Instituto Serzedello Corrêa

AUDITORIA DE
OBRAS PÚBLICAS

Módulo 2
Auditoria do Orçamento de Obras
Aula 6
Métodos de Cálculo do Sobrepreço e
Tipos de Superfaturamento
André Pachioni Baeta

Novembro/Dezembro, 2011
 © Copyright 2011, Tribunal de Contas de União
<www.tcu.gov.br>

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RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO

Tribunal de Contas da União
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2a Diretoria de Desenvolvimento de Competências
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André Pachioni Baeta
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Secretaria Geral da Presidência
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Centro de Documentação
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PROJETO GRÁFICO
Ismael Soares Miguel
Paulo Prudêncio Soares Brandão Filho
Vivian Campelo Fernandes
DIAGRAMAÇÃO
Herson Freitas

Brasil. Tribunal de Contas da União.

Auditoria de obras públicas / Tribunal de Contas da União ; conteudista:
André Pachioni Baeta. – Brasília : TCU, Instituto Serzedello Corrêa, 2011.
27 p. : il.
Conteúdo: Módulo 2: Auditoria do Orçamento de obras. Aula 6: Métodos
de cálculo do sobrepreço e tipos de superfaturamento.
Curso realizado no período de 08/11 a 07/12/2011 no Ambiente
Virtual de Educação Corporativa do Tribunal de Contas da União.
1. Obras públicas – orçamento – Brasil. 2. Obras públicas – auditoria –
Brasil. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Ministro Ruben Rosa

Aula 6 – Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de
Superfaturamento

Quais os métodos de cálculo do sobrepreço?

Quais são os tipos de superfaturamento?
Como quantificar adequadamente o dano ao erário decorrente
do superfaturamento apurado na auditoria de obras públicas?

Hoje começamos a estudar um novo conteúdo do módulo 2 de

Auditoria de Obras Públicas.

No módulo 1, abordamos tópicos relativos à orçamentação de

obras e serviços de engenharia. Por sua vez, a primeira parte do conteúdo
do módulo 2 abrangeu os principais sistemas referenciais de preços da
administração pública, bem como as técnicas de auditoria disponíveis
para análise de planilhas orçamentárias e de aditamentos contratuais.

Contudo, as ferramentas apresentadas até aqui ainda não são

suficientes para que você faça a correta apuração do superfaturamento Atenção!
de uma obra pública.

Existem várias formas de ocorrência do superfaturamento que

precisam ter seus efeitos apurados de forma individualizada para a
correta responsabilização dos gestores envolvidos.

O método de cálculo do superfaturamento também tem diversas

particularidades que serão apresentadas neste módulo.

Por fim, o processo de quantificação do dano ao erário pressupõe

a definição de débitos e de respectivas datas de origem, tarefa que é
extremamente complexa e trabalhosa.

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [3]

 Para facilitar o estudo, este tópico está organizado da seguinte
forma:

Aula 6 – Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de

Superfaturamento ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3
1. Métodos de Cálculo do Sobrepreço������������������������������������������������������������������������������5
2. Particularidades na Apuração do Sobrepreço e do
Superfaturamento�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 10
3. Tipos de Superfaturamento�������������������������������������������������������������������������������������������� 15
Síntese �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 26
Referências bibliográficas ������������������������������������������������������������������������������������������������ 27

Ao final desta aula, esperamos que você tenha condições de

• enumerar os tipos ou modalidades de superfaturamento;

• conhecer os principais métodos de cálculo do sobrepreço e as

particularidades envolvidas;

• conhecer as formas de cálculo dos principais tipos de

superfaturamento.

Pronto para começar?

Então, vamos.

[4] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

1. Métodos de Cálculo do Sobrepreço

Existem ao menos sete métodos de cálculo de sobrepreço, todos

referendados em deliberações do Tribunal de Contas da União. Tais
métodos podem ser classificados em duas categorias gerais, quais sejam
os que englobam critérios de aceitabilidade de preços (unitários e global)
e os que se fundamentam em critérios de garantia de manutenção do
equilíbrio econômico financeiro do contrato.

Não se pretende apresentar todos os métodos no âmbito deste curso,

mas alguns deles devem ser apresentados para que o aluno compreenda
as discussões e controvérsias envolvidas em cada um dos métodos.

O primeiro deles é o Método da Limitação dos Preços Unitários

Ajustado. No referido método, parte-se do pressuposto de que o
preço unitário de nenhum serviço, contratado originalmente ou
posteriormente acrescido, pode ser injustificadamente superior ao de
mercado (paradigma correspondente). Matematicamente é dado por:

Se i = serviço novo, Então p*i = menor (ppi; pci)

Senão p*i = ppi

...

Se (pi > p*i), Então di = (qfinali).( pi - p*i)

Senão di = 0

...

SFPT =

...

em que:

ppi - Preço unitário paradigma do serviço i;

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [5]

 pci - Preço unitário do serviço i composto com os preços dos
insumos constantes nos demais serviços da obra;

p* - no caso de serviço novo, é o menor entre o preço unitário

paradigma do serviço i - ppi – e o preço unitário do serviço i composto
com os preços dos insumos constantes nos demais serviços da obra -
pci. No caso de serviço previsto no contrato original, é o preço unitário
paradigma do serviço;

pi – Preço Unitário do serviço i medido ou pago;

qfinali – Quantidade final do item i;

di – Sobrepreço do item de serviço i;

SFPT – Sobrepreço global do contrato.

Observe-se que, ao contrário do Método da Limitação do Preço

Global, não existe no Método da Limitação dos Preços Unitários
Ajustado compensação entre os valores medidos ou pagos que se
encontram abaixo do valor de referência, resultando num cálculo em
que o sobrepreço considera apenas os preços unitários acima dos de
referência correspondentes.

O método é dito ajustado porque incorpora, para o cálculo do preço

unitário de referência, não só o preço paradigma do serviço (que, se assim
fosse, seria então o Método da Limitação dos Preços Unitários) mas,
para serviços novos, o preço unitário do serviço composto com os preços
dos insumos constantes nos demais serviços da obra, resultando daí o
ajuste que pode elevar o sobrepreço final em relação àquele calculado
somente comparando-se com o paradigma.

