Professional Documents
Culture Documents
José Rodrigues
Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Educação
Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Ciência Política
criação do SENAI articula-se com uma vasta legis- de 1968, toda a educação brasileira foi reestruturada,
lação promulgada entre 1942 e 1946 (já após a saída da reformulação do ensino superior à criação do 1º
de Vargas), de iniciativa do então ministro da Edu- grau, do nascimento da pós-graduação à política de
cação Gustavo Capanema, conhecida como Leis formação profissional compulsória em nível de 2º
Orgânicas do Ensino.2 grau, da instituição dos exames vestibulares unifica-
Para abarcar outras facetas da formação humana dos à extinção das cátedras universitárias.
da classe trabalhadora, foi criado, pelo decreto-lei n. Foi nesse contexto que a CNI completou a sua
9.043, de 1946, o Serviço Social da Indústria (SESI). tríade pedagógica, com a criação do Instituto Euvaldo
É no contexto mundial de prestígio da União das Re- Lodi (IEL), em 1969. Diferentemente das entidades
públicas Socialistas Soviéticas (URSS), de início da que o precederam, SENAI e SESI, o IEL não foi cria-
Guerra Fria, de relativo acirramento da luta de clas- do por força de lei. Contudo, também o IEL é marca-
ses no Brasil, de repressão ao movimento dos traba- do por uma aparente imposição, ou, no caso específi-
lhadores, conhecido como “período democrático”, que co, uma “sugestão governamental”. O IEL tem por
o SESI foi criado. Para a CNI, “era indispensável ga- objetivo “promover a integração universidade-indús-
nhar a luta ideológica no chão da fábrica, demons- tria” por meio de estudos, pesquisas e ações. O insti-
trando a superioridade do capitalismo no dia-a-dia” tuto foi criado a partir de recomendação do Grupo de
(CNI, 1996, p. 7). Trabalho (GT) da Reforma Universitária (de 1968),
Mas o quadro das instituições de caráter hege- recomendação essa, aliás, de lavra da própria confe-
mônico, da burguesia industrial, não estava ainda com- deração, conforme explicitou o documento do GT (cf.
pleto. Em dezembro de 1968, o ato institucional n. 5 IEL, 1984, p.12). Com efeito, as sugestões contidas
(AI-5) fechou (temporariamente) o Congresso Nacio- no documento final do GT da Reforma Universitária
nal, revogou o direito de habeas corpus, cassou man- apontavam para a criação de um órgão de “interação
datos, suspendeu direitos políticos, demitiu e aposen- universidade-indústria”, de cujos objetivos se desta-
tou funcionários públicos. No entanto, ao lado do ca: “c) servir de elo de ligação entre a demanda (por
terror (coerção) implantado na vida social pelas for- parte da indústria) e a oferta (por parte das universi-
ças golpistas, o país vivia a euforia econômica (con- dades)” (idem, p. 12).
vencimento): começava o período conhecido como Em fins da década de 1980, seguindo as diversas
“milagre econômico”. alterações no perfil de atuação do chamado Sistema
Com a industrialização, houve grande crescimen- CNI, o IEL também passou a sofrer mudanças (cf.
to da demanda social por educação, o que acabou por IEL, 1990). Participando ativamente das mudanças
agravar a crise do sistema educacional, servindo, as- da economia brasileira, promovidas no Governo
sim, como pretexto à celebração, a partir de 1964, de Collor de Mello, o instituto passou a atuar prioritaria-
acordos entre os governos brasileiro e norte-america- mente em projetos de desenvolvimento tecnológico e
no. Conhecidos como “Acordos MEC/USAID”, suas gerencial do parque industrial brasileiro. Com a elei-
finalidades eram prover “assistência técnica” para a ção do senador-industrial Fernando Bezerra para a
reformulação completa do sistema educacional bra- presidência da CNI, em outubro de 1995, a tríade pe-
sileiro, adequando-o à nova ordem. De fato, a partir dagógica da confederação sofre novas transformações,
em particular o IEL (cf. IEL, 1999a).
Em julho de 1999 vem a lume o chamado Plano
2
As chamadas “leis” orgânicas do ensino consistem em um Estratégico 1999-2010 (IEL, 1999b), que traça um
conjunto de decretos que reestruturam profundamente a educação novo perfil para a entidade, a partir de quatro possí-
brasileira, estabelecendo, pela primeira vez, a educação como uma veis cenários para o país, em 2020. Dos quatro cená-
questão nacional. rios, três deles são bastante favoráveis aos interesses
da burguesia industrial, na medida em que antevêem chamada reestruturação produtiva, a CNI divulgou o
relativa estabilidade política; já o último traça um fu- documento Competitividade industrial: uma visão
turo quase apocalíptico para a economia brasileira. estratégica para o Brasil (CNI, 1988), no qual afir-
Para cada um deles, uma idéia-força é apresentada. ma que
Com relação ao primeiro cenário, denominado “De-
senvolvimento integrado”, o IEL prevê que o país al- [...] a tarefa que se impõe é a elaboração e uma estra-
cançará altos níveis de desenvolvimento econômico tégia que permita recriar a institucionalidade, incluindo o
e uma relativamente grande integração à economia papel do Estado como agente produtivo e normativo, e a
internacional, combinada com média qualidade de viabilização de novos instrumentos que reconheçam o es-
vida, expressa em índices moderados de pobreza e gotamento do modelo substituidor de importações e a exis-
altos indicadores sociais, registrando também uma tência de um parque produtor complexo. (p. 11)
leve desconcentração regional e um baixo impacto
ambiental. Nesse contexto, o Estado assumiria um Quais seriam os novos papéis a serem desempe-
caráter “indutor e regulador ativo”; já as universida- nhados pelo Estado, pela educação superior? Para a
des e as instituições tecnológicas seriam bastante di- burguesia industrial, o sistema educacional brasilei-
nâmicas, com uma postura propícia à interação recí- ro, em todos os seus níveis e modalidades, representa
proca. As empresas, por sua vez, também aumentariam um “ponto de estrangulamento” interno na busca da
sua participação na geração/difusão do conhecimen- competitividade. Para os empresários industriais, a
to. Haveria um adensamento do espaço de articula- permanência do analfabetismo, a baixa cobertura da
ção empresas x universidades, com crescente presen- população escolarizável (tanto em nível médio quan-
ça de instituições mediadoras em nível estadual. Para to em nível superior) e a reduzida integração univer-
o IEL, a “idéia força do cenário é Educação e conhe- sidade-empresa seriam persistentes entraves à com-
cimento para a competitividade” (1999b, p. 14). petitividade. Na visão da burguesia industrial, o maior
Sem optar explicitamente por um dos quatro ce- problema para a formação de recursos humanos en-
nários para o Brasil em 2020, o documento traça nove contrar-se-ia no fato de o sistema de ensino estar “afas-
linhas de atuação para o IEL que se desdobram em 15 tado das verdadeiras necessidades geradas nas ativi-
“projetos estratégicos”, entre os quais destacamos dades econômicas” (idem, p. 19). Nesse sentido, a
dois: o Projeto de Empreendedorismo nas Instituições confederação sugere ao governo:
de Ensino e o Projeto de Modernização das Universi-
dades. Com relação ao último, o escopo seria desen- [...] atuar na formação de mão-de-obra de nível supe-
volver propostas de aperfeiçoamento dos currículos rior buscando uma maior integração universidade-empresa
universitários visando sua melhor adequação às ne- que possibilite a redefinição do sistema de ensino, de modo
cessidades de recursos humanos para a indústria, bem a atender à Pesquisa Básica e às necessidades geradas nas
como reformas institucionais e autonomia das uni- atividades econômicas. (idem, p. 20)
versidades (idem, p. 32-34).
