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13/06/2018 Fichamento: Amado Cervo e Clodoaldo Bueno | História da Política Exterior do Brasil

– 1952: Delimitação de área de exploração pela Comissão Mista Brasileiro-


boliviana de Petróleo

– 1952: Assinatura de Carta Reversal, em que o Brasil enviaria 4 milhões de


dólares para a Comissão

– 1955: Bolíva repôs a questão ao presidente Café Filho, Brasil recebe


“Memorandum Paz Estenssoro”

A Bolívia pedia ao Brasil uma rápida definição sobre a exploração do petróleo


pela Comissão Mista Brasil-Bolívia. Numa atmosfera de crítica, tanto em La
Paz quanto no Rio, o embaixador do Brasil acreditado na capital boliviana,
Teixeira Soares, propôs a negociação global das relações entre os dois países,
aceita por Siles Suazo, o novo presidente da Bolívia.

Foram assinadas 31 cartas reversais, que não favoreciam o Brasil, segundo os


nacionalistas.

Conclusões

A Política Externa Brasileira ganhou notoriedade nos planos externo e


interno, no momento em que propôs a OPA
Assentaram-se as bases para a PEI
Despertara interesse nacional em razão, sobretudo, do seu
desenvolvimento econômico e da inauguração de Brasília
Esforços em divulgar o país externamente, por meio de serviços ligados à
difusão cultural, acordos culturais e turismo
Batalhão de Suez, Força Expedicionária das Nações Unidas, I Assembleia
Especial da ONU, para atuação na Faixa de Gaza
O Brasil apoiou, na ONU, o princípio de autodeterminação dos povos

A Política Externa Independente do apogeu do populismo (1961-1964)

A política exterior inaugurada por Jânio Quadros possuía um caráter


pragmatista, pois buscava os interesses do país sem preconceitos ideológicos;
e, para melhor consecução desses objetivos, adotava postura independente
em face de outras nações que tinham relacionamento preferencial com o
Brasil. A PEI, calcada no nacionalismo, não só ampliou a política de JK em
termos de geografia, como também enfatizou as relações Norte-Sul. O

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nacionalismo, aliás, foi elemento importante na campanha presidencial de


1960 e, nesta, as posições de Jânio em matéria de política exterior aglutinavam
as principais tendências políticas nacionais.

O governo que inaugurou a nova política externa teve a intenção de promover


a abertura para a África e concomitante afastamento, na ONU, das posições
de Portugal salazarista, que praticava o colonialismo. A busca de maior
liberdade de movimentos no concerto internacional foi acompanhada de um
componente de frieza nas relações com os EUA. Isso foi ressaltado como um
aspecto negativo da PEI, pois o país não podia prescindir da colaboração
norte-americana, pois o relacionamento com a URSS era, de certa forma,
precário.

Alinham-se com os fundamentos da PEI = Política Nacional de


desenvolvimento

Mundialização das relações internacionais do Brasil, isto é, não


circunscrevê-las às Américas e à Europa Ocidental
Atuação isenta de compromissos ideológicos, não obstante a afirmação de
que o Brasil faz parte do Ocidente
Ênfase na bissegmentação do mundo entre Norte e Sul e não Leste-Oeste
Busca da ampliação das relações internacionais do Brasil com objetivos
comerciais, o que explica a procura da Europa Oriental e do Oriente
Desejo de participação nas discussões internacionais
Luta pelo desenvolvimento, pela paz e pelo desarmamento
Adoção de posição claramente contrária à realização de experiências
nucleares
Adoção dos princípios da autodeterminação dos povos e da não-
intervenção
Aproximação com a Argentina em nível mais elevado do que então já se
encontrava

Jânio Quadros (31 de janeiro / 25 de agosto de 1961)

As concepções de Jânio em matéria de política externa não se esgotam,


todavia, no seu aspecto econômico, pragmático, ligado ao desenvolvimento.
Os princípios de autodeterminação e da não intervenção seriam o norte das
relações do Brasil no contexto hemisférico e mundial. Assim, na questão de
Cuba, defendia o direito à sua soberania.

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Para Jânio, o apoio que o Brasil dera até então ao colonialismo na ONU fora
‘uma equivocada posição’, que suscitava ‘um descrédito justificável da
política brasileira’. O Brasil deveria ser o elo entre a África e o Ocidente.

Europa Oriental

As exportações para os países do bloco soviético aumentam, bem como as


importações provenientes de lá. Em 1961, o Brasil restabelece relações
diplomáticas com a Hungria, a Romênia, Bulgária e Albânia, interrompidas
na Segunda Guerra.

A missão de João Dantas foi bastante frutífera e deixou um saldo de 7


acordos, com diferentes países, que visavam a troca de matérias-primas por
produtos industriais (café, algodão à produtos químicos e máquinas
agrícolas).

URSS e China

URSS: Criação de delegações comerciais permanentes em Moscou e no Rio,


aumentando para 8 milhões de dólares o limite de crédito técnico e
possibilidade de mútua concessão de crédito.

China: envio de missão comercial, chefiada por Jango.

Nações afro-asiáticas

O ministro das relações exteriores, Afonso Arinos, concebia que ao Brasil –


pelas suas características étnicas e culturais – estava reservada o papel de
destaque no mundo afro-asiático, integrado por nações subdesenvolvidas,
muitas delas recém-saídas do estatuto colonial.

Brasil, na ONU, prometia adotar linha própria de apoio ao anticolonialismo e


afastamento da delegação portuguesa, nesse aspecto.

A política de Jânio, entretanto, sofreu críticas, principalmente, no concernente


à abstenção do voto brasileira na ONU em relação à questões angolanas e
argelinas.

O contexto hemisférico

País Acordo / Contexto

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EUA 1961: III Acordo sobre Produtos Agrícolas – empréstimo


pelos EUA para aplicação em programas de
desenvolvimento, sendo 20% para o Nordeste
Cuba Brasil não apoia os EUA quando este país interveio em
Cuba.
Argentina Acordo cultural, duas declarações (econômica e política)
e o Convênio de Amizade e Consulta pelo qual se
instituiria um sistema de troca de informações e
coordenação da atuação internacional.1961: começou a
se reunir o Grupo Misto de Cooperação Industrial Brasil-
Argentina, criado em 1958
República 1961: Interrupção das relações diplomáticas, mas não
Dominicana consulares, em decorrência de decisão da VI Reunião de
Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das
Repúblicas Americanas.
Aliança para o Progresso

O governo norte-americano prometeu destinar 20 bilhões de dólares à Aliança


para serem empregados em programas de desenvolvimento da América
Latina no decorrer dos então próximos dez anos. O governo cubano não
subscreveu a carta e Che Guevara recebe a ordem do cruzeiro do sul em
Brasília.

O Plano de Cooperação econômica norte-americano contido na Aliança


corresponde a uma resposta à aceitação da Operação Pan-Americana
formulada por JK.

Aliança para o Progresso e Plano Marshall: menor quantidade do fluxo de


recursos, mas também porque promoveria ‘utilização melhor das
capacidades’ da economia norte-americana, então com desemprego e excesso
de produtos alimentícios.

Reação interna e continuidade

A administração Jânio Quadros assumia duplo caráter, cujos elementos eram


aparentemente conflitantes. No plano interno, a ortodoxia adotada para
estabilizar a economia, bem como outras medidas administrativas, eram de
natureza conservadora. No externo, por tudo que foi exposto até aqui, a
administração mostrava-se avançada, o que agradava às esquerdas e aos
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nacionalistas. Com efeito, em razão do seu estilo próprio de governar, Jânio


apresentou sua política externa de modo que lhe rendesse dividendos
políticos internos.

Jânio defendeu:

A revolução cubana
Reatamento com a URSS
Visitou Cuba

Sua política externa desagradou a UDN e às lideranças conservadoras com


grande poder de fogo, como Carlos Lacerda. Embora a crise política no
governo Jânio tenha acarretado os rumos do país, o mesmo não aconteceu
com a Política Externa.

San Tiago Dantas deu continuidade à PEI.

João Goulart-Parlamentarismo (7 de setembro de 1961/ 31 de março de 1964)

San Tiago Dantas

Não obstante fosse oposicionista, fora designado por Jânio Quadros para
chefiar a embaixada junto à ONU. Implantado o parlamentarismo no Brasil,
assumiu o MRE sucedendo a Afonso Arinos. Não só deu continuidade à PEI,
como se tornou um dos mais importantes formuladores dela. A PEI, de início,
fora um critério geral e tinha as seguintes diretrizes:

Contribuição à preservação da paz, por meio da prática da coexistência e


do apoio ao desarmamento geral e progressivo
Reafirmação e fortalecimento dos princípios de não-intervenção e
autodeterminação dos povos
Ampliação do mercado externo brasileiro mediante o desarmamento
tarifário da América Latina e a intensificação das relações comerciais com
todos os países, inclusive os socialistas
Apoio à emancipação dos territórios não-autônomos, seja qual for a forma
jurídica utilizada para sua sujeição à metrópole

– Política de autoformulação dos planos de desenvolvimento econômico e de


prestação e aceitação de ajuda internacional.