A tabela com o exemplo a seguir ilustra a aplicação do Método da

Limitação dos Preços Unitários Ajustado:

Contrato Paradigma
item Quant. Final $ Uniário $ Total $ Uniário $ Total Sobrepreço
1 400 30,00 12.000,00 25,00 10.000,00 2.000,00
2 300 30,00 9.000,00 20,00 6.000,00 3.000,00
3 300 20,00 6.000,00 10,00 3.000,00 3.000,00
4 200 10,00 2.000,00 25,00 5.000,00 -
Totais 29.000,00 24.000,00 8.000,00

A título de comparação, a tabela a seguir demonstra a aplicação do

método da limitação do preço global, no qual se procede a compensação
dos serviços com subpreço no cômputo do sobrepreço global do contrato.

[6] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

 Contrato Paradigma
Item Quant. final $ Unitário $ Total $ Unitário $ Total Sobrepreço
1 400 30,00 12.000,00 25,00 10.000,00 2.000,00
2 300 30,00 9.000,00 20,00 6.000,00 3.000,00
3 300 20,00 6.000,00 10,00 3.000,00 3.000,00
4 200 10,00 2.000,00 25,00 5.000,00 (3.000,00)
Totais 29.000,00 24.000,00 5.000,00

A aplicação do método da limitação do preço global é um dos

casos mais osbervados na jurisprudência do Tribunal de Contas da União,
por exemplo, na ementa do Acórdão TCU nº 1.551/2008 – Plenário:

“3. Na avaliação econômica do contrato, o eventual sobrepreço

existente deve ser apurado de forma global, isto é, fazendo-se as
compensações do preços excessivos de alguns itens com os descontos
verificados em outros, principalmente se os preços são os mesmos
oferecidos na licitação da obra e se pode constatar que a proponente sopesou
de forma diferenciada o custo dos diversos serviços, tirando proveito das
possíveis vantagens comparativas, desde que de forma legítima. Situação
diversa ocorre com itens eivados de ilegalidade, tais os que apresentaram
modificação sensível dos parâmetros eleitos na licitação, justificando a
impugnação individual do item anômalo.”(grifo nosso)

Em comparação, a mesma situação hipotética poderia ter outro valor

de dano calculado com base no método do desconto ou no método do
balanço, no caso de haver aditivos contratuais. A tabela a seguir apresenta
a aplicação do método do desconto ao mesmo exemplo hipotético:
SITUAÇÃO ORIGINAL APÓS ADITIVOS
PARADIGMA
QUANT. FINAL

ORÇAMENT
CONTRATO

ORÇAMENTO
QUANT.
INICIAL

CONTRATO
ITEM

PARADIGMA

$ unit $ total $ unit $ total $ total $ total

1 100 30,00 3.000,00 25,00 2.500,00 400 12.000,00 10.000,00
2 200 30,00 6.000,00 20,00 4.000,00 300 9.000,00 6.000,00
3 300 20,00 6.000,00 10,00 3.000,00 300 6.000,00 3.000,00
4 400 10,00 4.000,00 25,00 10.000,00 200 2.000,00 5.000,00
TOTAIS 19.000,00 19.500,00 29.000,00 24.000,00
Desconto original 2,56%

MÉTODO DO DESCONTO
Orçamento paradigma final 24.000,00
-Desconto de 2,56% (615,38)
Valor final do contrato 23.384,62

Valor contratado com aditivos 29.000,00

Valor final do contrato (23.384,62)
Desequilíbrio do contrato em prejuízo à Administração: 5.615,38

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [7]

 É oportuno ressaltar que nenhum dos métodos apresentados se
apresenta como um “método geral de quantificação” do superfaturamento,
haja vista que não alcançam todas as possibilidades ou não corrigem
todos os defeitos observados relativamente a preços excessivos.

Também se observa que os métodos apresentados se limitam

a estabelecer passos para a quantificação do montante total do
superfaturamento. Como será apresentado em tópicos específicos deste
módulo, a quantificação do dano ao erário deve também promover a
identificação dos grupos de responsáveis solidários, o estabelecimento
de datas de origem dos débitos e os respectivos montantes, bem como
a utilização de algum critério de rateio do dano em obras executadas
mediante convênios ou instrumentos congêneres.

A quantificação do dano, com o estabelecimento de datas de origem

dos débitos e respectivos montantes, é tarefa muito mais complexa que a
própria apuração do valor total do superfaturamento.

Por fim, ressalta-se que o superfaturamento de obras públicas

geralmente é composto por diversas parcelas, em especial:

• pela medição de quantidades superiores às efetivamente

executadas/fornecidas (superfaturamento de quantidade);
• pela deficiência na execução de obras e serviços de engenharia
que resulte em diminuição da qualidade, vida útil ou segurança
(superfaturamento de qualidade);
• pelo pagamento de obras, bens e serviços por preços
manifestamente superiores aos praticados pelo mercado ou
incompatíveis com os constantes em tabelas referenciais de
preços (superfaturamento de preços);
• pela quebra do equilíbrio econômico-financeiro inicial do
contrato em desfavor da Administração por meio da alteração
de quantitativos (jogo de planilha) e/ou preços (alterações de
cláusulas financeiras) durante a execução da obra;
• pela alteração de cláusulas financeiras gerando recebimentos
contratuais antecipados, distorção do cronograma físico-
financeiro, prorrogação injustificada do prazo contratual
com custos adicionais para a Administração Pública ou
reajustamentos irregulares.

Assim, a quantificação total do superfaturamento de uma obra pública

Atenção! é tarefa que transcende a escolha do método de cálculo de sobrepreço.

Importante ressaltar que alguns riscos não podem ser eliminados

apenas pela utilização de um método de cálculo de sobrepreço. Por

[8] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

exemplo, qualquer que seja o método, eventuais modificações nas
especificações originais do objeto de uma licitação podem alterar, por
meio de alterações parciais em itens específicos, o preço final das ofertas
recebidas pela administração, fazendo com que, por exemplo, a segunda
melhor oferta se transforme em virtual primeira.

Portanto, neste módulo do curso, buscou-se sistematizar a apuração

de todas as parcelas de superfaturamento de uma obra pública.

