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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO ..

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA


COMARCA DA CAPITAL – RIO DE JANEIRO – RJ.

Requerente: GEORGE CLAUDIO FRITSCH TOROS

Requerida: LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A

GEORGE CLAUDIO FRITSCH TOROS, brasileiro, casado, professor, portador


da cédula de identidade nº. 03871309-5 – IFP– RJ, e do CPF nº. 513.541.527-
00, residente e domiciliado na Rua Vaz da Costa 89 – Inhaúma – Rio de
Janeiro – RJ, CEP 20760-510, por meio da advogada que esta subscreve, com
endereço profissional constante do instrumento procuratório em anexo, vem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro na legislação
vigente, para propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO c.c. INDENIZAÇÃO


DE DANO MORAL, OBRIGAÇÃO DE FAZER E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA,

em face da empresa LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A, CNPJ n°


60.444.437/0001-46 situada na Av. Marechal Floriano, n° 168, Centro, CEP. n°
20080-002, Rio de Janeiro – RJ, pelas relevantes motivações de fatos e de
direito que a seguir passa expor, para ao final requerer:

PRELIMINARMENTE

Em razão dos fatos a seguir aduzidos, requer-se a antecipação da


tutela pretendida, nos moldes do artigo 466, parágrafo 3o, do Código de
Processo Civil, devido ao fundado receio de dano irreparável, com a concessão
de medida liminar e expedição do respectivo mandado para que a Requerida
se abstenha de efetuar o corte no fornecimento de energia para o Requerente.

O Autor afirma que faz jus à concessão da gratuidade de Justiça, haja vista que o mesmo não
possui rendimentos suficientes para custear as despesas processuais, perícias e honorários
advocatícios , conforme demonstra em comprovante de renda anexo a presente, em
conformidade com novo ordenamento jurídico que doutrina na matéria, a saber:

Lei 13.105/2015:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da
justiça, na forma da lei.

DOS FATOS

O Requerente foi surpreendido com a fatura de consumo de


energia, com vencimento para 12 de setembro de 2016, no valor de R$
5.879,27 (cinco mil oitocentos e setenta e nove reais e vinte e sete centavos),
correspondente ao consumo de 6.985 Kw/mes, conforme se verifica pela fatura
mensal acostada a presente, e a fatura a vencer no próximo mês também terá
um valor bem acima da média, conforme apresentado na tabela abaixo.

Ocorre que o consumo de energia mensal da Requerente, a mais


de 03 (tres) anos, se mantém na média mensal de 242 Kw/mes, o que se prova
através do histórico de Consumo, conforme tabela abaixo, extraída pelas cópia
das 36 últimas faturas pagas, anexas.

Tendo o Requerente procurado pela Requerida para esclarecer


não ter quantidade de equipamentos elétricos que justifique o consumo
elevado, bem como a cobrança acima de sua média de consumo mensal, que
se mentem desde que passou morar no imóvel, como regularmente vinha
sendo cobrado e pago nos últimos anos, verificou que não havia boa vontade
por parte da Requerida para resolver o problema, posto que alegava ter sido
feito inspeção por um técnico e ter sido constatado irregularidade que ensejou
a troca do medidor e sendo assim, identificou isoladamente que que a leitura
não estava correta, sendo impingida ao Requerente um débito superior a 242
kw/mes, ou seja, o importe de uma cobrança, aproximadamente, 2.473%
(dezessete mil, setecentos e oitenta por cento) maior de que sua média de
consumo mensal.

Não se quer aqui alegar erro de leitura, mesmo porque o medidor


realmente acusa um consumo de 242 kw/mes, o que aqui se alega é o fato do
equipamento ter apresentado defeito, porque a leitura se mantem constante na
média nos últimos 3 anos como tabela abaixo, exceto as medições de agosto e
setembro que há uma discrepância no consumo em relação aos demais meses
dos 3 últimos anos.

