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M. I. FINLEY UFRGS - IFCH Departamento © PPG Histérie | | | nlicl€ dé histério entige { | 1 MONITOR: BRUNO CERETTA SCHNORR 2010 ‘A POLITICA NO MUNDO ANTIGO Tradugao | Alvaro Cabral ZAHAR EDITORES Rio de Janeiro | (965, CAPITULO 3 POLITICA Numa histéria amitide repetida, PLUTARCO nos conta como certa vez, ‘em Atenas, enquanto se procedia & votagdo para um ostracismo, um aldedo analfabeto acercou-se de um homem e pediu-lhe que inscre- esse para ele 0 nome ARISTIDES em seu caco de cerimica (dstrakon). © outro perguntou-lhe que mal Aristives Ihe fizera ¢ recebeu esta resposta: “Absolutamente nenhum. Nem sequer conheco o homem, mas estou farto de ouvir chamar-Ihe ‘O Justo’ por toda a parte.” ‘Ao que ARISTIDES, pois era ele o homem, claro, colocou seu pré~ prio nome como the fora solicitado (Aristides, 7.6). Uma hist6- Fa edifieante, mas 0 meu interesse esté na disposigéo dos historia Gores para a aceitarem como verdadeira e extrairem dela profundas Conclusdes sobre ARISTIDES, sobre o ostracismo e a democracia ateniense. Alguns tinham davidas acerca da imagem dos Ifderes po- Iiticos atenienses como nobres cavalheiros que no se deslustrariam com formas de comportamento to baixas como cabalar camponeses © comerciantes (somente os bons Iideres politicos, seria desnecessé- io acrescentar, ndo demagogos como CLfON). Os eéticos regis- traram agora um inesperado triunfo, Escavagbes efetuadas desde © final da altima guerra descobriram, principalmente no bairto do Ceramico, mais de 11 mil éstracos com nomes inscritos.t A maior parte deles tinka, obviamente, sido jogada fora, apés a conclusio Ge um ou outro processo de ostracismo. Entretanto, um lote de 190 encontrado na vertente oeste da AcrOpole tinha gravado em todos os éstracos o nome de TEMIsTOCLES, escrito por um ni- mero muito reduzido de méos; tinham sido claramente preparados de antemdo para distribuiggo entre votantes potenciais mas, a0 fim fe a0 cabo, m0 haviam sido usados. Nao ha como apurar que TOR. Thomsen, The Oritin of Ostracizm (Copenhague, 1972), pp. 84-108. politica 67 proporgio dos outros 11 mil fragmentos de cerdmica teria também Fido antecipadamente preparada. Nem hé como provar se a histo- Ha de PLUTARCO acerca de ARSTIDES ¢ verdadeira ou nio. Muitas Ge suas histbrias slo ficgbes moralizadoras ¢ & virtualmente incon- Gebivel que o lote de éstracos de TexdsTocLES por usar constituisse Gin caso tnico dessa tética em toda a hist6ria do ostracismo. Deve nos decidir com base nas probabilidades ¢ PLuTARCO nfo me persuade de que a politica ateniense tivesse uma, pureza moral des- Conhecida de qualquer outra sociedade politica ‘Os historiadores de Roma enfrentam maiores dificuldades por- que tém A sua disposigho essa colegio impar de documentos antigos ctiue sdo as cartas de CICERO. Aj, léemrse coisas como as sequintes, Ceritas para seu amigo ¢ confidente Atico (1.2.1) em julho de 65 aC. “De momento, proponho-me defender CATILINA, © can- Gidato meu concorrente [ao consulado], Temos o jiri que quere~ fos, com a plena coopera¢io da acusaglo. Se ele for absolvido, espero que s€ mostre mais inclinado a trabalhar comigo na cam- panha,”® CATILINA estava sendo processado por extorsio enquanto governador da provincia de Africa. Foi absolvido sem a ajuda de Clceno, que afinal néo se encarregou do caso, por motivos que fgnoramos. Dois anos depois, Cicero assumiria a lideranga na Gestruigdo da conspiragio de CATiLmNa. Isso também & elucidativo. Mas tals situagdes ¢ textos no justiiam a corrida precipitada para buscar abrigo sob a rubrica “corrupedo”. Cabalar, angariar Fotos, persuadir eleitores, permutar servigos, recompensas ¢ bene ficios, fazer ajustes e aliangas, sfo as técnicas essenciais da politica nna vida real, em toda e qualquer sociedade politica conhecida, e a Tinka entre ‘corrupgo © no~corrupeo & nio sé extremamente dificil de tragar mas também muda de acordo