A título de exemplo, a planilha a seguir apresenta uma situação

hipotética em que todos os preços unitários contratuais estão abaixo dos
preços de mercado. Observa-se que o contrato foi celebrado com um
desconto de 34,5% em relação ao orçamento paradigma. Após aditivos,
o item 4, cujo preço unitário contratual apresentava grande desconto
em relação ao preço de mercado foi suprimido, reduzindo o valor do
desconto final para 11,8%.
Condições Originais Pós aditivos
Quant. Contrato Orçamento Paradigma Quant. Contrato Paradigma
Item Inicial PU Total PU Total Final Total Total
1 100,00 30,00 3.000,00 35,00 3.500,00 100,00 3.000,00 3.500,00
2 200,00 30,00 6.000,00 30,00 6.000,00 200,00 6.000,00 6.000,00
3 300,00 20,00 6.000,00 25,00 7.500,00 300,00 6.000,00 7.500,00
4 400,00 10,00 4.000,00 30,00 12.000,00 - - -
Totais 19.000,00 29.000,00 15.000,00 17.000,00
Desconto original: 34,5% Desconto Final: 11,8%

A aplicação do método da limitação dos preços unitários não

apresentaria superfaturamento como resultado, pois todos os preços
unitários estão compatíveis com os preços de mercado. Entretanto,
a aplicação do método do desconto ensejaria a imputação de
superfaturamento aos responsáveis, por inobservância ao disposto nas
leis de diretrizes orçamentárias.

Por outro lado, às vezes o método de limitação de preços

unitários ajustado se mostra mais adequado aos casos de empreitadas
por preço unitário, em que os certames licitatórios ainda não foram
adjudicados e contratados.

No caso de empreitadas por preço global ou em situações jurídicas

constituídas (contrato celebrado) utilizar-se-á o Método da Limitação do
Preço Global, com compensação dos serviços com subpreços nos sobrepreços
apurados, bem como o método do desconto no caso de haver aditivos, em
conformidade com a previsão das Leis de Diretrizes Orçamentárias.

Dessa forma, diante da necessidade de se estabelecer um procedimento

geral e completo de quantificação de dano ao erário decorrente do
superfaturamento apurado em obras públicas, apresentaremos neste
módulo um roteiro de quantificação do superfaturamento.

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [9]

 2. Particularidades na Apuração do Sobrepreço e do
Superfaturamento

Extrapolação do BDI paradigma para a avaliação do preço dos

serviços não avaliados

Já comentamos em outra aula que se trata de assunto bastante

polêmico, ainda não pacificado pela jurisprudência do Tribunal de
Contas da União. Em suma, dois procedimentos podem ser adotados no
cálculo do sobrepreço global do contrato:

• utilizar o BDI paradigma apenas nos serviços contratuais que

foram objeto de análise de preços, sem extrapolar a redução
de BDI para os demais itens contratuais, nos quais não houve
avaliação de preços ou;
• Extrapolar o BDI paradigma para os demais itens contratuais
que não foram objeto de análise de preços.

Entende-se que o melhor procedimento a ser adotado depende

do caso em concreto. Na análise de preços, podem ocorrer situações
inusitadas, como no caso de um BDI paradigma acima do BDI contratual.
Neste caso, pode ocorrer o sobrepreço na amostra analisada, mas a
extrapolação do BDI paradigma para os demais serviços contratuais
poderia elidir o sobrepreço global do contrato.

Outro exemplo interessante refere-se ao caso da extinção ou criação

de tributos ou pela majoração/diminuição de alíquotas. Neste caso, o BDI
paradigma será ajustado pela alteração ocorrida e deverá ser aplicado
indistintamente sobre toda a planilha contratual. Trata-se de expressa
previsão legal, conforme §5º, art. 65, da Lei de Licitações, in verbis:

“§  5o    Quaisquer tributos ou encargos legais criados, alterados ou

extintos, bem como a superveniência de disposições legais, quando ocorridas
após a data da apresentação da proposta, de comprovada repercussão nos
preços contratados, implicarão a revisão destes para mais ou para menos,
conforme o caso.”

Data-Base dos Preços Paradigmas

Existem duas formas de proceder que resultam em valores diferentes

de superfaturamento (ou até mesmo podem elidir o superfaturamento):

• comparar os preços contratuais em preços originais com os

paradigmas na data-base do contrato;

[ 10 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

 • comparar os preços contratuais reajustados até as datas de
pagamento com os preços paradigmas nas datas-bases de
pagamento.

Como regra geral, considera-se adequado que a data-base para

o cálculo do sobrepreço seja a data-base do contrato, pois esta seria a
conduta exigível do gestor quando elaborou o orçamento, licitou a
obra ou formalizou algum aditivo. Porém, no caso de contratos com
períodos prolongados de execução contratual, os percentuais aplicáveis
de reajuste podem representar pagamentos tão ou mais relevantes do que
os pagamentos oriundos dos preços originais do contrato.

Nessas situações, a variação percentual dos preços contratuais pode

ser muito discrepante da variação percentual dos respectivos referenciais
de preços. Tal situação encontra-se exemplificada na tabela seguinte.
Observe que na data-base do contrato havia um sobrepreço de R$ 259,00.
Contudo, comparando-se os preços reajustados com os preços unitários
paradigmas na data atual verifica-se que o sobrepreço de R$ 259,00 (a
preços iniciais) transformou-se em um desconto de R$ 170 (a preços
reajustados), elidindo a irregularidade.
Variação do
índice de PU
Reajuste Paradigma -
PU Contrato - PU Paradigma - Contratual PU Contrato - Na data de
Data-Base do Parcial - Preços Na data-base Sobrepreço - Aplicável ao Data Medição medição dos Sobrepreço - Preços
Serviço Contrato Quant. Iniciais do contrato Preços Iniciais Serviço dos Serviços Serviços Atualizados
A 5,00 200,00 1.000,00 3,00 400,00 100% 10,00 8,00 400,00
B 6,00 90,00 540,00 9,90 (351,00) 100% 12,00 20,00 (720,00)
C 7,00 150,00 1.050,00 5,60 210,00 100% 14,00 13,00 150,00
Total 2.590,00 259,00 - (170,00)

Mesmo em contratos reajustados com base em cestas de índices,

situação na qual a variação dos preços unitários obtidos nos sistemas
referenciais de preços tende a ser semelhante ao índice de reajuste
contratual, podem ocorrer alterações significativas entre o sobrepreço
“a preços iniciais” e o sobrepreço apurado “a preços atuais”. Tal situação
decorre da diferente relevância de cada serviço em relação ao valor do
contrato, bem como dos diferentes índices de reajuste contratuais, os quais
incidem de forma diferenciada sobre serviços com distintas participações
no valor contratual total. A tabela a seguir ilustra esta situação. Justamente
naquele serviço com sobrepreço original negativo (ou desconto), verificou-
se um índice de reajuste contratual superior aos dos demais serviços. Tal
fato acabou por elidir a irregularidade do sobrepreço.

