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EXEGESE DO A.

PROFESSOR: Rev. Manassés Júmior Villaça

Aluno:

Parte 3

Interpretação da passagem

Texto e contexto

Depois de registrar a história de Babel, a última e principal rebelião da


humanidade na pré-história, o narrador, valendo-se da tôledot de Sem (11:10),
filho de Noé, se move rapidamente para a décima geração, em Abrão(11:26).
Havendo espalhado a humanidade em Babel, Deus pode agora chamar um
indivíduo (Abrão) para levar o estandarte do Reino de Deus. Em contraste com
Babel, onde o povo buscava a celebridade para si mesmo (11:4), o Senhor aqui
promete a Abrão: “te engrandecerei o nome” (12:2). A narrativa começa em
Gênesis 11:27, que abre uma nova tôledot: “São estas as gerações de Terá” e
termina em 12:9 com Abrão chegando ao Neguebe, fronteira ao sul da terra
prometida. Gênesis 12:10 começa uma nova narrativa com Abrão descendo ao
Egito.

Quanto ao contexto maior, o narrador se esmerou em modelar o ciclo das


narrativas de Abraão num padrão quiasmático. O que permite ao leitor não
apenas ver a progressão das narrativas, mas também os paralelos entre elas.

A. Genealogia de Tera (11:27-32)


B. Inicio da odisseia espiritual de Abrão (12:1-9)
C. Sarai em um palácio estrangeiro; provação termina em paz e sucesso;
Abraão e Ló apartam-se (12:10- 13:18)
D. Abraão vai em socorro de Sodoma e Ló (14:1-24)
E. Aliança co Abraão; anunciação de Ismael (15:1-16:16)

E”. Aliança com Abraão ; anunciação de Isaque (17:1-18:15)


D”. Abraão vai em socorro de Sodoma e de Ló (18:16-19:38)

C”. Sara num palácio estrangeiro; provação termina em paz e sucesso;


Abraão e Ismael apartam-se (20:1- 21:34)

B”. Apogeu da odisseia espiritual de Abraão (22:1-9)

A”. Genealogia de Naor (22:20-24)1

Aspectos literários

O narrador, mais uma vez, é onisciente: ele conhece a situação de “Ur dos
Caldeus” (11:28), isto é, Na Babilônia, onde Abrão nasceu e se casa com
Sarai; sabe que Sarai é estéril (11:30); viaja com a família de Terá até Harã
(11:31), escuta o Senhor chamando Abraão (12:1-3), viaja com Abrão através
da terra prometida e explica a Israel que “nesse tempo os Cananeus habitavam
essa terra” (12:6).

A narrativa propriamente deita tem duas cenas:

Cena 1. O Senhor chama Abrão e Abrão vai (vs. 1-5b).

Cena 2. Abrão atravessa Canaã construindo altares ao Senhor (vs. 5c-9)

A narrativa hebraica tem normalmente dois personagens em cada cena e aqui


o Senhor e Abrão aparecem em todas elas. Raramente usa a descrição de
personagens, mas quando o faz é importante. Aqui o narrador imforma que
“Sarai era estéril”; repetindo “não tinha filhos” (11:30) na forma paralela para
enfatizar. Ele também adverte que “tinha Abrão setenta e cinco anos” (12:4).
Essas descrições são importantes especialmente para estabelecer a tensão da
macro narrativa que não se dissolverá até Gênesi 21, com o nascimento de
Isaque.

Normalmente, os personagens tomam vida mediante o diálogo. Assim como


Abel e Noé antes dele, Abrão não tem nenhuma fala nessa narrativa, mas as
suas ações falam mais alto do que as palavras. O Senhor ordena a Abrão que
vá e promete ricas bênçãos (Gn12:1-3), e Abrão responde obedientemente (vs.
4-6). Mais adiante o Senhor promete dar aà semente de Abrão a terra dos
Cananeus (v.7), e Abrão responde construindo altares ao Senhor (vs.7b-8).
O narrador quase sempre destaca o ponto da sua narrativa repetindo palavras-
chave. Nessa narrativa, ele usa a palavra-chave “sair/partir” em dois lugares
estratégicos (vs. 1,4). Repete as palavras “bênção”/ “abençoar” cinco vezes (vs
2-3). Usa também sete vezes a palavra “terra” referindo-se a Canaã
(11:31;12:1,5b,5c; 6ª,6b,7). E finalmente, relata duas vezes nessa narrativa que
Abrão “edificou um altar ao Senhor” (vs. 7b,8b, e de novo em 13:18).