Podemos, então, concluir que, após três décadas, Ou seja, se por um lado a CNI aponta problemas
sem se desviar de suas finalidades originais, o IEL em todos os níveis de ensino, por outro lado a preocu-
consolidou as bases para uma proposta de reforma da pação fundamental da entidade, naquele documento, é
educação superior, sobre a idéia-força “Educação e dirigida para a universidade pública. Seu objetivo é,
conhecimento para a competitividade”. com isso, subordinar a pesquisa e o ensino, ou seja, a
Na verdade, as propostas apresentadas pelo IEL universidade, às “necessidades econômicas”, isto é, às
já vinham sendo desenvolvidas pela CNI desde o fi- necessidades do grande capital industrial, e, para tal,
nal da década de 1980. Com efeito, no contexto da propõe um amplo conjunto de ações articuladas.
Em primeiro lugar, a CNI aponta a necessidade dade, participar dos órgãos governamentais responsá-
de um maior rigor na transferência de recursos para as veis pela formulação da política tecnológica.5
universidades, condicionada à avaliação da qualidade. Além das duas ações anteriores, a confederação
Em segundo lugar, propugna-se a identificação e a di- indica ainda a necessidade de implantar, naqueles es-
vulgação dos centros de excelência, em nível de gra- paços científicos, uma “atitude empresarial” com a
duação e de pós-graduação, a partir dos “exames de finalidade de redefinir as suas funções e objetivos,
avaliação”.3 Em terceiro lugar, a criação de incentivos incluindo-se aí a meta de venda de serviços e a des-
fiscais para promover a canalização de recursos priva- burocratização das contratações de serviços externos
dos para o sistema público de ensino, desde que garan- (CNI, 1988, p. 21).
tida a participação direta das empresas na decisão so- Enfim, a competitividade é tomada como um
bre a destinação desses recursos. Como quarta ação, a verdadeiro paradigma pedagógico para a educação
implementação de programas especiais de alfabetiza- brasileira, em particular para a educação superior,
ção (português e aritmética) voltados para a força de notadamente as universidades públicas.
trabalho industrial efetivamente empregada. A quinta Em 2004, a burguesia industrial encontra a con-
ação refere-se à flexibilização no regime de dedicação juntura política propícia para atuar na “modernização
exclusiva dos docentes-pesquisadores, na medida em da universidade” em um plano mais estrutural, posto
que propõe a ampliação da “liberdade” para participa- que o Governo Lula da Silva cria o grupo interminis-
ção daqueles em consultorias externas.4 Como sexta terial de reforma universitária.6
ação, a confederação propõe ações para uma maior in-
tegração entre as empresas e as universidades (e cen- A reforma da educação superior segundo a CNI
tros de pesquisa), a partir da criação, nessas institui-
ções, de conselhos definidores de linhas estratégicas Convidada pelo então ministro da Educação Tarso
de pesquisa com a participação efetiva dos empresá- Genro a participar do debate da reforma da educação
rios. Os empresários também devem, na visão da enti- superior, a CNI7 prontamente respondeu apresentan-
do a sua proposta, consubstanciada no documento
Contribuição da indústria para a reforma da educa-
ção superior (CNI, 2004).
3
Cabe ressaltar que, a partir de 1996, o MEC inaugurou o
processo de avaliação dos cursos de graduação. Além disso, naque-
le ano, o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) passou a im-
5
plementar o Programa de Apoio a Núcleos de Excelência Em maio de 2004, o presidente Lula, além de reencaminhar
(PRONEX). O Governo Lula, por meio da Coordenação de Aper- o projeto de Lei de Inovação, assinou simultaneamente uma me-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), instituiu o cha- dida provisória criando o Conselho Nacional de Desenvolvimen-
mado Programa de Excelência Acadêmica (PROEX), destinado aos to Industrial, que será responsável por traçar diretrizes de longo
programas de pós-graduação classificados com as notas 6 e 7. prazo para o desenvolvimento do setor produtivo.
4 6
Encaminhada originariamente ao Congresso Nacional em Como veremos mais adiante, as concepções do IEL, des-
2002, por Fernando Henrique Cardoso, o projeto de “Lei de Ino- critas anteriormente, servem de base à proposta de reforma da
vação” foi reencaminhado, em maio de 2004, pelo Governo Lula. educação superior da CNI, encaminhada ao Governo Lula da Sil-
A lei transforma profundamente a relação universidade-empre- va em 2004.
7
sa. Para uma análise da política de ciência & tecnologia (C&T) Cabe talvez destacar que o atual presidente da CNI, Ar-
do Governo Fernando Henrique Cardoso, ver Oliveira (2002). mando de Queiros Monteiro, é deputado federal pelo Partido Tra-
Para uma análise da educação superior no mesmo governo, ver balhista Brasileiro (PTB) de Pernambuco, que, por sua vez, inte-
Cunha (2003). gra a chamada “base do governo”.
Na apresentação, a CNI reafirma seus permanen- mática”, ou seja, “a universidade deve estar voltada
tes objetivos hegemônicos e lança “seis grandes de- para o setor produtivo e para o mercado de trabalho”,
safios”: pois, na “avaliação popular, universidade e indústria
são instâncias complementares” (idem, p. 13). Seguin-
1. instituir novo marco regulatório para avaliar do em sua ventriloquia, o documento afirma que os
o desempenho das instituições de educação “formadores de opinião” reconhecem a necessidade
superior (IES); da manutenção de uma educação superior gratuita de
2. implementar um processo de autonomia subs- boa qualidade. Contudo, no “quadro atual de restri-
tantiva no conjunto das universidades; ções fiscais”, o Estado deve criar mecanismos de fi-
3. desenvolver pesquisa básica e aplicada, cuja nanciamento, no caso, a “divisão dos ônus com os se-
utilidade social e econômica esteja vinculada tores que usufruem dos produtos do conhecimento”.
ao projeto de nação; Nesse ponto, novamente uma aparente incoerência,
4. aperfeiçoar os critérios de credenciamento e mas que é logo desfeita: “a pesquisa aplicada [...] se-
de avaliação praticados pelo sistema de edu- ria uma fonte de investimento para a universidade com
cação superior; embasamento na pesquisa científica” (idem, p. 14).
5. implementar padrões educacionais compatí- Já estamos em condições de sintetizar prelimi-
veis com a sociedade da informação e do co- narmente a lógica argumentativa da burguesia indus-
nhecimento; trial. Podemos dizer que, para a CNI, as universida-
6. ampliar a oferta de educação superior na área des públicas devem ser preservadas, mesmo que ainda
tecnológica. gratuitas para os estudantes; porém, devem adaptar-
se às necessidades do “setor produtivo”. E, de forma
Com vistas a sustentar o conjunto das propostas bastante inteligente, propõe um mecanismo privati-
anteriores, o documento defende, em primeiro lugar, zante para manutenção do ensino público e gratuito: a
explicitamente, o discurso da teoria do capital huma- venda dos resultados da pesquisa aplicada às empresas
no (CNI, 2004, p. 9).8 Na seção seguinte, o documen- interessadas. A CNI, portanto, não defende a privatiza-
to da confederação transpõe a relação educação-de- ção das universidades públicas da mesma forma que
senvolvimento, apresentada de forma genérica, para ocorreu com as empresas estatais, mas pretende atrelar
o plano específico da educação superior: as IES à lógica e aos propósitos do capital.
Na seção “A educação superior necessária ao
É importante ressaltar que, diante dos crescentes ní- desenvolvimento: desafios e propostas”, o documen-
veis de exigência e de complexidade no trabalho e, em fun- to enumera uma série de “propostas” que encaminha-
ção das inovações tecnológicas e das novas formas de or- riam a superação dos “desafios” postos pela CNI às
ganização da produção, o setor produtivo ressente-se da universidades brasileiras.
insuficiência e da inadequação da oferta de educação su- O primeiro “desafio”, bastante curioso pela sua
perior, na área tecnológica. (idem, p. 11, grifo meu) formulação paradoxal, é “universalizar o acesso à
educação superior com qualidade”, o que significa-
Reforçando o seu ponto de vista, o documento da ria, em cinco anos, elevar de “9% para 30% da popu-
CNI diz retratar a “percepção da sociedade brasileira lação em idade universitária” (CNI, 2004). Um breve
sobre a reforma da educação superior”, que seria “prag- comentário: “universalizar” ainda significa “genera-
lizar”, e não apenas atingir uma taxa de cobertura de
menos de um terço da população “em idade universi-
8
Sobre o capital humano, ver Frigotto (1989) e Rodrigues tária”. Mas, quais seriam as propostas para a supera-
(1997). ção desse “desafio”?
tárias atuais, gerir os recursos públicos com “eficiên- das as proposições da CNI? Percorrendo todo o do-
cia e eficácia”, vincular o incremento de recursos à cumento Contribuição da indústria para a reforma
ampliação das matrículas e, finalmente, o aumento da educação superior, não é possível distinguir for-
de recursos próprios pela “prestação de serviços à malmente o alvo da proposta da CNI, se a universida-
sociedade”. Enfim, a solução proposta pela CNI para de pública ou a privada. Contudo, a citação a seguir
o financiamento do sistema de educação superior se- esclarece a posição da CNI:
gue o receituário neoliberal padrão.10
Prosseguindo, o documento da CNI, mais uma É ainda muito pequeno o número de jovens estudan-
vez, propõe “adequar os conteúdos programáticos da tes de cursos superiores no Brasil, mesmo a despeito da
educação superior aos requisitos da sociedade do co- referida evolução da educação. De um lado, reduziu-se sen-
nhecimento”, e a “disseminação de uma cultura em- sivelmente a expansão do sistema de educação superior
preendedora em todos os níveis educacionais” (idem, público, sobretudo o subsistema de maior relevância, o fe-
p. 35). deral, composto pelo conjunto das Instituições Federais de
O penúltimo “desafio” repisa também questões Educação Superior – IFES. De outro lado, as matrículas
já postas pelo IEL desde a sua criação, e também pelo nas instituições particulares de educação superior passa-
documento ora em análise: a “interação Empresa- ram a ser majoritárias, apresentando, porém, graves defi-
Universidade”.11 As propostas já são conhecidas: in- ciências qualitativas. Esses fatores evidenciam o desequi-
cubadoras de empresas nas IES; oferta de estágio nas líbrio do sistema e sua inadequação às reais necessidades
empresas; geração de conhecimento voltado para a do país. (idem, p. 11, grifos meus)
“inovação tecnológica e a gestão empresarial” (idem,
p. 37-41). O documento, de forma tácita, assume como alvo
O último “desafio” repete o anterior, apenas es- preferencial das reformas que propõe as universida-
pecificando a pesquisa e a inovação, que é considera- des públicas, especialmente as universidades fede-
da pela CNI pouquíssimo prática, posto que, em rais.12 A CNI não escolheu buscar parceria com as
geral, não se convertem em patentes, isto é, conheci- empresas de educação superior, ou seja, torná-las alvo
mento privado. Nesse sentido, entende que as “agên- da “verdadeira revolução educacional”, pelo simples
cias tradicionais de financiamento deveriam mudar motivo de que as IES privadas não são capazes de
os seus critérios de julgamento e avaliação, agregan- responder às demandas da indústria, posto que apre-
do aos seus comitês de avaliação a participação de sentam “graves deficiências qualitativas”. Nesse sen-
especialistas do setor produtivo” (idem, p. 42). tido, é bastante curioso perceber que a fração indus-
Contudo, cabe ainda uma última questão obscu- trial da burguesia não confia no ensino-mercadoria,
ra no discurso empresarial aqui analisado: para qual tampouco no conhecimento-mercadoria, produzidos
universidade – pública ou privada – estariam volta- pela nova burguesia de serviços.
Em síntese, o documento em tela, de fato, traduz
as expectativas da indústria para a reforma da educa-
ção superior, mesmo que de forma repetitiva (talvez
10
Além de repetir a tese da flexibilização curricular, ajusta- até por procedimento pedagógico). Em momento al-
da às demandas da produção, e defender um “Sistema de gum a CNI esconde as suas finalidades ou os meios
Certificação por Competências” (CNI, 2004, p.33). Essas propos-
tas já possuem bases legais vigentes, principalmente com a pro-
mulgação do decreto n. 5.154/04, que regulamenta a educação 12
Caberia desenvolver-se um estudo sobre a relação estabe-
profissional. Para uma breve análise, ver Rodrigues (2005a). lecida entre a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
11
Observe-se que a ordem dos termos do binômio foi alterada. (FIESP) e as universidades estaduais paulistas.