Variação do
índice de PU
Reajuste Paradigma -
PU Contrato - PU Paradigma - Contratual PU Contrato - Na data de
Data-Base do Parcial - Preços Na data-base Sobrepreço - Aplicável ao Data Medição medição dos Sobrepreço - Preços
Serviço Contrato Quant. Iniciais do contrato Preços Iniciais Serviço dos Serviços Serviços Atualizados
A 5,00 200,00 1.000,00 3,00 400,00 80% 9,00 5,40 720,00
B 6,00 90,00 540,00 9,90 (351,00) 210% 18,60 30,69 (1.088,10)
C 7,00 150,00 1.050,00 5,60 210,00 50% 10,50 8,40 315,00
Total 2.590,00 259,00 - (53,10)

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 11 ]

[ 12 ]
Variação do
índice de PU

AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

Reajuste Paradigma -
PU Contrato - PU Paradigma - Contratual PU Contrato - Na data de
Data-Base do Parcial - Preços Na data-base Sobrepreço - Aplicável ao Data Medição medição dos Sobrepreço - Preços
Serviço Contrato Quant. Iniciais do contrato Preços Iniciais Serviço dos Serviços Serviços Atualizados
A 5,00 200,00 1.000,00 3,00 400,00 100% 10,00 8,00 400,00
B 6,00 90,00 540,00 9,90 (351,00) 100% 12,00 20,00 (720,00)
C 7,00 150,00 1.050,00 5,60 210,00 100% 14,00 13,00 150,00
Total 2.590,00 259,00 - (170,00)

Variação do
índice de PU
Reajuste Paradigma -
PU Contrato - PU Paradigma - Contratual PU Contrato - Na data de
Data-Base do Parcial - Preços Na data-base Sobrepreço - Aplicável ao Data Medição medição dos Sobrepreço - Preços
Serviço Contrato Quant. Iniciais do contrato Preços Iniciais Serviço dos Serviços Serviços Atualizados
A 5,00 200,00 1.000,00 3,00 400,00 80% 9,00 5,40 720,00
B 6,00 90,00 540,00 9,90 (351,00) 210% 18,60 30,69 (1.088,10)
C 7,00 150,00 1.050,00 5,60 210,00 50% 10,50 8,40 315,00
Total 2.590,00 259,00 - (53,10)
 Obtenção de um BDI paradigma

O procedimento já foi apresentado em aula anterior deste curso,

mas convém reproduzi-lo aqui novamente.

Conforme já enfatizado, a análise de preços deve-se dar sempre

mediante a comparação de preço contratado/orçado com algum preço
paradigma de mercado, da seguinte forma:

Preço contratado/orçado <= Preço de mercado ou

Custo contratado/orçado + BDI contratual/orçado <= Custo paradigma + BDI paradigma. Atenção!

A análise isolada de apenas um dos componentes do preço

(custo direto ou BDI) não é suficiente para imputação de sobrepreço.
Assim, um BDI contratual elevado pode ser compensado por um custo
direto contratual abaixo do paradigma, de forma que o preço do serviço
contratado esteja abaixo do preço de mercado.

Portanto, um dos passos para a análise do orçamento da obra é

o estabelecimento de um BDI paradigma, pois a maioria dos sistemas
referenciais oficiais de preço, à exceção do Sistema de Custos Rodoviários
do DNIT, apresenta apenas o custo direto de execução dos serviços,
tornando necessária a adoção de um BDI paradigma para que a análise
dos preços unitários possa ser efetuada.

Um procedimento para obtenção de um BDI paradigma foi

apresentado na nona aula do módulo 1.

Imputação de débitos aos responsáveis quando ocorre o

superfaturamento de Quantidade e de Preço nos mesmos serviços.

É um caso em particular que necessita de especial atenção, pois

as parcelas de dano decorrentes do superfaturamento de quantidade
geralmente têm responsáveis distintos das parcelas de dano decorrentes
do sobrepreço. Considere-se o exemplo apresentado na tabela a seguir
para demonstrar que existem várias formas de dividir os débitos de
quantidade e de preço entre os responsáveis.

Descrição Quantidade Preço Unitário Preço Quantidade PU Preço parcial com

do Serviço Medida e Paga Contratual Parcial do aferida pelo paradigma quantidades reais e
Contrato TCU preços de mercado

Serviço “X” 100 unidades R$ 20,00 R$ 2000,00 70 unidades R$ 15,00 R$ 1050,00

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 13 ]

 O superfaturamento combinado de quantidade e de preços é de
R$ 950,00 (R$ 2.000,00 – R$ 1.050,00). Porém, considerando que o
responsável pelo superfaturamento de quantidade é o fiscal da obra
e que o responsável pelo superfaturamento de preço é o engenheiro
orçamentista, há duas formas de imputar débitos aos responsáveis:

Pode-se calcular primeiro o superfaturamento de quantidade e

depois o de preço. Assim, o fiscal responde por 30 unidades medidas a
mais pelo preço contratual de R$ 20,00. Ou seja, um débito de R$ 600,00.
Por sua vez, o orçamentista responde pelo sobrepreço de R$ 5,00 nas
70 unidades efetivamente executadas, equivalente a um débito de R$
350,00. O Total do superfaturamento imputado será de R$ 950,00.

De outra forma, pode-se calcular primeiro o superfaturamento

de preço e depois o de quantidade. O orçamentista responderá pelo
sobrepreço de R$ 5,00 nas 100 unidades medidas e pagas (R$ 500,00).
O Fiscal responderá pelo desvio considerando-se as 30 unidades não
executadas vezes o preço paradigma de R$ 15,00 (R$ 450,00). O total do
superfaturamento imputado também será de R$ 950,00.

Os dois critérios parecem igualmente plausíveis, e em ambos

os casos há a mesma imputação do débito total de R$ 950,00, mas
em cada um deles, o orçamentista e o fiscal estão sendo penalizados
individualmente por quantias diferentes.