O Enredo

No ambiente desta narrativa ( e de todo ciclo de Abraão), o narrador apresenta


a família de Terá e informa que Sarai era estéril (11:27-30). O incidente
preliminar consiste de Terá migrando com sua família para Harã e a sua morte
lá (11:31-32). O conflito da narrativa começa com o chamado de Deus a Abrão,
“Sai da tua terra”, e cresce em cada seguimento, “da tua parentela e da casa
de teu pai e vai para a terra que te mostrarei” (12:1). O Senhor anima Abrão ao
prometer-lhe ricas bênçãos (“de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e
te engrandecerei o nome”), aos seus contemporâneos (“Sê tu uma bênção!
Abençoarei os que te abençoarem”) e a todas as famílias (“em ti serão benditas
todas as famílias da terra” vs. 2,3). Obviamente, o chamado de Deus para
Abraão tem em vista um objetivo universal – “Todas as famílias da terra” Essas
promessas a Abrão são tão ricas que bem se podem basear um sermão
exclusivamente dos versículos 1-3. Mas a histótia prossegue para o desfecho
do conflito. A tensão começa a se desenvolver nos versículos 4,5, “Partiu, pois,
Abrão...”, mas reacende quando Abrão acha a terra dos Cananeus( v.6), os
descendentes de Canaã a quem Noé tinha amaldiçoado. Essa complicação
resolve-se rapidamente quando o Senhor promete essa terra à semente de
Abrão (v.7). o desfecho da narrativa relata que Abrão edifica altares ao Senhor
em Siquém e Betel e continua a viajar através do Neguebe (vs. 7-9)

Tema e objetivo textuais

1. O chamado e a promessa do Senhor a Abrão (v. 1-9)

De acordo com a passagem, a jornada de aproximadamente 2400 km feita por


Abraão foi impulsionada pela fé. Abraão partiu sem saber aonde ia. Pela fé
peregrinou na terra da promessa como fugitivo em terra alheia, pois aguardava
a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e o edificador
(Hb11. 8-10). Deus chama Abraão e lhe faz promessas de fazer dele uma
grande nação, creio que era o desejo de qualquer peregrino. Estes versos
marcam um ponto de transição em Gêneses e na história da redenção quando
Deus começa a estabelecer um povo da aliança para si mesmo. O progresso
do plano redentor de Deus é evidente ao separar Abraão.

Está claro que a narrativa iniciada em 12:1 é teocêntrica do começo ao fim. O


Senhor é o sujeito do primeiríssimo verbo2; ele ordena a Abrão, “sai”(v.1);
promete que lhe mostrará a terra, fará dele um grande povo, o abençoará e o
engrandecerá

Um fator que precisa ficar muito claro em nossa mente é que não existia
garantia de nenhum resultado a não ser uma promessa de Deus. Deus disse a
Abraão para deixar sua terra natal e que Ele o abençoaria dando lhe filhos e
fazendo dele uma grande nação, “Farei de ti uma grande nação” e “lhe darei
uma terra” (Gn 12. 1-3). Ao mesmo tempo, podemos perceber que o aspecto
soberano do relacionamento de Deus com Abraão tornou-se muito claro por
ocasião da chamada inicial do patriarca. Deus não sugeriu, de modo suave,
que se Abraão deixasse sua terra, seria abençoado. Em vez disso, a palavra
de Deus veio a ele em termos de uma ordem solene: “Sai da tua terra, da tua
parentela (Gn 12.1)3.

