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ART 21 DL 3.688/41
Pelo ensejo, vale desde logo traçar a diferença entre lesão corporal e vias
de fato, eis que esta contravenção pode até mesmo, eventualmente,
deixar vestígios danosos, sem configurar lesão. Veja o artigo 21 do DL
3.688/41:
“Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
(...)
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza
ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente
à violência.”
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Novamente, a diferença está no dolo: o agente que pratica a violência ou vias
de fato, aqui, não quer meramente usar de violência, tampouco causar lesão. Seu
ânimo é de humilhar, causar avilte vexaminoso à vítima.
Repare que o ato físico, a execução, pode ser a mesma em todos as três
infrações: um tapa no rosto pode ser qualquer das três tipificações, a depender do ânimo
do agente. E pode, inclusive, haver concurso na ação do agente.
Vocês vão até encontrar jurisprudência dizendo que o cabelo pode ser
objeto de furto. Particularmente, eu fico com as duas primeiras correntes porque elas se
complementam. Tudo depende do dolo do agente. Pode ser um ou outro, a depender do
dolo do agente.
Sujeito passivo – Quem pode ser sujeito passivo da lesão corporal? Olha
a resposta do seu concorrente: “qualquer pessoa”. Vocês vão dizer o seguinte: “em
regra, qualquer pessoa pode ser vítima de lesão corporal porque nós temos duas
hipóteses claras de vítimas especiais.”
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Vocês já estão cansados de saber que o direito penal não pune a
autolesão. Você não tem como ser sujeito ativo e passivo ao mesmo tempo.
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Eu quero saber o seguinte: a incolumidade pessoal é um bem
disponível ou indisponível? A vítima consente que você ofenda o
corpo dela, você praticou algum crime? Para você saber se o
consentimento da vítima exclui ou não a ilicitude, você tem que
saber, primeiro, se o bem jurídico lesado é disponível ou
indisponível. A incolumidade pessoal do indivíduo é bem
disponível ou indisponível? Você pode me pedir para te dar um
soco? Se eu dou, eu dou o soco, eu pratiquei algum crime?
“Será disponível quando se tratar de lesão leve e não contrariar a moral e os bons
costumes.”
2. Ausência de dolo – Francisco de Assis Toledo. Ele diz que quando o médico
intervém, ele não tem o dolo de ofender, mas o dolo de curar, o que é diferente.
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5. Tipicidade Conglobante – se você adota a tipicidade conglobante, vocês sabem
que exercício regular de direito é hipótese de atipicidade. E, para excluir o
comportamento criminoso do médico.
Era isso que o examinador queria na segunda fase. Ele queria que você
explicasse, principalmente essas correntes modernas: tipicidade conglobante . Vocês tem
seis maneiras de justificar o comportamento médico nessas hipóteses.
O conceito de lesão leve é extraído por exclusão: é leve a lesão que não for
tipificada como mais grave, enquadrada nos §§ 1°, 2° ou 3° do artigo 129 do CP.
O bem jurídico protegido na lesão pode ser considerado relativamente
disponível, como diz parte da doutrina, porque na lesão leve, mas nunca na grave, se
considera que o consentimento do seu titular como excludente da tipicidade. Não se
preenche o tipo, sequer formalmente, nas atividades que violam leve e
consentidamente a integridade física do agente, porque não se preenche o verbo
“ofender”, elementar do tipo.
O furo da orelha para inserção do brinco requerido pela pessoa que se tem
perfurada, por exemplo, simplesmente não é ofensa ao bem jurídico.
Repare que, tecnicamente, não se trata sequer de disponibilidade do bem jurídico
para a lesão leve. Como não há ofensa, não precisou haver disposição da integridade
para que aquela atividade fosse atípica: ela é atípica por não haver ofensa ao bem
jurídico, na essência, e não porque o consentimento excluiu a tipicidade.
E há ainda a assertiva que o bem jurídico só será disponível, mesmo na lesão
leve, se não se ofender, com esta disposição, a moral e os costumes, o que só torna a
defesa da disponibilidade ainda mais estranha, ante a atecnia desta separação do que é
ou não disponível. Como diz Zaffaroni, não cabe ao Direito Penal traçar conceitos de
moral e bons costumes. É por isso que a lesão leve consentida, praticada no ato
sexual, não pode ser considerada típica1 (se praticada em público, pode até levar a
outra capitulação, como ato obsceno, mas em nada pertinente à lesão).