Há uma solução jurídica de se adotar a menor parcela

individualmente para cada um dos responsáveis, R$ 350,00 para o
orçamentista e R$ 450,00 para o fiscal. Assim, o débito total imputado seria
de R$ 800,00. Os R$ 150,00 restantes seriam imputados solidariamente
ao orçamentista e ao fiscal.

Portanto, a melhor forma de ver o assunto é considerar que o fiscal,

quando em conluio com o contratado, decide desviar R$ 600,00. Ao
medir a mais, ele sabia exatamente qual o dano que estava causando ao
Erário. Enquanto isso, o orçamentista não tinha qualquer controle com
o que estava acontecendo.

Por isso, entende-se que o orçamentista não pode  responder por

algo sobre o que ele não tinha qualquer controle (nem ciência, talvez).
Já o fiscal, ao medir a mais, sabia (ou poderia saber) exatamente o
prejuízo que seu “erro” causaria por esse ato (no caso, 30 x 20,00). Assim,
considera-se que a primeira opção de imputar débito aos responsáveis é,
em regra, a mais adequada.

[ 14 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

3. Tipos de Superfaturamento

O superfaturamento é um conjunto de práticas que tornam,

injustamente, mais onerosa a proposta ou a execução do contrato para a
Administração Pública, conforme os incisos I, IV e V do Art. 96 da Lei
nº 8.666/93.

“Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação

instaurada para aquisição ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato
dela decorrente:

I - elevando arbitrariamente os preços;

II - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada

ou deteriorada;

III - entregando uma mercadoria por outra;

IV - alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria

fornecida;

V - tornando, por qualquer modo, injustamente, mais onerosa a

proposta ou a execução do contrato:

Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.”

Na execução de obras públicas, o superfaturamento pode ser

causado pelos seguintes fatores:

• pela medição de quantidades superiores às efetivamente

executadas/fornecidas;

• pela deficiência na execução de obras e serviços de engenharia

que resulte em diminuição da qualidade, vida útil ou segurança;

• pelo pagamento de obras, bens e serviços por preços

manifestamente superiores aos praticados pelo mercado ou
incompatíveis com os constantes em tabelas referenciais de
preços;

• pela quebra do equilíbrio econômico-financeiro inicial do

contrato em desfavor da Administração por meio da alteração
de quantitativos (jogo de planilha) e/ou preços (alterações de
cláusulas financeiras) durante a execução da obra;

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 15 ]

 • pela alteração de cláusulas financeiras gerando recebimentos
contratuais antecipados, distorção do cronograma físico-
financeiro, prorrogação injustificada do prazo contratual
com custos adicionais para a Administração Pública ou
reajustamentos irregulares.

Cálculo do Superfaturamento de Quantidade

Refere-se ao valor pago em excesso devido aos quantitativos

executados em menor quantidade do que os medidos e efetivamente
pagos pela Administração Pública.

Para o cálculo dessa parcela, utiliza-se o somatório das diferenças

entre os quantitativos medidos e os levantados pelo auditor de obras,
mediante análise documental ou mediante vistoria da obra, multiplicados
pelos preços cobrados.

em que

QM = Quantidade de serviços medidos ou pagos

Atenção! QP = Quantidade de serviços efetivamente executados
PM = Preço unitário dos serviços medidos ou pagos
SFQ = Superfaturamento devido à quantidade e qualidade

É importante ter em mente que as análises aqui propostas não

se restringem a meros cálculos matemáticos e financeiros, sendo vital
a depuração dos dados em função da natureza técnica do serviço
questionado. O bom senso e a boa técnica sugerem que não se pode ter o
mesmo grau de rigor na medição das quantidades de postes e do volume
de concreto de fundações profundas, uma vez que a precisão obtida nas
duas medidas invariavelmente é diferente.

Os valores unitários dos serviços de uma obra são calculados

considerando-se o critério de medição dos serviços, o qual necessariamente
deve constar nas especificações técnicas pré-estabelecidas no memorial
descritivo e/ou nos cadernos de encargos oficialmente adotados pela
Administração. A finalidade é orientar previamente os licitantes sobre
as regras que serão seguidas pela fiscalização durante a execução do
contrato.

[ 16 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

 Essas informações necessariamente serão consideradas e
incorporadas nas composições de custos das propostas, definindo a justa
relação entre os encargos do contratado e a sua remuneração financeira.
Porém, algumas lacunas frequentemente observadas nos memoriais
descritivos e cadernos de encargos dão margem a pagamentos indevidos
pela adoção de critérios de medição distintos entre o efetivamente
realizado pela fiscalização e o considerado no cálculo das composições
de custo.

Como exemplo didático, pode-se citar um caso de reforma de

telhado de edificações. O cálculo da composição normalmente é realizado
considerando a projeção do metro quadrado de telhas substituídas para
uma inclinação pré-estabelecida do telhado. Se em nenhum documento
oficial encontra-se descrito esse critério de medição a ser adotado, a
empresa pode vencer a licitação utilizando o metro quadrado de projeção
como critério de medição. Após o serviço executado, a empresa pode
discutir, administrativa ou judicialmente, a adoção da metragem sobre a
área efetiva e não sobre a projeção da área de telha trocada, alterando o
equilíbrio-econômico financeiro a favor dela.

Percebe-se que, em pequenos detalhes, muitas vezes de difícil

percepção, principalmente quando as composições de custos não
estão perfeitamente detalhadas, abrem-se margens ao uso de artifícios
que possibilitam desequilibrar indiretamente as cláusulas financeiras,
mesmo sem modificar os preços contratuais do serviço.

Cálculo do Superfaturamento de Qualidade

Trata-se, sem dúvida alguma, da modalidade de superfaturamento

mais difícil de ser quantificada. Uma forma de ver o problema é por
meio de uma análise indireta relativa à qualidade, isto é, a conversão de
aspectos qualitativos em quantitativos que terão reflexo financeiro. Nesse
caso, o foco está na qualidade ou conformidade dos materiais e serviços
com as especificações, memoriais, planilhas e outros documentos do
contrato.

Haverá ainda outros casos relativos a problemas de qualidade.

Serviços executados em desconformidade com as normas técnicas
e práticas de boa engenharia serão de difícil mensuração. Assim, os
aspectos qualitativos da obra não passíveis de mensuração em termos
quantitativos deverão ser abordados apenas de forma descritiva e
fartamente ilustrados com fotografias comprobatórias dos defeitos
apontados.

