma LOCUÇÃO VERllAL:
I. São termos essenciais da oração o sUJEITO e o PRllDICADO.
- Podem vir os dois ...
(Vitorino Nemésio, MTC, 446.) O SUJEITO é o ser sobre o qual se faz uma declaração; o PRllDICADO é
tudo aquilo que se diz do sUJEITo. Assim, na oração
2.0) Contém mais de uma oração, quando há nela mais de um verbo
(seja na forma simples, seja na locução verbal), claro ou oculto: &te aluno obteve ontem uma boa nota,

Busco, I volto, I abandono, I e chamo de novo. temos:


(Agustina Bessa Luis, AM, 38.) oração
o Negrinho começou a chorar, I enquanto os cavalos iam pastando.
(Simões Lopes Neto, CGLS, 332.)

Os anos são degraus; Ia vida, a escada. sujeito


(Fernanda de Castro, ANE, 73.)

I Este Lno I obteve ontem urna boa nota


Oração e periodo.
2. Nem sempre o SUJEITO e o l'REDICADO vêm materialmente expressos:
I. PElÚODO é a frase organizada em oração ou orações. Assim em:

Pode ser: Andei légua. de sombra


Dentro em meu pensamento.
a) SIMPLES, quando constituldo de uma só oração: (Fernando Pessoa, OP, 59')

Cai o crepúsculo. o sujeito de andei é ell, indicado apenas pela desinéncia verbal.
(Da Costa e Silva, PC, .81.) Já em:

b) COMPOSTO, quando formado de duas ou mais orações: Boa cidade, Santa Rita.
(M~rio Palmério, VC, '98.)
Nilo bulia uma folha, I não cintilava um luzeiro.
(Aquilino Ribeiro, ES, 2lI.) é a forma verbal é que está subentendida.

BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CON'I'BMPORÂNBQ
-I :FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
91
I
Chamam-se BLíPTICAS as orações a que falta um termo essencial. E, con_ SNI SN2
forme o caso, diz-se que o sUJIUTo ou o PRllDICADO estão ELÍPTIcos.

DET

~ ~lc11
Sintagma nominal e verbal.

I. Na oração:
Este aluno obteve ontem uma boa nota,

distinguimos duas unidades maiores:


4. O SINTAGMA VERBAL (sv) constitui o predicado. Nele há sempre
a) o SUJEITO: este alllllO;
um verbo, que, quando SIGNIFICATIVO, é o seu núcleo.
b) o PRllDICADO: obteve olltem lima boa 1I0ta.
O SINTAGMA VERBAL pode ser complementado por sintagmas nominais
Examinando, porém, o sUJEITO, vemos que ele é formado de duas
e modificado por advérbios ou expressões adverbiais (MOD).
palavras:
este aluno
A oração que nos serve de exemplo obedece, pois, ao seguinte esquema:

o demonstrativo este é um determinante (DET) do substantivo (N)

/o~
alll/lo, palavra que constitui o NÚCLEO da unidade.
Toda unidade que tem por núcleo um substantivo recebe o nome de
SINTAGMA NOMINAL (SN).
A oração que estamos estudando apresenta, assim, dois SINT AGMAS
NOMINAIS:

a) SN 1 = este alll/lo;
A
DET

N v
sv

MOD

b) SN2 = lima boa 1I0ta.

J~l
2. Podem ocorrer muitos SINTAGMAS NOMINAIS (SN) na oração, mas
somente um deles será o SUJEITO. E, como veremos adiante, a sua posição
na ordem directa e lógica do enunciado é à esquerda do verbo. Os demais
SIN'I'AGMAS NOMINAIS encaixam-se no PREDICADO.

3. O substantivo, núcleo de um sintagma nominal, admite a presença o SUJEITO


de DETERMINANTES (DET) - que são os artigos, os numerais e os prono-
mes adjectivos- e de MODIFICADORES (MOD),'que, no caso, são os adjec- Representação do sujeito.
tivos ou expressões adjectivas.
Os dois sintagmas nominais da oração em exame podem ser assim esque- Os sUJErros da I.S e da 2. a pessoa são, respectivamente, os pronomes
matizados: pessoais eu e til) no singular; nós e Vós (ou combinações equivalentes: ell e
tu, til e ele, etc.), no plural.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODu
92 93

Os SUJEITOS da 3.' pessoa podem ter como núcleo: Sujeito simples e composto.
a) um substantivo:
Sujeito simples.
Matilde entendia disso.
(Agustina Bessa Luis, OM, 170.) Quando o sujeito tem um só núcleo, isto é, quando o verbo se refere
'" um só substantivo, ou a um só pronome, ou a um só numeral, ou a uma
b) OS pronomeS pessoais ele, ela (singular); eles, elas (plural): SÓ palavra substantivada, ou a uma só oração substantiva, o SUJEITO é SIM-

Estavam de braços dados, ele ru:rumava a gravata, ela ajeitava o chapéu. pLEs. Esse o caso do sujeito de todos os exemplos atrás mencionados.
(Érico Verlssimo, LS, 128.)
c) um pronome demonstrativo, relativo, interrogativo, ou indefinido: Sujeito composto.
I8to não lhe arrefece o Animo?
É COMPOSTO o sujeito que tem mais de um núcleo, ou seja o sujeito
(Augusto Abelaira, NÇ, 35.)
constituldo de:
Achava consolo nos livros, que o afastavam cada vez mais da vida.
(Érico Verlssimo, LS, 13") a) mais de um substantivo:

Quem disse isso? As vozes e os passos aproximam-se.


(Fernanda Botelho, X, 1)0.) (Manuel da Fonseca, SV, 248.)

Tudo parara ao redor de nós. b) mais de um pronome:


(C1arice Lispeetor, BF, 81.)
Ele e eu somos da mesma raça.
d) um numeral: (David Mourão-Ferreira, I, 98.)
Ambos alteraram os roteiros originais. c) mais de urna palavra ou expressão substantivada:
(Nélida Pinoo, FD, 86.)
Falam por mim 08 abandonados de justiça, os simples de coração.
e) uma palavra ou uma expressão substantivada:
(Carlos Drummond de Andrade, R, 148.)
Infanta, no cx1lio amargo,
só o existirdes me consola. d) mais de uma oração substantiva:
(Tasso da Silveira, PC, 367.) Era melhor esquecer o nó e pensar numa cama igual à de seu Tomás
da bolandelra.
o por fazer é só com Deus. (Graciliano Ramos, VS, 62.)
(Fernando Pessoa, OP, 16.)

f) uma oração substantiva subjectiva: Sujeito oculto (determinado).

Era forçoso I que fosse assim.


I. É aquele que não está materialmente expresso na oração, mas pode
(António Sérgio, E, IV, 24).) ser identificado. A identificação faz-se:

---- ---_.
94 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO -I FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO 95
,

o) pela desinência verbal: Os dois processos de indeterminação podem concorrer num mesmo
período:
Ficamos um bocado sem falar.
Na Casa pisavam sem sapatos, e falava-se baixo.
(Luís Bernardo Honwana, NMCT, 10.) (Anibal M. Machado, JT, I,.)
o sujeito de ficamos, indicado pela desinência -llIOS, é nós.
Oração sem sujeito.
b) pela presença do sujeito em outra oração do mesmo período Ou
de período contíguo: Não deve ser confundido o SUJEITO INDETERMINADO, que existe, mas
não se pode' ou não se deseja identificar, com a inexistência do sujeito.
Soropita ali viera, na véspera, lá dormira; e agora retornava a casa. Em orações como as seguintes:
(Guimarães Rosa, CB, IJ, 467.)
Cho.ve. Ano.itece. Faz frio..
o sujeito de viero, dormira e retornava é Soropito, mencionado na primeira interessa-nos o processo verbal em si, pois não o atribufmos a nenhum ser.
oração, antes de viera.
Diz-se, então, que o verbo é IMPESSOAL; e o sujeito, INEXISTENTE.
Eis os principais casos de inexistência do sujeito:
2. Pode ocorrer que o verbo não tenha desinência pessoal e que o
sujeito venha sugerido pela desinência de outro verbo. Por exemplo, neste
a) com verbos ou expressões que denotam fenómenos da natureza:
perípdo:
Antes de comunicar-vos uma descoberta que considero de algum Amanheceu a chover.
interesse para o nosso país, deixai que vos agradeça. (António Bo.tto, OA, 2,5.)
o sujeito de considero, indicado pela desinência -o, é eu, também sujeito de
comunicar, verbo na forma infinitiva sem desinência pessoal. b) com o verbo haver na acepção de «existir>>:
Na sala havia ainda três quadros do pintor.
(Fernando Namora, DT, 206.)
Sujeito indeterminado.
c) com os verbos haver, fazer e ir, quando. indicam tempo decorrido:
Algumas vezes o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou
por se desconhecer quem executa a acção, ou por não haver interesse no Morava no Rio havia muitos anos, desligado das coisas de Minas.
seu conhecimento. Dizemos, então, que o SUJEITO é INDETERMINADO. (Ciro dos Anjo.s, MS, 327.)
Nestes casos em que o sujeito não vem expresso na oração nem pode
ser identificado, põe-se o verbo: Faz hoje oito dias que comecei.

a) ou na ,.a pessoa do plural: (Augusto Abelaira, B, 133.)

Reputavam-no o maior comilão da cidade. . Vai para uns quinze anos escrevi uma cróruca do Curvelo.
(Ciro dos Anjos, MS, 44.) (Manuel Bandeira, PP, IJ, 338.)

b) ou na' ,.a pessoa do singular, com O pronome se: d) com o verbo ser, na indicação do tempo em geral:

Ainda sc vivia num mundo de certezas. Era por altura das lavouras.
(Agustina Bcssa Luis, OM, 296.) (Agustina Bessa Luis, S, 187.)
BRE~ GRAhl..\TICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
-, FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO 97
96

Observações: 2. Neste exemplo:


O menino foi levantado por Maria.
l.a Nas orações impessoais o verbo ser concorda em número e pessoa com
o predicativo. Veja-se, a propósito, o Capítulo 13· a acção não é praticada pelo sujeito o menino, mas pelo agente da passiva
2.a. Também ocorre a impessoalidade nas locuções verbais: _ Maria. O sujeito, no caso, sofre a acção; é dela ° PACIENTE.
Como podia haver tantas casas e tanta gente? 3. Neste exemplo:
(Graciliano Ramos, VS, 109')
Maria levantou-se.
3.n. Na linguagem coloquial do Brasil é corrente o emprego do verbo ler a acção é simultaneamente exercida e sofrida pelo sujeito Maria. O sujeito
como impessoal, à semelhança de haIJer. Escritores modernos - e alguns
dos maiores - não têm duvidado em alçar a construção à língua literária.
é então, a um tempo, o AGENTE e O PACIENTE dela.

Hoje tem festa no brejo! Como vemos, na voz activa, o termo que representa o agente é o
(Carlos Drummond de Andrade, R, 16.) SUJEITO do verbo; o que representa o paciente é o OBJECTO DIRECTO. Na
voz passiva, o OBJECTO (paciente) torria-se o SUJEITO do verbo.
o USO de ter impessoal deve estender-se ao português das nações africanas.

Da sua vitalidade em Angola há abundante documentação na obra de Luan-


dlno Vieira. Com oS verbos de estado.
- Aqui tem galinha, tem quintal...
I. Quando o verbo evoca um estado, a atitude da pessoa ou da coisa
(L, 63.)
que dele participa é de neutralidade. O sujeito, no caso, não é o agente nem
4.3 Em sentido figurado, os verbos que exprimem fenómenos da natu~ o paciente, mas a sede do processo verbal, o lugar onde ele se desenvolve:
reza podem ser empregados com sujeito:
Pedro é magro.
Choviam os ditos ao passo que e1a seguia pelas mesas. João permanece doente.
(Almada Negreiros, NG, 9z.; O porteiro ficou pálido.
2. Incluem-se naturalmente entre os verbos que evocam um estado,
ou melhor, uma mudança de estado, os incoativos como adoec~r) emagrecer}
Da atitude do sujeito. empalidecer, equivalentes a ficar doente, ficar magro, ficar Pálido.

Com os verbos de acção.


o PREDICADO
Quando o verbo exprime uma acção, a atitude do sujeito com referên-
cia ao processo verbal pode ser de actividade, de passividade, ou de acti- o PREDICADO pode ser NOMINAL, VERBAL ou VERBO-NOMINAL.

vidade e passividade ao mesmo tempo.


Predicado nominal.
I. Neste exemplo:
Maria levantou o menino. O PREDICADO NOMINAL é formado por um VERBO DE LIGAÇÃO + PRE-
DICATIVO.
o sujeito Ataria executa a acção expressa pela forma verballevantoll. O sujeito
é, pois, o AGENTE.

. _._------_.
-\
99
98 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEo FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO

I. o VERBO DE LIGAÇÃO pode expressar: Nas primeiras, os verbos estar, andar, ficar e continuar são verbos de ligação;
nas segundas, verbos significativos.
a) estado permanente:
2. O PREDICATIVO pode ser representado:
Hilário era o herdeiro da quinta.
(Carlos de Oliveira, CD, 90.) a) por substantivo ou expressão substantivada:
- O boato é um vício detestável.
b) estado transitório: (Carlos de Oliveira, AC, 183.)

o velho esteve entre a vida e a morte durante uma semana. Todo momento de achar é um perder-se a si próprio.
(Castro Soromenho, TM, 236.) (Clarice Lispector, PSGH, 12.)

b) por adjectivo ou locução adjectiva:


c) mudança de estado:
A praia estava deserta.
Amaro ficou muito perturbado. (Branquinho da Fonseca, MS, lI.)
(Érico Verissimo, LS, 137.)
- Esta linha é de morte.
(Carlos Drummond de Andrade, CB, 93.)
d) continuidade de estado:

o Barbaças continuava alheado e sorridente. c) por pronome:


(Fernando Namora, TI, 177.) Vou calar-me e fingir que eu sou eu ...
(Abgar Renault, LSL, XVIII.)
e) aparência de estado:
d) por numeral:
Ela parecia uma figura de retrato.
(Autran Dourado, TA, 14.) Tua alma o um que são dois quando dois são um ...
(Fernando Pessoa, OP, 298.)
Observação:
e) por oração substantiva predicativa:
OS VERBOS DE LIGAÇÃO (ou COPULATIVOS) servem para estabelecer a umão
entre duas palavras ou expressões de carácter nominal. Não trazem propria- Uma tarefa fundamental é I preservar a história humana.
mente ideia nOva ao sujeito; funcionam apenas como elo entre este e o seu
predicativo. (Nélida Pinon, FD, 73.)
Como há verbos que se empregam ora como copulativos, ora como signifi-
cativos, convém atentar sempre no valor que apresentam em determinado
Observações!
texto a fim de classificá-los com acerto. Comparem-se, por exemplo, estas
frases: I.a O pronome o, quando funciona como PREDICATIVO, é demonstrativo:
Estavas triste. Estavas em casa.
Andei muito preocupado. Andei muito hoje. Cada coisa é o que é.
Piquei pesaroso. Fiquei no meu post.o. (Fernando Pessoa, OP, 175.)
Continuamos silenciosos. Continuamos a marcha.
-,
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
I FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
100 101

2,[1. O PREDICATIVO pode referir-se ao OBJECTO, aplicação esta que estuda- Os verbos TRANSITIVOS podem ser DIRECTOS, INDIRECTOS, ou DIRECTOS
remoS adiante. e INDIRECTOS ao mesmo tempo.
3.& Quando se deseja dar ênfase ao PREDICATIVO, costuma-se rcIembrá-lo
com o pronome demonstrativo o: l. VERBOS TRANSITIVOS DIRECTOS. Neste exemplo de Agustina Bessa
Tive depois motivo para crer que o perverso e a peste fora-o ele pró- Luis:
prio, na intenção de fazer valer um bom serviço. Ela invejava os homens.
(Raul Pompéia, A, 50.) (OM, 207.)
É O que se chama PREDICATIVO PLEONÁSTICO.
a acção expressa por invgava transmite-se a outro elemento (os homens) direc-
tamente, ou seja, sem o auxílio de preposição. É, por isso, chamado VERBO
TRANSITIVO DIRECTO, e o termo da oração que lhe integra o sentido recebe
Predicado verbal.
o nome de OB]ECTO DIRECTO.
o PREDICADO VERBAL tem como núcleo, isto é, como elemento prin-
cipal da declaração que se faz do sujeito, um VERBO SIGNIFICATIVO. 2. VERBOS TRANSITIVOS INDIRECTOS. Neste exemplo:
VERBOS SIGNIFICATIVOS são aqueles que trazem uma ideia nova ao Perdoem ao pobre tolo.
sujeito. Podem ser INTRANSITIVOS e TRANSITIVOS. (Ciro dos Anjos, DR, 235.)

a acção expressa por perdoem transita para outro elemento da oração (o pobre
Verbos intransitivos. /010) indirectamente, isto é, por meio da preposição d. Tal verbo denomina-
-se, por conseguinte, TRANSITIVO INDIRECTO. O termo da oração que com-
Nestas orações de Da Costa e Silva: pleta o sentido de um verbo TRANSITIVO INDIRECTO denomina-se OB]ECTO
INDIRECTO.
Sobe a névoa ... A sombra desce ...
(PC, 281.) 3· VERBOS SIMULTANEAMENTE TRANSITIVOS DIRECTOS E INDIRECTOS.
Neste exemplo:
verificamos que a acção está integralmente contida nas formas verbais sobe o sucesso do seu gesto não deu paz ao Lomba.
e desce. Tais verbos são, pois, INTRANSITIVOS, ou seja, não TRANSITIVOS: a (Miguel Torga, NCM, 51.)
acção não vai além do verbo.
a acção expressa por deu transita para outros elementos da oração, a um
tempo, directa e Indirectamente. Por outras palavras: este verbo requer
Verbos transitivos.
simultaneamente OB]ECTO DIRECTO e INDIRECTO para completar-lhe o
sentido.
Nestas orações de Fernanda Botelho:
Ele não me agradece, / nem eu lhe dou tempo.
(X, 4 1.)
Predicado verbo-nominal.
vemos que as formas verbais agradece e dou exigem certos termos para com-
pletar-lhes o significado. Como o processo verbal não está integralmente Não são apenas os verbos de ligação que se constroem com predica-
contido nelas, mas se transmite a outros elementos (o pronome li/e na pri- tivo do sujeito. Também verbos significativos podem ser empregados com
meira oração, o pronome lhe e o substantivo tempo na segunda), estes ver- ele.
bos chamam-se TRANSITIVOS.
I02 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
·r o3

Neste exemplo: Não sei que diga do marido relativamente ao baile da ilha.

Paulo riu despreocupado. (Machado de Assis, DC, l, 935.)


(Mrânio Peixoto, RC, '9")
No primeiro exemplo, o pronome ele está relacionado com o substan-
o verbo rir é significativo. Despreocllptulo refere-se ao sujeito Palllo, qua- tivo interesse por meio da preposição por,. no segundo, o substantivo lágri-
lificando-o. mas relaciona-se com o adjectivo rasos através da preposição de,. no terceiro,
A este predicado misto, que possui dois núcleos significativos (um o substantivo poemas, modificado pelo adjectivo bastantes, integra o sentido
verbo e um predicativo), dá-se o nome de VERBO-NOMINAL. da forma verbal tenho escrito .. no quarto, o baile da ilha prende-se ao advér-
bio relativamente por intermédio da preposição a.
Observação: Vemos, pois, que há palavras que completam o sentido de substan-
tivos, de adjectivos, de verbos e de advérbios. As que se ligam por prepo-
No PREDICADO VERBQ-NOMINAL o predicativo anexo ao sujeito pode vir
antecedido de preposiçãO, ou do conectivo como: sição a substantivo, adjectivo ou advérbio chamam-se COMPLEMENTOS NOMI-
NAIS. Denominam-se COMPLEMENTOS VERBAIS as que integram o sentido
O acto foi acusado de ilegal. do verbo.
Carlos saiu estudante e voltou como doutor.

COMPLEMENTO NOMINAL
Variabilidade de predicação verbal.

A análise da transitividade verbal é feita de acordo com o texto e não O COMPLEMENTO NOMINAL vem, como dissemos, ligado por preposição
isoladamente. O mesmo verbo pode estar empregado ora intransitivamente, ao substantivo, ao adjectivo ou ao advérbio cujo sentido integra ou limita.
ora transitivamente; ora com objecto directo, ora com objecto indirecto. A palavra que tem o seu sentido completado ou integrado encerra «Uma
Comparem-se estes exemplos: ideia de relação e o complemento é o objecto desta relaçãQ».
O COMPLEMENTO NOMINAL pode ser representado por:
Perdoai sempre [= INTRANSITIVO].
Perdoai as ofensas [= TRANSITIVO DlRECTO]. a) substantivo (acompanhado ou não dos seus modificadores):
Perdoai aos inimigos [= 'I'RANSrtrvo INDlRECTO].
Perdoai a8 ofensas aos inimigos [= TRANSITIVO DlRECTO B INDlRECTO].
o pior é a demora do vapor.
(Vitorino Nemésio, MTC, 36I.)
A ORAÇÃO E OS SEUS TERMOS INTEGRANTES Só Joana parecia alheia a toda essa actividade.
(Fernando Namora, T], >3 I.)
Examinemos as partes assinaladas nas orações abaixo:
b) pronome:
Alguns colegas mostravam interesse por ele.
(Raul Pompéia, A, >34.) Tinha nojo de si mesma.
(Machado de Assis, DC, l, 487.)
Tinha ·os olhos ra808 de lágrima8.
(Agustioa Bessa LuIs, QR, >7>.) c) numeral:
Tenho escrito bastantes poemas. A vida dele era necessária a ambas.
(Fernando Pessoa, DP, 175.) (Machado de Assis, DC, l, 393.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTFMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERioDO
10 4 10 5

ti) palavra ou expressão substantivada; c) numeral:

Passo, fantasma do meu ser presente, - Já tenho seis lá em casa, que mal faz intcirat sete?
Ébrio, por intervalos, de um Além. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 3I.)
(Fernando Pessoa, OP, 392.)
ti) palavra ou expressão substantivada:
e) oração completiva nominal:
Como quem compõe roupas
Comprei a consciência de que sou O outrora compúnhamos.
Homem de trocas com a natureza. (Fernando Pessoa, OP, 206.)
(Miguel Torga, CH, lI.)
Perscrutava na quietude o inútil de sua vida.
(Autran Dourado, TA, 36.)
Observações:

I.a O COMPLEMENTO NOMINAL pode estar integrando o sujeito, o predi- e) oração substantiva (objectiva directa):
cativo, o objecto directo, o ohjecto indirecto, o agente da passiva, o adjunto
adverbial, o aposto e o vocativo. Não quero que fiques triste.
2.80 Convém ter presente que o nome cujo sentido o COMPLEMENTO NOMI-
NAL integra corresponde, geralmente, a um verbo transitivo de radical seme- (José Régio, SM, '95')
lhante:
amor da pátria ........................... amar a pátria Objecto directo preposicionado.
ódio aos injustos ............ " .......... odiar os injustos
I. O OB]ECTO DIRECTO costuma vir regido da preposição a:

COMPLEMENTOS VERBAIS a) com os verbos que exprimem sentimentos:


Só não amava a Jorge como amava ao filho.
Objecto directo.
(Joaquim Paço d'Arcos, CVL, 156.)
OB]ECTO DIRECTO é O complemento de um verbo transItIvo directo,
b) para evitar ambiguidade:
ou seja o complemento que normalmente vem ligado ao verbo sem pre-
posição e indica o ser para o qual se dirige a acção verbal. Sabeis, que ao Mestre vai matá-lo.
(Marcelino Mesquita, LT, 66.)
Pode ser representado por:
c) quando vem antecipado, como nos provérbios seguintes:
a) substantivo:
A homem pobre ninguém roube.
Vou descobrir mundos, quero glória e fama! ... A médico, confessor e letrado nunca enganes.

(Guerra Junqueiro, S, 12.)


2. O OB]ECTO DIRECTO é obrigatoriamente preposicionado quandc
expresso por pronome pessoal oblíquo tónico:
b) pronome (substantivo):
Rubião viu em duas rosas vulgares uma festa imperial, e esqueceu a sala
Os jornais nada publicaram. a mulher e a si.
(Carlos Drummond de Andrade, CA, 135.) (Machado de Assis, DC, I, 679.)
.,
106 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
10 7

Objecto directo pleonástico. ti) palavra ou expressão substantivada:

l.Quando se quer chamar a atenção para o OBJECTO DIRECTO que pre- Mas - quem daria dinheiro aos pobres?
cede o verbo, costuma-se relembrá-lo por um pronome oblíquo. É o que se (Clarice Lispector, BF, 138.)
chama OB]ECTO DIRECTO PLEONÁSTICO, em cuja constituição entra sempre Seu formidável vulto solitário
um prono'lle pessoal átono: Enche de estar presente o mar e o céu.
(Fernando Pessoa, OP, 14.)
Palavras cria-as o tempo e o tempo as mata.
(José Cardoso Pires, D, 300.) e) oração substantiva (objectiva indirecta):
- Não te esqueças de que a 'obediência é o primeiro voto das noviças.
2. O OB]ECTO DIRECTO pode também ser constitufdo
PLEONÁSTICO
(Josué Montello, DP, 236.)
de um pronome átono e de uma forma pronominal tónica preposicionada:

Mas não encontrou Marcelo nenhum. Encontrou-nos a nós. 2. Não vem precedido de preposição o OB]ECTO INDIRECTO represen-
(David Montão-Ferreira, I, 23.) tado pelos pronomes pessoais oblíquos me, te, lhe, nos, vos, lhes, e pelo refle-
xivo se. Note-se que o pronome oblíquo lhe (lhes) é essencialmente OB]ECTO
INDlRECTO:

As noites não lhe trouxeram repouso, mas deram-lhe, em contrapartida,


tempo pata a meditação.
Objecto indirecto.
(Joaquim Paço d'Arcos, CVL, "77')

l. OB]ECTO INDIRECTO é o complemento de um verbo transitivo Luís Garcia dera-se pressa em visitar o filho de Valéria.
indirecto, isto é, o complemento que se liga ao verbo por meio de prepo· (Machado de Assis, OC, I, 336.)
sição.
Pode ser representado por:
Objecto indirecto pleonástico.
a) substantivo:
Com a finalidade de realçá-lo, costuma-se repetir o OB]ECTO INDIRECTO.
Duvidava da riqueza da terra.
Neste caso, uma das formas é obrigatoriamente Um pronome pessoal átono.
(Nélida Pinon, CC, 190') A outra pode ser um substantivo ou um pronome obllquo tónico antecedido
de preposição:
b) pronome (substantivo):
- Quem lhe disse a você que estavam no palheiro?
Que ela afaste de ti aquelas dores (Carlos de Oliveira, A C, "9.)
Que fizeram de mim isto que sou!
(Florbela Espanca, S, 24.)
Predicativo do objecto.
c) numeral:
I. Tanto o OB]ECTO DIRECTO como o INDIRECTO podem ser modifi-
Os domingos, porém, pertenciam aos dois. cados por PREDICATIVO. O PREDICATIVO DO OB]ECTO só aparece no predi-
(Fernando Namora, CS, "3.) c?-do VERBO-NOMINAL, e é expresso:
~,

108 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE. ORAÇÃO, PERÍODO 10 9

a) por substantivo: b) por pronome:

Uns a nomeiam primavera. Eu lhe chamo estado de espírito. A mesma oração foi por mim proferida em São José dos Campos,
minha cidade natal.
(Carlos Drummond de Andrade, FA, 12).) (Cassiano~Ricardo, VTE, .6.)

b) por adjectivo: c) por numeral:


Não devem ser escutadas por todos; têm de ser ouvidas por um.
Os trabalhadores da Gamboa julgam-no assombrado.
(Joaquim Paço d'Arcos, eVL, 3)0.)
(Orlando Mendes, P, 140.)
d) por oração substantiva:
2. Como o PREDICATIVO DO SUJEITO, o do OBjECTO pode vir antece~ Mariana era apreciada por todos quantos iam a nossa casa, homens
di do de preposição, ou do conectivo C011/0: e senhoras.
(Machado de Assis, oe, li, 746.)
Quaresma então explicou porque o tratavam por major.
(Lima Barreto, TFPQ, 21).)
Transformação de oração activa em passiva.
Considero-o como o primeiro dos precursores do espírito moderno.
(Antero de Quental, e,313.) I. Quando uma oração contém um verbo construido com objecto
directo, ela pode assumir a forma passiva, mediante as seguintes transfor~
mações:
a) o objecto directo passa a ser sujeito da passiva;
Observação:
b) o verbo passa à forma passiva analltica do mesmo tempo e modo;
Somente com o verbo chamar pode ocorrer o PREDICATIVO DO OBJECTO IN- c) o sujeito converte~se em agente da passiva.
DlRECTO:
Tomando~se como exemplo a seguinte oração activa:
A gtm~ só ouvia o Pancário chamar-lhe ladrão e mentiroso.
(Castro Soromenho, V, 220.) A inflação corrói os salários.

poderlamos colocá~la no esquema:


Agente da passiva. oração

I. AGENTE DA PASSIVA é o complemento que, na voz passiva com


------
auxiliar, designa o ser que pratica a acção sofrida ou recebida pelo sujeito. sujeito predicado

~
Este complemento verbal - normalmente introduzido pela preposição
por (ou pcr) e, algumas vezes, por de - pode ser representado:
a) por substantivo ou palavra substantivada: ~ o'i=> """-
- Esta carta foi escrita por um marinheiro americano.
(Fernando Namora, DT, 120.)

Convertida na oração passiva, terlamos:

- - ----- --_. - - - ---_.


1I0 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
III

Os salários são corroldos pela inflação. São TERMOS ACESSÓRIOS: a) o ADJUNTO ADNOMINAL; b) O ADJUNTO
ADVERBIAL; c) o APOSTO.
o seu esquema seria então:

oração
---- ADJUNTO ADNOMINAL

sujeito prerucado
ADJUNTO ADNOMINAL é o termo de valor adjectivo que serve para

ver~da
especificar ou delimitar.o significado de um substantivo, qualquer que seja
a função deste.
passiva
O ADJUNTO ADNOMINAL pode vir expresso por:
a) adjectivo:

Na areia podemos fazer até castelos soberbos, onde abrigar o nosso


intimo sonho.
(Rubem Braga, CCE, Zj I.)
2. Se numa oração da voz activa o verbo estiver na 3. a pessoa do
plural para inrucar a indeterminação do sujeito, na transformação passiva
b) locução adjectiva:
cala-se o agente.
Assim: Era um homem de consciência.
(Augusto Abelaira, NC, 'l.)
voz ACTIVA voz PASSIVA
Aumentaram os salários. OS salários foram aumentados. c) artigo (definido ou indefinido):
Contiveram a inflação. A inflação foi conrida.
o ovo é a cruz que a galinha carrega na vida.
Observações: (Oarice Lispector, FC, 5'.)
1. 30 Cumpre não esquecer que, na passagem de uma oração da voz activa
d) pronome adjectivo:
para a passiva, ou vice-versa, o agente e o paciente continuam os mesmos;
apenas desempenham função sintáctica diferente. Deposito a minha dona no limiar da sua moradia.
2.a. Na voz passiva pronominal, a língua moderna omite sempre o agente:
(Fernanda Botelho, X, 1I8.)
Aumentou-se o salário dos gráficos.
Conteve-se a inflação em níveis razoáveis. e) numeral:
Casara-se havia duas semanas.

A ORAÇÃO E OS SEUS TERMOS ACESSÓRIOS (Carlos Drummond de Andrade, CB, Z9.)

f) oração adjectiva:
Chamam-se ACESSÓRIOS OS TERMOS que se juntam a um nome ou a um
verbo pata lhes precisar o significado. Embora tragam um dado novo à Os cabelos, que tinha fartos e lisos, caíram-lhe todos.
oração, n.~o são indispensáveis ao entendimento do enunciado. Dal a sua (Maria Jumte de Carvalho, A V, II 6.)
denominação.
lU BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERioDO
"3

ADJUNTO ADVERBIAL c) DE DÚVIDA:

Talvez Nina tivesse razão ...


ADJUNTO ADVERBIAL é, como o nome indica, o termo de valor adver-
bial que denota alguma circunstância do facto expresso pelo verbo, ou inten- (Vitorino Nemésio, MTC, 105.)
sifica o sentido deste, de um adjectivo, ou de um advérbio. ti) DE FIM:
O ADJUNTO ADVERBIAL pode vir representado:
Há homens para nada, muitos para pouco, alguns para muito, nenhum
para tudo.
a) por advérbio:
(Marquês de Maricá, M, 87.)
Amou-a perdidamente.
(Lygia Fagundes TeIles, DA, 118.) e) DE INSTRUMENTO:

Dou-te com o chicote, ouviste!


b) por locução ou expressão adverbial: (Luandino Vieita, L, 41.)

De súbito, eu, o Barão e a criada começamos a dançar no meio da sala. f) DE INTENSIDADE:


(Branquinho da Fonseca, B, 61.)
Gosto muito de ti.
(Miguel Torga, NCM, 32.)
c) por oração adverbial:
g) DE LUGAR:
Fechemos os olhos até que o sol comece a declinar.
(Anlbal M. Machado, C], 82.) o vulto escuro entrou no jardim, sum.iu~se em meio as árvores.
(Érico Verlssimo, .W', 133')

h) DE MATÉRIA:

Classificação dos adjuntos adverbiais.


Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melan-
colia.
(Machado de Assis, OC, I, 413.)
É difícil enumerar todos os tipos de ADJUNTOS ADVERBIAIS. Muitas
I} DE MEIO:
vezes, s6 em face do texto se pode propor uma classificação exacta. Não
obstante, convém conhecer os seguintes:
Estarei talvez confundindo as coisas, mas Anlbal ainda viajava de bici-
cleta, imaginem I
a) DE CAUSA: (Augusto Abelaira, NC, 19')
Por que lhes dals tanta dor?1 J) DE MODO:

(Augusto Gil, L], '5.)


Vagarosamente ela foi recolhendo o fio.
(Lygia Fagundes Teiles, ABV, 7.)
b) DE COMPANHIA:
I) DE NEGAÇÃO:
Vivi com Daniel perto de dois anos.
- Não, senhor Cónego, vejo. Mas não concordo, não aceito.
(Clarice Lispector, BF, 79')
(Bernardo Santareno, TPM, 109.)

.. _._ ..... _ ..._-_.... _ - - - -


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPoRÂNno
, FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
II4
I
'i "-
IIj

m) DE TEMPO: b) referir-se a uma oração inteira:

Todas as manhãs ele sentava-se cedo a essa mesa e escrevia até a8 dez, o importante é saber para onde puxa mais a corredeira. - coisa, aliás,
onze horas. sem grandes mistérios.
(pedro' Nava, BO, BO.) (Mál:io Palmério, VC, 375.)

c) ser enumerativo, ou recapitulativo:


Tudo o fazia lembrar-se dela: a manhã, os pássaros, o mar, o azul do
APOSTO céu, as flores, os campos, os jardins, a relva, as casas, as fontes, sobre...
tudo as fontes, principalmente as fontes!
I. é o termo de carácter nominal que se junta a um substan-
ApOSTO
(Almada Negreiros, NG, 112.)
tivo, a um pronome, ou a um equivalente destes, a titulo de explicação ou Os porcos do chlqueiro, as galinhas, os pés de bogari, o cardeiro da
de apreciação: estrada, as cajazeiras, o bode manso, tudo na casa de seu compadre parecia
mais seguro do que dantes.
Eles, os pobres desesperados, tinham uma euforia de fantoches. (José Lins do Rego, FM, .89.)
(Fernando Namora, DT, '37.)

2. Entre o APOSTO e o termo a que ele se refere há em geral pausa, Valor sintáctico do aposto.
marcada na escrita por uma vJrgula, como no exemplo acima.
Mas pode também não haver pausa entre o APOSTO e a palavra prin- O APOSTO tem O mesmo valor sintáctico do termo a que se refere. Pode,
cipal, quando esta é um termo genérico, especificado ou individualizado assim, haver:
pelo APOSTO. Por exemplo: a) aposto no sujeito:
A cidade de Lisboa O rei D. Manuel Ela, Dora, foi, de resto, muitíssimo discreta.
O poeta Bilac O mês de Junho
(Maria Judite de Carvalho, AV, 10j.)
Este APOSTO, chamado DE ESPECIFICAÇÃO, não deve ser confundido
com certas construções formalmente semelhantes, como: b) aposto no predicativo:
O clima de Lisboa A época de D. Manuel Ele era o famoso Ricardão, o homem das beiras do Verde Pequeno.
O soneto de Bilac As festas de Junho (Guimarães Rosa, GS- V, 203.)

c) aposto no complemento nominal:


em que de Lisboa, de Ri/ac, de D. Mallllc/ e de jl/I/ho equivalem a adjectivos
(= lisboeta, bilaquiano, mal/I/elina e jU/Jinas) e funcionam, portanto, como ATRI- João Viegas está ansioso por um amigo que se demora, o Calisto.
BUTOS ou ADJUNTOS ADNOMINAIS. (Machado de Assis, OC, II, 521.)

d) aposto no objecto directo:


3. O APOSTO pode também: Jogamos uma partida de xadrez, uma luta renhida, quase duas horas ...
(Augusto Abelaira, NC, 54.)
a) ser representado por uma oração.
Homem feio tem esta vantagem: mulher burra não o persegue. c) aposto no objecto indirecto:
(Gilberto Amado, DP, '54.) Meu pai cortava cana para a égua, sua montaria predileta.
(Jorge Amado, MG, 13.)
. ,
I
,,6 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
II7
f) aposto no agente da passiva: o mesmo raciocinío aplica-se à análise de orações elípticas, cujo corpo
As paredes foram levantadas por Tomás Manuel, avô do Engenheiro. se reduz a um adjectivo que nelas desempenha a função de PREDICATrVo.
(José Cardoso Pires, D, 63.) É o caso de frases do tipo:

Rico, desdenhava dos humildes.


g) aposto no adjunto adverbial:
Você não tem relações aqui, no Rio, menino? em que rico não é APOSTO. Equivale a uma oração adverbial de causa
(Lima Barreto, REIC, 89.) [= porque era rico], dentro da qual exerce a função de PREDICATIVO.
O adjectivo, enquanto adjectivo, «não pode exercer a função de APOSTO,
h) aposto no aposto:
porque ele designa UflJa característica do ser ou da coisa, e não o próprio ser
Os primeiros foram os Vite1as, familia composta de Justiniano Vilela, ou a própria cois",>.
chefe de secção aposentado, D. Margarida, sua esposa, e D. Augusta,
sobrinha de ambos.
VOCATIVO
(Machado de Assis, OC, lI, '93.)
Examinando estes versos de AntónÍo Nobre:
i) aposto no vocativo:

Razão, irmã do Amor e da Justiça, Manuel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.
Mais uma vez escuta a minha prece. (S, 51.)
(Antero de Quental, SC, 71.)
Ó sinos de Santa Clara,
Por quem dobrais, quem morreu?
Aposto e predicativo. (S, 47.)

Com o APOSTO atribui-se a um substantivo a propriedade representada vemos que, neles, os termos Manuel e 6 sinos de Santa C/ara não estão subor-
por outro substantivo. Os dois termos designam sempre o mesmo ser, o dinados a nenhum outro termo da frase. Servem apenas para invocar, cha-
mesmo objecto, o mesmo facto ou a mesma ideia. mar ou nomear, com ênfase maior ou menor, uma pessoa ou coisa perso-
nificada.
por isso, o APOSTO não deve ser confundido com o adjectivo que, em
função de PREDICATIVO, costuma vir separado do substantivo que modi- A estes termos, de entoação exclamativa e isolados do resto da frase
fica por uma pausa sensível (indicada geralmente por vírgula na escrita). dá-se o nome de VOCATIVO.
Numa oração como a seguinte:
E a noite vai descendo muda e calma ... COLOCAÇÃO DOS TERMOS NA ORAÇÃO
(F1orbela Espanca, S, 60.)
Ordem directa e ordem inversa.

que também poderia ser enunciada: I. Em português, como nas demais línguas românicas, predomina a
ORDEM DIRECTA, isto é, os termos da oração dispõem-se preferentemente
E a noite, muda e calma, vai descendo ... na sequência:
ou:

E, muda e calma, a noite vai descendo ...


SU)BITO + VERBO + OB)BCTO DIRECTO + OB)BCTO INDIRECTO
ou
flJuda e ca/flJa é PREDICATIVO de um predicado verbo-nomínal.
SUJEITO + VERBo + PREDICATIVO

- .."-,",,--- --<.,;..- -'<_:::;~--,_L


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
I1S
"9
Essa preferência pela ORDEM DIRECTA é mais sensível nas ORAÇÕES Acolá, na entrada do Catongo, é uma festa de mutirão.
ENUNCIATIVAS OU DECLARATIVAS (afirmativas ou negativas). Assim: (Adonias Filho, LP, 30.)
Carlos ofereceu um livro ao colega.
Carlos é gentil.
Paulo não perdoou a ofensa do colega. Inversões de natureza gramatical.
Paulo não é generoso.

Em· outros lugares deste livro tratamos da colocação de termos da ora-


2. Ao reconhecermos a predominância da ordem directa em portu- ção. Por isso, vamos restringir-nos aqui apenas a algumas considerações
guês, não devemos concluir que as inversões repugnem ao nosso idioma. quanto à posição do VERBO relativamente ao SUJEITO e ao PREDICATIVO.
Pelo contrário, com muito mais facilidade do que outras linguas (do que o
francês, por exemplo), ele nos permite alterar a ordem normal dos termos
da oração. Há mesmo certas inversões que o uso consagrou, e se tornaram ·Inversão verbo + Slfiei!o.
para nós uma exigência gramatical.
l. A inversão VERBO + SUJEITO verifica-se em geral:
a) nas orações interrogativas:

Inversões de natureza estilistica. Que fazes tu de grande e bom, contudo?


(Antero de Quental, se, 64.)
Dos factores que normalmente concorrem para alterar a sequência
lógica dos termos de uma oração, o mais importante é, sem dúvida, a ênfase.
b) nas orações que contêm uma forma verbal imperativa:
Assim, o realce do SUJEITO provoca geralmente a sua posposição ao
VERBO: Dize-me tu, ó céu deserto,
dize-me tu se é muito tarde.
Quero levar-te a dédalos profundos,
Onde refervem sóis ... e céus ... e mundos ... (Cecllia Meireles, OP, 502 .)
(Castro Alves, EF, 44.)
c) nas orações em que o verbo está na passiva pronominal:
Ao contrário, o realce do PREDICATIVO, do OB]ECTO (DIRECTO ou Formam-se bolhas na água ...
INDIRBCTO) e do ADJUNTO ADVERBIAL é expresso de regra pela sua anteci-
pação ao verbo: (Fernando ·Pessoa, OP, 160.)

Fraca foi a resistência. ti) nas orações absolutas consttuldas com o verbo no conjuntivo para
(Ciro dos Anjos, MS, 3'3.) denotar uma ordem, um desejo:

Minha espada, pesada a braços lassos, - Que venha essa coisa melhor!
Em mãos viris e calmas entreguei.
(Murilo Rubião, D, 17.)
(Fernando Pessoa, OP, 67.)
Chovam lírios e rosas no teu colo I
A ela devia o meu estado psíquico cinzento e melindroso.
(Fernando Namora, DT, 59')
(Antero de Quental, se, 35.)

.< ..u.l
----------_._--------- -
-1
BREVE GRAMÁTICA DO POR'l'UGUÊS CONTEMPORÂNBO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO 121
120
(,
e) nas orações construídas com verbos do tipo dizer, sugerir, perguIJlar, ! A nós, homens de letras, impõe-se o dever da direcção deste movi-
! mento.
responder c sinónimos que arrematam enunciados em DISCURSO DlRECTQ
(Olavo BUac, DN, lU.)
ou neles se inserem:
Num paquete como este não existe a solidão!
_ Isso não se faz, moço, protestou Fabiano. (Augusto Abelaira, NC, 41.)
(Graciliano Ramos, VS,·40.)
2. A oração subordinada substantiva subjectiva coloca-se normalmente
depois do verbo da principal:
J) nas orações reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de particípio:
É preciso que eles nos temam.
Pelas madrugadas de São João, ao começarem a morrer as fogueiras,
mocinhas postavam-se diante do Solar. (Castro Soromenbo, V, II6.)
(Geraldo França de Lima, IV, 5·)
3. Em principio, os verbos intransitivos podem vir sempre antepostos
T cnda adoecido o nosso professor de português, padre Faria, ele ao seu sujeito:
o substituiu.
(Jorge Amado, MG, II2.) Desponta a lua. Adormeceu o vento,
Adormeceram vales e campinas ...
Acabada a lengalenga, pretendi que bisasse. (Antero de Quental, SC, II4.)
(Aquilino Ribeiro, CRG, 16.)

Observações:
g) nas orações subordinadas adverbiais condicionais construídas sem
conjunção: I.a Embora nos casos mencionados a tendência da l1ngua seja manifes-
tamente pela inversão VERBO + SUJEITO, em quase todos eles é possível - e
Tivesse eu tomado em meus braços a rapariga e pagaria dentro em perfeitamente correcta - a construção SU]EI'l'O + VERBO.
pouco em amarguras os momentos fugazes de felicidade. 2..& O pronome relativo coloca-se no princípio da oração, quer desempenhe
(Augusto Frederico Scbmidt, AP, 68.) a função de sujeito, quer a de objecto.

h) em certas construções com verbos unipessoais:


Inversão predicativo + verbo.
Aconteceu no Rio, como acontecem tantas coisas.
(Carlos Drummond de Andrade, CB, 30.) l. O PREDICATIVO segue normalmente o verbo de ligação. Pode, no
Basta o amor ao trabalho ... entanto, precedê-lo:
(Augusto Abelaira, NC, 14')
a) nas orações interrogativas e exclamativas:
tJ nas orações que se iniciam pelo predicativo, pelo objecto (directo Que monstro seria ela?
!>u indirecto) ou por adjunto adverbial: (José Lins do Rego, E, 25 5.)

Majestoso assoma o astro rei.


(José de Alencar, OC, II, II23·) b) em construções afectivas do tipo:

Essa justiça vulgar, porém, não me soube fazer o meu velho mestre. Probidade - essa foi realmente a qualidade primacial dc Vcrlssimo.
(Rui Barbosa, R, 86.) (Manuel Bandeira, PP, II, 415.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CON'I'EMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
122 12 3

c) em frases afectivas denotadoras de desejo: Oração declarativa.

Amaldiçoados sejam eles, caiam-lhes aS almas nas profundezas do I. Examinando a seguinte oração, constituída de um só grupo fónico:
inferno.
(José Saramago, LC, 121.) Os alunos chegaram tarde,

observamos que a voz descreve, aproximadamente, esta curva melódica:


ENTOAÇÃO ORACIONAL
lu ga tar
A linha ou curva melódica descrita pela voz ao pronunciar palavras,
orações e períodos chama-se ENTOAÇÃO. nos che ram

a
Grupo acentuai e grupo fónico.
Os
Dissemos que GRUPO ACENTUAL é todo segmento de frase que se apoia
em um acento tónico principal. A um ou vários grupos acentuais compreen- de
didos entre duas pausas (lógicas, expressivas, ou respiratórias) dá-se o nome
de GRUPO FÓNICO. que poderíamos simplificar no esquema:
Por exemplo: numa elocução lenta, o segninte período de Marques
Rebelo:

o aguaceiro I desabou, I com estrépito, I mas a folia I persistiu.


apresenta cinco GRUPOS ACENTUAIS, cujos limites marcámos com um traço
inclinado. Mas encerra apenas três GRUPOS FÓNICOS.

o aguaceiIO desabou, II com estrépito, II mas a folia persistiu.


2. Notamos, com base no traçado acima, que o grupo fónico em
O grupo fónico, unidade melódica. exame compreende três partes distintas:
a) a parte inicial (ou ASCENDENTE), que começa em um nivel tonal
A UNIDADE MELÓDICA é o segmento mínimo de um enunciado com médio, característico das frases afirmativas, e apresenta, em seguida, uma
sentido próprio e com forma musical determinada. Os seus limites coinci- ascensão da voz, que atinge o seu ponto culminante na primeira sllaba tó-
dem com os. do GRUPO FÓNICO. Podemos, pois, con;3iderar o GRUPO FÓNICO nica(/u),-
o equivalente da UNIDADE MELóDICA. b) a parte mediai, em que a voz, com ligeiras ondulações, permanece,
aproximadamente, no nível tonal alcançado;
o grupo fónico e a oração. c) a parte final (ou DESCENDENTE), em que a voz cai progressivamente
a partir da sllaba (tar), atingindo um nivel tonal baixo no final da frase.
Caracterizada a unidade melódica, passemos à análise das diferenças 3. Dessas três partes, a inicial e a final são as mais importantes da
que se observam na curva tonal descrita por três tipos de oração: a DECLA- figura da entoação. Toda ORAÇÃO DECLARATIVA completa encerra uma
RA'rrVA, a INTERROGATIVA e a EXCLAMATIVA. parte inicial ascendente e uma parte final desceI/dente, ambas m,lÍto nítidas.

- ,-, . .._....
_ ~-_ ..... _,._- -_._--~------- ---- -.. _- .-~-
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO 12 5
124

4. No caso de ser a oração declarativa constltuida de mais de um a) o ataque da frase começar por um nível tonal mais alto do que
grupo fónico, o primeiro grupo começa por uma parte ascendente, e o último na oração declarativa;
finaliza com uma descendente. b) na parte mediai do segmento melódico, haver uma queda da voz,
que, embora seja mais acentuada do que nas orações declarativas, não altera
o carácter ascendente desta modalidade de interrogação;
Oração interrogativa.
c) subir a voz acentuadamente na última vogal tónica, ponto culmi-
No estudo da ENTOAÇÃO INTERROGATIVA temos de considerar previa~ nante da frase; em seguida, sofrer uma queda brusca, apesar de se manter
mente o facto de se iniciar ou não a frase por pronome ou advérbio inter- em nível tonal elevado ..
rogativo, pois que a curva tonal é distinta nos dois casos.
3. Comparando esta curva à da oração declarativa estudada, verifica-
mos que elas se assemelham por terem ambas a parte inicial ascendente e a
Orações não iniciadas por pronome ou advérbio interrogativo. parte mediai relativamente uniforme.

I. Tomando como exemplo a mesma oração declarativa, enunciada, Distinguem-se, porém:


porém, de forma interrogativa:
a) quanto à parte final: descendente, na declarativa; ascendente na
05 alunos chegaram tarde? interrogativa;
b) quanto ao nível tonal: médio e baixo, na declarativa; alto e altis-
observamos que ela descreve a curva melódica:
simo, na interrogativa;
tar c) quanto à queda da voz a partir da última sllaba tónica: progressiva,
ga na declarativa; brusca, na interrogativa.
ram
che de 4. Por ser a curva melódica descrita pela voz o único elemento que,
lu na frase em exame, contribui para o carácter interrogativo da mensagem,
nos temos de reconhecer que, em casos tais, a entoação apresenta ineqnívoco
a valor funcional na nossa lingua.
Os
Orações iniciadas por pronome ou advérbio interrogativo.

que poderíamos assim apresentar esquematicamente: Tomemos como exemplo a oração:

Como soube disto?

Em sua enunciação a voz descreve a seguinte curva melódica:

co sou

mo be

dia
2.São características deste tipo de interrogação, em que se espera
sempre uma resposta categórica silll, ou 1/ão: to

._-_._---
,,6 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO
"7
que poderíamos assim esquematizar: ção da voz na primeira sllaba tónica, seguida de um lento decllnio da curva
melódica até o final da frase;
b) o nivel tonal da frase é, em geral, mais baixo que o da interrogação
directa;
c) a queda da curva melódica é progressiva, semelhante à que se observa
nas orações declarativas.

4· A escrita procura rellectir a diferença tonal entre essas formas de


São características das orações interrogativas deste tipo: interrogação com adoptar Ü pQl,TO DE INTERROGAÇÃO para marcar o tér-
a) o ataque da frase que, iniciado em um nível tonal muito alto, sobe, mino da interrogação directa, e o simples PONTO, para O da indirecta.
às vezes, bruscamente até à primeira silaba tóruca, silaba esta que, na maio~
ria dos casos, pertence ao pronome ou ao advérbio interrogativo, ou seja,
ao elemento que realiza a função interrogativa da oração; Oração exclamativa.
b) a curva melódica, que, após a primeira sllaba tónica, decresce pro-
gressivamente e de maneira mais acentuada do que nas frases declarativas.
Nas exclamações, a entoação depende de múltiplos factores, especial-
mente do grau e da natureza da emoção de quem fala.
Interrogação directa e indirecta. :fi a expressão emocional que faz variar o tom, a duração e a intensidade
de uma interjeição monossilábica, tal como acontece com a interjeição oh I
nestes dois versos de Castro Alves:
l. Vimos que a interrogação pode ser expressa:
a)ou por meio de uma oração em que a parte final apresenta entoa- Oh! que doce harmonia traz-me a brisa I
ção ascendente, como em: Oh! ver não posso este Jabéu maldito I

Os alunos chegaram tarde? Nas formas exclamativas de maior corpo, a expressão emocional con-
centra-se fundamentalmente ou na sHaba que recebe o acento de insistência
b) ou por um~· or~.ção iniciad~ por pronome ou advérbio interroga- (se houv'r), ou na sllaba em que recai o acento normal. Como o primeiro
tivo, em que a parte final apresenta entoação descendente, por exemplo: não tem valor rítmico, é o acento normal o ápice da curva melódica. Assim,
nas exclamações:
Como soube disto?
Bandido! Insolente! Fantásticol
Nestes casos dizemos que a interrogação é directa.
a voz eleva-se até a sllaba tônica e, depois de alguma demora, decai brusca-
2. Existe, porém, um outro tipo de interrogação, chamada INDIREC'rA, mente. Obedecem elas, pois, ao esquema
que se faz por meio de um período composto, em que a pergunta está contida
numa oração subordinada de entoação descendente.
Exemplo:

Diga-me como soube disto.

3. Nas orações INTERROGATIVAS INDIRECTAS a entoação apresenta as


seguintes caracterIsticas:
a) o ataque da frase começa por um nlvel tonal alto; há uma eleva-
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO 12 9
128

semelhante ao da entoação declarativa. A linha tonal de cada um desses casos poderia ser assim esquematizada:

Já em exclamações como
I." 2." ;."
Jesus! Adeus! Imbecil!

o grupO fónico é ascendente, e aproxima-se do esquema da entoação inter-


rogativa:

Conclusão.

Do exposto, verificamos que a linha melódica tem uma função essen-


2. Maior variedade em matizes de entoação encontramos, natural- cialmente oracional. Com uma simples mudança de tom, podemos reforçar,
mente, nas frases exclamativas constitufdas de duas ou mais palavras. A curva atenuar ou, mesmo, inverter o sentido literal do que dizemos. É, por exem-
melódica dependerá sempre da posição da palavra de maior conteúdo expres- plo, a entoação particular que permite uma forma imperativa exprimir todos
sivo, porque é sobre a sua sílaba acentuada que irão incidir o tom agudo, a os matizes que vão da ordem à súplica. Pela entoação que lhes dermos, fra-
intensidade mais forte e a maior duração. ses como
Como a silaba forte da palavra de maior valor expressivo pode ocupar
a posição inicial, mediai ou final da oração, três soluções devem ser con- Pois nãol
Pois sim!
sideradas:
podem ter ora valor afirmativo, ora negativo.
La) Se a sllaba em causa for a inicial, todo o resto do enunciado terá
entoação descendente. Exemplo:
Enfim: a entoação reflecte e expressa nossos pensamentos e sentimentos.
Deus de minha alma! Se o acento é a «alma da palavra», devemos considerá-la a «alma da ora-
ção».
2. a ) Se for a final, a frase inteira terá entoação asce.ndente:

Meu amor!

3.') Se for uma das silabas mediais, a entoação será ascendente até
a referida silaba e descendente dela até a final, como nos mostram estes exem-
plos colhidos em obra de Marques Rebelo:

Sai da frente!
Todo o mundoll!
SUBSTANTIVO
'3'

8. ções, de um género, de uma espécie ou de um dos seus represen-


tantes;

homem cidade Senado árvore cão


Pedro Lisboa Fórum cedro cavalo
Substantivo
Dá-se o nome de ABSTRACTOS aos substantivos que designam noções,
acções, estados e qualidades, considerados como seres:

justiça colheita velhice largura bondade


verdade viagem doença optimismo doçura
L SUBSTANTIVO é a palavra com que designamos ou nomeamos os
seres em geral.
São, por conseguinte, substantivos:
Substantivos próprios e comuns.
a) os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um género,
de uma espécie ou de um dos seus representantes: Os substantivos podem designar a totalidade dos seres de uma espécie
(DESIGNAÇÃO GENÉRICA) ou um indivíduo de determinada espécie (DESIGNA-
Maria Lisboa Senado árvore cedro çÃO ESPEciFICA).
Quando se aplica a todos os seres de uma espécie ou quando designa
b) os nomes de noções, acções, estados e qualidades, tomados como uma abstracção, o substantivo é chamado COMUM.
seres: Quando se aplica a determinado indivíduo da espécie, o substantivo é
PRÓPRIO.
justiça colheita velhice largura bondade
Assim, os substantivos homem, país e cidade são comuns, porque se empre-
gam para nomear todos os seres e todas as coisas das respectivas classes.
2. Do ponto de vista funcional, o substantivo é a palavra que serve, Pedro, Brasil e Lisboa, ao contrário, são substantivos próprios, porque se
privativamente, de núcleo do sujeito, do objecto directo, do objecto indirecto aplicam a um determinado homem, a um dado país e a uma certa cidade.
e do agente da passiva. Toda palavra de outra classe que desempenhe uma
dessas funções equivalerá forçosamente a um substantivo (pronome subs-
tantivo, numeral ou qualquer palavra substantivada).
Substantivos colectivos.

COLECTIVOS são os substantivos comuns que, no singular, designam


um. conjunto de seres ou coisas da mesma espécie.
Comparem-se, por exemplo, estas duas afirmações:
CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS
Cento e vinte milhões de brasileiros pensam assim.
O povo brasileiro pensa assim.
Substantivos concretos e abstractos.
Na primeira enuncia-se um número enorme de brasileiros, mas repre-
Chamam-se CONCRETOS os substantivos que designam os seres pro- sentados como uma qllanlidade de indivíd/los. Na segunda, sem indicação de
priamente ditos, isto é, os nomes de pessoas, de lugares, de institui- número, sem indicar gramaticalmente a multiplicidade, isto é, com uma
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO sunST ANTIVO
1)2
'33

forma de singular, consegue-se agrupar maior número ainda de elementos,


quadrilha (de ladrões, de bandidos) romanceiro (conjunto de poesias narrati~
·ou seja todos os brasileiros como um conjunto harmónico.
ramalhete (de /lores) vas)
Além desses colectivos que exprimem um todo, há na língua oUtros rebanho (de ovelhas) .fúria (de velhacos, de desonestos)
que designam: récua (de bestas de carga) talha (de lenha)
a) uma parte organizada de um todo, como, por exemplo, regimento, réstia (de cebolas, de alhos) tropa (de muares)
batalhão, compal1hia (partes do colectivo geral exército); roda (de pessoas) vara (de porcos)
b) um grupo acidental, como grIpO, JJI/lltidão, bando: ba/Jdo de alldori-
nhas, bando de salteadores, bando de cigallos;
c) um grupo de seres de determinnda espécie voiada (de bois), ramaria Observações:
(de ramos). a
1. Excluimos dessa lista os NUMERAIS COLEcnvos, como novena, década,
Costumam-se também incluir entre os colectivos os nomes de corpora- dlízio, etc., que designam um número de seres absolutamente exacto. Leia-se,
ções sociais, culturais c religiosas, como ass811lbleia, congresso, congregação, a propósito, o que dizemos no Capitulo 12..
a O coIectivo especial geralmente dispensa a enunciação da pessoa ou
c011cilio, cone/ave e consistório. Tais denominações afastam-se, no entanto, do 2..

tipo normal dos colectivos, pois não são simples agrupamentos de seres, coisa a que se refere. Tal omissão é mesmo obrigatória quando o colectivo
é um mero derivado do substantivo a que se aplica. Assim, dir-se-á:
anteS representam instituições de natureza especial, organizadas em uma
entidade superior para determinado fim. A ramaria balouçava ao vento.
A papelada estava em. ordem.
Eis alguns colectivos que merecem ser conhecidos:
Quando, porém, a significação do colectivo não for espedfica, deve-se nomear
o ser a que se refere:
aleateia (de lobos) elenco (de actores)
oTmenlo (de gado grande: bois, búfalos, falange (de soldados, de anjos) Uma junta de médicos, de bois, etc.
etc.) farândllla (de ladrões, de desordeiros, de Um feixe de capim, de lenha, etc.
arquipélago (de ilhas) assassinos, de maltrapilhos e de vadios)
atilho (de espigas) fato (de cabras)
banca (de examinadores) feixe (de lenha, de capim)
bauda (de músicos) frota (de navios mercantes, de autocarros
bando (de aves, de ciganos, de malfei- ou onibus) FLEXÕES DOS SUBSTANTIVOS
tores, etc.) girândola (de foguetes)
cacho (de bananas, de uvas, etc.) horda (de povos selvagens nómadas, de
desordeiros, de aventureiros, de ban~ Os substantivos podem variar em NÚMERO, GÉNERO e GRAU.
cájila (de camelos)
call/bada (de malandros, e, no Brasil, tam- didos, de invasores)
bém de caranguejos, de chaves, etc.) .i/mta (de bois, de médicos, de credores,
callcioneiro (conjunto de canções, de poe- de examinadores)
legião (de soldados, de demónios, etc.) NÚMERO
sias Ilricas)
caravana (de viajantes, de peregrinos, de II/(Ij!,ole (de pessoas, de coisas)
malta (de desordeiros) Quanto à flexão de NÚMERO, OS substantivos podem estar:
estudantes, etc.)
cardume (de peixes) manada (de bois, de búfalos, de elefantes) a) no SINGULAR, quando designam um ser único, ou um conjunto
choidra (de assassinos, de malandros, de matilha (de cães de caça) de seres considerados como um todo (SUBSTANTIVO COLECTIVO):
malfeitores) matula (de vadios, de desordeiros)
mó (de gente) aluno povo
chmp/a (de gente, de pessoas)
COlJJlelaf(70 (de estrelas) molho (de chaves, de verdura)
corja (de vadios, de tratantes, de velha- multidão (de pessoas) b) no PLURAL, quando designam mais de um ser, ou mais de um
cos, de ladrões) ninhada (de pintos)
plêiadc (de poetas, de artistas) desses conjuntos orgânicos:
coro (de anjos, de cantores)
alunos povos
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO SUBSTANTIVO
IJ4 IJj

FORMAÇÃO DO PLURAL Neste grupo se incluem todos os aumentativos:

Substantivos terminados em vogal ou ditongo. Singuiar Plural Singular Plural

Regra geral: amigalhão amigalhões moleirão moleirões


bobalhão bobalhões !1arigão narigões
O plural dos substantivos terminados em vogal ou ditongo forma-se casarão casarões paredão paredões
acrescentando-se -s ao singular: chapelão chapelões pobretão pobretões
dramalhão dramalhões rapagão rapagões
espertalhão espertalhões sabichão sabichões
Singular Plural Singular Plural facão facões vagalhão vagalhões
figutão figurões vozeirão vozeirões
mesa mesas pai pais
estante estantes pau paus
tinteiro tinteiros lei leis
rajás chapéu chapéus b) um reduzido número muda a terminação -ão em -ães:
rajá
boné bonés camafeu camafeus
javali javalis herói heróis Singular Plural Singular Plural
cipó cipós boi bois
peru perus mãe mães
alemão alemães charlatão charlatães
bastião bastiães escrivão escrivães
cão cães guardião guardiães
Incluem-se nesta regra os substantivos terminados em vogal nasal. capelão capelães pão pães
Como a nasalidade das vogais Je J, Ji J, Jo J.e Ju J, em posição final, é capitão capitães sacristão sacristães
representada graficamente por -m, e não se pode escrever -ms, muda-se o catalão catalães tabelião tabeliães
-1// em -no Assim: bem faz no plural bens; fiaI/fim faz flal/tins; som faz SOIlS;

atllllJ faz alll/ls.


c) um número pequeno de oxltonos e todos os paroxltonos acrescen-
tam simplesmente um -s à forma singular:
Regras especiais:
Singular Plural Singular Plural
I. Os substantivos terminados em -ão formam o plural de três maneiras:
cidadão cidadãos acórdão
a) a maioria muda a terminação -ão em -ões: cortesão
acórdãos·
cortesãos bênção bênçãos
cristão cristãos gólfão gólfãos
Singular Plural Singular Plural desvão desvãos órfão órfãos
irmão irmãos órgão órgãos
balão balões gavião gaviões pagão pagãos sótão sótãos
botão botões leão leões
cançílo canções nação nações
confissão confissões operação operações Observações:
coração corações opioião opiniões
eleição eleições questão questões I.& Neste grupo se incluem os monoss.ilabos tónicos chão, grão, Inão e vão,
estação estações tubarão tubarões que fazem no plural chãos, grãos, mãos e vãos.
fracção fracções vulcão vulcões .z.& Artesão, quando significa «artfficc», faz no plural arte!ãos,. no sentido
de «adorno arquitectónico», o seu plural pode ser artesão! ou arlesõe!.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNBO SUBS'I' ANTIVO I)7
I)6

2. Para alguns substantivos finalizados em -ão, não há ainda uma forma Apontam-se os seguintes:
de plural definitivamente fixada, notando-se, porém, na linguagem corrente,
uma preferência sensível pela formação mais comum, em -ões. É o caso dos abrolho escolho olho rogo
caroço esforço osso sobrolho
seguintes: contorno estorvo ovo socorro
corcovo fogo poço tijolo
coro forno porco toco
Singular Plural Singular Plural corno foro porto tojo
corpo fosso posto tordo
corvo imposto povo tomo
despojo jogo reforço troco
{ alãos { ermitães destroço miolo renovo troço
alão alões ermitão ermitãos
alães ermitões
2. Note-se, porém, que muitos substantivos conservam no plural
{ alazães { hortelãos o o fechado do singular. Entre outros, não alteram o timbre· da vogal tónica:
alazão alazões hortelão hortelões
acordo encosto moço potro
anão { anãos
rufião { rufiães adorno engodo molho reboco
anões rufiões bojo estojo morro repolho
bolo ferrolho mosto restolho
{ aldeãos cachorro globo namoro rolo
aldeão aldeões refrão { refrães coco golfo piloto rosto
aldeães refrãos colmo gosto piolho sopro
consolo lobo poldro suborno
{ castelãos { troães dorso logro polvo topo
castelão castelões truão truões
3. Por vezes diverge, na formação desses plurais, a norma culta de
{ an~~os { sultões Portugal e a do Brasil. É o caso, por exemplo, dos substantivos a/lIJofo,
ancião anCloes sultão sultãos bolso e sogro, que, no plural, apresentam a vogal aberta [~] em Portugal e
anciães . sultães
a fechada [o] no Brasil.
Cumpre advertir, por fim, que, no curso histórico da língua, certos
corrimão { corr~m~os verão { ver~es
commoes veraos substantivos alteraram o timbre da vogal tónica no plural e que outros,
ainda hoje, vacilam no preferir uma das duas soluções.
{ deães { vilãos
deão deões
vilão vilões Observação:

Atente-se na distinção entre molho «condimento» (por ex.: o OJolhq da carne)


e molho «feixe» (por ex.: 11m molho de chol1e.r), palavras que conservam no plu-
ral a mesma diferença de timbre da vogal tónica.

Plural com alteração de timbre da vogal tónica. Substantivos terminados em consoante.

Alguns substantivos, cuja vogal tónica é o fechado, além de rece-


I. I. Os substantivos terminados em -r, -z e -11 formam o plural acres-
berem a desinência Os, mudam, no plural, o o fechado [o] para aberto [~] . centando -os ao singular:

••• ~ _ _ _ 'o
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊs CONTEMPORÂNEO SUBSTANI'IVO 139
13 8

Observação:
Singular Plural Singular Plural Singular Plural
Exceptuam-se as palavras lIIal, real (moeda) e cônsul e seus derivados, que
mar mares rapaz rapazes abdómen abdómenes fazem, respectivamente, males} réis} cônsules e, por este, procônsules} vice-cônsules.
açúcar açúcares xadrez xadrezes cânon cânones
colhe!'es raiz raizes dólmen dóImenes 4. Os substantivos oxítonos terminados em -il mudam o -I em -s:
colher
reitor reitores cruz cruzes liquen liquenes
Singular Plural Singular Plural
Observações:

L" O plural de carácter (escrito caráter na ortograJia brasileira) é, tanto ardil ardis funil funis
em Portugal como no Brasil, caracteres, com deslocação do acento tónico e
articulação do c que possuía de origem.
z." Também com deslocação do acento é o plural dos substantivos "pi-
5· Os substantivos paroxítonos terminados em -iJ substituem esta
terminação por -eis:
ciflJen, Júpiter e Ltlciftr: especfmenes, luplteres e Luclferes.
Advirta-se, porém, que, a par de Lúcifer, há Lucifer, forma antiga no idioma,
cujo plural é, naturalmente, Ll/cifeTes. Singular Plural Singular Plural
2. Os substantivos terminados em -s, quando oxítonos, formam o
plural acrescentando também -es ao singular; quando paroxítonos, são inva- fóssil fósseis réptil répteis
riáveis:
Observações:
Singular Plural Singular Plural
1.8 A palavra projéctil, paroxítona na norma culta de Portugal, tem ai como

o ananás os ananases o atlas os atlas plural pro/IcMs. Na norma culta brasileira, a pronúncia mais generalizada
o português os portugueses o pires os pires é pro/etil, que apresenta o plural pro/.tis.
o revés os reveses o lápis os lápis 2.& Réptil, pronúncia que postula a origem latina da palavra, tem a variante
o pais os palses o oásis os oásis reptil, cujo plural é, naturalmente, ""tis.
o retrós os retroses o ônibus os ônibus
6. Nos diminutivos formados com os sufixos -zinho e -Zito, tanto o
substantivo primitivo como o sufixo vão para o plural, desaparecendo,
Observações: porém, o -s do plural do substantivo primitivo. Assim:
I.a. O monossílabo cais é invariável. Cós é geralmente invariável, mas docu-
menta-se também o plural coses. Singular Plural
z.a Como os paroxítonos termln.ados em -s, os poucos substantivos exis-
tentes em -x são invariáveis: o tóra.x - os tórax, o ónix - os ónix.
baiãozinho balõe(s) + zinhos > balõezinhos
3. Os substantivos terminados em -ai, -eJ, -oi e -111 substituem no plural papelzinho papéi(s) + zinhos > papeizinbos
o -I por-is: colarzinbo colare(s) + zinhos > colarezinhos
cãozito cãe(s) + zitos > cãezitos
Singular Plural Singular Plural

animal animais farol faróis


Substantivos de um 8Ó nlÍll1ero.
papel papéis lençol lençóis
móvel móveis álcool álcoois l. Há substantivos que só se empregam no plural. Assim:
nlqucl nlqueis paul pauis
alvfssaras cãs fezes primicias
sunST ANTIVO 141
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
14°
matinas viveres b) quando os termos componentes se ligam por preposição, só o pri-
anais condolências
esponsais núpcias copas (naipe) meiro toma a forma de plural:
antolhos
arredores exéquias óculos espadas (naipe)
belas-artes fastos olheiras ouros (naipe) Singular Plural Singular Plural
calendas férias pêsames paus (naipe)

2. Outros substantivos existem que se usam habitualmente no sin- chapéu-de-sol chapéus-de-sol peroba-do-campo perobas-do-campo
pão-de-ló pães-de-ló joão-de-barro joões-de-barro
gular. Assim os nomes de metais e os nomes abstractos: ferro) ollro} cobre; pé-de-cabra pés-de-cabra mula-sem-cabeça mulas-sem-cabeça
fé) esperrlllfllJ caridade. Quando aparecem no plural, têm de regra um sen-
tido diferente. Comparem-se, por exemplo, cobre (metal) a cobrn (dinheiro),
ferro (metal) aferros (ferramentas, aparelhos). c) também só o primeiro toma a forma de plural quando o segundo
termo da composição é um substantivo que funciona como determinante
Substantivos compostos. específico:
Não é fácil a formação do plural dos substantivos compostos. Obser-
vem-sc, porém, as seguintes normas, com fundamento na grafia: Singular Plural Singular Plural

1.') Quando o substantivo composto é constituido de palavras que navio-escola navios-escola banana-prata bananas-prata
se escrevem ligadamente, sem hífen, forma o plural como se fosse um subs- salárjo-familia salátios-familia manga-espada mangas-espada
tantivo simples;

aguardente(s) clarabóia(s) malmequer(es) lobisomen(s) d) geralmente ambos os elementos tomam a forma de plural quando
varapau(s) ferrovia(s) pontapé(s) vaivén(s)
o composto é constituldo de dois substantivos, ou de um substantivo e um
z.') Quando os termos componentes se ligam por hifen, podem variar adjectlvo:
todos ou apenas um deles:
Singular Plural Singular Plural
Singular Plural Singular Plural
carta-bilhete cartas-bilhetes gentil-homem gentis-homens
couve-flor couves-flores grão-mestre grão-mestres tenente-coronel tenentes-coronéis água-marjnha águas-marinhas
obra-prima obras-primas guarda-marinha guardas-marinha amor-perfeito amores-perfeitos vitória-régia vitórias-régias
salvo-conduto salvos-condutos guarda-roupa guarda-roupas

Note-se, porém, que:


GÉNERO
o) quando o primeiro termo do composto é verbo ou palavra invariá-
vel e o segundo substantivo ou adjectivo, só o segundo vai para o plural:
I. Há dois géneros em português: o MASCULINO e o FEMININO.