para adequar a formação humana e a universidade com a sigla ABM,14 liderou, em 2000, a constituição
pública aos seus próprios interesses. O que a burgue- do Fórum das Entidades Representativas do Ensino
sia industrial pretende é que a estrutura universitária Superior Particular. É essa a origem do atual Fórum
pública, devidamente fragmentada na forma e no con- Nacional da Livre-Iniciativa na Educação, (re)criado
teúdo, assim como os currículos e as pesquisas de- no contexto da atual reforma da educação superior,
senvolvidas no seu interior, atendam à necessidade mais precisamente em reação ao estabelecimento do
intrínseca e fundamental do capital: acumular, acu- Programa Universidade para Todos (PROUNI).15
mular sempre. A criação e a composição do Fórum Nacional da
Livre-Iniciativa na Educação confirmam, no campo
Os empresários do ensino e a educação superior dos serviços, a anatomia da representação dos inte-
resses da burguesia (industrial) traçada por Diniz e
O Fórum Nacional da Livre-Iniciativa na Educação Boschi (2004), que indica a emergência e a convi-
vência entre um formato corporativo instaurado e su-
Os empresários do ensino, fração da nova bur- pervisionado pelo Estado e uma rede de associações
guesia de serviços, embora atuantes em todos os ní- civis paralelas, funcionando com autonomia ante o
veis e modalidades de venda do ensino-mercadoria, sistema oficial:
atuam mais fortemente na educação superior, sendo
responsáveis por mais de 70% das vagas desse nível As associações extracorporativas, organizadas em
educacional. âmbito nacional e de forma autônoma, reúnem empresas de
A nova burguesia de serviços ocupa uma posi- um determinado setor ou de setores afins, sendo a afiliação
ção particular na estrutura econômica, social e políti- e a contribuição de caráter voluntário. [...] Embora de ex-
ca brasileira. Pois se, por um lado, não dispõe do po- pressão nacional, sua capacidade de aglutinação é limita-
der econômico dos grandes grupos industriais, da, na medida em que estão também organizadas setorial-
representados pela CNI, por outro lado vem sendo mente. (p. 45)
favorecida pela posição estratégica que ocupa na po-
lítica neoliberal, posto que é herdeira direta da des- Portanto, em que pesem as diferenças de crença,
truição dos serviços públicos, promovida principal- de estatuto jurídico e de peso político específico, a
mente pelas políticas neoliberais.
Dado o seu caráter subordinado na configuração
da reprodução do capital em geral, além de bastante 14
Atualmente, a ABMES congrega 320 entidades “mante-
marcada pela emergência do neoliberalismo, no Bra- nedoras” de IES privadas (cf. <http://www.abmes.org.br/
sil, a organização centralizada dos empresários da sobre_abmes/20anos/ies_associadas.htm>. Acesso em: 4 nov. 2005.
educação, particularmente da educação superior, é 15
O fórum reúne 25 entidades de diversas naturezas jurídicas,
ainda incipiente. tais como associações, sindicatos, federações e confederação, além
Dentre a grande variedade de entidades repre- de entidades confessionais. Dentre as entidades que compõem o
sentativas dos interesses das instituições privadas de fórum, destacam-se a Associação Brasileira de Escolas Superiores
ensino destaca-se, no plano da educação superior, a Católicas (ABESC), a Associação Brasileira de Instituições Educa-
Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino cionais Evangélicas (ABIEE), a Associação Nacional das Universi-
Superior (ABMES).13 A ABMES, fundada em 1982 dades Particulares (ANUP), a Associação Nacional dos Centros Uni-
versitários (ANACEU), a Confederação Nacional dos Estabeleci-
mentos de Ensino (CONFENEN), o Conselho de Reitores das Uni-
13
Sobre as entidades representativas da educação privada, versidades Brasileiras (CRUB), além da própria ABMES (cf.
laicas ou confessionais, ver os estudos de Neves (1994, 2000, 2002). <www.forumdeeducacao.org.br>. Acesso em: 2 nov. 2005).
reforma em vias de ser encaminhada ao Congresso apresentação, que é contra in totum o anteprojeto,
Nacional pelo Governo Lula da Silva logrou unificar posto que “o mesmo não satisfaz o que o Brasil preci-
as mais importantes entidades representativas do ca- sa para criar as âncoras de sustentação de um sistema
pital investido em educação sob a profissão de fé na coerente com os atuais desafios da educação brasilei-
“livre-iniciativa”, mesmo que muitas delas reneguem ra” (idem, p. 2). A razão fundamental dessa rejeição
três vezes seus fins lucrativos. Nesse sentido, enten- pode ser resumida na interpretação de que o antepro-
dendo que o Fórum Nacional da Livre-Iniciativa na jeto possuiria um nítido “eixo intervencionista” (idem,
Educação representa uma solução de compromisso p. 3). É essa caracterização que vai efetivamente es-
entre as diversas forças econômicas e políticas no truturar toda a análise da proposta governamental de-
campo da venda de educação-mercadoria, será desen- senvolvida nesse e em outros documentos do fórum.
volvida uma análise de sua contraproposta às formu- Nesse sentido, a entidade dos empresários do ensino
lações emanadas do Poder Executivo para a reforma entende que o anteprojeto trata em um único docu-
da educação superior. mento legal de assuntos de ordens bastante distintas,
Dentre os diversos documentos e manifestações restringe a autonomia universitária, além de abrigar
públicas exaradas pelo fórum, foi selecionado para dispositivos que “transgridem princípios constitucio-
ser analisado o documento Considerações e recomen- nais”. O fórum, fazendo jus à sua denominação, cla-
dações sobre a versão preliminar do anteprojeto de ma por “livre-iniciativa”, mesmo que esta se choque
lei da reforma da educação superior (Fórum, 2005), frontalmente com outro princípio constitucional: “ga-
divulgado em 29 de março de 2005. Esse documento rantia de padrão de qualidade” da educação superior.
foi escolhido, em detrimento dos demais, dado o seu Senão, vejamos:
caráter programático, que, como tal, serviu de base
para a análise da segunda versão do anteprojeto. O Fórum reconhece que o Poder Executivo tem o
dever de zelar pelos critérios de autorização de cursos e
O fórum e a reforma instituições, bem como pela observância do princípio da
“garantia de padrão de qualidade” da educação superior,
O documento Considerações e recomendações consagrado pela Constituição Federal. (idem, p. 5, grifos
sobre a versão preliminar do anteprojeto de lei da do original)
reforma da educação superior (Fórum, 2005), com-
posto por 19 páginas, é organizado em duas partes, Contudo, o princípio da qualidade não pode cor-
além da “Apresentação”, a saber, “Breve análise do romper o maior princípio do modo de produção capi-
anteprojeto” (cerca de três páginas) e “Posições e re- talista: o direito à propriedade privada dos meios de
comendações do Fórum” (cerca de 16 páginas). produção:
Após alguns parágrafos de celebração da inicia-
tiva privada no campo educacional, além de referên- Mas entende que o zelo e o denodo governamentais
cia explícita à contenção da expansão das IES federais, postos no exercício dessa nobre função não devem ignorar
para que se fosse impedido, com isso, o crescimento e não podem atropelar o que estabelecem as normas que
do déficit público,16 o fórum logo anuncia, em sua regem matérias tão díspares quanto são as da ordem educa-
cional e as da ordem econômica pertinentes à livre atuação
da iniciativa privada. (idem, ibidem, grifos meus)
16
Sitiadas pela lógica do capital financeiro, burguesia in-
dustrial e nova burguesia de serviços educacionais irmanam-se no Em síntese, “o Fórum é contrário a quaisquer
declarado objetivo supremo de contenção do déficit público – ob- investidas contra os princípios constitucionais que
viamente, sem abrir mãos de seus subsídios. garantem a livre iniciativa na educação” (idem, p. 14).