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 17 ]

 Podem-se adotar os seguintes métodos para quantificar o
superfaturamento de qualidade:

Conversão em superfaturamento de quantidade. Nos casos em

que houver comprovadamente substituição de serviços por outros de
qualidade inferior, os itens substituídos terão a quantidade levantada na
fiscalização desconsiderada, por não terem sido executados. Os serviços
executados com qualidade inferior ou sem atender ao especificado no
edital poderão ter os quantitativos efetivamente executados considerados
pela equipe de auditoria, desde que a qualidade inferior ou o não
atendimento da especificação técnica não comprometa a durabilidade,
destinação ou viabilidade do empreendimento.

Custo de reparo ou refazimento dos serviços defeituosos. Em

diversas situações, a conversão do superfaturamento de qualidade
em superfaturamento de quantidade mostra-se insuficiente para
quantificar todos os prejuízos da administração pública. É o caso de
um pilar executado em concreto com resistência a compressão inferior
ao especificado no cálculo estrutural, tornado-se necessária a execução
de um serviço de reforço estrutural mediante aumento da seção
transversal do pilar defeituoso. Neste caso, o custo desse serviço pode
ser muito superior à diferença de preços entre concreto especificado e o
efetivamente executado. Poderia inclusive ser necessária a demolição da
estrutura e seu completo refazimento.

Perda econômica decorrente da redução da vida útil. Em outros

casos, não foi o material utilizado que deu causa ao superfaturamento
de qualidade, mas foi a própria execução do serviço que causou a não-
conformidade. É o exemplo de uma rodovia cujo índice de irregularidade
longitudinal ficou excessivamente elevado, causando uma redução de
sua vida útil. Pode ser também o caso do pilar de concreto do exemplo
anterior, em que não foi necessário fazer o reforço estrutural, mas o
aumento da porosidade do concreto causará uma redução na vida útil
da estrutura. O problema deste método é estabelecer algum parâmetro
objetivo entre a perda da vida útil e a não-conformidade observada na
execução do serviço.

Valor presente líquido da perda de receita decorrente da

menor qualidade. É um critério objetivo e fácil de ser utilizado nos
empreendimentos que geram receita e tiveram que ter as atividades
suspensas para reparo de serviços ou instalações não-conformes. Por
exemplo, seria o critério adotado quando um pequeno detalhe ou
componente de uma usina hidroelétrica causa a paralisação da geração
de energia por um prolongado período.

[ 18 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

 Superfaturamento por Sobrepreço Final

Superfaturamento por sobrepreço final ocorre quando há ônus ilegal

à Administração Pública pelo pagamento dos serviços especificados em
contrato com preços superiores aos de mercado.

A análise de superfaturamento por sobrepreço final requer

necessariamente a comparação entre os preços contratados com preços
de referência, estes atribuídos como valores justos de pagamento pela
Administração.

Para o cálculo dessa parcela utiliza-se o somatório das diferenças

entre os preços medidos e os preços tomados como paradigma,
multiplicando-se pelos quantitativos levantados no exame da obra.

Onde:

QP = Quantidade de serviços efetivamente executados

PM = Preço Unitário dos serviços medidos ou pagos

PP = Preço unitário de referência

SFPT = Superfaturamento por sobrepreço final.

No caso em que o percentual calculado como sobrepreço seja

irrisório, em face das imprecisões intrínsecas da ciência da orçamentação,
considera-se não haver sobrepreço global, salvo casos justificados
tecnicamente.

No entanto, a ocorrência de superfaturamento não está descartada.

Se o percentual calculado como sobrepreço global for baixo entende-se
que é uma região de dúvida e que deverá ser feita uma nova análise de
preços unitários para verificar o sobrepreço/desconto original de algum
item específico, em busca, inclusive, de potenciais serviços causadores
de jogo de planilha. Por exemplo, determinado contrato pode ter sido
licitado com um desconto inicial de 20% em relação ao orçamento
paradigma. Após aditivos, pode ficar com um percentual de sobrepreço
de 2% em relação ao orçamento paradigma. Dessa forma, embora o
percentual de sobrepreço global seja aceitável, houve superfaturamento
em decorrência do desequilíbrio econômico-financeiro do contrato
contra a administração.

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 19 ]

 Assim, deverá ser chamada a atenção textualmente para os itens
em que forem verificados preços unitários divergentes em mais ou
menos 30% aos preços médios de mercado, considerados assim preços
unitários extremos, ou naqueles em que uma análise estatística mais
apurada aponte irregularidades.

Essa mesma análise deverá ser realizada para verificar se já não

havia sobrepreço no início do contrato, independentemente da sua
execução (medições), identificado como sobrepreço original, realizando
o somatório da diferença entre os preços contratados e de referência
multiplicados pelas quantidades contratadas, análogo às equações
anteriores. Todas essas análises devem levar em consideração as
peculiaridades técnicas e financeiras da obra em análise.

Mesmo quando pela metodologia proposta não for caracterizada a

prática de sobrepreço, é fundamental apresentar o percentual encontrado
de modo a subsidiar as análises de superfaturamento por jogo de planilha.

Calculo do Superfaturamento por Jogo de Planilha

Já apresentamos as formas de calcular este tipo de dano na segunda

aula do módulo 2. O superfaturamento por desequilíbrio econômico-
financeiro ou jogo de planilha ocorre quando há o rompimento do
equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato em desfavor
da Administração por meio da alteração das cláusulas de serviço
(mudanças de quantitativos, inclusões ou exclusões de serviços etc.) e/
ou das cláusulas financeiras (mudanças de preços dos serviços, prazos
de pagamento, reajustamentos etc.) durante a execução da obra.

Superfaturamento por Alteração de Cláusulas Financeiras

Alterações entre os valores contratados e pagos somente poderão

ocorrer nos seguintes casos:
Reajustamento: é a atualização do valor contratual em face da
inflação pela aplicação nas parcelas devidas de índices setoriais que
refletem com mais exatidão a variação de preços.

Atualização: é a atualização financeira das parcelas do contrato

pagas pela Administração com atraso.

Compensação e penalização: são as compensações financeiras e as

penalizações cobradas pela Administração ao contratado por eventuais
atrasos de execução da obra ou de suas parcelas, a fim de compensar
o maior tempo sem a sociedade usufruir do empreendimento e dos
acréscimos dos custos de fiscalização.