Singular Plural Singular Plural O masculino é ° termo não marcado; o feminino, o termo marcado.

bate-boca bate-bocas 2. Pertencem ao género masculino todos os substantivos a que se pode


guarda-chuva guarda-chuvas
scmp[c-viva scrnp[c-vivas abaixo-assinado abaixo-assinados antepor o artigo o:
vice-presidente vice-presidentes grão-duque grão-duques
o aluno o pão o poema o jabuti

----------
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNE.O SUBSTANTIVO
14 2 143

Pertencem ao género feminino todos os substantivos a que se pode c) os nomes de cidades e ilhas, nos quais se subentendem as palavras
antepor o artigo a: cidade e ilha, que são femininas:

a casa a mão a ema a judti a antiga Ouro Preto • Sicllia .s Antilhas

3. O género de um substantivo não se conhece, de regra, nem pela


Observação:
sua significação, nem pela sua terminação.
Para facilidade de aprendizado, convém, no entanto, saber: Alguns nomes de cidades, como Rio de Janeiro, Porto, Cairo, Ravre, são mas-
culinos pelas razões que aduzimos, no CapItulo seguinte, ao tratarmos do
EMPREGO DO ARTIGO.
Quante à significação:

I. São geralmente masculinos: Qnanto à terminação:


a) os nomes de homens ou de funções por eles exercidas:
I. São masculinos os nomes terminados em -o átono:
João mestre padre rei
o aluno o lívro o lobo o banco

b) os nomes de animais do sexo masculino: 2. São geralmente femininos os nomes tetIDÍnados em -a átono:
cavalo galo gato peru a caneta a loba
a aluna a mesa

c) Os nomes de lagos, montes, oceanos, rios e ventos, nos quais se


Exceptuam-se, porém, clima, cometa, dia, fantasma, mapa, planeta, tdle-
subentendem as palavras lago, monte, oceano, rio e vento, que são masculinas:
fonema, fonema e outros mais, que serão estudados adiante.
o Amazonas [= o rio A:tna2onas1
o Atlântico [= o oceano Atlântico1 3. Dos substantivos terminados em -ão, os concretos são masculinos
o Ládoga [= o lago Ládoga1 e os abstractos, femininos:
o Minuano [= o vento Minuano1
os Alpes [= os montes Alpes1 o agrião o algodão a educação a opinião
o balcão o feijã<? a produção a recordação
d) os nomes de meses e dos pontos cardeais:
Exceptua-se mão, que, embora concreto, é feminino.
março findo o Norte Fora desses casos, é sempre difícil conhecer-se pela terIDÍnação o género
setembro vindouro o Sul de um dado substantivo.
2. São geralmente femininos:
a) os nomes de mulheres ou de funções por elas exercidas: FORMAÇÃO DO FEMININO
Maria professora freira rainha
Os substantivos que designam pessoas e animais costumam flexionar-se
b) os nomes de animais do sexo feminino: em género, isto é, têm geralmente uma forma para indicar os seres do sexo
masculino e outra para indicat os do sexo feminino. Assim:
égua galinha gata perua
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO SUBSTANTIVO
144 '45

feminino substituindo essa desinência por -a:


Masculino Feminino Masculino Feminino

Masculino Feminino Masculino Feminino


homem mulher bode cabra
aluno aluna galo galinha
cidadão cidadã leitão leitoa gato gata pombo pomba
cantor cantora barão baronesa lobo loba aluno aluna
profeta profetisa lebrão lebre

Dos exemplos acima verifica-se que a forma do feminino pode ser: Observação:

Além das formações irregulares, que vimos, há um pequeno número de subs-


a) completamente diversa da do masculino, ou seja proveniente de
tantivos terminados em -o} que, no feminino, substituem essa :final por desi-
um radical distinto: nências especiais. Assim:
bode cabra homem mulher
Masculino Feminino Masculino Feminino
b) derivada do radical do masculino, mediante a substituição ou o
acréscimo de desinências: diácono diaconisa maestro maestrina
galo galinha silfo silfide
aluno aluna cantor cantora

Examinemos, pois, à luz desses dois processos, a formação do feminino z.a) Os substantivos terminados em consoante formam normalmente
dos substantivos da nossa língua. o feminino com O acréscimo da desinência -a. Exemplos:
Masculinos e femininos de radicais diferentes.
Masculino Feminino Masculino Feminino
Convém conhecer os seguintes:
camponês camponesa leitor leitora
Masculino Feminino Masculino Feminino freguês freguesa pintor pintora

bode cabIa genro nota


boi (ou touro) vaca homem mulher
cão cadela macho fêmea
Regras especiais:
carneiro ovelha marido mulher
cavalheiro dama padrasto madrasta r.') Os substantivos terminados em -ão podem formar o feminino de
cavalo égua padrinho madrinha três maneiras:
compadre comadre pai mãe
frei sóror (ou soror) zângão abelha a) mudando a final -ão em -oa:

Femininos derivados de radical do masculino. Masculino Feminino Masculino Feminino

Regras gerais: ermitão ermitoa leitão leitoa


hortelão horteloa patrão patroa
loa) Os substantivos terminados em -o átono formam normalmente o

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BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO SUBSTANTIVO
146 '47

b) mudando a final -ão em -ã: Observação:

De embaixador há, convencionalmente, dois femininos: embaixatriz (a esposa


Masculino Feminino Masculino Feminino de embaixador) e embaixadora (funcionária chefe de embaixada).

aldeão aldeã castelão castelã


anão anã cidadão cidadã ,.") Certos substantivos que designam titulos de nobreza e dignida-
des formam o feminino com as terminações -eso, -essa e -isa:

c) mudando a final -ão em -ona: Masculino Feminino Masculino Feminino

Masculino Feminino Masculino Feminino abade abadessa diácono diaconisa


barão baronesa duque duquesa
bonachão bonachona moleirão moleirona conde condessa sacerdote sacerdotisa
fõlião fõliona solteirão solteirona

Observação:
Observações:
I.a Como se vê, os substantivos que fazem o feminino em -ona sãó ou
De prior há o feminino priorflsa (superiora de certas ordens) e priora (irmã da
aumentativos ou adjectivos suhstantivados. Ordem Terceira). Prlncipe faz no feminino princesa.
z.a Além dos anómalos cão e zângão, a que já nos referimos, não seguem
estes três processos de formação os substantivos seguintes: 4.» Os substantivos terminados em -e, não incluldos entre os que
acabamos de mencionar, são geralmente uniformes. Essa igualdade formal
Masculino Feminino Masculino Feminino para os dois géneros é, como veremos adiante, quase que absoluta nos fina-
lizados em -n/e, de regra originários de partidpios presentes e de adjectivos
barão baronesa maganão magana uniformes latinos. Há, porém, um pequeno número que, à semelhança da
ladrão ladra perdigão perdiz substituição -o (masculino) por -a (feminino), troca o -e por -a. Assim:
lebrão lebre sultão sultana

Masculino Feminino Masculino Feminino


Usa-se às vezes ladrona por ladra.

2. a)
Os substantivos terminados em -or formam normalmente o femi- elefante elefanta mestre mestra
governante governanta monge monja
nino, como dissemos, com o acréscimo da desinência -a: infante infanta parente parenta

Masculino Feminino Masculino Feminino


Observação:
pastor pastora remador remadora
Os femininos giganta (de gigante), hóspeóa (de hóspede) e presidellla (de presitle/lle)
têm ainda curso restrito no idioma.
Alguns, porém, fazem o feminino em -eira. Assim: cantador - conla-
dcira, cerzidor - cerzideira.
Outros, dentre os fina1izados em -dor e -tor, mudam estas terminações 5. a) São dignos de nota os femininos dos seguintes substantivos:
em -lriZ' Assim: oelor - oClriZ, illlperador - iIllP<ratriz.

_. .... _.. _._--_.. _.


_
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO SUBSTANTIVO
'4 8 '49

Observação:
Masculino Feminino Masculino Feminino
Neste caso, querendo-se discriminar o sexo, diz-se, por exemplo: o fÔtfiNge
avô avó maestro maestrina feminino j limo pessoa do sexo marclllino.
cônsul consulesa plton pitoIÚsa
czar czarina poeta poetisa
felá felalna profeta profetisa
frade freira rajá râni Substantivos comuns de dois géneros.
grou grua rapaz rapariga, moça
herói heroína rei rainha
jogralesa réu ré Alguns substantivos apresentam uma só forma para os dois géneros,
jogral
mas distinguem o masculino do feminino pelo género do artigo ou de outro
determinativo acompanhante. Chamam-se COMUNS DE DOIS GÉNEROS estes
Observação: substantivos.

Rapariga é O feminino de rapaz mais usado em Portugal. No Brasil, prefe-


re-se mOfa em razão do valor pejorativo que, em certas regiões, o primeiro Exemplos:
termo adquiriu.
Masculino Feminino Masculino Feminino
SUBSTANTIVOS UNIFORMES
o agente a agente o herege a herege
o artista a artista o imigrante a imigrante
Substantivos epicenos. o camarada a camarada o indigena a indigena
o colega a colega o intérprete a intérprete
o colegial a colegial o jovem a jovem
Denominam-se EPICENOS os nomes de anil"aÍs que possuem um s6 o cliente a cliente o jornalista a jornalista
género gramatical para designar um e outro sexo. Assim: o compatriota a compatriota o mártir a mártir
o dentista a dentista o selvagem a selvagem
a águia a mosca o besouro o polvo o estudante a estudante o servente a servente
a baleia a onça o condor o rouxinol o gerente a gerente o suicida a suicida
a borboleta a pulga o crocodilo o tatu
a cobra a sardinha o gavião O tigre

Observação: Observações:

Quando há necessidade de especificar o sexo do animal, juntam-se então ao 1.& São COMUNS DE DOIS GÉNEROS todos os substantivos ou adjectivos
substantivo as palavras macho e fêmea: crocodilo macho, crocodilo fêmea j o macho substantivados terminados em -ista: o piallista, a pianista,' IIn/ anarqmsta, IIU1a
ou a fêll/ea do jacaré. anarquista.
2.a Diz-se, indiferentemente, o personagem ou a perso/JageilJ com referência
Substantivos sobrecomuns. ao protagonista homem ou mulher.

Chamam-se SOBRECOMUNS os substantivos que têm um só género gra-


matical para designar pessoas de ambos os sexos. Assim: Mudança de sentido na mudança de género.

o algoz o cônjuge a criança a testemunha Há um certo número de substantivos cuja significação varia com a
o apóstolo o indivIduo a criatura a vítima
o carrasco o verdugo a pessoa mudança de género:
1)0
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONtEMPORÂNEO I SUBSTANTIVO IjI

a) GÉNERO MASCULINO:
Masculino Feminino Masculino Feminino
ágape clã gengibre sandulche
o cabeça a cabeça o guarda a guarda antilope contralto lança-perfulI)e soprano
o caixa a caixa o guia a guia caudal diabete(s) praça (soldado) suéter
o capital a capital o lente a lente
o cisma a cisma o llngua a llngua b) GÉNERO FEMININO:
o corneta a corneta o moral a moral
o cura a cura o voga a voga abusão áspide jaçanã ordenança
aldone fácies judti sentinela
aluvião filQxera omoplata sucuri
Substantivos masculinos terminados em -a.
GRAU
Vimos que, embora a final -a seja de regra denotadora do feminino,
há vários masculinos com essa terminação: artista} camarada, colega, poeta, Um substantivo pode apresentar-se:
profeta, etc. Alguns destes substantivos apresentam uma forma própria para a) com a sua significação normal: chaPéu, boca,.
o feminino, como poeta (poetisa) e profeta (Profetisa),. a maioria, no entanto, b) com a sua significação exagerada, ou intensificada disforme ou des-
distingue o género apenas pelo determinativo empregado: o compatriota, a prezivelmente (GRAU AUMENTATIVO): chapelão, bocarra; chaPéu grande, boca
compatriota; este jornalistaJ aquela jornalista; meu camarada, minha camarada. enorme;
Um pc.-fueno n'Úp1ero de substantivos em -o existe, todavia, que só se c) com a sua significação atenuada, ou valorizada afecrivamente (GRAU
usa no masculino por designar profissão ou actividade própria do homem. DIMINUTIVO): chapeuzinho, boquinha; chaPéu peq"ello, boca minlÍscula.
Assim: Vemos, portanto, que a GRADAÇÃO do significado de um substantivo
se faz por dois processos:
jesulta nauta pattiarca heresiarca
monarca papa pirata tetrarca a) SINTETICAMENTE, mediante o emprego de sufixos especiais, que
estudámos no CapItulo 6; assim: chape-I-ão, boc-urra; chapeu-zinho, boqu-inha;
b) ANALITICAMENTE, juntando-lhe um adjecti'9"o que indique aumento
Observações: ou diminuição, ou aspectos relacionados com essas noções: chaPé" grande,
boca enorme,. chaPéu pequeno, boca minlÍscula.
I. a. Entre os substantivos que designam coisas, são masculinos os termi-
nados em -ema e -ama que se originam de palavras gregas: Valor das formas aumentativas e diminutivas.
anátema edema sistema diploma
cinema estratagema telefonema idioma Convém ter presente que o que denominamos AUMENTATIVO e DIMI-
diadema fonema tema aroma NUTIVO nem sempre indica o aumento ou a diminnição do tamanho de um
dilema poema teorema axioma ser. Ou melhor, essas noções são expressas em geral pelas formas analiticas,
emblema problema trema coma especialmente pelos adjectivos grande e peq"eno, ou sinónimos, que acompa-
nham o substantivo.
z.a Embora a palavra grama se use também. no género feminino (qllinhslI·
tas gramas)} os seus compostos mantêm·se no género masculino: 11m miligrallJa} Os sufixos aumentativos de regra emprestam ao nome as ideias de des-
o quilograma. proporção, de disformidade, de brutalidade, de grosseria ou de coisa des-
prezível. Assim: narigão, beiçorra, pratalhaz ou pratarroz, a/revidaço, porca-
Substantivo de género vacilante. lhão} etc. Ressalta, pois, na maioria dos ~umentativos, esse valor deprecia~
tivo ou PEJORATIVO.
Substantivos há em cujo emprego se nota vacilação de género. Os sufixos diminutivos apresentam em geral valor AFECTIVO. O seu
Eis alguns, para os quais se recomenda a seguinte preferência: emprego mostra o interesse emocional, o sentimento de quem fala ou escreve

-- -------------- -----~-----------
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNEO SUBSTANTIVO
IjZ IlJ

naquilo que enuncia. Dal a frequência com que aparecem nas formas de 3. OBJECTO DIRECTO:
carinho.
o velho não desvia os olhos.
(Alves Redol, FM, 195')
Especialização de formas.

Muitas formas, orIgInariamente aumentativas e diminutivas, adquiri~ 4. OBJECTO INDlRECTO:


ram, com o correr do tempo, significados especiais, por vezes dissociados
do sentido da palavra derivante. Nestes casos, não se pode mais, em rigor, o que Amélia, naquele instante, pediria a Deus?
falar em aumentativo ou diminutivo. São, na verdade, palavras na sua 00sé Lins do Rego, FM, z;6.)
acepção normal. Assim:

portão
S. COMPLEMENTO NOMINAL:
cartão corpete lingueta
ferrão cartilha flautim pastilha
fiarão cavalete folhinha (~ calendá- vidrilho o talento é um complexo de v4tudes, às vezes inseparáveis de defeitos.
rio, no Brasil) (Fernando Namora, E, II9')

6. ADJUNTO ADVERBIAL:
EMPREGO DO SUBSTANTIVO
Contemplaram-se em silêncio.
(Érico Verlssimo, LS, 153')
Funções sintãcticas do substantivo.
7. AGENTE DA PASSIVA:
o SUBSTANTIVO pode figurar na oração como:
I. SUJEITO: A investida é observada de longe pelos sitiantes.
0 0 aquim Paço d'Arcos, CVL, ;55.)
2. PREDICATIVO:
8. ApOSTO:
a) DO SUJEITO:
Os dois, governador e filho, encarregaram-se de todos os aprestos da
Eu já não sou funcionário. sua viagem para o Paraguai.
(Castro Soromenho, TM, z4;.)
0aime Cortesão, IHB, II, 104.)

b) DO OBJECTO DIRECTO: 9. VOCATIVO:


De toda parte, aclamavam-no herói. Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina ...
(Raul Pompéia, A, 108.) (FlorbeIa Espanca, S, 96.)

c) DO OBJECTO INDIRECTO: Substantivo como adjunto adnominal.


Eram capazes de me chamar sacristão. I. Precedido de preposição, pode o SUBSTANTIVO formar uma LOCU-
(Fernando Namora, T], Z 14.) çÃO ADJECTIVA, que funciona como ADJUNTO ADNOMINAL. Assim:
Irmão lhe chamaria ... uma vontade de ferro [ ~ férrea]
(Carlos Drummond de Andrade, R, 169.) um menino às direitas [ = conecto]
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
154

2. Em função de ADJUNTO ADNOMINAL, pode também o SUBSTANTIVO


referir-se direetamente a outro SUBSTANTIVO. Comparem-se expressões do
tipo:
um riso canalha uma recepção monstro 9.
Substantivo, caracteri:tador de adjectivo.
Artigo
Os adjectivos referentes a cores podem ser modificados por um SUBS-
T ANTIVO que melhor precise uma de suas tonalidades, um de seus mati-
:teso Assim:

amarelo-canário verde-garrafa
azul-petróleo roxo-batata
ARTIGO DEFINIDO E INDEFINIDO

O substantivo como núcleo das frases sem verbo. Dá-se o nome de ARTIGO às palavras o (com as variações ti, os, tis) e 11m
(com as variações lima, IIns, III/Ias), que se antepõem aos substantivos para
As FRASES NOMINAIS, organizadas sem verbo, têm o substantivo como indicar:
centro. É o que se verifica, por exemplo:
ti) que se trata de um ser já conhecido do leitor ou ouvinte, seja por
a) nas exclamações: ter sido mencionado antes, seja por ser objecto de um conhecimento de
experiência, como neste exemplo:
Ú bendita paisagem I Terra estranha
De antigos pinheirais e alegres campos,
Ei-Ia silêncio, solidão, montanhal Atravessaram o pátio, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral,
vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros.
(Teixeira de Pascoaes, oe, IV, 34.) (Graciliano Ramos, VS, 161.)

b) nas indicações sumárias:


b) que se trata de um simples representante de uma dada espécie ao
Canto litúrgico em latim abastardado: Vozes rurais e gritadas, q1L'l.se qual não se fez menção anterior:
todas femininas. Sobe o pano. Escuro total. Silêncio.
(Bernardo Santareno, TPM, 9.)
Vi que estávamos num velho solar, de certa imponência. Uma f.'lchada
c) em titulas como: de muitas janelas perdia-se na escuridão da noite. No alto da escada safa das
sombras um alpendre assente em grossas colunas.
Amanhã, Beofica e Flamengo no Maracanã. (Branquinho da Fonseca, B, Z1.)

No primeiro caso dizemos que o artigo é DEFINIDO; no segundo, INDE-


FINIDO.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
15 6 ARTIGO
'57

FORMAS DO ARTIGO por um acento grave sobre a vogal (à). Assim:

Formas simples. Vou a + a cidade Vou à cidade

I. São estas as formas simples do artigo; preposição que artigo que


introduz o ad- a craseado, a
determina o
junto adverbial que se aplica
substantivo
do verbo ir. o acento grave
Artigo definido Artigo indefinido cidade.

Singular Plural Singular Plural

Masculino o os um uns Não raro, o à vale como redução sintáctica da expressão à moda de
Feminino a as uma umas (= à I?Jal1Cira de, ao estilo de):

Mas o major? Por que não ria à inglesa, nem à alemã, nem à francesa,
nem à brasileira? Qual o seu gênero?
2. No português antigo havia as formas /0 (Ia, los, las) e el do artigo
(Monteiro Lobato, U, II7.)
definido.

3. A forma arcaica e/ do artigo masculino fossilizou-se na titulatura


eI-rei, talvez por influência da conservadora linguagem da Corte. Como se vê, o conhecimento do emprego da forma fetninina do artigo
definido é de grande importância para se aplicar acertadamente o acento
grave denotador da crase com a preposição a. Tal conhecimento torna-se
Formas combinadas do artigo definido. mesmo imprescindível no caso dos falantes do português do Brasil, que
não dístinguem, pela pronúncia, a vogal singela a (do artigo ou da pre-
posição) daquela proveniente de crase. Convém, por isso, atentar-se sempre
I. Quando o suhstantivo, em função de complemento ou de adjunto,
na construção de detertninada palavra com outras preposições para se saber
se constrói com uma das preposições a) do, em e por, o ARTIGO DEFINIDO se ela exige ou díspensa o artigo. Assim, escreveremos:
que o acompanha combina-se com essas preposições, dando:
Vou à feira e, depois, irei a Copacabana.
porque também díremos:
Artigo definido
Preposições Vim da feira e, depois, passei por Copacabana.
o a os as

a ao à aos às 3· Quando a preposição antecede o artigo definido que faz parte do


de do da dos das
titulo de obras (livros, revistas, jornais, contos, poemas, etc.), não há uma
em no na nos nas
por (per) pelo pela pelos pelas prática uniforme. Na língua escrita, porém, deve-se neste caso:

a) ou evitar a contracção, pelo modelo:

2. Crase. O artigo definido feminino, quando vem precedido da pre- Camões é o autor de Os Lusiadas.
posição funde-se com ela e tal fusão (= CRASE) é representada na escrita
fi,
A noticia saiu em O Globo.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ARTIGO
15 8 159
b) ou indicar pelo apóstrofo a supressão da vogal da preposição: Ou no caso da outra Maria, a de «Um capitão de voluntários», criatura
esta «mais quente e mais fria do que ninguém»,
Camões é o autor d'Os Lusíadas.
A notícia saiu n'O Globo. (Augusto Meyer, SE, 45.)

Tenha-se presente que as grafias dos Lllsíadas e no Globo - talvez as 3· Também não é aconselhável a contracção do artigo indefinido com
a preposição que se relaciona com o verbo, e não com o substantivo que
mais frequentes - deturpam o título do poema e do jornal em causa. o artigo introduz:

Observação: A obra atrasou-se em virtude de uns operários se terem acidentado.

As duas soluções apontadas são admitidas pela ortografia portuguesa. No Bra~


si!, porém, o Formulário Ortográfico de 1943 não preceitua o emprego do VALORES DO ARTIGO
apóstrofo para indicar a supressão da vogal da preposição.
A determinação.
4. Quando a preposição que antecede o artigo está relacionada com
o verbo, e não com o substantivo que o artigo introduz, é aconselhável Quer seja DEFINIDO (o e suas variações a, OSi as), quer seja INDEFINIDO
que os dois elementos fiquem separados, embora não faltem exemplos da (11m e suas variações lima, IIns, limas), o ARTIGO caracteriza-se por ser a pala-
sua aglutinação na prática dos melhores escritores: vra que introduz o substantivo indicando-lhe o género e o número.
Assim sendo:
A circunstância de as vindimas juntarem a familia prestava-se a uma
reunião anual na Junceda.
a) qualquer palavra ou expressão antecedida de artigo se torna subs-
(Miguel Torga, V, 159.) tantivo:

o acto literário é o "c,onjunto do escrever e do ler.

Formas combinadas do artigo indefinido. (Fernando Namora, E, UI.)

Entendem os filõsofps que nosso conflito essencial e drama talvez único



seja I
mesmo o estar-no-mun d o.
1. O ARTIGO INDEFINIDO pode contrair-se com as preposições em e
de, originando: (Guimarães Rosa, TJ IOI.)

b) o lttigo faz aparecer o género e o número do substantivo:


num numa nuns numas
dum duma duns dumas o Amazonas as amazonas o cliente
o pires a cliente
os pires as bibliotecas os Astecas
o pianista a pianista um pirata
um quilograma uma gravata
a ama o jabuti a judti
o pão a mão um barão
As preposições em e de, antepostas ao artigo indefinido que integra
2.
o clã a produção
a irmã um poema a ema
o titulo de obras, separam-se dele na escrita:
Com isso, permite a distinção de substantivos homônimos, tais como:
Sofriamos do que, em Um olhar sobre a Vida, qualifiquei de «insónia
intcrnacionab>.
o cabeça a cabeça o guarda
(Geoolino Amado, RP, 2 r.) o caixa
a guarda
a caixa o guia a guia
o capital a capital o lente a lente
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
160 ARTIGO
161
EMPREGO DO ARTIGO DEFINIDO c) faculdades do espirito:

I. Com os substantivos comuns Chegou a tomar balanço para as habituais meditações.


(Augusto Abelaira, D, 19.)
Na língua dos nossos dias, o ARTIGO DEFINIDO é, em geral, um mero
designativo. Anteposto a um substantivo comum, serve para determiná-lo, ti) relações de parentesco:
ou seja, para apresentá-lo isolado dos outros indivíduos ou objectos da espé- - já não chamou pela mãe!. ..
cie. Assim:
(Miguel Torga, V, 186.)
Sumiu-se a rapariga.
(Carlos de Oliveira, AC, 12;.)
2. Não se emprega, porém, o artigo quando estes nomes formam com
as preposições de ou ti uma locução adverbial.
Este seu valor costuma ser enfatizado, quando se pretende acentuar
o carácter único ou universal do elemento representado pelo substantivo: Pus-me de joelhos.
Emagrece a olhos vistos.
Não era uma loja qualquer: era a Loja.
Ficou de bolsos vazios.
(Ciro dos Anjos, MS, ;50.) Guardou isso de memória.
É O que se chama ARTIGO .DE NOTORIEDADE.
Emprego do artigo antes dos possessivos.

Emprego como demonstrativo.


I. Antes de pronome substantivo possessivo.
O artigo definido provém do pronome demonstrativo latino H/e,
il/a, i//lId (= aquele, aquela, aquilo). Este valor demonstrativo foi-se per- Em português, o emprego ou a O1llissao do artigo definido antes de
dendo pouco a pouco, mas subsiste ainda, embora enfraquecido, em alguns possessivos que funcionam como pronomes substantivos não tem apenas
casos. É o que se observa em frases do tipo: valor estilístico, mas corresponde a uma clara distinção significativa.
Comparem-se, por exemplo, as frases seguintes:
Permaneceu a [ = esta, ou aquela] semana inteira em .casa.
Partimos no [ = neste] momento para São Paulo. Este cinto é meu.
Levarei produtos da [ = desta] região. Este cinto é o meu.

Emprego do artigo pelo possessivo. Com a primeira, pretende-se acentuar a simples ideia de posse. Equivale
a dizer-se: «Este cinto pertence-me, é de minha propriedade».
I. Este emprego do ARTIGO DEFINIDO é frequente antes de substanti- Com a segunda, porém, faz-se convergir a atenção para o objccto pos-
vos que designam: suído, que se evidencia como distinto de outros da mesma espécie, não per-
tencentes à pessoa em causa. O seu sentido será: «Este é o meu cinto, o que
a) partes do corpo: possuo».
Passei a mão pelo queixo. 2. Antes de pronome adjectivo possessivo.
(Lygia Fagundcs TelIes, AB V, 15.)
I. Quando trazem claros os seus substantivos, os possessivos podem
/J) peças de vestuário ou objectos de uso marcadamente pessoal: usar-se com artigo ou sem ele:
Abel Macias, calado, veste as calças e a camisa.
Meu amor é só teu. Estive com tua irmã.
(Orlando Mendes, P, 130.) O meu amor é só teu. Estive com a tua irmã.

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16. BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ARTIGO
163

A presença do artigo antes de pronome adjectivo possessivo ocorre Pode, no entanto, dispensá-lo, quando nos referimos a algo de modo
com menos frequência no português do Brasil do que no de Portugal, onde, impreciso ou vago:
com excepção dos casos adiante mencionados, ela é praticamente o brigató-
Tenho estado à espera de noticias tuas, mas vejo que não chegam nunca.
ria. Comparem-se estes exemplos:
(António Nobre, Cf, II7.)
- A minha irmã e O meu cunhado costumam receber os seus amigos
mais intimas.
Emprego genérico.
(Augusto Abelaita, D, I07.)

Meu avô materno foi verdadeiramente minha primeira amizade, Usa-se às vezes o ARTIGO DEFINIDO junto a um substantivo no singular
companheiro de brinquedo da minha primeiIainfância. para expriInir a totalidade específica de um gênero, de uma categoria, de
(Gilberto Amado, HM1, 4.) um grupo, de uma substância:

2. O artigo é sistematicamente omitido quando o possessivo: Este emprego é frequente nos provérbios;
a) é parte integrante de uma fórmula de tratamento ou de expressões o homem não é propriedade do homem.
como Nosso Pai (referente ao Santissimo), Nosso Senhor, Nossa Senhora: O pão pela cor, e o vinho pelo sabor.
O avarento não tem e o pródigo não terá.
Sua Excelência Reverendíssima· escusou-se de recebê-los pessoal-
mente.
Se o substantivo é abstracto, o ARTIGO serve, ademais, para personalizá-lo:
(Bernardo Santareno, TPM, 37.)
Era o deus vivo que os tinha na sua mão, o amigo-inimigo donde lhes
Nosso Senhor tinha O olhar em pranto. vinha todo o hem e todo o mal, a miséria e o pão, o luto e a alegria.
Chorava Nossa Senhora.
(Brauquinho da Fonseca, MS, 173')
(Alphonsus de Guimaraens, OC, I2 I.)

b) faz parte de um vocativo: Entre os abstractos incluem-se naturalmente os adjectivos substantiva-


dos:
- Morrer, meu Amo, só uma vez I
Eu trabalho com o inesperado.
(António Nobre, S, I06.) (Clarice Lispector, SV, 14.)
c) pertence a certas expressões feitas: em mil1ha opinião, em meti poder,
a Set, bel-prazer, por millha vontade, por meti mal, etc. Nestes casos pode-se dispensar o artigo, principalmente quando o substantivo
é abstracto, ou quando faz parte de provérbios, frases sentenciosas e compa-
á) vem precedido de um demonstrativo: rações breves:

--=- Não aguento mais esse teu silêncio antipático. Pobreza não é vileza. Homem não é bicho.
Cão que ladra não morde. Preto como azeviche.
(Urbano Tavares Rodrigues, TO, 162.)

Observação: Emprego em expressões de tempo.


Se o possessivo estiver posposto ao substantivo, este virá normalmente pre-
cedido de ARTIGO: I. Os nomes de meses não admitem ARTIGO, a menos que venham
acompanhados de qualificativo:
Quanto mistério
Nos olhos teus ... Estou seguro de ir até o Rio em fins de junho ou princípios de julho.
(VinIcius de Morais, PCP, 334.) (Mário de Andrade, CMB, 102).

---_. __.. _ - - - - _ . _ - - - - - - - - -
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ARTIGO 16 5
IG4
Ao meio-dia já as águas do porto eram prata fundida.
Era um setembro puro.
(Miguel Torga, NCM, 63.) (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 47.)

Observação: 4. Os nomes das quatro estações do ano são precedidos de artigo:


Omite-se em geral o ARTIGO antes das datas do mês: Será goivo no outono, assi,m -como era,
O parecer é de 28 de janeiro de 1640. Eternamente mal-aventurada,
(Jaime Cortesão, lHB, II, 218.) A alma, que lido foi na primavera ...

Costuma-se, no entanto, usá-lo antes de datas célebres (que adquirem o valor


(Alphonsus de Guimaraens, OC, 342)
de um substantivo composto de NUMERAL + PREPOSIÇÃO + SUBSTAN~O):
Podem, no entanto, dispensá-lo quando, antecedidos da preposIçãO
Por ser precisamente um dos feriatios extintos, o 19 de Novembro faz
lembrar hoje, aos marmanjos do começo do século, não só a bandeira como de, funciona;n como complemento nominal ou como adjunto adnominal:
a própria infância, tão perdida quanto esse feriado.
(Carlos Drummond de Andrade, FA, IIG.) Que noite de inverno! Que frio, que frio I
Gelou meu carvão:
Mas boto-o à lareira,. tal qual pelo estio,
2. Os nomes dos dias da semana vêm precedidos de ARTIGO, princi- Faz sol de verão!
palmente quando enunciados no plural:
(Antóuio Nobre, S, 13.)
Queres ir comigo à Itália no domingo?
(Augusto Abelaira, D, 45.)
s. Os nomes de datas festivas dizem-se com ARTIGO:
Aos domingos saIam cedo para a missa.
(Coelho Netto, OS, I, 33.) o Ano-Bom o Natal
o Carnaval a Páscoa
Mas podem dispensá-lo (juntamente com a preposição a que se aglu-
tinam), quando funcionam como adjunto adverbial. Assim:
É, porém, de regra a omissão do ARTIGO quando estes nomes funcio-
- Domingo à tarde. Domingo será a vez do teu moinho ... nam como adjunto adnominal das palavras dia, noite, semana, presente, etc.:
(Fernando Namora, DT, 221.)
o prhueiro dia de Carnaval. A semana de Páscoa.
A noite de Natal. Um presente de Ano-Bom.
3. Não se usa o ARTIGO nas designações das horas do dia, nem com
as expressões ",cio-dia e f)/eia-noite:
Com a palavra casa.
Meia-noite? Não se teria enganado?
(Josué Montello, SC, 25-26.) I. Dispensam o ARTIGO os adjuntos adverbiais de lugar em que entra
a palavra casa:
O ARTIGO é, porém, de regra quando, antecedidas de preposição, tais
a) desacompanhada de determinação ou qualificação, no sentido de
formas se empreglm adverbialmente:
«residência», «lar»:
Já não se almoça às 9 da manbã
c não se janta às 4. Chegada a casa, não os encontrou.
(Carlos Drummond de Andrade, MA, 99') .(Joaquhu Paço d'Arcos, CVL, 35 8.)
,66 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ARTIGO ,67

Chorei como todos de casa. Mas .não deve ser repetido antes do superlativo quando já acompanha
o substantivo, como neste exemplo:
(José Lins do Rego, E, 2'.)
Era o aluno o mais estudioso da turma.
b) em sentido vago, embora acompanhada de qualificação:
2. Com os nomes próprios.
Estava em casa própria lá para Ipanema.
(Aquilino Ribeiro, M, ; 56.) Sendo por definição individualizante, o nome próprio deveria dispensar
o ARTIGO. Mas, no curso da hlstória da lIngua, razões diversas concorreram
2. Mas a palavra casa vem de regra antecedida de ARTIGO: para que esta norma lógica nem sempre fosse observada e, hoje, há mesmo
grande número de nomes próprios que exigem obrigatoriamente o acom-
a) quando usada na acepção própria de «prédiQ», «edificiQ», «esta- panhamento - do AR'I'IGO DEFINIDO. Entre eSsas razões, devem ser mencio-
belecimento» : nadas:
a) a intenção de reforçar a ideia de individualidade, de um todo inti-
Estou cansado, preciso de um sócio, alguém que me dirija a casa.
mamente unido, como se concebe, em geral, um país, um continente, um
(Augusto Abelaira, D, 28.)
oceano:
o Brasil a América o Atlântico
b) quando está particularizada por adjunto adnominal:

Foi um. golpe esta carta; não obstante, apenas fechou a noite, corri à b) a de ser o nome próprio originariamente um substantivo comutl),
casa de Virgília. construído com o ARTIGO:
(Machado de Assis, OC, I, 484.)
o Porto o Havre (francês Le Havre = o porto)
Observação:
c) a influência sintác*a do italiano, Iingua em que os nomes de faml-
Diz-se o dO/lo (ou a dO/la) da casa para indicar, com precisão, seja o proprie-
lia, quando empregados isoladamente, vêm precedidos de ARTIGO:
tário do prédio, seja o chefe da familia. Em sentido vago, dir-se-á, porém: o Tasso o Ticiano a Patti
lima boa dona de casa.

d) a de cercar o nome próprio de uma atmosfera afectiva ou familiar:


Emprego com o superlativo relativo.
- O Adrão foi a novena?
- Crcio que não. Quem esteve lá foi a Marta com a Teixeira.
o ARTIqO DEFINIDO é de emprego obrigatório com o superlativo rela- (Graciliano Ramos, C, '47.)
tivo. Pode preceder o substantivo:
Era o aluno mais estudioso da turma. Com os nomes de pessoas.
Os nomes próprios de pessoas (de baptismo e de familia) não levam
Ou o superlativo: ARTIGO,principalmente quando se aplicam a personagens muito conhecidos.
Era o mais estudioso aluno da turma.
Assim:
Era aluno o mais estudioso da turma. Camões Dante Napoleão

-_._-------- - ---- - ----


168 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ARTIGO 169

Emprega-se, porém, o ARTIGO DEFINIDO: desertos, constelações, rios; lagos, ocean9s, mares e grupos de ilhas:

1.°) quando o nome de pessoa vem precedido de qualificativo: o Brasil o Himalaia o Nilo
a França os Alpes o Lemano
os Estados Unidos o Teide o Atlântico
o romântico Alencar. o divino Dante.
a Gniné o AtaCama o Báltico
o Nordeste o Saara o Mediterrâneo
2.0) quando o nome de pessoa vem acompanhado de deterxninativo a África o Cruzeiro do Sul os Açores
ou qualificativo denotadores de um aspecto, de uma época, de uma circuns-
tância da vida do indivíduo: b) com os nomes dos pontos cardeais e os dos colaterais, quer no sen-
tido próprio, quer no de regiões ou ventos:
Era o Daniel de outrora que eu tinha diante de mim.
(Josué Montello, DVP, 237-) o promontório tapava para o norte.
(Branquinho da Fonseca, MS, 104.)
3'0) quando o nome de pessoa vem enunciado no plural:
Também os ventos nordestinos se acharam presentes:
a) seja para indicar indivíduos do mesmo nome: o Nordeste e o Sudeste ...
o. dois Plínios. Os três Horácios. (Joaquim Cardoso, SE, 60.)

b) seja para designar uma colectividade familiar: 2.°) Não se usa em geral o ARTIGO DEFINIDO:

Os Andradas. Os Braganças. a) com os nomes de cidades, de localidades e da maioria das ilhas:

c) seja para caracterizar, enfaticamente, classes ou tipos de indivIduos Lisboa Águeda Creta
que se assemelham a um vulto ou personagem célebre, caso em que o nome
b) com os nomes de planetas e de estrelas:
próprio vale por um nome comum:
Marte Canópus
Que importa isso tudo, se, aqui, os Clemenceaus ~dam a monte, 08
Hindcmburgos rolam aos tombos, os Gladstones pululam aos cardumes,
os Bismarcks se multiplicam em ninhadas, e os Thiers cobrem o sol como 3·°) Não é uniforme o emprego do ARTIGO DEFINIDO com OS nomes
nuvens de gafanhotos. dos estados brasileiros e das províncias portuguesas.
(Rui Barbosa, EDS, 484.) A maioria leva ARTIGO. Não se usam, porém, com artigo:
d) para designar obras de um artista (geralmente quadros de um pintor): Alagoas Pernambuco Sergipe
Goiás Rondônia Trás-as-Montes
Os Goyas do Museu do Prado. Mato Grosso Santa Catarina
Minas Gerais São Paulo
Com os nomes geográficos.
4.°) Como os nomes de pessoas, os nomes geográficos passam a admi-
o estado actual do uso do ARTIGO com os nomes geográficos é oseguinte: tir o artigo desde que acompanhados de qualificação ou de deterxninação:

1.0) Emprega-se normalmente o ARTIGO DEFINIDO: Ai canta, canta ao luar, minha guitarra,
A Lisboa dos Poetas Cavaleiros!
a) com os nomes de paises, regiões, continentes, montanhas, vulcões, (António Nobre, D, 68.)
BREVE GRAMÁ'rICA DO PORTqGuÊS CON'I'EMPORÂNEO
'7° ARTIGO
'7 '

Observações: 2. A presença ou a ausência do artigo depois da palavra todo depende,


obviamente, de admitir ou rejeitar o substantivo aquela determinação.
1.0. Certos nomes de países e regiões costumam, no entanto, rejeitar o artigo. Diremos, por exemplo:
Entre outros: Portugal, Angola, MOfombiqllc, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe,
Macolf, TimoT, Afldorra, Israel, Silo Salvador, Aragão, Castela, Leão. Todo o Brasil pensa assim.
z.a. A semelhança dos nomes de paises; usam-se com artigo alguns nomes Todo Portugal pensa assim.
de ilhas: a Córsega, a Madeira, ti Sardenha, ti Sicllia.
3.11. Quando indicam apenas direcção, os nomes de pontos cardeais podem
vir sem ARTIGO: por se construírem de modo diverso esses dois nomes geográficos.
Marcha para oeste Vento de leste 3. Há casos, porém, que precisam de ser considerados particu]armente.
Percurso de norte a sul Assim:
Com os nomes de obras literárias e artísticas. 1.0) No PLURAL, anteposto ou posposto ao substantivo, todos vem
acompanhado de artigo, a menos que haja um determinativo que o exclua:
Emprega-se em geral o artigo, mesmo quando não pertença ao titulo:
Os disc1pulos amavam-na, prontos a todos os obséquios.
Ontem, à noite, comecei a ler a Ana Karenina. (Aquilino Ribeiro, CRG, 100.)
(Augusto Abelaira, D, 64.)
Iam-se-me as esperanças todas; terminava a carreira política.
3. Casos especiais (Machado de Assis, OC, l, 536.)
Mas:
Antes da palavra outro.
Todos estes costumes vão desaparecer.
I.Emprega-se o artigo definido quando a palavra outro tem sentido (Raul Brandão, P, 165.)
determinado:
2.0) Não se usa o artigo antes do numeral em aposição a todOl:
Tirei do colégio os meus dois filhos: o mais velho era um demônio, o
outro um anjo. Vi-os felizes a todos quatro.
(Camilo Castelo Branco, OS, l, '90')
(Machado de Assis, OC, l, I u6.)
2. Cala-se, porêm, o artigo quando o seu sentido é indeterminado:
Se, no entanto, o substantivo estiver claro, o artigo é de regra:
A uns amei, a outros estimei, aborreci alguns e alguns mal conheci - mas
todosl ail todos, me impregnaram de suas vidas. Vi-os felizes a todos os quatro meninos.
(pedro Nava, BC, 228.)
3. 0) No SINGULAR, todo:
Depois das palavras ambos e todo.
a) virá acompanhado de artigo, quando indicar a totalidade das partes:
Ambos e todo são as únicas palavras que, em português, costumam ante- Toda a praia é um único grito de ansiedade.
ceder o artigo pertencente ao mesmo sintagma.
(Alves Redol, FM, 306.)
I. Se o substantivo determinado pelo flUlneral ambos estiver claro, é b) poderá vir ou não acompanhado de artigo quando exprimir a tota-
de regra o emprego do artigo definido: lidade numérica:
Vasco apoiou os cotovelos nela e segurou o rosto com ambas as mãos. Falava bem como todo francês.
(Érico Vedssimo, LS, 166.) (Gilberto Amado, PP, 168.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNEo ARTIGO 173
17 2

Toda a gente sabe que Mônica é seriíssima. 3. Não se repete, porém, o artigo:
(Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 120.)
a) quando o segundo substantivo designa o mesmo ser ou a mesma
Neste último caso é obrigatória a sua anteposição ao substantivo. coisa que o primeiro:
Presenteou-me este livro o compadre e amigo Carlos.
4: 0 ) Anteposto ao artigo indefinido, fado significa «inteiro», «completo»: A fruta-de-conde, ou ata, é deliciosa.
Para conseguir o seu intento cobriu de ridículo toda uma geração, e b) quando, no pensamento, os substantivos se representam como um
lançou as bases de toda uma remodelação social. todo estreitamente unido:
(Gilberto Amado, TL, 29.) O estudo [do folclore] era necessitado pela existência das histórias, contos
de fadas, fábulas, apólogos, supcrtições, provérbios, poesia e mitos recolhi-
).0) Quanto todo (ou toda) está empregado com força adverbial, não dos da tradição oral.
admite naturalmente o acompanhamento do artigo: aoão Ribeiro, FI, 6.)

Todo barbeado de fresco, as cordoveias do pescoço luziam-lhe grossas


como calabres. Com adjectivos.
(Aquilino Ribeiro, CRG, 228.)
I. Repete-se o artigo antes de dois adjectivos unidos por uma das
6.°) Em numerosas locuções do português contemporâneo, todo (ou conjunções c e 011 quando os adjectivos acentuam qualidades opostas de
toda) vem seguido de artigo. Entre outras, mencionem-se as seguintes:
um mesmo substantivo:
a todo o custo a toda a brida
a todo o galope a toda a hora Conhecia o nov.o e o velho Testamento.
a todo o instante a toda a pressa A boa ou a má fortuna não o alteraram.
a todo o momento em toda a parte
em todo o caso por toda a parte
2. Não se repete, porém, o ARTIGO se os dois adjectivos ligados pelas
REPETIÇÃO DO ARTIGO DEFINIDO conjunções e, 011 (e mas) se aplicam a um substantivo com o qual formam
um conceito único:
Com substantivos.
Mas porque não lhe telefona logo à noite, porque não recomeçam a velha
I.Quando empregado antes do primeiro substantivo de uma sene, e quase esquecida amizade?
o artigo deve anteceder os substantivos seguintes, ainda que sejam todos do (Augusto Abelaira, D, 22.)
mesmo género e do mesmo número:
3. Se os adjectivos não vêm unidos pelas conjunções e e 011, deve-se
Cantava para os anjos, para os presos, para os vivos e para os mortos. repetir o artigo. Tal construção empresta ao enunciado ênfase particular:
aosé Lins do Rego, MVA, 347.)
É o povo, o verdadeiro, o nobre, o austero povo português.
2. Mas a alternância de sequências com arrigo e sem ele pode, em cer- (Augusto Frederico Schmidt, F, 102.)
tos casos, apresentar efeitos estil1sticos apreciáveis:
OMISSÃO DO ARTIGO DEFINIDO
Não viram sumo bem ao derredor,
Mas sim o mal, a tentação, o crime,
Orgulho, humilhações, remorso e dor. Do que foi estudado nas páginas anteriores, verificamos que o artigo
(Ant6nio Corrêa d'Olivcira, VSVA, 213.) definido limita sempre a noção expressa pelo substantivo.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO AR'I'IGO
174 17l

I. O seu emprego é, pois, evitado em certos casos: b) nos apostos que indicam simples apreciação:
1.0) Quando o género e o número do substantivo já estão claramente Tardes de minha. terra, doce encanto,
determinados por ontras classes de palavras (pronomes demonstrativos, Tardes duma pureza de açucenas.
numerais, etc.). Assim, diremos: .(FIorbela Espanca, S, Jj.)
Na revolução de 17 muito sofrera este padre. c) antes de palavras que designam matéria de estudo, empregadas
(José Lins do Rego, MVA, 281.) com os verbos aprender, estudar, cursar, ensinar e sin6nimos.
Antes, ainda no automóvel, Ramiro achara duas novas pérolas. Aprender Inglês. Estudar Latim.
(Augusto Abelaira, D, 121.) Cursar Direito. Ensinar Geometria.

2.0) Quando queremos indicar a noção expressa pelo substantivo de ti) antes das palavras tempo} ocasião, motivo, permissão, forfo, valor, âni!JJo
(para alguma coisa), complementos dos vexbos ter, dar,pedir e seus sinónimos:
um modo geral, isto é, na plena extensão do seu significado. Comparem-se,
por exemplo, estas três frases: Não houve tempo para descanso.
Não dei motivo à crítica.
Foi acusado do crime [acusação precisa].
Foi acusado de um crime [acusação vaga].
Pedimos permissão para sair.
Foi acusado de crime [acusação mais vaga ainda].
Não tive ânimo para viajar.

EMPREGO DO ARTIGO INDEFINIDO


3.0) Quando, nas enumerações, pretendemos obter um efeito:
a) de acumulação: l. Com os substantivos comuns.

Samuel, a princlpio com relutância, depois com fúria, finalmente com l. O artigo indefinido - já o dissemos - serve principalmente para
resignação, pôs-se a morder e a mastigar tudo: lápis, borrachas, pedacinhos a apresentação de um ser ou de um objecto ainda não conhecido do ouvinte
de pau, gomos de cana.. de-açúcar. ou do leitor.
(Carlos Drummond de Andrade, CA, '43-4.) Pouco depois, atraído também pelo espectáculo, foi chegando um cabo-
clinho magro, com uma taquara na mão.
b) de dispersão, como neste exemplo de ENUMERAÇÃO CAO"rICA: (Alceu Amoroso Lima, AA, 40.)
Volteiam dentro de mim, Uma vez apresentados o sex e o objecto, não há mais razão para o emprego
Em rodopio, em novelos, do artigo indefinido, e o escritor ou o locutor deverá usar daí por diante
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos, o artigo definido. É o que se observa na continuação do texto em causa:
Alta. torr•• de marfim.
Pupi1as acesas vinham espiar entre as árvores, como que também atraídas
(Mário de Sá-Carneiro, P, 7 l.) pela melodia da taquara do caboclinho.
2.Além desses casos gerais e de outros particulares, anteriormente (IbM.)
examinados, omite-se o artigo definido: 2. Para se precisar a classe ou a espécie de um substantivo já deter-
minado por artigo definido, costuma-se repeti-lo, na aposição, com o artigo
a) nos vocativos: indefinido:
Oh! dia. da minha infâncial Ele sentia o cheiro do impermeável dela: um cheiro doce de fruta
Oh! meu céu de primavera I madura.
(Casimira de Abreu, 0, 94.) (Érico Verissimo, LS, 140.)

..... _--,- ---- ----------


.ARTIGO
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEo 177
176
2. Como o artigo definido, o indefinido pode acompanhar os nomes
3. Por sua força generalizadora, o artigo indefinido pode atribuir a
um substantivo no singular a representação de toda a espécie: geográficos, se qualificados:

Mais tarde, haveria de ouvir-lhe pessoalmente a sua visão dum Egeu


_ Aquele, digo-vos eu, aquele é um homem. de deuses vivos.
(Branquinho da Fonseca, MS, 165.) (Luis Forjaz TrigueilOs, ME, 269')

4. A anteposição do plural uns, umas, a cardinais é a forma preferida OMISSÃO DO ARTIGO INDEFINIDO
do idioma para indicar a aproximação numérica:
Em expressões de identidade.
Teria, quando muito, uns doze anos.
(Urbano Tavares Rodrigues, PC, 168.)
I. Evita-se, em geral, empregar o artigo indefinido quando já existe,
anteposto ao substantivo, um dos pronomes demonstrativos igual, scmelhante
2. Com os nomes pr6prios. e tal,. ou um dos indefinidos certo, outro, qualq/(er e tal/to:

I. Emprega-se o artigo indefinido antes de um nome de pessoa: Certo amigo meu já usou de igual argumeoto.
Em outra· circunstatlcia eu aprovaria semelhante atitude.
a) para acentuar a semelhança ou a conformidade de alguém com Se continuares com tal inapetência e ,com tanta febre, podes tomar o
remédio a qualquer hora.
um vulto ou um personagem célebre, caso em que o nome próprio passa a
i·;er um nome comum: 2. Advirta-se, porém, que algumas dessas formas, quando pospostas
a um substantivo, passam a ser adjectivos, caso em que se constroem nor-
Papai era um Quixote. malmente com art: 60 indefinido:
(Ciro dos Anjos, MS, 298.)
Ele disse uma coisa certa.
b) para indicar ser o individuo verdadeiro sirubolo de uma espécie: QUeJ:o um livro igual a esse.
Uma hora qualquer irei vê-lo.
A fortuna, toda nossa, é que não temos um Kant. Tens um modo semelhante de falar.
Ooão Ribeiro, F, 36.)
Costuma-se, no entanto, calar o artigo indefinido, quando a frase é
negativa ou interrogativa:
t) para designar um individuo pertenceote a determiuada familia:
D. Pedro I do Brasil, que foi D. Pedro IV de Portugal, era um Bragança. Nunca li coisa igual.
Jamais se ouviu barbaridade tal!
Já v:iste trejeitos semelhantes?
ti) para evocar aspectos geralmente imprevistos de uma pessoa:
Apesar disso tudo, um Joaquim risonho, a satisfação em pessoa.
Em expressões comparativas.
(Genolino Amado, RP, IIj.) I. Em princípio, as fórmulas comparativas podem admitir a exclusão
do artigo indefinido. É o caso:
e) para designar obras de um artista (geralmeote quadros de um pintor):
a) dos comparativos de igualdade formados com tilo ou tal/lo:
Também disse, é verdade, como era necessário aprender a distinguir o
fado de uma sinfonia, um P/casso de um calendário. Nunca passei por lugar tão perigoso como aquele.
(Vergllio Perreira, A, 28.) Trabalhava com tanto cuidado como o pai.
BREVE GRAMÁTICA DO ,PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO AR'l'IGO
17 8 '79

b) dos comparativos de superioridade ou de inferioridade, principal_ b) nos apostos:


mente quando expressos sob a forma negativa ou interrogativa:
Meu pai, homem de boa familia, possula fortuna grossa, como não
Não encontrarias melhor amigo nesta emergência. ignoram.
Conseguiste maior renda este mês? (Graciliano Ramos, AOH, .8.)

2. É dispensável também o artigo indefinido em comparaçães do tipo: e sempre que a clareza ou a ênfase não O exigirem.
Qual furacão, revolveu tudo.
Bailava como nume da fior.esta. Observação:

Em expressões de quantidade. Em rigor, não se trata propriamente nestes casos e nos seguintes de omis~
são do artigo indefinido, mas de casos onde ele nunca se empregou de forma
regular.
Costuma-se evitar o artigo indefinido antes de expressões denotadoras Na fase primitiva das línguas românicas, o artigo indefinido era de uso res-
de quantidade indeterminada, constituldas seja por substantivos (como: trito. Com o correr do tempo, esse determinativo foi-se introduzindo em
coisa, gente, infinidade, multidão" número, parte, pessoa, porção, quantia, quantidade, numerosas construções e, hoje, os variados matizes do seu emprego constituem
uma inestimável riqueza estilística de todas elas.
sOllJa e equivalentes), seja por adjectivos (como: escasso, excessivo, suficiente e
sinónimos) :

Havia grande número de pessoas no casamento.


Reservou para si boa parte do lucro.

Com substantivo denotador da espécie.

Quando um substantivo no singular é concebido sob o aspecto de


categoria, de espécie, e não sob o de unidade, pode-se calar o artigo inde-
finido. Esta omissão aparece frequentemente em provérbios:

Cão ladrador nunca é bom caçador.


Espada na mão de sandeu, perigo de quem lha deu.

Outros casos de omissão do artigo indefinido.

Além dos casos mencionados, a lingua portuguesa admite a onussão


do artigo indefinido em muitos outros. Como o artigo definido, ele pode
faltar:

a) nas enumerações:

Desde ai, os ca1,l1pos-santos não cessaram de recolher os mortos meus:


avÔ, tios, amigos de infância, companheiros queridos - a Hsta é aterra-
dora ...
(Augusto Frederico Scbmidt, GB, I j 1.)

_._.- .. ------_.... ---------


ADJECTIVO 18,

10. gindo-Ihe, pois, a extensão do significado. Nilo admitem graus de intensi-


dade e vêm nonnaImente pospostos ao substantivo. A sua anteposiçllo, no
caso, provoca uma valorizaçãO de sentido muito sensível.

Nome substantivo e nome adjectivo.


Adjectivo
É muito estreita a relação entre o SUBSTANTIVO (termo determinado) e
o AD]ECTIVO (termo detertninante). Não raro, há uma única forma para as
duas classes de palavras e, nesse caso, a distinção s6 poderá ser feita na frase.
Comparem-se, por exemplo:
o AD]EC'fIVO é essencialmente um modificador do substantivo. Serve: Uma preta velha vendia laranjas.
Uma velha preta vendia laranjas.
1.°) para caracterizar os seres, os objectos ou as noções nomeadas
pelo substantivo, indicando-lhes:
Na primeira oração, preta é substantivo, porque é a palavra-núcleo,
a) uma qualidade (ou defeito): caracterizada por velha, que, por sua vez, é adjectivo na medida em que é a
palavra caracterizadora do termo-núcleo. Na segunda oração, ao contrário,
inteligência lúcida homem perverso velha é substantivo e preta adjectivo.
Como vemos, a subdivisão dos nomes portugueses em substantivos e
b) o modo de ser:
adjectivos obedece a um" critério basicamente sintáctico, funcional.
pessoa simples r.paz delicado

c) o aspecto ou aparência: Substantivação do adjectivo.


céu azul vidro fosco
Sempre que a qualidade referida a um ser, objecto ou noção for con-
ti) o estado: cebida com grande independência, o adjectivo que a representa deixará de
ser um termo subordinado para tornar-se o termo nuclear do sintagma
casa arruinada laranjeira florida
nominal. Dá-se, então, o que se chama SUBSTANTIVAÇÃO DO AD]EC'fIVO,
facto que se exprime, gramaticalmente, peJa anteposição de um detertnina-
2.0) para estabelecer com o substantivo uma relação de tempo, de tivo (em geral, do artigo) ao adjectivo.
espaço, de matéria, de finalidade, de propriedade, de procedência, etc. Comparem-se, por exemplo, estas orações:
(AD]ECTIVO DE RELAÇÃO):

nota mensal (= nota relativa ao mês)


o céu cinzento indica chuva.
O cinzento do céu indica chuva.
movimento estudantil (= movimento feito por estudantes)
casa paterna (= casa onde habitam os pais)
vinho português (= vinho proveniente de Portugal) Na primeira, cinzento é adjectivo; na segunda, substantivo.

Observação: Substitutos do adjectivo.

Os ADjECTIVOS DE RELAÇÃO, derivados de substantivos, são de natureza clas- I. Palavras ou expressões de outra classe gramatical podem também
sificatória, ou seja, precisam o conceito expresso pelo substantivo, restrin- serv:ir para caracterizar o substantivo, ficando a ele subordinadas na frase.
I8. BREVE GRAMÁI'ICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO ADJECTIVO .83

Valem, portanto, por verdadeiros adjectivos, semântica e sintacticamente tância ou acção que a representem» 1. É, por exemplo, o caso de, entre outros)
falando. brando, c/aro, curto, grande, largo, liso, livre, triste e de boa parte dos adjectivos
Costuma-se, por exemplo, com tal finalidade: referentes a cor: azuh branco, preto, verde, etc.
A maioria dos adjeciivos é constitulda por aqueles 'lue derivam de
a) associar ao substantivo principal outro substantivo em forma de
um substantivo ou de um verbo, com os quais continuam a relacionar-se
aposto: do ponte de vista semântic0 2 •
o tio Joaquim Moça cabeça-de-vento
FLEXÕES DOS ADJECTIVOS
b) empregar locuções formadas, quer de PREPOSIÇÃO + SUBSTANTIVO:
Como os substantivos, os adjectivos podem flexionar-se em NÚMERO,
Coração de anjo [= angélico] GÊNERO e GRAU.
Indivíduo sem coragem [ = medroso]
Número
quer de PREPOSIÇÃO + ADVÉRBIO:
o adjectivo toma a forma SINGULAR ou PLURAL do substantivo que ele
Jornal de hoj e [ = hodierno] qualifica:
Patas de trás [ = traseiras]
aluno estudioso alunos estudiosos
mniber hindu mulheres hindus
c) substituir o adjectivo por Utu substantivo abstracto, que passa a perfume francês perfumes franceses
ter como complemento nominal o antigo substantivo nuclear.
Comparem-se, por exemplo, estas frases: Plural dos adjectivos simples.
Sofreu o destino cruel.
Sofreu a crueldade do destino. Na formação do plural, os adjectivos simples seguem as mesmas regras
a que obedecem os substantivos.
2. A caracterização .do substantivo pode fazer-se ainda por meio de
uma oração: Plmal dos adjectivos compostos.
a) seja desenvolvida (quando encabeçada por pronome relativo):
Nos adjectivos compostos, apenas o último elemento recebe a forma
Há homens que não acham nunca a sua expressão. de plural:
(Gilberto Amado, TL, 9.)
consultórios médico-cirúrgicos institutos afro-asiáticos
b) seja reduzida:
Observação:
Jorge via a dor andando no corpo, a febre queimando, o pai já apodre- Exceptuam-se:
cia por dentro.
(Adonias Filho, LP, 53.) a) sIIrdo-lIl11do, que faz surdos-llJ1/dos;
b) os adjectivos referentes a cores, que são invariáveis quando o segundo
elemento da composição é um substantivo ~
Morfologia dos adjectivos. uniformes verde-oliva canários amarelo-ouro

Poucos são os adjectivos que podemos considerar PRIMITIVOS, ou seja, Gonz:tlo Sobejano. EI epflelo CfI la /frita espaRo/a. 2,3 ed.. M;ldrid, Grcdos, 1970, p. 8~.
2 Quanto aos sufixos que entram na formaç.;o destes adjectivos, veja-se o que dissemos
«que designam por si mesmos uma qualidade, sem referência a uma subs- no CapItulo 6, p. 70-72.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO ADJ1lCTIVO
1 84 18 5

Género c) dos finalizados em -or: os comparativos II/c/hor, Pior, I"oior, HICIJOr,


superior, inferior, il/terior, exterior, posterior, ulterior, &itcrior e, ainda, formas
o substantivo tem sempre um GÉNERO, o que não sucede com o adjectivo, como multicor, incolor, sensabor e poucas. mais, que são invariáveis; gerador,
que assume o género do substantivo. motor e outros terminados em -dor e -tor, que mudam estas sHabas em -triZ:
Do ponto de vista morfológico, o único traço que, na verdade, sin- gera/riz, motriz, etc.; e um pequeno número que substitui -or por -eira: tra-
gulariza o adjectivo como uma parte do discurso diversa das demais é o de balhador, trabalhadeira, etc.
poder, na maioria das vezes, apresentar duas terminações de género, sem
que, com isso, seja uma palavra de género determinado e sem que o con- ;.0) Os terminados em -ão formam o feminino em -ã ou em -ona:
ceito por ele designado corresponda a um género real. são sã chorão chorona
Beirão, no entanto, faz no feminino beiroo.
Formação do feminino.
4.°) Os terminados em -eu (com e fechado) formam o feminino em
Como dissemos, os adjectivos são geralmente BIFORMES, isto é,
I. -eia:
possuem duas formas, uma para o masculino e outra para o feminino:
europeu europeia plebeu plebeia
Masculino Feminino Masculino Feminino
Exceptuam-se judefl e sondeu, que fazem, respectivamente, judia e sandia.
bom boa mau má
formoso formosa nu nua 5·°) Os terminados em -étl (com e aberto) formam o feminino em
lindo linda português portuguesa -Da:

ilhéu ilhoa taharéu tabaroa


2. O processo de formação do feminino destes adjectivos é idêntico
ao dos substantivos. Assim:
6.0) Alguns adjectivos que no masculino possuem o tónico fechado [o],
L0) OS terminados em -o átono formam o feminino mudando o -o além de receberem a desinéncia -a, mudam o o fechado para aberto [~], no
em -a: feminino:

belo bela ligeiro ligeira brioso briosa formoso formosa

2.0) Os terminados em -ti, -ês e -ar formam geralmente o feminino Outros, porém, conservam no feminino o o fechado [o] do masculino:
acrescentando -a ao masculino:
chocho chocha fosco fosca
cru crua nu nua
francês francesa inglês inglesa
encantador encantadora morador moradora Adjectivos uniformes.
Exceptuam-se, porém:
Há· adjectivos que têm uma só forma para os dois géneros.
a) dos finalizados em -u: oS gentílicos hindu e zulu, que são invariá- São de regra UNIFORMES o, adjectivos:
veis; a) terminados em -a, mnitos dos quais funcionam também como subs-
b) dos finalizados em -ês: cortês, descortês, IIJOlltRS e pcdrês, que são inva- tantivos: hipócrita, hOlllicida, illdlge/Ja; asteco) cella) israelita) fI,aia) persa; agrí-
riáveis; cola) silvícola) villicola) cos!!Jopolita) etç;.;
BREVE GRAMÁTICA DO PORTuGUÊs CONTEMPORÂNBO ADJECTIVO
186 18 7

b) terminados em -8: árabeJ breveJ cafreJ doceJ humildeJ terrestreJ torpe} b) que num mesmo ser determinada qualidade é superior, igllol ou infe-
triste c muitos outros, entre os quais se incluem todos os formados com os rior a outra que possui:
sufixos -ense, -tlllte, -mte e -inte: cearense, constante, crescente, pedinte, etc.;
Paulo é mais inteligente que estudioso.
c) terminados em -I: cordial, infiel, amável, pueril, ágil, reinol, azul, êxul, etc.; Pedro é tão inteligente como [ou quanto] estudioso.
d) terminados em -ar e em -ar (neste caso apenas os comparativos em Álvaro é menos inteligente do que estudioso.
-or): exelllplar, ímpar, maior, superior, etc.;
e) paroxítonos terminados em -s: reles, simples, etc.; Daí a existência de um COMPARATIVO DE SUPERIORIDADE, de um COM-
f) terminados em -Z: audaz, feliz, atroz, etc.; PARAnvo DE IGUALDADE- e de um COMPARATIVO DE INFERIORIDADE.
g) terminados em -111 gráfico: virgem, ruim, comum, etc ..
Observação: 2. O SUPERLATIVO pode denotar:
Fazem excepção: andaluz, fem. anàolnzo; bom, fem. boa; espanhol, fem. espa- a) que um ser apresenta em elevado grau determinada qualidade (su-
nho/a; e a maior parte dos terminados em -ês e -or. PERLATIVO ABSOLUTO):

Feminino dos adjectivos compostos. Paulo é inteligentlssimo.


Pedro é muito inteligente.
Nos ADJECTIVOS COMPOSTOS, apenas o segundo elemento pode assumir
a forma feminina: b) que, em comparação à totalidade dos seres que apresentam a mesma
qualidade, um sobressai por pOSSUÍ-Ia em grau maior ou menor que os
a literatura bispano-ameri""",! uma intervenção médico-cirúrgica demais (SUPERLATIVO RELATIVO):

A única excepção é surdo-mudo, que faz no feminino surda-muda: Carlos é O aluno mais estudioso do Colégio.
João é o aluno menos estudioso do Colégio.
um menino surdo..mudo uma criança surda-muda

Grau No primeiro exemplo, o SUPERLATIVO RELATIVO é DE SUPERIORIDADE;


no segundo, DE INFERIORIDADE.

A gradação pode ser expressa em português por processos sintácricos


ou morfológicos. Formação do grau comparativo.

Comparativo e superlativo.
I. Forma-se o COMPARATIVO DE SUPERIORIDADE antepondo-se o
Dois são os GRAUS do adjecrivo: o COMPARATIVO e o SUPERLATIVO. advérbio mais e pospondo-se a conjunção que ou do que ao adjecrivo:

Pedro é mais idoso do que Carlos.


I. O COMPARATIVO pode indicar: João é mais nervoso que desatento.
a) que um ser possui determinada qualidade em grau superior, igual
ou itiferior a outrO! 2. Forma-se o COMPARATIVO DE IGUALDADE antepondo-se o advérbio
tão e pospondo-se a conjunção como ou qllOnto ao adjectivo:
Pedro é mais estudioso do que Paulo.
Álvaro é tão estudioso como [ou quanto] Pedro. Carlos é tão jovem como Álvaro.
Paulo é menos estudioso do que Alvaro. José é tão nervoso quanto desatento.
DREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO ADJECTIVO
188 18 9

3. Forma-se o COMPARATIVO DE INFERIORIDADE antepondo-se o ti) os terminados no ditongo -ão fazem o superlativo em -o/Jlssimo.'
advérbio IIICIIOS e pospondo-se a conjunção que ou do q/le ao adjectivo:
pagão paganfssimo
Paulo é menos idoso que Álvaro. .vão varussimo
João é menos nervoso do que desatento.

Formação do grau,superlativo. 3. Não raro a forma portuguesa do adjectivo difere sensivelmente


da latina, da qual se deriva Q superlativo. Assim:
Vimos que há duas espécies de SUPERLATIVO: AllSOLUTO e RELATIVO.
O SUPERLATIVO AllSOLUTO pode ser: Normal Superlativo Normal Superlativo

a) SINTÉTICO, se expresso por uma Só palavra (adjectivo + sufixo): amargo amaríssimo magnlfico magnificenUssimo
amidssimo ac6:rimo amigo amiclssimo maléfico maleficentíssímo
antigo antiquissimo malévolo malevolentlssimo
b) ANALÍTICO, se formado com a ajuda de outra palavra, geralmente benéfico beneficentissimo miúdo minudssimo
benévolo benevolentlssímo nobre nobilissimo
um advérbio indicador de excesso -muito, imensamente, extraordinariamente) cristão cristianissimo pessoal personalIssimo
excessivamente, grandemente, etc.: cruel crudel.issimo pródigo prodígallssimo
muito estudioso excessivamente fácil doce dulc1ssimo sábio sapientíssimo
fiel fidellssimo sagrado sacratíssimo
Superlativo absoluto sintético. frio frigidíssimo simples simplicíssimo ou
geral generalissimo simpllssimo
inimigo inimic1ssimo soberbo superblssimo
I. Forma-se pelo acréscimo ao adjectivo do sufixo -issimo.'
fértil fertillssimo
original originallssimo -4· Também -os superlativos em -imo e -rimo representam simples for-
Se o adjectivo terminar em vogal, esta desaparece ao aglutinar-se o mações latinas. Com exclusão de facilillJO, diftcíli!)JO e pal/pér';!)Jo (superlativos
sufixo: de fácil, dificil e pobre), que pertencem à linguagem coloquial, são todos de
belo bellssimo uso literário e um tanto precioso. Anotem-se os seguintes:
lindo lindíssimo
Normal Superlativo Normal Superlativo
2. Muitas vezes o adjectivo, ao receber o sufixo -!ssimo, reassume a
primitiva forma latina. Assim: acre acérrimo magro macérrimo (ou
a) os adjectivos terminados em -vcl formam o superlativo em -bilissimo.' célebre celebérrimo magrlssimo)
humilde humilimo (ou negro nigérrimo (ou
amável amabilíssimo humildíssimo) negrlssimo)
terrlvel terribillssimo integro integérrimo pobre paupérrimo (ou
livre
b) os terminados em -z fazem o superlativo em -cissimo.' salubre
libérrimo
salubérrimo
pobrlssimo)
capaz capacíssimo
feliz felicíssimo

c) os terminados em vogal nasal (representada por -IIJ gráfico) formam Superlativo relativo.
o superlativo em -JlíssiIlJo:
I. O SUPERLATIVO RELA'r'IVO é sempre analItico.
comum comunlssimo O DE SUPERIORIDADE forma-se pela anteposição do artigo definido ao

-- ---_._ ..._. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
190
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
I ADJECTIVO 19 1

comparativo de superioridade: observações:

Este aluno é o mais estudioso do Colégio. I.a Quando se compara a qualidade de dois seres, não se deve dizer mais
João foi o colega mais leal que conheci. bOnl, mois mau e mais grande; e sim: melhor, pior e maior. P05StVe1 é, no entanto,
usar as formas analiticas desses adjectivos quando se confrontam duas qua-
o DE INFERIORIDADE forma-se pela anteposição do artigo definido ao lidades do mesmo ser:
comparativo de inferioridade: Ele foi mais mau do que desgraçado.
Ele é bom e inteligente; mais bom do que inteligente.
Este aluno é o menos estudioso do Colégio. Em lugar de menor usa-se, também mais pequeno, que é a forma preferida em
Jorge foi o colega menos leal que conheci. Portugal.
z.a A par de óptimo, péssillJO, máximo e ",Infmo, existem ~s superlativos abso-
2. O termo da comparação é expresso por um complemento nominal
lutos_ regulares: bonlssimo e muito bOlll, mal/ssilllo e IIIl1itO lIIau, grandlssilllo e IIIl1ito
introduzido peJa preposição de (e também mire, em e sobre), ou por. lima grande, peqllenlssimo e milito pequeno.
oraçãO adjectiva restritiva, como nos exemplos mencionados.
;.&. Grande e peqlleno possuem dois superlativos: o maior ou o máxiuJo e o
menor ou o ml/Jimo.
3. O superlativo relativo denotador dos limites da possibilidade for-
ma-se com a posposição da palavra possível ou uma expressão (ou oração) 4.0. Alguns comparativos e superlativos não têm forma normal usada:
de sentido equivalente:
Comparativ,? Supetiativo
o arraial era o mais monótono possivel. superior supremo ou sumo
(Guimarães Rosa, S, 264.) inferior lnfimo
anterior
Era a pessoa mais cortês deste mundo, e não deu corpo às suas aver- posterior póstumo
sões. ulterior último
(Aquilino Ribeiro, V, 34.)
As formas superior e iliferior, stlpremo (ou sumo) e Infimo podem ser empregadas
como comparativo e superlativo de alto e baixo, respectivamente.
Comparativos e superlfit1vm; anófiialos.
Outras formas de superlativo.

Quatro adjectivos - bom, mau, grande e peqlleno - formam o compara- Pode-se formar também o SUPERLATIVO com:
tivo e o superlativo de modo especial:
a) o acréscimo de um prefixo ou de um pseudo-prefixo, como arqlli-,
extra-, hiper-, sJlper-, ultra-, etc.: arquimilionário, extraftno, hipersensível, sJtper-
Comparativo Supetiativo exallado, tlltra-rápido,'
Adjcctivo de
Superioridade Absoluto Relativo b) a repetição do próprio adjectivo:

bom melhor ôptimo o melhor É um Abril de pureza: - é lindo, lindo!


(Antônio Patricia, P, 130.)
mau pior péssimo o pior
grande maior máximo o maior c) uma comparação breve:
pequeno menor mlnimo o menor
. - Isso é claro como água .
(Castro Soromenho, TM, 101.)
BREVE GRAMÁl'ICA DO PORTUGuÊS CONTE~PORÂNEO ADJECTIVO
'9 2 '93

d) certas expressões fixas, como podre de rico [= riquíssimo], de /JJão substantivo que lhe serve de núcleo, um TERMO, por conseguinte, ACESSÓ-
cbcj(l [= excelente, de grandes recursos técnicos), e outras semelhantes: RIO da oração.

A Zorilda era uma pianista de mão cheia. z.O) A qualidade expressa por um adjectivo em função PREDICATIVA
(Herberto Sales, DBFM, 120.) vem marcada no tempo, e por essa .relação cronológica entre a qualidade e
o ser é responsável o verbo que liga o adjectivo ao substantivo. Comparem-se
Adjeetivos que não se flexionam em grau. estas frases:

Vimos que os chamados ADJECTIVOS DE RELAÇÃO não se flexionam em o bom alnno estuda.
grau. O mesmo se dá com os outros adjectivos de tipo classificatórÍo, entre
Ele está nervoso, mas era calmo.
OS quais se incluem os pertencentes às terminologias científicas, que se caracte-
rizam por seu sentido específico, unívoco. Assim: atmosférico, morfológico)
ovíParoJ rumi/lanteJ sincrónicoJ etc. Na primeira, acrescentamos a noção de bom à de alI/no sem termos em
Para que um adjecúvo tenha comparaúvo e superlaúvo, é obviamente mente qualquer referência à ideia de tempo. Já na segunda, as noções expressas
indispensável que o seu sentido admita variação de intensidade. pelos adjectivos JJCrvoso e calmo são por nós atribuídas ao sujeito com a situa-
ção de tempo marcada pelo verbo: nervoso, no presente; calmo, no passado.
EMPREGO DO ADJECTIVO
Emprego adverbial do adjectivo.
Funções sintácticas do adjectivo.
I. Examinemos as seguintes orações:
A rigor, o AD]EC'I'IVO só existe referido a um substantivo. Conforme
se estabeleça a relação entre os dois termos na frase, o ADJECTIVO desempe- O menino donne ttanquilo.
A menina dorme ttanquila.
nhará as funções sintácticas de ADJUNTO ADNOMINAL ou de PREDICATIVO. Os meninos dormem tranquilos.
As meninas donnem ttanquilas.
A diferença entre o ADJECT1VO em função de ADJUNTO ADNOMINAL e
() ADJECTIVO em função de PREDICATIVO baseia-se, principalmente, el ..! dois
Vemos que, nelas, o adjectivo em função predicativa concorda em
pontos:
género e número com o substantivo sujeito. Mas verificamos, por outto
LO) O primeiro é TERMO ACESSORIO da oração, parte de um TERMO lado, que, servindo embora de predicativo do sujeito, com o qual concorda,
ESSENCIAL ou INTEGRANTE dela; o segundo é, por si próprio, um TERMO o adjectivo modifica em todas elas a acção expressa pelo verbo e assume,
ESSENCIAL da oração. de alguma forma, um valor também adverbial.
Esse valor naturalmente será o preponderante se, em lugar daquelas
Se disséssemos, por exemplo: construções, usarmos as seguintes:
o campo é imenso,
o menino donne tranquilamente.
A menina donne ttanquiIamente.
o adjectivo predicativo não poderia faltar, pois, sendo TERMO ESSENCIAL, Os meninos dormem tranquilamente.
sem ele a oração não teria sentido. As meninas dormem tranquilamente.
Se disséssemos, no entanto:
Aqui, a forma adverbial, invariável, inIpede a possibilidade de con-
o campo imenso está alagado, cordância, justamente o elo que prendia o adjectivo ao sujeito, c, com isso,
faz aflorar com toda a nitidez o modo por que se processa a acção indicada
o adjectivo imellso seria parte do sujeito, uma dispensável qualificação do pelo verbo dorlllir.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ADJECTIVO
'94 '9!