Em que pese a peremptória afirmação inicial, de Com relação ao modelo de educação superior,
que o anteprojeto “não merece uma simples correção fundamentalmente naquilo que tange à autonomia e
de pontos”, discorre suas sugestões. ao modelo de universidade baseada na indissociabili-
Primeiramente, o documento preocupa-se com a dade ensino-pesquisa-extensão, o Fórum Nacional da
estrutura em si do anteprojeto governamental e com Livre-Iniciativa na Educação entende que tal asso-
as competências institucionais do MEC. Nesse senti- ciação é fruto da “pressão exercida pela comunidade
do, indica ao Poder Executivo que, caso a reforma seja acadêmico-científica das grandes universidades”, isto
realizada, ela deverá ser consignada por diversos dis- é, as universidades públicas. Essas universidades,
positivos legais. O fórum entende que se deveria pre- supostamente apoiadas em “visões idealistas” do sé-
liminarmente alterar o capítulo da Lei de Diretrizes e culo XX, estariam defendendo como modelo único
Bases da Educação Nacional (LDB) sobre educação para a educação superior a “universidade de pesqui-
superior. Em seguida, dever-se-ia aprovar uma “lei or- sa”. Concisamente, os empresários do ensino enten-
gânica ou estatuto” das instituições federais de educa- dem – e nisso estão plenamente em acordo com os
ção, que tratasse de aspectos relacionados à autono- empresários da indústria – que deve existir a “plurali-
mia, ao financiamento e à gestão. Em terceiro lugar, o dade”: “O Fórum defende a pluralidade de institui-
governo deveria aprovar uma lei que estabelecesse um ções de ensino superior, com diferenciados graus de
novo “marco regulatório” das relações entre o poder autonomia para o seu desenvolvimento e expansão,
público federal e as IES privadas. Nesse sentido, ca- desde que demonstrados níveis de qualidade” (Fórum,
beria a revisão do status institucional do MEC, de for- 2005, p. 11).
ma que lhe seja retirada a prerrogativa de instância Isso desde que a avaliação do “nível de qualida-
reguladora do sistema educacional, atribuindo tal po- de” não interfira na liberdade de gestão do negócio
der a uma “agência reguladora independente”. Em educacional, obviamente. Com efeito, o fórum execra
outras palavras, os empresários de ensino entendem qualquer tentativa de que se estabeleça alguma forma
ser nefasta a duplicidade de funções do MEC, que, de gestão democrática, seja pela eleição de dirigen-
simultaneamente, regula o sistema federal de educa- tes, seja a partir da instalação do chamado (na última
ção e mantém uma grande rede de educação superior.17 versão do anteprojeto de reforma) conselho social de
Postas as indicações anteriores, de como o Po- desenvolvimento. Indo adiante, o documento ainda
der Executivo deveria proceder, os empresários do ressalta que os mecanismos atuais de avaliação da
ensino tecem uma série de considerações e algumas qualidade ainda são muito incipientes, demandando
sugestões específicas quanto à reforma: melhoria da maiores discussões, inclusive pela incorporação de
qualidade, autonomia, pluralidade de instituições, representação das IES privadas nos atuais órgãos pú-
gestão democrática, avaliação, pós-graduação, inter- blicos que buscam aferir a qualidade educacional
ferência na livre-iniciativa (aliás, já mencionada), (idem, p. 13). Em outras palavras, os empresários do
democratização do acesso e da permanência, questão ensino não confiam no MEC como órgão avaliador
patrimonial, valorização do magistério, ingresso do do sistema educacional, posto que, entre outros as-
capital estrangeiro no negócio da educação-mercado- pectos, o ministério simultaneamente regula, avalia e
ria, entre outros. mantém instituições de educação superior.
Os mercadores de ensino, partindo da compreen-
são de que o conhecimento (e, portanto, a pesquisa) é
17
Cabe talvez explicitar que tal proposta é símile àquela elemento central para o desenvolvimento das forças
implementada no Governo Fernando Henrique Cardoso, quando produtivas, reconhecem que as atividades de investi-
da privatização de empresas estatais, que criou diversas agências gação institucionalizadas, no interior de suas institui-
reguladoras. ções, são bastante débeis, inclusive considerando-se
que qualquer política pública, mesmo que de peque- vatista pulsa soberana”. Em que pesem as metamor-
na monta e que atenda aos interesses de frações pro- foses ocorridas na proposta governamental entre 4 de
dutivas do capital, precisa estar em consonância, ou dezembro de 2004 e 29 de julho de 2005,25 pode-se
melhor, submissa à política macroeconômica, de ma- concluir que a análise de Leher continua, em linhas
triz monetarista, particularmente o chamado controle gerais, correta.
do déficit público, política esta que favorece direta-
mente a fração financeira do capital.23 Educação superior como
Embora o presente texto não tenha o objetivo de bem público: a solução do Executivo
analisar o projeto de reforma da educação superior
em si, suas mutações internas ao longo de três ver- Como o Poder Executivo gerencia os interesses
sões, tampouco o conjunto de medidas legais e políti- do capital em geral, mesmo que para tal precise, even-
cas públicas que dão o contorno no qual emerge a tualmente, confrontar algum interesse particular? Para
proposta governamental de reforma da educação su- responder, mesmo que preliminarmente, tal questão,
perior, se faz necessário apresentar um panorama no deve-se analisar tanto a Exposição de motivos (Bra-
qual se insere o atual anteprojeto. sil, 2005a)26 quanto o Anteprojeto de lei da educação
Para Roberto Leher (2004),24 são cinco as prin- superior (Brasil, 2005b) propriamente dito, e
cipais linhas de força das iniciativas governamentais confrontá-los com as propostas exaradas da CNI e do
que informavam a versão original do anteprojeto de Fórum Nacional da Livre-Iniciativa na Educação.
reforma da educação superior. A primeira, a terceira e Em primeiro lugar, tanto os empresários indus-
a quarta linhas de força indicam a consolidação da triais e do ensino como o Poder Executivo partem do
educação superior como uma mercadoria a ser pressuposto de que a educação superior brasileira deve
fornecida pelas instituições privadas em resposta às contribuir para a integração do país à economia (ca-
demandas do mundo dos negócios. Posto que a edu- pitalista) mundial, ou, como formulou o IEL (1999b,
cação superior é encarada pelo governo como merca- p. 14), a idéia-força do cenário a ser perseguido é
doria, a segunda linha procura naturalizar a idéia de “Educação e conhecimento para a competitividade”.
que poucos jovens das camadas populares terão aces- Nesse sentido, tanto a burguesia industrial quan-
so aos cursos superiores de qualidade. Finalmente, a to o Governo Lula da Silva operam uma associação
quinta linha de força caracteriza a hipertrofia do con- linear e estreita entre educação e desenvolvimento
trole governamental (produtividade, eficiência e ideo- econômico. Essa aproximação explicita-se na Expo-
logia reguladas por meio da avaliação) e do mercado sição de motivos em diversos momentos, dos quais
(financiamento e utilitarismo) sobre a universidade pode ser destacada a quarta diretriz da reforma, de-
pública, inviabilizando a autonomia e, principalmen- nominada “Papel estratégico das universidades”:
te, a liberdade acadêmica.