[ 20 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

 Desconto: é o abatimento financeiro pelo pagamento antecipado
de parcelas devidas pela Administração.

Recomposição: repactuação do contrato, por acordo entre as

partes, nas condições estipuladas pela alínea “d” do inc. II do art. 65, da
Lei 8.666/93.

Apresentaremos, nos tópicos a seguir, os principais tipos de

superfaturamento decorrentes de alterações indevidas de cláusulas
econômico-financeiras:

Superfaturamento por Recebimentos Contratuais Antecipados

Os artigos 62 e 63 da Lei nº 4320/64 definem que os pagamentos

somente poderão ser efetuados após a regular liquidação de despesa.
Portanto, é vedada a antecipação de pagamentos no contratado sem
que haja a efetiva comprovação da prévia contrapartida, salvo em casos
excepcionais, conforme Acórdão TCU nº 606/2006 - Plenário, “mediante
as indispensáveis cautelas ou garantias, efetuando-se, posteriormente,
os respectivos descontos nos créditos da empresa contratada em valores
atualizados na forma do contrato”. Ainda, conforme Acórdão TCU nº
1.442/2003 - Plenário:

Quanto ao pagamento antecipado, forçoso reconhecer que ele não é

vedado pelo ordenamento jurídico. Em determinadas situações ele pode
ser aceito. Mas esta não é a regra. Ordinariamente o pagamento feito pela
Administração é devido somente após o cumprimento da obrigação pelo
particular... Julgo mais adequado condicionar a possibilidade de pagamento
antecipado à existência de interesse público devidamente demonstrado,
previsão no edital e exigência de garantias.

Realmente a possibilidade de pagamentos antecipados encontra-se

prevista no art. 40, inc. XIV, alínea “d” da Lei 8.666/93. Entretanto, não
tão raramente percebem-se pagamentos antecipados não previstos em
edital sem a prévia contrapartida do contratado, os quais representam
diminuição da parcela de custos financeiros da empresa inicialmente
previstos para a realização do objeto contratual, estes normalmente
alocados na composição do BDI. Tal prática, mesmo que o serviço
seja prestado em período posterior ao seu pagamento, fere a própria
legislação e resulta em aumento da margem de lucro da empresa por
ganhos financeiros em detrimento da Administração, provocando
irregularmente um desequilíbrio econômico-financeiro no contrato em
favor da empresa. Mesmo que haja a prévia comprovação da prestação
do serviço, a Administração tem por lei até 30 (trinta) dias para efetuar
o pagamento da despesa e os custos financeiros relativos a esse prazo

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 21 ]

 devem ser considerados pelas empresas na composição do seu BDI.
Portanto, quando a Administração eventualmente efetuar o pagamento
antes desse prazo, pode realizar descontos previstos em edital, consoante
art. 40, inciso XIV, alínea “d”, a fim de manter o equilíbrio econômico-
financeiro pactuado.

Para se calcular essa parcela de superfaturamento, a princípio deve-

se estabelecer o período de tempo entre a antecipação do pagamento e
a data da devida cobrança. Definido esse período, será então necessário
estabelecer qual a aplicação financeira a ser considerada.

Assim, o superfaturamento devido a recebimentos contratuais

antecipados (SFra) será calculado com a definição do valor antecipado,
do período até o momento em que cessar a antecipação e da aplicação
financeira pertinente. Poderão ser calculadas várias parcelas, uma vez
que pode ocorrer mais de uma antecipação no mesmo contrato.

Superfaturamento por Distorção do Cronograma Físico-

Financeiro

Outra forma de a empresa antecipar recebimentos é apresentar,

na época da licitação, proposta com preços unitários superiores ao do
mercado nos serviços a serem executados inicialmente, compensando-
os com reduções significativas nos preços dos serviços a executar no
final do contrato, de forma a manter o valor global do contrato dentro
dos valores de mercado. Isso vai provocar uma distorção no cronograma
físico-financeiro da obra. Tal desequilíbrio entre valor pago e serviço
prestado no início do contrato propicia ao contratado auferir ganhos
financeiros à custa da Administração e, até mesmo, após executar os
serviços que lhe beneficiam, paralisar a obra sob a alegação dos serviços
restantes encontrarem-se em desequilíbrio econômico-financeiro.

Para o cálculo da eventual parcela do superfaturamento por

distorção do cronograma físico-financeiro é necessário um balanço
de diferenças entre o devido e o pago, descontado o superfaturamento
de quantidades e qualidade. Na prática, os efeitos desse artifício são
pequenos mesmo com grandes distorções.

O real perigo é que isso seja um aviso de que a contratada vai

abandonar a obra ou querer aditivos alterando os itens desfavoráveis.
Caso faça isso, o dano deverá ser detectado pelas análises de sobrepreço e
jogo de planilha. Se essa modalidade de superfaturamento for detectada
no início da execução física ou ainda na fase de licitação, cabe determinar
a revisão do contrato ou do edital de licitação.

[ 22 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

 Superfaturamento por Reajustamentos Irregulares de Preços

O reajustamento contratual está previsto no artigo 40, inc. XI da

Lei nº 8.666/93, cujo critério a ser adotado no contrato deverá constar
no edital e “retratar a variação efetiva do custo de produção, admitida
a adoção de índices específicos ou setoriais, desde a data prevista para
apresentação da proposta, ou do orçamento a que essa proposta se
referir, até a data do adimplemento de cada parcela”.

Ressalta-se que há expressa proibição legal da concessão de

reajustes em prazo inferior a 12 meses, contados a partir da data prevista
para apresentação da proposta, ou do orçamento a que ela se referir.

Portanto, pode ocorrer a prática de pagamentos indevidos por

reajustamento em prazo inferior a um ano. Mais grave torna-se quando
não há previsão de reajustamento explícito no edital, motivo que pode
induzir as empresas a considerarem em seu BDI um acréscimo para
compensar o inexistente reajustamento anual, o qual é usualmente
praticado pela Administração.