com o sistema ético do observador Nem toda a gente concorda com PLATAo. J” Come indicazéo de como a opinido tradicional ficou profundamente enrsi- Jada, ver W. den Boer, Private Morality in Greece and Rome (Mnemosyne, Supl, 57, 1979). p. 184: “Consta que dstracos com o nome de Temistocles finham sido profusemente distribuldos, antes da votacdo que © condenou ¢ phar" politica, Iso foi uma fraude que indubitavelmente ocorreu mas nto ade afiemar que fosse geral.” Para uma demonsirasso recente da inconfia- illede de Plutarco como fonte para a Atenas do século V a.C.. ver A. Gindrewes, “The Opposition to Perikle, Journal of Hellenic Studies 98 (1978). pp. 1. 2 Traduzido por DR. Shackleton Bailey 68 politica no mundo antigo Entendo por “politica” algo especifico e muito mais limitado do que, por exemplo, “a atividade que consiste em atender as dis- posigdes gerais de um conjunto de pessoas @ quem 0. acaso ou 8 escoiha reuniu”.* Essa definigdo, largamente aceita, abrange todo @ qualquer grupo concebivel, desde uma familia ou clube ou vaga indade tribal até A mais onipotente monarquia autocritica ou trania, e sou incapaz de descobrir para ela qualquer uso analitico fv, de algum outro modo, significativo. Trés distingOes me parecem hecessérias. A primeira é entre Estados ¢ os miltiplos agrupamen- tos que existem dentro de um Estado — sociais, econémicos, edu- ‘cacionais ou o que for. No me interesso por usos metafricos tais ‘como “politica académica”. A segunda € entre Estados em que as Gecisbes so vincvlatérias © & possivel fazer respeitar sua. vigéncia, eas estruturas pré-Estado em que elas nfo slo. A terceira distin~ do € entre Estados em que um homem ou uma junta detém o poder absclito de deciséo, independentemente de ter buscado de Entemao 0 parecer ou conselho de colaboradores, ¢ Estados em que as decisdes vinculatérias sio tomadas através de discussio, debate e, finalmente, votacio. A discussio pode estar limitada a apenas um setor dos membros da comunidade, como numa oligar- quia — nfo restrinjo a minha definigéo as democracias — ov primordialmente a representantes eleitos ou & decisio sobre uma gama especifica de questfes, mas € essencial que a deciséo se mais do que consultive. So essas as razées para os meus limites Cronolégioos e, sobretudo, para a minha exclusio de Roma sob fos imperadores. Onde 0 principio Quod principi placuit legis habet yigorem (“O que o imperador decide tem a forca de lei’) preva Tece, mesmo que s6 em espitito, h& govemo por antecimara, no por cdmara, € portant nfo pode haver politica na minha acepsio. Quer dizer, embora houvesse discussto no Principado, o poder final efetivamente irrestrito de decisio em matérias de aco g0- vernamental repousava num s6 homem, nfo nos votantes (nem mesmo nas: centenas que compunham o Senado). Havia, reconbecidamente, grandes reas cinzentas néio facilmen- te classificdveis; por enemplo, as cidades seleucidas ou as cidades no Tmpério romiio, com seu privilégio de administragfo sutdnoma num n{vel local rigdrosamente definido. Excluo as segundas desta jnvestigagdo porque sua politica é de interesse no estudo da. psico- MM. Oakeshott, em Laslett (1956), p. 2 politica 69 Iogia social de uma elite, sob uma autocracia dominante, mas no Suficientemente no estudo do comportamento politico. Podemos com= parar dois documentos — s€ eles $80 ou ndo criacées puramente Fiterdrias € irrelevante — um breve didlogo entre SOCRATES € o jovem GiAvoON, not Memordveis (3.6), d¢ XENOFONTE, ¢ um longo fensaio, Preceitos Politicos, escrito pot PLUTARCO provavelmente cer- fe de’ 100 d.C. Ostensivamente, ambos oferecem conselhos @ um Jovem de classe alta com ambigdes politicas. Enquanto SOCRATES #¢ Rcentra na necessidade de conhecimentos detalhados — sobre fi- Srangas publicas, recursos militares, defesa, as minas de prata, abaste- Gimento de alimentos? — PLUTARCO estende-se, prolixa ¢ sentencion SBmente, com umerosas citagdes