DATA MEDIÇAO CONSUMO VALOR DA VENCIMENTO


CONTA
IRREGULAR
22/09/2016 794 R$ 794,85 24/10/2016
23/08/2016 6985 R$ 5.879.27 12/09/2016

NORMAL
21/07/2016 225 R$ 174,02 03/08/2016
21/06/2016 226 R$ 176,18 04/07/2016
20/05/2016 241 R$ 187,26 02/06/2016
20/04/2016 253 R$ 193,84 04/05/2016
21/03/2016 229 R$ 185,02 04/04/2016
20/02/2016 225 R$ 185,26 03/03/2016
21/01/2016 260 R$ 209,51 03/02/2016
21/12/2015 35 R$ 15,85 08/01/2016
23/11/2015 259 R$ 197,68 04/12/2015
22/10/2015 259 R$ 186,50 05/11/2015
22/09/2015 241 R$ 175,90 15/10/2015
21/08/2015 235 R$ 169,81 03/09/2015
22/072015 235 R$ 169,81 04/08/2015
22/06/2015 245 R$ 176,79 03/07/2015
21/05/2015 245 R$ 183,75 03/06/2015
23/04/2015 261 R$ 190,09 06/05/2015
23/03/2015 251 R$ 171,64 06/04/2015
23/02/2015 258 R$ 152,43 04/03/2015
21/01/2015 261 R$ 147,64 03/02/2015
19/12/2014 263 R$ 144,20 06/01/2015
22/11/2014 259 R$ 118,22 04/12/2014
23/10/2014 256 R$ 116,29 05/11/2014
22/09/2014 245 R$ 111,83 03/10/2014
21/08/2014 225 R$ 104,83 03/09/2014
23/07/2014 235 R$ 109,20 05/08/2014
23/06/2014 220 R$ 104,10 07/07/2014
22/05/2014 245 R$ 128,46 04/06/2014
22/04/2014 261 R$ 121,53 06/05/2014
21/03/2014 260 R$ 122,49 21/03/2014
22/11/2014 260 R$ 121,54 07/03/2014
22/01/2014 260 R$ 121,67 04/02/2014
20/12/2013 255 R$ 122,55 07/01/2014
22/11/2013 256 R$ 121,09 05/12/2013
23/10/2013 288 R$ 129,36 05/11/2013
20/09/2013 235 R$ 96,55 03/10/2013
22/08/2013 245 R$ 109,78 04/09/2013
M É D I A DOS
ULTIMOS 36
242 R$ 145,91
MESES NORMAIS

Nobre Julgador, a responsabilidade pela manutenção dos


equipamentos e da rede de distribuição de energia elétrica é, única e exclusiva,
da Requerida, como consectário lógico e jurídico da atividade empresarial que
desenvolve, mas ela não tem por hábito realizar inspeções de rotina nos seus
equipamentos, relógios, postes, fios, etc., entendendo ser mais fácil e menos
oneroso imputar a culpa em seus clientes, mas não pode a Requerida, para
compensar seu comportamento moroso com a manutenção de seus
equipamentos, imputar, pura e simplesmente, de forma unilateral, a
irregularidade aos consumidores. Além disso, a provável irregularidade
apresentada pelo medidor, que resultou numa fatura absurda, pode ser
derivada justamente do desgaste do equipamento, não previsto pela
Requerida.

Em dezembro de 2015 o Requerente recebeu 2 cartas da


Requerida comunicando o envio de termo de ocorrência de inspeção técnica,
onde o equipamento de registro de medição foi retirado e lacrado para análise,
porém não recebeu nenhum comunicado após isso com o resultado dessa
análise, somente agora , após 8 meses que o Requerente após identificar que
sua fatura do mês não havia chegado, procurou a loja de atendimento da ré, e
então iniciou-se uma verdadeira odisseia de idas e vindas e protocolos, que
anexamos, em busca de resposta, sendo surpreendido com a informação do
valor exorbitante da conta com vencimento no mês de setembro sem dar
nenhuma justificativa do que ocorreu.

Desse modo, em razão de seu dever de manutenção, como ônus e


risco da própria atividade empresarial que explora, é a responsável por
possíveis irregularidades nos equipamentos, até prova em contrário. Em razão
disso, não pode a Requerida, com base num mero ato administrativo e sob
ameaça de interromper o fornecimento de energia, de forma unilateral e
abusiva, atribuir, a seus consumidores, dívidas por falhas nos equipamentos
que são de sua propriedade. Esta atitude de simplesmente transferir a
responsabilidade, carreia ao Requerente o ônus da prova de existência de
irregularidades no medidor de energia instalado em sua casa, obrigando-o a
ingressar em juízo para coibir o comportamento abusivo da Requerida, por
apresentar conta descabida sem nenhuma informação de irregularidade no
consumo, pois ninguém muda de padrão 2.000% a mais de um mês para outro
em pleno inverno. .