Havendo selecionado o texto da narrativa do chamado e Abrão e a sua


resposta, o tema que agora se torna dominante tem haver com a terra (7x) que
Deus disse que mostraria a Abrão (v.1), a terra de Canaã onde chegaram (v.5),
a terra que o Senhor prometeu dar a Abrão sobre a qual edifica altares ao
Senhor (vs7-8). Parece que claro que o tema do narrador quanto a essa
narrativa como um todo enfoca a terra dada por Deus e a resposta de Abrão ao
erigir altares ao Senhor. A questão que se torna crucial agora é: O que significa
Abrão edificando altares ao Senhor? Ele levanta o primeiro altar no centro da
terra prometida, em Siquém, onde ouve a promessa de Deus: “Darei à tua
descendência esta terra” (12:7). Ele ergue esse altar a vista do carvalho de
Moré, um santuário cananeu. Depois segue para o sul e para em Betel para
edificar outro altar ao Senhor. E finalmente dirige-se para o Neguebe, fronteira
ao sul da terra (“Onde levanta mais um altar “nos carvalhais de Manre””,13:18).
Por que Abrão está edificando altares ao Senhor nas proximidades dos
santuários cananeus em localizações estratégicas na terra? E porque ele
edifica altares somente na terra prometida e em mais nenhum lugar? João
Calvino escreveu que Abrão “empenhou-se, o tanto que pôde, para dedicar a
Deus cada parte da terra a que teve acesso e a perfumou com o aroma da sua
fé”4. Abrão parte para sua terra (12:1-3), e ao chegar ergue altares em Siquém
e Ai, reivindicando-as assim para o Senhor” (12:4-9). Abrão não usa um altar
cananeu. O seu altar é uma expressão de Gratidão e de consagração da terra
prometida a Deus 5.

Abrão está fazendo o mesmo que fez Noé antes dele: ao edificar um altar, Noé
dedicou a terra purificada ao Senhor (8:20); Abrão agora dedica essa terra dos
cananeus (a semente da serpente) ao Senhor.

Quanto ao objetivo do narrador, devemos nos lembrar que essas narrativas


sobre os patriarcas de Israel são mais do que histórias sobre Deus e Abrão,
Isaque e Jacó; são também histórias sobre Deus e Israel. Os patriarcas são
mais que indivíduos; representam também a “semente”, Israel. “Assim, as
histórias de Abraão precisam com frequência ser lidas em diferentes níveis,
tanto pelo que dizem de Abraão em si, quanto pelo que mostram dele como um
tipo de Israel.

John Sailhamer adverte: “é como se o Pentateuco estivesse dizendo aos seus


leitores que do modo como Deus tinha dado a terra a Abraão, assim também
ele daria a terra à “semente” de Abraão, quando estavam prestes a entrar e
tomar posse da terra sob a liderança de Josué”6. Portanto, se o narrador
redigiu essa narrativa para Israel enquanto estavam em Moabe, em vias de
entrar na terra prometida, a sua meta teria sido motivar Israel a reivindicar a
terra dos cananeus para o reino de Deus. Mais tarde, quando Israel estava no
exílio na Babilônia, eles seriam igualmente encorajados por essa narrativa. Lá
se achavam escravizados na terra natal de Abrão, porque ele nasceu “em Ur
dos Caldeus”7 (11:28). Mas Deus lhe havia dito: “Eu Sou o Senhor que te tirei
de Ur dos Caldeus, para dar-te por herança esta terra” (15:7). E Abrão tinha
respondido a dádiva de Deus construindo altares ao Senhor, reivindicando a
terra para o reino de Deus. Portanto, nessa fase da história de Israel essa
narrativa também motivaria o remanescente que retornava a reivindicar a Terra
Prometida para o reino de Deus. Porque, como Isaías (51:3) profetizou aos
exilados:

 Porque o Senhor tem piedade de Sião; terá piedade de todos os lugares


assolados dela, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão,
como o jardim do Senhor; regozijo e alegria se acharão nela, ações de
graças e som de música.

Biografia:

1. Rendsburg, The Redaction of Genesis, 28-29.


2. “Yahweh é o sujeito do primeiro verbo no início da primeira declaração e é,
portanto, o sujeito de toda história sagrada subsequente” Von Rad, Genesis,
159.
3. ROBERTSON, Palmer. O Cristo dos pactos, p. 107.
4. Calvino, Genesis. I, 357.
5. Waltike, Genesis, 202 e 208.
6. Sailhamer, Pentateuch as Narrative.
7. Goldingay, “The Patriarchs in Scripture and History”, 41, n.19.
8. Sidney Greidanus.

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