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A ampliação do mercado externo para os produtos brasileiros constitui uma


das preocupações básicas da PEI, vista como necessária para aumentar a
capacidade de importação do país e fazer face ao imperativo de se lhe
aumentar o PNB.

Segundo San Tiago Dantas, o pan-americanismo era um instrumento de luta


pela emancipação econômica e social das nações deste hemisfério, pois estava
ultrapassada sua fase jurídico-política.

Argentina: propunha uma política de cooperação e afeto


Cuba: defendia o princípio da não-intervenção

Cabe ainda ressaltar a adoção de uma posição de independência em relação a


blocos. Com efeito, na ONU, o Brasil prometia votar caso a caso, segundo os
objetivos permanentes da política internacional do Brasil e na defesa de seus
interesses. Tal atitude desinibia o governo brasileiro na procura do que se
designava por normalização das relações comerciais e diplomáticas com todos
os países.

Brasil-Argentina

No contexto hemisfério, a política de San Tiago reafirmou o relacionamento


internacional sem discriminações, contrário a blocos, na base de absoluta
igualdade. As relações com a Argentina tiveram início com Jânio Quadros,
que fora substanciado nos acordos de Uruguaiana, instrumentos de
cooperação que, entre outras coisas, estabeleceram o sistema de consultas
recíprocas.

Em visita a Buenos Aires, San Tiago Dantas assinou junto com o ministro das
RE argentino Miguel Angel Cárcano, uma declaração conjunta (15 de
novembro de 1961), reafirmando os princípios da Declaração de Uruguaiana.
Constava 11 pontos nos quais os dois governos manifestaram concordância a
respeito de questões relativas à ordem internacional, à salvaguarda da
democracia e à promoção do desenvolvimento, entre outros, incluindo
tratados de extradição e assistência gratuita.

Em discurso pronunciado na Academia Nacional de Buenos Aires, San Tiago


Dantas, depois de falar na superação dos antagonismos, afirmou que os
dados econômicos apontavam no sentido da integração. Não só pelo que
tinha de complementar entre as duas economias, mas também pelo que

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representaria a integração dos dois mercados. Brasil e Argentina seriam o


núcleo de um grande mercado latino-americano. A cooperação deveria ser
estendida para a área cultural e científica.

O presidente argentino foi deposto e com isso houve interrupção do espírito


de Uruguaiana e da aproximação iniciada em 1958.

Aliança para o progresso e Estados Unidos

Ao estudar-se a Aliança para o Progresso, não se pode perder de vista que no


Brasil o momento é o do nacional-desenvolvimentismo e do populismo. Não
abriria mão, pois, o país da sua autonomia de planejá-lo e receber apoio
técnico e econômico externo que se conformasse com o planejamento
nacional. A Aliança não produzia os efeitos esperados. Em 1962, o ex-
presidente JK, junto com os ex-presidentes das outras nações latino-
americanas, foram convidados a encontrar os problemas pelos quais
passavam o programa. Foi concluído: Perda de substância do comércio
exterior da América Latina, causa primeira de todos os males que afligem o
continente.

Em visita aos EUA, João Goulart afirmou que a inflação observada nos países
da América Latina decorria ainda da guerra, mas tais países não tiveram a seu
favor nenhum plano de cooperação internacional como tivera a Europa no
período de 1948-1952. Reclamou ainda da deterioração dos termos de troca
entre produtos primários e manufaturados. Acolheu com simpatia a Aliança,
mas ressalvou ter receio à sua execução.

A solicitação de empréstimo para SUDENE, pedido feito por Celso Furtado,


não veio. Diminuíram os investimentos estrangeiros no país e caiu pela
metade, em 1962-1963, a ajuda financeira norte-americana, exceto para Carlos
Lacerda, governador do estado da Guanabara.