A lesão leve é um crime de dano, material, que se consuma na efetiva causação
da lesão. Por ser plurissubsistente, admite a tentativa, em nada se confundindo, a lesão
leve tentada, com a contravenção das vias de fato, porque o dolo difere, como dito.
É um crime de forma livre, podendo ser executado com qualquer meio hábil.
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As lesões causadas nos esportes violentos são praticadas em exercício regular do direito, e por isso são
justificadas, no nosso sistema, e não atípicas. Em sendo adotada a teoria da tipicidade conglobante,
porém, o exercício regular do direito será excludente da tipicidade, eis que a conduta não será
antinormativa. Como exemplo, a conduta do boxeador ao ferir o adversário em conformidade com as
regras do esporte (normatividade do esporte, portanto), é atípica, assim como a do médico que segue o
protocolo da cirurgia necessária à cura – não há lesão corporal por atipicidade, nos dois casos.
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Arrancar os cabelos ou as unhas pode ou não configurar lesão, a depender
do caso concreto, por conta da aplicação do princípio da insignificância, que é
perfeitamente cabível. A análise é casuística.
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laborativas. Freqüentar aulas, ir à academia, cuidar dos afazeres domésticos, tudo
isto se presta a qualificar o delito de lesão, se impedida a vítima de desempenhar
tais ocupações. A habitualidade é outro elemento relativo, eis que pode a vítima
desempenhá-la diariamente, ou de forma um pouco mais esparsa – a verificação é
casuística.
Como a qualificadora impõe uma questão temporal objetiva – incapacitação por
mais de trinta dias –, o laudo pericial complementar, destinado a demonstrar justamente
este elemento objetivo, é geralmente necessário. O laudo complementar para prova do
tempo só será dispensado quando o prognóstico da lesão, já na realização do laudo
inicial, puder indicar que tal incapacidade perdurará por mais de trinta dias. Entenda: se
o perito que realiza o exame inicial do corpo de delito puder afirmar desde logo, sem
qualquer dúvida, que determinada lesão acarretará afastamento das atividades habituais
por mais de trinta dias, o laudo pericial complementar não é necessário. Se o perito
disser, no exame inicial, que não há como prever este afastamento, aí então o laudo
complementar é imperativo, ou a qualificadora não se comprova. Em síntese, o laudo
complementar é necessário, desde que não seja possível um prognóstico seguro da
duração da incapacitação.
CPP, art. 168, § 2º - Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito
no Art. 129, § 1º, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30
(trinta) dias, contado da data do crime.
Olha que caiu no MP/SP quando a 1ª fase era escrita (era o que hoje é a segunda): bebê
de 2 meses pode ser vítima de lesão corporal de natureza grave pelo inciso I? Ele só
mama e dorme. Se ele não conseguir mamar por mais de 30 dias, que é a atividade
rotineira dele, lesão corporal de natureza grave. “Professora, mas se ele não mamar por
mais de 30 dias, ele morre. ” Não, vai ser alimentado por outros modos, meu deus!
rsrs...”
Pergunta que vai cair no seu concurso: a mulher ficou com o olho roxo e falou:
“enquanto esse olho não voltar ao normal, eu não saio de casa.” Ela ficou por mais
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de 30 dias, por vergonha, sem sair de casa, logo, sem exercer suas ocupações habituais.
Incide esta qualificadora ou não? Se ela, por vergonha, ficar em casa por mais de trinta
dias? Cuidado! A lesão tem que incapacitá-la, não a vergonha da lesão. Então, a
simples vergonha não autoriza esta qualificadora. Ela tem que ficar incapacitada em
face da lesão. Tem jurisprudência nesse sentido. O que tem que incapacitar é a lesão,
não a vergonha da lesão.
Extremamente importante o que vou falar agora. Já dá para perceber que o simples local
da lesão não presume essa qualificadora. Ela tem que ser comprovada por perícia. Não é
porque a pessoa sofreu uma lesão no pescoço que você vai concluir por perigo de vida.