2. É esse emprego do adjectivo em predicados verbo-nominais, com Adjectivo posposto ao substantivo.


valor fronteiriço de advérbio, que nos vai explicar o fenómeno, hoje muito
generalizado, da adverbialização de adjectivos sem o acréscimo do sufixo Colocam-se normalmente depois do substantivo:
-I/Jentc.
Por exemplo, nestas orações: a) os adjectivos de natureza classificatória, como os técnicos e os de
relação, que indicam uma categoria na espécie designada pelo substantivo:
Canta o canário de penas de ouro.
Alegre canta. Cantara triste, animal doméstico água mineral
Se se lembrasse que livre outrora
Voava com os outros que andam. lá fora. b) os adjectivos que designam caracterlsticas muito salientes do subs-
(Alberto de Oliveira, P, IV, 70.) tantivo, tais como forma, dimensão, cor e estado:

as palavras alegre, triste e livre são advérbios. terreno plano calça preta
homem baixo mamoeiro carregado
Observação:
c) os adjectivos seguidos de um complemento nominal:
Embora o adjectivo adve!'bializado deva permanecer invariável, não faltam
abonações, mesmo em bons autores, de sua concordância com o sujeito da um programa fácil de cumprir
oração, facto justificável pela ampla zona de contacto existente, no caso, entre
o adjectivo e o advérbio. Adjectivo anteposto ao substantivo.

Colocação do adjectivo adjunto adnominal. I. De um modo constante, só se colocam antes do substantivo:

I. Sabemos que, na oração declarativa, prepondera a ORDEM DlRECTA, a) os superlativos relativos: o melhor} o pior} o maior} o menor ,.
que corresponde à sequéncia progressiva do enunciado lógico.
Como elemento acessório da oração, o adjectivo em função de ADJUNTO O me1bor meio de ganhar é poupar.
ADNOMINAL deverá, portanto, vir com maior frequência depois do subs- O maior castigo da injúria é havê-la feito.
tantivo que ele qualifica. b) certos adjectivos monossilábicos que formam com O substantivo
2. Mas sabemos, também, que ao nosso idioma não repugna a ORDEM expressões equivalentes a substantivos compostos:
chamada INVERSA, principalmente nas formas afectivas da linguagem· e que
a anteposição de um termo é, de regra, uma forma de realçá-lo. bom dia má hora

3. Podemos, então, estabelecer previamente que: c) adjectivos que nesta posição adquiriram sentido especial, como
simples (= mero, só, único); comparem-se:
a) sendo a sequência SUllSTANTIVO + ADJECTIVO
a predominante no
enunciado lógico, deriva dal a noção de que o adjectivo posposto possui Nessa ocasião ele era um simples escrevente [= um mero escrevente].
valor objectivo: Este escritor tem um estilo simples [= um estilo não complexo].
noite escura dia tIiste 2, Afora esses casos, o adjectivo anteposto assume, em geral, um
sentido figurado. Comparem-se, por exemplo:
/J) sendo a sequência ADJECTIVO +
SUBSTANTIVO provocada pela
ênfase dada ao qualificativo, decorre dal a noção de que, anteposto, o adjec- um grande homem [= grandeza figurada]
tivo assume um valor subjectivo: um homem grande [= grandeza material]
uma pobre mulher [= uma mulher infeliz]
escura noite triste dia uma mulher pobre [= uma mulher sem recursos]
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ADJECTIVO
'97
'9 6

CONCORDÂNCIA DO ADJECTIVO COM O SUBSTANTIVO tantivo mais próximo, ou seja com o primeiro deles:
Vivia em tranquilos bosques e montanhas.
Vivia em tranquilas mos:ttanhas e bosques.
o dissemos, varia em género e número de acordo com o
ADjEC1'IVO,
Tinha por ele alto respeito e admiração.
género e o número do SUBSTANTIVO ao qual se refere. Tinha por ele alta admiração e respeito.
É por essa correspondência de flexões que os dois termos se acham ine-
quivocamente relacionados, mesmo quando distantes um do outro na frase. Observação:
Assim: Quando os substantivos são nomes próprios ou nomes de parentesco, o
ADJECTIVO vai sempre para o plural:
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso ... Conheci ontem as gentis irmã e cunhada de Laura.
(Fernando Pessoa, DF, 17.) Portugal cultua os feitos dos heróicos Diogo Cão e Bartolomeu Dias.

O adjectivo vem depois dos substantivos.


Adjectivo referido a um substantivo.
Neste caso, a concordância depende do género e do número dos subs-
o ADJECTIVO, quer em função de ADJUNTO ADNOMINAL, quer em fun- tantivos.
ção de PREDICATIVO, desde que se refira a Uni línico sllbstannvo} com ele con~
I. Se os substantivos são do mmno género e do singular, o adjectivo
corda em género e número.
toma o género (masculino ou feminino) dos substantivos e, quanto ao
Assim: número, vai:
o Barão continuava a contar aventuras, pequenos casos que revivia a) para o singular (concordância mais comum):
com um prazer doentio.
(Branquinho da Fonseca, B, '7.) A professora estava com um vestido e um chapéu escuro.
Estudo a lingua e a literatura portuguesa.
A casa ficou vazia.
(Aníbal M. Machado. HR. 'p.) b) para o plural (concordância mais rara):

Adjectivo referido a mais de um substantivo. A professora estava com um vestido e um. chapéu escuros.
Estudo a lingua e a literatura portuguesas.
Quando o ADJECTIVO se associa a mais de UIU substantivo, importa con-
2. Se os substantivos são de gÚlleros difermtes e do sillgular, o adjectivo
siderar:
a) o GÉNERO dos substantivos; pode concordar:
b) a FUNÇÃO do adjectivo (ADJUNTO ADNOMINAL ou PREDICATIVO); a) com o substantivo mais próximo (concordância mais comum):
c) a POSIÇÃO do adjectivo (anteposto ou posposto aos substantivos),
A professora estava com uma saia e um chapéu e~curo.
condições essas que permitem a concordância do adjectivo com os subs-
Estudo o idioma e a literatura portuguesa.
tantivos englobados, ou apenas com o mais próximo.
Examinemos as diversas possibilidades, exemplificando-as. b) com os substantivos em conjunto, caso em que vai para o mas-
culino plural (concordância mais rara):
ADJECTIVO ADJUNTO ADNOMINAL
A professora estava com uma saia e um chapéu escuros.
Estudo o idioma e a literatura portugueses.
O adjectivo vem antes dos substantivos.
3. Se os substantivos são do JIIesmo gélJc1'o) mas de /II[flleros divcrsos} o
Regra geral. O AD)ECTIVO concorda em género e número com o subs-
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ADJBcnvo 199
19 8

adjcctivo toma o gênero dos substantivos, e vai: dos casos, as mesmas regras de concordância a que está submetido o adjec-
tivo que funciona como adjunto adnominal.
a) para o plural (concordância mais comum):
Convém salientar, no entanto, que:
Ela comprou dois vestidos e um chapéu escuros.
Estudo as línguas e a civilização ibéricas. a) se os substantivos sujeitos são do mesmo género} o adjectivo toma o
género dos substantivos e vai, preferentemente, para o plural, ainda que
b) para o número do substantivo mais próximo (concordância mais os substantivos estejam no singular:
rara):
o livro e o caderno são novos.
Ela comprou dois vestidos e um. chapéu escuro. A porta e a janela estavam abertas.
Estudo as Hngua. e a civilização ibérica.
b) se os substantivos SUjeitos são de generos diversos, o adjectivo vai,
4. Se os substantivos são de generos diferentes e do plural, o adjectivo vai: normalmente, para o masculino plural:
a) para o plural e para o género do sul--,tantivo mais próximo (con- o livro e a caneta são novos.
cordância mais comum): A janela e o portão esta"Am abertos.
Ela comprou saias e chapéus escuros.
Mas, nos dois casos, é também posslve1 que o adjectivo predicativo
Estudo os idiomas e as literaturas ibéricas.
concorde com o sujeito mais próximo se o VERBO DE LIGAÇÃO estiver no
singular e anteposto aoS' sujeitos, como nos exemplos abaixo:
b) para o masculino plural (concordância mais rara):
Era novo o livro e a caneta.
Ela comprou chapéus e saias escuros. Estava aberta a janela e o portão.
Estudo os idiomas e as literaturas ibéricos.

5. Se os substantivos são de generos e números diferentes, o adjectivo Observações:


pode ir: 1.& O adjectivo predicativo do objecto directo obedece, em geral, às mes-

a) para o masculino plural (concordância mais comum): mas regras de concordância observadas peIo adjectivo predicativo do sujeito.
z.& Como as orações, e as palavras tomadas materialmente, se consideram
Ela comprou saias e chapéu escuros. do número singular e do género masculino, quando o sujeito é expresso por
uma oração (plena ou reduzida), o adjectivo predicativo fica no masculino
Estudo os falares e a cultura portugueses.
singular:
b) para o género e o número do substantivo mais próximo (concor- É justo que uma nação venere os seus poetas.
É honroso morrer peIa pátria.
dância que não é rara quando o último substantivo é um feminino plural):

Ela comprou sruas e chapéu escuro.


Estudo o idioma e as tradições portuguesas.

ADJECTIVO PREDICATIVO DE SUJEITO COMPOSTO

Quando o adjectivo serve de predicativo a um sujeito múltiplo, cons-


tituido de substantivos (ou expressões equivalentes), observa, na maioria
PRONOMES 201

11. capacidade de indicar no colóqnio:


a) qllem fala = I.a PESSOA: ell (singular), nós (plural);
b) com qllem se fala = z.a PESSOA: tu (singular), vós (plural);
c) de quem se fala = 3.' PESSOA: ele, ela (singular); eles, das (plural);
Pronomes
z.O) por poderem representar, quando na 3." pessoa, uma forma nomi-
nal- anteriormente expressa:

Levantaram Dona Rosário, quiseram. levantá-la, embora ela se opu-


sesse, choramingasse um. pouco, dissesse que não lhe era poss1vel fazê-lo.
(Maria Judite de Carvalho, AV; 137.)
PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJECTIVOS
3.°) por variarem de forma, segundo: a) a função que desempenham
r. Os PRONOMES desempenham na oração as funções equivalentes às exer· na oração; b) a acentuação que nela recebem.
cidas pelos elementos nominais.
Servem, pois:
Fonnas dos pronomes pessoais.
a) para representar um substantivo:
Quanto à função, as formas do pronome pessoal podem ser RECTAS
Os campos, que suportaram a longa presença sqlar a queimá-los inces- ou OBLÍQUAS. RECTAS,quando funcionam como sujeito da oração; OBLÍ-
santemente, recebem agora a água abundante com uma gula feliz. QUAS, quando nela se empregam fundamentalmente como objecto (directo
(Augusto. Frederico Schmidt, GB, 294')
ou indirecto).
b) para acompanhar um substantivo determinando-lhe a extensão do Quanto à acentuação, distinguem-se nos pronomes pessoais as formas
TÓNICAS das ÁTONAS.
significado:
O quadro abaixo mostra claramente a correspondência entre essas
- Quanto valem, és capaz 'de dizer? Leques espanhóis, de seda, de al- formas:
guma bisavó do meu tio cónego, com estas pérolas de prata e oiro I
(Fernando Namora, TI, 103.) Pronomes pessoais
Pronomes obUquos não reflexivos
No primeiro caso desempenham a função de um substantivo e, por pessoais
isso, recebem o nome de PRONOMES SUDSTANTIVOS; no segundo chamam-se rectos Átonos Tónicos
PRONOMES ADJEcnvos, porque modificam o substantivo, que acompanham,
como se fossem adjectivos. r.a pessoa eu me mim, comigo

2. Há seis espécies de pronomes: PESSOAIS, POSSESSIVOS, DEMONSTRA-


Singular
{ z.a pessoa
3.6 pessoa
tu
ele, ela
te
0, a, lhe
ti, contigo
ele, ela
TIVOS, RELATIVOS, INTERROGATIVOS e INDEFINIDOS. r.a pessoa nós nos nós, connosco
Plural
{ z.a pessoa
3.8 pessoa
vós
eles, elas
vos
os, as, lhes
vós, convosco
eles, elas
PRONOMES PESSOAIS

OS PRONOMES PESSOAIS caracterizam-se: Fonnas o, lo e no do pronome ohliquo.

1.0) por denotarem as três pessoas gramaticais, isto é, por terem a Quando o pronome obIlquo da 3.a pessoa, que funciona como objecto
BREVE GRAMÁTICA DO PPRTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES 2°3
202

dirccto, vem antes do verbo, apresenta-se sempre com as formas 0, a, os, fazes-lo > faze1-lo > faze-lo
fiz-lo > fil-Io > fi-lo
as. Assim:
Igual assimilação sofreu o -.r de eis) no! e vos) quando em contacto com o I_
Não o ver para mim é um suplício. do pronome.
Nunca a encontramos em casa.
João ainda não fez anos; ele os faz hoje. 2.& Com as formas verbais terminadas em nasal, a nasalidade transmitiu-se
Eles as trouxeram. consigo. ao 1- do pronome, que passou a n-:
fazem-lo > fazem-no façam-lo > façam-no
Quando, porém, está colocado depois do verbo e se liga a este por
;.& No futuro do presente e no futuro do pretérito 1 o pronome obl1quo
hifen (PRONOME ENCLÍTICO), a sua forma depende da terminação do verbo. não pode ser ENCLÍTICO, isto é, não pode vir depois do verbo. Dá-se, então,
Assim: a MESÓCLISE do pronome, ou seja a sua colocação no interior do verbo. Jus-
tifica-se tal colocação por terem sido estes dois tempos formados pela justa-
1.0)Se a forma verbal terminar em VOGAL ou DITONGO ORAL, empre-
posição do infinitivo do verbo principal e das formas reduzidas, respectiva-
gam-se o, a, os, as: mente, do presente e do imperfeito do indicativo do verbo haver. O pronome
empregava-se depois do infinitivo do verbo principal, situação que, em última
Louvo-o Louvei-os
análise, ainda hoje conserva. E, como todo infinitivo termina em -r} também
Louvava-a Louvou-as
nos dois tempos em causa desaparece esta consoante e O pronome toma as
formas lo} la lo!} las. Assim:
2.0) Se a forma verbal terminar em -r, -s ou -z, suprimem-se estas con-
soantes, e o pronome assume as modalidades lo, la, los, las, como nestes
Futuro do presente Futuro do pretérito
exemplos:
vender-(h)ei vendê-Io-ei vender-(h)-ia vendê-la-ia
Vê-lo para mim é um supllcio. vender-(h)ás vendê-lo-ás vender-(h)ias vendê-lo-ias
Encontramo-la em casa. vender-(b)á vendê-lo-á vender-(h)ia vendê-la-ia
João ainda não fez anos; fá-los hoje. vender-(h)emos vendê-lo-emas vender-(h)lamos vendê-la-íamos
Não quero vendê-Ias. vender-(h)eis vendê-Io-eis vender-(h)leis vendê-la-íeis
vender-(h)ão vendê-Io-ão vender-(h)iam vendê-la-iam
o
mesmo se dá quando ele vem posposto ao designativo eis ou aos
pronomes 110S e vos:
4.& Quanto às normas que se observam no emprego procl1tico, enclítico
ou mesoclitico destes pronomes, veja-se o que dizemos adiante, ao tratarmos
Ei..lo sorridente.
da COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS.
O nome não vo-lo direi.

Se a forma verbal terminar em


;.0) DITONGO NASAL, o pronome assu- Pronomes reflexivos e reciprocos.
me as modalidades 110, lia, nos) nas. I. Quando o objecto directo ou indirecto representa a mesma pessoa

Dão-no Tem-nos ou a mesma coisa que o sujeito do verbo, ele é expresso por um PRONOME
Põe-na Trouxeram-nas REFLExtvO.
O REFLEXIVO apresenta três formas próprias - se) si e consigo -) que
Observações: se aplicam tanto à ;.' pessoa do singular como à do plural:
I." As formas antigas do pronome obllquo objecto directo eram lo(s) e Ele vestiu-se rapidamente.
la(s), provenientes do acusativo do demonstrativo latino Hle) fila) illud (= aque- Ela fala. sempre de si.
le, aquc1a, aquilo). Póspostas a formas verbais terminadas em -r) -! ou -z,
o seu 1- inicial assimilou aquelas consoantes, que depois desapareceram:
1 Sobre o emprego desta "designação para as formas que, na tradiçiio terminológica de Por-
fazer-lo > fazel-Io > fazê-lo' tuga], são habitualmente chamadas formas deCONDICIONAL, v. adiante, p. 332.,
z04 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÁNEO PRONOMES ZOj

o pintor não trouxe o quadro consigo. ou um -advérbio, como reciprocamente) muttlamcllte:


Eles vestiram-se rapidamente.
Elas falam sempre de si. Joaquim e Antônio enganaram-se mutuamente.
Os pintores não trouxeram os quadros consigo.
Não raro, a reciprocidade da acção esclarece-se pelo emprego de uma
Nas demais pessoas, as suas formas identificam-se com as do pronome
forma verbal derivada com o prefixo entre-:
obHquo: nJe) te] nos e vos.
Marido e mulher entreolharam-se.
Eu me feri.
(Vitorino Nemésio, MTC, 360.)
Tu te lavas.
Nós nos vestimos.
V 6s vos levantais.
EMPREGO DOS PRONOMES RECTOS

2. As formas do REFLEXIVO nas pessoas do plural (nos, oos e se) empre-


Funções dos pronomes rectos.
gam-se também para exprimir a reciprocidade da acção, isto é, para indicar
que a acção é mútua entre dois ou mais indivíduos. Neste caso, diz-se que
I. Os PRONOMES RECTOS empregam-se como:
cj pronome é REciPROCO.
a) SUJEITO:
Carlos e eu abraçamo-nos.
Vós vos quedeis muito. Nós vamos em busca de luz.
José e Antônio não se cumprimentam. (Agostinho Neto, SE, 36.)

3. Como são idênticas as formas do pronome recíproco e do reflexivo, b) PREDICATIVO DO SUJEITO:


pode haver ambiguidade com um sujeito plural. Por exemplo, uma frase
como a seguinte: Meu Deus 1, quando serei tu?
Qosé Régio, ED, Ij7.)
Joaquim e Antônio enganaram~se.

2. TI/ e vós podem ser VOCATIVOS:


pode significar que o grupo formado por Joaquim e António cometeu o
engano, ou que Joaquim enganou António e este a Joaquim. Ó vós, que, no silêncio e no recolhimento
Costuma-se remover a dúvida fazendo-se acompanhar tais pronomes Do campo, conversais a sós, quando anoitece ...
de expressões reforçativas especiais. Assim: (Olavo Bilac, P, Ij8.)

a) para marcar expressamente a acção reflexiva, acrescenta-se-lhes,


Omissão do pronome sujeito.
O18S1IIO, a ti II/csmo, a si mesmo, etc.:
conforme a pessoa, a mi",

Joaquim e Antônio enganaram-se a si mesmos. Os pronomes SUJeitos ell, til, ele (ela), IIÓS, vós, eles (elas) são normal-
mente omitidos 'em português, porque as desinências verbais bastam, de
b) para marcar expressamente a acção reciproca, junta-se-lhes, ou uma regra, para indicar a pessoa a que se refere o predicado, bem como o número
expressão pronominal, como tlllI ao outro, /lNS aos O/ltros, entre si: gramatical (singular ou plural) dessa pessoa:

ando escreves dormiu


Joaquim e António engan.'l.ram~se entre si.
Joaquim c António enganaram-se um ao outro. rimos partistes voltaram
.06 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊs CONTEMPORÂNEO PRONOMES
'°7
Presença do pronome sujeito. Advirta-se que, quando o SUjeIto nós é um pLURAL DE MODÉSTIA, o
predicativo ou partidpio, que com ele deve concordar, costuma ficar no sin~
Emprega-se o pronome sujeito: guIar, como se o sujeito fosse efectivamente cu. Assim, em vez de:

a) quando se deseja, enfaticamente, chamar a atenção para a pessoa Fiquei perplexo com o que ele disse.
do sujeito:

Eu, náufraga da vida, ando a morrer I podemos dizer:


(FlorbeIa Espanca, S, 31.) Ficámos perplexo com o que ele disse.

b) para opor duas pessoas diferentes:


2. O plural de majestade. O pronome nós era usado outrora pelos
Abraçamo-nos ambos contristados, reis de Portugal - e ainda hoje o é pelos altos dignitários da Igreja - como
Ele, porque há de ser, como eu, um velho, slmbolo de grandeza e poder de suas funções:
E eu, por ter sido já, como ele, um moço.
(Eugénio de Castro, UV, 68.) Nós, Dom Fernando, pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve,
fazemos saber ...

c) quando a forma verbal é comum à 1. a e à 3.' pessoa do singular e,


por isso, se torna necessário evitar o equívoco: É o que se chama PLURAL DE MAJESTADE.

É preciso que eu repita o que ele disse? 3. Fórmula de cortesia (3.' pessoa pela I."). Quando fazemos um
É preciso que ele repita o que eu disse? requerimento, por deferência à pessoa a quem nos dirigimos, tratamo-nos
a nós próprios pela 3. a pessoa, e não pela r.":

Exteusão de emprego dos pronomes rectos. Fulano de tal, aluno desse Colégio, requer a V. Ex." se digne mandar
passar por certidão as notas mensais por ele obtidas no presente ano lectivo.

Na linguagem formal certos pronomes rectos adquirem valores especiais. 4. O vós de cerimónia. O pronome vós praticamente desapareceu da
Enumeremos os seguintes: linguagem corrente do Brasil e de Portugal. Mas em discursos enfáticos
alguns oradores ainda se servem da 2." pessoa do plural para se dirigirem
l. O plural de modéstia. Para evitar o tom impositivo ou muito cerimoniosamente a um auditório qualificado.
pessoal de suas opiniões, costumam os escritores e os oradores tratar-se.por Veja-se este passo com que Olavo Bilac termina o seu discurso de in-
nós em lugar da forma normal etl. Com isso, procuram dar a impressão de gresso na Academia das Ciências de Lisboa:
que as ideias que expõem são compartilhadas pelos seus leitores ou ouvintes,
pois que se expressam como porta-vozes do pensamento colectivo. A este Ainda de longe, pensarei em vós, e pensarei convosco. Serei um dos
menores sacerdotes do culto que nos congrega: o da nossa história e da nossa
emprego da r.' pessoa do plural pela correspondente do singular chamamos
PLURAL DE MODÉSTIA.
lingua. E, à mingua do brilho que vos posso dar, poderei dar-vos o fervor
da mioha crença e a honestidade do meu labor.
As ocupações oficiais em que nos achamos desde 1861 a 1867, quer nas (DN, )6.)
repúblicas de Venezuela, Equador, Peru e Chile, quer nas próprias Antilhas,
não nos deram muita ocasião de pensar em semelhante edição, para a qual Realce do pronome sujeito.
até aI nos faltavam auxilios.
(F. Adolfo Varobagen, CTA, 9.) Para dar ênfase ao pronome sujeito, costuma-se reforçá-lo:

...... - _.. _.. -_..__ ._.-----


PRONOMES
.08 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO '°9
3. Convém, no entw.to, não confundir tal construção com outras,
a) seja com as palavras mesmo e próprio:
perfeitamente legitimas, em que o pronome em causa funciona como objecto
_ Tu mesmo serás o novO Hércules. clirecto.
(Machado de Assis, OC, II, 548.) Assim:
Muitas vezes eu próprio me sinto ser o que ela pensa que eu sou. a) quando, antecedido da preposição a, repete o objecto clirecto enun-
(Augusto Abelaira, B, "9:) ciado pela forma normal átona (o, a, os, as) :
Não sei se elas me compreendem
b) seja com a expressão invariável é qlle: Nem se eu as compreendo a elas.
(Fernando Pessoa, OP, 16o.)
Vocês é que morrem, meu alferes, mas nós é que pagamos.
(Luandino Vieira, NM, 63.) b) quando precedido das palavras todo ou só:
Precedência dos pronomes sujeitos. - Conheço bem todos eles.
(Herberto Sales, DBFM, IjO.)
Quando no sujeito composto há um da I." pessoa do singular (eu), é
boa norma de civilidade colocá-lo em último lugar: Conttacção das preposições de e em
com o pronome recto da 3." pessoa.
Carlos, Augusto e eu fomos promovidos.
As preposições de e em contraem-se com o pronome recto de 3." pessoa
Se, porém, o que se declara contém algo de desagradável ou importa ele(s), ela(s), dando, respectivamente, dele(s), dela(s) e nule(s), nela(s).
responsabilidade, por ele devemos iniciar a série:
A pasta é dele, e nela está o meu caderno.
Eu, Carlos e Augusto fomos os culpados do acidente.

Equlvocos e incorrecções. É de norma, porém, não haver a contracção quando o pronome é sujeito;
ou, melhor dizendo, quando as preposições de e e!l' se relacionam com o
I. Como o pronome ele (ela) pode representar qualquer substantivo infinitivo, e não com o pronome. Assim:
ant~iormcntc mencionado, convém ficar bem claro a que elemento da frase
ele se refere. Pouco depois de eles sairem, levantei-me da mesa.
Por exemplo, uma frase como: (Luls Bemardo Honwana, NMCT, 96.)

Álvaro disse a Paulo que ele chegaria primeiro.


PRONOMES DE TRATAMENTO
é amblgua, pois ele pode aplicar-se tanto a Alvaro como a PaI/lo.
I. Denominam-se PRONOMES DE TRATAMENTO certas palavras ~ locu-
Na fala vulgar e familiar do Brasil é muito frequente o uso do
2. ções que valem por verdadeiros pronomes pessoais, como: vocd, o sOllhor,
pronome ele(s), elo(s) como objecto directo em frases do tipo: Vossa Excelêllcia.
Embora designem a pessoa a quem se fala (isto é, a z.a), esses prono-
Vi ele Encontrei ela mes levam o verbo para a 3. a pessoa:

Embora esta construção tenha raízes antigas no idioma, pois se docu- - Onde é que voeês vão?
menta em escritores portugueses dos séculos XIII e XIV, deve ser hoje (Luandino Vieira, NM, 78.)
evitada.
BREVE GRAMÁTICA DO PORT1;1GUÊS CONTEMPORÂNE.O PRONOMES 'lI
%Xo

2. Convém conhecer as seguintes formas de tratamento reverente c No português do Brasil, o uso de tu restringe-se ao extremo Sul do
as abreviaturas com que são indicadas na escrita. País e a alguns pontos da região Norte, ainda não suficientemente delimi-
tados. Em quase todo o território brasileiro, foi ele substituldo por você
AbreviatU1'as Tratamento Usado para: como forma de intimidade. Você também se emprega, fora do campo da
intimidade, como tratamento de igual para igualou de superior para inferior.
V.A. Vossa Alteza Príncipes, arquiduques, duques É este último valor, de tratamento igualitário ou de superior para infe-
V. Em." Vassa Eminência Cardeais rior (em idade, em classe social, em hierarquia), e apenas este, o que voçê
V. Ex.- Vossa Excelência No Brasil: altas autoridades do Governo possui no português normal europeu, onde só excepcionalmente - e em
e oficiais generais das Classes Armadas; certas camadas sociais altas - aparece usado como forma carinhosa de inti-
em Portugal: qualquer pessoa a quem, midade. No português de Portugal não é ainda possível, apesar de certo alar-
em principio, se quer manifestar grande
respeito.
gamento recente do seu emprego, usar voçê de inferior para superior, em idade,
V. Mag.- Vossa Magnificência Reitores das Universidades
classe social ou hierarquia.
V.M. Vossa Majestade Reis, imperadores
2. O senhor. O senhor, a senhora (e a senhorita, no Brasil, a menina, em
V. Ex.a. Rev. ma Vossa Excelência Re-
Portugal, para a jovem solteira) são, nas variantes europeia e americana do
verendíssima Bispos e arcebispos
português, formas de respeito ou de cortesia e, como tais, se opõem a til
V.P. Vossa Paternidade Abades, superiores de conventos
e voçê, em Portugal, e a você, na maior parte do Brasil.
V. Rev.- Vossa Reverência }
ou ou Sacerdotes em geral Em Portugal, quando uma pessoa se dirige a alguém que possui tItulo
V. Rev. m- Vossa Reverendíssima profissional ou exerce determinado cargo, costuma fazer acompanhar as
V. S. Vossa Santidade Papa formas o senhor e a senhora da menção do respectivo tItulo ou cargo:
V. S.- Vossa Senhoria Funcionários públicos graduados, oficiais
até coronel; na linguagem escrita do Bra- o senhor doutor o senhor capitão
sil e na popular de PortugaJ" pessoas
de cerimónia. Mais raramente, usa-se como tratamento o titulo não precedido de senhor,
senhora, o que é considerado menos respeitoso que a forma anterior:
Observação:
o doutor o engenheiro
1.a Como dissemos, estas formas aplicam-se à 2.& pessoa, àquela com quem
falamos; para a 3.& pessoa, aquela de quem falamos, usam-se as formas SlIa Neste caso, é mais frequente apor-se ao titulo o nome próprio (primeiro
Alteza, Sua Eminência, etc.
nome - o que implica certa proximidade - ou nome de fanú1ia do inter-
pelado):
Emprego dos pronomes de tratamento da 2.- pessoa.
o doutor Orlando o engenheho Silva
I. Tu e você. No português europeu normal, o pronome til é empre-
gado como forma própria da intimidade. Usa-se de pais para filhos, de avós No Brasil, estas formas de tratamento são inusitadas. Aliás, o emprego
ou tios para netos e sobrinhos, entre irmãos ou amigos, entre marido e dos tItulas especificas, no tratamento ou fora dele, é sensivelmente maior
mulher, entre colegas de faixa etária igualou próxima. O seu emprego em Portugal do que no Brasil, onde só em casos especiallssimos vêm prece-
tem-se alargado, nos últimos tempos, entre colegas de estudo ou da mesma didos de o senhor.
profissão, entre membros de um partido político e até, em certas famílias,
de filhos para pais, tendendo a ultrapassar os limites da intimidade pro-
priamente dita, em consonância com uma intenção igualitária ou, simples- Sistematicamente, só se mencionam no Brasil, seguidos dos nomes
mente, aproximativa. próprios:
.,. BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES 21 3

a) a patente dos militares: substituindo com frequência as correspondentes átonas o~ a C lhe:


- Devo a você e ao doutor Rodrigo.
o Tenente Barroso o Major Fagundes
(Jorge Amado, MM, "9')
- Eu aprecio muito o senhor e era incapaz de ofendê-lo volunta-
b) os altos cargos e títulos nobiliárquicos: riamente.
(Rodrigo M. F. de Andrade, V, 124.)
o Presidente Bernardes O Embaixador Ouro Preto 3; Tratamento cerimonioso. As formas de tratamento. propriamente
O Príncipe D. João A Condessa Pereira Carneiro
cerimonioso usam-se muito menos no Brasil do que em Portugal.
1.0) Vossa Excelência (V. Ex.a). Embora o seu emprego, no por-
c) () título DOII' (escrito abreviadamente D.), para os membros da
tuguês europeu, se tenha restringido bastante nas últimas décadas, e em
família real ou imperial, para os nobres, para os monges beneditinos e para
particular nos últimos anos, ainda se usa a forma Vossa Excelência} na lingua-
os dignitários da Igreja a partir dos bispos:
gem oral, em determinados ambientes (por ex.: Academias, Corpo Diplo-
D. Pedro D. Clemente mático) ou situações (empregado de comércio dirigindo-se a cliente, tele-
D. Duarte D. Hélder fonista dirigindo-se a quem solicita uma ligação, etc.), sem que haja qual-
quer discriminação nítida quanto à categoria da pessoa interpelada. Por
Observe'-se que, se Dom tem emprego restrito no idioma, tanto em vezes aparece reduzida à forma coloquial Vossência.
Portugál como no Brasil, o feminino Dona (também abreviado em D.) se Na linguagem escrita, sob a forma abreviada V. Ex.", élargo o seu uso,
aplica, em princípio, a senhoras de qualquer classe social. principalmente na correspondéncia oficial e comercial.
De uso bastante generalizado em Portugal e no Brasil é o título de No Brasil, só se emprega para o Presidente da República, ministros,
Dotllor. Recebem-no não só os médicos e os que defenderam tese de dou- governadores dos Estados, senadores, deputados e oficiais generais. E assim
toramento, mas, indiscriminadamente, todos os diplomados por escolas mesmo quase que exclusivamente na comunicação escrita e protocolar.
superiores. Em requerimentos, petições, etc., o seu uso costuma estender-se a presi-
Também o emprego de Professor é muito frequente tanto em Portugal dentes de instituições, directores de serviço e altas autoridades em geral.
como no Brasil. Mas, enquanto no Brasil se aplica ao docente de qualquer 2.0) Vossa Senhoria (V. S.a). É um tratamento praticamente inexis-
grau de ensino, em Portugal usa-se sobretudo para os docentes do ensino tente na língua falada de Portugal e do Brasil. Na Ilngua escrita, emprega-se
primário e do ensino superior. ainda em ambas as variedades idiomáticas - mas cada vez menos - em
cartas comerciais, em requerimentos, em ofícios, etc., quando não é pró-
Observação: prio o tratamento de Vossa Excelência.
3'°) As outras formas - Vossa EminêNcia, Vossa Magnificência, Vossa
As formas você e o senhor (a senhora) empregam-se normalmente nas funções
de sujeito, de agente da passiva c de adjunto: Santidade, etc. -são protocolares e só se aplicam aos ocupantes dos cargos
atrás indicados.
- Você amanhã não vá as ceifas.
(Aquilino Ribeiro, M, 354.) 4. Outras formas de tratamento. Frequente no português de Portu-
gal e muito raro no do Brasil, é o emprego de formas nominais antecedidas
Estava desfeiteado, um portador dele fora maltratado pelo senhor. de arügo em vez das formas pronominais ou pronominalizadas de trata-
(José Lins do Rego, P, 59.) mento.
- Deixem-me ir com vocês! São exemplos dessas formas nominais:
(Luandino Vieira, NM, 78.) a) o nome próprio, seja o de baptismo, seja o de famflia:
As formas você (no Brasil) c o sCfJhor~ a senhora (tanto em Portugal como nO - O Mánue1 já leu este livro?
Brasil) estendem-se também às funções de objecto (directo ou indirecto), - O Martins já leu este livro?

- - ------------ - - - - -
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO pRONOMES
"4 2Ij

b) os nomes de parentesco ou equivalentes! C)OBJECTO DIRECTO (antecedido da preposição a e dependente, em


geral, de verbos que exprimem sentimento):
- O pai já leu este livro?
_ O menino já leu este livro? Paciente, obreira e dedicada, é a ela que em verdade eu amo.
Oosé Rodrigues Miguéis, GTC, 159.)
c) outros nomes que situam o interlocutor em relação 'à pessoa que
fala: ti) AGENTE DA PASSIVA:

- O meu amigo já leu este livro? OS nossos amores não serão esquecidos nunca, - por mim, está claro)
- ' O patrão já leu este livro? e estou certo que nem por ti.
(Machado de Assis, OC, I, 688.)
Fórmulas de representação da I.' pessoa. e) ADJUNTO ADVERllIAL:

No colóquio normal, emprega-se a genfe por nós e, também, por ell: Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos eampos.
(Fernando Pessoa, OP, 167.)
Houve um momento entre nós
Em que a gente não falou. Observação:
(Fernando Pessoa, QGP, n.o 270.)
Do cruzamento das duas construções perfeitamente conectas:
- Você não calcula o que é a gente ser perseguida pelos homens. Todos
me olham como se quisessem devorar-me. Isto não é trabalho para eu fazer
e
(Ciro dos Anjos, DR, 41.) Isto não é trabalho para mim,

Como se vê dos exemplos acima, o verbo deve ficar sempre na 3.' pes- surgiu uma terceira:
soa do singular. Isto não é trabalho para mim fazer,
em que o sujeito do verbo no infinitivo assume a forma oblíqua.
EMPREGO DOS PRONOMES OBLíQUOS A construção parece ser desconhecida em Portugal, mas no Brasil ela está
muito generalizada na língua familiar, apesar do sistemático combate que lhe
movem os gramáticos e os professores do idioma.
Formas tónicas.
Emprego enfático do pronome obliquo tónico.
Sabemos que as formas oblíquas tónicas dos pronomes pessoais vêm
acompanhadas de preposição. Como pronomes, são sempre termos da ora-
Para se ressaltar o objecto (directo ou indirecto), usa-se, acompanhando
ção e, de acordo com a preposição que as acompanhe, podem desempenhar
um pronome átono, a sua forma tónica regida da preposição a:
as funções de:
a) COMPLEMENTO NOMINAL: Ele não via nada, via-se a si mesmo.
Vou ver-me livre de ti ... (Machado de Assis, OC, I, 431.)
(Bernardo Santareno, TPM, 24.) O Abravezes dava-lhe razão a ela, em principio ...
(Urbano Tavares Rodrigues, PC, 202.)
b) OBJECTO INDIRECTO:

- Posso mandar incumbi-la de mostrar a ti os pontos pitorescos de Pronomes precedidos de preposição.


Piratininga.
(Ciro dos Anjos, M, 302.) As formas oblíquas tónicas lIIi/l/, fi, ele (ela), IIÓS, vós, eles (e/as) só se
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO
216 PRONOMES "7

lIsam antecedidas de preposição. Assim: 3. a Com a preposição até usam~se as formas obllquas 111;16, li, etc..
Fez isto para mim. Curvam-se, agarram a rede, erguem-na até si.
Gosto de ti. (Raul Brandão, P, 1)4.)
A ele cabe decidir.
Orai por nó•• Se, porém, até denota. inclusão, e equivale a me.rmo, fali/h/oI, inclllSivc, constrói-se
Confiamos em vós. com a forma rcem do pronome:
Não há discordância entre elas.
Pois é de pasmar, mas é verdade. E até eu já tive hoje quem me ofe-
Se o pronome oblíquo for precedido da preposição CORl, dir-se-á comigo, recesse champanhe.
contigo, conosco e convosco. É regular, no entanto, a construção com ele (COII' (José Régio, SM, 156.)
ela) COIIJ eles, C01l1 elas) : Formas átonas.
Estive com ele agora mesmo.
Fui com elas visitar o irmão. I. São formas próprias do OBJECTO DIRECTO: o, a, os, as:

Normal é também o emprego de CO!?/ nós e com vós quando os pronomes Ele olbou-a, espantado.
vêm reforçados por olltros} '"CSIlJOS, próprios, todos, IJfJJbos ou qualquer numeral: (Ferreira de Castro, OC, I, 481.)

Terá de resolver com nós mesmos. Angela dominava-os a todos, veocia-os.


Estava com vós outros. (Raul Pompéia, A, 2".)
Saiu com nós três.
Contava com todos v6s. 2. São formas próprias do OBJECTO INDlRECTO: lhe, lhes.:
Soube inspirar-lhes confiança.
Observações:
(Bernardo Santareoo, TPM, 84.)
1. 3 Empregam-se as formas eu e t~1 depois das preposições acidentais afora,
fora, excepto) lJIetlos) salvo e tirante: ,. Podem empregar-se como OB]ECTO DIRECTO ou INDIRECTO: me,
Afinal, todos excepto eu, sabem o que sou ... ts) nos e vos.
(Ciro dos Anjos, DR, 43.) a) OBJECTO DIRECTO:

2.a. A tradição gramatical aconselha o emprego das formas oblfquas tónicas Queres ouvir-me um instante, sensatamente?
depois da preposição entre. Exemplo:
(Urbano Tavares Rodrigues, PC, 153.)
Que diferença há entre mim e um fidalgo qualquer?
(Sttau Monteiro, FL, 29') b) OBJECTO INDlRECTO:

Na linguagem coloquial predomina, porém, a construção com as formas - Ninguém te vai agradecer.
reetas, construção que se vai insinuando na linguagem literária: (Alves Redol, BSL, 355.)
Entre eu e tu,
Tão profundo é o contrato. o pronome obllquo átono sujeito de um infinitivo.
Que não pode haver disputa.
(José Régio, ED, 9") Se compararmos as duas frases:
Entre eu e minha mãe existe o mar.
(Ribeiro Couto, PR, 365.) Mandei que ele salsse.
Mandei-o sair•

.. -_.- - ---'-----'
BREVE GRAMÁTICA DO PbRTUGuÊS CONTEMPORÂNEO pRONOMES
218 21 9

verificamos que o objecto directo, exigido pela forma verbal mandei, é recurso expressivo de que se serve a pessoa que fala para mostrar que está
expresso: vivamente interessada no cumprimento da ordem emitida ou da exortação
feita.
a) na primeira, pela oração que ele saísse,-
b) na segunda, pelo pronome seguido do infinitivo: o sair. E verifi- Este também conhecido por DATIVO ÉTICO ou
PRONOME DE INTERESSE,
camos, também, que o pronome o está para o infinitivo sair como o pronome DE PROVEITO, é de uso frequente na linguagem coloquial, mas não raro
ele para a forma finita saísse, da qual é sujeito. Logo, na frase acima o pro- aparece na pena de escritores.
nome o desempenha a função de sujeito do verbo sair.
Construções semelhantes admitem os pronomes me, te, nos, vos (e o Pronome átono com valor possessivo.
reflexivo se, que estudaremos à parte). Exemplos:

Deixe-me falar. Os pronomes átonos que funcionam como objecto indirecto (me, te,
Mandam-te entrar. lhe, nos, vos, lhes) podem ser usados com sentido possessivo, principalmente
Fez-nos sentar. quando se aplicam a partes do corpo de uma pessoa ou a objectos de seu
uso particular:
Emprego enfático do pronome obllquo átono.
Escutaste-lhe a voz? Viste-lhe o rosto?
l. Para dar realce ao objecto directo, costuma-se colocá-lo no inicio
(Fagundes Varela, PC, II, 272.)
da frase e, depois, repeti-lo com a forma pronominal o (a, os, as), como nes-
tes passos: Valores e empregos do pronome se.
- V crdades, quem é que as quer?
(Fernando Pessoa, OP, 5;0.)
o pronome se emprega-se como:
a) OB]ECTO DIREC'rO (emprego mais comum):
Note-se que, se o objecto directo for constituído de substantivos de
Ao sentir aquela robustez nos braços, meu pai tranquilizou-se e tran-
géneros diferentes, o pronome que os resume deve ir para. o masculino
quilizou-o.
plural- os: (Gilberto Amado, HMI, I24.)
Se Paulo desejava mesmo escândalo e agitação, teve-os à vontade.
b) OBJECTO INDIRECTO:
(Mário Palmério, VC, ;07.)
Sofia dera-se pressa em tomar-lhe o braço.
2.Também O pronome lhe (lhes) pode reiterar o objecto indirecto (Machado de Assis, OC, I, 656.)
colocado no início da frase. Comparem-se os conhecidos provérbios:
emprego menos raro quando exprime a reciprocidade da acção:
Ao médico e ao abade, diga-lhes sempre a verdade.
Os nossos olhos muito perto, imensos
o pronome de interesse. No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-se tudo I
Nesta frase: (José Régio, PDD, 8;.)

Olhem-me para ela: é o espelho das donas de casa I c) SUJErl'O DE UM INFINITIVO:


(Aquilino Ribeiro, M, 101.)
Moura Teles deixou-se conduzir passivamente.
o pronome li" não desempenha função sintáctica alguma. É apenas um (Joaquim Paço d'Arcos, CVL, 607.)

-~-"--'-' - - - - - - - ---
220 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES 221

ti) pRONOME APASSIVADOR: mo =rne+o ma =me+a mos =me+os mas =me+as


to =te+o ta =te+a tos =te + os tas = te + as
Fez-se novo silêncio. lho =lhe+o lha =lhe+a lhos = lhe + os lhas = lhe + as
(Coelho Netto, OS, I, 97.) no-lo = nos + [1]0 no-la = nos + [l]a no-los = nos + [l]os no·las = nos + [l]as
vo-lo = vos + [1]0 vo-la = vos + [I]a vo-los = vos + [l]os vo-las = vos + [I]as
e) SÍMBOLO DE INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO (junto à ~ .• pessoa do lho· =lhes+o lha = lhes + a lhos = lhes + os lhas = lhes + as
singular de verbos intransitivos, ou de transitivos tomados intransitivamente):

Vive-se ao ar livre, come-se ao ar livre, dorme-se ao ar livre. 2.. 8 )O pronome se" associa-se a me, te, nos, vos, lhe e lhes (e nunca a o,
(Raul Brandão, P, 165.) a, os, as). Na escrita, as duas formas conservam a sua autonomia, quando
antepostas ao verbo, e ligam_se por hifen, quando lhe vêm pospostas:
1) PALAVRA EXPLETIVA (para realçar, com verbos intransitivos, a O coração se me confrange. ,.
espontaneidade de uma atitude ou de um movimento do sujeito): (Olegário Mariano, TVP, I, 216.)
... Vão-se as situações, e eles com elas. A aventura gorou..se-lhe aos primeiros passos.
(Adelino Magalhães, OC, 798.) (Carlos de Oliveira, AC, '55.)

g) PARTE INTEGRANTE DE CERTOS VERBOS que geralmente exprimem As formas me, te, nos e vos, quando funcionam cOmO objecto directo,
3. 8 )
sentimento, ou mudança de estado: adIJlirar-se, arrepender-se, atrever-se, indig- ou quando são parte integrante dos chamados verbos pronominais, não
nar-se, queixar-se; c01Igelar-se, derreter-se, etc.: admitem a posposição de outra forma pronominal átona. O objecto indi-
recto assume em tais casos a forma tóruca preposicionada:
- Atreva-se. Atreva-se, e verá.
(Miguel Torga, NCM, 48,) - Como me hei-de livrar de ti?
Qosé Régio, JA, 85.)
Observações: Observações:

I.a No português contemporâneo só se usa a passiva pronominal quando r." As combinações lho, lha (equivalentes a lhes + o, lhes + a) e lhos, IhM
não vem expresso o agente. (equivalentes a lhes + os, lhes + M) encontram. sua explicação no facto de,
na lingua antiga, a forma lhe (sem -s) ser empregada tanto para o singular
2.. 8 Em frases do tipo:
como para o plural. Originariamente, eram, pois, contracções em tudo normais.
Vendem-se casas. 2.8 No Brasil, quase não se usam as combinações 1110, to, lho, no-lo, vo-lo,
Compram-se móveis. etc. Da Hngua corrente estão de todo banidas e, mesmo n. . t Hnguagem literária,
consideram-se casas e móveis os sujeitos das formas verbais vendem e compra"" só aparecem geralmente em escritores um tanto artificiais.
razã.o por que na linguagem cuidada se evita deixar o verbo no singular.
Colocação dos pronomes átonos.

Combinações e contracções dos pronomes átonos. I. Em relação ao verbo, o pronome átono pode estar:
a) ENCLÍTICO, isto é, depois dele:
Quando numa mesma oração ocorrem dois pronomes átonos, um
objecto directo e outro indirecto, podem combinar-se, observadas as seguin- Calei-me.
tes regras:
b) PROCLfTICO, isto é, antes dele:
1. a) Me, te, nos, vos, lhe e lhes (formas de objecto indirecto) juntam-se
a o, a, os, as (de objecto directo), dando: Eu me calei.

- ------------
222 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES 223

c) MESOCLfTICO, ou seja, no meio dele, colocação que só é posslvel Como a julgariam os pais se conhecessem a vida dela?
com formas do FUTURO DO PRESENTE OU do FUTURO DO PRETÉRITO: (Urbano Tavares Rodrigues, NR, 23·)

Calar-me-ei. c) nas orações iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas
Calar-me-ia. orações que exprimem desejo (optativas):
2. Sendo o pronome átono objecto direC't{) ou indirecto do verbo, - Que Deus o abençoe!
a sua posição lógica, normal, é a ~CLISE: (Bernardo Santareno, TPM, 18.)
Na segunda-feira, ao ir ao Morenal, parecera-lhe sentir pelas cOstas - Bons olhos o vejam! exclamou.
risinhos ,a escarnecê-Ia. (Machado de Assis, OC, l, 483.)
(Eça de Queirós, O, l, 124.)
d). nas orações subordinadas desenvolvidas, ainda quando a conjun-
Há, porém, casos em que, na Hngua culta, se evita ou se pode evitar ção esteja oculta:
essa colocação, sendo por vezes divergentes neste aspecto a norma portu-
guesa e a brasileira. - Prefiro que me desdenhem, que me torturex:n, a que me deixem só.
Procuraremos, assim, distinguir os casos de PRÓCLISE que representam (Urbano Tavares Rodrigues, NR, II).)
a norma geral do idioma dos que são optativos e, ambos, daqueles em que se - Que é que desejas te mande do Rio?
observa uma divergência de normas entre as variantes europela e americana (Mramo Peixoto, RC, 174.)
da Hugua.
e) com o gerúndio regido da preposição em:
Regras gerais:
Em se ela anuviando, em a não vendo,
Já se me a luz de tudo anuviava.
l. Com um só verbo. aoão de Deus, CF, 20).)

r. 0) Quando o verbo está no FUTURO DO PRESENTE ou no FUTURO 3.0) Não se dá a ÊNCLISE nem a PRÓCLISE com os PARTIcíPIOS. Quando
DO PRETÉRITO, dá-se tão somente a PRÓCLlSE ou a MESÓCLlSE do pronome: o PARTIcíPIO vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma
obHqua regida ,'e preposição. Exemplo:
Eu me calarei. Calax-me-ei.
Eu me calaria. Calar-me-ia. Dada a mim a explicação, saiu.
z.O) É, ainda, preferida a PRÓCLISE:
4.0) Com os INFINITIVOS soltos, mesmo quando modificados por nega-
a) Nas orações que contêm uma palavra negativa (não, III//lCa, jamais,
ção, é Hcita a PRÓCLISE ou a ÊNCLISE, embora haja acentuada tendéncia para
/li/lgl/étll, /lada, etc.) quando entre ela e o verbo não há pausa:
esta última colocação pronominal:
- Não lhes dizia eu? Canta-me cantigas para me embalar!
(Mário de Sá-Carneiro, CF, 348.) (Guerra Junqueiro, S, II8.)
Nunca o vi tão sereno e obstinado.
Para não fitá-lo, deixei cair os olhos.
(Ciro dos Anjos, M, 316). (Machado de Assis, OC, l, 807.)
b) nas orações iniciadas com pronomes e advérbios interrogativos: Para assustá-lo, os soldados atiravam a esmo.
(Carlos Drummond de Andrade, CA, 82.)
Quem me busca a esta hora tardia?
(Ma..'1uel Bandeira. PP. l, 406.) . A ÊNCLISE é mesmo de rigor quando o pronome tem a forma o (prin-

-- --------_ .. _.. _----_.


224
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES 221

cipalmente no feminino a) e o INFINITIVO vem regido da preposição a: mento capaz de provocar a PRÓCLISE e o verbo, pode ocorrer a ftNCLISE:

Se soubesse, não continuaria a lê-lo. Pouco depois, detiveram-se de novo.


(Rui ~arbosa, EDS, 743.) (Ferreira de Castro, oe, I, 403.)
Logo os outros, Camponeses e Operários, começam a imitá-la.
(Bernardo Santareno, TPM, 120.) 2. Com uma locução verbal.
5.0) Pode-se dizer que, além dos casos examinados, a lingua portu-
I. Nas LOCUÇÕES VERBAIS em que o verbo principal está no INFINI-
guesa tende à PRÓCLISE pronominal:
TIVO ou no GERÚNDIO pode dar-se:
a) quando o verbo vem antecedido de certos advérbios (bem, mal,
ainda, já, sempre, só, talvcv etc.) ou expressões adverbiais, e não há pausa 1. 0 ) Sempre a ftNCLISE ao infinitivo ou ao gerúndio:
que os separe:
Ao despertar, ainda as encontro lá, sempre se mexendo e discutindo. Só quero preveni-lo contra as exagerações do Prólogo.
(Anibal M. Machado, Cj, 174.) (Antero de Quental, e, 314.)
Nas pernas me fiava eu. Nós famos seguindo; e, em. torno, imensa,
(Aquilino Ribeiro, M, 88.) Ia desenrolando-se a paisagem.
(Raimundo Correia, pep, 304.)
b) quando a oração, disposta em ordem inversa, se inicia por objecto
2.0) A PRÓCLISE ao verbo auxiliar, quando ocorrem as condições exi-
directo ou predicativo: .
gidas para a anteposição do pronome a um só verbo, isto é:
- A grande noticia te dou agora.
a) quando a locução verbal vem precedida de palavra negativa, e entre
(Fernando Namora, NM, 162.)
elas não há pausa:
Razoável lhe parecia a solução proposta. Rita é minha irmã, não me ficaria querendo mal e acabaria rindo também.
(Machado de Assis, oe, I, 1.0jl.)
c) quando o sUJelto da oração, anteposto ao ver.bo, contém o nume-
ral afl,bos ou algum dos pronomes indefinidos (Iodo, tudo, algl/ém, OI/Ira, ql/al- - Ninguém o havia de dizer.
q/ler, etc.): (Aquilino Ribeiro, M, 68.)

Ambos se scntiam humildes e embaraçados. b) nas orações iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos:
(Fernando Namora, Tj, 293.)
- Que mal me havia de fazer?
Alguém lhe bate nas costas. (Miguel Torga, NeM, 47·)
(Anibal M. Machado, jT, 208.)
Como te hei de :receber em dia tão posterior?
(Cecilia Meireles, OP, 406.)
d) nas orações alternativas:

- Das duas uma: ou as faz ela ou as faço eu. c) nas orações iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas
(Sttau Monteiro, APj, 39.) orações que exprimem desejo (optativas):
Como se vinha trabalhando mal I
6.°) Observe-se por fim que, sempre que houver poma entre um ele- Deus nos há de protegerl
BREVE GRAMÁTICA nO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEo PRONOMES 227
226

d) nas orações subordinadas desenvolvidas, mesmo quando a con- Me arrepio todo ...
junçãO está oculta:
(Luandino Vieira, NM, I;8.)

Ao cabo de cinco dias, minha mãe amanheceu tão transtornada que orde- b) nas orações absolutas, principais e coordenadas não iniciadas por palavra
nOU me mandasse~ buscar ao seminário. que exija ou aconselhe tal colocação:
(.Machado de Assis, OC, l, 800.)
- Se Vossa Reverendissima me permite, eu me sento na rede.
A ÊNCLISE ao verbo auxiliar, quando não se verificam essas con-
;.0) (Josué MonteJlo, TSL, I76.)
dições que aconselham a PRÓCLISE:
- A sua prima Júlia, do Golungo, lhe mandou um cacho de bananas.
Vão-me buscar, sem mastros e sem velas, (Luandino Vieira, NM, 54.)
Noiva-menina, as doidas caravelas,
Ao ignoto Pals da minha infância ...
c) nas locuções verbais antes do verbo principal:
(FlorbeJa Espanca, S, I79.)
A cidade ia-se perdendo à medida que o veleiro rumava para São Pedro. Será que o pai não ia se dar ao respeito?
(Baltasar Lopes da Silva, C, 207.) (Autran Dourado, SA, 68.)

- Não, não sabes e não posso te dizer mais, já não me ouves.


2. Quando o verbo principal está no PARTÍCIPIO, o pronome átono
(Luandino Vieira, NM, 46.)
não pode vir depois dele. Virá, então, PROCLÍTICO ou ÊNCLÍTICO ao verbo
auxiliar, de acordo com as normas expostas para os verbos na forma simples:

- Tenho-o trazido sempre, só hoje é que o viste?


(.Maria ]udite de Carvalho, TM, I52.) PRONOMES POSSESSIVOS
- Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado.
(Machado de Assis, OC, l, 645.) OS PRONOMES POSSESSIVOS acrescentam à noção de pessoa gramatical
Que se teria passado? uma ideia de posse. São, de regra, pronomes adjectivos, equivalentes a um
(Coelho Netto, OS, l, 14I2.) adjunto adnominal antecedido da preposição de (de RI;"I, de ti, de nós, de vós,
de si), mas podem empregar-se como pronomes substantivos:
Queria mesmo dali adivinhar o que se tinha passado na noite da sua ausên-
cia. Meu livro é este.
(Alves Redol, F, I95.) Este livro é o meu.
Sempre com suas histórias I
Fazer das suas.
Observação:

A colocação dos pronomes átonos no colóquio normal do Brasil, tende à


próclise. Parece suceder o mesmo no português falado em África. Formas dos pronomes possessivos.
Esta colocação é, assim, possivel:
OS PRON01:tES POSSESSIVOS apresentam três séries de formas, corres-
a) no irúcio de frases: pondentes à pessoa a que se referem. Em cada série, estas formas variam
- Me desculpe se falei demais. de acordo com o género e o número da coisa possulda e com o número de
pessoas representadas no possuidor.
(Erico Verlssimo, A, lI, 487.)
228 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
PRONOMES
229

Um possuidor Vários possuidores 2.0) quando o substantivo já está determinado (pelo artigo indefinido
ou por numeral, por pronome demonstrativo ou por pronome indefinido):
Um Vários Um Vários·
objecto objectos objecto objectos Recebi, no Rio, no dia da posse no Instituto, um telegrama seu, de
felicitações ...
{ masco meu meus nosso nossos (Euclides da Cunha, oe, II, 639.)
I.a pessoa fern. minha minhas nossa nossas
Note este erro seu: não há em mim (que eu seja consciente) o menor
{ masco teu teus vosso vossos espírito de renúncia ou de esquecimento de mim próprio.
z.a pessoa fem. tua tuas vossa vossas
(Jackson de Figueiredo, C, 177.)
{ masco seu seus seu seus
;.a pessoa fem. sua suas sua suas Como tu foste infiel
---- A certas ideias minhas!
(Fernando Pessoa, QGP, 83.)
C oncordância do pronome possessivo.
3.0) nas interrogações directas:
O PRONOME POSSESSIVO concorda em género e número com o subs-
I. Onde estais, cuidados meus?
tantivo que designa o objecto possuído; e em pessoa, com o possuidor do (Manuel Bandeira, PP, 23.)
objecto em causa:
4.0) quando há ênfase:
Suas mudanças súbitas, seu jeito provocante, sua mimica muito femi-
nina me fazem lembrar a Jandira mulher, que tantas vezes desaparece a - Tu não lustras as unhas! tu trabalhas! tu és digna filha minha! pobre,
meus olhos, em nossas conversações. mas honesta I
(Ciro dos Anjos, DR, 124.) (Machado de Assis, oe, I, 672.)

2. Quando um só POSSESSIVO determina mais de um substantivo, con-


corda com o que lhe esteja mais próximo: Emprego ambíguo do possessivo de 3." pessoa.

E o meu corpo, minh'alma e coração, As formas teu, sua) seus, suas aplicam-se indiferentemente ao possuidor
Tudo em risos poisci em tua mão ...
da 3." pessoa do singular ou da 3." do plural, seja este possuidor masculino
(Florbela Espanca, S, 177.) ou feminino.
O facto de o possessivo concordar unicamente com o substantivo deno-
Posição do pronome adjectivo possessivo. tador do objecto possuído provoca, não raro, dúvida a respeito do possnidor.
Para evitar qualquer ambiguidade, o português nos oferece o recurso
O PRONOME ADJEcnvo POSSESSIVO precede normalmente o substantivo de precisar a pessoa do possnidor com a substituição de sel/(s), sua(s), pelas
que determina, como nos mostram os exemplos até aqui citados. formas dele(s), de/a(s), de você, do senhor e outras expressões de tratamento.
Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo: Por exemplo, a frase:

Estando com ] úlia, Pedro fez comentários sobre os seus exames.


10°) quando este vem desacompanhado do artigo definido:
Esperava noticias tuas para de novo te escreve!:. tem um enunciado equívoco: os comentários de Pedro podem ter sido fei-
tos sobre os exames de Júlia; ou sobre os exames dele, Pedro; ou, ainda,
(António Nobre, Cf, "9.)
sobre os exames de ambos.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES 2;1
23 0

Assim sendo, o locutor deverá expressar-se, conforme a sua intenção: c) para designar um hábito:

Estando com Júlia, Pedro fez comentários sobre os exames dela. Neste instante, a Judite voltou-se e, abandonando as companheiras, veio
Estando com Júlia, Pedro fez comentários sobre os exames dele. desfazer o cumprimento com um repente dos seus.
Estando com Júlia, Pedro fez comentários sobre os exames deles. (Almada Negreiros, NG, 110.)

Reforço dos possessivos. Sente-se em todos esses empregos do POSSESSIVO uma certa carga afec-
tiva, mais acentuada nos que passamos agora a examinar.
o valor possessivo destes pronomes nem sempre é suficientemente
forte. Quando há necessidade de realçar a ideia de posse - quer visando Valores afectivos.
à clareza, quer à ênfase - , costuma-se reforçá-los:
l. Vari~adossão os matizes afectivos expressos pelos POSSESSIVOS.
a) com a palavra próprio ou mesmo: Servem, por vezes, para acentuar um sentimento:
Mais unidos sigamos e não tarda a) de deferência, de respeito, de polidez:
Que eu ache a vida em tua própria morte. - Morrer, meu Amo, só uma vezl
(Guimarães Passos, VS, 46.) (AntóDio Nobre, S, 106.).
Era ela mesma; eram os seus mesmos braços.
(Machado de Assis, OC, II, 484.) b) de intimidade, de amizade:
- Dispõe de mim, meu velho, estou às suas ordens, bem sabes.
b) com as expressões dele(s), de/a(s), no caso do possessivo da 3." (Artur Azevedo, CFM, 6.)
pessoa:
c) de simpatia, de interesse (com referência a personagem de uma
Montaigne explica pelo seu modo dele a variedade deste livro. narrativa, a autor de leitura frequente, a clubes ou associações de que seja
(Machado de Assis, OC, II, 55 6.) sócio ou aficionado, etc.):
Ora bem, deixa-me transcrever o meu Saint-Exupéry.
Valores dos possessivos.
(Fernando Namora, RT, 190.)
o PRONOME POSSESSIVO não exprime sempre uma relação de posse ou Onde está o meu Tenentes do Diabo?
pertinência, real ou figurada. Na Ilngua moderna, tem ele assumido múlti-
(José Lins do Rego, E, 282.)
plos valores, por vezes bem distanciados daquele sentido originário.
Mencione-se o seu emprego:
d) de ironia, de mallcia, de sarcasmo:
a) como indefinido:
Todos aqueles santos varões comiam, bebiam o seu vinho do Porto
Tinha tido o seu orgulho, a sua ·calma, a sua certeza. na copa.
(Mignel Torga, V, 216.) (Eça de Queirós, O, II, 17.)

Observe-se que, nos dois últimos casos, o possessivo vem normalmente


b) pata indicar aproximação numérica:
acompanhado do artigo definido.
Entrou uma mulherzinha de seus quarenta anos, decidida e de passo
firme. 2. De acentuado cmcter afectivo é também a construção em guc uma
(Fernando Sabino, HN, ,64.) forma feminina plural do pronome completa a expressão fazer (ou dizer)
PRONOMES 233
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
23 2

a) no singular, o que pertence a uma pessoa:


U11,a das = praticar uma acção ou dizer algo particular, geralmente passlvel
de crítica: A rapariga não tinha um miuuto de seu.
(Alberto Rangel, IV, 61.)
Com aquele génio esquentado é capaz de fazer uma das dele.
(Castro Soromenho, TM, 17j.) b) no plural, os parentes de alguém, seus companheiros, compatriotas
ou correligionários:
Nosso de modéstia e de majestade.
Paralelamente ao emprego do pronome pessoal nós por eu nas fórmulas Não me podia a Sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus.
de modéstia e de majestade que estudámos, aparece o do POSSESSIVO nosso (-a)
(Fernando Pessoa, OP, 12.)
por meU (minha). Comparem-se estes exemplos:
a) de modéstia:
PRONOMES DEMONSTRATIVOS
Este livro nada mais pretende ser do que um pequeno ensaio. Foi nosso
escopo encontrar apoio na história do Brasil, na formação e crescimento da
sociedade brasileira, para colocar a língua no seu verdadeiro lugar: expres- I. Os PRONOMES DEMONSTRATIVOS situam a pessoa ou a coisa designada
são da sociedade, inseparável da história da civilização. relativamente às pessoas gramaticais. Podem situá-la no espaço ou no tempo:
(Serafim da Silva Neto, IELPB, II.)
Lia coisas incríveis para aquele lugar e aquele tempo.
b) de majestade: (Ciro dos Anjos, DR, 10j.)

Mandamos que os ciganos, assi homens como mulheres, nem outras A capacidade de mostrar um objecto sem nomeá-lo, a chamada FUN-
pessoas, de qualquer nação que sejam, que com eles andarem, não entrem em
nossos Reinos e Senhorios.
çÃO DEÍCTICA (do grego deiktikós = próprio para demonstrar, demonstra-
tivo), é a que caracteriza fundamentalmente esta classe de pronomes.
(Ordenações Filipinas, livro V, titulo 69.)

Vosso de cerimónia. 2. Mas os DEMONSTRATIVOS empregam-se também para lembrar ao


ouvinte ou ao leitor o que já foi mencionado ou o que se vai mencionar:
o uso do pronome pessoal Vós como tratamento cerimonioso aplicado A ternura não embarga a discrição nem esta diminui aquela.
a um individuo ou a um auditório qualificado leva, naturalmente, a igual (Machado de Assis, oe,
l, 1.124).
emprego do POSSESSIVO vosso (-a). Exemplos:
O mal foi este: criar os filhos como dois príncipes.
Nunca. vosso avô, meu senhor e marido, achou que me não fosse possí- (Miguel Torga, V, 309.)
vel compreender o ânimo dum grande português.
Uosé Régio, ERS, 69.) É a sua FUNÇÃO ANAFÓRICA (do grego anaphorikós = que faz lembrar,
Que traz à memória).
Levareis, Senhores Delegados, aos vossos Governos, à vossa Pátria,
estaS declarações que são a expressão sincera dos sentimentos do Governo e
do Povo Brasilelro.
Formas dos pronomes demonstrativos.
(Barão do Rio-Branco, D, 98.)

Substantivação dos possessivos. I. Os PRONOMES ,DEMONSTRATIVOS apresentam formas variáveis e


formas invariáveis, ou neutras:
OS POSSESSIVOS, quando substantivados, designam:

... __. __ •..


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNEO PRONOMES
'34 '35

Variáveis 2.0) Esse, essa e isso designam:


Invariáveis
Masculino Feminino a) o que está perto da pessoa a quem se fala:
este estes esta estas isto Essas tuas fúrias avulso, esse teu calor, esse riso, essa amizade mesmo
esse esses essa essas isso nos ódios que tinhas, procuro-lhes em vão só, que os teus olhos estão fecha-
dos para sempre.
aquele aqueles aquela aquelas aquilo (Luandino Vieira, NM, 30')

2. As formas variáveis (estc, esso, aquele, etc.) podem funcionar como


pronomes adjectivos e como pronomes substantivos: b) o tempo passado ou futuro com relação à época em que se coloca
a pessoa que fala:
Este livro é meu.
Meu livro é este. Bons tempos, Manuel, esses que já lá vão I
3. As formas invariáveis (isto, isso, aquilo) são sempre pronomes subs- (Autônio Nobre, S, 51.)
tantivos. Desses longes imaginados, dessas expectativas de sonho, passava ele
ao exame da situação da Europa em geral e da Alemanha em particular.
4. Estes DEMONSTRATIVOS combinam-se com as preposições de e em,
(Gilberto Amado, DP, 92.)
tomando as formas: destc, desta, disto; neste, nesta, nisto; desse, dessa, disso; nesse,
nessa, nisso; daqllele, daquela, daqllilo; naquele, naquela, naquilo.
Aquele, aquela e aquilo contraem-se ainda com a preposição a, dando: 3. 0 ) Aquele, aquela e aquilo denotam:
àq/lele, àq/lela e àq/lilo.
a) O que está afastado tanto da pessoa que fala como da pessoa a quem
5. Podem também ser DEMONSTRATIVOS o (a, os, as), mesmo, próprio, se fala:
semelhante e tal, como veremos adiante.
-Aquele sujeito mora ali há mnito tempo? Você deve saber ...
Valores gerais. - Que sujeito?
- Aquele que está escrevendo acolá, no jardim. da casa de pensão, - não
Considerando-os nas suas relações com as pessoas do discurso, podemos vê?
estabelecer as seguintes características gerais para os PRONOMES DEMONS- (Artur Azevedo, CFM, 90')
TRATIVOS:
b) um afastamento no tempo de modo vago, ou uma época remota:
1. 0 ) Este, esta e isto indicam:
- Naquele tempo era uma boa casa de banho.
a) o que está perto da pessoa que fala: - Naquele tempo, filho ... Ora, naquele tempo!
(Maria Judite de Carvalho, TM, 41.)
Esta casa estará cheia de flores I
Cá te espero amanhã I Não te demores I Diversidade de emprego.
(Eugénio de Castro, UV, 59.)
Estas distinções que nos oferece o sistema ternário dos demonstrativos
b) o tempo presente.em relação à pessoa que fala: em português não são, porém, rigorosamente obedecidas na prática.
Com frequência, na linguagem animada, nos transportamos pelo pen-
Esta tarde para mim tem uma doçura nova.
samento a regiões ou a épocas distantes, a fim de nos referirmos a pessoas ou
(Ribeiro Couto, PR, 83.) a objectos que nos interessam particularmente como se estivéssemos em

_ ••• o 0'_0 ••_ _• • • • •_ _ _ _ _ _ _ "


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNEO PRONOMES 237
23 6

sua presença. Linguisticamente, esta aproximação mental traduz-se pelo 4. Tradicionalmente, usa-se nisto no sentido de «então», «nesse mo-
emprego do pronome este (esla, isto) onde seria de esperar esse ou aquele. mento»:
Sirva de exemplo esta frase de um personagem do romance Fogo Morto, Nisto, ouvimos vozes e passos.
de José Lins do Rego, em que o advérbio lá se aplica à sua casa, da qual no (Augusto Abelaira, TM, 112.)
momento estava ausente:
5. Em certas expressões o uso fixou determinada forma do demons-
- Eu só queria estar lá para receber estes cachorros a chicote.
trativo, nem se:mpre de acordo com o seu sentido básico. É o caso das locu-
(FM, 296.) ções: além disso, isto é} isto de, por isso (raramente por isto), nem por-isso.

Ao contrário, uma atitude de desinteresse ou de desagrado para com


algo que esteja perto de nós pode levar-nos a expressar tal sentimento pelo Posição do pronome adjectivo demonstrativo.
uso do demonstrativo esse em lugar de este, como no seguinte passo:
I. o DEMONSTRATIVO, quando PRONOME AD)ECTIVO, precede nor-
Tudo é lícito aqui nessa Sumatra. malmente o substantivo que determina:
(Jorge de Lima, De, I, 681.)
Estes homens e estas mulheres nasceram para trabalhar.
(José Saramago, Le, 327.)
Outros empregos.
I. Este (esta, isto) é a forma de que nos servimos para chamar a aten- 2. Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo para melhor espe-
ção sobre aquilo que dissemos ou que vamos dizer: cificar o que se disse anteriormente:
Por outro lado, Siá Bina era ainda comadre de Nhô Felicio, pois baptizara
- Justamente, traz uma comunicação reservada, reservadissima; negó- um filho dele, há poucos anos, filho esse do segundo casamento.
cios pessoais. Dá licença?
Dizendo isto, Rubião meteu a carta no bolso; o médico saiu; ele respirou.
(Ribeiro Couto, e, 145.)
(Machado de Assis, De, I, 564.)
3. Usa-se para determinar o aposto, geralmente quando este salienta
"Minha tristeza é esta- uma caracterlstica marcante da pessoa ou do objecto:
A das coisas reais.
(Fernando Pessoa, DF, 100.)
Arlequim é o D. Quixote, esse livro admirável onde ·se experimentam ao
ar livre, de dia e de noite, e através de todas as eventualidades os preceitos da
Honra e das outras teorias.
2~
Para aludirmos ao que por nós foi antes mencionado, costumamos
usar também o demonstrativo esse (essa) isso):
(Almada Negreiros, De, lII, 90')

Não havia. que pedir de fiado nas lojas; a lareira teria sempre lume. Nisso, 4. Esse (e mais raramente este) emprega-se também para pôr em relevo
ao menos, o Agostinho Serra abria bem as mãos. um substantivo que lhe venha anteposto:
(Alves Redol, G, 94.)
o padrç, esse andava de coraç.~o
em aleluia.
3- Esse (essa) isso) é a forma que empregamos quando nos referimos (Miguel Torga, eM, 47.)
ao que foi dito por nosso interlocutor:
Alusão a termos precedentes.
- Você, perdendo a noite, é capaz de não dormir de dia?
- Já tenho feito isso.
(Machado de Assis, De, lI, 586.) Quando queremos aludir, discriminadamente, a termos já mencio-
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES
23 8 239

nados, servimo-nos do DEMoNsTRNrrvo aquele para o referido em primeiro b) admiração, apreço:


lugar, e do DEMONSTRATIVO este para o que foi nomeado por último:
Aquilo é que são homens fortes.
A ternura não embarga a discrição nem esta diminui aquela. (Ferreira de Castro, oe, I, 154.)
(Machado de Assis, oe, I, 1.124.)
c) indignação:
Reforço dos demonstrativos.
- É tudo claro como água: este cão roubou-me. Acabo ainda hoje com
este malandro I Isto não fica assim.
Quando, por motivo de clareza ou de ênfase, queremos precisar a situa-
(Fernando Namora, NM, '93.)
ção das pessoas ou das coisas a que nos referimos, usamos acompanhar o
DEMONSTRATIVO de algum gesto indicador, ou reforçá-lo:
a) com os advérbios aqui, ai, ali, cá, lá, acolá: d) pena, comiseração:

- Espera ai. Este aqui já pagou. Agora vocês é que vão engolir tudo, Coitada de D. Ritinhal
se maltratarem este rap~~. Aquilo é que é mesmo uma santa.
(Carlos Drummond de Andrade, eB, 33.) (Gastão Cruls, QR, 442.)

b) com as palavras mesmo e próprio: e) ironia, mallcia:

- O Relógio da Sé em casa de Serralheiro? - Este Brás I Este Brás I Não lhes digo nada I
- Esse mesmo.
(A. de Alcântara Machado, NP, 57.)
- O da Matriz?
- Esse próprio.
(D. Francisco Manuel de Melo, AD, 16.) j) sarcasmo, desprezo:

VaJores afectivos. - ))epois transformaram a senhora nisso, D. Adélia. Um trapo, uma


velha sem-vergonha.