O quadro interno brasileiro era difícil, agravado pelo aumento da inflação,


dos déficits públicos e do balanço de pagamentos. San Tiago Dantas, o novo
ministro da Fazenda de João Goulart logo após a abolição do
parlamentarismo, obteve, em março de 1963, em Washington, um crédito de
398,5 milhões de dólares, mas condicionada sua maior parte à adoção de
medidas de controle da economia e saneamento financeiro. Apenas 84
milhões tiveram liberação imediata.

A questão cubana
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Com relação a Cuba, o governo brasileiro manterá atitude de defesa


intransigente do princípio de não-intervenção, e por considerar indevida a
ingerência de qualquer outro estado, seja por que pretexto for, nos negócios
internos.

No Congresso, repercutia a atenção que a opinião nacional dava ao


posicionamento brasileiro em face da nova situação de Cuba e à posição desse
país na comunidade americana de nações. O exame da expulsão do governo
cubano do sistema interamericano foi objeto da VII Reunião de Consulta dos
Ministros das Relações Exteriores, ocorrida em Punta del Este, e convocada
por Resolução do Conselho da OEA. O governo brasileiro não abandonou
nessa reunião os princípios acima aludidos. Sua posição, contudo, foi
conciliatória. Buscou uma solução pacífica que se coadunava, inclusive, com
sua concepção de que a questão cubana situava-se no contexto da Guerra Fria
e, em razão disso, dever-se-ia trabalhar pelo abrandamento das tensões.

San Tiago Dantas propunha a ‘elaboração do estatuto das relações entre Cuba
e o hemisfério e sobre o qual, ouvidas as partes, se pronunciaria o Conselho
da OEA’. Tal solução preservaria o princípio da não-intervenção e, ao mesmo
tempo, poderia ‘como recurso final’ criar ‘condições de neutralização do
regime instaurado em bases jurídicas válidas, semelhantes às que se têm
estabelecido ou proposto em outras áreas do mundo’. Em síntese, a posição
brasileira visaria respeitar o princípio de não-intervenção e ao mesmo tempo,
para a defesa da democracia no continente, neutralizar o regime cubano por
meio de um estatuto que regulasse as suas relações com o restante da
América.

Pressões internas, inclusive de ex-ministros, para o rompimento de relações


diplomáticas com Cuba.

Apesar de San Tiago Dantas ter se sentido vitorioso pelo que se deixou de
cotar na VIII Reunião de Consulta e por esta ter reconhecido que
reivindicações sindicais não deveriam ser confundidas com movimento
comunista, o fato é que a proposta brasileira não teve acolhida, e Cuba foi
excluída da OEA. O voto do Brasil foi de abstenção, juntamente com os da
Argentina, México, Chile, Equador e Bolívia.

San Tiago definiu perante a VIII Reunião a posição do Brasil, de cujos


principais pontos se destacam:
Reiteração da necessidade do fortalecimento da democracia na sua
competição com o comunismo internacional
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Defesa da posição de que a questão não era de invocação do Tratado do


Rio de Janeiro
Afirmação de que não se lutasse contra o subdesenvolvimento e por uma
melhor distribuição social da riqueza
Preocupação com a paz mundial e o consequente desejo de contribuir para
a diminuição da tensão internacional.
Reafirmou que o isolamento levaria Cuba ainda mais para o bloco sino-
soviético pela falta de contato político, econômico e cultural com o
Ocidente
Reforçamento de vínculos já existentes

A posição brasileira era conciliadora, até porque tratava da necessidade de se


preservar o continente de outra forma de intervenção, a de infiltração
ideológica ou subversiva.

Boa parte da imprensa nacional não se mostrava favorável ao rumo da


revolução cubana, contrário aos princípios democráticos, mas apoiou a
posição da chancelaria brasileira na defesa da não-intervenção e da
autodeterminação dos povos, mesmo porque, se o Brasil divergiu quanto às
sanções à Cuba, fechou com o restante das representações americanas na
condenação do comunismo internacional.

San Tiago Dantas, em discurso, reiterou que a saída de Cuba da OEA não
interferiria em sua organização interna, uma vez que seus laços ideológicos
encontravam-se na URSS.

A questão de Angola

Afonso Arinos, chefe da delegação junto à ONU, defendeu que a posição


brasileira era contra o anticolonialismo, mas também, possuía laços de
amizade que o ligavam a Portugal.

A representação brasileira, assim, reiterava os termos da amizade portuguesa


e ao mesmo tempo apoiava Angola na busca da sua autodeterminação.