Em síntese, para Leher (2004), com quem con-
cordamos, “o exame do anteprojeto permite eviden- 25
A título de ilustração, cabe informar que a primeira versão
ciar que, por detrás do verniz público, a torrente pri- contava com 100 artigos, enquanto a terceira versão se desdobra
em 69 artigos. Dentre os temas mais polêmicos que sofreram um
razoável enxugamento, na atual versão, destacam-se o Plano de
23
Apesar do enorme superávit primário, a manchete de O Desenvolvimento Institucional (PDI) e o Conselho Social de De-
Globo de 16 de março de 2006 é: “R$ 1.000.000.000.000,00”. A senvolvimento (CSD), que, em boa medida, entrariam em confli-
cifra de um trilhão de reais (476 bilhões de dólares) refere-se ao to com os interesses da livre-iniciativa na educação.
26
montante da dívida pública interna alcançada no dia anterior. Aliás, cabe assinalar que a exposição de motivos está dis-
24
E, de forma bastante próxima, Silva Jr. e Sguissardi (2005). tribuída por 147 parágrafos, ao longo de 29 páginas.
É um desafio gigantesco compatibilizar o demons- medida reafirma a teoria do capital humano, também
trado potencial de crescimento científico, ancorado na ex- se explicita, no anteprojeto, em diversos artigos. Po-
celente e bem distribuída pós-graduação no país, com a dem ser citados, apenas como exemplos, o 5º (parti-
geração de produtos capazes de competir nos mercados cularmente, incisos V e IX), que trata do “cumpri-
externo e interno e de incorporar média e alta tecnologia mento do compromisso social” por parte das IES, e,
nos processos produtivos. Assim agindo, pode a Nação tor- de forma extremamente clara, o artigo 12º, que trata
nar-se mais competitiva, gerar mais empregos e melhorar do Plano Nacional de Pós-Graduação, a ser traçado
a qualidade de vida de toda a população, fechando o ciclo pela CAPES. Senão, vejamos.
virtuoso do crescimento sustentável. (Brasil, 2005a, § 133, Artigo 12. A Coordenação de Aperfeiçoamento
p. 25, grifos meus) de Pessoal de Nível Superior (CAPES) elaborará, a
cada cinco anos, Plano Nacional de Pós-Graduação
Embora os interesses dos empresários do ensino sujeito a homologação pelo Ministro de Estado da
convirjam perfeitamente para a visão anterior, o docu- Educação, contemplando necessariamente: [...]
mento do Fórum Nacional da Livre-Iniciativa na Edu-
cação não discorre muito sobre a questão. Tal omissão II. a previsão para expansão do ensino de pós-gra-
acaba por revelar o papel mais defensivo, e mesmo duação stricto sensu, inclusive com aumento de vagas em
subordinado, do capital investido em ensino frente ao cursos de mestrado e doutorado, acadêmicos e profissio-
capital industrial. Ou seja, os empresários industriais, nais, compatível com as necessidades econômicas, sociais,
enquanto compradores de mercadoria-educação, mos- culturais, científicas e tecnológicas do país, em especial
tram-se estrategicamente mais preocupados com a qua- com as exigências desta Lei, para o gradativo incremento
lidade dos “insumos” que adquirem, chegando mes- de mestres e doutores no corpo docente das instituições de
mo a desconfiar da qualidade dos produtos ofertados ensino superior; [...]
pela livre-iniciativa privada na educação.27 IV. a consideração das áreas do conhecimento a se-
De outro lado, os seus fornecedores (isto é, os rem incentivadas, especialmente aquelas que atendam às
empresários do ensino) estão mais preocupados em demandas de política industrial e comércio exterior, pro-
preservar a liberdade de vender a sua mercadoria àque- movendo o aumento da competitividade nacional e o esta-
les que estiverem dispostos e em condições de comprá- belecimento de bases sólidas em ciência e tecnologia, com
la, particularmente os trabalhadores. Reconhecem os vistas ao processo de geração e inovação tecnológica; [...].
empresários do ensino que a conversão da educação- (Brasil, 2005b, p. 8, grifos meus)
mercadoria em mercadoria-educação é mediada ne-
cessariamente pelos seus clientes diretos – estudan- Para lograr constituir uma universidade inserida
tes-trabalhadores, em sua grande maioria. Nesse na dinâmica competitiva do padrão de acumulação
sentido, os mercadores do ensino superior acabam por flexível,29 o MEC e a CNI concordam que se faz ne-
ser mais coerentes com o pensamento neoliberal em cessário um “novo marco regulatório”, a partir do qual
educação, o qual proclama ser o mercado o ente re- o sistema de educação superior – notadamente o pú-
gulador da qualidade de ensino.28 blico – precisaria ser expandido.
A concepção compartilhada entre a burguesia Obviamente, nesse ponto o fórum diverge e lem-
industrial e o Governo Lula da Silva, que em grande bra que, se não fosse a contenção da expansão da rede
pública federal, o déficit público teria sido acrescido
27
Cf. CNI (2004, p. 11), já citada neste texto.
29
28
Sobre o tema, ver Friedman (1977), particularmente a se- Sobre o tema, ver Rodrigues (2005b); Reis e Rodrigues
de um trilhão de reais. Além disso, cabe lembrar que Enfim, de fato, a flexibilidade é uma caracterís-
o fórum defende a separação das atribuições regula- tica central do atual padrão de acumulação, tal qual
dora e mantenedora, até agora reunidas no Ministério teorizado por Harvey (1992). Nesse sentido, a consti-
da Educação. tuição de uma universidade pública competitiva esta-
No que diz respeito ao “compromisso social” das ria bloqueada pela má gerência administrativa, ou, em
IES privadas, os empresários do ensino afirmam já outras palavras, o problema seria que o “Estado ad-
estarem implementando-o, posto que seriam respon- ministra mal”, aliás, velho bordão neoliberal repetido
sáveis pela “democratização do acesso à educação pedagogicamente por Friedrich von Hayek e Milton
superior e de inclusão social”, e que “sem a iniciativa Friedman e também pelos presidentes Fernando Collor
privada não haveria o PROUNI”, “que tanto o gover- de Mello, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio
no enaltece” (Cf. Fórum, 2005, p. 14-15). Lula da Silva. Para superar tal obstáculo, CNI e MEC
Embora todos esses atores políticos reconheçam propõem a “autonomia substantiva” para as universi-
a necessidade de expansão da educação superior, to- dades públicas, sob a tutela a do Estado e da própria
dos também estão de acordo que a ampliação de ofer- burguesia, diretamente organizada sob um Conselho
ta de educação-mercadoria se deve dar sobre um mo- Social de Desenvolvimento (cf. artigos 19 e 21, além
delo universitário fragmentado em forma e em dos artigos 32 e 42).
conteúdo, o que foi plenamente atendido pelo ante- Ora, subsumir a universidade pública à lógica do
projeto de reforma da educação superior proposto pelo mercado e, nesse sentido, igualando-a às instituições
Governo Lula da Silva, visando tornar o Brasil uma privadas, sem dúvida, concorre para atender aos inte-
“Nação mais competitiva” (Brasil, 2005b, artigos 6º, resses do capital mercantil educacional, posto que
7º, 8º, 10, 14 e 15). retiraria das universidades públicas uma “vantagem
Com efeito, pelo anteprojeto, deverá haver uma comparativa”, considerada inaceitável pelos empre-
expansão da rede pública pela criação de universida- sários do ensino: a gratuidade e a liberdade acadêmi-
des, centros universitários e faculdades, inclusive com ca sustentadas pelas verbas públicas. Senão, vejamos.