Como se vê, a Requerida por ato administrativo, contraria


frontalmente a lei principiológica e geral, que é o Código de Defesa do
Consumidor, principalmente em seu artigo 51, inciso IV (são nulas de pleno
direito as obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé e a equidade),
também o artigo 51, inciso VI (são nulas de pleno direito as cláusulas que
estabeleçam a inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor) e, por
fim, o artigo 42, ao colocar o Requerente sob ameaça de corte de energia, em
razão de presunção de má-fé por parte dela.

DA IMPOSSIBILIDADE DE INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE


ENERGIA ELÉTRICA

Nas situações semelhantes ao do Requerente, caso os


consumidores se recusem a reconhecer a dívida que lhes é imputada,
unilateralmente e sem que lhes seja dada a oportunidade de verificar a
existência real do débito, a Reclamada efetivamente acaba interrompendo o
fornecimento de energia elétrica, que só é restabelecida caso o usuário
confesse e parcele a dívida, entretanto, o corte de energia utilizado como meio
para a Reclamada receber créditos que entende ser devidos é uma prática no
mínimo abusiva, não só porque afronta o Código de Defesa do Consumidor,
mas também por ser flagrantemente inconstitucional, na medida que abala a
dignidade da pessoa humana (artigo 1o, inciso III, da Constituição Federal) e
fere direito fundamental consubstanciado na proteção do consumidor (artigo 5 o,
inciso XXXII, também da Constituição Federal).

De fato, a energia elétrica, ao lado do saneamento básico e da


moradia, constitui um dos elementos do chamado “mínimo básico”, ou seja, é
um serviço essencial sem o qual não se pode falar em dignidade da pessoa, do
cidadão. Por isso, dando maior consistência ao fundamento constitucional da
dignidade da pessoa humana, vem o artigo 22, do Código de Defesa do
Consumidor e impede a interrupção do fornecimento de energia elétrica, ao
determinar a continuidade dos serviços essenciais.

Eis a dicção do artigo:

“Art. 22, CDC – Os órgãos públicos, por si ou por suas


empresas, concessionárias, pressionarias ou sob qualquer outra forma
de empreendimento. São obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros, e, quando essenciais, contínuos.

Parágrafo único – Nos casos de descumprimento, total ou parcial,


das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na previstas
neste código”.

Além disso, ameaça e a efetiva interrupção do fornecimento de


energia elétrica, como meio de possibilitar a cobrança de supostos débitos
pretéritos é uma prática mais que abusiva, porque expõe a Requerente ao
constrangimento e ao ridículo, situação veementemente proibida pelo Código
de Defesa do Consumidor, conforme letra abaixo:

“Art. 42, CDC – Na cobrança de débitos, o consumidor não será


exposto ao ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único – O consumidor cobrado em quantia indevida tem


direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipóteses
de engano justificáveis”.

A interrupção da energia elétrica, como meio de coação para se


cobrar um suposto débito fere a cláusula constitucional do devido processo
legal, afasta o monopólio estatal da jurisdição, é a prática de justiça privada
não permitida pelo ordenamento jurídico.

Tratando deste assunto há uma gama de jurisprudência, no


entanto, entendemos ser necessário apenas a colocação de uma para
asseverar todo o exposto:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – Prestação de serviço – Fornecimento de


energia elétrica – Irregularidade no registro de consumo – Constatação
unilateral – Interrupção do fornecimento – Impossibilidade – Recurso
improvido – Cuida-se de dívida cuja legalidade é questionada em juízo,
não é possível a interrupção do fornecimento de energia elétrica –
Tratando-se de constatação unilateral da empresa prestadora do serviço,
há necessidade de respeito aos princípios do contraditório e da ampla
defesa. (TJ/SP, Agravo de Instrumento n. 894233-0/2 – São Paulo –27a
Câmara de Direito Privado – Relator: Jesus Lofrano – 24.05.05 – V.U.)”.