A opinião de San Tiago Dantas a respeito da independência de Angola era


moderada. Conciliar o princípio da autodeterminação dos povos, bem como
manter laços históricos com Portugal era difícil, no quadro conjuntural.

O restabelecimento de relações diplomáticas com a URSS

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O reatamento das relações com a URSS foi um dos assuntos mais polêmicos,
junto com a defesa de Cuba, na PEI. A aproximação teve sequencia na
primeira gestão de Afonso Arinos e culminou com San Tiago, quando em
1961, foram restabelecidas, interrompidas em 1947. Ambas as missões tiveram
categoria de embaixada.

Isso decorria da universalização das relações internacionais do Brasil,


necessária à ampliação do mercado para os seus produtos e, também, da
intenção de contribuir para a coexistência e, com esta, para a causa da paz.

O comércio do Brasil com a URSS, no período de 1959 a 1961, teria sido


inexpressivo e deficitário.

A PEI não negava a importância dos EUA para as relações comerciais e para a
cooperação econômica brasileiras, conforme explanou San Tiago Dantas para
a Câmara dos Deputados. Mas, os rótulos, a simbologia, o antiamericanismo –
que agradava ao nacional-populismo-desenvolvimentista-, ficaram associados
à PEI.

Conferência do Desarmamento em Genebra

Brasil e México foram escolhidos pela ONU para integrar a Comissão de


Desarmamento, representando os respectivos segmentos continentais. Ambos
países adotaram ‘posição de equidistância’ no conflito Leste-Oeste.

O Brasil ‘em lugar do binômio desarmamento e inspeção, propôs o trinômio


desarmamento, inspeção e reconversão econômica’.

Afonso Arinos solicitou a guerra contra a guerra, que só pode ser ganha pela
deposição de todas as armas, pelo desarmamento geral e completo. Insistiu no
ponto de vista de que a confiança era indispensável tanto na redação quanto
na execução de um tratado sobre desarmamento.

A última etapa

Após San Tiago Dantas, a pasta foi ocupada novamente por Afonso Arinos,
no curto período de junho a setembro de 1962. San Tiago sofreu tal desgaste
junto aos dois grandes partidos – PSD e UDN -, que a não aceitação do seu
nome para a função de primeiro-ministro deveu-se à sua política externa.

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Em 24 de setembro, Hermes Lima assume a pasta. Logo depois, o sistema


internacional passou por grave momento de tensão em razão da crise dos
mísseis e do bloqueio naval de Cuba determinado por Kennedy. O governo
brasileiro votou favoravelmente ao bloqueio, mas manteve-se contrário à
intervenção militar.

Apesar dos receios que despertou entre os segmentos conservadores, sua


atuação foi moderada. Nos organismos internacionais, destacou-se na defesa
dos países subdesenvolvidos, e nas negociações sobre desarmamento teve
atuação conciliadora. Com referência à África, houve retorno. O anti-
colonialismo restringiu-se à retórica, em favor de uma política cordial com
Portugal, chegando-se mesmo a advogar a tese da independência ordenada
das nações africanas, com a colaboração das nações colonizadoras.

João Goulart teve dois ministros na pasta do Exterior: o jurista Evandro


Cavalcanti Lins e Silva e João Augusto de Araújo Castro. Araújo Castro
atribuía papel relevante à ONU na promoção do desenvolvimento econômico
e social. Os desníveis de riqueza entre desenvolvidos e subdesenvolvidos
eram crescentes. A luta pelo desenvolvimento cabia, inclusive e de maneira
importante, à ONU, cujas atividades, nesse aspecto, deveriam ‘atender a três
áreas prioritárias: a industrialização, a mobilização do capital para o
desenvolvimento e o comércio internacional’.

As relações bilaterais Brasil-Estados Unidos (1945-1964)

É preciso observar que ao longo do período 1945-1964, salvo parte da gestão


João Goulart e outros momentos específicos, manteve-se a tradicional política
de amizade e aproximação entre os dois países. Os desentendimentos
conjunturais não podem encobrir a observação de que as relações que o Brasil
manteve com os EUA foram, sem dúvida, as mais importantes no conjunto de
sua política exterior. Isso porque os norte-americanos continuaram sendo os
principais parceiros comerciais, bem como os maiores fornecedores de
investimentos para o país, que, por isso mesmo, ficava em posição vulnerável
nas suas relações com eles.