Tem que haver perícia nesse sentido. Não é porque uma pessoa sofreu lesão perto do
coração que você vai presumir essa qualificadora. Não. Tem que ter uma perícia que vai
avaliar, inclusive, a probabilidade séria dessa lesão ocasionar o êxito letal. Então,
cuidado! Tem que haver perícia. A simples região da lesão não permite presunções.
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vislumbrar seu final, mesmo que este seja eventualmente possível. Não
necessariamente, então, será a debilidade permanente irreversível: basta que não
seja possível afirmar que a cura existirá. Sendo impossível afirmar a cura, a
debilidade se considera permanente.
A perda de um unico dente gera essa qualificadora? O que vocês acham? Você levou um
soco e perdeu um dente. O que acha? Gera ou não gera a qualificadora? Ou depende?
Você levou um soco, pulou o dente do siso. Gera essa qualificadora? Para quê serve o
dente do siso? E se você perdesse o dente da frente? A resposta é: depende do dente. Só
vai gerar esta qualificadora aquele dente que, perdido, compromete o órgão de
mastigação. O que a perícia vai fazer? Vai relacionar o dente perdido com o órgão de
mastigação e vai falar: qual era a função desse dente? Sem esse dente há uma redução
no órgão? Se houver, gera qualificadora. Se não houver interferência alguma, não gera
qualificadora.
E a perda do dedo? Concurso cai bastante isso. Você perdeu o dedão do pé. Não
fiquem pensando na parte estética! Vamos pensar na sua capacidade motora, na função
que desempenha o dedão do pé. E aí? É lesão grave? A mesma coisa: vai depender de
perícia. A perícia vai analisar a função daquele dedo no órgão a que ele está ligado. Da
mesma forma se há a perda de um dedo da mão, a perícia pode determinar que ocorreu a
debilidade da função pinça, ou guindaste, exercida pelas mãos2
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Curiosa situação que se pode cogitar é a da perda de um dos dedos por pessoa que possui anomalia física
consistente na presença de seis dedos por mão: se a lesão toma-lhe um dedo, estará configurada a
qualificadora da mesma forma, porque a função pinça, para esta pessoa, era composta por seis dedos, e
não cinco – e a perda de um debilitou a função como esta pessoa conhecia. Esta reflexão leva a concluir
que qualquer análise das qualificadoras deve ser feita de um ponto de vista subjetivo, tendo como foco a
vítima e suas condições pessoais, sob pena de se cometer injustiças, deixando de se computar uma
qualificadora porque uma vítima padece de alguma forma de anomalia qualquer.
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Essa jurisprudência sempre cai em concurso: vamos supor que uma pessoa ficou
debilitada na sua capacidade motora, mas essa capacidade motora pode ser, atenuada
ou mesmo suprida com o auxílio de próteses. Incide essa qualificadora? Isso é
jurisprudência tranquila. Anotem:
Vejam! Eu falei em aceleração de parto. Não falei em aborto. O feto nasce com
vida. Aqui se quer agredir a vítima, aceitando ou querendo a aceleração do parto. Eu
agredi a vítima culposamente, acelerando o parto, jamais assumindo o risco do
aborto.
§ 2º - Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
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de 5 foi para 8, não admite mais suspensão condicional do processo, mas agora admite o
sursis.
Agora prestem atenção: eu falei para vocês que o § 2º trazia lesão corporal de
natureza gravíssima. Onde está escrito isso? Vejam que o § 1º o CP chamou de lesão de
natureza grave. E no § 2º não disse nada sobre lesão corporal de natureza gravíssima. É
criação doutrinária que a jurisprudência aceitou. A expressão lesão corporal de natureza
gravíssima é criação doutrinária. O Código Penal, quando fala em lesão grave está se
referindo ao § 1º e ao § 2º. Ele não conhece a expressão “gravíssima”. Caiu para
delegado de polícia em SP essa questão. Agora, a doutrina é que diferencia. Diz: lesão
grave é o § 1º. Lesão gravíssima é o § 2º. Vejam, então, que há uma criação da doutrina
que a jurisprudência aceitou. Quando o CP fala em lesão grave, abrange os dois
parágrafos. A doutrina, não. Quando ela fala em lesão grave, só quer o parágrafo 1º.
Quando ela quer o parágrafo 2º, ela fala em lesão gravíssima.
Comparando o inciso I do § 1º, com o inciso I do § 2º, dá para ver que este aqui é mais
grave. Lá você fica incapacitado para as atividades habituais por mais de 30 dias. Aqui
você fica incapacitado para o trabalho! E de forma permanente. O que se entende por
permanente?