I.Os DEMONSTRATIVOS reúnem o sentido de actualização ao de deter- (Graciliano Ramos, A, '36.)


minação. São verdadeiros «gestos verbaiS», acompanhados em geral de entoa-
ção particular e, não faro, de gestos físicos. 3. Digno de nota é o acentuado valor irónico, por vezes fortemente
A capacidade de fazerem aproximar ou distanciar no espaço e no tempo depreciativo, dos neutros isto, isso e aquilo, quando aplicados a pessoas, como
as pessoas e as coisas a que se referem permite a estes pronomes expressarem nestes passos:
variados -matizes . .:fectivos, em especial os irónicos.
Aquilo, aquele pobre homenziuho amarelento, dessorado, chocho ...
Nos exemplos 'a seguir, servem para intensificar, de acordo com a
2. (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 158.)
entoação e o contexto, os sentimentos de:
a) surpresa, espanto: Mas, pelos contrastes que não raro se observam nos empregos afectivos,
podem esses DEMONSTRATIVOS expressar também alto apreço por determinada
Passam vinte anos: chega Ele; pessoa. Assim:
Vêem-se (Fasmo) Ele e Ela:
- Santo Deus I este é aquele?!. ..
- Mas, meu Deusl esta é aquela?!... - Bonita mulher. Como aquilo vê-se pouco. Ele teve sorte.
(Fontoura Xavier, 0, 172.) (Castro SoromeullO, e, 160.)

... _.- - _.. _....------,. __.__ ..


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES 24'
'40

4. As formas femininas esta e essa fixaram-se em construções elípticas 2. Mesnlo e próprio são DEMONSTRATIVOS quando têm o sentido de
«exacto», <<idêntico», «em pessoa»:
do tipo:·
Ora cssa! Essa é boal Eu não posso viver muito temp~ na mesma casa, na mesma rua, :0.0
Essa, .nãol Essa cá me fica I mesmo sItio.
Mais estaI... Esta é final (Luandino Vieira, IV, 6••)

- Foi a própria Carmélia quem me fez o convite.


O(s), a(s) como demonstrativo.
(Ciro dos Anjos, DR, ,61.)
O DEMONSTRATIVO o (a, os, as) é sempre pronome substantivo e empre-
ga-se nos seguintes casos: 3. Semelhante serve de DEMONSTRATIVO de identidade:
a) quando vem determinado por uma oração ou, mais raramente, por o Lucas reparou nisso e doeu-se futimamente de semelhante descuido.
uma expressão adjectiva, e tem o significado de aquele(s), aquela(s), aqui/o: (Miguel Torga, eM, 84.)
Ingrata para 08 da terra,
boa para os que não são.
PRONOMES RELATIVOS
(Carlos Pena Filho, LG, 120.)
b) quando, no singular masculino, equivale a isto) isso} aquilo} e exerce as São assim chamados porque se referem, em regra geral, a um termo
funções de objecto directo ou de predicativo, referindo-se a um substantivo, anterior - o ANTECEDENTE.
a um adjectivo, ao sentido geral de uma frase ou de um termo dela:

o valor de uma desilusão, sabia~o ela. Formas dos pronomes relativos.


(Miguel Torga, NeM, 'l3.)

Não cuides que não era sincero, era-o.· l. Os PRONOMES RELATIVOS apresentam:
(Machado de Assis, oe, I, 893.) a) formas variáveis e formas invariáveis:

Substitutos dos pronomes demonstrativos. Variáveis


Podem também funcionar como DEMONSTRATIVOS as palavras tal} mesmo} Invariáveis
Masculino Feminino
próprio e s.,m/bollfe.
I. Tal é DEMONSTRATIVO quando sinónimo: o qual que
os quais a qual as quais
a) de «este», «esta», <dsto», «esse», «essa», «isso», «aquele», «aquela», cujo cujos cuja cujas quem
«aquilo» :
quanto quantos quantas onde
- Quando tal ouvi, respirei ...
(António de Assis Júnior, SM, 176.) b) formas simples: que, quel/I, c'fio, quanto e ollde; e forma composta:
o fJ lal.
b) de «semelhante>>:

Houve tudo quanto se faz em tais ocasiões. 2. Antecedido das preposições. o e de, o pronome onde com elas se aglu-

(Machado de Assis, oe, II, 197.) tina, produziodo as formas aOllde e dOI/de.

. _.-_.- _.._-_._-' ..
BREVE GRAMÁ'I'ICA DO PORTUGuÊs CONTEMPORÂNEO PRONOMES
24 2 243

Natureza do antecedente. Denominam-se, então, RELATIVOS INDEFINIDOS.

o ANTECEDENTE do PRONoME RELATIVo pode ser: 2. Nestes casos de emprego absoluto dos RELATIVOS, muitos gramáticos
admitem a existência de um antecedente interno, desenvolvendo, para efeito
a) um SUBStANTIVO: de análise, quem em aquele que} e onde em no lugar em que. Assim, os exemplos
citados se interpretariam:
D~em-me as cigarras que eu ouvi menino.
Aquele que tem amor ...
(Manuel Bandeira, PP, l, 387.) Passeias no lugar em que não ando ...

b) um PRONOME: 3. O antecedente do RELATIVo qual/fo(!) costuma ser omitido:


Não serás tu que o vês assim? Hoje penso quanto faço.
(Antônio Sérgio, D, 3I.) (Fernando Pessoa, DP, 92.)

c) um ADJECTIVo: Função sintáctica dos pronomes relativos.


As opmlOes têm como as frutas o seu tempo de madureza em que se Os PRoNOMES RELATIVoS assumem um duplo papel no período com
tornam doces de azedas ou astringentes que dantes eram. representarem um determinado antecedente e servirem de elo suborclinante
(Marquês de Maricá, M, 166.) da oração que iniciam. Por isso, ao contrário das conjunções, que são meros
conectivos, e não exercem nenhuma função interna nas orações por elas
d) um ADVÉRBIO: introduzidas, estes pronomes desempenham sempre uma função sintáctica
nas orações a que pertencem.
Lá, por onde se perde a fantasia
No sonho da beleza; lá, aonde Valores e empregos dos relativos.
A noite tem. mais luz que o nosso dia ...
(Antero de Quental, SC, 61.) Que

.) uma ORAÇÃo (em regra resumida pelo demonstrativo o): I. Que é o RELATIVO básico. Usa-se com referência a pessoa ou coisa,
no singular ou no plural, e pode iniciar orações ADJECTIVAS RESTRITIVAS e
Só a febre aumenta um pouco, o que não admirará ninguém. EXPLICATIVAS:
(Antônio Nobre, CI, 145-6.)
- Não diz nada que se aproveite, esse rapaz I
Pronomes relativos sem antecedente. (Agustina Bessa Luis, QR, 134.)
O ministro, que acabava de jantar, fumava calado e pacifico.
Os PRONOMES RELATIVOS queOJ e onde podem ser empregados sem
I. (Macbado de Assis, DC, l, 638.)
antecedente em frases como as seguintes:
2. O antecedente do RELATIVo pode ser o sentido de uma expressão
Quem tem amor, e tem calma, ou oração anterior:
tem calma ... Não tem amor ...
(Adelmar Tavares, PC, 81.) E seu cabelo em cachos, cachos d'uvas,
E negro como a capa das viúvas ...
Passeias onde não ando, (A maneira o trará das virgens de Belém
Andas sem cu te encontrar. Que a Nossa Senhora ncava tão beml)
(Fernando Pessoa, QGP, 47.) (Antônio Nobre, S, 39.)
PRONOMES
24l
BREVE GRAMÁTIGA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
244
c) o qual é também a forma usada como partitivo após certos indefinidos,
Neste caso, o qllC vem geralmente antecedido do demonstrativo o ou numerais e superlativos:
da palavra coisa ou equivalente, que resumem a expressão ou oração a que
o RELA1'IVO se refere: Cinco cadeiras das quais uma de braços no centro do semidrculo.

Achou-se :mais prudente que eu me safasse pelos fundos do prédio, o (Costa Andrade, NVNT, 1;.)
qu e fiz tão depressa quanto pude.
(Ciro dos Anjos, MS, ;28.) Quem
I. Na Ilngua contemporãnea, quem só se emprega com referência a pes-
3. Por vezes, o antecedente do q/le não vem expresso: soa ou a alguma coisa personificada:
A uma pergunta assim, a rapariga nem sabia que responder. Feliz é quem tiver netos
(Miguel Torga, NCM, 184.) De quem tu sejas avó I

Qual. o qual (Fernando Pessoa, QGP, !I8.)

I. Nas orações AD]ECTIVAS EXPLICATIVAS, o pronome quo) com ante- A mim quem convelteu foi o sofrimento.
cedente substantivo, pode ser substituldo por o qtlal (a qtlal, os quais, as qtlais) :
(Coelho Netto, OS, l, 105.)
Durante o seu dOITÚniO, todavia, acentua-se a evolução do latim vulgar,
2. Como simples RELATIVO, isto é, com referência a um antecedente
falado na península, o qlltJl vinha de há muito diversificando-se em rualectos
vários.
expllcito, quem eqnivale a «o qual» e vem sempre antecedido de preposição:
aaime Cortesão, FDFP, 42.)
A senhora a quem cumprimentara era a esposa do tenente~coronel Veiga.
2.Esta snbstitnição pode ser um recnrso de estilo, isto é, pode ser
(Machado de Assis, OC, II, 172.)
aconselhada pela clareza, pela eufonia, pelo ritmo do enunciado. Mas há casos
em que a Ilngua exige o emprego da forma o qual. Cujo
Precisando melhor:

a) o RELATIVO que emprega-se, preferentemente, depois das preposições Cujo é, a um tempo, relativo e possessivo, equivalente pelo sentido a
monossilábicas a, (0111, de, Cf/I e por: do qwl, de quem, d. que. Emprega-se apenas como pronome adjectivo e con-
corda com a coisa possuída em género e número:
A verdade é um postigo
A que ninguém vem falar. Convento d'águas do Mar, ó verde Convento,
(Fernando Pessoa, QGP, 21.) Cuja Abadessa secular é a Lua
E cujo Padre-capelão é o Vento ...
b) as demais preposições simples, essenciais ou acidentais, bem como (António Nobre, S, 28.)
as locuções prepositivas, constroem-se obrigatória ou predominantemente
com o pronome o q/lal: Quanto

Tinha vindo para se libertar do abismo sobre o qual sua negra alma vivia Quanto, como simples relativo, tem por antecedente os pronomes indefi-
debruçada. nidos tudo, todos (ou totlas), que podem ser omitidos. Daí o seu valor também
(Miguel Torga, NCM, 49.)
indefinido:
Uma visita de dez minutos apenas, durante os quais D. Benedita disse Em tudo quanto olhei fiquei em parte.
quatro palavras no principio: - Vamos para o Norte.
(Fernando Pessoa, OP, 2;1.)
(Machado de Assis, OC, II, ; 16.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO PRONOMES
246 247

Entre quantos te rodeiam, Qual dos livros preferes?


Tu não enxergas teus pais. Não sei qual dos livros preferes.
(Gonçalves Dias, PCP, ;85.) Quantos passageiros desembarcaram?
Pergunte quantos passageiros desembarcaram.
Onde
2. Os PRONOMES INTERROGATIVOS estão estreitamente ligados aos pro-
I.Corno desempenha normalmente a função de adjunto adverbial nomes indefinidos. Em uns e outros a significação é indeterminada, embora,
(= o lugar em que, no qual), onde costuma ser considerado por alguns gra- no caso dos interrogativos, à resposta, em geral, venha esclarecer o que foi
máticos ADVÉRB.IO RELATIVO: perguntado.
Sou o mar sem borrasca, onde enfim se descansa.
(António Nobre, S, 90.) Flexão dos interrogativos.

2. Embora a ponderável razão de maior clareza idiomática justifique o OS INTERROGATIVOS que e quem são invariáveis. Qual flexiona-se em
contraste que a disciplina gramatical procura estabelecer, na lingua culta número (qual- quais); qual/lo, em género e em número (quanto - quanta -
contemporânea, entre onde (= o lugar em que) e aonde (= o lugar a que), - quantos - quantas).
cumpre ressaltar que esta distinção, praticamente anulada na linguagem
coloqnial, nunca foi rigorosa nos melhores escritores do idioma. Valor e emprego dos interrogativos.
Não é, pois, de estranhar o emprego de urna forma por outra em passos Que
como os seguintes:
I. O INTERROGATIVO que pode ser:
Vela ao entrares no porto
a) pronome substantivo, quando significa «que coisa>>:
Aonde o gigante está I
(Fagundes Varela, V A, 76.) Que tencioda fazer quando sair daqni?
(Augusto Abelaira, TM, 86.)
Não perceberam ainda onde quero chegar.
(Alves Redol, BC, 47.) b) pronome adjectivo, quando significa «que espécie de», e neste caso
refere-se a pessoas ou a coisas:
Nem mesmo a concorrência de ambas as formas num só enunciado:
Que mal me havia de fazer?
Ela quem é, meu coração? Responde 1 (Miguel Torga, NCM, 47.)
Nada me dizes. Onde mora? Aonde?
2. Para dar maior ênfase à pergunta, em lugar de que pronome subs-
(Teixeira de Pascoaes, OC, Hr, 14.)
tantivo, usa-se o que:
PRONOMES INTERROGATIVOS O mwido? O que é o mundo, ó meu amor?
(Florbela Espanca, S, 90.)
I. Chamam-se INTERROGATIVOS os pronomes que, quem, qual e quanto,
empregados para formular uma pergunta directa ou indirecta: 5. Tanto urna corno outra forma pode ser reforçada por é que:
- Que é que o senhor está fazendo? gritou-lhe.
Que trabalho estão fazendo?
Diga-me que trabalho estão fazendo. (Clarice Lispector, ME, ;1;.)
Quem disse tal coisa? O que é que eu vejo, nestas tardes tristes?
Ignoramos quem disse tal coisa. (Teixeira de Pasco.es, OC, IH, 24.)
PRONOMES
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO '49
24 8

Quem Emprego exclamativo dos interrogativos.

l. O INTERROGATIVO quem é pronome substantivo e refere-se apenas a Estes pronomes são também frequentemente üsados nas exclamações, que
pessoas ou a algo personificado: não passam muitas vezes de interrogações impregnadas de admiração. Con-
forme a curva tonal e o contexto, podem assumir então os mais variados
Quem não a canta? Quem? Quem não a canta e sente?
matizes afectivos.
Oorge de Lima, oe, I, 212.) Comparem-se as frases seguintes:
Mas a Idcia quem é? quem foi que a viu,
Jamais, a essa encoberta peregrina? Que inocéncia I Que aurora 1 Que alegria 1
(Antero de Quental, se, j 9') (Teixeira de Pascoaes, oe, III, 140.)
2. Em orações com o verbo ser, pode servir de predicativo a um sujeito - Coitada!... quem diria ... quem imaginaria que acabaria assiml? ..
no plural: (António de Assis Júnior, SM, j z.)
Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo? - Quais feitios, qual vida I
(CeeUia Meireles, OP, 3.0 .) (Miguel Torga, eM, jO.)
Qual Ai, quanto veludo e seda,
I. O INTERROGATIVO qual tem valor selectivo e pode referir-se tanto a
e quantos finos brocados I
pessoas como a coisas. Usa-se geralmente como pronome adjectivo, mas nem (Cecilia Meireles, OP, 669.)
sempre com o substantivo contíguo. Nas perguntas feitas com o verbo ser,
costuma-se empregar o verbo depois de qual,' PRONOMES INDEFINIDOS
_ Qual é o hotel, em que rua fica?
Chamam-se INDEFINIDOS os pronomes que se aplicam à 3." pessoa gra-
(Urbano Tavares Rodrigues, NR, 76.)
matical, quando considerada de um modo vago e indeterminado.
2. A ideia selectiva pode ser reforçada pelo emprego da expressão
qual dos (das ou de), anteposta a substantivo ou a pronome no plural, bem Formas dos pronomes indefinidos.
como a numeral:
Qual dos senhores é pai dum menino que está de cócoras no jardim há OS PRONOMES INDEFINIDOS apresentam formas variáveis e invariáveis:
mais de meia hora?
(AnIbal M. Machado, ]T, jl.) Variáveis
Invariáveis
Qual deles tinha coragem para começar? Masculino Feminino
(Fernando Namora, T], '93') algum alguns alguma algumas alguém
Quanto nenhum neD.huns nenhuma nenhumas ninguém
todo todos toda todas tudo
O INTERROGATIVO quanto é um quantitativo indefinido. Refere-se a pes- outro outros outra outras outrem
soas e a coisas e usa-se quer como pronome substantivo, quer como pronome muito muitos muita muitas nada
pouco poucos pouca poucas cada
adjectivo:
certo certos certa certas algo
- Quanto devo? vário vários vária várias
(Graciliano Ramos, A, 167.) tanto tantos tanta tantas
quanto quantos quanta quant.'1s
Quanta.s sementes lhe dás tu? qualquer quaisquer qualquer quaisquer
(Fernando Namora, T], Ij 8.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
')0 PRONOMES
'51

Locuções pronominais indefinidas. Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
(Fernando Pessoa, OP, '06.)
Dá-se o nome de LOCUÇÕES PRONOMINAIS INDEFINIDAS aos grupos de
palavras que equivalem a PRONOMES INDEFINIDOS: cada um, cada qual, quem Qualquer caminho
Em qualquer ponto seu em dois se parte.
q"er q"e, lodo aq"ele q"e, seja q"em for, seja qllal for, etc.
(Fernando Pessoa, OP, 476.)
Pronomes indefinidos substantivos e adjectivos.
Valores de alguns indefinidos.
l. Os INDEPINIDOS a/gtiém, ning"ém, o"trem, algo, nada e tlldo só se usam
Algum e nenhum
como pronomes substantivos:
~ se alguém fosse avisar a Guarda? l. Anteposto a um substantivo, algum tem valor positivo. É o contrá-
(Miguel Torga, NCM, ) •.) rio de nenhum:
Ninguém ainda inventou fósforos contra o vento?
- Com ele podes arranjar alguma coisa.
(Augusto Abelaira, QPN, .).)
(Castro Soromenho, TM, '48.)
Outrem a repetiu [a frase do discurso], até que muita gente a fez sua.
(Machado de Assis, OC, I, 921.) Não havia nde senão aspiração à grandeza verdadeira; nenhum cabo-
tinismo, nenhuma vaidade, e sim um compreensivel orgulho.
Minha Teresa tem algo a me dizer, não é?
(Jorge Amado, TBCG, .89') (Augusto Frederico Schmidt, F, '37.)

Não devo nada a ninguém. 2. Posposto a um substantivo, algum assumiu, na língua moderna,
(Alves Redol, BC, 43.) significação negativa, mais forte do que a expressa por nenhum. Em geral, o
Tudo na vida são verdades de relação. INDEFINIDO adquire este valor em frases onde já existem formas negativas,
(Urbano Tavares Rodrigues, JE, 309') como não, nem, sem.'

2. AlgufII, nenhum, todo, outro, muito, pouco, vário, tanto e quanto são Já não morria naquele dia e não tinha pressa alguma em chegar a" casa.
pronomes adjectivos que, em certos casos, se empregam como pronomes (Ferreira de Castro, OC, II, 694.)
substantivos. Assim nestes perJodos:
Todos estavam admirados. 3. Reforçado por negativa, Ilenb""1 pode equivaler ao INDEFINIDO "UI:
(Castro Soromenho, TM, 186.)
Esse capitão não foi nenhum oficial de patente, mas um autêntico capi-
Quando nos tornamos a ver, nenhum teve para o outro a rnfoima palavra. tão de terra e mar de Quatrocentos, ao mesmo tempo piloto dos mares de
(Raul Pompéia, A, '0).) Noroeste e regedor de capitania.
(Vitorino Ncmésio, CI, '0).)
3. Certo só se usa como pronome adjectivo:
Cada
Certos homens ergueram-se acima do seu tempo, acima da civilização.
(Augusto Abelaira, TM, 79.) I. Como dissemos, deve-se empregar o INDEFINIDO cada apenas como
PRONOME AD]ECTIVO. Quando falta o substantivo, usa-se cada 111/1 (IIUJa) ,
4. Também os INDEFINIDOS cada e q"alquer, de acordo com a boa t,o. cada q"al:
dição da lfngua, devem sempre vir acompanhados de substantivo, pronome
ou numeral cardinal: Lá no fundo cada um espera o milagre.
(Carlos de Oliveira, PB, 1)6.)
'j' BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
PRONOMES 2jJ

Cada qual sabe de sua vida. 2. Junto a um adjectivo ou a um verbo intransitivo pode ter força
Oorge Amado, AfM, 9j.)
adverbial:
2. Cada pode preceder um numeral cardinal para indicar discriminação .I _ Não foi nada caro, tive um grande desconto.
ntre unidades, ou entre grupos ou séries de unidades:
11 (Augusto AbelaiIa, QPN, 14.)
De cada dúzia de ovos que vendia, a metade era lucro.
Vinha ver-me cada três dias.
I o cavalo não correu nada.
3. Tem acentuado valor intensivo em frases do tipo:
I
- Você tem cada uma!
I Outro

1I I. Cumpre distinguir as expressões:


(Graciliano Ramos, AOH, 7j.)
I'[. a) olltro dia, ou o olltro dia = um dia passado mas próxiIno:
Certo
'! I _ Outro dia fui à casa do Sebastião e lá aceitei um café.
I. Certo é PRONOME INDEFINIDOquando anteposto a um substantivo. íI,
)
(Carlos Drummond de Andrade, F A, 209.
:aracteriza-o a capacidade de particularizar o ser expresso pelo substantivo, I'
istinguindo-o dos outros da espécie, mas sem identificá-lo. Contou-me a Ama, o outro dia,
1I Que Deus, somente o veria
Dispensa, em geral, o artigo indefinido. A presença deste torna a expres- ) Quem fosse Anjo, ninguém mais.
ia menos vaga e dá-lhe um matiz afectivo:
I (Ant6nio Corrêa d'OliveiIa, M, 92.)
Silvio não pede um amor qualquer, adventício ou anónimo; pede um
certo amor, nomeado e predestinado. b) no OlltrO dia, ou ao olltro dia = no dia seguinte:
(Machado de Assis, OC, lI, j j ,.)

2. ~ adjectivo, com o significado de «seguro», «verdadeiro», «exacto»,


I No outro dia, de volta do campo, encontrei no alpendre João Nogueira,
Padilha e Azevedo Gondim.
lel», «constante»: (Graciliano Ramos, SE, j 2.)
Partiu o navio, ao outro dia de manhã.
a) quando posposto ao substantivo:

Homens de piso certo, seus passos derivam de suas lagoas interiores


de resignação.
(Arnaldo Santos, P, 177.)
I (Manuel Ferreira, HB, I >l.)
2. Em expressões denotadoras de reciprocidade, como 11111 ao olltro, 1111/
do outro, 11111 para o olltro, conserva-se em geral a forma masculina, ainda que
aplicada a individuas de sexos diferentes:
b) quando anteposto ao substantivo, mas precedido de palavra que
priIna gradação: I A Judite dava toda a atenção ao seu par, a uma distância perigosa um
do outro.
Mais certo amigo é João do que Pedro, tão certo amigo é João como (Almada Negreiros. NG, 93.)
Paulo.
3. Outro pode empregar-se como adjectivo na acepção de «diferente»,
(Sousa da Silveira, LP, 244.)
«mudado», «novo»:
Nada
I. Nada significa «nenhuma coisa», mas equivale a «alguma coisa» em Era outro homem, fora fundido noutro cadinho.
ses interrogativas negativas do tipo: (Ferreira de Castro, oe, lI, 93.)

De tempos em tempos aparecia, perguntava se eu não querja nada. Qualquer


(Mário de Andrade, CMB, 28j.) Tem por vezes sentido pejorativo, particularmente quando precedido
--"I
'54 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

de artigo indefinido:
12.
_ Júlio, se eu te falo assim é porque não te vejo como um qualquer.
(José Lins do Rego, E, 253.)
A tonalidade depreciativa torna-se mais forte se o indefinido vem pos-
::>osto a um nome de pessoa:
Numerais
Já não era uma Judite qualquer, era a Judite do Antunes.
(Almada Negrciros, NG, 86.)

Todo
No Capítulo 9, estudámos o emprego do artigo com este INDBFINIDO. ESPÉCIES DE NUMERAIs
:\qui acrescentaremos o seguinte:
I. Para indicarmos uma quantidade exacta de pessoas ou coisas, ou
I. No singular e posposto ao substantivo, todo indica a totalidade das
classe assinalarmos
para o' lugar_que
especial de palavras os elas ocupam numa série, empregamos Uma
NUMERAIs.
)artes:

o conflito acordou o colégio todo. FRACCIONÁRIOS.


Os NUMERAIS podem ser CARDINAIS, ORDINAIS, MULTIPLICNrrvos e
(Gilberto Amado, HMI, 163.)
2. Também indica a totalidade das partes, quando, no singular, antecede
1m pronome pessoal: designar:
2. Os NUMEr AIs CARDINAIS são os números básicos. Servem para

A casa, toda eIa, gciava. substantivos:


a) a quantidade em si mesma, caso em que valem por verdadeiros
(Carlos de Olivcira, AC, 81.)
Dois e dois são quatro.
3. No plural, anteposto ou não, designa a totalidade numérica:
Todos 08 homens caminhavam em silêncio. b) uma quantidade certa dos
de pessoas ou coisas, caso em que acompanham
Um substantivo à semelhança adjectivos:
(Ferrcira de Castro, OC, T, 446.)
As culpas todas eram deles; aguentassem com elasl - Botou a cinco cântaros o mel... e a dois lagares o azeite.
(Aquilino Ribciro, M, 44.)
(Mrânio Peixoto, RC, 449.)
4. Anteposto a um elemento nominal, aposto ou predicativo, empre-
a-se com q sentido de <<Ínteirat;nente», «em todas as suas partes», «muito»: 3· Os NUMERAIS ORDINAIS indic.1m a ordem de sucessão dos seres
ou objectos nUma
substantivam dada série. Equivalem a adjectivos, que, no entanto, Se
facilmente:
Eras toda graça e incompreensão.
(Ribciro Couto, PR, 226.) Foi aI que se tornou a Primeira de SUa classe.
Tudo (Antánio de Alcântara Machado, NP, 5.)
12
Refere-se normalmente a coisas, mas pode aplicar-se também a pessoas:
Aqui na pensão e na casa da lagoa tudo dorme. 4· Os NUMBRAIS MULTIPLICATIVOS indicam o aUmento proporcional da
(José Caedoso Pires, D, '339.) quantidade, a Sua mUltiplicação. Podem equivaler a adjcctivos e, Com mais
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO
;6 NUMERAIS '57

equência, a substantivos, por virem geralmente antecedidos de artigo: Ordinais.


É um duplo receber, que é um duplo dar.
(Joaquim Manuel de Macedo, RQ, •. ) OS NUMERAIS ORDINAIS variam em género e número:
Tinha o dobro da minha grossura e era vermelho como malagueta. primeiro primeira primeiros primeiras
vigésimo vigésima vigésimos vigésimas
(Ferreira de Castro, Oe;I, I j4.)

5. Os NUMERAIS FRACCIONÁRIOS exprimem a diminuição proporcional


. quantidade, a sua divisão. Multiplicativos.
Já pagámos a metade da divida.
Só recebeu dois terços do ordenado. x. Os NUMERAIS MULTIPLICA'l'IVOS são invariáveis quando equivalem
a substantivos. Empregados com o valor de adjectivo, flexionam-se em
género e em número:
umerais colectivo8. Podia ser meu avô, tem o triplo da minha idade.

Assim se denominam certos NUMERAIS que, como oS substantivos colec- CostUma tomar o remédio em doses duplas.
ras, designam um conjunto de pessoas ou coisas. Caracterizam-se, no
tanto, por denotarem o número de seres rigorosamente exacto. É o caso 2. As formas multiplicativas dápliee, triplice, etc. variam apenas em
novena, dezena, década, dúzia, centena, cento} lustro) milhar, milheiro, par. número:

Deram-se alguns saltos triplices.

FLEXÃO DOS NUMERAIS


Fraccionários.

ltdinai •• x. Os NUMERAIS FRACCIONÁRIOS concordam com oS cardinais que indi-


cam o número das partes:
x. Os NUMERAIS CARDINAIS 11m, dois, e as centenas a partir de dllzentos
riam em género: Subscrevi um terço e Carlos dois terços do capital.

um uma duzentos duzentas 2. Meio concorda em género com o designativo da quantidade de que
dois duas trezentos trezentas é fracção:
2. Milbão, bilião (ou bilhão), trilhão, etc. comportam-se como substantivos Comprou três quilos e meio de carne.
,ariam em número: Andou duas léguas e meia a pé.
dois núlhõcs vinte trilhões
Observação:
3· AII/bos, que substitui o CARDINAL os dois, varia em género ..
No BrasiI~ em lugar de meio dia e "'tia (hora), cliz·se normalmente meio dia e
ambos os pés ambas as mãos meio:
Meio dia e meio ... nada de Luzardo.
4. Os outros CARDINAIS são invariáveis.
(Gilberto Amado, DP, 147')

....._.- _._ .. _... _-_._----_.


NUMERAIS 259
25 8 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

Numerais colectivos. Números


Cardinais Ordinais
Todos os numerais colectivos se flexionam em número: Romanos Arábicos

três décadas cinco dúzias CD 4°0 quatrocentos quadringentésimo


dois milheiros quatro lustros D
"
I 500 quinhentos quingentésimo
DC 600 seiscentos
I DCC 7°0 setecentos
seiscentésimo ou sexcentésimo
septingentésimo
Quadro dos numerais DCCC 800 oitocentos octingentésimo
"I
I, NUMERAIS CARDINAIS E ORDINAIS J
I{
I CM
M
9°0
1000
novecentos
mil
nongentésimo
milésimo
f
Números
Cardinais Ordinais 'Il X
C
Ia 000

100000
dez mil
cem mil
dez milésimos
cem milésimos
Romanos Arábicos
li M 1000000 um milhão milionésimo

I M 1000000000 um bilião (ou bilhão) bilionésimo


r um primeiro
TI
m
2 dois segundo 1
"
; três terceiro
IV 4 quatro quarto !
V 5 cinco quinto Valores e empregos dos cardinais.
VI 6 seis sexto
VII
vm
IX
7
8
9
sete
oito
nove
sétimo
oitavo I l. Na lista dos CARDINAIS costuma-se incluir zero (o), que equivale a
um substantivo, geralmente usado em aposição:
nono
X
I
10 dez décimo
XI II onze grau zero desinência zero
undécimo ou décimo primeiro
xn doze
xm
12
1; treze
duodécimo ou décimo segundo •
décimo terceiro 2. Cem, forma reduzida de cento, usa-se como um adjectivo invariável:
XIV '4 quatorze décimo quarto
XV
XVI
XVII
xvm
'5
16
'7
18
quinze
dezasseis ou dezesseis

dezoito
décimo quinto
décimo sexto
dezassete ou dezessete décimo sétimo
décimo oitavo
I cem rapazes cem meninas

Cellto é também invariável. Emprega-se hoje apenas:


XIX '9 dezanove ou dezenove décimo nono
XX 20 vinte vigésimo
XXI 21 vinte e um I, a) na designação dos números entre cem e duzentos:
vigésimo primeiro
XXX ;0 trinta
XL
trigésimo I cento e dois homens cento e duas mulheres
40 quarenta
L
LX
50
60
cinquenta
sessenta
quadragésimo
quinquagésimo
s~xagésimo
I
LXX b) precedido do artigo, com valor de substantivo:
70 setenta septuagésimo
XXX 80 oitenta
XC octogésimo Comprou um cento de bananas.
90 noventa

I
nonagésimo Pagou caro pelo cento de peras.
C 100 cem centésimo
CC
CCC
200
;00
duzentos
trezentos
ducentésimo i
trecentésimo c) na expressão celll por cento.

__1...-_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPoRANEo NUMERAIS 161
160

3. Usa-se ainda conto (antigamente = um milhão de réis) no sentido de de partes em que se divide uma obra, usam-se os ORDINAIS até décifllO, e dai
por diante o CARDINAL, sempre que o numeral vier depois do substantivo:
«mil escudos» (em Portugal) e «mil cruzeiros» (no Brasil):

A gravura custou dois contos.


Gregório VII (sétimo) João XXIII (vinte e três)
Pedro H (segundo) Luis XIV (quatorze)
Século X (décimo) Século XX (vinte)
4. Bilião (que também se escreve bilhão, principalmente no Brasil), Acto IH (terceiro) Capitulo XI" (onze)
significava outrora «um milhão de milhões», valor que ainda conserva em Canto VI (sexto) Tomo XV (quinze)
Portugal, na Grã-Bretanha, na Alemanha e no mundo de lingua espanhola. No
Brasil, na França, nos Estados Unidos e em outros paises representa hoje
Quando o numeral antecede o substantivo, emprega-se, porém, o OR-
«mil milhões». DINAL:

Observação: Décimo século Vigésimo século


No Brasil quatDrze alterna com catorze, que é a forma normal portuguesa. Terceiro acto Décimo primeiro capItulo
Em Portugal empregam-se normalmente dezas.seis, dezpssete e dezanove, varian- Sexto Canto Décimo quinto tomo
tes desusadas no Brasil.
z.O) Na numeração de artigos de leis, decretos e portarias, usa-se o
Valores e emprego. do. ordinai•• ORDINAL até nove, e o CARDINAL de dez em diante:

Artigo 1.0 (primeiro) Artigo Ia (dez)


I. Ao lado de primeiro, que é forma própria do ORDINAL, a llngua Artigo 9.° (nono) Artigo 41 (quarenta e um)
portuguesa conserva o latinismo primo (-a), empregado:
3.0) Nas referências aos dias do mês, usam-se os CARDINAIS, salvo na
a) seja como substantivo, para designar parentesco (os primos) e, na designação do primeiro dia, em que é de regra o ORDINAL. Também na indi-
forma feminina (a prima), «a primeira das horas canónicas» e <<a mais ele- cação dos anos e das horas empregam-se os CARDINAlS.
vada corda» de alguns instrumentos;
Chegaremos às seis horas do dia primeiro de maio.
b) seja como adjectivo, fixado em compostos como obra-prima e matéria- São duas horas da tarde do dia vinte e oito de julho de mil novecentos
e oitenta e três.
-prima, ou em expressões como nlÍmeros primos.

4.°) Na enumeração de páginas e de folhas de um livro, assim como


2.Certos ORDINAIS, empregados com frequência para exprimir uma
na de casas, apartamentos, quartos de hotel, cabines de navio, poltronas de
qualidade, tornam-se verdadeiros adjectivos. Comparem-se: casas de diversões e equivalentes empregam-se os CARDINAlS. Nestes casos
Um material de primeira categoria [= superior]. sente-se a omissão da palavra IllífJ,cro:
Um artigo de segunda qualidade [= inferior].
Página 3 (três) Casa 3' (trinta e um)
Folha 8 (oito) Apartamento IOZ (cento e dois)
Emprego dos cardinais pelo. ordinais. Cabine 1 (dois) Quarto I 8 (dezoito)

Em alguns casos o NUMERAL ORDINAL é substituldo pelo CARDINAL Se o numeral vier anteposto, usa-se o ordinal:
correspondente. Assim:
Terceira página Segunda cabine
1.0) Na designação de papas e soberanos, bem como na de séculos.e Oitava folha Trigésima primeira casa

--
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

13'.
~
II. NUMERAIS MULTIPLICATIVOS E FRACCIONARIOS

1;
Multiplicativos Fraccionários
Verbo
duplo, dobro, dúplice meio ou metade
triplo, tríplice terço
quádruplo quarto
qu1ntuplo quinto
sêxtuplo sexto
séptuplo sétimo
óctuplo oitavo NOÇÕES PRELIMINARES
nônuplo nono
décuplo décimo
undécimo ou onze avos VERBO é urna palavra de forma variável que exprime o que se passa,
undécuplo
duodécimo ou doze avos
duodécuplo :sto é, um acontecimento representado no tempo. Na oração exerce a fun-
cêntuplo centésimo
ção obrigatória de predicado. Assim:

Um dia, Aparicio desapareceu para sempre.


nprego dos multiplicativos. (Augusto Meyer, SI, 25.)

Dos MULTIPLICATIVOS apenas dobro, duplo e triplo são de uso corrente Como estavam velhos I
(Agustina Bessa Luls, S, 189')
s demais pertencem à linguagem erudita. Em seu lugar, emprega-se o
lmeral cardinal seguido da palavra vezes: quatro vezes, oito vezes, doze vezes, etc. Anoitecera já de todo.
(Carlos de Oliveira, AC, '9')
mprego dos fraccionários.
Flexões do verbo.
I. Os NUMERAIS FRACCIONÁRIOS apresentam as formas próprias meio
,u metade) e terfo. Os demais são expressos:
o verbo apresenta as varlaçoes de NÚMERO, de PESSOA, de MODO, de
TEMPO, de ASPECTO e de voz.
a) pelo ORDINAL correspondente, quando este se compõe de urna só
Números.
alavra: quarto, quinto, décilJJo} vigésilJlo} lIJilbitllo} etc.;
Como as outras palavras varlaveis, o verbo admite dois números: O
b)pelo CARDINAL correspondente, seguido da palavra AVOS, quando
SINGULAR e O PLURAL. Dizemos que um verbo está no singular quando ele
ORDINAL é uma forma .composta: treze avos} dezoito avos} vinte e três avos}
se refere a uma só pessoa ou coisa e, no plural, quando tem por sujeito mais
mio e quinze avos. de uma pessoa ou coisa. Exemplo:

2. Exceptuando-se IIJeio} os NUMERAIS FRACCIONÁRIOS vêm antecedi-


Singular estudo estucL'ls estuda
los de um cardinal, que designa o número de partes da uuidade: um terfo,
'rês q/lilJtos, ci/lco treze avos. Plural estudamos estudais estudam
·64 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO .65
VERBO
Pessoas.
Presente: estmio
o verbo possui três PESSOAS relacionadas directamente. com a pessoa gra- r imperfeito: estmiova
matical que lhe serve de sujeito.
simples: estmIei
Pretérito perfeito { composto: tenho eslllJaJo
I. A primeira é aquela que fala e corresponde aos pronomes pessoais
ell (singular) e nós (plural): . . simples: eS/lldara
Indicativo tnals-que-perfelto { composto: tinha (ou havia) eslmlaJo
estudo estudamos \
simples: esluJarei
2.A segunda é aquela a quem se fala e corresponde aos pronomes do presente { composto: lerei (ou haverei) esluJaJo
pessoais I" (singular) e vós (plural): Futuro simples: estlldaria
estudas es~dWds
do pretérito { composto: leria (ou haveria) eslllJaJo
\

3. A terceira é aquela de quem se fala e corresponde aos pronomes Presente: esluJe


pessoais ele, ela (singular) e eles, elas (plural): imperfeito: esluJasse
Pretérito perfeito: lenha (ou h,ga) eslllJaJo
estuda estudam mais-que-perfeito: livesse (ou hOllVesse) estuJaJo
Conjuntivo \
simples: eslmlar
Futuro { composto: tiver (ou houver) estuJaJo
Modos.
Imperativo _ Presente: esluJa (tu), eslllJe (você), eslllJemos (nós),
Chamam-se MODOS as diferentes formas que toma o verbo para indicar eslluJai (vós), eslllJem (vocês).
a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de mando, etc.) da pessoa
que fala em relação ao facto que enuncia.
Há três modos em português: o INDICATIVO, o CONJUNTIVO e o IMPERA-
TIVO. Dos seus valores e empregos tratamos, com o necessário desenvolvi- Aspectos.
mento, adiante, neste mesmo Capítulo, onde também estudamos as FORMAS
I. Diferente das categorias do TEMPO, do MODO e da VOz, o ASPECTO
NOMINAIS do verbo: o INFINITIVO, o GERÚNDIO e o PARTIcíPIO.
designa «uma categoria gramatical que manifesta o ponto de vista do qual o
locutor considera a acção expressa pelo verbO». pode ele considerá-la como
cone/111M, isto é, observada no seu término, no seu resultado; ou pode con-
Tempos. siderá-la como não cOlle/lllda, ou seja, observada na sua duração, na sua

TEMPO é a variação que indica o momento em que se dá o facto expresso repetição.


É a clara distinção que se verifica em português entre. as formas verbais
pelo verbo. classificadas como PERFEITAS ou MAIS_QUE-PERFEITAS, de um lado, e as IMPER-
Os três tempos naturais são o PRESENTE, o PRETÉRITO (ou PASSADO) e o
FUTURO, que designam, respectivamente, um facto ocorrido l/O "'OIlJCllto em
FEITAS, de outro.
°
fJ"e SI fala, allles do '"0""/110 ell' fJlle se fala e após tIIOtlletl!o ell' fJ"e se fala.
2.Além dessa distinção básica, que divide o verbo, gramaticalmente,
O PRESIlNTIl é indivisível, mas o PREl ÉRITO e o FUTURO subdividem-se
no MODO INDICATIVO e no CONJUNTIVO, como se vê do seguinte ,esquema: em dois grandes grupos de formas, costumam alguns estudiosos alargar o
.66 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPOR!NEO VERBO .67

conceito de ASPECTO, nele incluindo valores semânticos pertinentes ao por outras perffrases, formadas com ôs auxiliares de movimento (andar) ir}
verbo ou ao contexto. vir, viver, etc.) ou de implicação (continuar, ficar, etc.):
Assim, nestas frases: Ando lendo (ou a ler). Continuo lendo (ou a ler).
Vai lendo. Ficou lendo (ou a .ler).
JOão começou a comer.
João continua a comer.
João acabou de comer. b) Ser / estar:
Ele foi ferido. Ele está ferido.
não há, a bem dizer, uma oposição gramatical de aspecto. É o próprio signi-
ficado dos auxiliares que transmite ao contexto os sentidos INCOATIVO, A oposição ser / estar corresponde a dois tipos de passividade. Ser forma
PERMANSIVO e CONCLUSIVO. a passiva de acção; estar} a passiva de estado.
Dentro dessa lata conceituação, poderíamos distinguir, entre outras,
as seguintes oposições aspectuais: 4. Como vemos, tais oposições baseiam-se fundamentalmente na diver-
sidade de formação das perlfrases verbais.
1. a) ASPECTO PONTUAL / ASPECTO DURATIVO. A oposrçao aspectual De um modo geral, pode-se dizer que as perífrases construídas Com o
caracteriza-se neste caso pela menor ou maior extensão de tempo ocupada PARTIdPIO exprimem o aspecto acabado, concluldo; e as construidas com
pela acção verbal. Assim: o INFINITIVO ou o GERÚNDIO expressam o aspecto inacabado, não concluído.
,Dos seus priucipais valores aspectuais trataremos adiante ao estudarmos
Aspecto pontual Aspecto durativo
os VERBOS AUXILIARES e as FORMAS NOMINAIS do verbo.
Acabo de ler Os Lusíadas. Continuo a ler Os Lusíadas.

•. a) ASPECTO CONTiNuo / ASPECTO DESCONTiNuo. Aqui a oposição Vozes•


aspectual incide sobre o processo de desenvolvimento da acção:
O facto expresso pelo verbo pode ser representado de três formas:
Aspecto contínuo Aspecto descontínuo
a) como praticada pelo sujeito:
Vou lendo Os Lusíadas. Voltei a ler Os Lusladas.
João feriu Pedro.
3· a) ASPECTO INCOATIVO / ASPECTO CONCLUSIVO. O aspecto incoativo Não vejo rosas neste jardim.
exprime um processo considerado em sua fase inicial, o aspecto conclusivo
ou terminativo expressa um processo observado em sua fase final: b) como sqfrido pelo sujeito:
Aspecto incoativo Aspecto conclusivo Pedro foi fcrido por João.
Não se vêem [= são vistas1 rosas neste jardim.
Comecei a ler Os Lusíadas. Acabei de ler Os Lusíadas.
c) como praticada c sofrida pelo sujeito:
.3· São também de natureza aspectual as oposições entre:
João feriu-se.
a) FORMA SIMPLES / PEIÚFRASE DURATIVA: Del-me pressa em sair.
Leio Estou lendo (ou estou a ler)
No primeiro caso, diz-se que o verbo está fia voz ACTIVA; no segundo,
+
A perífrase de estar GERÚNDIO (ou INFINITIVO precedido da pre- na voz PASSIVA; no terceiro, na voz REFLEXIVA.
posição a), que designa o «aspecto do momento rigoroso» (Said Ali), esten- Como se verifica dos exemplos acima, o objecto directo da voz ACTIVA
de-se a todos os modos e tempos do sistema verbal e pode ser substitulda corresponde ao sujeito da voz PASSIVA; e, na VOZ REFLEXIVA, o objecto di-
8 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERDO .69

:to OU indirecto é a mesma pessoa do sujeito. Logo, para que um verbo Formas rizotónicas e arrizotónicas.
mita transformação de voz, é necessário que ele seja TRANSITIVO.
Em certas formas verbais o acento tónico recai no radical. Assim:

Voz passiva. Exprime-se a voz PASSIVA: ando andas anda andam


ande andes ande andem
a) com o VERBO AUXILIAR ser e o PARTIcfPIO do verbo que se quer
ljugar: Em outp.s, o acento tónico recai na terplinação. Assim:

Pedro foi ferido por JoãO. andamos andais andou andar


andemos andeis andava andará
b) com o PRONOME APASSIVADOR se e uma terceira pessoa verbal,
As primeiras damos o nome de FORMAS RIZOTÓNICAS; às segundas,
guIar ou plural, em concordância com o sujeito:
de FORMAS ARRIZOTÓNICAS.
Não se vê [= é vista] uma rosa neste jardim.
Não se vêem [= são vistas] rosas neste jardim.
Classificação do verbo.
Voz reflexiva. Exprime-se a vo z REFLEXIVA juntando-se às formas
bais da voz activa os pronomes oblfquos OIe, te, nos, vos e se (singular e I. Quanto à FLEXÃo, o verbo pode ser REGULAR, IRREGULAR, DEFEC-
tal): TIV.o e ABUNDANTE.
OS REGULARES flexionam-se de acordo com o PARADIGMA, modelo que
Eu feri-me (ou me feri) r= a mim mesmo] representa o tipo comum da conjugação. Tomando-se, por exemplo, cantar,
Tu ferlste-te (ou te feriste) [= a ti mesmo]
Ele feriu-se (ou se feriu) [= a si mesmo] 1Jcnder e partir como paradigmas da I.", 2." e ;." conjugações, verificamos que
Nós ferimo-nos (OU nos ferimos) [= a nós mesmos] todos os verbos regulares da I." conjugação formam os seus tempos como
Vós feristes"v08 (OU vos feristes) [= a vós mesmos] canfar," os da 2.. 8 , como vender,- os da 3'8., como partir.
Eles ferltam-se (OU se feriram) [= a si mesmos] São IRREGULARES os verbos que se afastam do paradigma de sua conju-
gação, como dar, estar, fazer, ser, pedir, ir e vários outros, que no lugar pró-
prio estudaremos.
ervações: VERBOS DEFECTIVOS são aqueles que não têm certas formas, como abolir,
falir e mais alguns de que tratamos adiante. Entre os DEFECTIVOS costumam
I.· Além do verbo serJ há outros auxiliares que, combinados com um par- os gramáticos incluir os UNIPESSOAIS, e especialmente os IMPESSOAIS, usados
ticfpio, podem formar a voz PASSIVA. Estão nesse caso certos verbos que expri-
apenas na ;." pessoa do singular: chover, ventar, etc.
mem estado (utar, andar, viver, etc.), mudança de estado (ficar) e movimento
(ir, vir;: ABUNDANTES são os verbos que possuem duas ou mais formas equiva-
O. homens já estavam tocados pela fé. lentes. De regra, essa abundância ocorre no particlpio. Assinl, o verbo acei-
Ficou atormentado pelo remorso. tar apresenta os particlpios aceitado, aceito e aceite,. o verbo C/ltregar, os parti-
Os pais vinham acompanhados dos IiIhos. cípios entregado e entregue,. o verbo mofar, os particípios H/atado e H/orto.

:.& Nas formas da voz PASSIVA o PARTICfpIO concorda em género e número


:om o sujeito:
2. Quanto à FUNÇÃO, o verbo pode ser PRINCIPAL ou AUXILIAR.
Ele foi ferido. Eles foram feridos. PRINCIPAL é o verbo de significação plena, nuclear de uma oração
Ela foi ferida. Elas foram feridas. Assim:

Estudei português.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNEO
R VERBO
%73
~71.

c) a DESINêNCIA PESSOAL, na 3.· pessoa do singular do presente do indi-


Radical do presente
I.·' conjugação 2.· conjugação 3." conjugação
:ativo (caflla),. na 1." e na 3.· pessoa do singular do imperfeito (cantava),
cant- ·vend- part-
lo mais-que-perfeito (cafltara) e do futuro do pretérito (cantaria) do indica-
ivo; e nestas mesmas pessoas do presente (caflte), do imperfeito (cantasse) cant-ava vend-ia part-ia
: do futuro (cafltar) do conjuntivo, assim como nas do infinitivo pessoal cant-avas vend-ias part-ias
Pretérito
cant-ava vend-ia part-ia
'cafltar), imperfeito do
cant-ávamos vend-famos part-lamos
Mas, salvo no caso em que a falta de DESINêNCIA iguala duas pessoas de indicativo
cant-áveis vend-leis part-leis
1m só tempo, perturbando a clareza, a ausência de qualquer desses elementos cant-avam vend-iam part-iam
lexivos é sempre um sinal particularizante, pois caracteriza a forma lacunosa
leIo seu contraste com as que não o são. Observação:
Fogem à regra acima os verbos ser, ter, vir e pôr, que fazem no IMPBRPErrO
era, tinhoJ vinha e Pllnha, respectivamente.
"ormação dos tempos simples.
z.O) PRESENTE DO CONJUNTIVO. Forma-se do radical da I.· pessoa do
presente do indicativo, substimindo-se a desinência -o pelas flexões próprias
Como artiElcio didático para apreender-se o mecanismo das conjuga-
do presente do conjuntivo: -e, -es, -e, -emos, -eis, -elll, nos verbos da l,a con-
ões; admite-se que o verbo apresente três tempos PRIMITIVOS, sendo os
,utros deles DERIVAnOS. jugação; -oJ -as, -a, -omosJ -ais, -om, nos verbos da 2. a e da 3. a conjugação.
Assim:
São tempos primitivos: o PRESENTE DO INDICATIVO, o PRETÉRITO PER-
EITO DO INDICA'I'IVO e o INFINITIVO IMPESSOAL.
Presente do I." conjugação 2." conjugação 3." conjugação
indicativo
I." pessoa do singular cant-o vend-o part-o
)erivados do presente do indicativo. cant-e vend-a part-a
cant-es vend-as part-as
Do PRESENTE DO INDICATIVO formam-se o IMPERFEITO DO INDICATIVO, P.resente do cant-e vend-a part-a
) PRESEN'I'E DO ~ONJUNTIVO e o IMPERATIVO. conjuntivo cant-emos vend-amos part-amos
1.0) IMPERFEITO DO INDICATIVO. É formado do radical do PRESENTE cant-eis vend-ais part-ais
.crescido: cant-em vend-am part-am

Observação:
o) na 1.& conjugação, das terminações -OVOJ -ovos, -ova, -áVOIIIOS, -áveis,
+
.vafl} (constituídas da vogal temática -a- sufixo temporal -va- desinên- + Dentre todos os verbos da llngua apenas os seguintes não obedecem
ias pessoais); à regra anterior; haver, ser, estar, dar, ir, qllerer e saber, que fazem no presente
do conjuntivo: hqja, seja, estga, dê, váJ q/(eira e saiba.

b) na 3. a conjugação, das terminações -ia, -ias, -io, -IOIIIOS, -leis, -iam 3.°) IMPERATIVO. O imperativo afirmativo só possui formas próprias
constituídas da vogal temática ~i- + sufixo temporal -a- + desinências de z.· pessoa do singUlar e z." pessoa do plural, derivadas das corresponden-
,essoais); tes do presente do indicativo com a supressão do -s final. Assim:

c) na z." conjugação, das mesmas terminações da 3.•, por ter a vogal parte(s)
canta(s) vende(s)
'mática -e- passado a -i- antes de -a-o
Assim, nos verbos contorJ vender e portirJ temos: cantai(s) vendei(s) parti(s)

I'.
.'

..._.. _._-
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
,
I

74 ,I VERBO '75

)bservaçõcs:
I." Exceptua-se O verbo ser, que faz sê (tu) e sede (vós). I,a. conjugação 2.8. conjugação 3." conjugação
2.& Costumam perder o ~e na z.a, pessoa do singular do imperativo afir- Radical do perfeito
mativo os verbos dizer, fazer, trazer e os terminados em -UZir: dize (ou diZ) +
.vogal temática caota- vende- parti-
tu,faze (ou faZ; tu, traze (ou traZ; tu, aduze (ou aduZJ tu, traduze (ou traduZJ tu.

canta-sse vende-sse parti-sse


As outras pessoas do imperativo afirmativo, bem como todas as do
canta-sses vende-sses parti-sses
mperativo negativo, são supridas pelas equivalentes do presente do con- Pretérito canta-sse vende-sse parti-sse
untivo, com o pronome posposto, quando usado. imperfeito do
conjuntivo cantá-ssemos vendê-ssemos partt-sscmos
cantá-sseis vendê-sseis partl-sseis
canta-ssem vende-ssem parti-ssem

)erivadoB do pretérito perfeito do indicativo.

Do tema do PREtÉRITO PERFEITO formam-se os seguintes tempos sim- ~.O) o FUTURO DO CONJUNTIVO, juntaodo-se as terminações (= sufixo
temporal -r- + desinências pessoais): -rJ -res) -r} -rmos) -rde,r) -rem.
,Ies:

1.0) o MAIS-QUE-PERFEITO DO INDICATIVO, juntando-se as terminações Radical do perfeito conjugação 2." conjugação 3." conjugação
,!
1.&
= sufixo temporal -ro- + desinências pessoais): -ra, -ras, -ra, -ramos, -reis,
I
+
vogal temática canta- vende- parti-
ram:
canta-r vende-r parti-r
I." conjugação 2.& conjugação 3," conjugação canta-res vende-res parti-res
Futuro
Radical do perfeito canta-r vende-r parti-r
do
+ canta- vende- parti- conjuntivo canta-rmos vende-rmos parti-rmos
vogal temática
canta-rdes vende-rdes parti-rdes
canta-rem vende-tem parti-rem
canta-ta vende-ra parti-ta '.
canta-tas vende-ras parti-ras
Pretérito canta-ta vende-ra parti-ta
mais-que-perfeito
do indicativo
cantá-ramos vendê-ramos parti-ramos l- Observações:
cantá-reis vendê-reis parti-reis
vende-raro parti-ram I." O TEMA do pretérito perfeito pode ser obtido suprimindo-se a desi-
canta-ram
nência da '." pessoa do singular ou da r." pessoa do plural:
canta(ste) fize(ste) vie(ste) pusc(ste)
caotá(mos) fize(mos) vie(mos) puse(mos)
•• 0) o IMPERFEITO DO CONJUNTIVO, juntaodo-se as terminações (= su- 2..& Embora as suas formas sejam quase sempre idênticas, o futuro do con-
fixo temporal -ssc- + desinências pessoais): -sse, -sses, -sse, -sselJlos, -sseis, juntivo e o infinitivo pessoal têm origem diversa, que deve ser conhecida para
-SSelll: evitar-se a frequente confusão que se estabelece nos poucos verbos em que as
formas são distintas: fizer-fazer; for-ser; sOllber-saber) etc.

...... _-- ---_.' _.--------_. __ ...


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
27 6 VERBO 277

Derivados do infinitivo impessoal. 3.0) O INFINITIVO PESSOAL, com o acréscimo das desinências pessoais:
-es (Z.8 pessoa do singular), -mo!} -des, -em:
Do INFINITIVO IMPESSOAL formam-se os dois FUTUROS SIMPLES do indi-
cativo, o INFINITIVO PESSOAL, o GERÚNDIO e o PARTICíPIO. conjugação 3.& conjugação
I.a conjugação 2.&
Infinito impessoal
1.0) O FUTURO DO PRESENTE, com o simples acréscimo das terminações cantar vender partir
-ti, -ás, -á, -emos, -eis, -ão:
cantar vender partir
I,S. conjugação 2. a conjugação 3.& conjugação cantar-es vender-es partir-es
Infinitivo impessoal cantar vender partir
cantar vender partir Infinitivo pessoal vender-mos partir-mos
cantar-mos
cantar-des vender-des partir-des
cantar-ei vender-ei partir-ei
cantar-em vender-em partir-em
cantar-ás vender-ás partir-ás
cantar-á vender-á partir-á
Futuro do presente
cantar-emas vender-emas partir-emas
cantar-eis vender-els partir-eis 4.0) O GERlÍNDIO forma-se substituindo-se o sufixo -T do infinitivo
cantat-ão vender-ão
I partir-ão
--
pelo sufixo -ndo:

2.°) O FUTURO DO PRETÉRITO, com o acréscimo das terminações -ia, I.a. conjugação 2.& conjugação 3.a conjugação
Infinitivo impessoal
-ias, -ia, -íOIlIOS, -íeis, -iam: canta-r vende-r parti-r

I.a conjugação 2.a. conjugação 3.8 conjugação Gerúndio canta-ndo vende-ndo parti-ndo
Infinitivo impessoal
cantar vender partir

cantar-ia vender-ia partir-ia


cantar-ias vender-ias partir-ias 5.°) O PARTICÍPIO forma-se substituindo-se o sufixo -T do infinitivo
cantar-ia vender-ia partir-ia pelo sufixo -do, sendo de notar que, por influência da vogal temática da 3.",
Futuro do pretérito
cantar-íamos vender-íamos partir-íamos a da 2. a conjugação passou a -i-:
cantar-íeis vender-íeis partir-íeis
cantar-iam vender-iam partir-iam I.a conjugação 2.& conjugação 3.a conjugação
Imfinitivo impessoal
canta-r vende-r parti-r

Observações: Particípio canta-do vendi-do parti-do


1. 3 Não seguem esta regra os verhos dizer) fazer e trazer) cujas formas do
FUTURO DO PRESENTE e DO PRETÉRITO são, respectivamente: direi) diria; farei}
faria; Irarei} traria.
Observação:
2. a O FUTURO DO PRESENTE e o FUTURO DO PRETÉRITO são formados pela
aglutinação do INFINITIVO do verbo principal às formas reduzidas do PRE- I.a. Os verbos dizer) eSÇfever)fazer, ver}põr) abrir) cobrir) vir e seus derivados for-
SENTE e do IMPERFEITO DO INDICATIVO do auxiliar haver: alllar + hei) alIJar +
mam o PARTICÍPIO irregularmente: dito) escrito) jeito, visto, posto) aberto, coberlo,
+ hia (por havia), etc. vindo. Dos derivados exclui-se prover, cujo PARTIcfPIO é provido.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
'8 VERBO
'79
VERBOS AUXILIARES E O SEU EMPREGO para) para exprimir a iminência de um acontecimento, ou o intuito de realizar
a acção expressa pelo verbo principal:
I. Os conjuntos formados de um verbo auxiliar com um verbo princi-
,I chamam-se LOCUÇÕES VERBAIS. Nas LOCUÇÕES VERBAIS conjuga-se ape- O avião está para chegar.
Há dias estou para visitá-lo.
1S o auxiliar, pois o verbo principal vem sempre numa das formas nominais:
) PARTICÍPIO, no GERÚNDIO, ou no INFINITIVO IMPESSOAL.
d) com o INFINITIVO do verbo principal antecedido da preposição
por,. para indicar que uma acção que já deveria ter sido realizada ainda não
2. OS AUXILIARES de uso mais frequente são ter, haver, ser e estar. o foi:

Ter e haver. empregam-se: O trabalho está por terminar.


a) com o PARTICÍPIO do verbo principal, pata formar os tempos com-
DStOS da voz activa, denotadores de um facto acabado, repetido ou con- 3· Além dos quatro verbos estudados, outros há que podem funcio-
nua: nar como aüxiliares. Estão neste caso os verbos ir) vir) andar, ficar) acabar
Tenho feito exercicios. e mais alguns que se ligam ao INFINITIVO do verbo principal para expressar
Havíamos comprado livros. matizes de tempo ou para marcar certos aspectos do desenvolvimento da
acção. Assim:
b) com o INFINITIVO do verbo principal antecedido da preposição
~J para exprimir, respectivamente, a obrigatoriedade ou o firme propósito
Ir emprega-se:
e realizar o facto:
Tenho de fazer exercicios. a) com o GERÚNDIO do verbo principal, para indicar que a acção se
Havemos de comprar livros.
realiza progressivamente ou por etapas sucessivas:
Ser emprega-se com o PARTICÍPIO do verbo principal, para formar os o navio ia encostando ao cais (pouco apouco).
:mpos da voz passiva de acção: Os convidados iam chegando de automóvel (sucessivamente).
Exercícios foram feitos por mim.
Livros serão comprados por nós.
b) com o INFINITIVO do verbo principal, para exprimir o firme propó-
sito de executar a acção, ou a certeza de que ela será realizada em futuro
Estar emprega-se: próximo:
a) com o PARTICÍPIO do verbo principal, para formar tempos da voz
lSsiva de estado: Vou procurar um médico.
O navio vai partir.
Estou arrependido do que fiz.
Estamos impressionados com o facto.
Vir emprega-se:
b) com o GERÚNDIO, ou com o INFINITIVO do verbo principal antece-
ido da preposição a, para indicar uma acção durativa, continuada: a) com o GERÚNDIO do verbo principal, para indicar que a acção
Estava ouvindo música. se desenvolve gradualmente (compare-se a construção similar com ir):
Estava a ouvir música.
Vinha rompendo a madrugada.
Venho tratando desse assunto.
c) com o INFINITIVO do verbo principal antecedido da preposição
lERDO 281 280 DREVE GRAMÁTICA DO POR'rUGUÊS CONTEMPORÂNEO

Compare-se à construção paralela com estar,' b) com O INFINITIVO do verbo principal, para indicar movimento em
direcção a determinado fim ou intenção de realizar um acto:
o trabalho está por terminar.
V cio fazer compras.
Acabar emprega-se com o INFINITIVO do verbo principal antecedido Vieste interromper-me o trabalho.
:Ia preposição de, para indicar uma acção recém-concluída:
c) com o INFINITIVO do verbo principal antecedido da preposição fi,
o avião acabou de aterrar. para expressar o resultado final da acção:
)bservação: Vim a saber dessas coisas muito tarde,
Veio a dar com os burros nágua.
A construção de e/lnr (ou alldar)+ gerúndio, preferida no Brasil, é a mais
antiga no idioma. Na lingua modern..'1. de Portugal predomina a construção,
d) com o INFINITIVO do verbo principal antecedido da preposição de,
de sentido idêntico, formada de estar (ou olldor)+ preposição 0+ infinitivo:
para indicar o término recente da acção:
Estou a ler o Quixote.
Andava a escrever um romance. Viemos de tratar desse assunto.
Vinha de chegar de Avciro.
CONJUGAÇÃO DOS VERBOS TER, HAVER, SER E ESTAR
MODO INDICATIVO Esta última construção, que desde o século passado se documenta em
bons escritores do idioma, tem sido condenada por alguns gramáticos como
galicismo.
Presente
tenho hei sou estou Andar, à semelhança de c.rlar, emprega-se com o GERÚNDIO, ou com o
tens hás és estás
tem há é está
INFINITIVO do verbo principal antecedido da preposição PJ para indicar uma
temos havemos somos estamos acção durativa, continuada:
tendes haveis sois estais
têm hão são estão Ando lendo os clássicos.
Ando a ler os clássicos.
Pretérito imperfeito
Ficar, além de se juntar ao PAR1'ICÍPIO para formar a voz passiva deno-
tinba havia era estava tadora de mudança de estado (fieoll !IIolhado), emprega-se:
tinhas havias eras estavas
tinha havia era estava a) com o GERÓNDIO, ou com o INFINITIVO do verbo principal antece-
tínhamos havíamos éramos estávamos dido da preposição a) para indicar uma acção durativa costumeira, ou mais
tlnhcis havíeis éreis estáveis longa do que a expressa por estar,. comparem-se:
tinham haviam eram estavam
Ficava cantando Ficava a cantar
Pretérito perfeito Estava cantando Estava a cantar

tive houve fui estive b) com o INFINITIVO do verbo principal antecedido da preposição por,
tiveste houveste foste estiveste
teve houve foi esteve para indicar que uma acçÃo que deveria ter sido realizada não o foi:
tivemos houvemos fomos estivemos
tivestes houvestes fostes estivestes O trabalho ficou por terminar.
tiveram houveram foram estiveram
B. BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
VERDO .M3

Pretérito mais-que-perfeito
Futuro
tivera houvera fora estivera tiver houver for estiver
tiveras houveras foras estiveras tiveres houveres fores estiveres
tivera houvera fora estivera tiver houver for estiver
tivéramos houvéramos fôramos estivéramos tivermos houvermos formos estivermos
tivéreis houvéreis fôreis estivéreis tiverdes houverdes fordes estiverdes
tiveram houveram foram estiveram tiverem houverem forem estiverem

terei
Futuro do presente
haverei serei estarei
• MODO IMPERATIVO

I
terás haverás serás estarás Afirmativo
terá haverá será estará tem (desusado) sê está
teremos haveremos seremos estaremos tenha haja seja esteja
tereis havereis sereis estareis tenhamos hajamos sejamos estejamos
terão haverão serão estarão tende havei sede estai
tenham hajam sejam estejam
Futuro do pretérito
Negativo
teria haveria seria estaria
terias haverias serias estarias não tenhas não sejas
teria haveria seria estaria não tenha não seja
teriamos haveríamos seríamos estariamos não tenhamos não sejamos
terieis haverieis seríeis estaríeis não tenhais não sejais
teriam haveriam seriam estariam não tenham não sejam

não hajas não estejas

MODO CONJUNTIVO

Presente
•• não haja
não hajamos
não hajais
não hajam
não
não
não
não
esteja
estejamos
estejais
estejam

tenha haja seja esteja


tenhas hajas sejas estejas
tenha haja seja esteja
I FORMAS NOMINAIS
tenhamos hajamos sejamos estejamos
tenhais hajais sejais estejais Infinitivo impessoal
tenham hajam sejam estejam
ter haver ser estar

Pretérito imperfeito
Infinitivo pessoal
tivesse houvesse fosse estivesse
tivesses houvesses fosses estivesses ter haver ser estar
tivesse houvesse fosse estivesse teres haveres seres estares
tivéssemos houvéssemos fôssemos estivéssemos ter haver ser estar
tivésseis houvésseis fôsseis estivésseis termos havermos sermos estarmos
tivessem houvessem fossem estivessem terdes haverdes serdes estardes
terem haverem serem estarem
84 DREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO I I, VERDO .85

Gerúndio 3.°) FUTURO DO PRESENTE COMPOSTO. Formado do FUTURO DO PRE-


tendo havendo sendo estando i SENTE SIMPLES do verbo ter (ou haver) com o PARTICÍPIO do verbo principal:

terei cantado terei vendido terei partido


Particípio terás cantado terás vendido terás partido
tido havido sido estado r, terá cantado terá vendido terá partido
teremos cantado teremos vendido teremos partido
I tereis cantado tereis vendido tereis partido

[ terão cantado terão vendido terão partido

ormação dos tempos compostos.


I. 4.°) . FUTURO DO PRETÉRITO COMPOSTO. Formado do FUTURO DO PRE-
Entre os TEMPOS COMPOSTOS da voz activa merecem realce particular
ueles que são constituídos de formas do ycrbo ler (ou, mais raramente,
ver) com o PARTICíPIO do verbo que se quer conjugar, porque é costume
iI TÉRITO SIMPLES do verbo ter (ou haver) com o PARTICÍPIO do verbo principal:

teria cantado
terias cantado
teria vendido
terias vendido
teria partido
terias partido
:luÍ-los nos próprios paradigmas de conjugação.
teria cantado teria vendido teria partido
teríamos cantado teríamos vendido teriamos partido
tcrieis cantado teríeis vendido teríeis partido
Eis os tempos em causa: teriam. cantado teriam vendido teriam partido

MODO INDICATIVO
0
1. ) Pormado do PRESENTE
PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO. DO INDI-
MODO CONJUNTIVO
.TIVO do verbo ter com o PARTICÍPIO do verbo principal:
1.0) PRETÉRITO PERFEITO. Formado do PRESENTE do CONJUNTIVO do
tenho cantado tenho vendido tenho partido verbo ter (ou haver) com o PARTICÍPIO do verbo principal:
tens cantado tens vendido tens partido
tem cantado tem vendido tem partido tenha cantado tenha vendido tenha partido
temos cantado temos vendido temos partido tenhas cantado tenhas vendido tenhas partido
tendes cantado tendes vendido tendes partido tenha partido
tenha cantado tenha vendido
têm cantado têm vendido têm pa:rtido tenhamos partido
tenhamos cantado tenhamos vendido
tenhais cantado tenhais vendido tenhais partido
tenham cantado tenham vendido tenham partido
2.°) PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO COMPOSTO. Formado do IMPER-
TO DO INDICATIVO do verbo ter (ou haveI') com o PARTICÍPIO do verbo
ncipal: 2.°) PRETÉRtrO MAIS-QUE-PERFEITO. Formado do IMPERFEITO DO CON-
JUNTIVO do verbo ter (ou haver) com o PARTICÍPIO do verbo principal:
tinha cantado tinha vendido tinha partido
tinhas cantado tinhas vendido tinhas partido
tinha cantado tivesse cantado tivesse vendido tivesse partido
tinha vendido tinha partido
tfnhamos cantado tivesses cantado tivesses vendido tivesses partido
tínhamos vendido tlnhamos partido
tlnhcis cantado tivesse cantado tivesse vendido tivesse partido
tInheis vendido tinheis partido
tinham cantado tivéssemos c.'lntado tivéssemos vendido tivéssemos partido
tinham vendido tinham partido
tivésseis cantado tivésseis vendido tivésseis partido
tivessem cantado tivessem vendido tivessem partido
286 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERDO 28 7

3.0) FUTURO COMPOSTO. Formado do FUTURO SIMPLES DO CONJUN- CONJUGAÇÃO DOS VERSOS REGULARES
TIVO do verbo ter (ou haver) com o PARTIcíPIO do verbo principal:
Como dissemos, são REGULARES os verbos que se flexionam de acordo
com o PARADIGMA da sua conjugação. Assim, tomando os verbos cantar,
tiver cantado tiver vendido tiver partido
tiveres cantado tiveres vendido tiveres partido vender e partir como paradigmas, respectivamente, da La, Z,a e 3.& conjuga-
tiver cantado tiver vendido tiver partido ções, verificamos que todos os verbos regulares da I.a. conjugação formam os
tivermos cantado tivermos vendido tivermos partido seus tempos pelo modelo de cantar; os da 2.", pelo de vel/der; os da 3.", pelo
tiverdes cantado tiverdes vendido tiverdes partido de partir.
tiverem cantado tiverem vendido tiverem partido

CONJUGAÇÃO DA VOZ PASSIVA


FORMAS NOMINAIS
Modelo: ser IOllvado
L0) INFINITIVO IMPESSOAL COMPOSTO (PRETÉRITO IMPESSOAL). For-
mado do INFINITIVO IMPESSOAL do verbo ter (ou haver) com o PARTIcíPIO MODO INDICATIVO
do verbo principal:
Presente Pretérito imperfeito
ter cantado ter vendido ter partido
sou louvado (-a) era louvado (-a)
és louvado (-a) eras louvado (-a)
é louvado (-a) era louvado (-<»
somos louvados (-as) éramos louvados (-as)
2.0) INFINITIVO PESSOAL COMPOSTO (ou PRETÉRITO PESSOAL). Formado ;ois louvados (-as) éreis louvados (-as)
do INFINITIVO PESSOAL do verbo ter (ou haver) com o PARTIcíPIO do verbo são louvados (-as) eram louvados (-as)
principal:
Pretérito perfeito (simples) Pretérito perfeito (composto)
ter cantado ter vendido ter partido
tet:es cantado teres vendido teres partido fui louvado (-a) tenho sido louvado (-a)
ter cantado ter vendido ter partido foste louvado (-a) tens sido louvado (-a)
termos cantado termos vendido termos partido foi louvado (-a) tem sido louvado (-a)
terdes cantado terdes vendido terdes partido fomos louvados (-as) temos sido louvados (-as)
terem cantado terem vendido terem partido fostes louvados (-as) tendes sido louvados (-as)
foram louvados (-as) têm sido louvados (-as)

3.°) GERIÍNDIO COMPOSTO (PRETÉRITO). Formado do GERÚNDIO do Pretérito mais-que-perfeito Pretérito mais-que-perfcito
(simples) (composto)
verbo ter (011 haver) com o PARTIcíPIO do verbo principal.
fora louvado (-a) tinha sido louvado (-a)
foras louvado (-a) tinhas sido louvado (-a)
tendo cantado tendo vendido tendo partido fora louvado (-a) tinha sido louvado (-a)
fôramos louvados (-as) tinhamos sido louvados (-as)
fôreis louvados (-as) tlnhcis sido louvados (-as)
foram louvados (-as) tinham sido louvados (-as)
288 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO 28 9
1:
Futuro do presente (simples) Futuro do presente (composto)
1
serei louvado (-a)
serás louvado (-a)
será louvado (-a)
terei sido louvado (-a)
terás sido louvado (-a)
terá sido louvado (-a)
I1 FORMAS NOMINAIS

seremos louvados (-as) teremos sido louvados (-as) I


sereis louvados (-as) tereis sido louvados (-as) Infinitivo impessoal presente Infinitivo impessoal pretérito
serão louvados (-as) terão sido louvados (-as)
J'
I ser louvado (-a) ter sido louvado (-a)
Futuro do pretérito (simples) Futuro do pretérito (composto) Infinitivo pessoal presente Infinitivo pessoal pretérito
seria louvado (-a) teria sido louvado (-a) ser louvado (-a) ter sido louvado (-a)
serias louvado (-a) terias sido louvado (-a) seres louvado (-a) teres sido louvado (-a)
;
seria louvado (-a) teria sido louvado (-a) ser louvado (-a) ter sido louvado (-a)
seriamos louvados (-as)
sedeis louvados (-as)
seriam louvados (-as)
teríamos sido louvados (-as)
teríeis sido louvados (-as)
teriam sido louvados (-as)
'~i
;;
;1
sermos louvados (-as)
serdes louvados (-as)
termos sido louvados (-as)
terdes sido louvados (-as)
·'1
serem louvados (-as) terem sido louvados (-as)
:'1
li Gerúndio presente Gerúndio pretérito
MODO CONJUNTIVO sendo louvado C-a, -os, -as) tendo sido louvado (-a, -os, -as)

Participio
Presente Pretérito imperfeito louvado (-a, -os, -as)
seja louvado (-a) fosse louvado (-a)
sejas louvado (-a) fosses louvado (-a)
seja louvado (-a) fosse louvado (-a)
sejamos louvados (-as) fôssemos louvados (-as) Observações:
sejais louvados (-as) fôsseis louvados (-as)
I.a Só há uma forma simples na voz passiva, que é o PARTICÍPIO. Colo-
sejam louvados (-as) fôssem louvados (-as)
camos, no entanto, entre parênteses, as designações SIMPLES e COMPOSTO
para lembrar a correspondência das formas assim. nomeadas com as da voz
Pretérito perfeito Pretérito mais-que-perfcito activa que apresentam semelhante oposição.
tenha sido louvado (-a) tivesse sido louvado (-a) z.a Na voz passiva não se usa o IMPERATIVO.
tenhas sido louvado (-a) tivesses sido louvado C-a)
tenha sido louvado (-a) tivesse sido louvado (-a)
tenhamos sido louvados (-as) tivéssemos sido louvados (-as)
tenhais sido louvados (-as) tivésseis sido louvados (-as) Verbo reflexivo e verbo pronominal.
tenham sido louvados (-as) tivessem sido louvados (-as)
I. Muitos verbos são conjugados com pronomes átonos, à semelhança
Futuro (simples) Futuro (composto) dos reflexivos, sem que tenham exactamente o seu sentido. São os chama-
for louvado (-a) tiver sido louvado (-a) dos VERBOS PRONOMINAIS, de que podemos distinguir dois tipos:
fores louvado (-a) tiveres sido louvado (-a)
for louvado (-a) tiver sido louvado (-a) a) os que só se usam na forma pronominal, como:
formos louvados (-as) tivermos sido louvados (-as)
fordes louvados (-as) tiverdes sido louvados (-as) apiedar-se queixar-se
forem . louvados (-as) tiverem sido louvados (-as) condoer-se suicidar-sc
'9° BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
'i VERBO
'9'
b) OS que se usam também na forma simples, mas esta difere ou pelo
i tuando-se a anomalia que apontámos na conjugação dos verbos dar, estar,
sentido ou pela construção da forma pronominal, como, por exemplo: baver, querer, saber, ser e ir, a irregularidade dos demais é sempre constante
na forma de cada um dos grupos:
debater [~discutir] enganar alguém 1
debater-se [ ~ agitar-se] enganar-se com alguém I
1.° grupo 2.° grupo 3.° grupo
.1
2. Distingue-se, na prática, o verbo reflexivo do verbo pronominal Preso do indicativo Pretérito perfeito do indicativo Futuro do presente
porque ao primeiro se podem acrescentar;t conforme a pessoa, as expressões Preso do conjuntivo Preto mais-que-perf. do indicativo Futuro do pretérito
Imperativo Pretérito imperfeito do conjuntivo
tI mim fI/CSnJO, a ti II/CStllO, tI si mcsmo, etc. Quando o reflexivo tem valor reci-
i Futuro do conjuntivo
proco, as expressões reforçativas passam a ser um aO outro, reciprocamente,
IlJUtUtlflJentc, etc.
I,.
i' Atentando-se, pois, nas formas do PRESENTE, do PRE'I'ÉRITO PERFEITO e do
'11
FUTURO DO PRESENTE do MODO INDICATIVO, sabe-se se um verbo é ou não

Conjugação de um verbo reflexivo. I


r
irregular e, também, como conjugá-lo nos tempos de cada um dos três grupos.