As reivindicações do Brasil, decorrentes de sua necessidade de


desenvolvimento, foram o principal item na agenda das suas relações
bilaterais com os EUA durante o período considerado. A insistência na
necessidade da ajuda norte-americana não foi inaugurada na segunda gestão
de Vargas; é observada já na gestão Dutra/Raul Fernandes.

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Quadro síntese

Período Relações com os EUA

Dutra Permaneceu alinhado diplomaticamente, dando


continuidade à aliança havida entre os dois países durante o
segundo conflito mundial.Houve descompasso nas relações
entre ambos, pois o Brasil não viu a colaboração política
traduzida em uma colaboração econômica com ela
compatível ou mesmo próxima do nível de assistência
econômica que os EUA prestavam a outros países.
Vargas Observa-se certa ambiguidade na política do Brasil em
relação ao ex-aliado. Se de um lado firma o acordo militar,
autoriza a exportação de minerais estratégicos e instala-se a
Comissão Mista Brasil-EUA para o Desenvolvimento
Econômico, de outro tomou atitudes nacionalistas de
sentido oposto, como a lei de remessa de lucros e a lei de
criação da Petrobras, que impedia a participação de
estrangeiros na pesquisa, lavra, refino e distribuição do
petróleo.Ressalta-se o tom reivindicatório do Brasil perante
os EUA.O Brasil procurou usar os minerais estratégicos,
principalmente os atômicos, como meio de barganha para a
obtenção de financiamentos para os projetos de
modernização da economia.
Café Filho Bom relacionamento com os EUA, visível principalmente na
cooperação atômica e nos empréstimos obtidos dos bancos
particulares.
Juscelino Avanço e recuo no relativo à cooperação na área atômica e
Kubitschek das dificuldades comerciais em razão da queda nas
exportações brasileiras e da deterioração dos termos de
troca, o tema mais importante refere-se à captação de
recursos destinados ao seu projeto desenvolvimentista. JK
procurou tanto pela via unilateral como pela via multilateral
(OPA). JK rompe com o FMI. No contexto de maior
aproximação do Brasil aos EUA (devido à opção comunista
cubana), o FMI abrandou as exigências referentes ao
controle monetário, facilitando o acesso aos financiamentos.

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Jânio Aplicou ao país rígido plano de austeridade financeira que


Quadros lhe facilitou a obtenção de empréstimos internacionais,
sobretudo dos EUA. Evitou-se o envolvimento com Cuba.
João Goulart Início do processo de deterioração. Além de questões
concretas, como as encampações de subsidiárias
estrangeiras instaladas no país, preocupavam-se os EUA
com os rumos da administração Goulart, que passou ser um
risco ideológico. A prática de uma PEI levava a um
distanciamento entre os dois países nos órgãos multilaterais,
como o observado por ocasião da VIII Reunião de Consulta
da OEA, que exclui Cuba dessa organização. O
distanciamento aumentou também devido aos embaraços
que se criavam no Brasil aos capitais estrangeiros e às
pressões internas sofridas por ambos os governos.
As relações durante a PEI

Principais pontos de divergência

Desapropriação da filial da ITT (International Telephone and Telegraph),


levada a efeito por Leonel Brizola
As exigências do FMI e do governo norte-americano para liberação de
financiamentos
Lei de remessa de lucros votada pelo Congresso

Com o crescimento das divergências, os EUA passaram a intervir na política


interna brasileira, a exemplo de ajuda financeira à candidatos anticomunistas,
principalmente no Nordeste, onde se tentou impedir a vitória de Miguel
Arraes.

Em 1963, o Acordo Bell-San Tiago Dantas foi firmado. San Tiago Dantas como
ministro da Fazenda.

O governo Goulart não conseguiu colocar o acordo totalmente em prática,


principalmente após a substituição de todo o seu ministério, em meados de
1963. A queda de San Tiago Dantas da Fazenda marcou um novo momento
nas relações BR-EUA. Os EUA mudaram o caráter de assistência financeira,
passando a conceder ‘empréstimos para projetos’, a fim de atende-las por eles
designadas ‘ilhas de sanidade administrativa’, vale dizer, estados ou
municípios específicos que atuavam na direção proposta pela Aliança para o
Progresso.
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Os EUA e o golpe de 64

Conforme informações recebidas por Goulart, o embaixador dos EUA,


Lincoln Gordon, mantinha contatos com o oposicionista Carlos Lacerda e
empresários que conspiravam contra o seu governo.