Uma primeira corrente, de Nelson Hungria, defende que a incapacidade deve ser
constatada para qualquer trabalho, o que acaba, de fato, por inviabilizar
praticamente a aplicação deste inciso I do § 2° do artigo 129 do CP, porque não
há quem não possa desempenhar qualquer atividade laborativa: mesmo um
tetraplégico pode desempenhar atividades intelectuais, por exemplo.
Por isso, há uma segunda corrente que é mais coerente, da qual comungam
Greco, Nucci e Bitencourt, que defende que a incapacidade permanente deve ser
referente ao trabalho que a vitima era apta a realizar.
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A jurisprudência já entendeu como exemplo a vítima ficar manca. Vejam, o fato
de ela ter ficado manca não é uma debilidade de função. Ela continua se movimentando,
mas o fato de ficar manca, é uma enfermidade que a medicina não cura. Já temos
jurisprudência nesse sentido.
- Para Mirabete, “há dolo eventual de homicídio na conduta do agente que pratica o
coito ou doa sangue quando sabe ou suspeita ser portador do vírus da AIDS (Síndrome
de Deficiência Imunológica Adquirida), causando, assim, a morte do parceiro sexual ou
receptor. Enquanto não ocorre a morte, ao agente pode ser imputada a prática do crime
de lesão corporal grave (art. 129, § 2º., II), já que é inadmissível a tentativa de
homicídio com tal espécie de dolo. Entretanto, nada impede que o agente deseje a morte
da vítima em decorrência da contaminação, revelando-se então a tentativa de
homicídio”.
Portanto, para o autor sob enfoque, haveria em regra dolo eventual de homicídio, mas
enquanto a vítima não morre haveria crime de lesão grave por enfermidade incurável. Já
se comprovado o dolo direto voltado para a morte, haveria tentativa de homicídio
enquanto a vítima permanece viva e homicídio consumado com sua morte.
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-Também não prospera a tese de imputação do “Perigo de Contágio de Moléstia Grave”,
de acordo com o artigo 131, CP. Embora seja indubitável que a AIDS é uma moléstia
grave, quando o agente pretende contaminar alguém, age com dolo de dano, de modo a
afastar a incidência do crime de perigo subsidiário, havendo novamente hipóteses de
crimes mais graves tais como a tentativa de homicídio ou a lesão corporal gravíssima.
“Se alguém pratica ato capaz de transmitir não apenas moléstia grave, mas moléstia
eminentemente mortal e o faz dolosamente, incide em tentativa de homicídio (TJSP, RT
784/587)”.
“Em havendo dolo de matar, a relação sexual forçada e dirigida à transmissão do vírus
da AIDS é idônea para a caracterização da tentativa de homicídio (STJ, HC 9.378, j.
18.10.99, vu, DJU 23.10.2000)”.
Entende-se que a decisão ora em análise mantém a polêmica sobre a correta tipificação
da transmissão da dolosa da AIDS, gravitando, como já se disse, entre as lesões
gravíssimas e a tentativa de homicídio. A verdade é que não será a questão da tipificação
resolvida jamais somente no meio jurídico. A medicina e o desenvolvimento de
tratamentos da AIDS farão com que a tipificação venha a modificar-se com o tempo,
podendo mesmo firmar-se como mera doença incurável e não letal. Mas, no atual
estágio, o que se verifica é um simples aumento de sobrevida, permanecendo a AIDS
como uma moléstia mortal, de modo que se discorda da interpretação dada pela Corte
Superior, entendendo-se que a melhor solução é a da tentativa de homicídio que se pode
transmudar de acordo com a ocorrência do resultado morte, em homicídio consumado.
Note-se que sendo considerada a transmissão da AIDS de forma dolosa mero crime de
lesão corporal gravíssima por enfermidade incurável, eventual morte transmudaria o
crime em lesões corporais seguidas de morte e não em homicídio (artigo 129, §
3º., CP). Afirmar que o crime perpetrado por aquele que transmite dolosamente o vírus
da AIDS é de lesão corporal, ainda que gravíssima, corresponde a fugir da realidade,
pretendendo fazer crer que a referida doença é somente incurável, mas não letal. No
atual estágio da medicina isso não é verdadeiro, de modo que num futuro próximo
poderia realmente tal postura ser aceita, mas não neste momento e de acordo com a
realidade.