a criação de instituições especializadas por “campo de Com as devidas medidas saneadoras, a universi-
saber”, além de instituições consorciadas (idem, art. 28). dade (fragmentada e “substantivamente” autônoma)
Curiosamente, tal proposta, inscrita no texto frio estaria apta a vender seus serviços no mercado, de for-
do anteprojeto de lei, acaba por contradizer a avalia- ma que suprisse os recursos orçamentários globais con-
ção impressa na exposição de motivos, a qual critica gelados (Brasil, 2005a, artigos 49, 50 e 51).30 Assim,
abertamente a fragmentação do sistema de educação através do contrato de gestão (codinome: PDI, art. 25,
superior, a gigantesca ampliação das IES privadas, articulado à orçamentação geral) estabelecido entre a
além da própria “banalização” do conceito de univer- universidade e o governo, a instituição (então pública)
sidade (Brasil, 2005a). Na verdade, essa incoerência alcançará aquele status jurídico que Bresser Pereira
acaba explicitando, assim, a distinção entre objetivos denominou de organização social (Brasil, 1995).31
proclamados e objetivos reais do anteprojeto.
Os empresários do ensino, talvez motivados por 30
No parágrafo 104 da Exposição de Motivos, o então mi-
interesses imediatos distintos, também defendem vi- nistro Tarso Genro afirma categoricamente que a proposta de lei
gorosamente a “pluralidade de instituições”, posto “não cria novas despesas, já que traz apenas uma regularização de
que, para o fórum (Fórum, 2005), o modelo histórico aspectos contábeis” (cf. Brasil, 2005a, p.20).
de universidade seria fruto de uma “visão idealista do 31
Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/gestao/
século passado”. Mais uma vez, nesse sentido, os conteudo/publicacoes/plano_diretor/portugues.htm>. Acesso em:
mercadores de ensino são mais coerentes com a ideo- 14 abr. 2005. Sintomaticamente, o plano ainda se encontra dispo-
logia neoliberal para a educação. nível no site do Ministério do Planejamento do Governo Lula.
Assim, simultaneamente livre dos recursos or- forma, entraria em conflito com os interesses dos ven-
çamentários necessários para sua manutenção e seu dedores de educação-mercadoria.
desenvolvimento, e livre para vender ensino-merca- Na verdade, ao longo de 12 parágrafos, o docu-
doria (diplomas) e conhecimento-mercadoria (paten- mento deixa bastante claro que encara a educação
tes), a universidade (pública?) estará pronta para dis- como uma mercadoria de tipo especial, uma merca-
putar no mercado, inclusive concorrendo com as doria que precisa ter sua produção e distribuição con-
universidades privadas, os recursos necessários para trolada pelo Estado:
permanecer existindo.
Nesse quadro institucional, também não faria Cabe ao Estado proteger a sociedade da ação perni-
mais sentido a manutenção “rígida” dos contratos de ciosa de instituições de educação superior que não formam
trabalho sob o regime jurídico único, tampouco a per- bons egressos. Os serviços prestados por graduados de ní-
manência real da dedicação exclusiva dos professo- vel superior, quando de má qualidade, causam riscos à so-
res, que doravante estarão também disponíveis, além ciedade e prejuízos aos cidadãos. Então, o sistema de ava-
de juridicamente “protegidos”, para prestarem servi- liação da qualidade e os efeitos regulatórios dela decorren-
ços (inclusive pesquisa e desenvolvimento) diretamen- tes a serem exercidos pelo Estado é uma ação preventiva
te nas instalações das indústrias, ou ainda nos labora- em benefício da coletividade. (idem, p. 12)
tórios das universidades.
Mais uma vez, essas medidas acabarão por eli- Mais uma vez, há uma convergência bastante es-
minar as “vantagens comparativas”, no jargão da pecífica entre as propostas da CNI e do Governo Lula,
vulgata economicista, das universidades públicas ante na medida em que ambos desconfiam da qualidade da
as privadas, colocando-as em pé de igualdade na dis- educação e do conhecimento distribuídos pela burgue-
puta por mercados. sia de serviços que atua no mercado educacional.
Toda a argumentação até aqui desenvolvida bus-
ca demonstrar como a educação e o conhecimento As associações entre o poder público, no plano local,
são encarados, e, mais do que isso, produzidos pela e a iniciativa privada, sob supervisão do Estado, poderão
perspectiva da produção mercantil. Para os empresá- orientar em quais áreas de conhecimento prioritárias esse
rios industriais, o conhecimento e a educação produ- investimento poderia ocorrer de forma a expandir e a aten-
zidos nas universidades são vistos como mercadoria- der melhor às demandas dos estudantes por educação supe-
educação, isto é, como insumos necessários à rior. (idem, ibidem, grifo meu)
reprodução ampliada do capital.
Nesse sentido, a educação e o conhecimento con- Burguesia industrial e governo entendem a edu-
verter-se-iam em uma mercadoria a ser incorporada cação superior e o conhecimento como elementos fun-
ao processo produtivo sob controle do capital indus- damentais para o processo produtivo e, portanto, para
trial. Logo, nessa perspectiva, a educação superior transformação do país numa economia competitiva.
perderia seu status de direito social e subjetivo, nos Em última instância, tal compreensão concorre dire-
termos da doutrina liberal, transformando-se em um tamente para os interesses da burguesia industrial mais
bem comercializável. preocupada na incorporação do conhecimento como
Contudo, a exposição de motivos parece contra- insumo produtivo, isto é, mercadoria-educação, do que
dizer peremptoriamente os interesses imediatos da como mercadoria final, isto é, educação-mercadoria,
burguesia industrial, na medida em que propõe tal qual a entendem os empresários do ensino.
“refundar a missão pública do sistema de educação A solução incompleta, esboçada pelo Executivo
superior”, afirmando assim a “educação como direito para essa contradição, é o estabelecimento da educa-
e bem público” (Brasil, 2005a, p. 10), o que, de certa ção superior como um “bem público”, isto é, uma
mercadoria especial, cuja produção, distribuição e BRASIL. Presidência da República. Plano diretor da reforma do
venda deva ser controlada, tal qual medicamentos Estado. Brasília, 1995.
psicotrópicos. Ora, nesse sentido, a proposta gover- . Poder Executivo, Grupo de Trabalho Interministe-
namental vai de encontro à liberdade mercantil rial. Bases para o enfrentamento da crise emergencial das univer-
propugnada pela burguesia de serviços educacionais, sidades federais e roteiro para a reforma universitária brasileira.
mesmo que esta tenha sido levada a propor a criação Brasília, 2003 (mimeo.).
de uma agência reguladora independente. . Ministério da Educação. Anteprojeto de lei: versão
Em síntese, pode-se afirmar, por um lado, que preliminar, 6 de dezembro de 2004. Disponível em: <http://
há uma convergência específica entre o capital indus- www.mec.gov.br/reforma/Documentos/DOCUMENTOS/
trial e o governo em submeter a educação superior 2004.12.6.16.20.53.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2005.