Pareceu-nos desnecessário darmos o modelo da conjugação de um Irregularidade verbal e discordância gráfica.


verbo reflexivo, porque o pronome átono que os acompanha se coloca de
acordo com as normas que indicamos no Capitulo lI. Note-se apenas que, É necessário não confundir irregularidade verbal com certas discordân-
quando o pronome vem enclitico a uma forma verbal da r." pessoa do plu- cias gráficas que aparecem em formas do mesmo verbo e que visam apenas
ral, esta perde o -s: a indicar-lhes a uniformidade de pronúncia dentro das convenções do nosso
sistema de escrita. Assim:
lavamo-nos lavemo-nos.
a) os verbos da L" conjugação cujos radicais terminem em -c, -ç, e -g
mudam estas letras, respectivamente, em -q/l, -c e -gu sempre que se lhes
CONJUGAÇÃO DOS VERBOS IRREGULARES segue um -e:
ficar -fiquei justiçar - justicei cbegar - cheguei
Irregularidade verbal.
b) os verbos da z.a e da 3." conjugação cujos radicais terminem em
I. A irregularidade de um verbo pode estar na flexão ou no radical -c, -g e -gu mudam tais letras, respectivamente, em -ç, -j e -g sempre que se
Se examinarmos, por exemplo, a La pessoa do PRESENTE DO INDICATIVO lhes segue um -o ou um -a:
dos verbos dar e medir, verificamos que:
a) a forma dou não recebe a desinência normal -o da referida pessoa; vencer - venço - ve/lça ressarcir - ressarço - ressarção
b) a forma meço apresenta o radical "/Cç-, distinto do radical II/Cd-, que lal1ger - tanjo - ta/!ia restringir - restrinjo - restrinja
aparece no INFINITIVO e em outras formas do verbo: med-ir) med-es, mod-i, ergller - 'rgo - erga exti/lguir - extillgo -:- extillga
med-ira, etc.
São, como vemos, simples acomodações gráficas, que não implicam
2. Num verbo irregular pode haver determinadas formas perfeita- irregularidade do verbo.
mente regulares: dtIUd, davas, dava, dávamos, dovcis, dava1JJ; !I,cdia, medias, media,
IIJedíalllOs, fJJedíeis, mediam. VERBOS COM ALTERNÂNCIA VOCÁLICA

3· Para mais fácil conhecimento dos verbos irregulares, convém ter Muitos verbos da lingua portuguesa apresentam diferenças de timbIe
em mente o que dissemos sobre a formação dos tempos simples. Excep- na vogal do radical conforme nele recaia ou não o acento tónico. Estas dife-
BREVE GRAMÁnCA DO PORTUG~ CONTEMPORÂNEO VERBO Z9l
Z9 Z

tenças não são exactamente as mesmas na variante europeia e na variante I." Conjugação
brasileira da língua portuguesa, devido sobretudo ao fenómeno da redução Modelo: levar e lograr
das vogais em silaba átona, a que nos referimos no capítulo sobre Fonética
e Fonologia. Assim, às formas levamos e levais - com [a] fechado no portu- Indicativo Conjuntivo Imperativo
guês normal de Portugal e com [e] semi-fechado no português do Brasil- presente presente Afirmativo Negativo
contrapõem-se I,vo, levas, leva e levam, com e semi-aberto [o]; às formas rogamos
e rogais -com [u] no português de Portugal e com [o] semi-fechado no por- levo leve
tuguês do Brasil- opõem-se rogo, rogas, roga e rogam, com [:>] semi-aberto. levas leves leva não leves
leva leve leve não: leve
As vezes a alternância vocálica observa-se nas próprias formas rizotónicas. não levemos
levamos levemos levemos
Por exemplo: slIbo, em contraste com sobes, sobe e sobem; firo, em oposição a levais leveis levai não leveis
(eres, fere e ferem. levam levem levem não levem
Por sofrerem tais mutações vocálicas no radical, esses verbos, ou melhor,
logro logre
os pertencentes à ;." conjugação, vêm de regra incluídos no elenco dos logres logra não logres
logras
VERBOS IRREGULARES. Cumpre ponderar, no entanto, que essas alternâncias logre logre não logre
logra
são características do idioma; os verbos que as apresentam não formam logramos logremos logremos não logremos
excepções, mas a norma dentro da nossa complexa morfologia. lograis logreis lograi não logreis
Uma palavra deve ainda ser dita com referência aos verbos de qualquer logram logrem logrem não logrem
conjugação que têm no radical a vogal a.
No português do Brasil não se observa nenhuma alternância na referida Verificamos que, no primeiro, à vogal fechada [a] do português normal
vogal, que apresenta o mesmo timbre aberto nas formas rizotónicas e arri- de Portugal e à semifechada [e] do português normal do Brasil, que apare-
zotónicas, embora nestas últimas, naturalmente, ela se articule com menos cem na 1.' e z.a pessoas do plural, corresponde a semi-aberta [o] na I.a,
intensidade. Assim: lavo, lavas, lava, lavamos, lavais, lavaR'," lave, laves, lave,
z.a e 3." pessoas do singular e na ;.' do plural. No segundo, há uma muta-
lavemos, laveis, lavem (sempre com o a tónico ou pretónico aberto).
ção semelhante: à vogal fechada [u] do português normal de Portugal e à
No português de Portugal, porém, a vogal radical a, sujeita nas formas
semi-fechada [o] do português normal do Brasil, existentes nas formas arri-
arrizotónicas ao fenómeno da redução vocálica, apresenta, regularmente, o
timbre ["'l Temos assim: lavo, lavas, lava, lavam; lave, laves, lave, lavem (com zotónicas, corresponde a semi-aberta [:>] nas formas rizotónicas.
o tónico aberto [al), mas lavamos, lavais; lavemos, laveis; lavai (com a pretónico
semifechado [",l). Observações:
Quando a vogal radical é a nasal [ii], grafada an ou O/JI, não se regista qual-
quer alternância nem no português do Brasil nem no de Portugal, pois a I." Seguem o modelo de levar os verbos da 1.' conjugação que têm e grá-
vogal é sempre semi-fechada, como se disse no Capítulo ;. Assim: canto, fico no radical, a menos que esta vogal:
a) faça parte do ditongo escrito ei - e pronunciado [ej] no português do
callte, calltamos, calltemos, etc. (sempre com [iil).
Brasil e [o:j] no português normal de Portugal-, como em cheirar, por exemN
Feitas essas considerações, examinemos os principais tipos de alter-
pIo: cheiro, cheiras, cheira, etc. (sempre com [e] ou [0:]);
nância vocálica dos verbos em que existem formas rizotónicas: o PRESENTE
b) esteja seguida de consoante nasal articulada ([m], [n] ou Ijl]): r""o, relIJas,
DO INDICATIVO, o PRESENTE DO CONJUNTIVO, o IMPERATIVO AFIRMATIVO e
rema, etc.; ordeJJo, ordenas, orde/la, etc.; empenho, eUJpmhas, eflJPeJJha, etc. (no por-
o IMPERATIVO NEGATIVO. tuguês do'Brasil sempre com [e]; no português de Portugal, com [e] ou ["']
antes de [p] nas formas rizotónicas, e com [;)] fl..'\S arrizotónicas);
c) venha seguida de consoante palatal (U], brou [Ã]): fecho, fechos, fecha,
etc.; desçjo, desejas, desçja, etc.; aparelho, aparelhas, aparelha, etc. (no português
do Brasil sempre com [e]; no português normal de Portugal, com ["'] ou
[e] nas formas rizotônicas, e com [~] nas arrizotónicas).
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO
294 '95

Apenas os verbos invejar, e1JJbrechar, frechar e vexar, dentre Os em que ao e se Verificamos que:
segue uma consoante palatal, apresentam a vogal [e] nas formas rizotórucas.
2.a Embora não se enquadre em nenhuma das excepções apontadas, o verbo
a) no PRESENTE DO INDICATIVO, as formas rizotónicas apresentam uma
chrgar (c seus derivados, como achegar, conchegar, etc.) conserva a vogal semi- alternância da vogal semi-fechada [e] e [o] da r. a pessoa do singular com a
-fechad1. [e] em todas as formas rizotónicas. vogal semi-aberta [e] e [~] da z.a e 3. 8 pessoas do singular e da 3. a do plural;
3'8. Seguem o modelo de lograr os verbos da 1. a conjugação que têm o grá- nas formas arrizotónicas observa-se a distinção 'entre as vogais átonas fecha-
fico no radical, salvo nos casos em que esta vogal: das [o] e [u] do português de Portugal e as semi-fechadas [e] e [o] do por-
a) faz parte do ditongo oi (seguido de consoante) e do antigo ditongo ou: tu gnês do Brasil.
pernoito, pernoitas, pernoita, etc.; douro, douras, dOJlftJ, etc. (sempre com [o]);
b) antecede consoante nasal articulada ([mJ), [n], [pJ): tomo, tomas, toma, b) no PRESENTE DO CONJUNTIVO, O português do Brasil mantém em
etc.; /cccioJlo, leccionas, Jecciona, etc.; sonho, sonhas, sonha, etc. (no português do todas as formas a vogal [e] ou [o], conservada no português de Portugal
Brasil sempre com [o]; no português de Portugal, com [o] nas formas rizo- somente nas formas rizotônicas, pois nas arrizotónicas se dá a redução nor-
tônicas e com [u] nas arrizotônicas); mal a [o] ou. lu].
c) pertence a verbos terminados em -oor) como Voar: voa) voas) voa) etc. (tanto
c) no a 2. a pessoa do singular, em corres-
IMPERATIVO AFIRMATIVO,
no português do Brasil como no de Portugal, com [o] nas formas rizotónicas
e com [u] nas arrizotónicas). pondência com a do PRESENTE DO INDICATIVO, tem a vogal semi-aberta
4. a Os verbos que apresentam no radical e [e] ou o [õ] nasal conservam [elou [~]; no português do Brasil, a 2. a pessoa do plural, forma arrizotónica,
estas vogais em todas as formas: tento) tentas) tenta; tentava, tentavas) tentava) e as formas derivadas do PRESENTE DO CONJUNTIVO (3." do singular, 1.8 e
etc.; conto, contas, conta,. contava, contavas, contava) etc. 3. a do plural e todas as pessoas do IMPERATIVO NEGATIVO) conservam a vogal
semi-fechada [e] ou [o] deste tempo; no português de Portugal, as formas ~
rizotónicas derivadas do PRESENTE DO CONJUNTIVO mantêm a vogal semi-
2." Conjugação fechada [e] ou [o], mas as formas arrizotónicas apresentam a redução a [o]
Modelos: dever e 1//0ver ou lu].

Imperativo
Indicativo Conjuntivo Observações:
presente presente Afirmativo Negativo
La Seguem o modelo de dever os verbos da z.a conjugação que têm
e gráfico no radical, com excepção:
devo deva
a) do verbo querer, cujo PRESENTE DO CONJUNTIVO é irregular (q/leira, queiras,
deves devas deve não devas
queira; queiramos, qlleirais, qlleiram) e que, no PRESENTE DO INDICATIVO, apre-
deve deva deva não deva senta todas as formas rizotónicas com e semi-aberto [e]: quero, queres, q/ler,
devemos devamos devamos não devamos querem.
deveis devais devei não devais b) no português do Brasil, dos verbos em que o e antecede uma consoante
devem devam devam não devam nasal, como temer: temo, tell/es, teme; temia, tell/ias, temia; temi, temeste, temell/,
etc. (sempre com [e]); no português de Portugal estes verbos seguem o mo-
delo de dever.
mqvo mova z.a. Seguem o modelo de mover os verbos da z.a. conjugação que têm
moves movas move não movas o gráfico no radical, com excepção:
move mova mova não mova a) do verbo poder, em que a vogal semi-aberta [o] aparece também na L"
pessoa do singular do PRESENTE DO INDICATIVO e, consequcntemente, em
movemos movamos movamos não movamOs
todas as formas rizotónicas do PRESENTE DO CONJUNTIVO: posso, podes, pode)
moveis movais movei não movais podem j possa, possas, possa, possam j
movem movam movam não movam b) no português do Brasil, dos verbos em que o o antecede consoante nasal,
- - -----
a exemplo de comer: como, comes, conu," cOlllia) comias, comia, etc. (sempre com
VERBO
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO 297
29 6
[i] ou lu], conforme o caso;
[o]); no português normal de Portugal estes verbos seguem o modelo de
IIJotJer.
Note-se que em algumas regiões do Brasil os verbos em que o o do radical c) no IMPERATIVO AFIRMATIVO, a 2..& pessoa do singular, em corres-
antecede consoante nasal seguem também o modelo de mover. pondência com a do PRESENTE DO INDICATIVO, tem a vogal [o] ou [o]; a
2.& do plural, em consonância com a do PRESENTE DO INDICATIVO, apresenta
3.a Os verbos que apresentam no radical e [ê] ou o lõ] nasal conservam estas
vogais em todas as formas: encho, enches, enche,. enchia, encbias, enchia, etc.; rompo,
a vogal [íl] ou lu], no português de Portugal, e [e/i] ou [o/u], no português
rompes, rompe; rompia, romPias, rall/pia, etc. do Brasil; as formas derivadas do PRESENTE DO CONJUNTIVO (3. 8 do singular,
1.' e 3. a do plural e todas as pessoas do IMPERATIVO NEGATIVO) conservam
a vogal [i] ou [u] deste tempo. .
3.' Conjugação
Modelos: servir e dormir Observ'1ções:

Imperativo La. Seguem o modelo de servir os verbos da 3.a. conjugação que têm e grá-
Indicativo Conjuntivo fico no INFINITIVO. Assim:
presente presente Afirmativo Negativo
aderir conferir digerir ingerir repelir
advertir convergir discernir inserir repetir
sirvo sirva aferir deferir divergir preferir seguir
serves sirvas serve não sirvas compelir desferir ferir referi! sugerir
serve sirva sirva não sirva competir despir inferir reflectir vestir
servimos sirvamos sirvamos não sirvamos
servis sirvaís servi não sirvais
não sin_rn e também mentir e sentir. Exceptuam-se, no entanto:
servem sirvam sirvam

a) os verbos medir, pedir, despedir e impedir, que apresentam e semi-aberto [e]


durmo durma em todas as formas rizotónicas do PRESENTE DO INDICATIVO e, por conse-
dormes durmas dorme não durmas
não durma guinte, nas do PRESENTE DO CONJUNTIVO e dos IMPERATIVOS AFIRMATIVO
dorme durma durma
durmamos não durmamos e NEGATIVO: lIIeço, Rudes, mede, medem j Rleça, meças, meça, mefam j peço, pedes,
dormimos durmamos pede, pedem,. peça, pefas, pefa, peçam, etc.
dormis durmais dormi não durmais
dormem durmam durmam não durmam b) os verbos agredir, denegrir, prevenir, progredir, regredir e transgredir, que apre-
sentam [i] nas quatro formas rizotónicas do PRESENTE DO INDICATIVO, em todo
o PRESENTE DO CONJUNTIVO e nas formas dos IMPERATIVOS AFIRMATIVO e
Notamos que, nesses verbos, as vogais do radical alternam de modo ainda NEGATIVO dele derivadas:

mais sensível. Assim:

a) "no pRESEN'I'E DO INDICA'fIVO, as formas rizotónicas apresentam uma Indicativo


presente
Conjuntivo
presente
I Imperativo

altcrnância da vogal fechada [i] ou [u] da 1.' pessoa do singular com a vogal Afirmativo Negativo
semi-aberta [o] ou [o] da 2. a e 3. a pessoas do singular e da 3.' do plural;
nas formas arrizotónicas observa-se a redução vocálica normal a [íl] ou [u] agrido agrida
no português europeu e uma oscilação entre [e/i] ou [o/u] no português do agrides agridas agride não agridas
Brasil, com predominância da vogal fechada [i] ou [u] por influência assi- agride agrida agrida não agrida
agredimos agridamos agridamos não agridamos
milatória da vogal tónica; agrcdis agridais agredi não agridais
agridem agridam agridam não agridam
b) no PRESENTE DO CONJUNTIVO, derivado da 1.' pessoa do PRESENTE
DO INDICATIVO, mantêm-se em todas as formas as vogais daquela pessoa,
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO 299
19 8

2.a. Seguem o modelo de dormir. os verbos da 3.80 conjugação que têm o trl/ir ou constróis, construi .ou constrói, construem ou cOIJSfroelll, etc. Os outros deri-
gráfico nO INFINITIVO: tossir, engolir, cobrir (e seus derivados, como descobrir, vados do latim strl/erc, como instrl/ir e obstruir, só conhecem a conjugação
regular: instruo, instruis, instrui, instrl/em," cbstruo, obstruis, obsirtli, obs/I'lfelll.
ellcobrir e recobrir). Exceptuam-se, porém:
o) os verbos em que o o corresponde ao antigo ditongo [ow], caso em que se 3. a Não apresentam alternância vocálica, isto é, conservam o [u] do radical
conserva como [o] em toda a conjugação: oUfo, OllVeJ, otlVe, etc.; em toda a conjugação, entre outros menos usuais, os verbos:
b) os verbos polir e sortir, que apresentam [u] nas formas rizotónicas, formas, aludir curtir influir resumir
aliás, de pouco uso: Plllo, pules, pule, pulem; surto, surtes, surte, surtem. assumir iludir presumir urdir

e seus derivados.
Modelos: frigir e acudir
Pelo modelo de influir conjugam-se os demais verbos terminados em -lIir:
Imperativo ol1l1ir, arguir, atribuir, constituir, destituir, diluir, diminuir, estatuir, ilJJbuir, insti-
Indicativo Conjuntivo
tuir, restituir, redarglJir e rllir.
presente presente Afirmativo Negativo
4. a Os verbos aspergir e subl1Jergir têm e semifcchado [e] na La pessoa do sin-
gular do PRESENTE DO INDICATIVO e, consequentemente, em todo o PRESENTE
frijo frija
não frijas DO CONJUNTIVO. Na 2. a e 3.& pessoas do singular e na 3.8. do plural, a exemplo
freges frijas frege
frija não frija de servir, apresentam e semi-aberto [E].
frege frija
frigimos frijamos frijamos não frijamos
frigis frijais frigi não frijais
fregem frijam frijam não frijam
OUTROS TIPOS DE IRREGULARIDADE
acudo acuda
acodes acudas acode não acudas
não acuda
I.a Conjugação
acode acuda acuda
acudimos acudamos acudamos não acudamos
acudis acudais acudi não acudais Embora seja a mais rica em número de verbos, a La conjugação é a
acodem acudam acudam não acudam mais pobre em número de verbos irregulares. Além de estar, cuja conjuga-
ção cstudámos, há apenas os seguintes:
Vemos que, embora tenham [i] e [u] no radical, os verbos frigir e acudir
I. Dar
se comportam como se fossem verbos com e e o gráficos no INFINITIVO,
conjugando-se nos quatro tempos mencionados pelos modelos de servir e
Apresenta irregularidades nestes tempos:
dormir.
MODO INDICATIVO

Observações:
Presente Pretérito perfeito Pretérito
La Seguem o modelo de acudir os seguintes verbos: mais-quc-perfeito
bulir cuspir fugir subir
consumir escapulir sacudir sumir dou dei dera
dás deste deras
Na língua corrente é também esta a conjugação dos verbos entlpir e dá deu dera
desm/llpir, que num registo mais culto apresentam, por vezes, as formas regu- damos demos déramos
lares eIJ/JlPO, entupes, entupe, elltupemj desentupo, desentnjJes, desentupe, desentupenJ. dais destes déreis
2..0. Os verbos cow/ruir, destruir e reconstruir, dependendo de uma maior dão deram deram
ou menor formalização da linguagem, podem ser conjugados:. cOlu/ruo, conS-
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO lOI
lOO

MODO CONJUNTIVO 2. Os verbos terminados em -iar são, em geral, regulares.


Sirva de modelo o verbo antmeiar.'
Presente Pretérito imperfeito Futuro
Indicativo Conjuntivo Imperativo
dê desse der presente presente Afirmativo Negativo
dês desses deres I
der anuncio anuncie
dê desse
déssernos dermos anuncias anuncies anuncia não anuncies
demos
derdes anuncia anuncie anuncie não anuncie
deis désseis
derem anunciamos anunciemos anunciemos não anunciemos
dêem dessem
anunciais anuncieis anunciai não anuncieis
anunciam anunciem anunciem não anunciem

MODO IMPERATIVO
Afirmativo Negativo Observação:
dá não dês o verbo mobiliar (port. do Brasil) apresenta, nas formas rizotónicas, o acento
dê não dê na silaba bl.' PRESENTE DO INDICATIVO: mobilio, mobilias, mobilia, mobiliam;
demos não demos PRESENTE DO CONJUNTIVO: mobilie, mobilies, mobilie, mobiliem; etc. Mas, em
dai não deis verdade, tal anomalia é mais gráfica do que fonética. Este verbo também se
dêem não dêem escreve mobilhar, variante gráfica admitida pelo Vocabulário Oficial e que
melhor reproduz a sua. pronúncia corrente. Advirta-se, ainda, que em Por-
tugal a forma preferida é mobilar, conjugada regularmente.
No mais, conjuga-se como um verbo regular da J,a conjugação.
O derivado circundar não apresenta nenhuma destas irregularidades.
Segue em tudo o paradigma dos verbos regulares da L" conjugação. 3. Por analogia com os verbos em -ear (já que na pronúncia se confun-
dem o e e o i reduzidos), cinco verbos de infinitivo em -iar mudam o [i]
em [ei] nas formas rizotónicas. São eles: ansiar, incelldiar, HICdiar, odiar e reHIC-
2. Verbos terminados em -Bar e -iar diar.
Tomemos, como exemplo, o verbo illcendiar:
I. Os verbos terminados em -car recebem i depois do e nas formas rizo-
tónicas. Sirva de exemplo o verbo passear} que assim se conjuga no PRESENTE
DO INDICATIVO, NO PRESEN'I'E DO CONJUNTIVO e
nos IMPERATIVOS AFI~A­
Indicativo Conjuntivo Imperativo
TIVO e NEGATIVO: ~
presente presente Afirmativo Negativo

Indicativo Conjuntivo Imperativo incendeio incendeie


presente presente Afirmativo Negativo incendeias incendeies incendeia não incendeies
incendeia incendeie incendeie não incendeie
passeIO passeie incendiamos incendiemos incendiemos não incendiemos
passeias passeies passeia não passeies incendiais incendieis incendiai não incendieis
passeia passeie passeie não passeie incendeiam incendlem incendeiem não incendeiem
passeamos passeemos passeemos não passeemos
passeais passeeis passeai não passeeis
passeiam passeiem passeiem não passeiem
--------
Os demais verbos em -iar são regulares na IIngua culta do Brasil.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO
;02 ;0;
4. Finalmente, há um grupo de verbos em -iar que, no português de MODO CONJUNTIVO
Portugal e na llngua popular do Brasil, não seguem uma norma fixa, antes
vacilam entre os modelos de anunciar e incendiar. São, entre outros, os verbos Presente Pretérito imperfeito Futuro
ageflciar) cOlI/crciar, negociar, obsequiar, premiar e sentenciar.
caiba coubesse couber
caibas coubesses couberes
caiba coubesse couber
Observações: caibamos coubéssemos coubermos
r. a Criar, em qualquer acepção, conjuga~se como verbo regular em -iar: caibais coubésseis couberdes
caibam coubessem couberem
crio} crias, cria, criamos} etc.
2.a Convém distinguir, cuidadosamente, certos verbos terminados em
-cor e -iar} de forma muito parecida, mas de sentido diverso. Entre outros: Observação:
aiear (relacionado com feio) e afiar (relacionado com fio), enjrear (relacionado
com/reio) e eufriar (com/rio), estear (relacionado com esteio) e estiar (com estio), No sentido próprio este verbo não admite IMPERATIVO.
estrear (relacionado com estreia) e estriar (com estria), moar (relacionado ·com
meio) e miar (com mio, miado), pear (relacionado com peia) e piar (com Pio),
vadear (relacionado com vali) e vadiar (com vadio).
2. Crer e ler

2." Conjugação São irregulares no PRESEN'l'E DO INDICATIVO e, em decorrência, no


pRESENTE DO CONJUNTIVO e nos IMPERATIVOS APIRMATIVO e NEGATIVO.
Além dos verbos haver, ser e ter, já conhecidos, devem ser mencionados
05 seguintes: Indicativo Conjuntivo Imperativo
presente presente Afirmativo Negativo
I. Caber
creio creia
Apresenta irregularidades no PRESENTE e no PRETÉRITO PERFEITO ~ crês creias crê não creias
INDICATIVO, irregularidades que se transmitem às formas deles derivada \ crê creia creia não creia
cremos creiamos creiamos não creiamos
credes creiais crede não creiais
MODO INDICATIVO \ crêem creiam creiam não creiam
leio leia
Pretérito lês leias lê não leias
Presente Pretérito perfeito mais-que-perfeito lê leia leia não leia
lemos leiamos leiamos não leiamos
caibo coube coubera ledes leiais lede não leiais
cabes coubeste couberas lêem leiam leiam não leiam
cabe coube coubera --

cabemos coubemos coubéramos


cabeis coubestes coubéreis Observação:
cabem couberam couberam
Assim também se conjugam os derivados destes verbos, como desçrer} reler} etc .

.. ..... _._-_ ...._ - - - - - - - -


VERBO 30 !
BREVE GRAMÁTICA DO POR'l'UGUÊS CONTEMPORÂNEO
30 4
FORMAS NOMINAIS
3. Dizer
Infinitivo Infinitivo
impessoal pessoal Gerúndio Particlpio
Apenas o PRETÉRITO IMPERFEITO DO INDICATIVO e O GERÚNDIO são regu-
lares neste verbo. Estas as formas simples! dizer dizer dizendo dito
MODO INDICATIVO dizeres, etc.

Pretérito imperfeito Pretérito perfeito Observação.


Presente

disse Segundo o modelo de dizer, conjugam-se os verbos dele formados: bendizer,


digo dizia ÇO/ltradizer, desdizer, moldizer, predizer, etc.
dizias disseste
dizes disse
diz dizia
dizlamos dissemos 4. F'lZer
dizemos dissestes
dizeis dizleis
diziam disseram Também neste verbo s6 o PRE'I'ÊRI1'O IMPERFEITO DO INDICA1'IVO e o
dizem
GERÚNDIO são regulares. As outras formas conjugam-se:
Pretérito Futuro do presente Futuro do pretérito MODO INDICATIVO
maisRque-perfeito
- Presente Pretérito imperleito Pretérito perleito
direi diria
dissera dirias
disseras dirás faço fazia fiz
dirá diria fazes fazias fizeste
dissera dirlamos
diremos faz fazia fez
disséramos
disséreis
disseram
direis
dirão
dirieis
diriam
\\ fazemos
fazeis
fazem
fazlamos
fazleis
faziam
fizemos
fizestes
fizeram
MODO CONJUNTIVO Pretérito
Futuro do presente Futuro do pretérito
mais-que-perfeito
Pretérito imperfeito Futuro
Presente
fizera farei faria
fizeras farás farias
dissesse disser
diga disseres fizera fará faria
digas dissesses fizéramos faremos farlamos
dissesse disser
diga dissermos fizéreis fareis farleis
digamos disséssemos fizeram
disserdes farão fariam
digais dissésseis
dissessem disserem
digam, MODO CONJUNTIVO
MODO IMPERATIVO Presente Pretérito imperfeito Futuro

Afirmativo Negativo ! faça


faças
fizesse
fizesses
fizer
fizeres
faça fizesse fizer

I
não digas
dize façamos fizéssemos fizermos
diga não diga
não digamos façais fizésseis fizerdes
digamos façam fizessem fizerem
dizei não digais
digam não digam
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CON'I'EMPORÂ.NEO VERBO
3°7
3°6

MODO IMPERATIVO Eis as suas formas irregulares:

Afirmativo Negativo
Indicativo Conjuntivo Imperativo
faze
faça
façamos
fazei
não faças
não faça
não façamos
não façais
\ presente

perco
presente

perca
Afirmativo Negativo

façam não façam perdes percas perde não percas


perde perca perca não perca
perdemos percamos percamos não percamos
perdeis pereais perdei não pexcais
FORMAS NOMINAIS perdem percam percam não percam
-

Infinitivo Infinitivo Gerúndio Participio


impessoal pessoal 6. Poder

fazer fazer fazendo feito Apresenta irregularidades no PRESENTE e no PRETÉRITO PERFEITO DO


fazeres INDICATIVOe, em consequência, nas formas derivadas destes dois tempos:
fazer
fazermos MODO INDICATIVO
fazeroes
fazerem Pretérito
Presente Pretérito perfeito mais-que-perfeito

posso pude pudera


podes pudeste puderas
pode pôde pudera
Observação: podemos pudemos pudéramos
Por fazer se conjugam os seus compostos e derivados, como afazer} contra- podeis pudestes pudéreis
fazer, desfazer, liquefazer, perfazer, rarefazer, refazer e satisfazer. podem puderam puderam

MODO CONJUNTIVO

Presente Pretérito imperfeito Futuro


s. Perder
possa pudesse puder'
possas pudesses puderes
Oferece irregularidade no PRESENTE DO INDICATIVO e esta transmite-se possa pudesse puder
às formas derivadas do PRESENTE DO CONJUNTIVO e dos IMPERATIVOS APIR- possamos pudéssemos pudermos
MATIVO e NEGATIVO. possais pudésseis puderdes
possam pudessem puderem
VERBO
DREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO l09
l08
MODO IMPERATIVO
Observação:
É desusado o IMPERATIVO deste verbo.

7. Pôr

Pôr, forma conrracta do antigo poer (oupõer, derivado do latimponere),


\ Afirmativo

põe
ponha
ponhamos
Negativo

nãQ ponhas
não
não
ponha
ponhamos
ponde não ponhais
é o único verbo da língua que tem o INFINITIVO irregular, razão por que ponham não ponham
alguns gramáticos o incluem numa quarta conjugação, que seria formada
por ele e seus derivados.

MODO INDICATIVO FORMAS NOMINAIS

Presente Pretérito imperfeito Pretérito perfeito Infinitivo Infinitivo I


impessoal pessoal Gerúndio Participio

ponho puoha pus


pões puohas puseste pôr pôr pondo posto
põe punha pôs pores
pomos púnhamos pusemos pôr
pondes púnhcis pusestes pormos
põem puoham puseram pordes
porem
Pretérito Futuro do pretérito
Futuro do presente
mais-que-perfeito
Observação:
pusera porei poria
puseras porás porias Pelo paradigma de pôr se conjugam todos os seus derivados: antepor)
pusera porá poria apor, cO/upor, contrapor) decompor, depor, descompor, dispor, expor, impor, opor,
puséramos poremos poriamos
propor, repor, slpor, transpor, etc.
puséreis poreis podeis
puseram porão poriam

8. Prazer
MODO CONJUNTIVO
Empregado apenas na l.a pessoa, este verbo apresenta as seguintes
formas irregulares:
Presente Pretérito imperfeito Futuro
MODO INDICATIVO
pooha pusesse puser
poohas pusesses puseres Pretérito
Presente Pretérito perfeito
ponha pusesse puser mais-quc-pcrfcito
ponhamos puséssemos pusermos
ponhais pusésscis puscrdes praz prouve prouvcra
ponham pusessem puserem

.. -_.- - ._-_. __ .-- -------------


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNE VERBO III
lIO

MODO CONJUNTIVO Observações:

Futuro 1. 3 A par de quer, 3. 3 pessoa do singular do PRESBNTI? DO INDICATIVO, empre-


Pretérito imperfeito
ga-se também quere no português europeu, quando a forma verbal vem acom-
prouver panhada de um pronome enclitico: quere-a. O derivado requerer faz requeiro
prouvesse na I. a pessoa do PRESENTE DO INDICATIVO e é regular no PRETÉRITO PER-
FEITO e nos tempos formados do seu radical: requeri, rcq/Jereslc, requereu, etc.;
requerera, requereras, requerera, etc.; requeresse, requeresses, req/leresse, etc.; reque-
rer, requereres, requerer, etc. Além disso, emprega-se no IMPERATIVO. Bem-
-querer e malquerer fazem no PARTICÍPIO benquisto e malquisto, respectivamente.
Observações:
2.a É desusado o IMPERATIVO deste verbo.
1.a As outras formas, inclusive o PRESENTE DO CONJUNTIVO (= praza),
são regulares. Por prazer se conjugam aprazer e desprazer.
z.a O derivado comprazer, além de não ser unipessoal, é regular· no PRE-
TÉRITO PERFEITO e nos tempos formados do seu radical. Assim, comprazi, 10. Saber
comprazeste, cOII,prazell, etc.; comprazera, comprazeras, comprazero, etc.; &om-
prozesse, comprazesses, c01JJpraZesse, etc.; comprazer, comprazeres, comprazer, etc. Formas irr~gulares:

MODO INDICATIVO
9. Querer
Presente Pretérito perfeito Pretérito
mais-que-perfeito
Oferece irregularidades nos seguintes tempos:
sei soube soubera
Pretérito
Presente Pretérito perfeito sabes soubeste souberas
mais~que-perfeito
sabe soube soubera
sabemos soubemos soubéramos
quero quis quisera
sabeis soubestes soubéreis
queres quiseste quiseras
sabem souberam souberam
quis quisera
quer
queremos quisemos quiséramos
quereis quisestes quiséreis
querem quiseram quiseram
MODO CONJUNTIVO

Presente Pretérito imperfeito Futuro


MODO CONJUNTIVO
saiba· soubesse souber
Presente Pretérito imperfeito Futuro saibas soubesses souberes
saiba soubesse souber
quiser saibamos soubéssemos soubermos
quetra quisesse
quiseres saibais soubésseis souberdes
queiras quisesses
quiser saibam soubessem souberem
queira quisesse
queiramos quiséssemos quisermos
queirais quisésseis quiserdes
queiram quisessem quiserem
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊs CONTEMPORÂNEO VERBO
312 3'3

MODO IMPERATIVO MODO IMPERATIVO

Afirmativo Negativo Afirmativo Negativo

traze não tragas


sabe não saibas traga não traga
saiba não saiba tragamos não tragamos
saibamos não saibamos trazei não tragais
sabei não saibais tragam não traga,m
saibam não saibam

12. Valer
11. Trazer Apresenta irregularidade na 1." pessoa do PRESENTE DO INDICA"l"IVO,
irregularidade que se transmite ao· PRESENTE DO CONJUNTIVO e às formas do
É regular apenas no PRETÉRITO IMPERFEITO DO INDICATIVO e nas FOR-
IMPERATIVO dele derivadas. Assim:
MAS NOMINAIS. Esta a sua conjugação:

MODO INDICATIVO Indicativo Conjuntivo Imperativo


presente presente
Pretérito perfeito Afirmativo Negativo
Presente Pretérito imperfeito

trouxe
valho valha
trago trazia ,..le
trouxeste
vales valhas não valhas
trazes trazias valha
vale valha não valha
traz trazia trouxe
valhamos não valhamos
valemos valhamos
trazemos trazíamos trouxemos
valeis valhais valei não valhais
trazcis trazíeis trouxestes
valem valham valham não valham
trazem traziam trouxeram

Pretérito Futuro do presente Futuro do pretérito Observação:


mais-que-perfeito
Por valer se conjugam desvaler e equivaler.
trouxera trarei traria
trouxeras trarás trarias
traria
13. Ver
trouxera trará
trouxéramos traremos trariamos É irregular no PRESENTE e no PRETÉRiTO PERFEITO DO INDICATIVO, nas
trouxéreis trareis trarieis
trouxeram trarão trariam formas deles derivadas, assim como no PARTIc!PIO, que é visto. Assim:

MODO INDICATIVO
MODO CONJUNTIVO
i ,
Presente

traga
tragas
Pretérito imperfeito

trouxesse
trouxesses
Futuro

trouxer
trouxeres
I Presente

vejo
Pretérito perfeito

vi
Pretérito
mais-que-perfeito
vira
viras
vês viste
traga trouxesse trouxer vê viu vira
tragamos trouxéssemos trouxermos vemos vimos viramos
tragais trouxésseis trouxerdcs vedes vistes vireis
tragam trouxessem trouxerem
vêem viram viram
\
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO \ VERBO lI)
3'4

MODO CONJUNTIVO
\ Indicativo
presente
Conjuntivo
presente
Imperativo

Presente Pretérito imperfeito Futuro Afirmativo Negativo

veja visse vir


vou vá
vejas visses vires
vir vais vás vai não vás
veja visse
vejamos víssemos virmos vai vá vá não vá
vejais vlsseis vil:des vamos vamos vamos não vamos
vejam vissem virem ides vades ide não vades
vão vão vão não vão
------
MODO IMPERATIVO

Afirmativo Negativo
2. Medir e Pedir
vê não vejas
veja não veja
vejamos não vejamos Além da alternância vocálica entre as formas úzotónicas e arrizotónicas,
vede não vejais estes verbos apresentam modificação do radical med- e ped- na r." pessoa do
vejam não vejam PRESENTE DO INDICATIVO e, consequentemente, no PRESENTE DO CONJUNTIVO
e nas pessoas do IMPERATIVO dele derivadas.

Observações: I~perativo
Indicativo Conjuntivo
presente presente Afirmativo Negativo
1.8 Assim se conjugam antever, cI/trever, prever e rever.
2.& Prover, embora formado de ver, é regular no PRE'tÉRI'I'O PERFEITO DO
INDICATIVO e nas formas dele derivadas: provi, proveste, provBu} etc.; proveTa, meço meça
proveTas, proveTa, etc.; provessc, provesses, pro08118, etc.; prover, proveres, prover, medes meças mede não meças
etc. O PARTIcfPIO é provido} também regular. mede meça meça não meça
Por prover conjugaMse o seu derivado desprover. medimos meçamos meçamos não meçamos
medis meçais medi não meçais
medem meçam meçam não meçam

I. Ir peço peça
pedes peças pede não peças
pede peça peça não peça
É verbo anómalo, somente regular no PRETÉRITO IMPERFEITO e nos pedimos peçamos peçamos não peçamos
FUTUROS DO PRESENTE e do PRETÉRITO do MODO INDICATIVO: ia, irei, iria;
pedis peçais pedi não peçais
pedem peçam peçam não peçam
nas FORMAS NOMINAIS - INFINITIVO: ir; GERÚNDIO: indo; PARTICÍPIO: ido.
As suas formas do PRETÉRITO PERFEITO DO rnnICATlVO e dos tempos
dele derivados identificam-se com as correspondentes do verbo ser: fui,
Observações:
fora, fosse e for.
Nos demais tempos simples é assim conjugado: 1. 3 Por medir conjugawse desmedir.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO
lI6 3' 7

1..& Conjugam-se por pedir, embora dele não sejam 'derivados, os verbos Observação:
despedir, expedir e i1lJpedir, bem como os que destes se formam: desimpedir,
reexpedir, etc. Pelo modelo de rir conjuga-se sorrir.

3. Ouvir
s. Vir
Irregularidade semelhante à anterior. O radical OIlV· muda-se em otlf-
na La pessoa do PRESEN'I'E DO INDICATIVO e, em decorrência, em todo o É verbo anómalo, assim conjugado nos tempos simples:
PRESENTE DO CONJUNTIVO e nas pessoas do IMPERATIVO dele derivadas.
Assim:
MODO INDICATIVO
Imperativo
Indicativo Conjuntivo Presente Pretérito imperfeito
presente presente Pretérito perfeito
Afirmativo Negativo
venho vinha vim
ouço ouça vens vinhas vieste
ouves ouças ouve não ouças vem vinha veio
ouve ouça ouça não ouça vimos vínhamos viemos
ouvimos ouçamos ouçamos não ouçamos vindes vínheis viestes
ouvis ouçais ouvi não ouçais vêm vinham vieram
ouvem ouçam ouçam não ouçam
Pretérito
mais-que-perfeito Fututo do presente Futuro do pretérito
Observação:
viera virei viria
Em Portugal, ao lado de OJlfO, há oifo para a I.a. pessoa do singular do pRE- vieras virás virias
SENTE DO INDICATIVO. Esta dualidade fonética estende-se a todo O PRESEN'l'B
viera virá viria
DO CONJUNTIVO e às pessoas do IMPERATIVO dele derivadas: ouça ou oiftl)
viéramos viremos mamas
OJlftls ou oiftJ.f) etc.
viéreis vireis mieis
vieram virão viriam
4. Rir

Apresenta irregularidades nos seguintes tempos: MODO CONJUNTIVO


Presente Pretérito imperfeito Futuro
Indicativo Conjuntivo Imperativo
presente presente venha viesse vier
Afirmativo Negativo
venhas viesses vieres
venha viesse vier
rio ria venliamos viéssemos viermos
ris rias· ri não rias venhais viésseis vierdes
ri ria ria não ria venham viessem vierem
rimos riamos riamos não riamos
rides riais ride não riais
riem riam riam não riam

-----------
BREVE GRAMATICA DO PORTUGtmS CONTEMPOR.ÂNEO
3'8 VERBO
F9
MODO IMPERATIVO
Negativo Infinitivo Participio Infinitivo Participio
Afirmativo

vem nãovenhas dizer dito pôr posto


venha não venha
venhamos não venhamos escrever escrito abrir aberto
vinde não venhais fazer feito cobrir coberto
venham não venham
ver visto vir vindo

FORMAS NOMINAIS
Infinitivo Infinitivo Observações:
Gerúndio Particípio
impessoal pessoal
I.a Também os derivados destes verbos apresentam somente o patticipio

vir vir vindo vindo irregular. Assim, desdito} de ,desdizer; reescrito} de reescrever; contrafeito} de CO"~
vires trafazer,' previsto, de prever; imposto, de impor; entreaberto, de entreabrir,' des-
vir &oberto, de descobr~r,; convindo, de convir, etc.
virmos z.a Neste grupo devemos incluir três verbos da I.a conjugação - ganhar,
virdes gastar e pagar - de que outrora se usavam no!1Illllmente os dois partictpios.
virem Na linguagem actual preferem-se, tanto nas construções com o auxiliar ser
como naquelas em que entra o auxiliar ter, as formas irregulares ganho, gasto
e pago, sendo que a última substituiu completamente o antigo pagado.
Observação:

Por este verbo se conjugam todos os seus derivados, como advir} avir} convir,
desavir} inlervir} provir e sobrevir. VERBOS ABUNDANTES

Vimos que são chamados AllUNDANrES os verbos que possuem duas


6. Verbos terminados em -uzir ou mais formas equivalentes. Vimos também que, na quase totalidade dos
casos, essa abundância ocorre apenas no PARTICÍPIO, o qual, em certos ver~
bos, se apresenta com uma forma reduzida ou anormal ao lado da forma
Os verbos assim terminados, como aduzir) conduzir} deduzir} induzir}
regular em -ado ou -ido.
introdllzir, luzir, produzir, redllzir, reluzir, traduzir, etc., não apresentam a vogal
De regra, a forma regular emp-~ega-se na constituição dos tempos com-
-e na 3. a pessoa do singular do PRESENTE DO INDICA'rIVO: (ele) aduZ, conduz,
postos da voz AC'rIVA, isto é, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a
deduz, induz, introduz, luz, etc.
irregular usa-se, de preferência, na formação dos tempos da voz PASSIVA,
ou seja acompanhada do auxiliar ser.
Examinemos os principais verbos ABUNDANTES no partidpio.

VERBOS DE PARTICil'IO IRREGULAR

Há alguns verbos da 2. a e da 3. a conjugação que possuem apenas par-


ticlpio irregular, não tendo conhecido jamais a forma regular em -ido.
São os seguintes:
BREVE GRAU ..\TICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
VERBO 3"
;>0
Observações:
Primeira conjugação
La Somente as formas irregulares se usam como adjectivos e são elas as
Particípio regular Particípio irregular únicas que se combinam com os verbos· esta", ficor, (]f/dar, ir e vir.
Infinitivo
2.0. A forma .aceite é mais usada em· Portugal.
aceitado aceito, aceite ;.0. Morto é participio de .morrer e· estendeu-se também a malar.
aceitar
entregado entregue 4.0. O particlpio rompido usa-se também com o auxiliar ler. Ex.: Foram
entregar
enxugado enxuto rompidas as nOllas relações. Roto emprega-se mais como adjectivo.
enxugar
expressar expressado expresso
expulso l.' Imprimir possui duplo participio quando significa «cstampao>, «grava0>.
expulsar expulsado Na acepção de «produzir movimento», <dnfundio>, .usa-se apenas o partici-
isentar isentado isento
morto pio em -ido. Dir-se-á, por exemplo: Este livro foi impresso em Portugal. Mas,
matar matado
salvo por outro lado: Foi imprimida enorme velocidade ao ca"o.
salvar salvado
soltado solto 6.& Pelo modelo de entregue, formou-se clIJpregne, de uso corrente em Por-
soltar
vagado vago tugal e na linguagem popular do Brasil.
vagar
7.0. Muitos particlpios irregulares, que outrora serviam para formar tem-
pos compostos, caíram em desuso. Entre outros, estão nesse caso: cinto, do
verbo cingir; colheita do verbo colher; despesa, do verbo despender. Alguns,
como absolfllo (de absolver) e resolfllo (de resolver), continuam na Ilngua, mas
Segunda conjugação com valor de adjectivos.

Infinitivo Particípio regular Particípio irregular


VERBOS IMPESSOAIS, UNIPESSOAIS E DEFECTIVOS
acender acendido aceso
benzer benzido bento Há verbos que são usados apenas em alguns tempos, modos ou pessoas.
eleger elegido eleito
As razões que provocam a falta de certas formas verbais são múltiplas
incorrer incorrido incurso
morto e nem sempre apreenslveis.
morrer morrido
prendido preso Muitas vezes é a própria ideia expressa pelo verbo que não pode apli-
prender
romper rompido roto car-se a determinadas pessoas. Assim, no seu significado próprio, os verbos
suspender suspendido suspenso que exprimem fenómenos da natureza, como chover, trovejar, ventar, só apa-
recem na 3." pessoa do singular; os que indicam vozes de animais, como
ganir, ladrar, zurrar, normalmente só ·se empregam na 3.& pessoa do singular
Terceira conjugação e do plural.
Aos primeiros chamamos IMPESSOAIS; aos últimos, UNIPESSOAIS.
Particípio irregular Aos verbos que não têm a conjugação completa consagrada pelo uso
Infinitivo Particlpio regular
damos o nome de DEFECTIVOS.
emergir emergido emerso
exprimir exprimido expresso Verbos impessoais.
extinguir extinguido extinto
frigir frigido frito
imergido imerso Não tendo sujeito, os VERBOS IMPESSOAIS são invariavelmente usados na
imergir
imprimir imprimido impresso 3." pessoa do singular. Assim:
inserir inserido inserto
omitir omitido omisso o) os verbos que exprimem fenómenos da natureza, como:
submergir submergido submerso
alvorecer chover nevar saraivar
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
/ VIlR1l0
l22 32 3

b) O verbo haver na acepção de «existir» e o verbo fazer quando indica Verbos defectivos.
tempo decorrido: OS VERBOS DEFECTIVOS, em sua grande maioria pertencentes à ;.a con-
Houve momentos de pânico. jugação, podem ser distribuídos por dois grupos principais:
Faz cinco anos que não o vejo.
1.0grupo. Verbos que não possuem a L" pessoa do PRESENTE DO INDI-
ç) certos verbos que indicam necessidade, conveniência ou sensações, CATIVO e, consequentemente, nenhuma das pessoas do PRESENTE DO CON-
quando regidos de preposição em frases do tipo: JUNTIVO nem as formas do IMPERATIVO que delas se derivam, isto é, todas
Basia de provocações I aS do IMPERATIVO NEGATIVO e três do IMPERATIVO AFIRMATIVO: a ;.& pes-
Chega de lamúrias. soa do singular e a L" e l." do plural.
Verbos unipessoais. Sirva de exemplo o verbo banir:

São, como dissemos, UNIPESSOAIS os verbos que, pelo sentido, só admitem Indicativo Conjuntivo Imperativo
um sujeito da l.a pessoa do singular ou do plural. Assim: presente presente Afirmativo Negativo

a) os verbos que exprimem uma acção ou um estado peculiar a deter-


banes bane
minado animal, como ladrar, rOSllar, galopar, trotar, pipilar, Zflrrar:
bane
Zumbem. à porta insectos variegados.
banimos
Os periquitos verdes grazinavam. banis bani
banem
b) os verbos que indicam necessidade, conveniência, sensações, quando.
têm por sujeito um substantivo, ou urna oração substantiva, seja reduzida de Pelo modelo de banir conjugam-se, entre outros, os seguintes verbos:
infinitivo, seja iniciada peJa integrante qfle:
abolir carpir exaurir imergir
Urgem as providências prometidas. aturdir colorir fremir jungir
Convém sair mais cedo. brandir demolir fulgir retorquir
brunir emergir haurir ungir
c) os verbos acontecer) concernir} grarsar e outros, como constar (=-ser
constituído), aSSei/lar (= ajustar uma vestimenta), etc.: 2.° grupo. Verbos que, no PRESENTE DO INDICATIVO, SÓ se conjugam
nas formas arrizotónicas e não possuem, portanto, nenhuma das pessoas
Aconteceu o que eu esperava. do PRESENTE DO CONJUNTIVO nem do IMPERATIVO NEGATIVO; e, no IMPE-
Os vestidos assentaram-lhe bem.
RATIVO AFIRMATIVO, apresentam apenas a 2." pessoa do plural.
Observação: Sirva de exemplo o verbo falir:

É claro que, em sentido figurado, tanto os verbos que exprimem fenómenos Indicativo Conjuntivo Imperativo
da natureza como os que designam vozes de animais podem aparecer em presente presente
todas a-s pessoas. Afirmativo Negativo

Tanto ladras, rosnei com os meus botões, que trincas a língua.


(Aquilino Ribeiro, ES, 189.)
falimos
Por outro lado, convém ter presente que, nos casos de pet'sonificação, como falis fali
as fábulas, tais vcibos podem ser empregados, com o significado próprio,
em todas as pessoas.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CON'I'EMPORÂNEO VERBO
lZj
324
Pelo modelo de falir conjugam-se, entre outros, os seguintes verbos SINTAXE DOS MODOS E DOS TEMPOS
cla 3. a conjugação:
delinquir empedernir punir
aguerrir remir
descomedir-se foragir-se MODO INDICATIVO
combalir renhir
comedir-se embair fomir
Com o MODO INDICATIVO exprime-se, em geral, uma acção ou um
bem como o verbo adequar, da La conjugação, e precaver-se e reaver, da z.a. estado considerados na sua realidade ou na sua certeza, quer em referência
ao presente, quer ao passado ou ao futuro. É, fundamentalmente, o modo
da oração principal.
Outros casos de defectividade.

1. Os verbos adequar e antiquar usam-se quase que exclusivamente no


INFINI'l'IVO PESSOAL e n0 PARTIcfPIO. Transir só. aparece no pARTI cf PIO EMPREGO DOS TEMPOS DO INDICATIVO
transido: Estava transido de frio.
Presente.
2. Soer praticamente s6 se emprega nas seguintes formas do INDICA-
TIVO: sói, soem (PRESENTE) e soia, soltlS, soitl, so: 7I1JOS} sofeis, solam (IMPERFEITO). o PRESENTE DO INDICATIVO emprega-se:

3. Precaver-se, como dissemos, s6 possui as formas arrÍ2ot6nicas do 1.°) para enunciar um facto actual, isto é, que ocorre no momento
PRESENTE DO INDICATIVO: preCaVeflJO-nOS, precaveis-vos,. a z.a pessoa do plural em que se fala (PRESENTE MOMENTÂNEO):
do IMPERATIVO AFIRMATIVO: precavei-vos; e nenhuma do PRESENTE DO CON-
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa
JUNTIVO e do IMPERATIVO NEGATIVO. É um verbo regular, não dependendo
Substitui o calor.
nem de ver, nem de vir. Faz, por conseguinte, precavi-me, precaveste-te} preca-
vel/-se, etc., no PRETÉRI'I'O PERFEITO DO INDICATIVO; precaveSSe-RJO, precave~ses­
(Fernando Pessoa, OP, 474.)
-te, precavesse-se, etc., no IMPERFErro DO CONjUN'I'IVO, de acordo com o para-
2.°) para indicar acções e estados permanentes ou assim considerados
digma dos verbos da z.a conjugação. como seja uma verdade cientifica, um dogma, um artigo de lei (PRESENTE
DURATIVO):
4. Haver, mesmo quando pessoal, não se usa na z.a pessoa do singular
do IMPERATIVO AFIRMATIVO. A Terra gira em torno do próprio eixo.
5. Há certos verbos que são desusados no e, consequente-
PARTIcíPIO A lei não distingue entre nacionais e estrangeiros quanto à aquisição
mente, nos tempos compostos. É o caso de cOl/cer/Ii!") esplender e alguns mais. e ao gozo dos direitos civis.
(Código Civil Brasileiro, Art. l.O)

Substitutos dos defectivos. 3·°) par.a expressar uma acção habitual ou uma faculdade do sUJeIto,
ainda que não estejam sendo exercidas no momento em que se fala (PRE-
As carências de um VERBO DEFECTIVO podem ser supridas pelo emprego SENTE HABITUAL ou FREQUENTATIVO):
de formas verbais ou de perJfrases sin6nimas. Diremos, por exemplo, redillJo
e abro falêllcia, em lugar da lacunosa primeira pessoa do PRESENTE DO INDI- Sou timido: quando me vejo diante de senhoras, emburro, digo bes-
teiras.
CATIVO dos verbos rClI/ir e falir,' acautcIO-fl/e) ou precato-li/c) pela equivalente
(GradUano Ramos, A, 3I.)
pessoa cle precaver-se,. e assim por diante.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO \lERllO
32 6 327

para dar vivacidade a factos ocorridos no passado (PRESENTE


4.0) 3.°) para denotar uma acção passada habitual ou repetida (IMPERFEITO
HISTÓRICO ou NARRATIVO), como nesta descrfção de um carnaval antigo, FREQUENTATIVO):

inserta num romance de Marques Rebelo: Se o cacique marchava, a tribo inteira o acompanhava.
(Jaime Cortesão, IHB, II, 178.)
A Avenida é o mar dos foliões. Serpentinas cortam o ar carregado de
éter, rolam das sacadas, pendem das árvores e dos fios, unem com os seus
matizes os automóveis do corso. «Sai da frente I Sai da frente!»-o grupo 4.°) para designar factos passados concebidos como continuas ou
dos cartolas empurra para passar, com a corneta que arrebenta os ouvidos. permanentes:
O chão é um espesso tapete de confetes. Há uma loucura de pandeiros, de
cantos e chocalhos ... Sentou-se no muro q~e dava para o rio, o jornal nas mãos.
E o COISO movimentava-se vagarosamente com estampidos de motores. (Augusto Abelaira, CF, 173.)
(M, 48 e 51.)
5.°) .pelo futuro do pretérito, para denotar um facto que seria canse-
5.0) para marCaI um facto futuro, mas proXIffio; caso em que, para quência certa e imediata de outro, que não ocorreu, ou não poderia ocorrer:
impedir qualquer ambiguidade, se faz acompanhar geralmente de um adjunto
- O patrão é porque não tem força. Tivesse ele os meios e isto virava
adverbial: um fazendão.
(Monteiro Lobato, U, '36.)
Outro dia eu volto, talvez depois de amanhã, ou na primavera.
(Agustina Bessa Luis, QR, 277.) 6.°) pelo presente do indicativo, como forma de polidez para atenuar
uma afirmação ou um pedido (IMPERFEITO DE CORTESIA):
Diz-lhe:
- Pedro, eu vinha exclusivamente para tratar de negócios.
Pretérito imperfeito.
(Ciro dos Anjos, M, '92.)
A própria denominação deste tempo - PRETÉRITO IMPERFEITO-
ensina-nos o seu valor fundamental; o de designar um facto passado, mas 7.0) para situar vagamente no tempo contos, lendas, fábulas, etc.
não concluído (itJJperfeito = não perfeito, inacabado). Encerra, pois, uma (caso em que se usa o imperfeito do verbo ser, com sentido existencial):
ideia de continuidade, de duração do processo verbal mais acentuada do Era uma vez uma rapariga chamada Judite.
que os outros tempos pretéritos, razão por que se presta especialmente para
(Almada Negreiros, NG, 13')
descrições e narrações de acontecimentos passados. Empregamo-lo, assim:
1.0) quando, pelo pensamento, nos transportamos a uma época passada
Além dos empregos a que nos referimos, o IMPERFEITO pode ter outros,
e descrevemos o que então era presente:
já que, sendo um tempo relativo, o seu valor temporal é comandado pelos
Debaixo de um itapicuru, eu fumava, pensava e apreciava a tropilha verbos com os quais se relaciona ou pelas expressões temporais que o acom-
de cavalos, que retouçavam no gramado vasto. A cerca impedia que eles panham. Nos casos em que a época ou a data em que ocorre a acção vem cla-
me vissem. E alguns estavam muito perto.
ramente mencionada, ele pode indicar até um só facto preciso. Assim:
(Guimarães Rosa, S, 216.)
No dia seguinte Geraldo Viramundo era expulso do seminário.
2.0) para indicar, entre acções simultâneas, a que se estava processando (Fernando Sabino, GM, 42.)
quando sobreveio a outra:
Pretérito perfeito.
Falava alto, e algumas mulheres acordaram.
(Miguel Torga, V, 183.) Ao contrário do que ocorre em algumas linguas românicas, há em por-
BREVE GRAMÁTICA nO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO 32 9
J2B

tuguês clara distinção no emprego das duas furmas do PRETÉRITO PERFEITO:


o mancebo desprezou o perigo e pago até da morte pelos sorrisos, que
seus olhos furtaram de longe, levou o arrojo a arrepiar a testa do touro com
a SIMPLES e a COMPOS1' A, constituída do presente do indicativo do auxiliar a ponta da lança.
ler e do particípio do verbo principal.
A FORMA SIMPLES indica uma acção que se produziu em certo momento Pretérito mais-que-perfeito.
do passado. É a que se emprega para «descrever o passado tal como apa-
rece a um observador situado no presente e que o considera do presente>>: I. O PRETÉRITO MAIS-QUB-PERFBITO indica uma acção que ocorreu
antes de outra acção já passada:
Ergui..me, tonto~ e vi em rebolo no chão os dois faroleiros.
(Monteiro Lob.to, U, 10 3.) o monólogo tomara..se tão fastidioso que o Barbaças desinteressou-se.
(Fernando Namora, TI, '93')
A FORMA COMPOSTA exprime geralmente a repetição de um acto ou a
Quando voltei
sua continuidade até o presente em que falamos. Exemplos: as casuarinas tinham desaparecido. da cidade.
_ Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezague. (Agostinho Neto, SE, 121.)
(Simões Lopes Neto, CGLS, 12 3')
2. Além desse valor normal, o MAIS-QUB-PERFEITO pode denotar:
Tenho escrito bastantes poemas.
(Fernando Pessoa, OP, 175·) a) um facto vagamente situado no passado, em frases como as seguintes:
Casara, tivera filhos, mas nada disso o tocara por dentro.
Em sintese: (Miguel Torga, NCM, 55.)
O PRETÉRITO PERFEITO SIMPLES, denotador de uma acção completa-
No céu azul as últimas arribações tinham desaparecido.
mente concluída, afasta-se do presente; o PRETÉRI1'O PERFEITO COMPOSTO,
expressão de um facto repetido ou continuo, aproxima-se do presente. (Graciliano Ramos, VS, 177.)

b) um facto passado em relação ao momento presente, quando se deseja


atenuar uma afirmação ou um pedido:
Distinções entre o pretérito imperfeito e o perfeito.
- Eu tinha vindo para convencê-lo de que Pedro é seu amigo e pedir-
-lhe que apoiasse Hermeto.
Convém ter presentes as seguintes distinções de emprego do PRETÉ-
(Ciro dos Anjos, M, 243.)
RI'l'O IMPERFEITOe do PRETÉRITO PERFEI'I'O SIMPLES DO INDICATIVO:
a) o PRETÉRITO IMPERFEITO exprime o facto passado habitual; o pRE- 3. Na linguagem literária emprega-se, uma vez por outra, o MAIS-
-QUE-PERFEITO SIMPLES em lugar:
TÉRITO PERFEITO, o não habitual:

Quando o via, cumprimentava-o. a) do FUTURO DO PRETÉRITO (SIMPLES Ou COMPOSTO):


Quando o vi, cumprimentei-o.
Um pouco mais de sol- e fora [= teria sido] brasa,
b) o PRETÉRITO IMPERFEITO exprime a acção durativa, e não a limita (Mário de Sá-Carneiro, P, 69')
no tempo; o PRETÉRrtO PERFEITO, ao contrário, indica a acção momentânea,
Ohl se lutei!... mas devera [= deveria]
definida no tempo. Comparem-se estes dois exemplos: Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
o mancebo desprezava o perigo e pago até da morte pelos sorrisos, Um alvo aos dietérios seus I
que seus olhos furtavam de longe, levava o arrojo a arrepiar a testa do touro
com a ponta da lança.
(Gonçalves Dias, PCPE, 270.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO
';0 33 '

b) do PRETÉRITO IMPERFEITO DO CONJUNTIVO:


5·°) nas afirmações condicionadas, quando se referem a factos de rea-
lização provável:
Sê propIcia para mim, socorre Se assim fizeres, dominarás como rainha.
Quem te adorara, se adorar pudera!
(Oscar Ribas, U, 21.)
(A1phonsus de Guimaraens, OC, 139')
Substitutos do futuro do presente simples.
Na linguagem corrente este emprego fixou-se em certas frases excla-
mativas: Na lingua falada o FUTURO SIMPLES é de emprego relativamente raro.
Quem me dera! [= Quem me desse!] Preferimos, na conversação, substitui-lo por locuções constituidas:
Prouvera a Deus I [= Prouvesse a Deus I]
Pudera! a) do PRESENTE DO INDICATIVO +
do verbo haver PREPOSIÇÃO de +
Tomara (que)1 + INFINITIVO do verbo principal, para expriruir a intenção de realizar um
acto futuro:
Futuro do presente. - Hei-de castigá-los; havemos de castigá-los.
(Machado de Assis, OC, I, 653.)
I. O futuro do presente simples emprega-se:
b) do pRESENTE DO INDICATIVO do verbo ter + PREPOSIÇÃO de +
1.0) para indicar factos certos ou prováveis, posteriores ao momento + INFINITIVO do verbo principal, para indicar uma acção futura de carácter
em que se fala: obrigatório, independente, pois, da vontade do sujeito:
Não escreverei o poema. Temos de resolver isso em primeito lugar.
(Agostinho Neto, SE, 98.) (pepetela, M, 130.)

2.0) para expriruir a incerteza (probabilidade, dúvida, suposição) c) do PRESENTE DO INDICATIVO do verbo ir + INFINITIVO do verbo
sobre factos actuais: principal, para indicar uma acção futura imediata:
- Quem está aqui? Será um ladrão? o gerente foi demitido e o Costa vai substituí-lo.
(Graciliano Ramos, Ins, 9') (Ferreira de Castro, OC, n, 613.)
- Será que desta vez ele fica mesmo? 2. O futuro do presente composto emprega-se:
(Miguel Torga, CM, 47.)
1.0) para indicar que uma acção futura estará consumada antes de
3.0) como forma polida de presente: outra:

Não, não posso ser acusado. Dirá o senhor: mas como foi que aconte- Os homens serão prisioneiros das estruturas que terão criado.
ceram? E eu lhe direi: sei lá. Aconteceram: eis tudo.
(Carlos Drummond de Andrade, CA, 141.) (pepctela, M, 122.)

4.0) como expressão de uma súplica, de um desejo, de uma ordem, 2.°) para expriruir a certeza de uma acção futura:
caso em que o tom de voz ppde atenuar ou reforçar o carácter imperativo:
Só o Direito perdurará e não terá sido vão o esforço da minha vjd1.
Morrerás da tua beleza I inteira.
(Teixeira de Pascoais, OC, VII, 88.) Uoaquim Paço d'Arcos, CVL, 721.)
VERBO llj
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
334
b) uma hipótese, uma concessão:
Modo indicativo Modo conjuntivo Seja a minha agonia uma centelha
Tempo
De glória I...
Duvido que ela estude (Olavo Bilac, T, 197.)
Presente
Afirmo que ela estuda
Afirmei que ela c.studava Duvidei que ela estudasse
Imperfeito c) uma dúvida (geralmente precedido do advérbio talvez):
Afirmo que ela estudou (ou Duvido que ela tenha estu-
Perfeito dado Um cachoIto talvez rosnasse ou mordesse.
tem estudado)
Duvidava que ela tivesse es- (Adonias Filho, LBB, 101.)
Mais_que-perfeito Afirmava que ela tinha estu-
dado (ou estudara) tudado
d) uma ordem, uma proibição (na 3,- pessoa):
2. Em decorrência dessas distinções, podemos, desde já, estabelecer Que não se apague este lumel
os seguintes principios gerais, norteadores do emprego dos dois modos (Augusto Meyer, P, 126.)
nas orações subordinadas substantivas:
1.0) O INDICATIVO é usado geralmente nas orações que completam
e) uma exclamação denotadora de indignação:
o sentido de verbos como afirmar, compreender, comprovar, crer (no sentido afir" Raios partam a vida e quem lá ande 1
mativo), dizer, pensar, ver, verificar. (Fernando Pessoa, OP, 3'6.)
2.0) O CONJUNTIVO é o modo exigido nas orações que dependem
de verbos cujo sentidv está ligado à ideia de ordem, de proibição, de desejo, Conjuntivo subordinado.
de vontade, de súplica, de condição e outras correlatas. É o caso, por exem-
plo, dos verbos desdar, df/vidar, implorar, lamentar, negar, ordenar, pedir, proi- O CONJUNTIVO é por excelência o modo da oração subordinada. Em-
bir, querer, rogar e suplicar. prega-se tanto nas SUBORDINADAS SUBSTANTIV AS, como nas ADJECTIVAS e
nas ADVERBIAIS.
EMPREGO DO CONJUNTIVO
Nas orações substantivas.
Como o próprio nome indica, o CONJUNTIVO (do latim cOl!Íunctivus «que
serve para ligar») denota que uma acção, ainda não realizada, é concebida Usa-se geralmente o CONJUNTIVO quando a ORAÇÃO PRINCIPAL exprlme:
como ligada a outra, expressa ou subentendida, de que depende (de onde a a) a vontade (nos matizes que vão do comando ao desdo) com referência
designação alternativa SUBJUNTIVO, preferida pela Nomenclatura Gramatical ao facto de que se fala:
Brasileira). Emprega-se normalmente na oração subordinada. Quando usado Em todo o caso, gostava que me considerasse um amigo.
em orações absolutas, ou orações principais, envolve sempre a acção verbal (Maria Judite de Carvalho, A V, I I 9.)
de um matiz afectivo que acentua fortemente a expressão da vontade do
individuo que fala. b) um sentimento, ou uma apreciação que se emite com referência ao pró-
prio facto em causa:
Conjuntivo independente.
Empregado em orações absolutas, em orações coordenadas ou em - Pior será que nos enxotem daqui ...
orações principais, o CONJUNTIVO pode exprimir, além das noções imperati- (Mránio Peixoto, RC, 273.)
vas que examinaremos adiante: c) a dúvida que se tem quanto à realidade do facto enunciado:
a) um desejo, um anelo:
Receava que eu me tornasse ingra.to, que o tratasse mal na velhice.
Chovam hinos de glória na tua alma I (Augusto Abelaira, NC, 14.)
(Antero de Quental, SC, 3j.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERllO·
33 6 337

d) TEMPORAIS, que marcam a anterioridade (afltes q/le, até q/le e seme-


N aS orações adjectivas.
lhantes):

o CONJUNTIVO é de regra nas ORAÇÕES ADJECTIVAS que exprimem: E vai custar muito até que a pobre assente juizo.
a) um fim que se pretende alcançar, uma consequência: 00sé Lins do Rego, MR, 227.)
_ Portanto, q~ero coisa de igreja, coisa pia, que dê gosto a um bom
sacerdote comO é padre Estêvão. Usa-se também o CONJUNTIVO, em razão de ser o modo do eventual
(Ant6nio Callado, MC, 99') e do imaginário, nas:
b) um facto improvável:
a) ORAÇÕES COMPARATIVAS iniciadas pela hipotética como se:
Tristão podia resolver esta minha luta interior cantando alguma causa
que me obrigasse a ouvi-lo. As pernas tremiam-me como se todos os nervos me estivessem gol..
(Machado de Assis, OC, I, 1.°9 8.) pead08.
(Camllo Castelo Branco, OS, I, 761.)
c) uma hipótese, uma conjectura, uma simulação:
Estaria ali para dar esperança aos que a tivessem perdido? b) ORAÇÕES CONDICIONAIS, em que a condição é irrealizável ou hipo-
(Maria Judite de carvalho, AV, 13 8.) tética:
Ó Morte, dava-te a vida,
Se tu lha fosses levar I...
Nas orações adverbiais.
(Guerra JunquCÍIo, S, 74.)

I. Nas ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS o CONJUNTIVO, em geral,


não tem valor próprio. É um mero instrumento sintáctico de emprego regu- c) ORAÇÕES CONSECUTIVAS que exprimem <<simplesmente uma con-
cepção, um fim a que se pretende ou pretenderia chegar, e não uma· reali-
lado por certas conjunções.
Em princípio, podemos dizer que o CONJUNTIVO é de regra depois dade» (Epifânio Dias):
das conjunções: - Que quer vomecê? - perguntou rudemente, de longe, interrompendo
a) CAUSAIS que negam a ideia da causa (não porque, não que): a marcha de modo que ela pudesse chegar até junto dele.
(Fernando Namora, TI, 70')
Não que não quisesse atI;1aI, mas amar ·menos, sem tanto sofrimento.
(Lygia Fagundes Telles, DA, 107.)

b) CONCESSIVAS (elJJbora, ainda q/le, cOllq/lanto, posto que, lJJesnJO q/le, se Tempos do conjuntivo.
benJ q/le, etc.):
Dissemos anteriormente que as formas do CONJUNTIVO enunciam a
o povo não gosta de assassinos, embora inveje os valentes. acção do verbo como eventual, incerta, ou irreal, em dependência estreita
(Carlos Drummond de Andrade, CA, 7·) com a vontade, a imaginação ou o sentimento daquele que as emprega. Por
isso, as noções temporais que encerram não são precisas como as expressas
c) FINAIS (Para que, afinJ de q/le,porq/le):
pelas formas do INDICATIVO, denotadoras de acções concebidas em sua rea-
Para que tudo retomasse a quietude inicial, e os coelhos se resolves.. lidade.
sem a vir gozar a fresca, seriam precisas horas, e então já não teria luz. Feita essa advertência, examinemos os principais valores dos tempos
(Miguel Torga, NCM, 64.) do CONJUNTIVO.

...... _._. _._-------_ .._----------


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO 339
33 S
tual do modo conjuntivo):
I. O pRESENTE DO CONJUNTIVO pode indicar um facto:
Esperei-a um pouco, até que tivesse terminado sua foi/cite e pudéssemos
a) presente:
sair juntos.
Pena é que os meninos estejam tão mal providos de roupa. (Ciro dos Anjos, DR, 167.)
(Otto Lara Resende, BD, 12S.)
b) uma acção irreal no passado:
b) futuro: Se a vitória os houvesse coroado com os seus favores, não lhes faltaria
o aplauso do mundo e a solicitude dos grandes advogados.
Meus olhos apodreçam se abençoar você.
(Adonias Filho, LP, 140 .) (Rui Barhosa, EDS, 794.)