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tipificação será a de lesão corporal culposa, homicídio culposo, lesão corporal
gravíssima, lesão corporal seguida de morte ou homicídio doloso, consumado ou
tentado.
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O mesmo raciocínio se repete nas cirurgias de esterilização, que devem
observar as regulamentação da Lei 9.263/96. Aqui, porém, há uma
diferença: se a cirurgia não for legalmente realizada, a tipificação recai
no artigo 15 desta lei:
“Art. 15. Realizar esterilização cirúrgica em desacordo com o estabelecido no
art. 10 desta Lei. (Artigo vetado e mantido pelo Congresso Nacional)
Mensagem nº 928, de 19.8.1997
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, se a prática não constitui crime
mais grave.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço se a esterilização for
praticada:
I - durante os períodos de parto ou aborto, salvo o disposto no inciso II do art.
10 desta Lei.
II - com manifestação da vontade do esterilizado expressa durante a ocorrência
de alterações na capacidade de discernimento por influência de álcool, drogas,
estados emocionais alterados ou incapacidade mental temporária ou
permanente;
III - através de histerectomia e ooforectomia;
IV - em pessoa absolutamente incapaz, sem autorização judicial;
V - através de cesária indicada para fim exclusivo de esterilização.”
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“Deformidade permanente é dano estético, aparente, considerável, irreparável
pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória.”
1º corr - Da mesma forma, não se pode tomar em conta a maior ou menor importância
da estética para cada pessoa, para fins penais. Não é porque a vítima é uma modelo que
um pequeno corte no rosto será considerado deformidade permanente, se não o seria em
pessoa de outra profissão. Pode até reverberar na esfera cível, esta diferença pessoal de
relevância da estética, mas não para fins penais.
2º corr - Debalde, há quem entenda que esta cogitação pessoal é cabível, como o faz
Nelson Hungria – o que revela até mesmo um certo preconceito, ao se atribuir mais
importância ao mesmo bem jurídico de uma pessoa do que de outra.
Olha como é legal estudar por Nelson Hungria (você lê um parágrafo e demora 5 horas
para entender o que ele fala)! Olha o que ele diz: “ninguém pode duvidar que devem ser
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diversamente apreciadas uma cicatriz no rosto de uma bela mulher e outra na
carantonha de um quasímodo; uma funda marca torneado pescoço feminino e outra no
perigalho de um septuagenário; um sinuoso gilvaz no braço roliço de uma jovem e
outro no braço cabeludo de um cavouqueiro.” Em síntese, ele quis dizer o seguinte: a
idade, o sexo, a condição social interferem na deformidade. Pronto.
A deformidade, por óbvio, deve ser visível, nas situações normais da vida. Por
isso, é claro que a deformidade em partes íntimas preenche esta qualificação, mesmo
que estas partes só sejam visíveis em situações de intimidade, mas que são normais da
vida.
1.2.2.5. Aborto
O § 3° do artigo 129 dispõe que se da lesão resultou morte, sem dolo direto ou
dolo eventual na aquisição deste resultado, se preenche esta qualificadora. É o resultado
morte, atribuído ao agente a título de culpa, como consequência de uma lesão dolosa.
Havendo dolo, o crime é o homicídio.
Para a qualificadora ser incidente, a morte tem que decorrer da lesão: a lesão
dolosa evolui para a morte culposa. Se a conduta que leva à morte culposa não for a
prática de uma lesão dolosa, o crime que se preenche é o homicídio culposos.
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não se trata de lesão corporal dolosa seguida de morte culposa, porque lesão
nunca houve: trata-se de homicídio culposo.
O ferimento culposo também pode resultar em morte culposa, mas neste caso
não se fala em lesão corporal culposa seguida de morte culposa: se trata puramente de
homicídio culposo, pois é claro que a leitura que deve ser feita é que a quebra do
cuidado gerou a morte, e não que gerou a lesão seguida da morte.