A ajuda econômica estadunidense favoreceu forças opositoras a Goulart.

Cumpre observar que, se durante a gestão de Jânio Quadros a PEI pôde ser
usada como instrumento de barganha diante dos EUA (o chamado
‘neutralismo tático’), o mesmo não ocorreu com João Goulart, pois era vista
como esquerdista, o que o fez perder seu poder de barganha. Não se pode
também perder de vista que, após a crise dos mísseis de Cuba, em outubro de
1962, ponto alto da Guerra Fria, abrandamento da bipolaridade retirou a
possibilidade de se praticar um ‘neutralismo tático’ eficiente.

Com referência ao golpe de 64, a conclusão é de que os EUA não se


envolveram diretamente em sua elaboração, mas dele tinham conhecimento,
bem como o acompanharam com óbvio interesse e estavam preparados para
um eventual apoio aos sublevados caso fosse necessário (Brother Sam). Além
disso, acolheram o novo governo com satisfação e inauguraram com este uma
política de apoio e colaboração.

A frustrada ‘correção de rumos’ e o projeto desenvolvimentista

O regime militar que se instalou no Brasil, em abril de 1964, estabeleceu um


padrão de relações externas, com o qual veio a romper em 1967, ao engajar-se
em projeto de longo prazo, cuja continuidade não foi comprometida pelo
governo civil, restabelecido em 1985.

Sabendo possível poder utilizar da política exterior para obter sucesso em


questões internas, converteram-se no vetor da política externa, portanto,
destinada a criar e viabilizar os meios com que viessem a se articular a
participação externa, suas modalidades e sua intensidade, com a intervenção
reguladora ou empreendedora do Estado e a dinâmica da sociedade.

Nessas condições de valorizar as conquistas nacionais em detrimento da


observância dos preceitos internacionais, inseridos na conjuntura da Guerra
Fria, a prática, dessa forma, postulava por óbvio, o sacrifício de valores e
ideias abstratas, em benefício do realismo e do pragmatismo.

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13/06/2018 Fichamento: Amado Cervo e Clodoaldo Bueno | História da Política Exterior do Brasil

Como país de desenvolvimento intermediário, tinha o Brasil limitadas


chances de ganhos concretos, ao mover-se externamente, caso não investisse
com imaginação criadora por sobre os desafios e as armadilhas do sistema
internacional. Tanto é verdade que, após um período de êxitos incontestáveis,
o modelo de política externa, conquanto se mantivesse no plano das
intenções, perdeu força operativa a partir de 1980, no que tange à capacidade
de subsidiar o desenvolvimento auto-sustentado, e nem o regime civil foi
capaz de revitalizá-lo.

Opinião do Amado Cervo

A política exterior perdeu seu norte desde 1990, caracterizando-se pela


disperso operacional entre os interessados do desenvolvimento e a
subserviência às novas estruturas e formas do poder global.

A correção de 1964: um passo fora da cadência

Ao assumir a presidência da República, em abril de 1964, o general Castello


Branco juntamente com seu ministro das Relações Exteriores, Vasco Leitão da
Cunha, propuseram-se a desmantelar os princípios que regiam a Política
Externa Independente, tais como o nacionalismo, base da industrialização, o
ideário da Operação Pan-Americana e a autonomia do Brasil em face da
divisão bipolar do mundo e da hegemonia norte-americana sobre a América
Latina.

A correção de rumos (aggiornamento) que o novo regime buscou imprimir à


política externa compreendia, por um lado, a catarse da conduta anterior e,
por outro, novos padrões substitutivos. Julgou-se necessário retificar o ‘curso
sinuoso’ que, sob ‘rótulos variados’, havia desviado a política externa de suas
origens. A Chancelaria e a Presidência abriram fogo contra a PEI, deturpada e
sem utilidade descritiva em face da realidade bipolar; contra a política
neutralista, que não servia a um país extremamente ativo como o Brasil;
contra o nacionalismo prejudicial, que se afugentava o capital estrangeiro;
contra a estatização, que obstruía sua penetração e o desenvolvimento da
livre empresa; e contra a ruptura de laços afetivos e políticos com Portugal e
com o Ocidente, em nome do anticolonialismo.

Objetivos da Política Exterior Brasileira entre 1964-1967:

A bipolaridade: Castello tomou a bipolaridade como o dado da realidade


determinante das condições objetivas e da vontade: ‘pressupões a
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