de autores gregos ¢ latinos © Fadmeras historias, em consideragdes sobre 0 comportamento deco- foso, honestidade, modo circunspecto de vida, a escolha de amigos patronos cerlos e, sobretudo, a retérica. Pouca coisa podemos en Contrar no ensaio acerea de matérias substantivas, mesmo no passado, Grnada que elucide a politica passada ou presente, Que a diferenca Gatre os dois nfo é uma questo de duas personalidades ou tempe- famentos diferentes mas um reflexo de duas situades inteiramente Gistintas € assinalado, creio eu, pelo proprio PLUTARCO a meio do tensaio quando escreve (Obras Morais 813D-E): “Quando ingressais fem qualquer posto, no deveis considerar apenas a prudéncia de PERICLES. .., "Cuidado, PERICLES, estais governando homens livres, estais governando gregos, cidadios de Atenas’, mas deveis também dizer para v6s préprios, “Tu, que exerces um cargo, és um sidito, numa’ pélis controlada por procénsules, por procuradores de César” "A politica, em nossa acepedo, situa-se entre as atividades hu- manas mais excepcionais no mundo pré-moderno. Com efeito, foi uma inveng&o grega ou, talvez. mais corretamente, invengdes sepa- radas dos gregos e dos etruscos e(ou) romanos. Presumivelmente, houve outras comunidades politicas primitivas no Oriente Proximo, entre 08 fenicios, de qualquer modo, que depois levaram suas insti- tuigdes para Cartago, no Ocidente, O tinico Estado néo-grego jncluido ‘por ARISTOTELES em sua colegio de 158 monografias sobre “‘constituigdes" individuais foi Cartago. A obra perdew-se, embora algumas informagSes sobrevivam na Politica (especialmente 1.272b24-73626), € nfio encontro bases para pensar que nfo tivesse EGE, Arinételes, Retdrica, 1.359619-60037, 70 politica no mundo antigo hhavido qualquer difuso significativa dos fenicios para os yregos ou (65 otruscos (as quais, admito, estabeleceram os alicerces sobre os quais se desenvolveriam as instituigées politicas romanas). Que influ- Encia as primeiras comunidades gregas na Sicilia e Ttélia poderdo ter tido sobre os etruscos e romanos em suas fases formativas € uma {questéo muito debatida ¢ irrespondivel; na realidade, uma questio sem importincia, pois nenhuma resposta projetard luz sobre as for- ‘mas diferentes como a politica e as instituigOss politicas se desenvol- veram nas esferas grega ¢ romana, Sublinho a originalidade principalmente por seu corolétio, a compulsio férrea sob que estavam gregos e romanos para serem continuamente inventivos, quando novos ¢, com freqiléncia, impre~ vistos problemas ou inesperadas dificuldades surgiam que tinham de set resolvidos sem a ajuda de precedentes ou modelos. Daf a conhe- cida lista de instituigdes © dispositivos “ins6litos”, como as tribos clisténicas, © ostracismo © a graphé parandmén (a que revertere- mos) em Atenas, 0 “veto” tribunicio , especialmente, 0 extraordi- nirio procedimento de voto dos comitia centuriaa em Roma. BADIAN disse corretamente, a respeito destes iiltimos, que “quem studou os comitia centuriata romanos reformados pensard que nada & impossivel”.* Davip HUME achou diffcil compreender o “singular € aparentemente absurdo” graphé parandmén, um procedimento ate- niease introduzido durante 0 século V a.C., por meio do qual um cidadio qualquer podia instaurar processo contra um outro por ter apresentado uma “proposta ilegal” na Assembléia, mesmo quando a Assembléia soberana a tinha aprovado.' Tais dispositives sio inte- ressantes ndo s6 em si mesmos, como exemplos da extraordindria amplitude da inventiva humana no campo politico, mas também (e até mais) em’ suas histérias individuals, como estudos sobre os métodos pelos quais as instituigdes podem ser desviadas e distorci- das, tornando-8s as vezes irreconheciveis, uma vez introduzidas no arsenal politico. Cumpre-me insistir de novo que é errado abordar esse t6pico como poucd mais do que uma histéria de demegogia, corrupsio popular, declinio e desintegragao, pois constitui um