O recorrente foi denunciado pela prática do crime de lesão corporal qualificada pelo
resultado morte (art. 129, § 3.º, do CP), porque, durante um baile de carnaval, sob efeito
de álcool e por motivo de ciúmes de sua namorada, agrediu a vítima com chutes e
joelhadas na região abdominal, ocasionando sua queda contra o meio-fio da calçada,
onde bateu a cabeça, vindo a óbito. Ocorre que, segundo o laudo pericial, a causa da
morte foi hemorragia encefálica decorrente da ruptura de um aneurisma cerebral
congênito, situação clínica desconhecida pela vítima e seus familiares. (…) Conforme
observou a Min. Maria Thereza de Assis Moura em seu voto-vista, está-se a tratar dos
crimes preterdolosos, nos quais, como cediço, há dolo no comportamento do agente, que
vem a ser notabilizado por resultado punível a título de culpa. Ademais, salientou que,
nesse tipo penal, a conduta precedente que constitui o delito-base e o resultado mais
grave deve estar em uma relação de causalidade, de modo que o resultado mais grave
decorra sempre
da ação precedente, e não de outras circunstâncias. Entretanto, asseverou que o
tratamento da causalidade, estabelecido no art. 13 do CP, deve ser emoldurado pelas
disposições do art. 18 do mesmo codex, a determinar que a responsabilidade somente se
cristalize quando o resultado puder ser atribuível ao menos culposamente. Ressaltou
que, embora alguém que desfira golpes contra uma vítima bêbada que venha a cair e
bater a cabeça no meio-fio pudesse ter a previsibilidade objetiva do advento da morte,
na hipótese, o próprio laudo afasta a vinculação da causa mortis do choque craniano,
porquanto não aponta haver liame entre o choque da cabeça contra o meio-fio e o
evento letal. In casu, a causa da morte foi hemorragia encefálica decorrente da ruptura
de um aneurisma cerebral congênito, situação clínica de que sequer a vítima tinha
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conhecimento. Ademais, não houve golpes perpetrados pelo recorrente na região do
crânio da vítima. Portanto, não se mostra razoável reconhecer como típico o resultado
morte, imantando-o de caráter culposo.
Lesões recíprocas são as que ocorrem quando duas pessoas injustamente se agridem. O
agressor ataca a vítima, e é simultaneamente por ela agredido. É o que ocorre, por
exemplo, quando dois colegas de trabalho começam a lutar após uma leviana discussão.
Também incide a substituição da pena quando uma pessoa agride outra, e depois, já
cessada a agressão, ocorre a retorsão. Exemplo: “A” desfere pontapés em “B”. Quando
a situação já estava normalizada, inclusive com a intervenção de terceiros, “B” dirige-se
contra “A” e lhe golpeia com socos. Cumpre destacar que essa situação não se
confunde com a legítima defesa, pois, se a vítima ferir o ofensor apenas para se
defender, não cometerá crime nenhum. Sua conduta nada mais será do que uma reação
legítima contra uma agressão injusta, na forma delineada pelo art. 25 do Código Penal.
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A lesão corporal culposa, prevista no artigo 129, § 6°, do CP, segue a mesma
linha de raciocínio do homicídio culposo, pelo que se remete ao estudo deste delito
anteriormente realizado.
Vale apenas consignar que na lesão culposa, a gravidade dos ferimentos é
irrelevante: se for percebido qualquer resultado gravoso, daqueles arrolados nos §§ 1°
e 2° deste artigo 129, este não tem qualquer efeito sobre a capitulação. A lesão culposa é
sempre tipificada no § 6° do artigo 129, e as consequências do resultado gravoso
poderão, no máximo, repercutir na pena-base do agente.
Se o resultado da lesão culposa for a morte, não se fala em lesão culposa seguida
de morte, como dito: o crime é o homicídio culposo, se a lesão causada normalmente
acarretar tais resultados. Por exemplo, um tiro culposo, disparado ao limpar a arma: é
homicídio culposo, se a vítima morre, e não lesão corporal culposa. Se sobrevive, é
lesão corporal culposa. Ocorre que se a lesão causada não tenha o resultado morte
sequer previsível, não pode a morte ser imputada ao agente, sequer a título de culpa. Um
corte leve no braço da vítima, não intencional, por exemplo: se esta vem a óbito, por
qualquer causa extraordinária, o crime ainda será o de lesão corporal culposa.
O art. 129, § 6º, do CP, traz a lesão culposa, com pena de 2 meses a 1 ano.