5. O FUTURO DO CONJUNTIVO SIMPLES m.~rca a eventualidade no futuro,


2. O IMPERFEITO DO CONJUNTIVO pode ter o valor: e emprega-se em orações SUBORDINADAS:
a) de passado: a) ADVERBIAIS (CONDICIONAIS, CONFORMATIVAS e TEMPORAIS), cuja
Não havia intenção que ele não lhe confessasse, conselho que lhe não PRINCIPAL vem enunciada no futuro ou no presente:
pedisse.
(Agustina Bcssa Luis, S, 5S.) Se quiser, irei vê-lo.
Se quiser vê-lo, vá a sua casa.
b) de futuro: Farei conforme mandares.
Alberto exa inteligente e se não se deixasse engazupar, talvez aquilo Faça como souber.
até lhe fosse um bem ... Quando puder, passarei por. aqui.
(Ferreira de Castro, OC, I, S7·) Quando puder, venha ver-me.
b) ADJECTIVAS, dependentes de uma PRINCIPAL também enunciada no
ç) de presente: futuro ou no presente:
Tivesses coração, tetias tudo. Direi uma palavra amiga aos que me ajudarem.
(Gnimarães Passos, VS, 166.) Diga uma palavra amiga aos que o ajudarem.

6. O FUTURO DO CONJUNTIVO COMPOSTO indica um facto futuro como


3. O PRETÉRITO PERFEITO DO CONJUNTIVO pode exprimir um facto: terminado em relação a outro facto futuro (dentro do sentido geral do MODO
CONJUNTIVO) :
a) passado (supostamente concluldo):
Quando tiverdes acabado, sereis desalojados de vosso precário pouso
Espero que não a tenha ofendido. e devolvidos às vossas favelas.
(Maria Judite de Carvalho, AV, 10 9')
(Rubem Braga, CCE, z 5o.)

b) futuro (terminado em relação a outro facto futuro): MODO IMPERATIVO


Espero que João tenha feito o exame quando eu voltar.
EMPREGO DO MODO IMPERATIVO

4. O PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO DO CONJUNTIVO pode indicar:


I. Embora a palavra IMPERATIVO esteja ligada, pela origem, ao latim

a) uma acção anterior a outra acção passada (dentro. do sentido even- imperare «comandar», não é pata ordem ou comando que, na maioria dos
VERBO 34 1
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO
34°
5. Releva ponderar ainda que o IMPERATIVO é enunciado no tempo
casos, nos servimos desse modo. Há, como veremos, outros meios mais efi~ presente, mas na realidade este «presente do imperativo» tem valor de um
cazes para expressarmos tal noção. Quando empregamos o IMPE~ATIVO, futuro, pois a acção que exprime está por realizar-se.
em geral, temos o intuito de exortar o nosso interlocutor a CUqlprir a acção
indicada pelo verbo. É, pois, mais o modo da exortação, do conselho, do
EMPREGO DAS FORMAS NOMINAIS
convite, do que propriamente do comando, da ordem.
2. Tanto o IMP~RAl'IVO AFIRMATIVO como o NEGATIVO usam-se somente Características gerais.
em orações absolutas, em orações principais, ou em orações coordenadas.
Ambos podem exprimir: São FORMAS NOMINAIS do verbo o INFINITIVO, o GERÚNDIO e O pAR-
TICÍPIO.
a) uma ordem, um comando:
Caracterizam-se todas por não poderem exprimir por si nem o tempo
Cala-te, não lhe digas nada. nem o modo. O seu valor temporal e modal está sempre em dependência
(Carlos de Oliveira, AC, 98.) do contexto em que aparecem.
Distinguem-se, fundamentalmente, pelas seguintes peculiaridades:
b) uma exortação, um conselho:
a) o INFINITIVO apresenta o processo verbal em potência; exprime a
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No minimo que fazes. ideia da acção, aproximando-se, assim, do substantivo:
(Fernando Pessoa, Op, 239·)
Sofrer por sofrer,
Somente eu sofria.
c) um convite, uma solicitação:
(Cecilia Meirelcs, OP, j81.)
Vinde ver! Vinde ouvir, homens de terra estranhaI
(Olegário Mariano, TVP, I, 273·) b) o GERÚNDIO apresenta o processo verbal em curso e desempenha
funções exercidas pelo advérbio ou pelo adjectivo:
d) uma súplica:
Metendo o barco pela terra dentro, é mesmo posslvel ir mais além.
Não me deixes só, meu filho!".
(Luandino Vieira, NM, 82.) (Miguel Torga, P, 87.)

3. Emprega-se também o para sugerir uma hipótese em


IMPERATIVO Ouvia-se o cantar de carros de boi, chorando, de muito longe.
+
lugar de asserções condicionadas expressas por SE FUTURO DO CONJUN- (José Lins do Rego, FM, 146.)
TIVO:
Suprima a vlrgula, e o sentido ficará mais claro. c) o PARTICÍPIO apresenta o resultado do processo verbal; acumula
[Se suprimir a v1rgula, o sentido ficará mais claro.] as catacterlsticas de verbo com as de adjectivo, podendo, em certos casos,
receber como este as desinências -a de feminino e -s de plural:
4. Esses diversos valores dependem do significado do verbo, do sen-
tido geral do contexto e, principalmente, da entoação que dermos à frase Uma das cenas fora filmada numa loja do bairro, ampla, bem iluminada,
imperativa. Por exemplo, numa frase como a seguinte: com prateleiras carregadas dos mais diversos produtos.
(Sttau Monteiro, APj, 47.)
Saiam da chuva, meninos I
(Luis Jardim, MP, 47·) Acrescente-se, ainda, que:

conforme o tom da voz, a noção de comando pode enfraquecer-se até chegar a) o INFINITIVO c o GERÚNDIO possuem, ao lado da forma simples,
à de súplica.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VIlJUJO 343
H'
1. 0) quando é IMPESSOAL, ou seja, quando não se refere a nenhum
uma forma composta, que exprime a acção conclulda; apresentam, pois,
sujeito:
internamente, uma oposição de ASPECTO!
Viver é exprimir-se.
Aspecto concluído (Gilberto Amado, TL, 9.)
Aspecto não concluído
z.O) quando tem valor de imperativo:
ler ter lido
Infinitivo - Formarl- ordenou o sipaio Jacinto.
lendo tendo lido (Castro Soromenho, V, '97.)
Gerúndio
3. 0)
quando, em frase nominal de acentuado carácter afectivo, tem
sentido narrativo ou descritivo (INFINITIVO DE NARRAÇÃO):
b) o INFINITIVO assume, em português, duas formas: uma não fle-
xionada; outra flexionada, como qualquer forma pessoal do verbo; Mais dois clias. E Catarina a piorar.
ç) o GERÚNDIO é invariável; (Óscar Ribas, U, Z43.)

d) o PARTIcfPIO não se flexiona em pessoa. 4. 0 ) quando, .precedido da preposição de, serve de complemento nomi-
nal a adjectivos como fácil, possível, bom, raro e outros semelhantes:

EMPREGO DO INFINITIVO
Já não transitam pelo correio aquelas cartas de letra miudinha, impos..
síveis de ler, gratas de ler, pois derramavas nelas uma intacta ternura ...
(Carlos Drummond de Andrade, CB, 137.)
Infinitivo impessoal e infinitivo pessoal.
).0) quando, regido da preposição a, equivale a um gerúndio em locu-
A par do INFINITIVO IMPESSOAL, isto é, do infinitivo que não tem sujeito, ções formadas com os verbos estar, andar, ficar, viver e semelhantes:
porque não se refere a uma pessoa gramatical, conhece a lingua portuguesa
o INFINITIVO PESSOAL, que tem sujeito próprio e pode ou não flexionar-se. Andam a montar casa.
(Joaquim Paço d'Arcos, CVL, 704.)
Assim, em:
2. É também normal o emprego do INFINITIVO NÃO FLEXIONADO:
Se criar é criar-se,
cantar é ser. 1. O) quando pertence a uma locução verbal e não está distanciado do
(Emllio Moura, IP, 187.) seu auxiliar:

Já na frase:
Importavam menos as palavras, essas talvez pudessem esquecer-se,
O difícil é estarmos atentos. porque outras se lhes viriam sobrepor e cob.ri-Ias, e assimilá~las.
(Vergllio Ferreira, NN, 128.) (Alves Redol, BC, 57.)

estamos diante de uma forma do INFINITIVO PESSOAL. z.O) quando depende dos auxiliares causativos (deixar, ",andar, fazer
O INFINITIVO PESSOAL FLEXIONADO possui, como dissemos, desinên~ e sinónimos) ou sensitivos (ver, oflvir, smtir e sinónimos) e vem imediata-
cias especiais para as três pessoas do plural e para a z.a pessoa do singular. mente depois desses verbos ou apenas separado deles por seu sujeito, expresso
por um pronome oblíquo:
Emprego da forma não flexionada.
Deixas correr os dias como as águas do Paraíba?
l. O INFINITIVO conseIVa a forma NÃO FLEXIONADA: (Machado de Assis, OC, II, "9.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO ;4)
344

Esta viu-os ir pouco a pouco. insolação, I a quebrarem, I a espicaçarem, I a torturarem a pedra, I pare-
(Machado de Assis, oe, lI, )09') ciam. um. punhado de demónios revoltados na sua impotência contra o impasM
slvel gigante.
Neste caso, costuma ocorrer também a forma flexionada, quando entre (Alulsio Azevedo, e, 66.)
o auxiliar e o infinitivo se insere o sujeito deste, expresso por substantivo
ou equivalente:
Conclusão.
Domingos mandou os homens levantarem-se.
(Castro Soromenho, e, )6.) Como vemos, «a escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos
Finalmente, viu os três pastores pegarem nos alforges e dirigirem':'sc somente da acção ou do intuito. ou necessidade de pormos em evidência o
ao regato, para lavar as mãos. agente da acção» (Said Ali). No prinIeiro caso, preferiremos o INFINITIVO
NÃO FLEXIONADO; no segundo, o FLEXIONADO.
(Ferreira de Castro, oe,
I, 40 4.)
Trata-se, pois, de um emprego selectivo, mais do terreno da estilística
do que, propriamente, da gramática.
E, mais raramente, quando o sujeito é um pronome oblíquo:
Ele viu-as entrarem, prostrarem-se de braços estendidos, chorando,
EMPREGO DO GERúNDIO
e não se comoveu ...
(Coelho Netto, OS, I, IJZ8.) Forma simples e composta.

Emprego da forma flexionada. Vimos que o GERÚNDIO apresenta duas formas: uma SIMPLES (lendo),
o INFINITIVO assume a forma FLEXIONADA:
outra COMPOSTA (tendo ou havendo lido).
A forma COMPOSTA é de carácter perfeito e indica uma acção concluida
1.0) quando tem sujeito claramente expresso: anteriormente à que exprime o verbo da oração principal:
Mas o curioso é tu não perceberes que não houve nunca «ilusão» alguma. Não tendo conseguido dormir, fui escaldar um chá na cozinha e dei
(Vergilio Ferreira, NN, 312 .) de cara com a Rosa e a Idalina.
(Otto Lara Resende, BD, II2.)
2.0) quando se refere a um agente não expresso, que se quer dar a
corihecer pela desinência verbal: A forma SIMPLESexpressa uma acção em curso, que pode ser imediata-
mente anterior ou posterior à do verbo da oração principal, ou contempo-
_ Acho melhor não fazeres questão. rânea dela.
(Ferreira de Castro, oe, I, 94.) Este valor temporal do GERÚNDIO depende quase sempre da sua coloca-
ção na frase.
3.°) quando, na l.a pessoa do plural, indica a indeterminação do su- Gerúndio anteposto à oração principal.
jeito:
Ouvi dizerem que Maria ]eroma, de todas a mais impressionante, pelo Colocado no inicio do pedodo, o GERÚNDIO exprime:
ar desafrontado e pela pintura na cara, ganhara o sertão.
a) uma acção realizada imediatamente antes da indicada na oração
(Gilberto .Amado, HMI, 143.)
principal:
4.°) quando se quer dar à frase maior ênfase ou harmonia:
'Ganhando a praça, o engenheiro suspirou livre.
Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de (Anlbal M•. Machado, HR, 41.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO VERBO 347
34 6
b) uma acção que teve começo antes ou no momento da indicada na com permitir a formação dos tempos compostos que exprimem o aspecto
conclusivo do processo verbal.
oração principal e ainda continua: Emprega-se:
Estalando de dor de cabeça, insone, tenho o coração vazio e amargo.
(Otto Lara Resende, BD, p.)
a) com os auxiliares ter e haver, para formar os tempos compostos da
VOZ activa:

Gerúndio ao lado do verbo principal. tendo escrito havia escrito

Colocado junto do verbo principal, o GERÚNDIO expressa de regra uma b) com o auxiliar ser, para formar os tempos da voz passiva de acção:
acção simultânea, correspondente a um adjunto adverbial de modo:
A carta foi escrita por mim.
Chorou soluçando sobre a cabeça do cão.
(Castro Soromenho, TM, z03·)
c) com o auxiliar estar, para formar tempos da voz passiva de estado:

Gerúndio posposto à oração principal. Estamos impressionados com a situação.

Colocado depois da oração principal, o GERÚNDIO indica uma acção


posterior e equivale, na maioria das vezes, a uma oração coordenada iniciada Participio sem auxiliar.
pela conjunção e:
I. Desacompanhado de auxiliar, o PARTIc!PIO exprime fundamental-
As trajectórias recomeçaram, processando-se a um ritmo regular.
mente o estado resultante de uma acção acabada:
(Fernanda Botelho, X, 15 8.)
Achada a solução do problema, não mais torturou a cabeça.
Gerúndio antecedido da preposição em. (Afonso Arinos, oe, 456.)

Precedido da preposição em, o GERÚNDIO marca enfaticamente a ante· 2. O PARTICÍPIO dos VERBOS TRANSITIVOS tem de regra valor passivo:
rioridade imediata da acção com referência à do verbo principal:
Lidas uma e outra, procedeu-se às assinaturas.
Em se lhe dando corda, ressurgia nele o tagarela da cidade.
(Monteiro Lobato, U, IZ7')
aoaquim Paço d'Arcos, eVL, j j o.)

3. O PARTICÍPIO dos VERBOS INTRANSITIVOS tem quase sempre valor


o gerúndio na locução verbal.
activo:
O GERÚNDIO combina-se com os auxiliares estar} andar, ir e vir, para
marcar diferentes aspectos durativos da acção verbal, examinados por nós Chegado aos pés, olhava-me para cima.
ao estudarmos o emprego desses auxiliares. (Vergilio Ferreira, NN, 66.)

EMPREGO DO PARTICípIO 4. Exprimindo embora o resultado de uma acção acabada, o pARTI-


Elemento de tempos compostos. ciPIO não indica por si próprio se a acção em causa é passada, presente ou
futura. Só o contexto a que pertence precisa a sua relação temporal. Assim,
o P ARTIc!PIO desempenha importantíssimo papel no sistema do verbo " mesma forma pode expressar:
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VIlRJIO 349
;48
cada pela flexão verbal a ele ajustada:
a) acção passada:
Eu acabei por adormecer no regaço de minha tia. Quando acordei,
Aberta uma excepção, estávamos perdidos. já era tarde, não vi meu pai.
(Aquilino Ribeiro, CRG, 2n.)
b) 'lcção presente:
REGRAS GERAIS
Aberta uma excepção, estamos perdidos.
I. Com um só sujeito.
c) acção futura:
o verbo concorda em número e pessoa com o seu sujeito, venha ele
Aberta uma excepção, estare~os perdidos. claro ou subentendido:
A paisagem ficou espirituali2ada.
Nos casos acima, vemos que a oração de PAR'I'ICÍPIO tem sujeito dife- Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia
rente da principal e estabelece, para com esta, uma relação de anterioridade. Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada ...
Mas a relação temporal entre as duas orações pode ser de simultanei- (Manuel Bandeira, P P, 70')
dade, principalmente se o sujeito for o mesmo:

Embaraçado, não consegui chegar à porta. 2. Com mais de um sujeito.


(Dtto Lara Resende, BD, UI.)
o verbo que tem mais de um sujeito (SUJEITO COMPOSTO) vai para o
plural e, quanto à pessoa, irá:
Encerrados na quinta, Baltasar e Blimunda assistem ao passar dos dias. a) para a I." pessoa do plural, se entre os sujeitos figurar um da r."
(José Saramago, MC, 191.) pessoa:
Só eu e Florêncio ficámos calados, à margem.
5. Quando o PARTICfPIO exprime apenas o estado, sem estabelecer (Ciro dos Anjos, DR, ,9')
nenhuma relação temporal, ele' se· confunde com o adjectivo: b) para a 2." pessoa do plural, se, não existindo sujeito da I." pessoa,
houver um da 2. a :
Com a cabeça levantada, olhava o céu.
(Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 1,6.) Tu ou os teus filhos vereis a revolução dos espíritos e costumes.

o vento enfurecido açoitava a rancharia.


(Camilo Castelo Branco, ], l, u.)
(Augusto Meyer, SI, Ij.)
c) para a ,." pessoa do plural, se os sujeitos forem da .,.a pessoa:
Quando o Loas e a filha chegaram às proximidades da courela, logo
CONCORDÃNCIA VERBAL se anunciaram.
(Fernando Namora, T], >27.)
I. A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo,
exterioriza-se na CONCORDÂNCIA, isto é, na variabilidade do verbo para con- Ohservação:
formar-se ao número e à pessoa do sujeito.
Na linguagem cortcnte do Brasil cvitam~s.c as formas do sujeito composto
2. A CONCORDÂNCIA evita a repetição do sujeito, que pode ser indi- que levam o verbo à 2.& pessoa do plural, em virtude do desuso do tratamento
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
31 0 V1'RBO 31 '

vós e, também, da substituição do tratamento 111 por você} na maior parte do Observação:
pals.
Em lugar da 2.& pessoa do plural, encontramos, uma vez por outra, tanto Enquanto o sujeito de que participa a eXpressão menos de dois leva o verbo
no Brasil como em Portugal, o verbo na ,.&
pessoa do plural, quando um ao plural, o sujeito formado pelas expressões mais de 11m ou mais qllc 11m} segui-
dos sujeitos é da '.- pessoa do singular (tu) e os demais da 3,- pessoa: das de substantivo, deixa o verbo de regra no singular:
Em que língua tu e ele falavam? Mais de um 8ujeito correu na salvação do pescoço-pelado.
Oosé Cândido de Carvalho, CLH, 137.)
(Rubem Fonseca, C, 31.)
Emprega.-se, porém, o ve.rbo no plural quando tais expressões vêm repetidas,
- O Pomar e tu os esperam.
ou quando nelas baja ideia de reciprocidade. Assitu:
(Fetnando Namora, NM, '4") Mais de um velho, mais de uma criança não puderam fugir a tempo.
Mais de um orador se criticaram mutuamente na ocasião.
CASOS PARTICULARES
o sujeito é o pronome relativo q//e.
I. Com um só sujeito
l. O verbo que tem como sUJelto o pronome relativo que concorda
O sujeito é uma expressão partitiva. em número e pessoa com o antecedente deste pronome:
És tu que vais acompanhá-lo.
I.Quando o sujeito é constituldo por uma expressão partitiva (como:
(Alves Redol, BC, 343.)
parte de, uma porfão de, o grosso de, o resto de, metade de e equivalentes) e um
substantivo ou pronome plural, o verbo pode ir para o singular ou para
2. Se o antecedente do relativo que é um demonstrativo que serve
o plural: de predicativo ou aposto de um pronome pessoal sujeito, o verbo do rela-
A maior parte deles já não vai à fábrica I tivo pode:
(Bernardo Santareno, TPM, 40.)
a) concordar com o pronome pessoal sujeito, principalmente quando
A maior parte destes quartos não tinham tecto, nem portas, nem o antecedente é o demonstrativo o (a, os, as):
pavimento.
(Camilo Castelo Branco, OS, l, '96.) Não somos nós 08 que vamos chamar esses leais companheiros de além-
-mundo.
A cada uma destas possibilidades corresponde um novo matiz da
2.
(Rui Barbosa, EDS, 680.)
expressão. Deixamos o verbo no singular quando queremos destacar o b) ir para a ;.- pessoa, em concordância com o demonstrativo, se não
conjunto como uma unidade. Levamos o verbo ao plural para evidenciar- há interesse em acentuar a intima relação entre o predicativo e o sujeito:
mos os vários elementos que compõem o todo.
Fui Essa que nas ruas esmolou
O sujeito denota quantidade aproximada. E fui a que habitou Paços Reais ...
(Florbela Espanca, S, 103.)
Quando '0 sujeito, indicador de quantidade aproxintada, é formado de
3· Quando o relativo q/le vem antecedido das expressões um dos,
um IIlÍ/llCrO plllral precedido das expressões cerca de, /llais de, f/lellOS de e situilares
uma das (+ substantivo), o verbo de que ele é sujeito vai para a 3" pessoa
o verbo vai normalmente para o plural:
do plural ou, mais raramente, para a ;.' pessoa do singular:
Ainda assim, restavam cerca de cem viragos ... És um dos raros homens que têm o mundo nas mãos.
Ooilo Ribeiro, FE, 13.) (Augusto Abelaira, NC, UI.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CON'l'EMPORÂNEO VllR1l0 313
31 2

Foi um dos poucos do seu tempo que reconheceu a originalidade e


o sujeito é um pronome interrogativo, demonstrativo ou indefinido
importância da literatura brasileira. plural, seguido de de (ou dentre) nós (ou vós).
(João Ribeiro, AC, 326.)
I. Se o sUJeito é formado por algum dos pronomes interrogativos
Observação: quais? quantos?, dos demonstrativos. (estes, esses, aqlleles) ou dos indefinidos
O verbo no singular destaca o sujeito do grupo em relação aO qual vem men~ do plural (alguns, muitos, POIlCOS, quaisqller, vários), seguido de uma das expres-
cionado, ao contrário do que ocorre se construirmos a oração com o verbo sões de nós} de vós} dentre nós ou dentre vós, o verbo pode ficar na 3..0. pessoa
no plural. do plural ou concordar com o pronome pessoal que designa o todo:

4. Depois de 1/1" dos que (= tl171 daqueles qJ/e) o verbo vai normalmente Quais de vós sois, como eu, desterrados no meio do género humano?
para a 3.· pessoa do plural: (Alexandre Herculano, E, 170.)
Ela passou-se para outro mais decidido, um dos que moravam no quar- Muitos de nós andam por ai, querendo puxa!' conversa com vocês.
tinho dos grandes. (Carlos Drummond de Andrade, CB, 163.)
(José Lins do Rego, D, 107.)
2. Se o interrogativo ou o indefinido estiver no singular, também no
São raros exemplos literários contemporâneos como estes:
singular deverá ficar o verbo:
O homem fora um dos que não resistira a tal sortilégio.
(Fernando Namora, CS, 168.) Quando as nuvens começaram a existir,
qual de n6s estava presente?
O bispo de Silves foi um dos que caiu no erro funesto. (Cecilia Meireles, DP, 299.)
(Aquilino Ribeiro, PSP, 2l0.)
Nenhum de vós, ao meu enterro,
Irá mais dândi, olhail do que eul
o sujeito é o pronome relativo qJ/em. (António Nobre, S, 83.)

I. O pronome relativo quelll constrói-se, de regra, com o verbo na


o sujeito é um plural aparente.
3.• pessoa do singular:
E não fui eu quem te salvou? Os nomes de lugar, e também os tirulos de obras, que têm forma de
(David Mourão-Ferreira, I, 91.) plural são tratados como singular, se não vierem acompanhados de artigo:

Não faltam, porém, exemplos de bons autores em que o verbo


2. Mas Vassouras é que não o esquecerá tão cedo.
concorda com o pronome pessoal, sujeito da oração anterior. Neste caso, (Raimundo Correia, PCP, 492.)
põe-se em relevo, sem rodeios mentais, o sujeito efectivo da acção expressa
Comparado, por exemplo, com Agosto Azul, Regressos acusa nalguns
pelo verbo: capitulos uma ligeira variação de timbre.
Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela (Urbano Tavares Rodrigues, MTG, lO.)
E oculta mão colora alguém em mim.
(Fernando Pessoa, DP, ll.) Quando precedidos de artigo, o verbo assume normalmente a forma
Eram os filhos, esrudantes nas Faculdades da Bahia, quem os obriga- plural:
vam a abandonar os hábitos frugais.
(Jorge Amado, GCC, 249') Os Estados Unidos, então, por sua vez, tentam uma demonstração
espectacular.
É esta a construção preferida da linguagem popular . (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 308.)

. ._--"--_ ...--_.- -----_.-


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO VERBO 3H
;)4

As Memórias Póstumas de Brás Cubas lhe davam uma outra dimen- Neste exemplo, o escritor, com o singular (isto é, colocando o verbo
são. em concordância com o pronome indefinido), procura realçar um con-
(Thiers Martins Moreira, VVT, ;8.) junto, e não os elementos que o compõem, a fim de sugerir-nos as dife-
rentes realidades transformadas numa só coisa.
o sujeito é indeterminádo. Atente-se no efeito estilistico provocado pelo contraste de concordân-
Nas ora~ões de sujeito indeterminado, já o dissemos, o verbo vai para cia neste passo de Camilo Castelo Brancu.
a ;.- pessoa do plural: Há neles mnita lágrima, e o que não é lágrimas são algemas.
- Pediram-me que a procurasse.
;.0) Quando o sujeito é uma expressão de sentido colectivo como o
(Fernanda Botelho, X, '0;.)
resto} o mais:
Se, no entanto, a indetermina~ão do sujeito for indicada pelo pronome o mais são casas esparsas.
se,o verbo fica na ;.- pessoa do singular:
{Carlos Drummond de Andrade, eA, 7;.)
Veio a hora do chá. Depois cantou-se e tocou-se ainda.
(Machado de Assis, oe, II, 106.) 4.0) Nas orações impessoais:

Concordância do verbo ser. São duas horas da noite.


I. Em alguns casos o verbo ser concorda com o predicativo. Assim: (Antônio Botro, AO, 141.)

1.°) Nas orações começadas pelos pronomes interrogativos subs- Observa~o:


tantivos qlle? e qllem?:
Empregados com referência às horas do dia, os verbos dar) bater) soar e sinó~
- Que são seis meses? nimos concordam com o número que indica as horas:
(Machado de Assis, oe, I, 1041.) Soaram doze horas por igrejas daqueles vales.
Quem teriam sido os primeiros deuses? (Camilo Castelo Branco, QA, I6j.)
(Antônio Sérgio, E, IV, '4).) Quando há o sujeito relógio (ou sino, sineta. etc.), o verbo naturalmente con-
corda com ele:
2.0) Quando o sujeito do verbo ser é um dos pronomes isto, isso, aqllilo,
tlldo ou o (= aquilo) e o predicativo vem expresso por um substantivo no O sino da Matri2: bateu seis horas.
plural: (Augusto Meyer, P, 1)9')

- Isto não são conversas para ti, pequena. 2. Se o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo nor-
(Fernando Namora, TI, '96.) malmente concorda com ele, qualquer que seja o número do predicativo:

Tal concordância explica-se pela tendência que tem o nosso espirito de Ovidio é muitos poetas ao mesmo tempo, e todos excelentes.
preferir destacar como sujeito o que representamos por palavra nocional, (Antônio Feliciano de Castilho, AO, 2).)
pois esta alude a realidades mais evidentes.
Mas, neste caso, também não é raro aparecer o verbo no singular, em Todo eu era olhos e coração.
concordância com o pronome demonstrativo ou com o indefinido: (Machado de Assis, oe, I, 742.)

Tudo era 08 cstudos, brincadeiras.


(Luandino Vieira, VE, 49') 3. Quando o sujeito é constituldo de uma expressão numérica que se
BREVE GRA~1..{TICA DO PORTUGUÊS CONTE~IPORÂNEO 357
;j6 VERBO

considera em sua totalidade, o verbo ser fica no singular: Sujeitos resumidos por um pronome indefinido.

Oito an05 sempre é alguma coisa. Quando os sUjeitos são resumidos por um pronome indefinido (como
(Carlos Drummond de Andrade, CA, 146.) lI/do, nada, ningllém), o verbo fica no singular, em concordância com esse pro-
nome:
4. Nas frases em que ocorre a locução invariável é q/le} o verbo concorda
com o substantivo ou pronome que a precede~ pois são eles efectivarnente o o pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de
um cinzento de borralho.
seu sujeito:
(Raquel de Queirós, TR, Ij.)
Tu é que deves escolher o sitio.
(Alves Redol, BC, 34;.) A mesma concordância se faz quando o pronome anuncia os sujeitos:

Tudo o fazia lembrar-se dela: a manhã, os pássaros, o mar, o azul do


2. Com mais de um sujeito céu, as flores, os campos, 05 jardins, a relva, as casas, as fontes, sobretudo
as fontes, principalmente as fontes.
Concordância com o sujeito mais próximo. (Almada Negreiros, NG, 112.)

Vimos que o adjectivo que modifica vários substantivos pode, em certos


casos, concordar com o substantivo mais próximo. Também o verbo que Sujeitos representantes da mesma pessoa ou coisa.
tem mais de um sujeito pode concordar com o sujeito mais próximo:
Quando os SUJeitos, por palavras diferentes, representam uma só pes-
a) quando os sujeitos vêm depois dele: soa ou uma só coisa, o verbo fica naturalmente no singular:

Que te seja propIcio o astro e a flor, A Ideia, o sumo Bem, o Verbo, a Essência,
Que a teus pés se incline a Terra e o Mar. Só se revela aos homens e às nações
No céu incorruptível da Consciência I
(Florbela Espanca, S, 163.)
(Antero de Quental, SC, 62.)
b) quando os sujeitos são sinónimos ou quase sinónimos:
o amor e a admiração nas crianças compraz':'se dos extremos. Sujeitos ligados por ou e por """.
(Aquilino Ribeiro, CRG, 86.) I. Quando o sujeito composto é formado de substantivos no singular
ligados pelas conjunções ou ou lIelJl, o verbo costuma ir:
c) quando há uma enumeração gradativa:
a) para o plllral, se o facto expresso pelo verbo pode ser atribuído a
A mesma coisa, o mesmo acto, a mesma palavra provocava ora todos os sujeitos:
risadas, ora castigos.
(Monteiro Lobato, N, 4.) Por muito que o tempo ou a paisagem se repetissem, essa teimosia
apenas a aproximava da harmonia caprichosa d'1. paisagem da sua infância.
(Fernando Namora, T], 301.)
d) quando os sujeitos são interpretados como se constituíssem em con-
junto lima qualidade, uma atitude: Nem a monotonia nem o tédio a fariam capitular agora.
A grandeza e a significação das coisas ,resulta do grau de transcen- (Ciro dos Anjos, M, 2;j.)
dência que encerram.
(Miguel Torga, TU, 63.) b) para o sillg,dar, se o facto expresso pelo verbo só pode ser atribuído
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VIlRJ30 359
35 8

a um dos sujeitos, isto é, se há ideia de alterna~iva: Nem um nem outro havia idealizado previamente este encontro.
(Tasso da Silveira, SC, 220.)
Fui devagar, mas o pé ou o espelho traiu-me.
(Machado de Assis, OC, I, 763.) Não é rara, porém, a construção com o verbo no plural quando as
expressões se empregam como pronome substantivo:
Nem tormenta nem tormento
nos poderia parar. Nem um nem outro desejavam questionar.
(Cecilia MeireIes, OP, 141.) (Joaquim Paço d'Arcos, CVL, II45·)

2. Nota-se, porém, na linguagem coloquial uma tendência de anular A locução 1/171 e outro.
tais distinções, principalmente quando os sujeitos estão ligados pela con-
junção nem. A locuçào /1111 e Ol/tro pode levar o verbo ao plural ou, com menos fre~
Encontra-se frequentemente o plural onde seria de esperar o singular. guência, ao singular:
Assim:
Um e outro é sagaz e pressentido.
Nem João nem Carlos serão eleitos presidente do clube. Um e outro aos ladrões declaram guerra.
(António Feliciano de Castilho, F, lII, '9')
o cargo de presidente é exercido por um só indivIduo. Logo, o verbo
deveria marcar a alternância. Sujeitos ligados por com.

Outras vezes, faz-se a concordância com o sujeito mais próximo, embora Quando os sUjeitos vêm unidos pela partícula COIH, o verbo pode uSllr-
a acção se refira a cada um dos sujeitos. Assim: -se no plural ou em concordância com o primeiro sujeito, segundo a valo-
Nem o sol, nem o vento, nem o ruído das águas, nem mesmo a rização expressiva que dermos ao elemento regido de com.
preocupação de que eu pudesse persegui-los, perturbava o aconchego.
(Dlnah Silveira de Queirós, EHT, 53.) Assim, o verbo irá normalmente:

a) para o plural, quando os sujeitos estão em pé de igualdade, e a par-


3. Se os sujeitos ligados por ou ou por nem não são da mesma pessoa,
tícula C01l1 os enlaça como se fosse a conjunção e:
isto é, se entre eles há algum expresso por pronome da La OU da z.a pessoa,
o verbo irá normalmente para o plural e para a pessoa que tiver precedência. o mestre com o boleeiro fizeram a emenda.
Ou ela ou eu havemos de abandonar para sempre esta casa; e isto hoje (José Lins do Rego, F M, 94.)
mesmo.
(Bernardo Guimarães, EI, 56.) b) para o número do primeiro SUJeito, quando pretendemos realçá-lo
Nem tu nem eu soubemos ser nós uma única vez. em detrimento do segundo, reduzido à condição de adjunto adverbial de
(Augusto Abelaira, B, 122.) companhia:

A viúva, com o resto da familia, mudara-se para Vila Isabel, desde o


4. As expressões um ou outro e nem um nem outroJ empregadas como rompimento.
pronome subst~ntivo ou como pronome adjectivo, exigem normalmente o (Ribeiro Couto, NC, 71.)
verbo no singular:
Um ou outro porco era cevado e as salgadciras de Corrocovo suaviza~ Sujeitos ligados por conjunção comparativa.
ram o inverno.
(Carlos de Oliveira, CD, 96.) Quando dois sujeitos estão unidos por uma das conjunçôcs compnrati-
,60 BREVE GRAMÁTICA DO' PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VlliUl O ,6,
vas assim COPIO, bem como e equivalentes, a concordância depende da inter-
COIJJO}
b) pelas preposições, cuja função é justamente a de ligar palavras esta-
pretação que dermos ao conjunto: belecendo entre elas um nexo de dependência;
c) pelas conjunções subordinativas, quando se trata de um periodo
Assim, o verqo concordará: composto.
a) Com o primeiro sti/eito, se quisermos destacá-lo: Em outros capltulos deste livro, estudamos parceladamente tais relações:
complementos pedidos por substantivos, por adjectivos, por verbos, por
o nome, como o corpo, é nós também. advérbios e, mesmo, por orações. Procuraremos, agora, precisar melhor as
(Vergilio Ferreira, A, 20.) formas que assume a REGÊNCIA VERBAL.

Neste caso, a conjunção conserva pleno o seu valor comparativo; c o


segundo termo vem enunciado entre pausas, que se marcam, na escrita, por Regência verbal.
vlrgulas.
Vimos que, quanto à predicação, os verbos significativos se divi-
I.
b) Com os dois s'!ieitos englobadamente (isto é: o verbo irá para o plural), dem em INTRANSITIVOS e TRANSITIVOS.
se os considerarmos termos que se adicionam, que se reforçam, interpretação OS INTRANSITIVOS expressam uma ideia completa:
que normalmente damos, por exemplo, a estruturas correlativas do tipo'
tanto ... como: A criança dormiu. Pedro viajou.

É inútil acrescentru: que tanto ele como eu esperamos que você nos OS TRANSITIVOS, mais numerosos, exigem sempre o acompanhamento
dê sempre noticias. de uma palavra de valor substantivo (OBJECTO DIRECTO ou INDIRECTO)
(Ribeiro Couto, C, 202.) para integrar-lhes o sentido:

Entre os sujeitos não há pausa; logo, não deveol ser separados, na,escrita, o meruno comprou um livro.
por vlrgula. O velho carecia de roupa.
De modo semelhante se comportam os sujeitos ligados por uma série Pedro deu um presente ao amigo.
aditiva enfática (não só... mas [senão ou como1 também) :
A ligação do verbo com o seu complemento, isto é, a REG1\NCIA
2.
Qualquer se persuadirá de que não só a nação mas também o prlncipe VERBAL, pode, como nos mostram os exemplos acima, fazer-se:
estariam pobres. a) directamente, sem uma preposição intermédia, quando o comple-
(Alexandre Herculano, HP, UI, ,o,.) mento é OB)ECTO DIRECTO.

REG:nNCIA b) indirectaJJJente, mediante o emprego de uma preposição, quando o


complemento é ODJECTO INDIRECTO.

Em geral, as palavras de uma oração são interdependentes, isto é, rela-


cionam-se entte si para formar um todo significativo.
Diversidade e igualdade de regência.
Essa relação necessátia que se estabelece entre duas palavras, uma· das
quais serve de complemento a outra, é o que se chama REG1INCIA. A pala-
vra dependente denomina-se REGIDA, e o termo a que ela se subordina, Verbos há que admitem mais de uma regência. Em geral, a diversi-
REGENTE. dade de regência corresponde a uma variação significativa do verbo. Assim:

As relações de REG1\NCIA podem ser indicadas: Aspirar [= sorver, respirar] o ar de montanha.


a) pela ordem por que se dispõem os termos na oração; Aspirar [= desejar, pretender] a um alto cargo.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO VERBO 36 3
362

Alguns verbos, nO entanto, usam-se na mesma acepção com mais de uma a) quando é AUXILIAR (com sentido equivalente a ter) de VERDO PES-
sOAL, quer junto a particípio, quer junto a infinitivo antecedido da pre-
regência. Assim:
posição de:
Meditar num assunto.
Meditar sobre um assunto. Também a mim me hão ferido.
(José Régio, F, 56.)
Outros, finalmente, mudam de significação, sem variar de regência. Assim:
Outros haverão de ter
Carecer [= não ter] de dinheiro. O que houvermos de perder.
Carecer [ = precisar] de dinheiro. (Fernando Pessoa, DP, 17.)

b) quando é VERllO PRINCIPAL, com as significações de «conseguir»,


Observação:
«obter», «alcançar», «adquirir»:
No estudo da regência verbal cumpre não esquecer os seguintes factos:
Donde houveste, ó pélago revolto,
1.0 O OBJECTO INDlRECTD só não vem preposicionado quando é expresso,
Esse rugido teu?
pelos pronomes pessoais obl1quos me) te se) lhe} nos} vos e lhes.
(Gonçalves Dias, PCPE, '91.)
2..0 Somente as preposições que ligam complementos a um verbo (OBjECTO
INDIRBCTO) ou a um nome (COMPLEMENTO NOMINAL) estabelecem relações
c) quando é VERBO PRINCIPAL, com a forma reflexa, nas acepções de
de regência. Por isso, convém distingui-las, com clareza, das que encabeçam
«portar-se», «proceden>, «comportar-se», «conduzir-se»:
ADJUNTOS ADVERBIAIS OU ADJUNTOS ADNOMINAIS.

;.0 OS VERBOS INTRANSITIVOSpodem, em certos casos, ser seguidos de Talvez passasse por cima de tudo, da maneira como ele a tratara, da
OBJECTO DlRECTO. De regra, isso se dá quando. o substantivo, núcleo do dureza com que se houvera e se lembrasse de que ele era o seu pai.
objecto, é formado da mesma raiz ou contém o sentido fundamental do verbo. (Joaquim Paço d' Arcos, CVL, 702.)
Exemplos:
Viver uma vida alegre. ti) quando é VERBO PRINCIPAL, também com a forma reflexa, no sen-
Chorar lágrimas de amargura. tido de «entender-se», «avir-se», «ajustar contas»:
4.0 Também VERBOS TRANSITIVOS costumam ser usados intransitivamentc: O mestre padeiro, que era do mesmo sangue do patrão, que se hou-
O pior cego é o que não quer ver. vesse com ele.
Ele é manhoso: não afirma nem nega. (José Lins do Rego, MR, 34.)
5.° Muitas vezes, a regência de um verbo estende-se aos substantivos e aos
e) quando é VERBO PRINCIPAL, acompanhado de iniinitivo sem pre-
adjcctivos cognatos:
posição, com o sentido equivalente a «ser possível»:
Obedecer ao chefe. Contentar-se com a sorte.
Obediência ao chefe. Contentamento com a sorte. Não há negá-lo, o apito é de uso geral e comum.
Obediente ao chefe Contente com a sorte. (Machado de Assis, DC, Ill, 536.)

SINTAXE DO VERBO HAVER 2. Emprega-se como IMPESSOAL, isto é, sem SUJeito, quando significa
«existir», ou quando indica tempo decorrido. Nestes casos, em qualquer
O verbo haver, conforme o seu significado, pode empregar-se em todas tempo, conjuga-se tão-somente na 3. a pessoa do singular:
as pessoas ou apenas na 3. a pessoa do singular.
Há trovoadas em toda a parte ...
r. Emprega-se em todas as pessoas: (Miguel Torga, V, 158.)

... _._...._--_ ......_._._---


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
364

_ Há dois dias que não vem trabalhar! 14.


(Luandino Vieira, NM, "9')

3. Quando o verbo haver exprime existência e vem acompanhado dos


auxiliares ir, dever, poder, etc., a l.ocução assim formada é, naturalmente, impes~ Advérbio
soaI.
_ Eu não sei, senhor doutor, mas deve haver leis.
(Eça de Queirós, 0, I, 164.)

Podia haver complicações, quem sabe?


(Ciro dos Anjos, M, '93') I. o ADVÉRlJIO é, fundamentalmente, um modificador do verbo:
o almoço decorria agora lentamente.
Observação: (Arnaldo Santos, K, '03.)
o verbo haver, quando sinónimo de existir, constrói-se de modo diverso deste.
Nesta acepção, haver não tem sujeito e é transitivo directo, sendo o seu dbjecto 2. A essa função básica, geral, certos advérbios acrescentam outras
o nome da coisa existente ou, a substitui-lo, o pronome pessoal o Co, lo, la). que lhes são privativas.
Existir, ao contrário, é intransitivo e possui sujeito, expresso pelo nome da Assim, os chamados ADVÉRBIOS DE INTENSIDADE e formas semantica-
coisa existente. mente correlatas podem reforçar o sentido:
Dir-se-á, pois:
Há tantas folhas pelas calçadas I a) de um adjectivo:
Existem tantas folhas pelas calçadas 1
Antes de partir, teve com o padre uma derradeita conversa, muito edi..
ficante e vasta.
(Guimarães Rosa, S, 346.)

b) de um advérbio:
o homem caminhava muito devagar.
(Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 156.)

3. Saliente-se ainda que alguns advérbios aparecem, não raro, modifi-


cando toda a oração: 1

Possivelmente, não haverá ceia este ano.


(Vergllio Ferreira, A, IH.)
Neste último emprego, vêm geralmente destacados no inicio ou no fim
da oração, de cujos termos se separam por uma pausa nltida, marcada na
escrita por vírgula.

I É o que a Nomenclatura Gramatical Portuguesa chama ADVÉRBIOS DB ORAÇÃO.


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊs CONTEMPORÂNEO ADVÉRBIO 36 7
366
b) DE LUGAR: onde?
Classificação dos advérbios.
Onde está o livro?
Os ADVÉRBIOS recebem a denominação da circunstância ou de outra Ignoro onde está o livro.
ideia acessória que expressam.
A Nomenclatura Gramatical Brasileira distingue as seguintes espécies: c) DE MODO: como?
a) ADVÉRBIOS DE AFIRMAÇÃO: sim, certamente, efectivamentc, rcalmen/eJete.; Como vais de saúde?
b) ADVÉRBIOS DE DÚVIDA: acaso, porventura, possivelmente, provavelmenle, Dize-me como vais de saúde.
quiçá, talvez, etc.; d) DE TEMPO: quando?
c) ADVÉR:aros DE INTENSIDADE: assaz, bastante, bem, demais, mais, menos,
muito, paI/co, quanto, quão, quase, tanto, tão, etc.; Qúando voltas aqui?
ti) ADVÉRBIOS DE LUGAR: abaixo, acima, adiante, aí, além, ali, aq/lclIIJ Quero saber quando voltas aqui.
aqui, atrás, através, cá, defronte, dentro, detrás,jora,junto, lá, longe, onde,perto, etc.;
e) ADVÉRBIOS DE MODO: assim, bem, debalde, depressa, devagar, mal, melbor, Advérbio relativo.
Pior e quase todos os terminados em -mente: fielmente, levemente, etc.; Como dissemos na página 351, o relativo'onde, por desempenhar nor-
f) ADVÉRBIO DE NEGAÇÃO: não; malmente a função de adjunto adverbial (= o lugar em que, no qual), é
g) ADVÉRBIOS DE TEMPO: agpra, ainda, amanhã, anteontem, antes, breve,
considerado por alguns gramáticos ADVÉRBIO RELATIVO, designação que não
cedo, depois, então, hoje, já, jamais, logo, nunca, ontem, outrora,' sempre, tarde, etc. consta d" Nomenclatura Gramatical Brasileira, mas que foi acollúda pela
Portuguesa.
A Nomenclatura Gramatical Portuguesa acrescenta a essa lista três
outras espécies: Locução adverbial.
a) ADVÉRBIOS DE ORDEM: prinJeirafnente, ultimamente, depois, etc.;;
I. Denomina-se LOCUÇÃO ADVERBIAL o conjunto de duas ou mais
b) ADVÉRBIOS DE EXCLUSÃO e
c) ADVÉRBIOS DE DESIGNAÇÃO. palavras que funciona como advérbio. De regra, as LOCUÇÕES ADVERBIAIS
Os dois últimos foram incluldos pela Nomenclatura Gramatical Bra- formam-se da associação de uma preposição com um substantivo, com um
sileira num grupo à parte, inominado, em razão de não apresentarem as adjectivo ou com um advérbio. Assim:
caracterlsticas normais dos advérbios, quais sejam as de modificar o verbo,
Fernanda sortiu em silêncio.
o adjectivo ou outro advérbio. Deles trataremos adiante sob a denominação
(Érico Vedssjmo, LS, 133.)
de PALAVRAS DBNOT ATIVAS.
Sorrindo mais, obedeceu de novo.
(Ferreira de Castro, OC, I, 4.)
Advérbios interrogativos. - Vou começar por aqui!. ..
(Manuel da Fonseca, SV, 133.)
Por se empregarem nas interrogações directas e indirectas, os seguintes
advérbios de causa, de lugar, de modo e de tempo são chamados INTERRO- Mas há formações mais complexas, como:
GATIVOS:
a) DE CAUSA: por qll'? O cachimbo de água passou de mão em mão.
(Castro Soromenho, V, 20j.)
Por que não vieste à festa?
Não sei por que não vieste à festa. Responcli-lhe que aquilo devia ser alguma ideia de minha mulher, que
de vez em quando tem uma.
(Rubem Braga, CCB, 97.)
BREVE GRAMÁ'I'ICA DO PO~TUGuis CONTEMPORÂNEO ADVÉRBIO ,69
368

S6 de longe em longe se ouvia, vindo das muralhas, o grito de ronda - O teu pai está muito mal.
dos soldados. (Castro Soromenho, ·TM, %06.)
(Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 18 4-5.)
2. Dos ADVÉRllIOS que modificam o VERllO:
2. A semelhança dos advérbios, as LOCUÇÕES ADVERllIAIS podem ser:
a) os DE MODO colocam-se normalmente depois dele:
a) DE AFIRMAÇÃO (ou DÚVIDA): com certeza,·por certo, sem dúvida:
Ela ouvia-o atentamente.
Atente-se na distinção:
(Almada Negreiros, NG, 6r.)
Com certeza [= provavelmente] ele virá.
Ele virá com certe2a [= com segurança]. b) os DE TEMPO e DE LUGAR podem colocar-se antes ou depois do
VERBO:
b) DE INTENSIDADE: de milito, de pOflCO, de todo, etc.;
c) DE LUGAR: à direita, à esquerda, à distílncia, ao lado, de dentro, de cima, De manhã, acordei cedo.
de longe, de perto, em cima, para dentro, para onde, por ali, por aqfli, por dentro, (Machado de Assis, OC, II, 5>7.)
por fora, por onde, por per/o, etc.; Hei-d.e atirar com esse tipo de cá para fora.
ti) DE MODO: à toa, à vontade, ao cOfJtrário, ao léu, às avessas, às claras, às (Joaquim Paço d'Arcos, CVL, 68,.)
direitas, às pru!os, CORI gaIta, com amor, de bom grado, de cor, de má vontade, de
Cá fora era noite.
regra, em geral, em silêncio, em vão, gola a gota, passo a passo, por acaso, etc.;
(Luandino Vieira, VVVx, 7,.)
e) DE NEGAÇÃO: de forma alguma, de moda nenhum, etc.;
j) DE TEMPO: à noite, à tarde, à tardinha, de dia, de manhã, de noite, de c) o de NEGAÇÃO antecede sempre o VERllO:
quando eOl qllando, de vez em qllando, de tempos em (a) tempos, ctJJ breve, pela ma/lba,
- Então não se cava a terra?.. não se lavra?.. não se aduba?.. nio
etc. . ?
se semeIa ....
(Aquilino Ribeiro, CRG, 66.)
Observação:
Quando uma preposição vem antes do advérbio, não muda a natureza deste; 3. O realce do ADJUNTO ADVERllIAL é expresso de regra por sua anteci-
forma com ele uma LOCUÇÃO ADVERBIAL: de dentro, por detrás, etc.
Se, ao contrário, a preposição vem depois de um advérbio ou de uma locução
pação ao verbo:
adverbial, o grupo inteiro transforma~se numa LOCUÇÃO PREPOSITIVA: den~
Rapidamente Gertrudes riscou um fósforo e acendeu duas velas.
tro áe, por áetrás áe, etc.
(Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 54.)

Colocação dos advérbios. Lá fora, na rua, um bonde passou com estrépito.


(Fernando Sabino, EM, 8;.)
Os ADVÉRBIOS que modificam um ADJECTIVO, um PARTIdPIO
I.
isolado, ou um outro ADVÉRBIO colocam-se de regra antes destes: Repetição de advérbios em -mente.
Invejei o noivo, tão alegre, tão amável, a grossa gargal~ada a irromper a
cada instante.
I. Quando numa frase dois ou mais advérbios em -mente modificam
(Graciliano Ramos, C, 156.) a mesma palavra, pode~se, para tornar mais leve o enunciado, juntar o sufixo
apenas ao último deles:
Muito apressado, num vislvel nervosismo, veio de casa até ali.
(Manuel da Fonseca, SV, 19;·) É longa a $!strada ... Aos ríspidos estalos
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO .ADVÉRBIO
370 37 '

Do impaciente látego, os cavalos sendo de notar que nos advérbios em -mente esta terminação se pospõe à
Conem veloz, larga e fogosamente ... forma superlativa feminina do adjectivo de que se deriva o advérbio:
(Raimundo Correia, PCP, 123.)
Superlativo
2.Se, no entanto, a intenção é realçar as circunstâncias expressas
pelos advérbios, costuma-se omitir a conjunção e e acrescentar o sufixo a Adjeetivo lento lentlssimo
cada um dos advérbios: Advérbio lentamente Ientissimamente
De repente, pus-me de pé e aproximei-me lentamente, ritmadamente,
voluptuosamente, da janela. b) ANALÍTICO - com a ajuda de um advérbio indicador de excesso:
(Fernando Namora, RT, 169.)
- Fizeste bem mal, muito mal mesmo - .rep~eendeu Elmira.
GRADAÇÃO DOS ADVÉRBIOS -(António de Assis Júnior, SM, 205.)
Certos advérbios, principalmente os de modo, são susceptiveis de gra-.
dação. Podem apresentar um COMPARATIVO e um SUPERLATIVO, formad?s Outras formas de comparativo e superlativo.
por processos análogos aos que observamos na flexão correspondente dos
I. Melbor e pior podem ser COMPARATIVOS dos adjectivos bom e mau
adjectivos.
e, também, dos advérbios bem e mal. Neste caso são, naturalmente, invariáveis:
Grau comparativo.
Quem escreveu melhor? Quem escreveu bem no Brasil?
Forma-se o COMPARATIVO: (Graça Aranha, OC, 708.)
- E o professor não estaria aqui pior?
a) DE SUPERIORIDADE - antepondo mais e pospondo que ou do que
(Fern.1nda Botelho, X, 150.)
ao advérbio:
o filho andava mais depressa que (OU do que) o pai. 2. A par dessas formas anómalas, existem os COMPARATIVOS regula-
res mais bem e mais mal) usados, de preferência, antes de adjectivos-particípios:
~

b) DE IGUALDADE - antepondo tão e pospondo como ou quanto ao As paredes da sala estão mais bem pintadas que as dos quartos.
advérbio: Não pode haver um projecto mais mal executado do que este.

o filho andava tão depressa como (ou quanto) o pai. Advirta-se, porém, que na posposição só se empregam as formas sin-
téticas:
c) DE INFERIORIDADE - antepondo menos e pospondo que ou do que
As paredes das salas estão pintadas melhor que as dos quartos.
ao advérbio: Não pode haver um projecto executado pior do que este.
o pai andava menos depressa do que (ou que) o filho. 3· No SUPERLATIVO ADSOLUTO SINTÉCTICO, bem apresenta a forma
Grau superlativo. optiI/Jamente i e mal) a forma pessimamente:
Maria está passando optimamcnte.
Forma-se o SUPERLATIVO ABSOLUTO: O cavalo correu pessimamente.
a) SINTÉCTICO - com O acréscimo de sufixo: 4. Muito e POtlco) quando advérbios, têm como COMPARATIVOS I/J(/i~
muitíssimo pouqulssimo C lIIellOS) c como SUPERLATIVOS o mais ou I!mitissi"JO e o melJos ou pOllqllíssi/IJo,
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNEO ADVÉRBIO 373
371
advérbios, passaram a ter, cóm a Nomenclatura Gramatical Brasileira, classifi-
respectivamente: cação à parte, mas sem nome especial.
_ Dom Juan, quando menos pensava, lá se foi para as profundas do São palavras que denotam, por exemplo:
Inferno.
(Artur Azevedo, CFM, 9.)
a) INCLUSÃO: até, inclusive, munlO, tambél!J,(etc.:
_ Imagilia tu que a Chica tem um tipo encantador, que a trata muids..
simo bem e que ... que ... a ajuda ... Tudo na Vida engana, até a Gl6ria.
(Sttau Monteiro, APj, 138.) (António Nobre, D, II4.)
Esse tipo de publicação, pouquíssimo difundido entre nós, é todavia b) EXCLUSÃO: apenas, salvo, senão, só, somente, etc.:
da maior importância e largamente praticado em outros países.
(Emanuel Pereira Filho, in TPB, de Gândavo, 13·) Da familia só das duas subsistiam.
aosué MonteIJo, DP, 382.)
O certo é que tinha em mente. gastar o menos possível com o enterro.
(Aquilino Ribeiro, V, 368.) c) DESIGNAÇÃO: eis:

5. O SUPERLATIVO INTENSIVO, denotador dos limites da possibilidade, Eis o dia, eis o Sol, o esposo amado I
forma-se antepondo o mais ou o ",enos ao advérbio e pospondo-Ihe a pala- (Antero de Quental, se, 4.)
vra possivel ou .uma expressão (ou oração) de sentido equivalente: á) REALCE: cá, lá, é q/le, só, etc.:
o administrador ia o mais depressa possivel. Eu cá tenho mais medo do sol que dos leões.
(Castro Soromenho, TM, 181.) (Castro Soromenho, C, 204.)
- Não quero saber dos santos óleos da teologia; desejo sair daqui t) RECTIFICAÇÃO: aliás, ou antes, isto é, 011 melhor, etc.:
o mais cedo que puder, ou já...
(Machado de Assis, OC, I, 794.) - Sinto que ele me escapa, ou melhor: que nunca me pertenceu.
(Augusto Abelaira, CF, 226.)
Diminntivo com valor superlativo.
f) SITUAÇÃO: afiliaI, agora, então, mas, etc.:
Na linguagem coloquial é comum o advérbio assumir uma forma dimi-
nutiva (com os sufixos -inho e -zinho), que tem valor de SUPERLATIVO: - Afinal, ela nllo tem culpa de ser /ilha de ministro.

Vem cedinho, vem logo que amanheçal (Fernando Sabino, EM, 85.)
(Eugénio de Castro, UV, 59') 2. Como vemos, tais palavras não devem ser incluldas entre os advér-

Advérbios que não se flexionam em grau. bios. Não modificam o verbo, nem o adjectivo, nem outro advérbio. São
por vezes de classificação extremamente diflcil. Por isso, na 'lDálise, convém
Como sucede com alguns adjectivos, há advérbios que não se flexionam dizer apenas: «palavra ou locução denotadora de exclusão, de realce, de
em grau porque o pr6prio significado não admite variação de intensidade. rcctificação», etc.
Entre outros, apontem-se: aqui, 01, ali, lá, hoje, amanhã, diariamente, anual1l1ente
3. A Nomenclatura Gramatical Portuguesa admite a existência dos
e formações semelhantes.
ADVÉRBIOS DE EXCLUSÃO e DE INCLUSÃO e considera ADVÉRBIOS DE ORAÇÃO

PALAVRAS DENOTATIVAS2 o que, neste Capltulo, denominamos PALAVRAS DENOTATIVAS DE SITUAÇÃO.


l. Certas palavras, por vezes enquadradas impropriamente entre os
em seu Manual d, análift (lixÍ(o , fjnldlito), 6.& ed. refunc;lidA. Rio de Janeiro, Francisco Alves,
1942, p. ,O-H. À falta de uma desigrutçAO mais,precisa c mais genernlizada, adoptamos proviso-
2 A denomin2ção PALAVRAS DBN'OTATlVAS foi proposta pelo professor José Oiticiea riamente esta, embora reconhecendo que «denotar» é próprio das unidades laleais em geral.
pRllPOSIÇXO 371

15. Tais PREPOSIÇÕES denomioam-se também ESSENCIAIS, para se distin-


guirem de certas palavras que, pertencendo normalmente a outras classes,
funcionam às vezes como preposições e, por isso, se dizem PREPOSIÇÕES
,ACIDEN'I'AIS. Assim: afora, conforme, consoante, durante, excepto) fora, mediantc,

Preposição menos} não obstante, salvo, segundo" senão, tirante, vis/o, etc.

Locuções prepositivas.

Eis algumas LOCUÇÕES PREPOSI'I'IVAS:

abai>:o de apesar de em bai>:o de para bai>:o de


Função das preposições. acerca de a respeito de em cima de para cima de
acima de atrás de em frente a para com
Chama1l\-se PREPOSIÇÕES as palavras invariáveis que relacionam dois ter- a despeito de através de em frente de perto de
moS de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro (ANTECEDEN'rE) adiante de de acordo com em lugar de por bai>:o de
é explicado ou completado pelo segundo (CONSEQUEN'rE). Assim: a fim de debai>:o de em redor de por causa de
além de de cima de em torno de por cima de
Antecedente Preposição Consequente antes de defronte de em vez de por detrás de
ao lado de dentro de graças a por diante de
Vou a Roma ao redor de depois de junto a por entre
Chegaram a tempo a par de diant" de junto de por trás de
Todos salram de casa
Chorava de dor
Estive com Pedro Sígnificação das preposições.
Concordo com você

I. A relação que se estabelece entre palavras ligadas por intermédio


Forma das preposições. de PREPOSIÇÃO pode implicar moviinento ou não movimento; melhor
dizendo: pode exprimir um movimento ou uma situação dai resultante.
Quanto à forma, as PREPOSIÇÕES podem ser: Nos exemplos atrás mencionados, a ideia de movimento está presente
a) SIMPLES, quando expressas por um só vocábulo; em:
b) COMPOSTAS (ou LOCUÇÕES PREPOSI'I'IVAS), quando constituídas de
Vou a Roma.
dois ou mais vocábulos, sendo o último deles uma PREPOSIÇÃO SIMPLES Todos saltam de casa.
(geralmente de).

São marcadas pela ausência de movimento as relações que as PREPOSI-


Preposições simples. ÇÕES a, de e com estabelecem nas seguintes frases:

As PREPOSIÇÕES SIMPLES são: Chegaram a tempo.


Chorava de dor.
a com em por (per) Estive com Pedro.
ante contra entre sem Concordo com você.
após de para sob
até desde perante sobre 2. Tanto o MOVIMENTO como a SITUAÇÃO (termo que adaptaremos
trás daqui por diante, para indicar a falta de movimento na relação estabelecida)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊs CONTEMPORÂNEO pR1lPosrçÃo 377
51 6

podem ser considerados em referência ao ESPAÇO, ao TEMPO e à NOÇÃO. Esquematizando:


A PREPOSIÇÃO de, por exemplo, estabelece uma relação:
a) ESPACIAL em: CONTI!ÓDO SIGNIJ'IcA'l'IVO FtlNDAWBNTAL

Todos saltam de casa.

b) TEMPORAL em:
Trabalha de 8 às 8 todos os dias.

c) NOCIONAL em:
Chorava de dor.
Livro de Pedro. Esta subdivisão possibilita a análise do sistema funcional das preposições
em português, sem que precisemos levar em conta os variados matizes signi-
Nos três casos a PREPOSIÇÃO de relaciona palavras à base de uma ideia ficarivos que podem adquirir em decorrência do contexto em que vêm
central: <<movimento de afastamento de um limite", «procedênCÍID,. Em inseridas.
outros casos, mais ratos, predomina a noção, dai derivada, de «situação
longe de». Os matizes significativos que esta preposição pode adquirir em Conteúdo significativo e função relacional.
contextos diversos derivarão sempre desse conteúdo significativo fundamen-
tal e das suas possibilidades de aplicação aos campos espacial, temporal ou I. Compatando as frases:
nacional, com a presença ou a ausência de movimento.
Viajei com Pedro.
3. Na expressão de relações preposicionais com ideia de movimento Concordo com você.
considerado globalmente, iroporta levar em conta um ponto limite (A),
em referência ao qual o moviroento será de aproximação (B ->- A) ou de observamos que, em ambas, a PREPOSIÇÃO tom tem como antecedente uma
afastamento (A ->- C): forma verbal (viajei e concordo), ligada por ela a um consequente, que, no
primeiro caso, é um termo acessório. (eo/ll Pedro = ADJUNTO ADVERlIIAL)
A e, no segundo, um termo integrante (e011l você = OBJECTO INDIRECTO) da
B ->-T ->-C oração.
: 2. A PREPOSIÇÃO e011l expriroe, fundamentalmente, a ideia de «associa-
Veoho de Roma. çãQ)', «companhia>,. E esta ideia básica, sentiroo-Ia muito mais intensa no
Vou a Roma.
Trabalharei até amanhã. Estou aqui desde ontem. primeiro exemplo:
Foi para o Norte. Salram pela porta.
Viajei com Pedro.
4. Recapitulando e sintetizando, podemos concluir que, embora as do que no segundo:
preposições apresentem grande variedade de usos, bastante diferenciados no
discurso, é posslvel estabelecer para cada uma delas uma significação fun- Concordo com vo~.
damental, marcada pela expressão de movimento ou de situação resultante
(:ausência de movimento) e aplicável aos campos espacial, temporal e nocional. Aqui o uso da partlcula e011l após o verbo concordar, por ser construção já

~ .. "-_ ... __ .... ,.------------_.-


n8 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNl!O p~POSIÇÃO 379

fixada no idioma, provoca um esvaecimento do conteúdo significativo de Porém poesia não sai mais de mim senão de longe em longe.
«associação>', «companhia>', em favor da função relaciona! pura. (Mário de Andrade, CMB, 214.)

3. Costuma-se nesses casos desprezar o sentido da PREPOSIÇÃO, e con- - Então, sigo em frente até dat com eles.
siderá-Ia um simples elo sintáctico, vazio de conteúdo nocional. (Aquilioo Ribeiro, V, 438.)
Cumpre, no entanto, salientar que as relações sintácticas que se fazem
por intermédio de PREPOSIÇÃO OBRIGATÓRIA seleccionam determinadas verificamos que o uso associou de tal forma as PREPOSIÇÕES a determinadas
PREPOSIÇÕES exactamente por causa do seu significado básico. palavras (ou grupo de palavras), que esses elementos não lhais se desvincu-
Exemplificando: Iam: passam a constituir um todo significativo, uma verdadeira palavra
, composta.
O verbo concordar elege a PREPOSIÇÃO com em virtude das afinidades que Nesses casos, a priroitiva função relacional e o sentido mesmo da PRE-
existem entre o sentido do próprio verbo e a ideia de «associação>' inerente POSIÇÃO se esvaziam profundamente, vindo a preponderar tanto na orga-
a COPl. nização da frase como no valor significativo o conjunto léxico resultante da
O OBJECTO INDIRECTO, que em geral é ·introduzido pelas preposições fixação da relação sintáctica preposicional.
a ou para~ corresponde a um «.movimento em direcção a», coincidente CO~ Em dar com (= «topw,), por exemplo, a preposição, fixada à forma
a base significativa daquelas preposições. verbal, não lhe acrescenta apenas novos matizes conotativos, mas altera-lhe
a própria denotação.
4. Completamente distinto é o caso do OBJECTO DIRECTO PREPOSICIO·
NADO, em que O emprego de PREPOSIÇÃO não obrigatória transmite à relação Relações necessárias.
um vigor novo, pois o reforço que advém do conteúdo significativo da
preposição é sempre um elemento intensificador e c1arificador da relação Nas orações:
verbo-objecto: - Eu já nem me lembro de nada ...
- Duas blasfémias, menina; a primeira é que não se deve amar a nin~ (Miguel Torga, NCM, 49.)
guém como a Deus. - Foi vontade de Deus.
(Machado de Assis, OC, I, 662.) (Graciliaoo Raoros, SB, "9.)
Ontem fui a Cambridge.
s.
Em resumo: a maior ou menor intensidade significativa da PREPOSI- (Urbaoo Tavares Rodrigues, JE, 13).)
çÃO depende do tipo de RELAÇÃO SINTÁCTICA por ela estabelecida. Essa
Um magro procurava saber se a minha roupa preta tinha sido feita por
RELAÇÃO, como esclareceremos a seguir, pode ser FIXA, NECESSÁRIA OU
alfaiate.
LIVRE. Oosé Lins do Rego, D, 23.)

Relações fixas. as preposições relacionam ao termo principal um consequente sintacticamente


necessário:
Examioando as relações sintácticas estabelecidas, nas frases abaixo, pelas
PREPOSIÇÕES marcadas em negrita: lembro-me de nada (verbo + objecto indirecto)
vontade de Deus (substantivo + complemento nominal)
o rapaz entrou no café da Rua Luis de Camões. fui a Cambridge (verbo + adjunto adverbial necessário) 1
feita por alfaiate (particlpio + agente da passiva)
(Carlos Drummond de Andrade, CB, 30.)

Necessariamente hão~de vencer eles. 1 «Tratando-se de verbos intransihvos de movimento, o complemento de dirccção não
pode ser considerado elemento meramente acessório» (Antenor Nascentes. O problema da "gln~
(Camilo Castelo Braoco, OS, I, 6,3.) ria. 2,a 00. Rio de Janeiro. Freitas Bastos, 1960, p. 17RI8).
BREVE GRAMÁTICA DO pORrumms CONTEMPO~O 381
380 pREPosrçÃo

Em tais casos, intensifica-se a função relacional das preposições COlll 2. Situação = coincidência, concomitância:
prejuIzo do seu conteúdo significativo, reduzido, então, aos traços caracte. o) no espaço:
rlsticos mlnimos.
Dal o relevo, no plano expressivo, da relação sintáctica eIn si. O que está ao pé é igual ao que está ao longe.
(Vergilio Ferreira, NN, 43.)
Relações livres.
b) no tempo:
A comparação dos enunciados: A tantos de novembro .houve breves períodos de calmaria intermitente.
Encontrar com um amigo. Procurar por alguém. (Manuel Lopes, FVL, lI8.)
Encontrar um amigo.. Procurar alguém.
c) na noção:
mostra-nos que a presença da PREPOSIÇÃO (possível, mas não necessária
sintacticamente) acrescenta, às relações que estabelece, as ideias de «asso. Amanhã, a frio, poderei dizer-te o contrário.
ciaçãO» (coln) e de «movimento que tende a completar-se numa direcção' (pepetela, M, 18 •.)
determinada» (por).
- Não podemos gastar dinheiro à toa.
(Osman Lins, FP, '57.)
o emprego da PREPOSIÇÃO em relações livres é, normalmente, recurso
de alto valor estiHstico, por assumir ela na construção sintáctica a plenitude Ante
do seu conteúdo significativo.
Situação = anterioridade relativa a um limite:
o) no espaço:
Valores das preposições.
Parou ante o corpo de sua mãe que esfriava lentamente nas extremi-
A dades.
(Anibal M. Machado, HR, '94.)
I. Movimento = direcção a um limite:
b) no tempo (substituIda por alltes de):
a) no espaço:
Tenho de estar de volta ante. das sete horas.
Rompo à frente, tomo à mão esquerda. (Maria Judite de Carvalho, AV, 84.)
(Aquilino Ribeiro, M, 59.)
b) no tempo: c) na noção:
- Daqui a uma semana o senhor vai lá em casa. Ante a súbita ideia, Alberto hesitou.
(Carlos Drummond de Andrade, BV; 18.) (Perreira de Castro, oe, I, .65.)
Ante a nova aliança daqueles territórios soberanos, o povo manifestou-se
c) na noção: aos gritos.
A sua vida. com o marido vai de mal a pior. (Nélida Piõ.on, SA, '5.)
Ooaquim Paço d'Arcos, eVL, 937.)
Após
Aquele trabalho em dia destinado a descanso causava má impressão e
ccnsuravam~no por ali com certo azedume. Situação = posterioridade relativamente a um limite próximo. No dis-
(Rodrigo M. F. de Andrade, V, 133.) curso, pode adquirir o efeito secundário' de «consequência>>:
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO pREPOSIÇÃO 38 3
381
na noção:
a) no espaço (usa-se também após de):
Após eles, iam ficando medas de cereal, restolhos ~ uma terra saqueada. - Vou amanhã de manhã com o Rocha.
(Castro Soromenho, TM, 141.)
(Fernando Namora, TJ, 1)2.)
A proposta foi recebida com reserva.
(Carlos Drummond de Andrade, CB, 12).)
b) no tempO:
Após meia hora de caminho, vislumbrou a luz amortecida no cimo do Contra
cerro do Valmurado.
(Manuel da Fonseca, SV, 164.) Movimento = direcção a um limite prmamo, direcção contrarIa.
A noção de oposição, hostilidade, é um efeito secundário de sentido decor-
Até rente do contexto:

Movimento = aproximação de um limite com insistência nele: a) no espaço:


Aturdida, a rapariga aperta-se contra ele.
a) no espaço:
(Alves Redol, MB, 3'9.)
Macambira adiantou-se até a acácia, sentou-se no banco. b) na noção:
(Coelho Netto, OS, l, 1.137·)
Revoltei-me contra o seu despotismo e não esperei por ele.
b) no tempo: (Branquinho da Fonseca, B, 66.)

Até meados do mês ventou. Começaram a surgir argumentos contra eles.


(Manuel Lopes, FVL, 63.) (Afrânio Peixoto, RC, 1)9.)

De
Observações:
Movimento = afastamento de um ponto, de um limite, procedência,
I.aNo português moàerno, esta preposição, quando rege substantivo origem. As noções de causa, posse, etc., daí derivadas, podem prevalecer
acompanhado de artigo, pode vir, ou não, seguida da preposição a.
em razão do contexto:
Pode-se dizer que, de um modo geral, o português europeu usa, actual-
mente, até com a preposição a, ao passo que no português do Brasil há uma a) no espaço:
sensivel preferência para a outra construçilo, a de até directamente ligada ao
termo regido. Vinha de longe o mar ...
z.a Cumpre distinguir a preposição até, que indica movimento, da pala- Vinha de longe, dos confins do medo ...
vra de forma idêntica, denotadora de inclusão, que estudamos à página 373· (Miguel Torga, API, 6).)
Quanto à diferença de construção de uma e outra com o pronome pessoal,
leia-se o que escrevemos no capitulo l l. b) no tempo:

Roma fala do passado ao presente.


Com
(Afonso Arinos de Melo Franco, AR, 17.)

Situação = adição, associação, companhia, comunidade, simultaneidade. c) na noção:


Em certos contextos, pode exprimir as noções de modo, meio, causa, con-
Ela vem falar da agricultura, isto é, da actividadc fundamental do seu
cessão:
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
1/ PREPOSIÇÃO 38 1
384
2. Situação = posição no interior de, dentro dos limites de, em con-
grupO, que nela assenta a defesa de todos os seuS valores, materiais e morais.
tacto com, em cima de:
(Alfredo Margarido, ELNA, Jl7·)
Lá dentro, aS disclpulas recomeçam o barulho do trabalho, dos risos a) no espaço:
e cantigas. Trazia no sangue
(Luandino Vieira, L, Ij.)
o calor humano da amizade.
Desde (Agostinho Neto, SE, 106.)

Movimento = afastamento de um limite com insistência no ponto b) no tempo:

de partida (intensivo de de): Tudo aconteceu em 24 horas.


(Carlos Drummond de Andrade, CB, 121.)
a) no espaço:
Dessa calamidade partilharam todas as regiões banhadas pelo Atlântico c) na noção:
desde as Flandres até o estreito de Gibraltar. Somos muitos Severinos
(Jaime Cortesão, FDFP, 28.) iguais em tudo e na sina.
(João Cabral de Melo Neto, DA, 172.)
b) no tempo: Pareceu-lhe que toda a povoação estava em chamas.
Desde o ano passado guardara essa mágoa. (Castro Soromenho, TM, 2H.)
(Anlbal M. Machado, HR, 27 2 .)

Entre
Em
Situação = posição no interior de dois limites indicados, interioridade:
I. Movimento = superação de um limite de interioridade; alcance a) no espaço:
de uma situação dentro de: Entrou a criada. com uma travessa onde fumegava um galo assado, entre
batatas loiras.
a) no espaço: (Branquinho da Fonseca, B, n.)
Os Garcias entraram em casa calados.
b) no tempo:
(Vitorino Nemésio, MTC, '94.)
Todos os barcos se perdem
b) no tempo: entre o passado e o futuro.
(CecIlia Meireles, OP, n.)
Nazário visitava..-as de quando em quando.
(Coelho Netto, OS, I, SI.) c) na noção:

o cunhado, o Daniel, que tratava da mortalha, movia-se entre o dever


c) na noção: e o desespero.
(Miguel Torga, CM, 179.)
Meu ser desfolha-se em intimas lembranças, que revivem ...
(Teixeira de Pascoaes, OC, VII, 140 .) Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
E a lagoa entrou em festa. (Vinicius de Morais, LS, 74.)
(Anlbal M. Machado, JT, 21.)
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO ""' / PREPOSIÇÃO
l 87
l86
Por (per)
Para
Movimento = tendência para um limite, finalidade, direcção, pers- I. Movimento = percurso de uma extensão entre limites, através
pectiva. Distingue-.se de a por comportar um traço significativo que implica de, duração:
maior destaque do ponto de partida com predominância da ideia de direcção
a) no espaço:
sobre a do término do movimento:
Vai-se por ai devagarinho.
a) no espaço:
(Coelho Netto, OS, I, 217.)
Agora, não lhe interessava ir para o Huamba.
(Castro Soromenho, TM, 200.) b) no tempo:

b) no tempo: Devorou~o por semanas uma febre ligeira, mas impertinente.