fio central na hist6ria da politica antiga, com f€ceis paralelos, embora % E, Dadian, “Archons and Sirategoi", Antickihon $ (1971), pp. 1-34, na p19 F sttume’s Early Memoranda, 1729-1740", org, por B.C. Mossner, Journat of the History of Ideas 9 (1988), pp, 4925518, no 237 politica = 72 freqiientemente sem tanto pitoresco, talvez, na histéria da politica moderna. “As fontes ndo nos ajudam muito. Os gregos € romanos inven- taram a politica e, como todos nés sabemos, também inventaram { histéria politica ou, melhor dizendo, a historia da guerra e da po- Titica. Mas © que todos conhecem € impreciso: os historiadores na ‘Aniigiiidade escreveram a historia da agao politica de governos, 0 {que nao é a mesma coisa que politica — os métodos € as téticas (que orientam ¢ determinam essa ado; ¢les escreveram principal- frente sobre a acdo politica externa, s6 se preocupando com a me: Canica da tomada de decisées polticas (isto é, suas causas, formagio @ desenvolvimento) em momentos de agudo conflito convertido em guerra civil. Atcnte-se para ‘Tucioipes. Sc climinarmos seu vasto paincl sobre a guerra civil em Corcira (hoje Corfu) ¢ outras breves arrativas de guerras civis, os discursos de tupo ideal e a deserigao fem seu iltimo livro, nao Tevisto, do golpe oligérquico de 411, res- tam apenas os comentirios sumamente casuais sobre politica, usual- mente introduzidos a fim de expressar um juizo moral (e na finguagem apropriada); por exemplo, seu comentério displicente (8.73.3) de que um tal HurERwoLo “tinha sido condenado a0 ostra- cismo no porque se temesse seu poder ou prestigio mas porque tera um patife ¢ uma vergonha para a pélis”, Iss0 € absurdo em ter~ mos politicos operacionais, e PLUTAROO nao perdeu a ocasiio de ssinalar a realidade em sua histOria circunstancial (Nicias, 11), Contando como, provavelmente em 416 aC., quando o conflito entre ‘Accipiabes e Nicias tinha atingido um ponto tal que © mais pro- Vavel era um deles ser ostracizado, os dois decidiram juntar suas orgas e conseguiram persuadir seus adeptos a votarem HiréRBoLo a0 ostracismo. Esta histéria, ao invés daquela sobre ARISTIDES, 0 Justo, tem uma aura genuina de plausibilidade. Tivesse sido ela tomada mais a sério pelos historiadores, ¢ nfo atacada como mais tum outro sinal de degenerescéncia popular, uma “iatriga sinistra”,* €¢ 08 6siracos pré-fabricados de TemisTocLes nic teriam causado um Go grande choque. Nada fd de terrivelmente esotérico ow dificil na histéria do os- tracismo, & parte 0s quebra-cabecas cronolégicos qu ocupam a © Higneit (1952), p. 165, Para um enfoque adequado Jo cas Hiérbolo, ver 9 comentitio de Andrewes sobre a passagem de Tucidides, © Connor (1971), pp. 79584, 72 politica no mundo antigo maior parte da extensa literatura modema sobre o assunto. Ele foi jntroduzido quando os atenienses criaram um sistema democratico, ape déeadas de Urania pissirtida, Com caracteristica ¢ inevitavel inventiva, decidiu-se que 0 risco de um outro tirano poderia ser re- duzido expulsando um-Iider manifestamente bem-sucedido © popular por um periodo de 10 anos, se um minimo de 6 mil votos fossem Pemnidos’num procedimento formal. Os politicos néo tardaram em descobrir que 0 ostracismo era um til dispositive para decapitar a foposigio —_um claro exemplo ilustrativo de_uma_das implicagies de_uma cara ate retree am omem Fisieamente do Estado cle fica sem Tinbas de comunicagdo com a cidadania, Mas era uiiia Grima perigosa’ de dois gumies; de modo que foi usado parcimonio- samente — nao se conhece com certeza nenhum caso entre 443 aC. ¢ 0 ostracismo de HipERBOLO em 416 aC. — © depois de 416 foi permitido que morresse de uma morte trangilila, Em contraste, a ‘graphé parandémén, originalmente destinada a dar aos atenienses uma Oportunidade de reexaminar uma decisio possivelmente, precipitada, provou ser uma arma util nas Jutas internas dos circulos de lide~ Tanga ¢ foi empregada com alguma freqléncia com