O art. 303, do CTB também traz a lesão culposa na direção de veículo
automotor. Qual é a pena? 6 meses a 2 anos. E agora? Nós já vimos isso no
homicídio. No homicídio aconteceu uma coisa parecida, ou seja, 2
resultados idênticos com penas claramente desiguais. Isso é
inconstitucional? Lá no homicídio, como nós defendemos a
constitucionalidade? Fizemos o seguinte: o crime tem o desvalor da
conduta e tem o desvalor do resultado. Apesar do resultado ser o mesmo
(lesão culposa e lesão culposa), a conduta no trânsito é mais perigosa,
merecendo uma pena maior. Então, aqueles que limitarem o ângulo do
desvalor do resultado vão dizer que isso é inconstitucional. Agora, aqueles
que lembrarem que crime é conduta e resultado e lembrarem do desvalor
da conduta vão defender a constitucionalidade.
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§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4 o e
6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
Violência Doméstica
§ 9º Se a lesão for praticada contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem conviva ou tenha
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade: (Acrescentado pela L-010.886-
2004) (Alterado pela L-011.340-2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3
(três) anos.
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b) Lesão praticada contra cônjuge ou companheiro
c) Lesão praticada contra quem o agente conviva ou tenha
convivido.
2º ENTD - Não dá para concordar com ele porque existe a expressão “ou
com quem conviva ou tenha convivido” demonstrando que se trata sim, de
um terceiro grupo não relacionado à ascendência, descendência, cônjuge,
companheiro, irmão. É um terceiro grupo, de pessoa que você convive ou
tenha convivido. Exemplo: namorado, amantes, república de estudantes.
Sabe o que significa isso? Que o § 9º dispensa coabitação. Se você
concorda com a maioria, e não com Nucci, é assim. Dispensa coabitação
presente ou pretérita.
Relações domésticas são as criadas entre os membros de uma família, podendo ou não
existir ligações de parentesco (exemplo: patrão e babá de seu filho).
Coabitação é a moradia sob o mesmo teto, ainda que por breve período (exemplo:
moradores de uma república). Deve ser lícita e conhecida dos coabitantes.
O § 9° do artigo 129 do CP foi inscrito pela Lei Maria da Penha, Lei 11.340/06. Se a
lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, trata-se de mais uma qualificadora
autônoma da lesão leve.
Veja que se já se tratar de lesão qualificada, não se aplica a pena prevista no § 9°: se
aplica a pena da lesão qualificada correspondente, aumentada de um terço, na forma do
§ 10 do mesmo artigo.
O § 11 deste artigo 129 comina ainda mais uma causa de aumento de pena em caso de
lesão corporal praticada no âmbito doméstico e familiar: a pena será aumentada de um
terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência, se esta lesão se der
nas situações de convívio ou parentesco que o § 9° menciona. A deficiência, para ser
considerada, deve ser a efetiva redução da capacidade da vítima.
Então, cuidado! O art. 129, § 11, trata da vítima portadora de deficiência. Nesse
caso, a pena é aumentada de 1/3 nas hipóteses do § 9º e o fato de ela ser portadora de
deficiência é circunstância judicial a ser considerada nos demais parágrafos. O fato da
vítima ser portadora de deficiência é aumento de 1/3 só para o § 9º. Nos demais
parágrafos, é mera circunstância judicial.
Se a lesão corporal for grave, gravíssima ou seguida de morte, e o crime for praticado
com violência doméstica, incidirá sobre as penas respectivas (art. 129, §§ 1.º, 2.º e 3.º) o
aumento de 1/3 imposto pelo § 10 do art. 129 do Código Penal, com a redação conferida
pela Lei 10.886/2004.
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Inaplicabilidade das agravantes genéricas previstas no art. 61, inciso II, “e”
e “f”, do Código Penal
Se a lesão corporal dolosa (leve, grave, gravíssima ou seguida de morte) for cometida
com violência doméstica, não se aplicam as agravantes genéricas previstas no art. 61,
inciso II, alínea “e” e “f”, do Código Penal, afastando-se o bis in idem (dupla punição
pelo mesmo fato).
Veja que o artigo supra reproduz bastante do artigo 129 do CP, mas com as
penas incrementadas, ante a finalidade normalmente espúria do agente que pratica tal
crime.
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