DA FALTA DE INFORMAÇÃO CLARA E ADEQUADA DOS


PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA DECLARAR NÃO HAVER
IRREGULARIDADE NO EQUIPAMENTO

Conforme o acima exposto, o Requerente por mais que tenha


procurado a Requerida, no ultimo mês, para tentar solucionar o problema,
jamais teve qualquer prova ou demonstração dos procedimentos adotados na
perícia realizada no medidor para comprovação de que este estivesse
funcionando normalmente, simplesmente alegou, quando todas as evidências
restam claro que o equipamento está com problemas, senão, como justificar
que durante anos o consumo médio mensal do Requerente que é de 242
kw/mês, tenha passado para 6.985 kw/mês. Nas tentativas que fez de resolver
o problema de forma amigável, percebeu que a única intenção da Requerida
era o de obrigá-la a reconhecer o débito, mesmo não concordando com ele,
visto que as negociações sempre estiveram embasadas na ameaça do corte no
fornecimento de energia elétrica.

DO PEDIDO

Diante de todo o exposto e provado, requer se digne Vossa


Excelência em:

1) Seja determinado à Requerida, em TUTELA DE URGÊNCIA, a ser


concedida LIMINARMENTE, sem ouvida da outra parte, como obrigação de
não fazer, que se abstenha de suspender o fornecimento de energia elétrica,
enquanto inexistente ou pendente discussão quanto à materialidade de defeitos
no medidor, bem como a prova concreta de ser real a dívida que esta sendo
imposta ao Requerente, requerendo-se, desde logo, a inversão do ônus da
prova, por tratar-se de relação de consumo;

2) Liminarmente seja imposta à Requerida a obrigação de fazer, consistente


em trocar por um novo, desde já, o relógio de medição de energia elétrica da
residência da Requerente, para que se possa apurar, durante um período
mínimo de 06 (seis) meses, a média de consumo real de energia elétrica, para
assim ser corrigida a conta em discussão, bem como as futuras, que até a data
da troca contenham valor fora da média apresentada nesta exordial;

3) Seja a presente ação recebida e processada e, ao final, seja declarada, por


sentença, a inexistência da relação jurídica que faculta à Requerida cobrar a
fatura vencida em 12 de setembro de 2.016, no valor de R$ 5.879,27 e fatura
de 24/10/2016 no valor de R$ 794,55, 2.473 % maior que a média de consumo
mensal do Requerente, nos termos do artigo 6o, incisos VII e VIII, ambos do
Código de Defesa do Consumidor;

4) Seja condenada a Requerida a indenizar por danos morais ao consumidor,


ora Requerente, em função da cobrança descabida e abusiva, corroborando
para manter o caráter pedagógico da indenização para que se desestimule tal
atitude irresponsável e passe a Requerida a dar mais atenção quanto à
manutenção de seus equipamentos, na base usual de 10 (dez) vezes o valor
atribuído à causa;

5) Seja citada a Requerida, na pessoa de seu representante legal, para que,


querendo, conteste a presente ação, sob pena de revelia;

6) Que a condenação liminar seja confirmada posteriormente por sentença;

7) Que seja estabelecida multa diária pelo descumprimento de ordem judicial


que impeça o corte no fornecimento de energia elétrica;

8) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito


permitidos e, especialmente, pelo depoimento pessoal do representante legal
da Requerida, perícias, oitiva de testemunhas a serem arroladas
oportunamente, juntada ulteriores de novos documentos, que, desde já, ficam
requeridas;

9) Requer-se, ainda, a condenação da Requerida nas verbas de sucumbência;

10) Seja concedido ao Requerente o benefício da JUSTIÇA GRATUITA


para isenção das custas processuais, perícias e honorários, por ter
insuficiência de recursos, conforme declaração de renda inclusa.

Dá se a presente causa, para efeitos de alçada, o valor de


R$30.000,00 (trinta mil reais).

Termos em que, respeitosamente,

Pede e aguarda deferimento.

Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2016.

SUELY BEATRIZ FERREIRA

OAB RJ 159.172

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