(Raul Pompéia, A, 2l5.)
_ Quando está melhor, quando vat descer à rua, padre?
_ Lá para o fim da semana. c) na noção:
(Augusto Abelaira, BI, l5·)
Este lia os jornais, artigo por artigo, pontuando-os com exclamações,
•) na noção: com gestos de ombros, com uma ou duas pancadinhas na mesa .
Deram-lhe o formulário para preencher à máquina e reconhecer a firma. (Machado de Assis, oe, rr, 53 5.)
(Carlos Drummond de Andrade, CB, I l 1.)
A noite desfê-los, um por um, logo que os vultos se curvaram sobre
os degraus das rochas.
Cala-se para não mentir.
(Augusto Abelaira, BI, 95·) (Fernando Namora, NM, 147.)

Se trazia qualquer coisa, trazia também assunto para conversa. 2. Situação = resultado do movimento de aproximação a um limite:
(Manuel Lopes, FVL, 185.)
a) no espaço:
Perante
o rumor :fica em baixo, eu estou por cima.
Situação = posição de anterioridade relativamente a um limite, pre- (Vergllio Ferreira, NN, 7l.)
sença, confronto (intensivo de ante):
b) no tempo:
a) no espaço:
Pelo crepúsculo, a chuvada esmoreceu.
Permaneceu calada perante o olhar escuro de Leonardo.
(Carlos de Oliveira, CD, 169.)
(Augusto Abelaira, CF, 228.)
b) na noção: c) na noção:
Perante a grandeza e o poder do Céu, a esperança era o melhor com-
V oIto-me por acaso.
promisso dos homens para com a vida. (Urbano Tavares Rodrigues, JE, 168.)
(Manuel Lopes, FVL, 14·)
Vejo a sua trêmula palidez, à luz da lua nova, e o seu aspecto desgre- _ Estou preso; antes que te digam que por alguma indignidade, pre-
vino: por ter dado uma lição ao Malheiro.
nhado, perante o mistério e a dor.
(Teixeira de P,scoaes, oe,
VII, 77·) (Raul Pompéia, A, 146.)

--------_.- ----,.-
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuâs CONTEMPORÂNEO p!UlPOSIÇÃO ,89
,88 /

Sem distância; tempo aproximado:

a) no espaço:
Situação = subtracção, ausência, desacompanhamento:
Cruzou os braços sobre o peito e apertou as mãos às costas.
na noção:
(Luís Bernardo Honwana, NMCT, ) I.)
É próprio do gato sair sem pedir licença, voltar sem dar satisfações.
(Carlos Drummond de Andrade, CB, 4'·)
b) no tempo:
Sem o espirito de simpatia, tudo se amesquinha e diminui.
(Miguel Torga, P, 120.) Entrementes foi acabando o ano e já era sobre o Natal.
(Simões Lopes Neto, CGLS, Z)).)

Sob
c) na noção:
Situação = posição de inferioridade em relação a um limite (no sentido Pouco de preciso se conhece sobre a distribuição dos Lusitanos no ter-
concreto ou no figurado): ' ritório.
(Jaime Cortesão, FDFP, )5.)
a) no espaço:
Conversavam alegremente sobre os acontecimentos do dia.
o vento da noite roçava sombras duplas gemendo docemente, sob uma (Arnaldo Santos, K, 1).)
chuva de jasmins-do-cabo.
(pedro Nava, BO, 1)8.)
Trás
b) no tempo:
A PREPOSIÇÃO trás, que indica situação posterior, arcaizou-se. Na lín-
Sob os Filipes, os Ramires, amuados, bebem e caçam nas suas terras. gua actual é substitulda pelas locuções atrás de e depois de; mais raramente,
(Eça de Queirós, 0, I, 1.157·) por sua sinónima após.
O sentido originário desta preposição era «além do>, que subsiste nos
compostos Trás-os-Montes e trasanteontem.
c) na noção:

Sob certos aspectos, foi ele, não há dúvida, «o último lusiada»,


(David Mourão-Ferreira, HL, 161.)

Mas o tempo arrasta-se. afunda-o de novo sob o revolutear dos pcn-


sarnentos:
(Manuel da Fonseca, SV, 229')

Sobre

Situação = posição de superioridade em relaçãO a um liruite (no sentido


concreto ou no figurado), com contacto, com aproximação, ou tom alguma
I
! CON]UNÇÃO 39 '

Já nos enunciados seguintes:


16. Depois que tiveres estudado, podes trabalhar.
Após o estudo, o trabalho.

observa-se a dependência do primeiro elemento ao segundo.


Conjunção No último exemplo, em lugar da conjunção subordinativa (depois qlle),
aparece urna preposição (ap~s), indicadora da dependência de um termo
da oração a outro.

CONJUNÇÕES COORDENATIVAS

CONJUNÇÃO COORDENATIVA E SUBORDINATIVA Dividem:se as CONJUNÇÕES COORDENATIVAS em,


l. ADITIVAS, que servem para ligar simplesmente dois termos ou
duas orações de idêntica função. São as conjunções e, "em [= e não].
l. CONJUNÇÕES são os vocábulos gramaticais que servem para relacionar
duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração. Leonor , )ltou~se e desfaleceu.
As CONJUNÇÕES que relacionam termos ou orações de idêntica função (Graciliano Ramos, I, 81.)
gramatical têm o nome de COO:.DENATIVAS. Comparem-se os seguintes dizeres '.
2. ADVERSATIVAS, que ligam dois termos ou duas orações de igual
O tempo e a maré não esperam por ninguém. função, acrescentando-lhes, porém, urna -ideia de contraste. Assim, mas,
Ouvi primeiro e falai por derradeiro.
porém, todavia, contudo, no eniO/I/O, cf/tretanlo:
Denominam-se SUBORDINATIVAS as CONJUNÇÕES que ligam duas orações, Apetece cantar, mas ninguém canta.
uma das quais determina ou completa o sentido da outra. Comparem-se, (Miguel Torga, CH, 44.)

Eram três da tarde quando cheguei às arenas romanas.


(Urbano Tavares Rodrigues, JE, 18 3.)
3. ALTERNATIVAS, que ligam dois termos ou orações de sentido dis-
tinto, indicando que, ao cumprir~se um facto, o outro não se cumpre. São
Pediram-me que definisse o Arpoador. as conjunções ou (repetida ou não) e, quando repetidas, ora} quer} seja} l/eHI} etc.:
(Cados Drummond de Andrade, CB, 106.)
Ora lia, ora fingia ler para impressionar aos demais passageiros.
(Augusto Frederico Schmidt, AP, 74.)
2. Compreende-se facilmente a diferença entre as conjunções 'coorde-
nativas e aS subordinativas quando se comparam construções de orações a
4. CONCLUSIVAS, que servem para ligar à anterior uma oração que
construções de nomes.
exprime conclusão, consequência. São: logo} pois} portallto} por conseguinte}
Assim, nestes enunciados:
por isso} assim} etc.:
Estudar e trabalhar. O estudo e o trabalho.
O estudo ou o trabalho. Nas duas frases a experiência é a mesma. Na primeira não instrui, logo
Estudar ou trabalhar. prejudica.
(Almada Negreiros, NG, 150.)
vê-se que a CONJUNÇÃO COORDENATIVA não se altera com a mudança de
construção, pois liga elementos independentes, estabelecendo entre eles
relações de adição, no primeiro caso, e de igualdade ou de alternãncia, no 5. EXPLICATIVAS, que ligam duas orações, a segunda das quaIS Justi-
segundo. fica a ideia contida na primeira. São as conjunções q/lC, porq/le, pois, porq/lllllfo,
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO / coNJUNçÃo 393
39 z
2. A Nomenclatuxa Gxamatical Brasileira inclui ainda as conjunções
em exemplos como: CONFORMATIVAS e PROPORCiONAIS, que a Nomenclatura Gramatical Por-
Vamos comer, Açucena, que estou morrendo de fome. tuguesa não distingue das COMPARATIVAS.
(Adonias Filho, LP, 109')
Observação :
Saliente-se que aS COMPARA'I'IVAS e CONSECU'l'IVAS introduzem orações subor-
Posição das conjunções coordenativas. dinadas adverbiais, mas vêm geralmente correlacionadas com um termo da
oração principal.
x. Das CONJUNÇÕES COORDENATIVAS apenas mas aparece obrigatoria-
mente no começo da oração; porém) todavia" contudo} entretanto e no entanto Exemplifiquemos:
podem vir no inicio da oração ou após um de seus termos: I. CAUSAIS (iniciam uma oxação subordinada denotadora de causa):
porque, pois, porquanlo, çomo [= porque], pois que, por isso q/le, já que, uma vez
É noite, mas toda a noite se pesca. que, visto que, visto como, que, etc.:
(Raul Brandão, P, 139')
Tenho continuado a poetar, porque decididamente se me renovou o estro.
A igreja também era velha, porém não tinha o mesmo prestigio. (Antero de Quental, C, 357.)
(Carlos Drummond de Andrade, CA, zoo.) 2. CONCESSIVAS (iniciam uma oxação subordinada em que se admite
um facto contrário à acção principal, mas incapaz de impedi-la): embora,
Este último período poderia ser também enunciado: çOl/quanto, ainda q/le, nlesnlo que, posto que, bem que, se benl q/le, por mais que, por
metias que, apesar de que, nem que, que, etc::
A igreja também era velha; não tinha, porém, o mesmo prestigio.
A igreja também era velha; não tinha o mesmo prestigio, porém. Não saberei nunca escrever sobre ele, embora tenha tentado mais de
uma vez.
2. Pois, quando CONJUNÇÃO CONCLUSIVA, vem sempre posposto a um (Fernando Sabino, G, lI, 76.)
termo da oração a que pertence:
3. CONDICIONAIS (iniciam uma oxação subordinada em que se indica
Para ali estavam, pois, horas sem conto, esperando, inutilmente, ludi-
uma hipótese ou uma condição necessária para que seja realizado ou não o
briarem-se a si próprios.
(Fernando Namora, CS, 83.) facto principal): se, caso, çontanto que, salvo se, Se1l1 que [= se não], dado ql/e,
desde que} a menos qHe} a não ser que} etc.:
3. As CONCLUSIVAS logo, portanto e por conseguinte variam de posição,
Se aquele entrasse, também. os outros poderiam tentar ...
conforme o xitmo, a entoação, a harmonia da frase.
(Branquinho da Fonseca, MS, 41.)

CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS
4. FINAIS (iniciam uma oração subordinada que indica a finalidade da
oxação principal): para que, a finl de q/le, porql/e [= para que]:
I. As CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS classificam-se em CAUSAIS, CON-
CESSIVAS, CONDICIONAIS, FINAIS, TEMPORAIS, COMPARATIVAS, CONSECUTI- Não bastava a sua boa vontade para que tudo se arranjasse.
VAS e INTEGRANTES. (Almada Negreiros, NG, 82.)
As CAUSAIS, CONCESSIVAS~ CONDICIONAIS, FINAIS, TEMPORAIS, COM-
pARATIVAS e CONSECUTIVAS iniciam orações adverbiais. S. TEMPORAIS (iniciam uma oração subordinada indicadora de cir-
As IN'l'EGRAN'l'ES introduzem orações substantivas. cunstância de tempo): qual/do, anles que, depois qlle, até qlle, logo qlle, sempre q/le,
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CON'mMPORÂNnO / CONJuNÇÃO 395
394
b) numa interrogação indirecta:
assim ql/e, desde ql/e, todas as vezes qtle, cada vez ql/e, apenas, mal, ql/e [= desde que],
etc.: Pergunto a Deus se estou viva,
se estou sonhando ou acordada.
Quando tio Severino voltou da fazenda, trouxe para Luciana um peri.. (Cecilia Meireles, OP, 417')
quito.
(Graciliano Ramos, Ins., 79·)
Conjunções conformativas e proporcionais.
Como dissemos, a Nomenclatura Gramatical Brasileira distingue ainda,
6. CONSECUTIVAS (iniciam uma oração na qual se indica a consequên_
entre as CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS, as CONFORMATIVAS e as PROPOR-
cia do que foi declarado na anterior): que (combinada com uma das palavras
CIONAIS.
tal, tanta, tão ou tatllanho, presentes ou latentes na oração anterior), de forma
q/leJ de maneira queJ de modo queJ de sorte que) etc.: l. As CONFORMATIVAS iniciam uma oração subordinada em que se
exprime a conformidade de um pensamento com o da oração principal.
Foi tão ágil e rápida a saida que Jandira achou graça. São as conjunções conforme, como [= conforme], segundo, consoante, etc.:
(Ciro dos Anjos, DR, 108.)
o som de uma sineta, conforme o capricho do vento, aproximava-se ou
7. COMPARATIVAS (iniciam uma oração que encerra o segundo mem- perdia-se ao longe.
(Augusto Meyer, SI, 50.)
bro de uma comparação, de um confronto): que, da que (depois de mais, 1I101I0S,
IlIaior, menor, melhor e piar); ql/al (depois de tal), quanta (depois de tanta), cama"
2. As PROPORCIONAIS iniciam uma oração subordinada em que se men-
as.rinJ como, bem como, COliJO se, que fle1Jl:
ciona um facto realizado ou para realizar-se simultaneamente com o da ora-
Mais do que as palavras, falavam os factos. ção principal. São as conjunções à medida que, ao passo que, à proporção que,
(Miguel Torga, V, 278.) ellquanto, quanto mais ... mais, quanto mais... tanto mais, quanto mais... menos,
quallto mais... tanto menos, quanto menos... flJenos, qllanto mellos... tanto !!lmOS,
quanto menos... mais, quanto menos ... tanto mais:
8. INTEC RANTES (servem para introduzir uma oração que funciona come
SUJEITO, OB]ECTO DIRECTO, OB]ECTO INDIRECTO, PREDICATIVO, COMPLE- À medida que avançavam, iam penetrando no coração da trovoada.
MENTO NOMINAL ou APOSTO de outra oração). São as conjunções que e se:
(Miguel Torga, V, 295.)
Não sei, sequer, se me viste,
Não vou jutar que me vias. Polissemia conjuncional.
(José Régio, F, 54.)
Algumas conjunções subordinarivas (que, coma, parque, se, etc.) podem
pertencer a mais de uma classe. Sendo assim, o seu valor está condicionado
Quando o verbo exprime uma certeza, usa-se que: ao contexto em que se inserem, nem sempre isento de ambiguidades, pois
que há circunstâncias fronteitiças: a condição da concessão, o fim da con-
João Garcia garantiu que sim, que voltava. sequência, etc.
(Vitorino Nemésio, MTC, 61.)
LOCUÇÃO CONJUNTIVA
Quando o verbo exprime incerteza, usa-se se. Por exemplo:
Como vimos, há numerosas conjunções formadas da partícula que ante-
a) numa dúvida: cedida de advérbios, de preposições e de particfpios: desde que, antes que,
Ninguém sabia se estava ferido ou se ferira alguém. jrí qlfc) até (jlle, sem q/le, dado q/lC, posto q/lC, visto que, etc.
(Luis Jardim, MP, 54.) São as chamadas LOCUÇÕES CON)UN"l1VAS.
INTERJEIÇÃO
397

Observações:
17. I.. Não inclulmos a INTERJEIÇÃO entre as classes de palavras peJa razão adu~
zida no capítulo 5.
Com efeito, traduzindo sentimentos súbi.tos e espontâneos, são as interjei-
ções gritos instintivos, equivalendo a frases emocionais.
Interjeição 2.a. Na escrita, as interjeições vêm de regra acompanhadas do ponto de
exclamação (I).

!NTERJEIÇÃO é uma espécie de grito com que traduzimos de modo


vivo as nossas emoções.
A mesma reacção emotiva pode ser expressa por mais de uma interjei-
ção. Inversamente, uma só interjeição pode corresponder a sentimentos,
variados e, até, opostos. O valor de cada forma interjectiva depende funda-
mentalmente do contexto e da entoação.

Classificação das interjeições.

Classificam-se as INTERJEIÇÕES segundo o sentimento que denotam.


Entre as mais usadas, podemos enumerar as:
a) DE ALEGRIA: oh! ohl No Brasil também: obal opal
b) DE ANIMAÇÃO: avante! coragem! eia! vamos!
c) DE APLAUSO: bis! bem! bravo I viva I
ti) DE DESEJO: oh! oxalá!
e) DE DOR: ai! /li!
f) DE ESPANTO OU SURPRESA: oh! chil ih! /lél No Brasil também: p/lxal
g) DE IMPACIÊNCIA: hum! hem! i"al
h) DE INVOCAÇÃO: alô! ó! olá I psi/l! psit!
,) DE SILÊNCIO: psiu! silêncio I
j) DE SUSPENSÃO: alto I basta! alto lá!
I) DE TERROR: /li! /lb!

Locução interjectiva.

Além de interjeições expressas por um só vocábulo, há outras formadas


por grupos de duas ou mais palavras. São as LOCUÇÕES INTERJECTIVAS. Exem-
pIos: ai de mim I ora, bolas I raios le partam I valba-me De/ls!
18.
liI o PERÍODO E A SUA CONSTRUÇÃO

2. Examinemos agora este período:


;99

o meu André não lhe disse que temos ai um holandês que trouxe mate-
rial novo ... ?
(Vitorino Nemésio, MTC, ;6;.)
o período e sua construção Aqui, também, estamos diante de um período de três orações:

1.' = O meu André não lhe disse


2.80 = que temos ai um holandês
3.& = que trouxe material novo

Mas a sua estrutura é diferente da do anterior, pois:


PERÍODO SIMPLES E PERÍODO COMPOSTO
a) a primeira oração contém a declaração principal do período, rege-se
por si, e não desempenha nenhuma função sintáctica em outra oração do
No Capítulo 7 fizemos a análise interna da oração. Examinámos, aí, os .
período; ·chama-se, por isso, ORAÇÃO PRINCIPAL;
seus TERMOS ESSENCIAIS, INTEGRANTES e ACESSÓRIOS; e, para tal estudo; ser~
b) a segunda oração tem a sua existência dependente da primeira, de
vimo-nos sobretudo de PERfoDOS SIMPLES, isto é, de períodos constituídos
.cujo verbo é OBJEGTO DlRECTO; funciona, assim, como TERMO IN'I'EGRAN'I'E
de uma só oração, chamada ABSOLUTA.
Incidentemente, porém, mostrámos que os TERMOS ESSENCIAIS, IN1':E.- dela;
c) a terceira oração tem a sua existência dependente da segunda, de
GRANTES e ACESSÓRIOS de uma oração podem ser representados por outra
cujo objecto directo é ADJUNTO ADNOMINAL; funciona, por conseguinte,
ORAÇÃO. É agora O momentc de examinarmos mais detidamente esse ponto.
como TERMO ArEsSÓRIO dela.
As orações sem autonomia gramatical, isto é, aS or~ções que funcio-
nam como termos essenciais, integrantes ou acessórios de outra oração
Composição do pedodo.
chamam-se SUBORDINADAS. O período constituído de orações SUBORDINA-
DAS e uma oração pRINCIPAL denomina-se COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO.
I. Tomemos o seguinte período:

As horas passam, os homens caem, 3. Vejamos, por fim, este período:


a poesia fica.
(Emllio Moura, IP, 169.) Moleque Nicanor arregalou os olhos, e eu pensei que ia ouvir as panca-
das do seu coração.
Vemos que ele é composto de três orações: (Guimarães Rosa, S, 2I6.)

I.a = As horas passam,


Ainda aqui temos um período composto de três orações:
2. 80 = os homens caem,
;.& = a poesia fica.
1.80 = Moleque Nicanor arregalou os olhos,
Vemos, ainda, que as três orações são da mesma natureza, pois: 2.& = e eu pensei
3. 80 = que ia ouvir as pancadas do seu coração.
a) são a~tónomas, INDEPENDENTES, isto é, cada uma tem sentido próprio;
b) não funcionam como TERMOS de outra oração, nem a eles se referem: A sua estrutura é, porém, distinta das duas que examinámos, ou melhor,
apenas, uma pode enriquecer com o seu sentido a totalidade da outra. é uma espécie de combinação delas, pois:
A tais orações autónomas dá-se o nome de COORDENADAS, e o período a) as duas primeiras orações são COORDENADAS (a primeira é COOR-
por elas formado diz-se COMPOSTO POR COORDENAÇÃO. DENADA ASSINDÉTICA; a segunda, COORDENADA SINDÉTICA ADITIVA);
400
BREVE GRAMÁTICA DO POR'rUGUÊS CONTEMPORÂNEO

b) a última é SUBORDINADA, uma vez que funciona como OBJECTO DI-


1/ o pBRÍODO B A SUA CONSTRUÇÃO

b) ligadas por uma CONJUNÇÃO COORDENATIVA:


401

RECTO da oração anterior.


O período que apresenta orações COORDENADAS e SUBORDINADAS diz-se
I
I
A Grécia seduzia-o, I mas Roma dominava-o.
(Graça Aranha, OC, 701.)
I

composto por COORDENAÇÃO e SUBORDINAÇÃO.

No primeiro caso, dizemos que' a ORAÇÃO COORDENADA é ASSINDÉ-


TICA, ou seja desprovida de conectivo. No segundo, dizemos que ela é SIN-
Conclusão.
DÉTICA, e a esta denominação acrescentamos a da espécie da CONJUNÇÃO
Na análise de um PERÍODO COMPOSTO, cumpre, pois, ter em mente que: COORDENATIVA que a inicia.

a) a ORAÇÃO PRINCIPAL não exerce nenhuma função sintáctica em


outra oração do período; Orações coordenadas sindéticas.
b) a ORAÇÃO SUBORDINADA desempenha sempre uma função sintáctica
(SUJEITO, OBJECTO DIRBCTO, OBJECTO INDIRECTO, pREDICATIVO, COMPLE·· Classificam-se, pois, as ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS em:
MENTO NOMINAL, AGENTE DA PASSIVA, ADJUNTO ADNOMINAL, ADJUNTO
ADVERBIAL ou APOSTO) em outra oração, pois que dela é um termo ou parte x. COORDENADA SINDÉTICA ADITIVA, se a conjunção é ADITIVA:

de um termo. Insisti no oferecimento da madeira, I e ele estremeceu. I


c) a ORAÇÃO COORDENADA, como a PRINCIPAL, nunca é termo de outra (Graciliano Ramos, SB, 29.)
oração nem a ela se refere; pode relacionar-se com outra COORDENADA,
2. COORDENADA SINDÉTICA ADVERSATIVA, se a conjunção é ADVER-
mas em sua integridade.
SATIVA:

Observação: Estava frio, I mas ela não o sentia. I


(Maria Judite de Carvalho, TGM, 75·)
A Nomenclatura Gramatical Portuguesa eliminou a designaçãO de ORAÇÃO
PRINCIPAL sob o argumento de não fazer falta ao estudo desses processos
e de «dar ensejo a duplas interpretações, quer no plano lógico, quer no plano 3. COORDENADA SINDÉTICA ALTERNATIVA, se a conjunção é ALTER-
gramatical.» NATIVA:
Ou eu me engano muito I ou a égua manqueja. I
(Carlos de Oliveira, A C, 25.)
COORDENAÇÃO
4. COORDENADA SINDÉTICA CONCLUSIVA, se a conjunção é CONCLU-
SIVA:
Orações coordenadas sindéticas e assindéticas.
Não pacteia com a ordem; I é, pois, uma rebelde. I
QoãO Ribeiro, PE, 95.)
As ORAÇÕES COORDENADAS podem estar:

a) simplesmente justapostas, isto é, colocadas uma ao lado da outra, 5. COORDENADA SINDÉTICA EXPLICATIVA, se a conjunção é EXPLI-
CATIVA:
sem qualquer conectivo que as enlace:
_ Eb, camarada, espere um pouco, I que isto acaba-se já. I
Será uma vida nova, I começará hoje, I não haverá nada para trás. I (Fernando Namora, NM, 2;3.)
(Augusto Abclaira, QPN, 19·)
4° 2
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

SUBORDINAÇÃO

A oração subordinada como termo de outra oração.


y
o PERiODO E A SUA CONSTRUÇÃO

Mas, se quiséssemos, poderíamos ter substituído o adjectivo recebidas


por que recebi:
Não desaprendi as lições que recebi.
4°,

Dissemos que as ORAÇÕES SUBORDINADAS funcionam sempre como Terlamos, neste caso, como adjunto aclnominal de lições a oração que
'!'ERMOS ESSENCIAIS, INTEGRANTES ou ACESSÓRIOS de outra oração. Esclare~ recebi. Por outras palavras: teriamos umTERMO ACESSÓRIO representado

çamos melhor tais equivalências. por uma oração.

4. Neste exemplo:
I. No seguinte exemplo:
É necessária a tua vinda urgente.
Ainda não o tinha visto depois da volta.

são três os adjuntos adverbiais (TERMOS ACESSÓRIOS) da oração:


o sUJe1to da oração é a tua vinda urgente, TERMO ESSENCIAL, cujo núcleo é
o substantivo vinda. a) ainda - adjunto adverbial de tempo;
Mas, em lugar dessa construção com base no substantivo vinda, poderia- b) não - adjunto adverbial de negação;
mos dizer: . c) depois da volta - adjunto adverbial de tempo.

É necessário que venhas urgente. Em lugar da expressão adverbial de tempo depois da volta, poderíamos
ter empregado uma oração - depois que voltara:
o sujeito seria, então, que venhas urgente} TERMO ESSENCIAL represen·
Ainda não o tinha visto depois que voltara.
tado por oraçãO.
Depois que voltara, adjunto adverbial de tinha visto, é, pois, um TERMO
ACESSÓRIO representado por uma oração.
2. Neste exemplo:
Ninguém esperava a tua vinda. 5, Do que dissemos uma conclusão se impõe: o PEIÚODO COMPOSTO
POR SUBORDINAÇÃO é, na essência, equivalente a um PEruono SIMPLES. Dis-
o objecto directo de esperava é a tua vinda, TERMO INTEGRANTE, cujo núcleo é tingue-os apenas o facto de os TERMOS (ESSENCIAIS, INTEGRANTES e ACES-
o substantivo vinda. SÓRIOS) deste serem representados naquele por ORAÇÕES.
Em vez dessa construção nominal, poderlamos ter dito:
Ninguém esperava que viesses. Classificação das orações subordinadas.

Com isso, o objecto directo de esperava passaria a ser que viesses, TERMO
As ORAÇÕES SUBORDINADAS classificam-se em SUBSTANTlVAS, ADJEC-
INTEGRANTE representado por uma oração. 'j'IVASe ADVERBIAIS, porque as funções que desempenham são compará-
veis às exercidas por substantivos, adjectivos e advérbios.

3. Neste exemplo:
Orações subordinadas substantivas.
Não desaprendi as lições recebidas.
As ORAÇÕES SUllORDINADAS SUDSTANTlVAS vêm normalmente introdu-
o adjunto adnominal, TERMO ACESSÓRIO, está expresso pelo adjectivo rece-
zidas pela COl\lJUNÇÃO INTEGRANTE qtlc (às vezes, por se) e, segundo o seu
bidas.
/
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEo o PERÍODO E A SuA CONSTRUÇÃO
40 5
40 4
Observação;
valor sintáctico, podem ser:
As orações que desempenham a função de agente da passiva iniciam-se por
I. SUDJECTIVAS, quando exercem a função de sujeito: pronomes indefinidos (quem) quantos} qllalqller} etc.) precedidos de uma das
preposições por ou de.
É certo I que a p~esença do dono o sossegava um pouco. I
(Miguel Torga, B, 52-53·)
Omissão da integrante que.
2. OBJECTIVAS DIRECTAS, quando exercem a função de objecto directo:
Depois de certos verbos que exprimem uma ordem, um desejo ou uma
Respondi-lhe (que já tinha lido a receita em qualquer parte. súplica, a lfngua portuguesa permite a omissão da INTEGRANTE que:
aos é Cardoso Pires, D, 295')
Queira Deus I não voltes mais triste... I
Não sei J se Padre Bernardino concordará comigo. I (Manuel Bandeira, PP, 348.)
(Otto Lara Resende, BD, 109')

Orações subordirIadas adjectivas.


3. OBjECTIVAS INDIRECT AS, quando exercem a furição de objecto
indirecto: I. As ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJECTIVAS vêm normalmente introduzi-
Não me esqueço I de que estavas doente I quando ele nasceu. das por um PRONOME RELATIVO, e exercem a função de ADJUNTO ADNOMINAL
de um substantivo ou pronome antecedente:
aosué Montello, SC, 31 .)
Susana, I que não se sentia bem, I estava de cama.
4- COMPLETIVAS NOMINAIS, quando exercem a função de complemento
(Miguel Torga, V, 178.)
nominal:
O I que tu vês I é belo; I mais belo O I que suspeitas; I e o I que igno-
Calipso I Ele tem a mania I de que alho faz bem à saúde. I ras I muito mais belo ainda.
(Augusto Abelaira, NC, Ijj.) (Ra))! Brandão, H, 3.)

S. PREDICATIVAS, quando exercem a função de predicativo: 2. A ORAÇÃO SUBORDINADA ADJECTIVA pode, como todo ADJUNTO
ADNOMINAL, depender de qualquer termo da oração, cujo núcleo seja um subs-
A verdade é I que eu ia falar outra vez de Noémia. I tantivo ou um pronome: SUJEITO, PREDICATIVO, COMPLEMENTO NOMINAL,
(Agustina Bessa Luis, AM, 39·)
ODJECTO DIRECTO, OBJECTO INDlREC'rO, AGENTE DA PASSIVA, ADJUNTO AnVER-
DIAL, APOSTO e, até mesmo, VOCATIVO.
6. ApOSITIVAS, quando exercem a função de aposto:

É preciso que o pecador reconheça ao menos isto: I que a Moral cató-


lica está certa I e é irrepreensivel. I Orações adjectivas restritivas e explicativas.
(OItO Lara Resende, BD, 16 3.)
Quanto ao sentido, as SUBORDINADAS ADJECTIV AS classificam-se em
7. AGENTES DA PASSIVA, quando exercem a função de agente da pas- RESl'RITIVAS e EXPU CATIVAS.

siva:
l. As RESTRITIVAS, como O nome indica, restringem, limitam, pre-
_ As ordens são dadas I por quem pode. I cisam a significação do substantivo (ou pronome) antecedente. São, por
(Fernando Namora, N M, 2I j.)
I / o PERÍODO E A SUA CONSTRUÇÃO

406
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊ:S CONTEMPORÂNEO
il 40 7

5. 'TEMPORAIS, se a conjunção é subordinativa temporal:


conseguinte, indispensáveis ao sentido da frase; e, como se ligam ao ante-
cedente sem pausa, dele não se separam, na escrita, por vírgula. Exemplos:
Ii I Quando estiou, I partiram.
(Carlos de Oliveira, AC, 19.)
És um" dos raros" homens I que têm o mundo nas mãos. I
(Augusto Abelaira, NC, UI.) 6. CONSECUTIVAS, se a conjunção é subordinativa consecutiva:
Era uma voz tão grave, , que metia medo.
2. As EXPLICATIVAS acrescentam ao antecedente uma qualidade aces-
(Augusto Meyer, SI, 12.)
sória, isto é, esclarecem melhor a sua significação, à semelhança de um aposto.
Mas, por isso mesmo, não são indispensáveis ao sentido essencial da frase.
7· COMPARA'fIVAS, se a conjunção é subordinativa comparativa:
Na fala, separam-se do antecedente por uma pausa, indicada na escrita por
virg ula : Não, meu coração não é maior I que o mundo. I
Tio Cosme,/ que era advogado, / confiava-lhe a cópia de papéis de autos. (Carlos Drununond de Andrade, R, 60.)
(Machado de Assis, DC, I, 734·)
Observações:
Orações subordinadas adverbiais.
I." O primeiro membro da comparação pode estar oculto: [fal] qtll1l, [fa/]
Funcionam como ADJUNTO ADVERBIAL de outras orações e vêm, nor- como, etc.:
malmente, introduzidas por uma das CONJUNÇÕES SUBORDINA'fIV AS (com Havia já dous anos que nos não viamos, e eu via-a agora não , qual
exclusão das IN'I'EGRAN1'ES que, vimos, iniciam ORAÇÕES SUBSTANTIVAS). era, I mas I qual fora, I quais fôramos ambos, ,'porque um Ezequias
Segundo a conjunção ou locução conjuntiva que as encabece, classificam- misterioso fizera recuar o sol até os dias juvenis.
(Machado de Assis, DC, I, 419')
-se em:
z.& Costuma-se omitir o predicado da ORAÇÃO SUBORDINADA COMPARA-
l. CAUSAIS, se a conjunção é subordinativa causal: TIVA, quando repete uma fottrul do verbo da oração principal. Assim:
Tu vais a correr sozinho,
Não veste com luxo / porque o tio não é rico_ /
Ribeirinho, / como cu. I
(Machado de Assis, DC, TI, 204.)
(Fernando Pessoa, QGP, 0.° 112.)

2. CONCESSIVAS, se a con;unção é subordinativa concessiva: Ou seja: como eu [vou a correr sozinho].

A regra era ir sempre desacompanhado, / mesmo que levasse o gado


até aos confins da serra. / Orações conformativas e proporcionais.
(Miguel Torga, B, 101.)
Como, na classificação das conjunções subordinativas, a Nomenclatura
3. CONDICIONAIS, se a .conjunção é subordinativa condicional:
Gramatical Brasileira inclui as conformativas e as proporcionais, conse-
Tudo vale a pe""./ quentemente admite ela a existência de ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS:
Se a alma não é pequena. /
(Fernando Pessoa, DP, '9') l. CONFORMA'fIVAS, quando a conjunção que as inicia é subordinativa
conformativa:
4. FINAIS, se a conjunção é subordinativa final:
I Conforme declarei, I Mad.'\lena possuia um excelente coração.
Viera um vestido de Marta, I para que a vestissem com ele. I (Graciliallo Ramos, SB, 122.)
(José Lins do Rego, A-M, 343·)
408 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO l/ o PERÍODO E A SuA CONSTRUÇÃO
40 9

2. PROPORCIONAIS, quando encabeçadas por conjunção subordina- A oração denomina-se, por isso, SUBSTANTIVA REDUZIDA DE INFINITIVO,
e pode ser eqniparada à oração subordinada desenvolvida q/le estejamos vivos:
tiva proporcional:
IA medida que o tempo decorria I as figuras iam tomando maior
Todos nós havemos de morrer; basta I que estejamos vivos. I
vulto na sua retina.
Ooaquim Paço d'Arcos, CVL, 295.) 2. Neste perIodo de Augusto Frederico Schmidt:

Era o sortilégio, a sedução I ferindo os corações. I


Observação:
(AP, 17.)
Estas orações podem estar em correlação com um membro da oração prin-
cipal em construções do tipo: quanto mais ... tanto mais} quanto mais... tanto a oração ferindo os corações tem valor
AD]ECTIVO. Não vem, no entanto, enca-
menos, quanto menoS ... tanto menos, quanto menos... tanto mais: beçada por pronome relativo, nem traz o verbo numa forma finita, mas na
I Quanto mais o conheço, I tanto mais o admiro. do GERÚNDIO.
Como nestas orações não raro se omitem as palavras qllanto e tanto} é neces- A oração denomina-se, neste caso, ADJECTIV A REDUZIDA DE GERÚNDIO,
sário examinar com atenção o periodo em que elas ocorrem para classificá- e corresponde à oração desenvolvida q/le feria os corações:
-las com acerto. Por exemplo, nas construções:
Era o sortilégio, a sedução I que feria os corações. I
I Quanto mais o conheço, I mais o admiro.
I Mais o conheço, I tanto mais o admiro.
I Mais o conheço, I mais o admiro. 3. Neste período de Manuel da Fonseca:
a primeira oração é sempre a SUBORDINADA ADVERDIAL PROPORCIONAL; C I Ansiado, I agarrou-se à árvore.
a segunda, a PRINCIPAL. (FC, IZ6.)

ORAÇÕES REDUZIDAS a oração ansiado tem valor ADVERBIAL. Não está, porém, encabeçada por
conjunção subordinativa, nem traz o verbo numa forma finita, mas na do
Orações desenvolvidas e orações reduzidas. PARTIcfPIO.
A oração denomina-se, então, ADVERBIAL REDUZIDA DE PARTI cf PIO,
Estudámos até aqui as ORAÇÕES SUBORDINADAS encabeçadas por nexo e equivale à oração desenvolvida porq/le estava ansiado:
subordinativo (pronomes relativos ou conjunções subordinativas), com o
verbo sempre numa FORMA FINITA (do indicativo ou do conjuntivo). I Porque estava ansiado, I agarrou-se à árvore.
Vejamos agora outro tipo de oração subordinada - a REDUZIDA-
isto é, a oração dependente que não se inicia por relativo nem por conjun- Orações reduzidas de infinitivo.
ção subordinativa, e que tem o verbo numa das FORMAS NOMINAIS - O
INFINITIVO, o GERÚNDIO, OU o PARTICÍPIO. Assim: As ORAÇÕES REDUZIDAS DE INFINITIVO podem vir ou não regidas de
preposição e, como as desenvolvidas, classificam-se em:
l. Neste periodo de Machado de Assis:

Todos nós havemos de morrer; basta I estarmos vivos. I Substantivas:


(OC, I, 420.)
l. SUB]EC'frvAS:
a oração estarmos vivos tem valor substantivo. Não a encabeça, porém, a
integrante q/le, nem o seu verbo se apresenta numa forma finita, mas na do É preciso I caminhar com o passo certo. I
(Cost. Andrade, NVNT, ;0.)
INFINITIVO PESSOAL.
!
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
,I o PERÍODO E A SUA CONSTRUÇÃO
4II
4'0
2. CONCESSIVAS:
2. OBJECTIVAS DIRECTAS:
I Mesmo sem saber I se jamais chegarei, apetece-me rir e cantar em
Espero também I poder confiar
em ti. I honra da beleza das coisas.
Oosé Régio, SM, 57·) (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 102.)

3. OBJECTIVAS INDIRECTAS: 3. CONDICIONAIS:

Encarregara-a I de anunciar-se pessoalmente. I I A não ser isto, I eu preferia ficar na sombra, e trabalhar como simples
(Nélida pilion, FD, 69·) soldado.
(José de Alencar, CD, 30.)

4. COMPLETIVAS NOMINAIS: 4. CONSECUTIVAS:

Estou ansioso I por ir vê-lo. I o mancebo desprezava o perigo e pago até da morte pelos sorrisos, que
(Antero de Quental, C, 228.) seuS olhos furtavam de longe, levou o arrojo I a arrepiar a testa do touro
com a ponta da lança. I
(Rebelo da Silva, CL, 178.)
5. PREDICATIVAS:
A sua intenção era I comuniCaI a Augusta o resultado da conversa 5. FINAIS:
com o preteodeote. I Conheces-lhe a vida I para poderes afirmar tal coisa. I
(Machado de Assis, OC, li, 97·) (Augusto Abelaira, CF, 148.)

6. ApOSITIVAS: 6. TEMPORAIS:

A coragem é isto: Imeter o pássaro do medo na capanga. I Viajante que deixaste


(Luandino Vieira, NM, n6.) As ondas do Panamá,
Vela I ao entrares no porto I
Aonde o gigante está I
Adjectivas: (Fagundes Varela, V A, 76.)
Mas a visão logo se desvaneceu, ficando apenas os vidros, I a ocultarem,
com o seu brilho, o I que lá dentro existia. Orações reduzidas de gerúndio.
(Ferreira de Castro, OC, l, 13 6.)
Podem ser ADJECTIV AS OU ADVERBIAIS.
Observação:
As ORAÇÕES ADJBCTIVAS REDUZIDAS DE INFINITIVO são mais frequentes no
português europeu. No português do Brasil empregam-se de preferência as Adjectivas:
ADJEC'I'IV AS REDUZIDAS DE GERÚNDIO.
Perdeu o desfile da mil1cia triunfante, I marchando a quatro de fundo. I
Adverbiais: Oosé Saramago, MC, 348.)
lo CAUSAIS: Observação:
I Por serem trivialidades quotidianas tais· virtudes, { ninguém repara
o emprego do GERÚNDIO com valor de ORAÇÃO ADjBCTIVA tem sido consi-
nelas. derado por certos gramáticos um galicismo intolerável. Cumpre, no entanto,
(Miguel Torga, TU, 63·)
412
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNBO -l /
• I
o PERÍODO E A SUA CONSTRUÇÃO
41 3
,I
li
I
acentuar que é antiga no idioma a construção quando o GERÚNDIO expressa A.djectivas :
a ideia de actividade actual e passageira. As rosas brancas agrestes I
D.istinto deste é o emprego, cada vez mais frequente nos dias que correm Trazidas do fim dos montes I
do GERÚNDIO como representante de uma ORAÇÃO ADJECTIV A .que dcsign~ Vós mas tirastes, que as destes ...
um modo de seI' ou uma actividade permanente do substantivo a que se refere: (Fernando Pessoa, OP, 1I8.)
Meu coração é um pórtico partido I
Dando excessivamente sobre o mar. I A.dverbiais:
(Fernando Pessoa, OP, j4.) São mais comuns as TEMPORAIS:
Tal construção é um simples decalque do francês. I Acabada a cerimónia, I demos a volta ao adro.
(Vitorino Nemésio, SOP, 90.)
Adverbiais:
Não raro, ocorrem também as:
Como o GERÚNDIO tem principalmente significado temporal, as REDU-
ZIDAS por ele formadas correspondem, na maioria dos casos, a ORAÇÕES . I. CAUSAIS:
SUBORDINADAS ADVERBIAIS TEMPORAIS. Comparem-se, por exemplo:
I Desesperado, I parecia um doido por toda a casa.
I Passando hoje pela porta do meu compadre José Amaro, I ele me (Miguel Torga, NCM, 36.)
convidou para tomar conta de sua causa.
(José Lins do Rego, F M, 279') 2_ CONCESSIVAS:

Creio, porém, que, I ainda admitidas as exagerações do Jornal do


Mas podem equivaler também a outras ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVER- Comércio, I pode-se assegurar que a guerra está concluída.
BIAIS:
(] osé de Alencar, OC, IV, lo 33 lo)

I. CAUSAIS: 3. CONDICIONAIS:

I Pressentindo I que as suas intenções haviam sido adiviilhadas, Macedo I Dada essa hipótese, I espero de nossos amigos dedicados que não
tentou minorar a situação. sofrerão impassiveis uma oposição injusta.
(Ferreira de Castro, ,OC, I, 89.) (José de Alencar, CD, 33.)
2. CONCESSIVAS:

Aqui mesmo, I ainda não sendo padre, I se quiser florear com outros
rapazes, e não souber, há de queixar-se de você, Mana Glória.
(Machado de Assis, OC, I, 73).)
3. CONDICIONAIS:

Pensando bem, I tudo aqui10 era muito estranho.


(Augusto Meyer, SI, 2).)

Orações reduzidas de particfpio.

Como as REDUZIDAS DE GERÚNDIO, as DE PARTlcfPIO podem ser ADJEC-


TIVAS ou ADVERBIAIS.
~v FIGURAS DE SINTAXE 41 j

f c) da preposição que introduz certos adjuntos:


I
19. Miguel foi atrás dela, mãos nos bolsos, falando calmo.
(Luandino Vieira, VVDX, 69')

d) da preposição de antes da integrante que introduz as orações objec-


Figuras de sintaxe tivas indirectas e as completivas nominais.
Bem me lembro que ainda eu mesmo alcancei a casa de Dona Rosinha
em cuja porta de entrada passei horas seguidas espiando a maré humana.
(Augusto Frederico Schmidt, GB, 44·)
Tem medo que fique alguém fora da malhada 1...
(Alves Redol, G, 6j.)
Nem sempre as frases se organizam com absoluta coesão gramatical. O em~
penho de maior expressividade leva-nos, com frequência, a superabundân-. e) da conjunção integrante que:
das, a desvios, a lacunas nas estruturas frásicas tidas por modelares. Em
Não cuideis seja a masmorra ...
tais 'construções a coesão gramatical é substitulda por uma coesão signÜi- Não cuideis seja o degredo ...
cativa, condicionada pelo contexto geral e pela situação. (Cecilia Meireles, OP, 86 •. )
Os processos expressivos que provocam essas particularidades de cons-
trução denominam-se FIGURAS DE SINTAXE. 2. Na análise dessas e de outras orações manifestamente incompletas
convém repor los elementos omitidos. Mas seria uma arbitrariedade pre-
Examinemos as principais:
tender reconstruir, nas mesmas bases, formas expressivas elaboradas dentro
de princlpios linguísticos diversos.
ELIPSE É o caso, POt exemplo, da FRASE NOMINAL, organizada sem verbo e,
justamente por i~":), mais incisiva:
I. ELIPSE é a omissão de um termo que o contexto ou a situação per- Que talento, que bom gosto, uma delícia I
mitem facilmente suprir: (Augusto Meyer, MA, 153.)
São concntes, por exemplo, as ELIPSES: ou mais sugestiva:
a) do sujeito: Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas I
(Camilo Pessanha, C, j ••)
Ternura. sacudiu os ombros, no susto. Ergueu a cabeça, fixou Manuel:
_ Para onde? - exclamou.
(Anibal M. Machado, JT, l)j.) A elipse como processo estillstico.

Recurso condensador da expressão, a elipse é naturalmente usada de


b) do verbo (parcial ou total):
preferência naqueles tipos de enunciado que se devem caracterizar pela con-
Vão os dois em diálogo peripatético, ele em passo largo, ela no voa. cisão ou pela rapidez.
(Carlos Drummond de Andrade, CB, .6.) Seus efeitos estilistlcos são, portanto, apreciáveis:

Vida ruim, a nossa. a) na descrição esquemática de ambientes, de estados de alma, de .


(Alves Redol, G, 10j.)
perfis:

-~ ~ . &~_."._-"'" .... _"~._---


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGtllis CONTEMPORÂNEO li FIGURAS DE Sm'I'AXE
4'7
4 16 ti
,1
2. Com mais frequência, a designação aplica-se à chamada zeugma
Subiu a escada. A cama arrumada. O quarto. O cheiro do jasmineiro
E a voz de uma das filhas, em baixo: .
i COMPLEXA, que abarca principalmente os casos em que se subentende um
_ Papai I O telefone ... verbo já expresso, mas sob outra flexão. Assim:
(Anlbal M. Machado, Cf, 119')
A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.
(Carlos Drumn'lond de Andrade, R, 181.)
b) em anotações rápidas, como as de um diário íntimo, de um caderno
de notas: Entenda-se:
Paris da guerra I De dia apenas o movimento diminuldo 2 S % e os ómni· Os altares eram humildes.
bus desaparecidos. Mas imensa gente. Mulheres lindas, muitas - e deliciosa.
mente vestidas. Militares. Poucos feridos. Rara gente de luto. Nenhuma tris.
teza. Muitos espectáculos. Cafés do centro, cheios.
(Mário de Sá-Carneiro, e, 91.) PLEONASMO

c) na enunciação de pensamentos condensados, provérbios, divisas, . I. PLEONASMO é a superabundância de palavras para enunciar uma
ditos sentenciosos ou irónicos: ideia, como se vê nestes passos, em que se procura reproduzir a fala popular:
Cada dia, cada via; cada vida, cada lida. - Sai lá para fora, João.
(Luandino Vieira, IV, 63·) (Miguel Torga, NeM, 228.)

d) nas enumerações, onde a inexistência do artigo, como dissemos no 2. Cumpre acentuar que o pleonasmo é a reiteração da ideia. A repe-
Capítulo 9, costuma sugerir aS ideias de acumulação ou de dispersão: tição da mesma palavra é um recurso de ênfase e, segundo a forma por que
se disponha no período ou na oração, tem na retórica nome especial. Não
Quando voltar, à tardinha, minha pele vai estar que é só boi, vaca, ove~ é, porém, um pleonasmo.
lha, leite, couro, remédio, pasto, fumaça, sal, sol, suor.
(António Carlos Resende, LD, 1.)

Pleonasmo vicioso.

ZEUGMA O pleonasmo só se justifica para dar maior relevo, para emprestar maior
vigor a um pensamento ou sentimento. Quando nada acrescenta à força de
lo A ZEUGMA é uma das formas da elipse. Consiste em fazer participar expressão, quando resulta apenas da ignorância do sentido exacto dos termos
de dois ou mais enunciados um termo expresso apenas em um deles: empregados, ou de negligência, é uma falta grosseira.
Na vida .dela houve só mudança de personagens: na dele mudança de
personagens e de cenários. Estão neste caso frases como:
(Joaquim Paço d'Arcos, eVL, 249')
Fazer uma breve alocução.
Isto é: na dele houve mudança de personagens e de cenários. Ter o monopólio exclusivo.
Ser o principal protagonista.
Podemos denominar SIMPLES a zeugma em que o termo omitido é exac~
tamente o mesmo empregado na oração anterior, como no exemplo de Joa- Em todas elas o adjectivo representa uma demasia condenável: alo-
quim Paço d' Arcos. mfao é um «discurso breve»; não há lJIol/opólio que não seja «exclusivO)}; c
protago/lista significa «principal personagem» .

.. .....- -_._ .. _._--


/
BREVE GRAMÁ'l'ICA DO PORTUGtfflS CONTEMPORÂNEO FIGURAS DE SINTAXE 4'9
4 I8
minante (PREPOSIÇÃO+ SUBSTANTIVO) ao determinado, como neste passo:
Pleonasmo e eplteto de natureza.
Mas esse astro que fulgente
Cumpre, no entanto, distinguir dessas redundâncias viciosas o emprego Das águias brilhara à frente,
do adjectivo como EPÍTETO DE NATUREZA em expressões do tipo céu o'(fil, Do Capitólio baixou.
fria neve, prado verde, mar salgado, noite escura e equivalentes. Comparem-se (Soares de Passos, P, 9'-92.)
estes exemplos:
Ó mar salgado, quanto do teu sal PROLEPSE
São lágrimas de Portugall
(Fernando Pessoa, OP, I9') PROLEPSE (do grego prólcpsis «acção de tomar antes»), figura também
E a Noite sou eu própria I A Noite escura!! conhecida como ANl'ECIP AÇÃO, consiste na deslocação de um termo de
(FIorbela Espanca, S, 4I.) uma oração para outra que a preceda, com o que adquire excepcional realce:
Os pastores parece que vivem no fim do mundo.
Aqui não se trata de inútil reiteração da ideia que já se continha
no substantivo. O adjectivo insiste sobre o carácter intrínseco, normal ou (Ferreira de Castro, oe, I, 4;5.)
dominante do objecto. É uma forma de ênfase, um recurso literário.
SINQUlSE

Observação: SÍNQUISE (do grego sjgcl!Jsis «confusão» «mistura») é a inversão de tal


modo violenta das palavras de uma frase, que torna difícil a sua interpre-
Quanto ao objecto (rurecto e indirecto) pleonástico, leia-se o que dissemos
tação.
no capitulo 7.
É o que se observa, por exemplo, nesta quadra do soneto Taça de coral,
HlPÉRBATO de Alberto de Oliveira:

HIPÉRllATO (do grego I!ypérbaton «inversão», «transposição») é a sepa- Licias, pastor - enquanto o sol recebe,
Mugindo, o manso armento e ao largo espraia,
ração de palavras que pertencem .0 mesmo sintagma, pela intercalação de Em sede abrasa, qual de amor por Febe,
um membro frásico, como neste passo: - Sede também, sede maior, desmaia.
(P, II, III.)
Essas que ao vento vêm
Belas chuva. de junho!
(Joaquim Cardoso, SE, I6.) Entenda-se:

«Licias, pastor, -enqu.'l.nto o manso armento recebe o sol e, mugindo,


Em sentido corrente, porém, hipérbato é termo genérico para designar espraia ao largo - , abrasa em sede, qual desmaia de amor por Febe, sede
toda inversão da ordem normal das palavras na oração, ou da ordem das também, sede maior.»
orações no periodo, com finalidade expressiva.
ASSíNDETO
ANÁSTROFE

ANÁSTROFE (do grego allaslropbé «mudança de poslçao», <dnversàm>, Dizemos que há AssfNDETO (do grego osjlldetoll (mão unidm>, <mão ligadm» .
«transposição») é o tipo de inversão que consiste na antep,osição do deter- quando as orações de um periodo ou as palavras de uma oração se sucedem
-;

BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO


( FIGURAS DE SlNT AXE 421
420
Observe-se que o pronome eu) que se anunciava como sujeito do verbo
sem conjunção coordenativa que poderia enlaçá-las. É um vigoroso processo seguinte, ficou sem função. Com a imprevista estrutura assumida pela frase,
de encadeamento do enunciado, que reclama do leitor ou do ouvinte uma • primeira pessoa, por ele representada, passou a objecto indirecto (me).
atenção maior no exame de cada facto, mantido em sua individualidade,
em sua independência, por força das pausas rltmicas:
Lavava roupas da Baixa, vestia, usava, lavava outra vez, levava. SILEPSE
(Luandino Vieira, IV, 10 3.)

SILEPSE (do grego sjllepsis, «acção de reunir, de tomar em conjunto»)


Arcos de flores, fachos purpú.rinos,
Trons festivais, bandeiras ~esfraldadas, é a concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas
Girândolas, clarins, atropeladas com o sentido, com a ideia que elas expressam.
Legiões de povo, bimbalhar de sinos ...
(Raimundo Correia, PCP, 19 6.)
Segundo a acepção originária, o termo SILEPSE deveria referir-se apenas
POLlssINDETO à concordância de número. Cedo, porém, ele passou a ser aplicado a certas
anomalias formais na concordância de género e pessoa e, hoje, abarca pra-
o
POLISS!NDETO (do grego po{ysj/ld,ton «que contém muitas conjunções») ticamente todo o campo da CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA.
é o contrário do asslndeto, ou seja, é o emprego reiterado de conjunções
coordenativas, especialmente das aditivas:
Silepse de número.
Fui cisne, e lirio, e águia, e catedral1
(Florbcla Espanca, S, j9·) l. Pode ocorrer a SILEPSE DE NÚMERO com todo substantivo singular
concebido como plural e, particularmente, com os termos colectivos.
Com o POLIsSfNDETO interpenetram-se os elementos coordenados; a Assim neste passo de Machado de Assis:
expressão adquire assim uma continuidade, uma fluidez, .que a tornam par-
ticularmente apta para sugerir movimentos ininterruptos ou vertiginosos, Deu-me notícias da gente Aguiar; estão bons.
como nos mostram os exemplos citados, e também o seguinte, de Vinícius (OC, I, 1.093.)
de Morais:
2. Há também SILEPSE DE NÚMERO quando O sUjeito da oração é um
E crescer, e saber, e ser, e haver
B perder, e sofrer, e ter horror dos pronomes nós e vós) aplicados a uma só pessoa, e permanecem no sin N

De Sel: e amar, e se sentir maldito ... gular os adjectivos e particlpios que a eles se referem. Assim:
(LS, "9·) Sois injusto comigo.
É a este emprego da conjunção que se costuma chamar «e de movimento». (Alexandre Herculano, MC, Ir, 3j.)

ANACOLUTO
Silepse de género.
ANACOLU1'O é a mudança de construção sintáctica no meio do enun-
ciado, geralmente depois de uma pausa sensível, como neste exemplo: Sabemos que as expressões de tratamento Vossa Majestade, Vossa E!xc,-
li11cia) Vossa Senhoria) etc. têm forma gramatical feminina, mas aplicam-se
Bom1 boml cu parece-me que ainda não ofendi ninguéml
com frequência a pessoas do sexo masculino. Neste caso, quando funciona'
Uosé Régio, SM, 10j.)
422
BREVE GRAMÁ'fICA DO PORTUGufu: CONTEMPORÂNEO

como predicativo, o adjectivo que a elas se refere vai sempre para o mas·
7/ I
culina:
_ V. Ex.a. parece magoado ...
(Carlos DIUmmond de Andrade, CB, 119·)
20.

Silepse de pessoa. Discurso directo, discurso indirecto


Quando a pessoa que fala ou escreve se inclui num sujeito enun·
I.
dado na 3." pessoa do plural, o verbo pode ir para a r." pessoa do plural:
e discurso indirecto livre
Todos entramos imediatamente.
(Otto Lara Resende, BD, 2l·)
Estruturas de reprodução de enunciações.
2. Se no sUjeIto expresso na 3.' pessoa do plural queremos abranger
a pessoa a quem nos dirigimos, é licito usarmos a 2.· pessoa do plural: Para dar-nos a conhecer os pensamentos e as palavras de personagens
reais ou fictícios, dispõe o narrador de três moldes linguísticos diversos,
Mas suponho que todos so~s da mesma opinião I Todos acordais em conhecidos pelos nomes de:
me condenar e abandonar.
(José Régio, ERS, 8).)
a) DISCURSO (ou ESTILO) DIRECTO,

b) DISCURSO (ou ESTILO) INDIRECTO,

c) DISCURSO (ou ESTILO) INDIRECTO LIVRE.

DISCURSO DIRECTO

Examinando este passo das Memórias Pós/uH/as de Brás Cllbas, de Machado


de Assis:

Virgllia replicou:
- Promete que algum dia me fará baronesa?
(Oe, I, 462.)

verificamos que o narrador, após introduzir a personagem, Virgília, dei-


xou-a expressar-se por si mesma, limitando-se a reproduzir-lhe as palavras
Como ela as teria efectivamente seleccionado, organizado e emitido.
A essa forma de expressão, em que o personagem é chamado a apre-
sentar as suas próprias palavras, denominamos DISCURSO nIRECTO.
~i /
, pISCURSO DIRECTO, DISCURSO INDIREC'I'O E DISCURSO INDIRECTO LIVRE
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO 42 5
44
2

Caracterlsticas do discurso directo.


DISCURSO INDIRECTO

I. No PLANO FORMAL, um enunciado em DISCURSO DlRECTO é mar·


Tomemos como exemplo esta frase de Machado de Assis:
cado, geralmente, pela presença de verbos do tipo dizer, afirmar, ponderar,
sugerir, perguntar, indagar, responder e sinónimos, que podem introduzi-lo, José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que
não era médico.
arrematá-lo, ou nele se inserir: (OC, I, 733.)
Meneou a cabeça com ar triste e acrescentou: - O homem acostuma~
-se a tudo, sim, a tudo, até a esquecer-se que é um homem ... Ao contrário do que observamos nos enunciados em discurso directo,
(Castro Soromenho, C, 66.) o narrador (Machado de Assis) incorpora aqui, ao seu próprio falar, uma
informação do personagem (José Dias), contentando-se em transmitir ao
É esta a gaveta? - perguntou ele. leitor apenas o seu conteúdo, sem nenhum respeito à forma lingulstica que
(Osman Lins, V, 53·)
teria sido realmente empregada.
Penso _ disse meu pai - que te darás melhor em Letras. Este processo de reproduzir enunciados chama-se DISCURSO INDIRECTO.
(Vergllio Ferreira, A, 26.)
Caracterlsticas do disC1ttso indirecto.
Quando falta um desses verbos dicendi, cabe ao contexto e a recursos
I. No PLANO FORMAL, verifica-se que, introduzidas também por um
gráficos _ tais como os dois pontos, as aspas, o travessão e a mudança de
verbo declarativo (dizer, afirmar, ponderar, confessar, respollder, etc.), as falas
linha _ a função de indicar a fala do personagem. É o que observamos nes-
dos personagens aparecem, no entanto, numa oração subordinada subs-
tes passos: tantiva, em geral desenvolvida:
«Todos vamos ficando diferentes, e vinte e cinco anos é uma vida.») João Garcia garantiu que sim, que voltava.
«Para muitos é mais do que isso.)} (Vitorino Nemésio, MTC, lI.)
«Oaro que é.»
(Maria Judite de Carvalho, TM, 49')
Nestas orações, como vimos, pode ocorrer a elipse da conjunção inte-
O amigo abraçou-O. E logo recuou com certo espanto: - o seu chapéu) grante:
Zé Maria?
_ Ah, não uso mais 1... Como supunha fÔssemos ter ainda uma quinzena de actividade e
- Felizardo I pudéssemos esgotar o programa, demorara-me alguns dias em Machado
(Anibal M. Machado, HR, 47·) e em Eça.
(Ciro dos Anjos, DR, 283.)
2. No PLANO EXPRESSIVO, a força da narração em DISCURSO DIRECTO
provém essencialmente da sua capacidade de actualizar o episódio, fazendo 2. No PLANO EXPRESSIVO, assinale-se, em primeiro lugar, que o em-

emergir da situação o personagem, tomando-o vivo pata o ouvinte, à maneira prego do DISCURSO INDIRECTO pressupõe um tipo de relato de carácter pre-
de uma cena teatral, em que o narrador desempenha a mera função de indi- dominantemente informativo e intelectivo, sem a feição teatral e actuali-
.adora do DISCURSO DIRECTO. O diálogo é incorporado à narração mediante
cador das falas. uma forte subordinação semântico-sintáctica estabelecida por meio de nexos
Dal ser esta a forma de relatar preferentemente adoptada nos actos diá-
rios de comunicação e nos estilos literários narrativos em que os autores c correspondências verbais entre a frase reproduzida c a frase introdutora.
pretendem representar diante dos que os lêem «a comédia humana, com Em sfntese: no DISCURSO INDIRECTO o narrador subordina a si o per-
sonagem, com retirar-lhe a forma própria e afectivamente matizada da expres-
a maior naturalidade posslve!» (E. Zola).
--, I

f
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO DISCURSO DIRECTO, DISCURSO INDIRECTO E DISCURSO INDIRECTO LIVRE
42 7
426

são. Mos não se conclua daí que tal modalidade de discurso seja uma cons_
'! d) verbo enunciado no futuro do d) verbo enunciado no futuro
presente: do pretérito;
trução estilística pobre.
É, na verdade, do emprego sabiamente dosado de um e outro tipo de - Que será feito do senhor padre Perguntou D. Joaquina Gan-
discurso que os bons escritores extraem da narrativa os mais variados efei· Brito? perguntou D. Joaquina Gansoso. 5050 que seria feito do senhor
tos artísticos, em consonância com intenções expressivas que só a análise Padre Brito.
(Eça de Queirós, 0, I, 4).)
em profundidade de uma dada obra pode revelar.

Transposição do discurso directo para o indirecto. (}) verbo no modo imperativo: e) verbo no modo conjuntivo:
I. Do confronto destas duas frases; - Não faça escândalo - disse a Disse a outra que não fizesse
Ela disse olhando-o muito que outra. escândalo.
_ A senhora vai sair - disse ela
olhando-o muito. a senhora ia sair. (Osman Lins, V, 100.)

(Eça de Queirós, 0, I, 878.) f) pronome demonstrativo de La f) pronome demonstrativo de


(estc, esta) isto) ou de z.a pessoa (esse) essa, ).a pessoa (aquelc, aquela,
verifica-se que, ao passar-se de um tipo de relato para outro, certos ele- isso) : aqui/o) :
mentos do enunciado se modificam, por acomodação ao nova molde sin-
- Não abro a porta a estas horas a Disse Gracia que não abria a
táctico. ninguém - disse Grac~a. porta àquelas horas a ninguém.
2. As principais transposições que ocorrem são; (Agustina Bessa Luis, M, 266.)

DISCURSO DIRECTO
DISCURSO INDIRECTO: - Isso é um número muito com- Cesária respondeu que aquilo
prido, respondeu Cesária. era um número muito comprido.
a) enunciado em 1. 80 ou em 2.a. a) enunciado em ).' pessoa; (Graciliano Ramos, AOH, 108.)
pessoa;
g) advérbio de lugar oq/,;: g) advérbio de lugar ali:
_ Preciso de dinheiro - disse o Disse o capitão qu~ precisava
capitão. de dinheiro. - Aqui amanhece muito cedo- Disse Sales que ali amanhecia
(Agustina Bessa Luis, M, 151.) disse Sales. muito cedo.
(Castro Soromenho, C, '99.)
_ Não achas melhor tirar esse pon- Perguntou-lhe Rodrigo se não
cho? - perguntou-lhe Rodrigo. achava melhor tirar aquele poncho.
h) enunciado justaposto; h) enunciado subordinado, ge-
(Érico Verlssimo, A, lI, 32)·) ralmente introduzido pela in-
b) verbo enunciado no presente; b) verbo enunciado no imper- tegrante quc:
feito:
- Foi um tempo velhaco - disse, Disse, concordante e enfastia-
_ Sou a' ]ulieta - disse, hesitante. Disse, hesitante, que era a Ju- concordante e enfastiado. do, que tinha sido um tempo
lieta. velhaco.
(Augusto AbeIaira, B, 81.) (Fernando Namora, NM, 21).)

c) verbo enunciado no pretérito c) verbo enunciado no pretérito i) enunciado em forma interrogati- i) enunciado em forma interro-
perfeito; mais-que-pcrfeito: va directa: gativa indirccta:
_ Nem'banho tomei, ela esclarecia. Ela esclarecia que nem banho - «Lá é bom ?») - perguntei. Perguntei sc lá era bom.
tinha tomado.
(Nélida Piiion, CP, 82.) (Guimarães Rosa, GS- V, lO).)
4. 8 BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEo
.;
,
DISCURSO INDlRECTO LIVRE
21.
Na moderna literatura narrativa, tem sido amplamente utilizado Um
terceiro processo de reprodução de enunciados, resultante da conciliação
dos dois anteriormente descritos. É o chamado DISCURSO INDIRECTO LIVRE,
forma de expressão que, em vez de apresentar o personagem em sua voz pró.
Pontuação
pria (DIscuRso DIRECTO), ou de informar objectivamente () leitor sobre o
que ele teria dito (DISCURSO INDIRECTO), aproxima narrador e persona-
gem, dando-nos a impressão de que passam a falar em uníssono.
Atente-se no passo assinalado:

o tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capa~ SINAIS PAUSAIS E SINAIS MELÚDICOS
cidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres
risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. A língua escrita não dispõe dos inumeráveis recursos rítmicos e melódicos
Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua da língua falada. Para suprir esta carência, ou melhor, para reconstituir apro-
cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua fanúlia.
ximadamente o movimento vivo da elocução oral, serve-se da PONTUAÇÃO.
(Clariee Lispeetar, LF, )6.) Os sinais de pontuação podem ser classificados em dois grupos:
O primeiro grupo compreende os sinais que, fundamentalmente, se
Características do discurso indirecto livre. destinam a marcar as PAUSAS:

a) a VÍRGULA (,)
I. No PLANO FORMAL, verifica-se que () emprego do DISCURSO IN DI- b) o PONTO (.)
RECTO LIVRE «pressupõe duas condições: a absoluta liberdade sintáctica c) o PONTo E VÍRGULA (;)
do escritor (factor gramatical) e a sua completa adesão à vida do persona·
gem (factor estético»>. Conserva ele toda a afectividade e a expressividade
O segundo grupo abarca os sinais cuja função essencial é marcar a
próprias do discurso directo, ao mesmo tempo que mantém as transpo· MELODIA, a ENTOAÇÃO:
sições de pronomes, verbos e advérbios típicas do discurso indirecto.
a) os DOIS PONTOS (:)
b) o PONTO DE INTERROGAÇÃO (?)
2. No PLANO EXPRESSIVO, devem ser realçados alguns valores desta c) o PONTO DE EXCLAMAÇÃO (I)
construção híbrida: d) as RETICÊNCIAS (... )
L°) Evitando, por um lado, o acúmulo de qllês, ocorrente no DIS- e) as ASPAS (<< »)
CURSO INDlRECl'O, e, por outro, os cortes das aposições dialogadas, pecuM f) os PARÊNTESES ( O )
!iates ao DISCURSO DIREeTO, o DISCURSO INDlRECTO LIVRE permite uma g) os COLCHETES ( [] )
narrativa mais fluente, de ritmo e tom mais artisticamente elaborados; h) o TRAVESSÃO (_)
2.°) O elo psíquico que 'e estabelece entre narrador e personagem neste
molde frásico torna-o o preferido dos escritores memorialistas em suas pági-
SINAIS QUE MARCAM SOBRETUDO A PAUSA
nas de monólogo interior;
l.O) Para a apreensão da fala do personagem nos trechos em DISCURSO A vírgula.
INDIRECTO LIVRE, cobra importância o papel do contexto, pois que a pas·
sagem do que seja relato por parte do narrador a enunciado real do locutor A VÍRGULA marca uma pausa de pequena duração. Emprega-s" não s6
é muitas vezes extremamente subtil. para separar elementos de uma oração, mas também orações de um s6 período.
410
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO 11 PONTUAÇÃO
43 1
/
'!
I. No interior da oração serve: b) para indicar a supressão de uma palavra (geralmente o verbo) ou
de um grupo de palavras:
1.0) Para separar elementos que exercem a mesma função sintáctica
No céu azul, dois fiapos de nuvens.
(sujeito composto, complementos, adjuntos), quando não vêm unidos pelas
(Augusto Frederico Schmidt, AP, 176.)
conjunções 8J 011 e netn. Exemplos:
A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz Observação:
de formas e de cores ...
(Teixeira de Pascoaes, oe, VII, 83·) Quando os adjuntos adverbiais são de pequeno corpo (um advérbio, por
Os homens em geral são escravos; vivem presos às suas profissões, aos exemplo), costuma-se dispensar a vlrgula. A vlrgula é, porém, de regra
quando se pretende realçá-los. Comparem-se estes passos:
seus int~esses, aOS seus preconceitos.
(Gilberto Amado, TL, 12.) Depois levaram Ricardo para a casa da mãe Avelina.
_ Nós vivemos num canto da colónia, longe de tudo, sem recursos, 00sé Lins do Rego, U, l20.)
sozinhos. Depois, o engraçado são as passagens de nlvel, os aparelhos de sina-
(Castro Soromenho, TM, 246.) lização, os vagões-cisternas ...
(Augusto Abelaira, D, lO.)
2.0) Para separar elementos que exercem funções sintácticas diversas, Dep.ois, tudo caiu em silêncio.
geralmente com a finalidade de realçá-los. Em particular, a vlrgula é usada:
(Castro Soromenho,. TM, 261.)
a) para isolar o aposto, ou qualquer elemento de valor meramente
explicativo: 2. Entre orações, emprega-se a vlrgula:
Alice, a menina, estava feliz. 1. 0) Para separar as orações coordenadas assindéticas:
(Fernando Namora, TI, lO.)
Subiram ao sótão, desceram à cave, espreitaram no poço.
b) para isolar o vocativo: , (Sophia de Mello Breyncr Andresen, eE, 74.)
_ D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no
0
seminário? 2. ) Para separar as orações coordenadas sindéticas, salvo as introduzi-
(Machado de Assis, oe, I, 73 I.) das pela conjunção e:

c) para isolar os elementos repetidos: Ou elas tocavam, ou jogávamos· os três, ou então lia-se alguma cousa.

_ Só minha, minha, minha, eu quero 1...


(Machado de Assis, oe, TI, 497.)
(Luandino Vieira, VE, 86.)
3. 0 ) Para isolar as orações intercaladas:
d) para isolar o adjunto adverbial antecipado:
«Lá vem ele com as raizes», resmungou Paulino, baixando a cabeça.
Lá fora, a chuvada despenhou-se por fim.
(Castro Soromenho, e, 137.)
(Carlos de Oliveira, Ae, 17·)

3.0) Emprega-se ai~da a vírgula no interior da oração: 4. 0 ) Para isolar as orações subordinadas adjectivas explicativas:

a) pata separar, na datação de um escrito, o nome do lugar: O Loas, que tinha relações sobrenaturais, diagnosticara um espírito ..
Paris, .. de abril de 1983 . (Fernando Namora, TI, 24.)

.. ....... _. . ._-_._--_.---
4l Z
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTBMPOR.ÂNBO

subordinadas adverbiais, principalmente


7,
.
PONTUAÇÃO

Assim:
4H

5.°)
Para separar as orações
quando antepostas à principal: o Búzio não possuía nada, como uma árvore não possui nada. Vivia
com a terra toda que era ele próprio.
Se eu o tivesse amado, talvez o odiasse agora. A terra em sua mãe e sua mulher, sua casa e sua companhia, sua cama,
(Ciro dos Anjos, M, 146.) seu alimento, seu destino e sua vida.
Os seus pés descalços pareciam escutar o chão que pisavam.
6.0) Para separar as orações reduzidas de infinitivo, de gerúndio e (Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 14).)
de particípio, quando equivalentes a orações adverbiais:
4· Ao ponto que encerra um enunciado escrito dá-se o nome de PONTO
A não ser isto, é uma paz regalada. FINAL.
(Castro Soromenho, C, 22).)
Sendo tantos os mortos, enterram-nos onde calha. Observaçlio
(José Saramago, MC, 221.)
Além de servir para marcar uma pausa longa, o ponto tem outra uti-
Fatigado, ia dormir. lidade. E o sinal que se emprega depois de qualquer palavra escrita abrevja-
(Lima Barreto, TFPQ, 279') damente. Assim: V. S.- (Vossa Senhoria), Dr. (Dolllor), C. F. C. (Col/selho
Federal de Cmlllra), I. N ..I. C. (Institllto Nacional de Investigação Cientifico).
Note-se que, se a palavra assim reduzida estiver no fim do periodo, este encerra-
o ponto. -se com o ponto abreviativo, pois não se coloca outro ponto depois dele.
I.O PONTO assinala a pausa máxima da voz depois de um grul ~ O ponto-e-vírgula.
fónico de final descendente.
Emprega-se, pois, fundamentalmente, para indicar o término de uma I. Como o nome indica, este sinal serve de intermediário entre o !IONTO

ORAÇÃO DECLARATIVA, seja ela absoluta, seja a derradeira de um período e a VÍRGULA, podendo aproximar-se ora mais daquele, ora mais desta, segundo
os valores pausais e melódicos que representa no texto. No primeiro caso,
composto:
equivale a uma espécie de PONTO reduzido; no segundo, assemelha-se a uma
Entardecer no Angico. Estou parada, sozinha, na frente da casa da estân- VíRGULA alongada.
cia, olhando para o poente. O sol parece uma grande laranja temporã, cujo
sumo escorre pelas faces dn tarde. O ar cheira a guaco queimado. Um silên-
cio de paina crepuscular envolve todas as coisas. A tetra parece anestesiada. 2. Esta imprecisão do PONT0-E-VÍRGULA faz que o seu emprego dependa
Raras estrelas começam a apontar nO firmamento, mais adivinhadas do que substancialmente do contexto. Entretanto, podemos estabelecer que, em
propriamente visíveis. Sinto um langor de corpo e espirito. Decerto é a tar- princípio, ele é usado:
dinha que me contagia com sua doce febre.
(Érico Verissimo, A, ITI, 9,.,) 1. 0) Para separar num período as orações da mesma natureza que tenham
uma certa extensão:
2. Quando os períodos (simples ou compostos) se encadeiam pelos
Numa tarde de Outono murmuraste;
pensamentos que expressam, sucedem-se uns aOS outros na mesma linha. Toda a I1llIgoa do Outono ele me trouxe ...
Diz-se, neste caso, que estão separados por um PONTO SIMPLES. (Florbela Espanca, S, 49')

3. Quando se passa de um grupo a outro grupo de ideias, costuma-se 2.°) Para separar partes de um perlodo, das quais uma pelo menos
marcar a transposição com um maior repouso da voz, o que, na escrita, esteja subdividida por VÍRGULA:
se representa pelo PONTO PARÁGRAFO. Deixa-se, então, em branco o resto
Chamo-me Inácio; ele, Benedito.
da linha em que termina um dado grupo ideológico, e inicia-se o seguinte
(Machado de Assis, OC, lI, 680.)
na linha abaixo, com o recuo de algumas letras.
434
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO -\I
i
pONTUAÇÃO 4~5

~.O) Para separar os diversos itens de enunciados enumerativos (em


'I 1.0) uma citação (geralmente depois de verbo ou expressão que signi-
fique dizer, respoflder, pcrglll1tar e sinónimos):
leis, decretos, portarias, regulamentos, etc.). Sirva de exemplo o Titulo I
(Dos fi1ls da Educação) da Lei brasileira de Directtizes e Bases da Educação Clemente voltou para dizer:
- Não enxerguei ninguém, camarada. Era bicho.
Nacional: (Fernando Namora, NM, 112.)
Art. 1.0 A educação nacional, inspirada nos principios de liberdade
e nos ideais de solidariedade humana, tem por fim: z.o) uma enumeração explicativa:
a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão,
Não fosse ele, outros seriam: pajens, gente de guerra, vacUos de estala-
do Estado, da famma e dos demais grupos que compõem a comunidade;
gens, andejos das estradas.
b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem;
(Coelho Netto, OS, I, 1420.)
c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional;
d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua parti M
,.0) um esclarecimento, uma síntese ou uma consequência do que
cipação na obra do bem comum; foi enunciado:
e) o preparo do individuo e da sociedade para o dominio dos recursos
E a felicidade traduz-se por isto: criarem-se hábitos.
cientificos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer
(Augusto Abelaira, NC, 154.)
as dificuldades do meio;
f) a preservação e expansãO do pâtrimónio cultural; Não era desgosto: era cansaço e vergonha.
g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de con- (Cocbat Osório, CV, 178.)
vicção filosófica, politica ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos
Observação:
de classe ou de raça.
Depois do vocativo que encabeça cartas, requerimentos, of1cios, etc., cos-
Valor melódico dos sinais pausais. tuma-se colocar DOIS PONTOS, VÍRGULA ou PONTO, havendo escritores Que,
no caso, dispensam qualquer pontuação. Assim: .
Dissemos que a VÍRGULA, o PONTO e o PONTO-E-VÍRGULA marcam
sobretudo _ e não exclusivallJente - a pausa. No co~er do nosso estudo, Prezado senhor: Prezado senhor.
ressaltámos até algumas das suas caracteristicas melódicas. Prezado senhor, Prezado senhor
É o momento de sintetizá-las: Sendo o vocativo inicial emitido com entoação suspensiva, deve ser acom-
a) o PONTO corresponde sempre à final descendente de um grupo panhado, preferentemente, de DOIS PONTOS ou de VÍRGULA, sinais denotadores
daquele tipo de inflexão.
fónico;
b) a VÍRGULA assinala que a voz fica em suspenso, à espera de que
o ponto de interrogação.
o periodo se complete;
c) o PONTO-E-vfRGULA denota em geral uma débil inflexão suspen- I. É o sinal que se usa no fim de qualquer interrogação directa, ainda
siva, suficiente, no entanto, para indicar que o pedodo não está conc1uldo. que a pergunta não exija resposta:

Estará surdo? Estará a tentar irritar-me?