Outra forma de possível desequilíbrio econômico-financeiro é a

adoção de critérios de reajustamento com índices que não reflitam da
melhor forma a variação dos custos do objeto contratado. Exemplos
seriam desde a aplicação de índices não condizentes com o objeto
em execução, como o uso de indicadores de variação dos preços de
combustível para reajuste de contratos de serviços de escavação e
transporte, até o uso de indicadores médios de inflação quando melhor
seria aplicar índices setoriais, por exemplo, o uso do IPC ao invés do
INCC para contrato de obras de construção civil.

Mesmo que o índice de reajustamento usado seja correto, é

necessário verificar nos contratos de longa duração se o índice realmente
tem conseguido refletir a variação de preços do mercado. Por isso, faz-se
necessário um teste comparativo entre o preço reajustado do contrato e
o preço de mercado do serviço à época do pagamento com a finalidade
de verificar um possível desequilíbrio econômico-financeiro.

Nesse sentido, houve manifestação do TCU, por meio da Decisão

nº 1.045/2000 sobre o assunto:

“(...)Chegamos à conclusão de que o contrato sofreu desequilíbrio

econômico financeiro devido a dois fatores, o primeiro devido à aplicação
de um índice único de reajuste, e segundo devido ao grande lapso de
tempo, quase três anos, ocorrido entre a contratação e o efetivo início das

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 23 ]

 obras, com o agravante deste espaço temporal ser imediato à implantação
do Plano Real, no qual ocorreram expressivas variações de preços não
necessariamente captadas por índices genéricos de atualização monetária.
Este eventual descompasso entre os preços praticados hoje e aqueles
existentes quando da contratação é em nosso entender um fato se previsível,
pois após um longo processo inflacionário é natural que haja mudanças de
preços, inclusive para menos, devido às novas condições econômicas em
que o processo produtivo resta inserido, de consequências incalculáveis,
pois a quantificação prévia da variação de preços de insumos não é de
forma alguma possível.

Cabe lembrar que a problemática neste ponto relatada, não

necessariamente estaria solucionada caso adotássemos índices adequados
de correção monetária, haja vista trabalharem os índices de correção com
uma gama muito vasta de produtos e que um específico produto pode não
ter sua variação de preços efetivamente demonstrada pelo índice, produto
este que pode ter participação significativa em determinado instrumento
contratual, como tubulação no presente caso, afetando o equilíbrio
econômico financeiro da avença. Isto posto, propomos seja determinado
ao responsável a reavaliação dos preços praticados no Contrato 055/94 de
modo a compatibilizá-los com aqueles praticados no mercado, nos termos
da Lei 8.666/93, art. 65, inciso II, alínea “d”.

(...) o desequilíbrio do contrato é uma realidade, sendo adequada

a determinação proposta para a reavaliação dos preços praticados no
Contrato 55/94; - tal reavaliação deve, necessariamente, objetivar o
ressarcimento ao Erário do prejuízo causado pela utilização de preços
injustificadamente altos, sendo que a não reavaliação desses preços deve
ser causa de instauração de tomada de contas especial; (...)”

Portanto, não se admite que os preços dos serviços extrapolem

os preços de mercado, mesmo que causados pelos reajustamentos
corretamente previstos contratualmente. Os preços devem, pois, durante
toda a execução do contrato, estar em consonância com os preços
praticados no mercado, bem como atender às variações toleráveis nos
preços, conforme previsão nos editais correspondentes, de forma a
manter o equilíbrio econômico-financeiro inicialmente pactuado. O
cálculo necessitará de análises anuais nas datas-bases do contrato e sua
comparação com preços de mercado e os índices devidos. Mais uma vez,
pequenas variações devem ser toleradas de forma a não caracterizar um
dano efetivo e sim margem de segurança das imprecisões intrínsecas a
qualquer método de avaliação.

[ 24 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

 Cálculo da parcela relativa ao superfaturamento por alteração
de cláusulas financeiras

Ao final, todas essas eventuais parcelas somadas representarão o

superfaturamento devido à alteração de cláusulas financeiras (SFCF):

SFCF = SFRA+ SFDC + SFRI

Onde:

SFCF é o superfaturamento total devido à alteração de cláusulas

financeiras

SFRA é o superfaturamento por recebimentos contratuais

antecipados

SFDC é o superfaturamento por distorção do cronograma físico-

financeiro

SFRI é o superfaturamento decorrente de reajustes irregulares

Calculo do Superfaturamento Total

O superfaturamento total é calculado pela soma das parcelas

devidas às quantidades e qualidade, aos preços, ao jogo de planilha e às
alterações de cláusulas financeiras, calculadas para a data-base definida,
conforme a existência e pertinência de cada uma delas, analisadas
separadamente nos itens anteriores:

SF = SFQ +SFP + SFJP + SFCF

Em termos percentuais, o superfaturamento total pode ser expresso:

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 25 ]

 Síntese

Nesta aula, apresentamos alguns dos métodos de cálculo do

sobrepreço bem como algumas das particularidades envolvidas.
Concluímos que não existe um método geral aplicável a todas as
situações. Pelo contrário, existem alguns métodos que são mais bem
aplicados a determinadas situações em concreto do que outros.

Vimos que o método da limitação dos preços unitários ajustado

é a melhor opção quando estamos analisando uma obra que ainda
se encontra na fase licitatória e será executada no regime de preços
unitários. Por outro lado, o método da limitação do preço global é o
método aplicado com mais frequência pelo Tribunal quando já existem
contratos celebrados. Em situações em que ocorreram aditamentos
contratuais, sempre se deve empregar o método do desconto.

Também apresentamos os tipos de superfaturamento e discorremos

brevemente sobre como calcular cada uma destas parcelas. Vimos
como calcular o superfaturamento de preços, o superfaturamento de
quantidade, o superfaturamento de qualidade, o superfaturamento
decorrente do jogo de planilha e o superfaturamento decorrente de
alterações das cláusulas econômica-financeiras.

Concluímos esta aula convidando-os a utilizarem o fórum para

comentários e esclarecimentos de dúvidas.

[ 26 ] AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

Referências bibliográficas

Acórdão TCU nº 1.551/2008 – Plenário.

Acórdão TCU nº 606/2006 – Plenário.

Acórdão TCU nº 1.442/2003 – Plenário.

Decisão TCU nº 1.045/2000 – Plenário.

TCU, Roteiro de Auditoria de Obras Públicas, Brasília, 2010.

Aula 6: Métodos de Cálculo do Sobrepreço e Tipos de Superfaturamento [ 27 ]