brasileira, em particular as universidade públicas, à . Ministério da Educação. Exposição de motivos do
lógica de produção do valor, particularmente, atre- anteprojeto de lei da educação superior. Brasília: MEC, 2005a.
lando a produção do conhecimento às demandas de . Ministério da Educação. Anteprojeto de lei da refor-
uma economia competitiva.32 Por outro lado, também ma da educação superior. Brasília: MEC, 2005b.
existe uma convergência específica entre os interes- CNI – Confederação Nacional da Indústria. Competitividade in-
ses da nova burguesia de serviços educacionais e os dustrial: uma visão estratégica para o Brasil. Rio de Janeiro: CNI,
do governo, posto que a submissão da universidade 1988.
pública à racionalidade burguesa e às práticas mer- . CNI: Indústria & Produtividade. Brasília: CNI, n.
cantis acabaria por tornar mais “equânime” a concor- 295, 1996.
rência entre as instituições privadas e públicas. . Contribuição da indústria para a reforma da edu-
Enfim, há uma convergência geral entre os inte- cação superior. Brasília: CNI/SESI/SENAI/IEL, 2004.
resses dos empresários do ensino e dos empresários CUNHA, Luiz Antonio. Educação e desenvolvimento social no
industriais, que se materializam, mesmo que de for- Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.
ma às vezes conflituosa, nas ações do Poder Executi- . O ensino superior no octênio FHC. Educação e So-
vo, posto que ambas as formas do capital (mercantil ciedade, Campinas: CEDES, v. 24, n. 82, p. 37-61, abr. 2003.
educacional e industrial) têm na transformação da DINIZ, Eli. Crise, reforma do Estado e governabilidade: Brasil,
educação – isto é, uma relação social estabelecida en- 1985-95. Rio de Janeiro: EdFGV, 1997.
tre homens – em mercadoria (mesmo que especial) – DINIZ, Eli; BOSCHI, Renato Raul. Empresários, interesses e
ou seja, uma forma fantasmagórica de relação entre mercado: dilemas do desenvolvimento no Brasil. Belo Horizonte:
coisas – a mediação para seu interesse mais geral: a EdUFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2004.
valorização do valor pela exploração do trabalho vivo. FÓRUM Nacional da Livre-Iniciativa na Educação. Considera-
ções e recomendações sobre a versão preliminar do anteprojeto
Referências bibliográficas de lei da reforma da educação superior. Brasília, 2005.
FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. S.l.: Artenova,
BOITO JR., Armando. Política neoliberal e sindicalismo no Bra- 1977.
sil. São Paulo: Xamã, 1999. FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva:
. A burguesia no Governo Lula. Crítica Marxista, Rio um (re)exame das relações entre educação e estrutura econômico-
de Janeiro, Revan, n. 21, p. 52-76, nov. 2005. social capitalista. 3. ed. São Paulo: Cortez; Campinas: Autores
Associados, 1989.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as
32
A íntima articulação entre a reforma da educação superior origens da mudança cultural. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1992.
e a Lei de Inovação é explicitada logo no § 7 da Exposição de IEL – Instituto Euvaldo Lodi. O Instituto Euvaldo Lodi. Rio de
motivos (Brasil, 2005a, p. 2). Janeiro: IEL, 1984.
. Relatório anual. Rio de Janeiro: IEL, 1976. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 3, n. 3, p. 259-
. Relatório anual. Rio de Janeiro: IEL, 1990. 282, 2005a.
. Instituto Euvaldo Lodi: 30 anos de parceria univer- . A nova educação superior brasileira no padrão de
sidade-indústria, 1969-1999. Brasília: IEL, 1999a. acumulação flexível. In: QUARTIERO, Elisa Maria;
. Plano estratégico 1999-2010: versão executiva. BIANCHETTI, Lucidio (Orgs.). Educação corporativa: mundo
Brasília, IEL, 1999b. do trabalho e do conhecimento: aproximações. São Paulo: Cortez,
LEHER, Roberto. Considerações sobre o projeto de lei da educa- 2005b. p. 246-273.
ção superior: versão de 6 de dezembro. Rio de Janeiro, 2004 SILVA JR., João dos Reis; SGUISSARDI, Valdemar. A nova lei
(mimeo.). da educação superior. Revista Brasileira de Educação, n. 29, p. 5-
NEVES, Lúcia. Educação e política no Brasil de hoje. São Paulo: 27, maio/./ago. 2005.
Cortez, 1994. WEINSTEIN, Bárbara. (Re)formação da classe trabalhadora no
. (Org.). Educação e política no limiar do século XXI. Brasil: 1920-1964. São Paulo: Cortez, 2000.
Campinas: Autores Associados, 2000.
. (Org.). O empresariamento da educação: novos con-
JOSÉ RODRIGUES, doutor em filosofia e história da edu-
tornos do ensino superior no Brasil dos anos 1990. São Paulo: cação na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), é pro-
Xamã, 2002.
fessor da Faculdade de Educação da Universidade Federal
OLIVEIRA, Marcos Marques de. A política governamental de ciên- Fluminense (UFF) e pesquisador do Conselho Nacional de De-
cia e tecnologia: da C&T à CT&I. In: NEVES, L. (Org.). O em-
senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Atualmente está
presariamento da educação: novos contornos do ensino superior em estágio de pós-doutoramento no Departamento de Ciência
no Brasil dos anos 1990. São Paulo: Xamã, 2002. p. 65-84.
Política da UNICAMP, no qual desenvolve a pesquisa “Frações
REIS, Ronaldo Rosas; RODRIGUES, José. O declínio da univer- burguesas em disputa no Governo Lula da Silva: o cenário da edu-
sidade pública: considerações sobre o atual quadro das relações cação superior”. Publicações mais importantes: O moderno prín-
sociais de produção da educação superior pública brasileira. Ca- cipe industrial: o pensamento pedagógico da Confederação Na-
dernos Cemarx, Campinas: Cemarx-IFCH-UNICAMP, n. 3, v. 1, cional da Indústria (Campinas: Autores Associados, 1998), A edu-
p. 183-194, 2006.. cação politécnica no Brasil (Niterói: EDUFF, 1998); A nova edu-
RODRIGUES, José. Da teoria do capital humano à empregabili- cação superior brasileira no padrão de acumulação flexível (In:
dade: um ensaio sobre as crises do capital e a educação brasileira. QUARTIERO, Elisa Maria; BIANCHETTI, Lucídio (Orgs.). Edu-
Trabalho & Educação, Belo Horizonte: NETE-UFMG, n. 2, p. 215- cação corporativa: mundo do trabalho e do conhecimento: apro-
230, ago./dez. 1997. ximações. São Paulo: Cortez, 2005. p. 246-273). E-mail:
. O moderno príncipe industrial: o pensamento peda- jrodrig@vm.uff.br
gógico da Confederação Nacional da Indústria. Campinas: Auto-
res Associados, 1998.
. Ainda a educação politécnica: o novo decreto da Recebido em setembro de 2006
Resumos/Abstracts/Resumens