o passar dos anos? ‘© epiteto “intriga sinistra”, na medida em que nfo ¢ um re- flexo de sobranceria pedantesca acerca da politica (toda a politica, antiga ¢ moderna), é€ um bom ‘exemplo do lamentivel habito de consentir que as fontes conduzam 0 historiador. No tocante 4 Gré- cia classica, é suficientemente bem: conhecido que muitas das fontes principais — entre os historiadores, assim como 08 filbsofos © pan- fletérios — erani hostis ‘A prética politica predominante ¢ expres- savam seu desigrado em! termos morais. Nao preciso multiplicar os ‘exemplos:' isso no fortaleceria meu argumento para repelir 0 véu ‘moralizador na’ busca da’ realidade politica. Tampouco se faz ne- Tessério que fepita'a argumentagdo no tocante a Roma, Apesar das Giferengas, notadamente que as instituigdes romanas, pendendo de imaneira maciga em’ favor dos ricos e dos poucos, néo atrairam 0 {ogo dos escritores Tomanos ou comentadores gregos, literatura THEI. Wollt, Normenkontrolle und Gesetzesbesrif} in der rove. (Situngsberichte der Heidelberger Akad. 4, Wiss. Phi Toro), substitu todas as deserigbes prévias da eraphé parandmén. Os 39 casos tonhecidos (alguns ineertos) entre 415 ¢ 322 a.C., dos quais talvex metade ceanmou em abeolvigées, sKo resumidos por M.H. Hansen, The Public Action ‘Sunae Unconstitutional Proposals (Odense Univ. Classical Studies 4, 1974), pp. 22-83 politica 73 presenta, no entanto, a mesma concentragio, a mesma falta de qual Guer interesse sistomético na politica (excetuandose sempre | 38 Gorias de CICERO, em contraste, messe aspecto, com seus escritos feoticos © suas alusoes historicas). A veemente disputa que prece- eu a decisto de destruir Cartago na chamada Terceira Guerra PG~ ftica (149-146 a.C.) & um exemplo suficiente: embora as discor- Tnciss dentro do circulo governante romano “devam ter constitul- Go um fator altamente significativo na politica interna de Roma (..-) poucos vestigios delas podem ser discernidas”.' Tampouco preciso, ereio eu, perder muito tempo com a dife- renga fundamental entre dircito constitucional ¢ politica. © bébito Ge eair na armadilha do direito constitucional € talvez mais comum entre oS historiadores romanos, gragas ao grande corpus da litera~ fura juridica romana © gragas, ainda mais, @ essa imponente cons- trugdo intelectual que € a obra Rémisches Staatsrecht, de MOMMSEN ‘Astim, temos o interminével debate acerca da natureza ¢ dos limi- fee da autoridade do Senado sobre os magistrados, como se nfio fossem as mesmas pessoas extraidas de um pequeno circulo da pobilitas, e nio falassem umas com as outras antes de ser tomada qualquer medida formal. A histéria,grega nfo esté imune; uma GMgente e extensa monografia sobre 0s papéis relativos do Conselho eda Assembléia na legislagéo ateniense propoe-se explicitamente ocalizar 0 “processo legislativo ou decisério” e afirma té-lo feito mediante uma andlise puramente formal (¢ defeituosa) tio-s6 da mecdnica “parlamentar”.%* $ claro, a constituicéo, escrita ow néo-escrita, forneceu a mol dura dentro da qual a’atividade politica era levada a efeito. Isso & (quase de uma banalidade to grande que nem suporta ser posto em palavras. Sobre poucas coisas se teré escrito mais freqientemente do ue @ respeito das constituigdes © da histéria constitucional gregas e'fomanas; os detalhes sio facilmente acessiveis em manuais, com- Se monografias, e néo tentarei abranger aqui todo o campo. Fntretanto, uum certo mimero de pontos gerais sto por demais ¢s- 10 Astin (1967), p. 53. tt patel ma, veveto. critica da digcussfo, ver W. Kunkel, “Magistratische Genatt und ‘Senatsherschalt™, em Aufstieg und Niedergang der rémischen Welt, org. por H. Temporini 2 (1972), pp. 322. se A Detain, Probouleusis at Athens (Berkeley, 1973). Sobre os defcitos, Tresmo dentro’ de seu limitada Ambito. ver w critica de H.W. Pleket em ‘Mnemosyne, A® série, 31 (1978), pp. 328-33.

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