SINAIS QUE MARCAM SOBRETUDO A MELODIA (Sttau Monteiro, APj, 101.)

Os dois pontos. 2. Nos casos em que a pergunta envolve dúvida, costuma-se fazer
seguir de reticências o ponto de interrogação:
OS DOIS PONTOS servem para marcar, na escrita, uma sensível suspensão
- Então? ... que foi isso? .. a comadre? ..
da voz na melodia de uma frase não conclulda. Empregam-se, pois, para
(Artur Azevedo, CFM, 86.)
anunciar:
• -j I -
BREVE GRAM ÁTICA DO PORTUGUES ~CONTEMPORÂNBo i I ...±u.
P~O:.:N::T.:U.::A:!Ç.::A::O~_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 437
43 6
Empregam-se em casos muito variados. Assim:
3. Nas perguntas t1ue denotam surpresa, ou naquelas tlue nào têm
endereço nem resposta, émpregam-sc por vezes combinados o ponto de a) para indicar que o narrador ou a personagem interrompe uma
interrogação e o ponto de exclamação: ideia que começou a exprimir, e passa a considerações acessórias:
_ Ah, é a. senhora?! Pois entre, a casa é sua ... Peça-lhe a sua felicidade, que eu não faço outra cousa ... Uma vez que
(Anibal M. Machado, HR, 86.) você não pode ser padre, e prefere as leis ... As leis são belas, sem desfazer na
teologia, que é melhor que tudo, como a vida eclesiástica é a mais santa ...
_ Quem é que não conhece Coimbra? I! I Por que não há de ir estudar leis fora daqui? .
(Branquinho da Fonseca, B, 18.) (Machado de Assis, OC, l, 757.)

Observação: b) para marcar suspensões provocadas por hesitação, surpresa, dúvida


O ponto de interrogação nunca se usa no fim de uma interrogação ou timidez, ou para assinalar certas inflexões de natureza emocional de quem
indlrecta. Como salientámos no Capitulo 7, a interrogação indirecta termina fala:
com entoação descendente, exigindo, por isso, um ponto. Comparem-se: - Homem, vê lá ... Pensa bem no que vais fazer ... - avisou o prior.
- A Raquel é boa rapariga ... Mas a geração ... Olha, eu não digo nada. Resolve
_ Quem chegou? [= interrogação directa) tu ...
_ Diga-me quem chegou. [= interrogação indirecta)
(Miguel Torga, NCM, 142.)
- Há que tempos eu não chorava!. .. Pois me vieram lágrimas ... , deva-
O ponto de exclamação. garinho, como gateando, subiram. ... tremiam sobre as pestanas, luziam um
tempinho ... e ainda quentes, no arranco do galope, lá caiam elas na polvadeira
É o sinal que se pospõe a qualquer enunciado de entoação exclama- da estrada, como um pingo d'água perdido, que nem mosca nem formiga
daria com elel ...
tiva. Emprega-se, pois, normalmente:
(Simões Lopes Neto, CGLS, 128.)
a) depois de interjeições ou de termos c'luiva1cntcs, como os voca-
tivos intensivos, as apóstrofes:
c) para indicar que a ideia que se pretende exprimir não se completa
_ Credo em cruz I gemeu Raimundo assombrado. com o término gramatical da frase, e que deve ser suprida com a imaginação
(Graciliano Ramos, AOH, 147·) do Jeitor:
Que formosura tão de corte, de palácio, de aristocracia I Que pureza e Duas horas te esperei.
correcção de linhas I Que fidalguia de olhar e falarl Duas mais te esperaria.
(Camilo Castelo Branco, OS, l, 87·) Se gostas de mim não sci .. .
Algum dia há de ser dia.. .
b) depois de um imperativo: (Fernando Pessoa, QGP, n.O 98.)

-Agarreml 2. Empregam-se também as RETICI!NC1AS para reproduzir, nos diálo-


- Gentes, agarreml agarreml
(Castro Soromenho, V, Il'.) gos, não uma suspensão do tom da voz, mas o corte da frase de um per-
sonagem peJa interferência da fala de outro:

A. reticência•• - A senhora ia dizer que ...


- Nada ... nada ... - atalhou a mulher.
I. As reticências marcam uma interrupção da frase e, consequente·
(Anlbal M. Machado, HR, 1j.)
mente, a suspensão da sua melodia.
-[ / PONTUAÇÃO 439
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuÊS CONTEMPORÂNEO
1/
43 B

3. Usam-se ainda as RETICÊNCIAS antes de uma palavra ou de uma ·1 e) para indicar o título de uma obra:

expressão que se quer realçar: Belinha acaba de ler «Elzira, a Morta VirgenD).
E a.s Pedras... essas... pisa-as toda ~ gente I... (Érico Verlssinro, C, 197')
(Florbela Espanca, S, 30.)
Observação:

4. Não se devem confundir as RETrCÊNCIAS, que têm valor estilístico No emprego das aspas, cumpre atender a estes preceitos, aprovados
nos acordos ortográficos luso-brasileiros: «Quando a pausa coincide com o
apreciável, com os três pontos que se empregam, como simples sinal tipo- final da expressão ou sentença que se acha entre aspas, coloca-se o compe-
gráfico, para indicar que ~oram suprimidas palavras no inicio, no meio, ou tente sinal de pontuação depois delas, se encerram apenas uma parte da pro-
nO fim de uma citação posição; quando, porém, as aspas abrangem todo ó periado, sentença, frase
Modernamente, para- evitar qualquer dúvida, tende a generalizar-se o ou expressão, a respectiva notação fica abrangida por elas,»
uso de quatro pontos para marcar tais supressões, ficando os três pontos
Os parênteses.
como sinal exclusivo das RETICÊNCIAS.
I. Empregam-se os PARÊNTESES para intercalar num texto qualquer

As aspas. indicação acessória. Seja, por exemplo:


a) uma explicação dada ou uma circunstância mencionada inciden-
r. Empregam-se principalmente: temente:
no início e no fim de uma citação para distingui-Ia do resto do É lá (no café) que se encontra a estalajadeira.
a)
contexto: (José Cardoso Pires, V, 5I.)
Definiu César tom a figura da ambição quando disse aquelas palavras: b) uma reflexão, um comentário à margem do que se afirma:
«Antes. o primeiro na aldeia do que o segundo em Roma»,
(Fernando Pessoa, LV, 100.) A minha guerra, como a dos que tinham partido (se é que tinham), come-
çava agora.
b) para fazer sobressair termos ou expressões, geralmente não peculia- (Jorge de Sena, SF, 295.)
res à linguagem normal de quem escreve (esttangeirismos, arcaismos, neo- c) uma nota emocional, expressa geralmente em forma exclamativa
ou interrogat'va:
logismos, vulgarismos, etc.):
Era melhor que fosse «clown». Havia a escola, que era azul e tinha
(Érico Ver1ssimo, C, 227') Um mestre mau, de assustador ·pigarro ...
(Meu Deus I que é isto? que emoção a minha
c) para acentuar o valor significativo de uma palavra ou expressão: Quando estas coisas tão singelas narro?)
(B. Lopes, H, 65.)
A palavra <<nordeste» é hoje uma palavra desfigurada pela expressão
«obras do Nordeste» que quer dizer: «obras contra as secas». E quase não 2. Usam-se também os parênteses para isolar orações intercaladas
sugere senão as secas. com verbos declarativos:
(Gilberto Freyre, OE, 6Il.)
Quem és (lhe perguntei com grande abalo)
d) para realçar honicamente uma palavra ou uma expressão: Fantasma a quem odeio e a quem amo?
(Antero de Quental, se, 79')
_ Está o mundo perdido, até a Judite já tem «arranjinhOl)1
(Almada Negreiros, oe, lI, 135') () que se faz mais frequentemente por meio de vJrgulas Oll de travessões.
440
BRBVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
li PON'l'UAÇÃO

1.°) Para indicar, nos diálogos, a mudança de interlocutor:


441

Observação: - Quem é o seu tabelião, Dâmaso?


A posição dos parMteses com referência aos sinais pausais obedece à seguinte - O Nunes, na Rua do Ouro... Por quê?
norma constante dos acordos ortográficos luso-brasileiros: «Quando uma pausa -Oh! nada.
coincide com o inicio da. construção parentética, o respectivo sinal de pontua- (Eça de Queiicós, 0, n, 388.)
ção deve fica< depois dos parênteses; mas, estando a proposição ou a frase
inteira encerrada pelos parênteses, dentro deles se põe a competente notação», 2.°) Para isolar, num contexto, palavras ou frases. Neste caso, em
que desempenha função análoga à dos parênteses, usa-se gera1mente o TRA-
Os colchetes. VESSÃO DUPLO:

OS COLCHETES são uma variedade de PARtNTESES, mas de uso restrito. - A Igreja - atalhou o Bispo - não pode desinteressar-se do problema
Empregam-se: social.
(Sophia de Mello Breyner Andresen, CE, 36.)
a) quando numa transcrição de texto alheio, o autor intercala obser-
vações próprias, como nesta nota de Sousa da Silveira a um passo de Casi-
Mas não é raro o emprego de um só TRAVESSÃO para destacar, enfaticamente,
miro de Abreu: a parte final de um enunciado:
Entenda-se, pois: «Obrigado! obrigado [pelo teu canto em que] tu res-
pondes [à minha pergunta sobre o porvir (versos Il-12) e me acena0 para Um povo é tanto mais elevado quall:to mais se interessa pelas coisas inú-
o futuro (versos 14 e 85), embora o que eu percebo no horizonte me pareça teis - a filosofia e a arte.
apenas uma nuvem (verso 1j)]." (Gilberto Amado, TL, 16.)
(Casimira de Abreu, 0, 374.)

b) quando se quer isolar uma construção internamente já separada


por P ARtNTESES, à semelhança do que ocorre com os segundos COLCHETES

do exemplo anterior;
c) quando se deseja incluir, numa referência bibliográfica, indicação
que não conste da obra citada, como neste exemplo:
Dom Casmurro. Por Machado de Assis, da Academia Brasileira. H. Gar-
ruer, Liyreiro-Editor -71, Rua Moreira César, 71, Rio de Janeiro - G,
Rue des Saints-Peres, 6 - Paris [18 99]'

Observação:
O uso dos COLCHETES é frequente nos trabalhos de lingulstica e de filologia.
Como dissemos no Capitulo " coloca-se entre COLCHETES uma pa1a~a trans-
c::rita foneticamente. Por exemplo:
mundo [müdu] fugir [fu' 3Í<]
Também entre COLCHETES se colocam, nas edições cdticas, os elementos que
devem ser introduzidos no texto, encerrando-se entre P ARÊNTESBS os que
dele devem ser eliminados.

O travessão.
Emprega-se principalmente em dois casos:
22.
\/
,
NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

3. O RITMO é o elemento essencial do VERSO, pois este caracteriza-se,


443

em última análise, por ser o período rítmico que se agrupa e", séries ntlfJJO COII/-
posição poética. Quando tais períodos rítmicos apresentam o mesmo número
de sílabas em todo o poema, a versificação diz-se REGULAR. Se não há igual-
Noções de versificação dade silábica entre eles, a versificação é IRREGULAR ou LIVRE.

Os limites do verso.

I. A forma do verso é determinada pela combinação de snabas, acen-


toS e pausas, contando-se as suas sílabas até a última acentuada. Assim, têm
ESTRUTURA DO VERSO
igualmente dez sllabas métricas os seguintes versos de Augusto dos Anjos:

la ti dos ces trais

I:
A es dos an
Ritmo e verso. lia
No po de meu Pai, sob es tes ga lhos
I. Examinemos estes versos do poeta Cruz e Sousa:

Vai, Peregrino do caminho santo,


Faz da tu'alma lâmpada do cego,
lluniinando, pego sobre pego,
Sob

I
I I
a 2 f o:
ma

4
de mi

6
ni

7
mas

8
ca

9
mân

10
dulas

As invisiveis amplidões do Pranto.


porque não se leva em çonta a átona final da palavra galhos, nem tampouco
Verificamos que as sílabas tonlcas, marcadas com negrita, se repetem as duas finais da palavra cafllândulas.
depois de uma, duas ou três sílabas átonas. Esta sucessão de sílabas fortes
e fracas, com intervalos regulares, ou não muito espaçados (para que a rei- 2. O número de unidades silábicas que se contêm num verso, desde

teração possa ser esperada e sentida pelo nosso ouvidol, é uma fonte de prazer o seu inicio até a última sílaba tónica, é indicado por compostos gregos
em que entra a forma do numeral seguida do elemento -sí/abo: MONossí-
a que chamamos RI'I'MO.
LABO, DISSÍLABO, TRISSÍLABO, TETRASSÍLABO, PENTASSÍLABO, HEXASSÍLABO,
2.A contiguidade de sílabas tónicàs prejudica o RITMO e, consequen· HEPTASsfLADO, OC'I'OSSÍLABO, ENEASSÍLABO, DECASSÍLABO, HENDECASSÍLABO
temente, desagrada ao ouvido. Por isso, a sílaba anterior à última tónic. e DODECASSÍLABO.
é necessariamente átona. Tão forte é esta exigência rítmica que, mesmo Vejamos agora como se contam estas unidades silábicas.
sendo tónica no vocábulo isolado, ela se atonifica pela posição. Por exem-
plo, nestes dissílabos de Casimiro de Abreu:
Tu ontem As ligações rltmicas.
Na dança,
Que cansa, A melodia do verso exige que as palavras venham ligadas umas às outras
Voavas ... mais estreitamente do que na prosa.

o pronome tu, monossílabo tónico, sofre uma def!exão de pronúncia, no Sinalefa, elisão e crase.
primeiro verso, por ser obrigatoriamente acentuado, como silaba final do
Comparemos estes versos de Olavo Bilac, todos com dez sUabas métricas:
verso, o Õ de ollfefll, que lhe está contlguo.
444

Chc I guci. Che gas


BREVE GRAMÁTICA nO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

te. Vi nhas fa ti ga (da)


:/ NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

3. a) A primeira vogal pode ser igual à seguinte e com ela fundir-se


numa só. É o que se dá, por exemplo, com a emi~são:
44)

ti ga doeu vi (nha.)
tris te e fa
E I ttis te, e Ti I nhas I ai I ma I [= Tinhas a alma]
nhos po vo a (da,)
aal ma de so
Ti I nhas Neste caso, verifica-se o que denominamos CRASE.
vo la da eu ti (nha ... )
so nhos po
Eaal \ ma \ de
6 8 9 I lO
7
I • 3 4 Ectlipse.·
Vetiiicamos que no primeiro haverá sempre, de qualquet forma que
o leiamos, dez sílabas até a última tónica. Nele a fronteira das sílabas é coin- Examinámos até aqui encontros vocálicos intervocabulares em que a
cidente, seja numa leitura pausada ou acelerada, seja na prosa ou no verso, primeira vogal é ORAL. Mas pode ocorrer que ela seja NASAL; e, neste caso,
seja, enfini, numa emissão isolada das pala~s, se abandonatmos a última a regra é manter-se a autonomia silábica, isto é, o HIATO das vogais em con-
tacto:
sllaba átona.
Já não sucede o mesmo com os três outroS vetSOS, que só atingem aquela Há, porém, cettos encontros de vogal nasal com vogal (oral ou nasal)
medida pela leitura numa só sllaba da vogal final de uma pala~ com a que na própria lingua corrente costumam ser resolvidos em DITONGO, ou
vogal inicial da palavra segninte. Assim: mesmo em CRASE. É o que se observa, por exemplo, em ligações como
a) no segundo verso, temos de juntar numa só emissão de 'voz o , co'a, c'a, c'o (= C01JJ a, COIl1 o), que a própria ortografia oficial admite que se
final de triste e a vogal da conjunção aditiva (duas .vezes), bem como o o escreva sem apóstrofo, com os elementos totalmente aglutinados (toa, ta,
co). A esta fusão vocálica, facilitada pela perda da ressonância nasal da pri-
de fatigado e o ditongo do pronome eu;
b) no tetceÍto vetSO, ligatuos o artigo a à vogal inicial de alma; meira vogal, dá-se o nome de ECTLIPSE.
c) no quarto, finalmente, fundimos numa só sllaba as vogais da con- Vejam-se os exemplos ocorrentes nestes versos de Casimiro de Abreu:
junção e, do artigo a, e a inicial do substantivo alllJa,. e, também, a vogal
- Jesus I Como eras bonita,
final do adjectivo povoada e o ditongo constituldo pelo pronome eu. Co'as tranças presas na fita,
Co'as flores no samburá!
Na leitura .destes vetSOS, sentimos que há três soluções para obtermos
a contracção numa sllaba de duas ou mais vogais em contaeto:
I.") A primeira vogal pode perdet a sua autonomia silábica e tornar-se Observação:
uma semivogal, que passa a formar ditongo com a vogal seguinte. É. o que
Como nos mostram os exemplos citados, para que um encontro vocá-
se obsetVa, por exemplo, na pronúncia: lico intervocabular possa ser pronunciado em uma 56 sl1aba, é necessário
fa I ti I ga I dwew I [= fatigado eu] que a sua primeira vogal seja átona, ou capaz de atonificar-se pela prócHse.
Sendo tónica, a solução normal é o hiato com a vogal seguinte, seja esta tónica
Dizemos que, neste caso, há SINALEFA. ou átona.

o hiato intervocabular.
a) .A primeira vogâl pode desaparecer na pronúncia diante de uma
2.

vogal de natureza diversa. Por exemplo, na pronúncia:


Quando num encontro concorrem duas vogais tónicas, elas não podem
fa. I ti I ga I dew I [= fatigada eu] fundir-se numa sílaba nem no verso, nem na prosa. Mesmo se houver um
enfraquecimento relativo da primeira vogal, como notámos no dissJlabo
de Casimiro de Abreu:
A este fenómeno chamamoS ELISÃO.
446
BREVE GRAMÁTICA DO POR'l'UGUÊS CONTEMPORÂNEO
:/ NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

ex1Stlr,porque, em certas condições, o verso permite a cIlaçao de QOVOS


447

Tu I 011 I (tem), DITONGOS, ou melhor, admite que se ditonguem vogais que, na pronúncia
normal, formam HIATO.
tal enfraquecimento não evitará, normalmente, a separação silábica" das Por exemplo, a palavra magoado é tetrassilabo da língua éorrente, já
vogais. que apresenta o encontro -oá-, pronunciado de regra com as-vogais em
Exchúndo-se, porém, este caso em que o HIATO é inevitável, e outros InATO. Tar;Ibém no verso costumam ser assim emitidas, como nos mostra
excepcionais, em que ele vale como recurso de estilo, pode-se afirmar que, este heptassilabo de Augusto Gil:
desde o século XVI, os poetas da lingua manifestaram uma decidida e defi-
nitiva opção por solucionarem com SINALEFA ou ELISÃO os encontros vocá-
licos mtervocabulares, a fim de conseguir paIa os seus versos uma estrutura
Tão I ma go a do, I tão I lin I(do)
I 2 3 4 6 7
mais contínua, mais fluente, mais plástica.
Não é raro, porém, o emprego desta palavra no verso como trissí-
A medida das palavras. labo, com a transformação do HIATO / o-a / (= / u-a f) no DITONGO [wa].
Compare-se ao que citámos anteriormente este heptassllabo de Augusto
Relativamente à contagem das silabas no interior das palavras, temos Gil:
de considerar, em primeiro plano, os factores de ordem gramatical.
Como nos ensina a gramática, também no verso os DITONGOS e os Mas o seu o lhar ma I goa (do)
TRITONGOS se contam em uma silaba e as vogais em HIATO, em silabas dife-
I 2 3 4 6 7
rentes. Assim, nestes hendecassílabos de Castro Alves:
Esta passagem de um hiato a ditongo, por exigência métrica, chama-
tar I de mor ri I ai dos ra mos, I das I las I (cas,)
A -se SINÊRESE.

li quen, Idas he tas, dos I ear I (dos,)


Das pe I dras, I do Diérese.
ras tei I tas como I veO I tre por I ter I (ra)
As tre I vas
Menos frequente do que a SINÊRESE é o fenómeno inverso, ou seja a
quais I ne I gros, I cru éis le o I par I (dos.) transformação de um DITONGO normal em HIATO. A esse alongamento silá-
Sa am
8 10 I 11
bico dá-se o nome de DIÉRESE.
I 2 I 3 4 I I I 6 I 7 9
Exemplifiquemos:
a palavra rasteiras conta-se em três sílabas e qllais, em uma. Esse número Na lingua viva de nossos dias a palavra saudade é um trissilabo (sou-do-de),
de sllabas elas o terão igualmente na prosa, ou, mesmo, se tomadas isola- e como tal se emprega comumente quer na versificação erudita, quer na
damente. O DITONGO [ej], que se contém na primeira, e o TRI"rONGO [waj], versificação popular. Mas, uma vez por outra, ainda aparece usada flÇ verso
que apresenta a segunda, são, pois, as pronúncias normais desses encon- com a antiga pronúncia tetrassilábica (sa-u-da-de). Assim, nesta quadrinha:
tros vocálicos em todas as formas da língua.
Por outro lado, as palavras morria e saíam, em que há. os HIATOS / i-a / A ausência tem uma filha,
Que se chama saudade:
e / a-í-a /, serão sempre emitidas em três sílabas, não importando o tipo Eu sustento mãe c filha,
de enunciado no qual apareçam. Bem contra minha vontade.
Crase, aférese, slncope e apócope.
Sinérese.
Além dos que estudámos, outros processos têm sido utilizados po~
Nas palavras que acabamos de examinar há perfeita coincidência da
nossos poetas para reduzir ou ampliar o número de sílabas de uma pala-
sHaba gramatical com a sílaba métrica. Mas esta concordância pode não
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO I/ NOÇÕBS DE VERSIFICAÇÃO 449
448
2. A CESURA é 11m descanso da voz no interior do verso. Ocorre prin-
vra, segm;do as necessidades métricas. Entre os processos de redução voca- cipalmente nos versos longos, que ficam por ela divididos em GRUPOS FÓNI-
bular, devem ser conhecidos: COS, como dissemos no Capitulo 7.
1.0) A CRASE, ou seja a fusão de duas vogais idênticas numa só, o
que ocorre, por exemplo, com os dois -aa- contiguos de Saara neste decas- Comparem-se estes exemplos de Olavo Bilac:

snabo de Castro Alves: Cheguei. /I Chegaste. /I Vinhas fatigada ...


ra a mor ta lha (da) E um dia assiml /I de um sol assiml /I E assim a esfera ...
Quan I do eu pas so no Saa
Despencando os rosais, /I sacudindo o arvoredo ...

I I 2 3 4 6 7 8 9 la
Quando o verso apresenta apenas uma CESURA, os dois GRUPOS FÓNI-
COS por ela formados recebem o nome de HEMISTfQuros (= metades do verso),
2.0) A AFÉRBSE, ou seja a supressão de sons no inicio da palavra. É o
embora nem sempre contenham o mesmo número de sílabas.
caso do emprego da forma 'sta"los por estamos neste decassnabo de Castro
Acentue-se, ainda, que, ao contrário da PAUSA FINAL do verso, a CESURA
Alves: que recaia entre duas vogais não impede que elas se ditonguem ou, até, se
no I mar ... I Do fir mal men I (to) fundam pela crase.
'Sta 1 mOS em pIe
8 9 Ia
z 4 6 7
I 3 CavaIgarnento C«enjambement»).

3.0) A SÍNCOPE, ou seja a supressão de sons no meio da palavra, o que


I. Dissemos que o verso finaliza sempre com uma pausa ou com uma
sucede na pronúncia esp'ranfas por esperanfas neste decassnabo de Casimiro
de flexão da voz que, ainda que breve, deve ser suficientemente percebida
de Abreu: como o sinal caracteristico do término de um período rítmico.
tas ... I Ei- las já tão Ia I (sas)
Es I p'rM I ças aI
Geralmente a pausa final do verso coincide com uma pausa existente,
8 la
z 4 6 7 9 ou possível, na estrutura sintáctica. É o que observamos nestes decasslIabos
I 3
do soneto Nelmczzo dei call1min ... , de Olavo Bilac:
4.0) A APÓCOPE, ou seja a supressão de sons no fim da palavra. Sirva Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada I
de exemplo o emprego de ",ármor pela forma 1IIármore neste decassilabo de E triste, e triste e fatigado eu vinha. I
Castro Alves: Tinhas a alma de sonhos povoada, I
E a alma de sonhos povoada eu tinha ... I
ta- I cor I ta o I már I mor de Car ra (ra)
Ar tis
6 7 8 9 la 2. Não raro, no entanto, os poetas servem-se de um recurso estiHs-
I z 3 4
tico, de alto efeito quando usado comedidamente, recurso este que consiste
em terminar o verso em discordância flagrante com a sintaxe, pela separação
A cesura e a pausa final. de palavras estreitamente unidas num grupo fóruco. As palavras desloca-
I. O período rítmico formado pelo verso termina sempre numa pAUSA, das para o verso seguinte adquirem, com isso, um realce extraordinário,
que o delimita. Esta PAUSA pode consistir numa interrupção mais ou menos como vemos neste passo do mesmo soneto de Bilac: ,
longa da cadeia falada, conforme assinale o final de verso, de estrofe, ou
do próprio poema, caso em que é absoluta. Pode ser ela brevlssima, ou, E parámos de súbito na estrada
mesmo, não passar de um simples abaixamento da voz nos pontos de sepa- Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
ração dos versos, mas não pode faltar. Omiti-la é retirar o sinal determina- Tive da luz que teu olhar continha.
dor da extensão e unidade dos periodos rltmicos em que se e~trutura o poema.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO NOÇÕES DE VERS~FICAÇÃO 451
45°

A esta bipartição do grupo fónico pela suspensão inesperada da voz língua portuguesa, mas os 'rRISSÍLABOS costumam ser mais usados em estro-
em seu interior e pelo relevo do segundo elemento, ansiosamente esperado fes compostas, geralmente combinados com HEPT ASSÍLABOS.

pelo ouvinte, dá-se o nome de CAVALGAMENTO ou, na designação francesa, Além do acento principal na 3." sHaba, podem os TRlssfLABOS apresen-
tar ou não um acento secundário na 1. 8 silaba:
ENJAMBBMENT.
TIPOS DE VERSO Sempre viva .. .
Que padece .. .
Os versos tradicionais. Tetrassilabos.
Podem apresentar três cadências, que documentamos com versos do
Embora não faltem exemplos de versos de treze e mais sHabas desde
poema A lua, de António Botro:
a poesia dos trovadores galego-portugueses, podemos considerar o dode-
cassHabo o verso mais longo normalmente empregado pelos poetas da lln- a) acentuação na 2." e na 4.' sllaba (mais comum):
p:ua antes da eclosão dos movimentos modernistas em Portugal e no Brasil.
Na noite negra
Monossilabos.
b) acentuação na 1." e na 4." snaba:
Os versos de uma sílaba são de uso :raro. Geralmente aparecem combi~
nados com outros maiores para obtenção de certos efeitos sonoros. Gente perdida ,.
De Cassiano Ricardo são estes MONOSSÍLABOS, agrupados em dísticos:
c) acentuação apenas na 4." snaba:
Rua
torta. Nos· corações
Lua Como verso auxiliar, o TBTRASSÍLABO é usado de preferência em com-
morta.
binação com o HBPTASSÍLABO e com o DBCASSÍLABO.
Tua
porta. Pentassilabos.
Desde a época trovadoresca, o PENTASSÍLABO, ou verso de REDONDILHA
Dissilabos. MENOR, tem sido usado nas quatro cadências possíveis no idioma, aqni docu-
Como os MONOSSÍLABOS, os versos de duas sllabas não são frequentes. mentadas com versos de João de Deus:
Também se empregam, de regra, em estrofes polimétricas para obtenção a) acentuação na 2." e na 5." snaba (mais comum):
de efeitos expressivos. Bo<Jna do vale
Com DISSÍLABOS compôs Casimiro de Abreu o seu harmonioso poema
A Valsa: b) acentuação na 1. 3 , na 3.' e na 5.' sUaba:
Quem dera Luz dos olhos meus!
Que sintas
As dores
De amores c) acentuação na 3." e na 5." sllaba:
Que louco '--'
Ao romper da autora
Senti!
Trissllabos. ti) acentuação na La e na 5.' sílaba:

Com versos de três sHabas se fizeram algUns poemas .nas literaturas de Pérola do mar

~
45 z
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGu:U;s CON'l'BMPORÂNEO ,I NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

a) ritmo alternante de sllaba forte e fraca, ou seja acentuação na


45;

I,D.,
HexassUabos. na 3'&' na 5. a e na 7.& sílaba:
o verso de seis sllabas teve certa voga na poesia trovadoresca. Depois Velha, grande, tosca e bela.
caiu em desuso, para ressurgir no século XVI em combinações com o DECAS-
SíLABO HERÓICO, razão por que também se denomina HERÓICO QUEBRADO. b) variante do tipo anterior, com falta de acentuação na r. a sllaba:
Readquitiu posteriormente a sua autonomia e, hoje, tem largo emprego
O luar no mar espraia
entre os nosSOS poetas.
Pode apresentar as seguintes cadências, que documentamos com versos
do poema Pergllnfas, de Carlos Drummond de Andrade: c) variante do primeiro tipo, sem acentuação na j. a sllaba:

a) acentuação na z.a, na 4. a e na 6.a silaba: Sinto os olhos a turvar

Ou desse mesmo enigma d) variante também do primeiro tipo, sem acentuação na r." e na j."
sílaba:
b) acentuação na z.a e na 6.a silaba:
Na amurada dum veleiro
Propicias a naufrágio
e) acentuação na 4.' e na 7.- sllaba:
c) acentuação na 4.a e na 6.- silaba:
De me inclinar aflito Que me diria, afinal,

ti) acentuação na r. a, na 4.a e na 6.- sllaba: j) variante do tipo precedente, com acentuação também na 2." sílaba:

Desse calado irreal Nas negras noites de inverno

e) acentuação na I.a, na 3. a e na 6.- sllaba: , g) variante do tipo e, com acentuação também na I.a slIaba:
Magras reses, caminhos Choupos transidos de mágoa

f) acentuação na 3,- e na 6.- sllaba: h) acentuação na .2..&, na 5.8. e na 7.3 sílaba:


Do primeiro retrato Da banda de lá do rio
A outra cadência posslvel dentro das peculiaridades fonéticas do idioma
Heptassílabos. - o HEPTASSÍLABO com .acentuação na 1.&, na 5. 3 c na 7. a sHaba - , por
sua raridade, não deve agradar ao ouvido dos poetas. Veja-se este exemplo,
o verso de sete slIabas ou de REDONDILHA MAIOR foi sempre o verso colhido num poema de Cecilia Meireles:
popular, por excelência, das literaturas de lingua portuguesa e espanhola.
Verso básico da poesia popular, desde os trovadores medievais aos moder- Sobre o comprimento do ar
nos cantadores do Nordeste brasileiro, o HEP'tAssfLABO nunca foi desprezado
pelos poetas cultos, que dele se serviram por vezes em poemas de alta inda- Octossilabos.
gação filosófica.
O HEPTASSÍLABO é usado em oito movimentos "rítmicos, que passamos
Eis os seus movimentos rítmicos, documentados na prática de Alphon-
a documentar rnm exemplos colhidos na obra de José Régio:
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO '/ NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO
414 415

Eneassilabos.
sus de Guimaraens:
a) ritmo altemante de sllaba fraca e forte, isto é, acentuação na z.a, Há dois tipos de versos de nove sílabas, ambos COm raIzes antigas na
na 4'&' na 6.3. e na 8. a sílaba: literatura portuguesa:

Baixava lento. A noite vinha. O ENEASSÍLABO ANAPÉSTICO, que apresenta acentuação na 3.n.,
L°)
na 6." e na 9." sílaba e, por sua cadência uniforme e pausada, se tem pres-
b) variante do tipo anterior, sem acentuação na G." sllaba: tado a composições de hinos patrióticos e d~ poemas cuja expressividade
ressalta da absoluta regularidade rítmica. Comparem-se estes versos do
Espectros cheios de esperança Hino à Bandeira (letra de Olavo Bilac):
Contemplando o teu vulto sagrado,
c) variante do mesmo tipo, sem acentuação na 2.a. sílaba, mas podendo Compreendemos o nosso deve!';
te! ou não a I. a. sflaba acentuada: E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há-de ser.
No campanário, ao sol incerto
Basta, talvez, a cova enorme z.O) O ENEASSÍLABO com acento interno fundamental na 4." sílaba,
que, por exigência idiomática, recebe forçosamente um outro na 6." ou na
d) variante também do primeiro tipo, com acentuação interna apenas 7.r~ sílaba. Seus movimentos rítmicos, são, pois, os seguintes, documenta-
na 4." sllaba, ou na I." e na 4·": dos com exemplos colhidos no Só de António Nobre:

O campanário do deserto a) acentuação na 4.-, na 6." e na 9.' slIaba, podendo ter a L" ou a Z."
Cheio de lúgubre mistério sílaba também forte:

e) variante ainda do primeiro tipo, sem acentuação na 4·" sílaba: o que no Mundo cá o esperava
Adeus! ó Lua, Lua dos Meses,
Paramos de repente à porta Lua dos Mares, ora por nós! ...

I) acentuação na La, na 3.8, na 5.& e na 8. a sílaba: b) acentuação na 4.", na 7." e na 9.", com a possibilidade de ser a L"
ou a z.a também acentuada:
Era tarde. O 501 no poente Adeus! Que estranha Visão é aquela
Que vem andando por sobre o mar?
g) variante do tipo anterior, sem acentuação na L" sllaba: Todos exclamam de mãos para ela.
Com fadigas~ suores e pranto
h) variante do mesmo tipo, sem acentuação na ;.' sllaba: Decassilabos.

Quando o Jubileu se aproxima É longa e complexa a história do DECAssíLABO nas literaturas de lingua
i) acentuação na 2. 30 , na 5.3. e na 8.& silaba: portuguesa. Em sua estrutura mais antiga, possula acento interno funda-
mentaI na 4·" slIaba, assemelhando-se, portanto, ao verso primitivo da épica
Em ondas o basto cabelo francesa.
j) acentuação.na ;.-, na 6.- e na 8.-, podendo ter a I." sílaba também Cedo, porém, apareceram outros tipos de DECAssíLABO. Desenvolveu-se
forte: UIU.'lforma, na qual a acent.uação interna, que por vezes recaia também na
6.6 sílaba, veio a basear-se essencialmente nela. E, posteriormente, com Pa
Entrevados de muitos anos
Junto deste caixão informe dissolução do esquema inicial, surgiram ainda novas formas: os DECASSÍ-
41 6
BREVE GRAMATICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

a
/ NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO
417
LADOS com acentuação interna fundamental na 5·& c, mais raramente, na 3· cadência frequente do DECASsíLABO francês:
sllaba. Ao meu coração um peso de ferro
Eram essas as formas conhecidas do verso de dez sllabas, quando, em
Eu hei de prender na volta do mar.
principios do século XVI, por influência italiana, se fixaram os dois tipos,
que iriam predominar até os dias de hoje nas literaturas de língua portuguesa. (Camilo Pessanha)
São eles: Hendecassilabos.
a) o DECASsíLABO chamado HERÓI CO, acentuado fundamentalmente
O HENDECASsfLABO foi muito usado pelos nossos poetas românticos
na 6.a e na 10.' sllaba, mas com possibilidades de ter acentuações secundá-
numa cadência sempre uniforme, ou seja com acentuação na 2.8., na 5. a,
rias na 8.' e numa das quatro primeiras sllabas: na 8.& e na II.a sHaba:
As minhas mãos magritas, amadas,
Tão brancas como a água da nascente, Nas horas caladas das noites d'estio
Lembram pálidas rosas entornadas Sentado sozinho c'oa face na mão,
Dum regaço de Infanta do Oriente. Eu choro e soluço por quem me chamava
(Florbela Espanca) - "Oh fiJho querido do meu coração 1» _
(Casimira de Abreu)
b) o DECASSÍLABO chamado SÁFICO, que apresenta acentuação na 4·8.,
na 8.a e na 10.& sílaba, podendo, naturalmente, ter a 1.& ou a z.a também fortes: Este tipo de HENDECASsfLABO nada mais é do que a simples restauração
da forma por que se apresentava com mais frequência o VERSO DE ARTE-
Quando eu te fujo e me desvio cauto -MAIOR, o verso longo, de quatro acentos, que servia aos poetas peninsula-
Da luz de fogo que te cerca, oh t bela, res em suas composições graves e solenes até princípios do século XVI,
Contigo dizes, suspirando amores quando começou a ser eclipsado pelo decassHabo de origem italiana.
«_ Meu Deus! que gelo, que frieza aquela h)
(Casimiro de Abreu) No nosso século tem havido tentativas isoladas de busca de novos ritmos
Mas os antigos ritmos não se perderam. Mesmo os poetas do período para o hendecass/labo, tentativas de pouca ou nenhuma repercussão no meio
literário.
clássico não os olvidaram totalmente. Foram, -porém, os simbolistas e os
modernistas que souberam reabilitá-los, mostrando os apreciáveis movi~
mentos melódicos que se podem obter num poema com o emprego do Dodecassilabos.
DECASSÍLABO em suas variadas cadências.
Destas formas renovadas merecem referência especial:
o DODECASSÍLABO é mais conhecido por VERSO ALEXANDRINO, deno-
a) o DECASsfLABO acentuado na 4. a, na 7.a e na 10. a sílaba, comumente minação que tem gerado numerosos equlvocos, principalmente pelo facto
chamado VERSO DE GAITA GALEGA, mas de longa tradição também na poe· de existirem, ainda hoje, dois tipos de ALEXANDRINO: o ALEXAN-
DRINO FRANCÊS (de doze sHabas) e o ALEXANDRIN() ESPANHOL (de treze
sia italiana e espanhola: sflabas), este último muito pouco cultivado pelos poetas de nossa llngua.
Já vai florir o pomar das macieiras ... O ALEXANDRINO FRANdls apresenta dois tipos ritmicamente bem dis-
(Camilo Pessanha) tintos: o CLÁSSICO e o ROMANTIco.
O ALEXANDRINO chamado CLÁSSICO tem a CESURA no meio do verso,
b) o DECAssíLABO com acentuação na 3,-, na 7·- e na 10." sílaba: que lica assim dividido em dois HEMISTiQUIOS de partes iguais (6 + 6). Dal
resulta ser acentuado na 6.' e na 12.' sllaba, como se vê destes exemplos de
Primavera que dU1'oU wn momento .. - Augusto de LinIa:
(CamiJo Pessanha)
Nessas noites de luz II mais belas do que a aurora,
c) o DECAssíLABO com acentuação na 5.', na 7." (ou na 8.a) e na 10." As errantes visões Ii das almns peregrinas
sílaba, forma que costumava assumir o antigo VERSO ~E ARTE-MAJOR e Vão voando a call1ar 11 peJa amplidão afora ...
BREVE GIS.AMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
Ii NOÇÕES DE VERS1FlCAÇÃO
459
41 8
Tais principios se consubstanciam, por exemplo, na Ode IIJarltifJ'oJ de
Os românticos franceses não desdenharam do clássico ritmo binário Fernando Pessoa, como nos mostra este passo:
(6 + 6), nem do seu submúltiplo, o TETRÂMETRO (3 3 3 3), mas + + +
deram ênfase a uma forma pouco usada pelos clássicos, o ALEXANDRINO Ah, seja como for, seja por onde for, partir I
+ +
de ritmo ternário (4 4 4), em que a CESURA deixa de coincidir com Largar por ai fora, pelas ondas, pelo perigo, peIo mar,
Ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstracta,
o HEMISTÍQUIO. A este tipo de do decassílabo se dá o nome de TRÍMETRO,
Indefinidamente, pelas noites nllsteriosas e fundas,
ou de ALEXANDRINO ROMÂNTICO. Leia-se, por exemplo, este verSO de Camilo Levado, como a poeira, pios· ventos, pios vendavais I
Ir, ir, ir, ir de vez!
Pessanha:
Adormecei. Não suspireis. Não (espireis. Mas, como .hem salienta Henri Morier, não podemos dizer que exista
Saliente-se por fim que os poetas da nossa língua têm obedecido com a priori uma técnica uniforme do VERSO LIVRE 1. Cada poeta procura forjar
certo rigor a duas normas na juntura dos hemistíquios dos ALEXANDRINOS: o seu próprio instrumento, não sendo rato o mesmo autor ensaiar várias
técnicas, como documenta a obra dos principais poetas modernistas por-
a) só empregar palavra grave no final do primeiro hemistíquio se tugueses e brasileiros.
o segundo hemistíquio começar por vogal, a fim de garantir a integridade Advirta-se, por fim, que um verso só pode ser considerado LIVRE den-
do verso pela sinérese das duas vogais em contacta, como nos mostra este tro de certos tipos de estrutura poemática, estrutura que representa sempre
verso de Amadeu Amaral: ~ma organização interactiva. «A linha só é unidade poética se há poema.
Ora, crespa, referve; /I ora é um cristal sem ruga! É o poema que faz o verso livre, e não o verso livre que faz o poema. Exac-
tarnente como nos versos métricos»2.
--------
b) nunca usar palavra esdrúxula nO final do primeiro hemistíquio.
A RIMA

o verso livre. l. Lendo esta quadrinha popular:


o VERSO LIVRE, que foi posto em prática pelo grande poeta norte-
-americano Walt Whitman na obra Folhas de Erva (Leaves of Grass, 18))), Tant.o limão, tanta lima,
Tanta silva, tanta amora,
veio a dominar na poética dos simbolistas de língua francesa: Gustave Kahn,
Tanta menina bonita ...
Jules Laforgue, Emile Verhaeren, Prancis' Vielé-Griffin, Henri de Régnier, Meu pai sem ter uma nora!
Jean Moréas e tantOS outros.
Gustave Kahn, poeta e principal teorizador do VERSO LIVRE, procurou verificamos que:
estabelecer-lhe os princípios, que podem ser assim resumidos:
a) o e o 3. 0 verso apresentam uma identidade de vogais a partir
LO
a) o verso deve possuir sua existência própria e interior consubstan- da última vogal tónica: i-a (/ima-bol/ita);
ciada numa coerente unidade semântica e rítmica; b) o 2.° e o 4·° verso apresentam uma correspondência de sons finais
b) a unidade do verso será entãO definida como o fragmento mais ainda mais perfeita, pois, a partir da última vogal tónica, se igualam todos
curto pos~ívcl em que haja uma pausa da voz e uma conclusão de sentido;
os fonemas (vogais e consoantes): -ora (amora _ /lora).

c) a estrofe não terá mais um desenho preestabelecido, mas será con-


1 DiçJionnoire de poéliqllt tI de rlJllor;qlft, Z.IL 00. Paris, P.U.F., 197:1, p. 1.119: e também
dicionada pelo pensamento ou pelo sentimento; Ú ry/htJ1c du tJers libre f.Jll/bolit/e, 3 vols. Gcnc.vc, Prcsscs Acndémiqucs, 1943-1944. .
2 Henri Meschonnic. Critique ml ry/h1lle,' onlhrojJDlogie hisloriqt(e dll IOllgdge. Paris, Verdier,
d) a inversão e o cavalgamento são recursos que devem ser banidos 1981, p. 607.
do vergo.
460
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGuEs CONTEMPORÂNEO
'I NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO
46.

tanto entre slII e azul, como entre as formas Irollxc} dote efosse, que apresentam
Esta identidade ou semelhança de sons em lugares determinados
2. a mesma terminação grafada de três maneiras diferentes.
dos versos é o que se chama RIMA. Se a correspondência de sons é com-
pleta, a RIMA diz-se SOANTE, CONSOANTE ou, simplesmente, CONSONÂNCIA. 2. Mas nem sempre há identidade absoluta entre as sons dispostos
Se há conformidade apenas da vogal tócica, ou das vogais a partir da tócica, em rima, quer soante, quer toante. Algumas discordâncias têm sido mesmo
a RIMA denomina-se TO ANTE, ASSONANTE ou, simplesmente, ASSONÂNCIA. largamente toleradas através dos tempos. Entre os casos de RIMA IMPER-
FEITA consagrados pelo uso, cabe mencionar:
A rima e o acento.
a) o das vogais acentuadas e e o abertas com fechadas, prática iniciada
Quanto à posição do acento tónico, as RIMAS, como as palavras, podem por Gil Vicente, no século XVI, e adoptada desde então pelos poetas da lingua:
ser: Quem disse à estrela o caminho
a) AGUDAS:
Que ela há de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Vinhos dum vinhedo, frutos dum pomar,
Que no céu os anjos regam com luar ... (Almeida Garrett)
(Guerra Junqueiro)
b) o de rima de vogal oral com vogal nasal:
b) GRAVES:
De que ele, o sol, inunda
Calçou as sandálias, tocou-se de fiares, O mar, quando se põe,
Vestiu-se de Nossa Senhora das Dores. Imagem moribunda
(António Nobre) De um coração que foi ...
Ooão de Deus)
c) ESDRÚXULAS:
No ar lento fumam gomas aromáticas, Rima pobre e rima rica.
Brilham as navetas, brilham as dalmática••
(Eugênio de Castro) I. Consideram-se POBRES as rimas soantes feitas com terminações
muito correntes no idioma, principalmente as de palavras da mesma classe
As rimas agudas são também chamadas RIMAS MASCULINAS; e as gra- gramatical. É o caso, por exemplo, dos infinitivos em -ar, dos particIpios
em -ado, dos gerúndios em -alldo, dos diminutivos em -illho, aos advérbios
ves, RIMAS FEMININAS.
em -mentc} dos adjectivos em -al/tc} dos substantivos em -fIo e -ezaJ das pala-
vras ,primitivas com os seus derivados por prefixação: amor-desamor} ver-
Rima perfeita e rima imperfeita. -rever} etc.

•• A rima é uma coincidência de sons, não de letras. Por exemplo, 2. São RICAS as rimas que se fazem com palavras de classe gramati-
há RIMA SOANTE PERl'Jll'tA nestes verSOs de Alphonsus de Guimaraens:
cal diversa ou de finais pouco frequentes, como nestes versos de Alphonsus
de Guimaraens:
Céu puro que o Sol trouxe O teu olhar, Senhora, é a estrela da alva
Claro de norte a sul, Que entre alfombras de nuvens irradia:
O teu olhar é doce, Salmo de amor, canto de alívio, c salva
Negro assim, qual se fosse De palmas a saudar a luz do dia ...
Inteiramente azul.

-- ---------
462
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO

Alguns mctricistas preferem reservar a qualificação RICAS para as RIMAS


/ NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

b) RIMAS ALTERNAD~S, quando, de um lado, rimam os versos ímpares


46)

(o 1.0 com o 3.°, etc.); de outro, os versos pares (o .2..0 com o 4.0, etc.):
com consoante de apoio, do tipo dia-irradia} sombra-assombra.
Tu és um beijo mat~o!
3. Denominam-se RARAS ou PRECIOSAS as rimas excepcionais, difí- Tu és um riso infantil,
ceis de encontrar. Foram procuradas sobretudo pelos poetas parnasianos Sol entre as nuvens de inverno,
e simbolistas. Veja-se, por exemplo, esta rima. de cálix com digitális, empre- Rosa entre as flores de abril!
gada nas Horas, de Eugénio de Castro: (] Dão de Deus)
Oh os seus olhost suas unhas em amêndoa! e em cálix
O seu colo I e os seus dedos de digitális!- c) RIMAS OPOSTAS ou INTERPOLADAS, quando o 1.0 verso rima com
o 4.0, e o .2..0 com o 3.°;
4. por vezes, o poeta procura a raridade não só no campo fonético,
mas também no morfológico. Do mesmo Eugénio de Castro são estes ver-
Saudade I Olhar de minha mãe rezando
sos, em que se dispõem em rima um substantivo com uma forma verbo- E· o pranto lento deslizando em fio ...
_pronominal. Saudade I Amor da minha terra... O rio
Cantigas de águas claras soluçando.
Eis que diz uma ~ - Meus chapins descalça-mos,
Unge meus pés brancos com cheirosos bálsamos. (Da Costa e Silva)

Combinações de rimas. d) RIMAS ENCADEADAS, quando o 1:° verso rima com o 3.0; o .2..0
com o 4.° é com o 6.°; o 5. 0 com o 7.0 e o 9.0 e assim por diante, como nes-
I. Os versos de um poema podem ser MONORRIMOS, isto é, podem tes versos do poema Uma criatura, de Machado de Assis:
terminar todos pela mesma consonância ou pela mesma assonância. É ()
Sei de uma criatura antiga e fornúdável,
que sucede comumente com os versos dos romances tradicionais, em ll\1C
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
uma só assonância liga um número indefinido deles. Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntap:lente os vales e as montanhas


2. Mas, em geral, as combinações rímicas processam-se dentro de uni-
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
dades menores do poema - as ESTROFES - , cujos principais tipos estuda- Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
remos adiante. Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
Nas estrofes, as disposições mais frequentes de RIMAS são as seguintes:
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoismo.
a} RIMAS EMPARELHADAS, quando se sucedem duas a duas:

Ele deixava atrás tanta recordaçãO! Indicação esquemática das rimas.


E o pesar, a saudade até no próprio chão,
Debaixo dos seus pés, parece que gemia, Convencionalmente, indicam-se os versos com as letras do alfabeto.
Levantava-se o sol, vinha rompendo o dia, Aos versos presos pela mesma rima correspondem letras iguais. Assim o
E o bosque, a selva, o campo, a pradaria em flor
esquema das RIMAS EMPARELHADAS é aa-bb-cc, etc.; o das RIMAS ALTE!t-
Vestiam-se de luz, como um peito de amor.
NADAS é ababab, etc.; o das RIMAS OPOSTAS, abba; o das RIMAS ENCADEA-
(Alberto de Oliveira) DAS, aba-bcb-cdc, etc.
BREVE GRAMÁTICA DO poaroGuãs CONTEMPORÂNEO
:/ NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO
4Gj
464 A quadra.
Versos sem rima.
Elemento importantíssimo na poesia dos povos românticos, a rima É a estrofe de quatro versos, os quais, na. poesia culta, se apresentam
serve principalmente a dois fins. É uma sonoridade, uma musicalidade que, geralmente em rima ALTERNADA (abab) ou OPOSTA (abba), como vimos ante-
introduzida no poema, satisfaz o ouvido. E é, por outro lado, uma forma riormente. Na literatura popular, onde vale por um verdadeiro poema de
de marcar enfaticamente o término do período rítmico formado pelo verso. forma fixa, a QUADRA é, por via de regra, constituída de heptass1\abos com
Mas não constitui, como se tem dito, um elemento intrinseco, essencial uma só rima, do 2. 0 com o 4.0 ver~. Exemplo:
do verso, tanto assim que era desusada na métrica latina de caráctet culto e O pouco que Deus nos deu
não faltam às literatutas modernas numerosos e admiráveis poemas com- Cabe numa mão fechada;
O pouco com Deus é muito,
postos de versos BRANCOS, o que vale dizer - sem rima.
O muito sem. Deus é nada.

ESTROFAÇAO A quinúlha.
ESTROFE (do grego strophé «volta», «conversão») 'é um agrupamento É a estrofe de cinco versos. Em suas formas comuns, apresenta a com-
rítmico formado de dois ou mais versos que, em geral, se combinam pela binação de duas rimas dispostas nas séries abbab, abtUlb e ababa. Da última
rima. Quanto maior o número de versos, tanto maior a possibilidade de veja-se este exemplo de Fernando Pessoa:
variar a distribuição das rimas. O tempo que eu hei sonhado
Quanto tempo foi de vida!
Eis os principais tipos de ESTROFE: Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!
o disúco.
(Fer.nando Pessoa)
É a menor estrofe, constituída de dois versos que rimam entre si, pelo
A sextilha.
esquema: aa-bb-cc, etc.:
Filho meu, de nome escrito É a estrofe de seis versos. Nela, a disposição das rimas pode variar
da minh'aJma no Infinito. muito. Gregório de Matos, por exemplo, usava o esquema aabbcc. Nas Sexti-
lhas de Frei Antão, Gonçalves Dias rimou apenas os versos pares (abcbdb).
Escrito a estrelas e sangue
no farol da lua langue ... E assim fizeram outros poetas rom'fulticos, os quais preferiam, no entanto,
o esquema aabccb.
(Cruz e Sousa)
Poetas contemporâneos continuam a empregar a SEX'I'ILHA nas suas
o terceto. múltiplas combinações rímicas, algumas muito harmoniosas, como o tipo
É a estrofe de três versos, hoje mais usada na composição do SONETO, ababab:
da qual trataremos adiante.
Os poemas estruturados em TERCETOS seguiram largo tempo o modelo Por água brava ou serena
Deixamos nosso cantar,
célebre da Divina Comédia, de Dante - a TERZA RIMA - , sequência de
Vendo a voz como é pequena
"BRCETOS decassilábicos em rima ENCADEADA (esquema: aba-bcb-cdc ...). Sobre o comprimento do ar.
O segundo verso do último TERCETO devia rimar com um verso [mal, remate Se alguém ouvir temos pena:
do poema ou do canto (esquema: xZJ<-ZJ· Só c.mtamos para o mar ...
Posteriormente, compuseram-se 'l'ERCBTOS com outras combinações (Cecilia Meireles)
dmicas (aab-ccb, abc-abc, etc.), ou mesmo sem rima.
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
/ NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO 467
466 Us poetas românticos preferiam, não raro, variantes desses tipos com
falta de rima no 1.0 e no 3. 0 verso, ou no 1.0 e no 5.°, ou em todos os ver-
A estrofe de sete versos.
sos impares.
Frequente na poesia trovadoresca de carácter culto, a estrofe de sete Não faltam tambçm oitavas líricas em que os versos. se distribuem por
versos teve menor fortuna a partir do Renascimento. duas rimas, como nesta de Gomes Leal, que obedece ao esquema abaaabab:
Aparece em composições Ligeiras de poetas do período clássico, geral-
mente no esquema abbaacc, como nesta volta de .urna cantiga de Cam()cs: Pegou no copo, com graça,
E brindou, em língua estranha ...
E a rainha, a vista baça,
Leva na cabeça o pote, Como a um punhal que a trespassa,
o testo nas nlãos de prata, Encheu de prantos a taça,
cinta de fin.'l. escarlat3, E o seu lenço de Bretanha ...
sainho de chamalote : C4orou baixo, ao ouvir, com graça,
traz a vasquinha de cott., Esse brinde, em língua estranha!
mais branca que neve pura;
vai fermosa, c não segura.

Poetas posteriores usaram outras combinaçóes rímicas, entre aS quais podem A estrofe de nove versos.
ser citadas .as seguintes: aapcbbc (Alvares de Azevedo); ababa/;a, aabcddc,
abbcddc (Casimiro de Abreu); abac/lac (Vicente de Carvalho); aabaaea, abbache Embora tenha raizes antigas na literatura portuguesa, a estrofe de nove
(Fernando Pessoa); abcdefd, ababme, abcdbec, abcabbc (Cecília Meireles). versos foi sempre pouco usada. Dela se serviu, por exemplo, Machado de
Assis, no poema Visio (esquema aabcdbcdb).
A oitava. ,lais recentemente, empi:egou-a Fernando Pessoa em O JJlostrengo (esquema
Da estrofe de oito versos há um tipo tradicionalmente fixo, a OIT AV A tlobtlocdcd), cuja primeira estrofe é a seguinte:
HERÓICA, e outro métrica e rimicarncnte variável) a OITAVA LÍRICA.
O mostrengo que está no fim do mar
A OITAVA HERÓICA é formada de oito decassílabos, os seis primeiros Na noite de breu ergueu-se a voar;
com rima alternada e os dois ,Últimos com rima emparelhada (esquema: À roda da nau voou três vezes~
abababcc). Foi a estrofe empregada por Cam()es em Os LI/síadas: Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
De Formião, filósofo elegante, Nas minhas cavernas que não desvcndo,
Vereis comO Anibal escarnecia, Meus tectos negros do fim do mundo?»
Quando das artes bélicas diante E o homem do leme disse, tremcndo,
Dele com larga voz tratava e lia. «El-Rei D. João Segundo!»
A disciplina militar prestante
Não se aprende, senhor, na fantasia
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo) tratando e pelejando. A décima.
(Lus., X, 153')
Em geral, a DÉCIMA é a simples justaposição de uma QUADRA e uma
A OIT AV A LÍR.ICA admite grande variedade de combinações rimicas. SEXTILHA, ou de duas QUlN·rILHAS. No pedodo clássico, a DÉCIMA em heptas-
Por vezes é uma simples justaposiçãO de duas quadras. Assim nos esque- sllabos era usada para poesias ligeiras: cantigas, glosas, vilancctcs e espar-
mas abalJCdcd e abbacddc. Para lhe dar estrutura mais orgânica, procuram os ,as. Sá de Miranda empregou-a nos esquemas abbacddccd e abaabcddcd; Camões,
poetas ligar pela rima um verso da primeira metade com um verso da segunda, na forma abaabcdccd. E Gregório de Matos, que dela se serviu largamente
geralmente o 4.0 com o 8.0 Este, por exemplo, o caso dos esquemas abbcaddc, nas sátiras, preferia o tipo abbaaccddc, de que nos dá mostra a seguinte, ende-
ababcc/J e aaabcccb.
/ NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO
BREVE GRAMÁ'I'ICA DO PORWGUÊS CONTEMPORÂNEO 469
468
. O soneto.
reçacla «a um livreiro que havia comido um canteiro de alfaces com vinagre»:

Levou um livreiro a dente Há duas variedades do SONETO: o SONETO ITALIANO eo SONETO INGLfts.
De alface todo um canteiro,
E comeu, sendo livreiro, l. Compõe-se o SONETO ITALIANO de catorze versos, geralmente
Descncadcrnadamente. decassílabos ou alexandrinos, agrupados em duas quadras e dois tercetos.
Porém, eu digo que mente
A quem disso o quer tachar;. As rimas das quadras são as mesmas. Um par de rimas serve a ambas,
Antes é para notar segundo um dos dois esquemas: abba-abba ou abab-abab.
Que trabalhou como um mouro,
Pois meter folhas no couro
Também é encadernar. 2. Nos tercetos podem combinar-se duas ou, mais frequentemente,

A esse "tipo de décima de setissílabos, agrupados no esquema nmlco três rimas.


abbaaccddc., clá-se o nome de ESPINELA, por ser atribuída a sua invenção ao Quando há apenas duas rimas, dispõem-se elas normalmente de forma
alternada: ede-ded. Se as rimas são três, distribuem-se em geral nos esquemas:
poeta espanhol Vicente Espinel.
A partir do romantismo, novos tipos de DÉCIMA têm aparecido, em
1.0) eed-eed, empregado preferentemente por Plorbela Espanca, a exem-
geral com intercalaçõo> de versos brancos. plo deste" tercetos de Langllidez:

Estrofes simples e compostas. Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,


Que pousam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar ...
Chamam-se SIMPLES as estrofes formadas de versos de uma só medida,
e COMPOSTASas que combinam versos maiores com menores. E a minha boca tem uns beijos mudos ...
As combinações mais comuns são: a) a do decassílabo com o hexas- E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar ...
silabo; b) a do hendecassilabo com o pentassilabo; e) a do alexandrino com
os versos de oito, de seis ou de quatro silabas; á) a do heptassilabo com
2. 0) ede-ede, ql!e se documenta nos tercetos de Lar Palemo, de Belmiro
os versos de três ou quatro sílabas.
Braga:

Estrofe livre. Serras virentes, que não mais transponho,


Na retina fiel ainda eu vos tenho,
Denomina-se LIVRE ou POLIMÉTRICA a estrofe que apresenta versos de E revejo, através de um brando sonho,
diferentes medidas e agrupados sem obediência a qualquer regra. Em ver-
dade, a ESTROFE LIVRE é a negação da estrofe, no sentido tradicional de". A casa onde nasci, as mansas reses,
A várzea, o laranjal, a horta, o engenho
palavra. E a cruz onde rezei por tantas vezes ...
POEMASDEFORMAF~
3. 0 ) ede-ede, que aparece nestes tercetos de Z/I/lIJira, de Raimundo
Há poemas que têm uma forma fixa, isto é, submetida a regras deter- Correia:
minadas quanto à combinação dos versos, das rimas ou das estrofes. Assim
o SONETO, o RONDÓ, o RONDEL, a BALADA, o CANTO REAL, o VILANCETE,
Não sei porque chorando toda a gente,
Quando Zulmira se casou, estava:
a VILANELA, a SEXTINA, o pANTUM, o BAICAl e a QUADRA popular. Dentre
Belo era o noivo ... que razões havia?
eles, merece um comentário particular o SONE1'O por sua longa vitalidade
em várias literaturas, inclusive na portuguesa e na brasileira.
47°
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CON'I'BMPORÂNEO
i/
A mãe e a irmã chorava~ tristemente;
Só o pai de Zulrrúra não chorava ...
E era o pai, afinal, quem mais sofria!

ITALIANO, OU seja
Estas as principais disposições rumcas do SONETO
da forma tradicional deste breve e afortunado poema.
Elenco e desenvolvimento
3. O SONETO INGLÊS, modernamente introduzido nas literaturas de
das abreviaturas usadas
língua portuguesa, também consta de catorze versos, mas distribuidos em
três quadras e um distico final, que se escrevem sem espacejamento. Obe-
dece a um dos dois esquemas: a) abab bcbc cdcd ee,. b) abab cdcd cfcf gg. Na Abgar Renault, LSL = RENAULT, Abgar. Agustina Bessa LuIs, AM = LUÍs,
literatura inglesa, o primeiro tipo é conhecido por SONETO SPENSERIANO A lápide sob a Itla. Belo Horizonte, Agustina Bessa. A "/IIrolha; romance.
(Spenserian sonnet), por ter sido cultivado inicialmente pelo poeta Edmund Universidade Federal de Minas Gerais, Lisboa, Guimarães Editores, 1957.
Spenser (I5jÚ- I 599); o segundo denomina-se SONETO SHAKESPEARIANO '9 68 . Agustina Bessa Luis, M = --o O fllaf/-
Adelino Magalhães, oe = MAGALHÃES, to,' romance. Amadora, Bertrand, s.d.
(Shakespeareal1 SOllnet), ou, simplesmente, SONETO INGLÊS (English SOI1",t)
Adelino. Obra complela. Rio de Janeiro, Agustina Bessa Luis, OM = --o O
por se haver tornado a forma mais usual do poema desde que dela se serviu Aguilar, '96;. fIIosteiro; romance. .z.a ed. Lisboa,
o genial dramaturgo nos '54 espécimes do género que-nos legou. AdelmarTavares, PC = TAVARES,Adel- Guimarães & Cia, 1980.
De Manuel Bandeira é este soneto shakespeariano: mar. P08Jias completas. Nova ed. Rio Agustina Bessa Luis, QR = --o As
de Janeiro, São José, 1958. relofões hnmolJos: Os quatro riol,' ro-
SONB'l'O INGLÊS N.O 2 Adonias Filho, LP = AGUIAR FILHO, mance. Lisboa, Guimarães Editores,
Adonias. LégHas da promissão,. nove- s.d.
Aceitar o castigo imerecido, las. Rio de Janeiro, Civil.ização Bra- Agustina Bessa Luis, S = --o A sibilo;
Não por fraqueza, mas por altivez, sileira, 1968. romance. 5.3. ed. Lisboa, Guimarães
No tormento mais fundo o teu gemido Adonias Filho, LBB = --o Ltlanda, & Cia., s.d.
Trocar num grito de ódio a quem o fez. B~iraJ Bahia. Rio de J~lneiro, Civili- Alberto Deodato, pono = DBODATO,
As delicias da carne e pensamento zação Brasileira, 1971. Alberto. Poll/icos e ol/tros bichos do-
Com que o instinto da espécie nos engana Adonias Filho, F = --o O forte,. ro- mésticos; crônicas. 2.0. ed. Belo Hori-
Sobpo! ao generoso sentimento mance. Rio de Janeiro, Civilização zonte, Itatiaia, 1963,
De uma afeição mais simplesmente humana. Brasileira, '96j. Alberto de Oliveira, P = OUVE! RA, Al-
Não tremer de esperança nem de espanto. Monso Arinos, OC = ARINOS, Monso. berto de. Poesiai; 1,0. e 2.11. séries, edi-
Nada pedir nem desejar, senão Obra ,oll/pleta. Rio de Janeiro, MEC{ ção melhorada. Rio de Janeiro, Gar-
A coragem de ser um novO santo INL, '969, nier, 191Z; 3.a série. Rio de Janeiro,
Sem fé num mundo além do mundo. E então Afonso Arinos de Melo Franco, AR = Francisco Alves, 1913,4.3. série. 2.o.ed.
Morrer sem uma lágrima, que a vida FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1928.
Não vale a pena e.a dor de ser vivida. Afllor a ROlllo. Rio de Janeiro, Nova Alberto de Oliveira, pó,l. = --o Pós-
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BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO DESENVOLVIMENTO DAS ABREVIATURAS USADAS
47 2 473

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com as edições da vida do Aucto!, Bertrand, s. d.
dirigida por David Lopes. Lisboa, Lisboa, Europa-América, 1975· --o Verb9 ser e verbo (111/ar. Lisboa, Aquilino Ribeiro,.BS = _-o Estrada
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DESENVOLVIMENTO DAS ABREVIATURAS USADAS
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTBMPOI.tÂNEO 475
474
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lecidos e comentadOS por --o Rio
DESENVOLVIMENTO DAS ABREVIATURAS USADAS
BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO 479
47 8
Gilberto Amado, DP = AMADO, Gil- Guilherme de Almeida, PV = --o Jacinto do Prado Coelho, PI-TL = COE-
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BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO DESENVOLVIMENTO DAS AB REVIATURAS USADAS 481
4 80
Jorge de Sena, ,SF = --o Sinais de José Lins do Rego, MR = - - o J osué Montello, D P = --o Os degraus
João Ribeiro, FB = --o Floresta de fogo (Monte cativo - I); romance, O moleque Ricardo. 5." ed. Rio de do para/soi romance. São Paulo, Mar-
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neiro, Livros de Portugal, 19 60 . Cardoso. O delfim i romance. 3·a cd. Martins, 1961.
José Lins do Rego, U = - - o Usina. Josué MontelIo, SC = --o O silêncio
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,.a
--o

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Jorge Amado, TBCG = - - o Teresa 6." ed. Rio de Janeiro, José Olympio, ceira classe i contos e novelas. 2.a ed. Luandino Vieira, L = --o LII/fallda i
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Martins, 1972. José Lins do Rego, B = --o Bar/di". José Saramago, LC = SARAMAGO, José. Luandino Vieira, NANV = --o No
Jorge de Lima, OC = LIMA, Jorge de. 4 .• ed. Rio de Janeiro, José Olym- Levalltado do chão. 3.fL ted. Lisboa, Ed. afJtigalJlclltc} lia vida; estórias. 3.0. ed.
Obra co",pleta. Rio de Janeiro, Agui-
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lar, 1958. 1.° voI.
José Lins do Rego, FM = --o Fogo José Saramago, MC = --o MelJlorial Luandino Vieira, NM = --o Nós}
Jorge de Sena, G-C = SENA, Jorge de. do COflvcllto i romance. Lisboa, Ed.
",orto. 2.a ed. Rio de Janeiro, José os do Mak,i/uSll. J." ed. Lisboa, Sá da
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Olympio, 1944· Caminho, 1982. Costa, 1977,
boa, Edições 70, 19 82 .
José Lins do Régio, ME = --o Josué Montello, A = ]\{ONTELLO, Josué. Luandino Vieira, VE = --o Velhas
Jorge de Sena, NAD = --o Novas
andal1ças do demól1io,. contos. Lisboa, Menino de ellgCllho. 6.a ed. Rio de Alelllia. Rio de Janeiro, Nova Fron- estórias; contos. 2.11. ed. Lisboa, Edi-
Janeiro, José Olympio, '95 6. teira, 1982. ções 70, '976. .
Portugália, '966.

" ,_L~ __ .,_'_W •• '


BREVE GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
DESENVOLVIMENTO DAS ADREVIA'I'URAS USADAS
4 82 48)
Manuel da Fonseca, PC = FONSECA,
Luandino Vieira, VVDX = --o A Manuel da. O fogo e as cinzas,. contos.
Mário de Sá-Carneiro, CF = - - o Céu Miguel Torga, CH = --o Ci1ntico do
vida l,erdadcira de DOlllin.g,os Xavier. São em/ogo; novelas. 2.a ed. Lisboa, Ática, hOhlef/l; poesia. 3.& ed. Coimbra, s. ed.,
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Luís Bernardo Honwana, NMCT Miguel Torga, CM ~ --o Confos da
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ta/llos o cão-linhoJo. São Paulo, Atica. Manuel Ferreira, HB = FERREIRA, Ma- 1958-1959.2 v. Pongettl, 195 5.
nuel. Hora di boi. São Paulo, Ática, Mário de Sá-Carneiro, CL = --o
19 80 . Miguel Torga, NCM ~ --o Novos
Luís Forjaz Trigueiros, ME = TRI- 19 80. A confissão de Lúcio. 2.a ed. Lisboa, contos da n/olllanha. 3.0. ed. Coimbra
GUEIROS, Luís Forjaz. Monólogo em Manuel Lopes, FVL. LOPES, Manuel. Ática, 1945. s. ed., 195 2 . '
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Luís Jardim, AMCA ~ JARDIM, Luís. Ática, 1979· Lisboa, Ática, 1953. Coimbra, s. ed., 1950.
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Marce1ino. Leonor Teles. Lisboa, s. ed .•
Mário de Sousa Lima, GP ~ LIMA, Miguel Torga, TU ~ --o
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Luís Jardim, eTC = Confissões do meu vazios. 2.a ed. Amadora, Bertrand, Olympio, '945. 1954·
tio Gonzaga; romance. z.a ed. Rio de 1978. Mário Palmério, CB = P ALMÉRIO, Má- Monteiro Lobato, GDB ~ LODATO,
Janeiro, José Olympio, 1966 . Maria J udite de Carvalho, P SB ~ --o rio. Chapadão do BIJgre; romance. Rio Monteiro. Geografia de Dona Benta'
Luís J ardi m, MP ~ --o Maria peri- Paisagem sem barcos. Lisboa, Arcádia, de Janeiro, José Olympio, 1965. 2.a ed. São Paulo, Brasiliense, 195 0 .
gosa. 2.. a ed. revista e aumentada. Rio s.d. Mário Palmério, VC ~ --o Vila dos Monteiro Lobato, N = --o Negri-
de Janeiro, José Olympio, 1959· Maria Judite de Carvalho, TGM ~ --o confins. Rio de Janeiro, José Olympio, nha,. contos, 3.S. ed. São Paulo, Brn-
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DESENVOLVIMENTO DAS ABREVIATURAS USADAS 4 85
BREVE GRAMÁ'l'ICN DO PORTUGUÊS CÜNI'BMPORÂNEO
484
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Olavo Bilac, DN = BILAC, Olavo. Paulo Mendes. O alijo b2bado. Rio de
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Olavo Bilac, P = --o Poesias. Rio .de cativo; 2.. 0 volume de suas memórias.
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Janeiro, Garnier, 19°4· IOO crônicas escolhidas. Rio de Janeiro, Portugal, '97'.
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Olavo Bilac, FI = --o Poesias infantis. José Olympio, '958. Sttau Monteiro, APJ = MONTEIRO,
Pedro Nava, B-M --o Beira-mor. Rio Rubem Braga, CR = --o A cidade e a Luis Sttau. A1JSlístia para o jantar.
Rio de Janeiro, Francisco Alves, 19°4·
de Janeiro, José Olympio, '97 8. rOfa e três primitivos. 2..a ed. Rio de 5.a ed. Lisboa, Atica, 1967,
Olavo Bilac, T = --o Tarde. Rio de Pedro Nava, BO = --o Baú de ossos,-
Janeiro, Francisco Alves, 19 1 9' Janeiro, '964. Sttau Monteiro, FHL = -'-o FcJiZ-
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Esta obra foi composta em carac[crcs Garamond


e impressa em 2006
por Tipografia Gucrra, Viseu

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