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Um comportamento muito comum que temos enquanto seres complexos que somos é o de estender
nossa realidade aos demais animais. Talvez por conta disto que sejamos capazes de verdadeiros
diálogos com nossos animais de estimação, muitas vezes tratando-os como trataríamos uma criança
humana, presumindo haver neles a nossa própria complexidade. Mesmo que a psicologia animal
não seja nada simples, ainda não se pode dizer que os animais, mesmo de forma rudimentar, tenham
desenvolvido uma “linguagem” própriamente dita. É justamente sobre esta última colocação que
debruça-se o linguísta europeu Émile Benveniste, no quinto capítulo de seu livro Problemas de
Linguística Geral.
O último contraste que Benveniste elabora opõe totalmente a comunicação das abelhas à linguagem
humana. A linguagem humana se organiza como sistemas de unidades e de códigos que fornecem
um inventário sem fim de elementos de significação que são reunidos seleta e distintivamente pelo
falante num enunciado. As abelhas, entretanto, possúem um inventário limitado de códigos e apenas
transmitem mensagens de conteúdo global e pouco variável, sendo animais impossibilitados de
reorganizar os elementos constituintes em novas e distintas mensagens, configurando, então, um
sistema comunicativo incapaz de recursividade, uma das maiores e mais preponderantes
características da linguagem humana.
Por fim, observar o conjunto de contrastes explicitados por Benveniste no quinto capítulo de seu
livro culmina em duas grandes constatações finais. Primeiro, se pode constatar que não há formas
de linguagem tão complexas quanto a humana no reino animal. Cada espécie desenvolve uma
comunicação limitada e própria, como é o caso do código de sinais presente entre as abelhas.
Segundo, podemos inferir a existencia de uma relação entre o comportamento de vida em sociedade
e o desenvolvimento de um comportamento comunicativo mais complexo e elaborado, uma vez
que, dentro do mundo animal, as mais complexas formas de comunicação e linguagem foram
encontradas dentre os animais que apresentam caráter social.
BIBLIOGRAFIA: