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Referência:

MACHADO, Lia Osório. Estado, territorialidade, redes. Cidades-gêmeas na zona de


fronteira sul-americana. In: SILVEIRA, Maria Laura. Continentes em Chamas.
Globalização e Território na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2005, p. 246-284.

ESTADO, TERRITORIALIDADE, REDES.


CIDADES-GÊMEAS NA ZONA DE FRONTEIRA SUL-AMERICANA

Lia Osorio Machado1

Artigo publicado em: M.L.Silveira (org.). Continentes em Chamas. Globalização e


Território na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. Pg. 246-284, 2005

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I - Sistema de Estados e Limites Internacionais

Caracterizar as noções de fronteira e limite no contexto da teoria do estado moderno


é difícil, não só devido à evolução da forma de organização do Estado como porque tais
noções foram sendo empregadas com uma variedade de sentidos no tempo. A primeira
resposta européia à questão dos limites foi simples: os limites de um estado seriam os
limites do reino ou – em tempos pós-coloniais, os limites da colônia de onde o novo estado
emergiu. No entanto, as velhas noções de reino não coincidem com as modernas noções de
território, pois seus limites eram indeterminados e, com freqüência, temporários. É nos
séculos XVIII e XIX que o conceito de soberania foi formalmente traduzido na concepção
do território do Estado como espaço delimitado e policiado pela administração soberana.
Os estados se tornam formas territoriais de organização política. As coletividades ou os
‘povos’ deveriam ser diferenciados em espaços territoriais fixos e mutuamente excludentes,
de dominação legítima. Somente em meados do século XVIII é que os tratados de limites
entre as principais potências européias começam a fazer referencia a estudos de topografia
e levantamentos de engenheiros para a demarcação de limites, porém sem grande
preocupação com a estabilidade das fronteiras. A demarcação da maior parte dos limites
internacionais, não só na Europa, mas em outras partes do mundo só se fará no século XIX
(Foucher, 1988), inclusive no Brasil, emergindo com ela o direito internacional em moldes
modernos.
Historiadores, filósofos e cientistas políticos estão mais ou menos de acordo que
dois processos concomitantes convergiram para a concepção do atual sistema de estados
nacionais, sem necessariamente ter ocorrido entre eles uma relação de causa e efeito.
O primeiro processo é político, e se refere precisamente à emergência da noção de
estado nacional. Embora seja certo que no final do século XVI a Europa ocidental já se
dividia em uma serie de estados territoriais, mais ou menos delimitados, não existia um
pensamento voltado para a elaboração de uma ‘teoria do estado’, nem muito menos
associada à idéia política de nação. Deve-se em grande parte aos filósofos políticos
europeus dos séculos XVII e XVIII a classificação contemporânea dos grupos humanos
entre comunidades fundamentadas em laços de parentesco, e comunidades baseadas no

1
Departamento de Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Pesquisadora CNPq.

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reconhecimento de direitos mútuos, sujeitos a uma lei comum no interior de um território,
abrindo caminho para a identificação do ‘povo’ com o Estado. O processo de identificação
do povo com o Estado (“o consentimento ativo dos governados”, na expressão de Antonio
Gramsci) exigiu a mobilização da antiga noção de nação como elemento de mediação entre
um e outro. Estado-nação é o estado que faz do nascimento (o nativo) o fundamento de sua
própria soberania (Agamben, 2000:20).
Sobre a nação e seu papel na determinação dos limites do estado moderno, o
filósofo Christopher W.Morris (1998) argumenta que a idéia de identificação é crucial,
tanto mais quando um dos principais aspectos da modernidade é a instabilidade, a posição
do indivíduo no mundo tornando-se cada vez mais fluida. Enquanto no passado a
identidade de uma pessoa era determinada por seu lugar na comunidade em relação às
hierarquias sociais e cosmológicas, em tempos modernos a sociedade de massa foi sendo
tecida por redes diversas de identidade. A nacionalidade como fonte da identidade teria
surgido da necessidade das comunidades modernas serem reconhecidas e terem algum
conforto frente a um mundo instável e indiferente, ou seja, compartilhar língua, cultura,
tradições, história permite que pessoas reconheçam umas as outras, com a vantagem
adicional de facilitar a cooperação e a proteção.
Numa interpretação original, R.H. Crossman (1969) sugere que a mística da unidade
nacional e da igualdade social suficientemente forte para unir o povo a uma nova sociedade
capitalista que tinha muito poucos benefícios para oferecer-lhe foi conseguida por
Napoleão na França pós-revolucionária. Pesquisas recentes demonstram, no entanto, que
mesmo na França, considerada o paradigma do estado-nação, setores da população não se
consideravam membros da nação francesa até a primeira guerra mundial (Morris apud E.
Weber, p. 237). A pesquisa de Eugen Weber, aliás, nega a difundida crença de que o Brasil
seria um caso excepcional por ter o ‘estado sido criado antes que a nação’.
Seria a nacionalidade que determinaria a norma para a legitimidade das unidades
políticas no mundo moderno, segundo Ernest Gellner (1983), mas também, um século antes,
Johann Fichte (1807-08). Para Fichte, de certo modo seguindo a G.Herder (1772), os
primeiros, os originais, e verdadeiramente naturais limites dos estados são os limites
internos, que emergem dos laços invisíveis gerados pela mesma ascendência e a mesma
língua, em outras palavras, pela totalidade de uma cultura. Enquanto Fichte afirma a

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superioridade da ‘lei natural’ da língua e da cultura sobre a ‘lei natural’ dos rios e
montanhas, o francês Ernest Renan (1882) considerava o ‘espírito da nação’ como a
principal condição da identidade nacional, um princípio espiritual gerado por um legado de
memórias comuns e pelo consentimento ativo, o desejo de viver em comum. A percepção
abstrata da identidade é encontrada também na obra de P.Vidal de la Blache,
contemporâneo de Renan, com sua noção de ‘tipo nacional’, e seu corolário, o “tipo
regional”. Segundo Vidal, o sentimento de identidade poderia ser expresso, em termos
geográficos, como um território específico que é objeto das projeções espaciais de um povo.
Por certo, a noção de ‘tipo nacional’ foi mais tarde desenvolvida pelo também geógrafo
Jean Gottmann (1952) no conceito menos folclórico de iconografia.
O segundo processo constitutivo do atual sistema de estados nacionais é de natureza
econômica. Giovanni Arrighi (1996), por exemplo, atribui o moderno sistema interestatal, e
com ele um novo sistema mundial de governo, à coalizão de Estados dinásticos liderados
pelos holandeses e ratificado no Tratado de Vestfália (1648), que aboliu a existência de
uma autoridade ou organização acima dos Estados soberanos, além de legitimar os direitos
absolutos do soberano sobre territórios mutuamente excludentes2. Vestfália também teria
tido um objetivo social, ao estabelecer o princípio de que os civis não estavam
comprometidos com as disputas entre os soberanos, o que veio a garantir a liberdade do
comércio e de intercâmbio entre as classes cultas dos principais países europeus mesmo em
tempo de guerra entre eles (princípio que, com algumas adaptações, foi mais tarde
incorporado ao Tratado de Madrid, 1750). Ainda para Arrighi a reorganização do espaço
político a bem da acumulação de capital marcou o nascimento não só do moderno sistema
interestatal, mas também do capitalismo como sistema mundial.
Podemos afirmar, assim, que no âmbito do sistema interestatal e do sistema
capitalista, o limite internacional é um princípio organizador do intercâmbio, seja qual for
sua natureza, não só para os territórios que delimita como para o sistema interestatal em
seu conjunto. É nesse sentido que vários autores atribuem ao limite internacional o papel de
regulador das relações interestatais.
Quais os tipos de intercâmbio mediados pelos limites internacionais? O cientista
político Friedrich Kratochwil (1986) sugere uma abordagem sistêmica à questão, ao partir

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da premissa que os estados modernos constituem um sistema (entre outros) de organização
social, caracterizando-se por pertencer a uma ordem de tipo territorial. No âmbito desse
sistema, distingue três tipos de intercâmbio. No plano mais fundamental está o intercâmbio
entre a unidade territorial delimitada e seu ambiente, o conceito de ambiente servindo como
uma categoria residual que compreende todos os fatores relevantes não incluídos sob o
conceito de unidade. Mudanças significativas na função dos limites ocorrem a partir de
mudanças no ambiente. Um segundo tipo seria o intercambio entre a unidade territorial
delimitada e outras unidades. A natureza e amplitude do intercambio é influenciado pelo
agente que mantém os limites de cada unidade, o estado-governo. O terceiro tipo de
intercambio é entre o centro da unidade e sua periferia, onde implícita é a questão da
percepção e aspirações dos habitantes da periferia em relação ao centro e vice-versa. A
abordagem sistêmica apresenta outras vantagens além daquela de permitir compreender a
relação entre redes de intercambio e território, como veremos adiante.
A simbiose entre o sistema interestatal e o sistema de acumulação capitalista
recobre relações [de intercambio] dinâmicas. A evolução atual dessas relações sugere que o
poder organizador e regulador dos limites interestatais ou, mais concretamente, o poder
organizador e regulador dos estados nacionais está sendo solapado, desde dentro e desde
fora de cada estado, pelo aumento de intensidade e complexidade dos intercâmbios não-
estatais. Indivíduos, comunidades, corporações, organizações, redes de solidariedade, redes
de informação, baseados nos interesses mais diversos, constituem hoje uma teia em escala
planetária difícil de ser manipulada ou mesmo controlada por cada estado, por mais
poderoso que seja. Pode ser uma situação de curta duração caso as tecnologias de poder dos
estados acompanharem essa evolução. Por ora, o que é interessante nessa teia é que ela não
é só econômica, no sentido estrito do termo, mas inclui intercambio de símbolos e imagens
que competem com a iconografia do estado-nação.
Há uma extensa bibliografia sobre essas mudanças, mas a nós importa particularizar
um aspecto delas, devido aos seus efeitos sobre o fundamento legal dos limites interestatais.
É a crescente e avassaladora onda de ‘ilegalidades’ observadas tanto no âmbito interno
como externo aos estados nacionais. Não estamos nos referindo aqui à corrupção ou a

2
O Tratado dos Pireneus (1659), que criou uma comissão conjunta para decidir a linha de demarcação entre
Espanha e França, inaugurou o primeiro limite oficial no sentido moderno.

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outras atividades criminosas e sim às ações e comportamentos situadas em paralelo às leis
de cada estado e mesmo às leis internacionais.
É no campo econômico onde a visibilidade dessa crescente ambigüidade do
legal/ilegal é maior. O que é evasão fiscal para o Estado (dinheiro sem registro, que cruza
os limites do estado), por exemplo, é visto como proteção contra a desvalorização, ou busca
de valorização de capitais para seus cidadãos ou empresas, ou ainda uma legítima bolsa de
capitais para outros tantos. O que é considerado atividade ‘informal’ pelo Estado, no
sentido estrito de não obedecer às leis vigentes, pode sustentar a economia de cidades,
regiões e países. Os contrabandos instituídos, que operam redes de distribuição de
mercadorias legal ou ilegalmente produzidas, perpassando os controles localizados nos
limites de cada Estado ressurgem em seu interior como mercadoria nacional ou mesmo
importada, alimentando um mercado paralelo à balança (formal) de importação/exportação,
uma situação tolerada por governos e por cidadãos mundo afora. O mercado paralelo de
moedas estrangeiras, tolerado pelo Estado, ou as moedas “sem estado” (stateless monies),
que transitam entre paraísos fiscais, porém sob a proteção do sistema interestatal são outros
exemplos bastante visíveis da ambigüidade entre o que é “legal” e o que é “ilegal”, uma
ambigüidade que podemos derivar da mutação dos fundamentos do sistema interestatal.
Ações que eram até passado recente associadas, pejorativa e exclusivamente, às
zonas limítrofes dos estados fazem parte hoje do cotidiano nacional/internacional. É o caso
das economias de arbitragem, onde lucros (e perdas) são obtidos devido a diferenciais de
câmbio e juros; diferenciais de legislação ambiental ou trabalhista; diferenciais de regime
político ou normas institucionais, todos explorando, legal e ilegalmente, a existência dos
limites internacionais (Machado, 1996; Anderson, O’Dowd, 1999).
Em síntese, no sistema interestatal os limites internacionais definem, do ponto de
vista formal, o perímetro máximo do controle efetivo exercido por governos centrais. Em
segundo lugar, os limites constituem um fator de separação entre unidades territoriais.
Terceiro, os limites do estado moderno tem caráter legal, fundamentado no conceito de
soberania. Quarto, a legitimidade desses limites é dada pelas leis internacionais, mas
principalmente pelos integrantes do estado, em nome de certos valores, lealdades e
identidades. Quinto, o limite territorial embora seja um conceito mais antigo que o sistema
capitalista passou a representar com a expansão deste não só o papel de regulador, mas de

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produtor de redes de intercambio de todo tipo. Os efeitos dessa mudança sobre o estado
nacional (governo + sociedade civil + território) constituem hoje uma arena de debates
acirrados que ultrapassam em escala e intensidade qualquer tensão ou conflito nas regiões
limítrofes dos países.

II - Mobilidade dos Povos e Fronteiras Territoriais

A gênese da noção de ‘fronteira’ é diferente e muito mais antiga daquela de


limite internacional. A literatura considera o Império Romano e o Império da China como
casos paradigmáticos na investigação das origens da concepção de fronteira e da evolução
de seu significado no tempo. Os romanos, por exemplo, não tinham interesse em
estabelecer limites aos seus domínios; no entanto, criaram um sistema administrativo e
defensivo de fronteira (período dos Augustos), primordialmente para dificultar a expansão
dos povos bárbaros nas fímbrias do Império. Segundo Stephen Jones (1959), as limes,
nome que deram a essas fronteiras, designavam originalmente o caminho ao longo do
limite de uma propriedade. Mais tarde evoluiu para um sentido militar, designando uma
estrada fortificada em zona de fronteira e, posteriormente, a própria zona de fronteira. As
limes não seriam, portanto, limites, e sim lugares de defesa em certas partes do Império, ou
lugares de parada transitória na potencialmente ilimitada expansão da Pax Romana
(Kratochwil apud P. de Lapradelle, p.36). Para estabilizar as fronteiras e cortar custos
militares, os romanos, provavelmente inspirados pelos gregos, introduziram a idéia da
colonização auto-sustentada nas áreas imediatamente na retaguarda das linhas de defesa,
denominado-as de terra limitanea ou agri limitanei (Jones, 1959).
Aqui se encontram dois elementos essenciais relacionados não ao nome e sim aos
processos do qual emerge a noção de fronteira. Um refere à expansão de povos ou sistemas
sobre território adjacente, compreendendo, inicialmente, operações de guerra e controle
militar; o outro é a consolidação do processo de apropriação desses territórios através da
colonização das terras conquistadas, fazendo uso do expediente de distribuição de terras
entre a população vencedora; ambos são reencontrados em outros lugares e tempos, um dos

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casos mais famosos, a expansão para o oeste nos Estados Unidos do século XIX (Silva,
2001).
Ainda em relação ao tratamento da questão da fronteira pelos romanos, Friedrich
Kratochwil (1986) chama a atenção para a existência jurídica do limite somente na esfera
privada legal, ou seja, no governo dos direitos de propriedade. A ager publicus ou domínio
público não tinha limites; terminava em algum lugar, mas o fim não era especificado por
nenhuma linha legalmente relevante (a expressão usada era fines esse). Por conseguinte, o
limite era essencialmente uma zona fluida onde tribos tributárias e legiões romanas com
seus recrutas bárbaros eram usadas para garantir a paz. Foi precisamente na esfera privada
legal consubstanciada no Direito Civil romano que os idealizadores do Tratado de Madrid
(1750) foram buscar, nos capítulos consagrados ao direito de propriedade e posse sobre
terras, a noção de uti possidetis, deslocando-o para o campo do Direito Público, de modo a
resolver a questão da expansão das fronteiras de povoamento. (Machado, 1989). 3
A associação entre impérios e processos de expansão é reencontrada na apreciação
que faz o alto funcionário britânico, Lorde Curzon de Kedleton, sobre a evolução do
conceito de fronteira sob a ótica da Pax Britannica. As guerras modernas, afirma Curzon,
serão guerras de fronteira, causadas pela expansão de estados e reinos, ou para recuperação
de uma ‘fronteira nacional’, ou pela revolta de povos de fronteira. Mesmo no âmbito das
possessões européias na Ásia e na África, a questão do direito de posse sobre uma fronteira
contígua continuava a causar tensão entre as potencias imperiais, e lutas entre eles e os
povos ou tribos de fronteira. Não obstante, afirma Curzon, o ímpeto expansionista
estimulado pelo rápido crescimento populacional e a busca por novos mercados que
caracterizava as ações das grandes potencias anunciava um regime internacional de
estabilização das fronteiras. Fatores novos, como a contração dos espaços ‘vazios’ no globo,
multiplicação de punições, neutralização dos estados mais fracos, divisão do mundo em
esferas de influencia das grandes potencias, tenderiam a criar um 'equilíbrio', mesmo que
instável, entre as potências.
A influencia da Geografia Política (1897) de F.Ratzel aparece em muitos trechos do
texto de Curzon, apesar deste ponderar que posição geográfica, caráter do povo e agentes

3
Uti possidetis se traduz no direito de posse efetiva adquirida por ocupação e uso do território, e foi aplicado pelos
castelhanos e portugueses antes da formação de estados nacionais na América Meridional. O mesmo principio foi

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físicos não eram as únicas causas atuantes no desenho das fronteiras. A despeito das
inúmeras críticas dirigidas ao geógrafo alemão em vida e depois de morto -- ser um
convicto nacionalista, um entusiasta do império alemão, ter buscado leis onde elas não
existem, ou ainda fazer uso de determinismos sem fundamento, Ratzel conseguiu captar na
noção de ‘espaço vital’, e na metáfora do estado como ‘organismo vivo’, os movimentos de
expansão da fronteira territorial do sistema capitalista no século XIX.
Um primeiro movimento seria de expansão das ‘fronteiras’ externas de alguns
estados sobre territórios contíguos e não-contíguos (as colônias dos impérios), envolvendo
primordialmente as potencias européias em suas lutas hegemônicas; o segundo movimento,
a expansão das ‘fronteiras’ internas do estado, o exemplo paradigmático sendo a ‘fronteira
móvel’ norte-americana. O que Ratzel não poderia prever é a existência de um terceiro
movimento, a expansão não territorial e sim sistêmica das ‘fronteiras’ do regime capitalista,
ao incorporar as ‘mentes e corpos’ dos povos. Neste sentido sua teoria já nasceu manca, ao
reduzir exclusivamente ao território e ao Estado a ‘teoria’ do espaço vital 4. As abordagens
de tipo geopolítico, as lutas por domínio de mercados e de zonas de influencia, ou a
'segurança nacional' de um estado não estão muito distantes do espaço vital em seus
argumentos e justificativas, somente o vocabulário é mais sutil e não aparece sob a forma
de teoria e sim de doutrinas.
‘Espaço’ não é território, do ponto de vista teórico. Donde a expansão e domínio de
redes de intercambio e de poder por estados, corporações ou organizações supõe um
processo de incorporação de espaços econômicos, políticos e simbólicos, e não somente do
espaço geográfico no sentido de anexação de territórios pertencentes a outros estados. Por
conseguinte, se é certo que não há lugar para a ‘teoria’ do espaço vital na perspectiva de
estabilidade do sistema interestatal, desde logo existe um lugar para ela quando a
estabilidade é vista como contingência, não como determinação. Situações de instabilidade
e não de estabilidade caracterizam o sistema interestatal, uma derivação da propriedade de
ser um ‘sistema aberto’, submetido às flutuações das redes de intercambio e sujeito a
agressões e conflitos de interesse entre seus componentes, os estados nacionais. Em
princípio, cada estado pode definir (mas não legitimar) aquilo que é ‘vital’ a sua

aplicado depois da constituição do estado nacional do Brasil na resolução da maior parte dos processos de delimitação do
território brasileiro, inclusive o do Acre, devido, sem dúvida, aos conhecimentos e visão global do barão de Rio Branco.

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permanência. É nesse sentido que a ‘teoria’ do espaço vital é ainda congruente com o
sistema capitalista atual.
Os cunhos militares, imperiais, ou imperialistas dados aos processos de expansão de
fronteiras territoriais não dão conta de outros processos territoriais - de povoamento,
colonização e interação – vinculados à noção de fronteira. Quando empregada para
designar tais processos é que se torna apropriado associar “fronteira” às noções de ‘zona’
ou ‘região’ como entidades geográficas. Por outro lado, a zona ou região de fronteira
internacional apresenta uma posição geográfica singular, a saber, sua proximidade à linha-
limite que divide estados soberanos. No sentido mais geral, a noção de fronteira
internacional como lugar de interação, de comunicação, de encontro, de conflito, advém da
premissa de que estamos na presença de sistemas territoriais diferentes e de nacionalidades
distintas. A vida de fronteira’, como concebida em autores clássicos como Isaiah Bowman
(“pioneer fringe”) ou F.J.Turner (“frontier spirit”), ou no mais recente ‘identidade de
fronteira’, o a priori é a diferença da fronteira em relação ao hinterland, ou seja, ao espaço
consolidado do estado nacional, a fronteira como lugar das possibilidades em oposição aos
espaços já apropriados e estruturalmente refratários à mobilidade.

Concluindo, a análise da relação entre limite e fronteira sugere que a demarcação


entre unidades territoriais soberanas seja vista como uma solução para estabilizar os
movimentos de contração/expansão dos sistemas de povoamento, dos sistemas de
intercambio, e dos sistemas de organização social, todos eles 'sistemas abertos', donde
caracterizados por forte tendência de instabilidade. De acordo com essas premissas, nos
períodos em que pelo menos um desses sistemas atinge um patamar de estabilidade, limite
e fronteira tendem a convergir, e inversamente, quando qualquer um desses sistemas chega
a um limiar de instabilidade, a tendência é a de divergência entre limite e fronteira
territorial.

4
A mesma metáfora usada por F.J.Turner [1893] (1920) para descrever a fronteira móvel norte-americana; ao contrário de

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III - Zona de Fronteira e Cidades-Gêmeas

Diante de teses atuais sobre a 'porosidade das fronteiras' e a eventual perda de


sentido dos limites internacionais como possível efeito do 'enfraquecimento' do sistema
interestatal, emerge o interesse em focalizar a terra limitanea dos estados nacionais para
avaliar como a população fronteiriça vive e negocia os efeitos das diferenças entre sistemas
territoriais e as conseqüências das políticas decididas em seus respectivos centros nacionais.
Grande parte das regiões de fronteira está isolada dos centros nacionais de seus
respectivos Estados, quer pela ausência de redes de transporte e de comunicação, quer pelo
peso político e econômico menor que possuem. Por outro lado, as regiões de fronteira estão
também formalmente isoladas dos Estados vizinhos pelo papel disjuntor dos limites
políticos. Sem instituições para instrumentá-la, a cooperação entre países vizinhos em
regiões de fronteira tem sido feita informalmente, e através de acordos tácitos entre as
autoridades locais dos países fronteiriços. Para vários autores, esse quadro tende a mudar.
Em primeira instância, pela maior importância assumida e atribuída às cidades e regiões de
fronteira pelos estados nacionais no contexto atual, podendo gerar um novo tipo de atuação,
facilitado pela criação de novos mecanismos legais e administrativos. Em segundo lugar,
pela integração de países em blocos regionais, que poderá transformar essas regiões, por
sua própria localização geográfica, em zonas de cooperação entre países vizinhos.
Ainda assim, é morosa a reação do Estado à nova situação. A morosidade de
atuação na escala local pode ser explicada pela impossibilidade jurídica a priori do que
constitui uma zona/região de fronteira. É necessário coerência para que não sejam
atropeladas as funções legais e de controle, junto com a função fiscal que se pretende
amenizar ou eliminar. Mas essa coerência é burocrática, sem agilidade nem flexibilidade
para resolver os problemas cotidianos de comunidades com freqüência artificialmente
repartidas (Pradeau, 1994).
Pradeau assinala que embora compartilhando muitas vezes dos mesmos problemas e
efeitos causados pelo limite internacional, as regiões fronteiriças são via de regra,
concorrentes. A duplicidade de infra-estruturas como as rodovias paralelas, aeroportos,
usinas de geração de energia, entre outras, é prova dessa concorrência e fonte de

Ratzel, para Turner não é o Estado e sim o povo o ‘organismo vivo’ que, em sua expansão, funda a nação e uma cultura.

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desperdício de recursos. É também reflexo de uma concepção de zonas de fronteira como
regiões defensivas, fechadas e orientadas para dentro. Paradoxalmente, mesmo que
permaneçam concorrentes essas regiões são levadas a formar alianças, ainda que para
competir com outras díades – ou tríades - de seus próprios países ou de países limítrofes.

As iniciativas locais de integração em muitas regiões de fronteira derivam do


interesse delas se afirmarem como saídas preferências de escoamento ou como regiões
economicamente mais destacadas. Não é por acaso que um dos principais fatores a intervir
na promoção da cooperação é a existência de uma elite política local empreendedora que
esteja disposta a investir tempo, esforços e dinheiro em promover o desenvolvimento de
redes transfronteiriças (Ganster et al., 1997).

O grau de homogeneidade das condições econômicas e sociais em ambos os lados


limita a complementaridade das trocas, enquanto uma grande diversidade pode encorajar o
desenvolvimento de complementaridades e, por conseguinte, sustentar uma nova divisão
transfronteiriça do trabalho. Para John House (1980), as assimetrias e diferenças de
gradiente são fontes do dinamismo dos espaços fronteiriços. Propõe um modelo para
descrever os fluxos de bens, capitais e pessoas que caracterizaram esses espaços, reativando
a noção de zona de fronteira, de modo a orientar políticas públicas.

Conceber políticas públicas dirigidas às fronteiras internacionais é problemático por


envolver interesses, elementos espaciais e legislações de países distintos. A noção de zona
de fronteira é um expediente metodológico para tratar os fluxos de bens, capitais e pessoas
que caracterizaram esses espaços, juntando as faixas de fronteira de cada lado do limite
internacional. Tais interações e fluxos, embora internacionais, delineiam um meio
geográfico próprio de fronteira, só perceptível na escala local/regional.
Na escala local/regional, o meio geográfico que melhor caracteriza a zona de
fronteira é aquele formado pelas cidades-gêmeas. Estes adensamentos populacionais,
cortados pela linha de fronteira, seja esta seca ou fluvial, articulada ou não por obra de
infra-estrutura, apresentam grande potencial de integração econômica e cultural assim
como manifestações localizadas dos problemas característicos da fronteira. Aí adquirem
maior densidade, com efeitos diretos sobre o desenvolvimento regional e a cidadania. Por

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esses motivos é que as cidades-gêmeas devem constituir-se em um dos alvos prioritários
das políticas públicas para a zona de fronteira.

A concentração de efeitos territoriais nas


cidades-gêmeas (incluindo fatores de produção
– terra, trabalho, capital, e serviços públicos e
privados) e a extensão desses efeitos numa
distância indeterminada rumo ao interior de cada
território nacional tem implicações práticas para
a atuação do Estado em suas respectivas faixas
de fronteira. A dificuldade advém
principalmente do fato de que esses efeitos se
expressam com formas e amplitudes
diferenciadas no território, às vezes de forma
conjugada, ou isolada, contínua ou descontinua.
Apesar da zona de fronteira ser muito
heterogênea em termos de níveis de desenvolvimento e características culturais dos países
que a compõem não é possível deduzir daí que exista uma relação mecânica entre Estados
desenvolvidos e faixas de fronteira desenvolvidas. De fato, as simetrias e assimetrias entre
cidades-gêmeas nem sempre decorrem de diferenças no nível de desenvolvimento dos
países e sim de sua própria dinâmica e da função que exercem para os respectivos países.

O Brasil na América do Sul: Distribuição geográfica de cidades-gêmeas


Não são muitas as cidades-gemeas nos 15.719 quilômetros de fronteira do Brasil
com os países vizinhos, nem existe correspondência entre o número de cidades-gêmeas e a
extensão da linha de fronteira com cada país. Mato Grosso do Sul (fronteira com o
Paraguai) e, principalmente, o Rio Grande do Sul (fronteira com Argentina e Uruguai)
concentram o maior número de cidades-gêmeas, apesar da maior delas, Foz do Iguaçu, estar
localizada no Paraná.
O número reduzido de cidades vizinhas reflete a situação de marginalidade da zona
de fronteira em relação às principais correntes de povoamento da América do Sul,

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concentradas na orla Atlântica e nos altiplanos andinos. A localização geográfica das
existentes decorre de diversos fatores, entre eles, a disposição dos eixos de circulação
terrestre sul-americanos, a densidade do povoamento (caso da Bacia Amazônica), a
presença de grandes obstáculos físicos (caso da Cordilheira Andina) e a história
econômico-territorial da zona de fronteira (importante nos Arcos Central e Sul da fronteira
brasileira).
Como de se esperar, o quadro indica que o predomínio de vias fluviais como linha
fronteiriça embora não seja fator impeditivo para o aparecimento de cidades geminadas,
inibe em muitos casos seu potencial de crescimento. O maior número e as mais importantes
cidades-gemeas ou estão localizadas em fronteira seca ou estão articuladas por pontes, seja
de grande ou pequeno porte. O predomínio de linhas de fronteira fluviais exigirá dos
Estados limítrofes disposição política e investimentos importantes na construção de pontes
e estradas que facilitem e promovam a articulação e a integração sul-americana.
Três aspectos devem ser ressaltados na geografia das cidades-gêmeas na fronteira
brasileira com outros países da América do Sul. O primeiro é que a posição estratégica em
relação às linhas de comunicação terrestre embora possa explicar a emergência de muitas
cidades-gêmeas não garante nem o crescimento nem a simetria urbana das cidades, muitas
vezes reduzindo-se a povoados locais. É o caso das estratégicas aglomerações de Oiapoque
- Saint George (GF) na subregião Oiapoque-Tumucumaque, a nordeste da Amazônia
brasileira, ambas não ultrapassando 10.000 habitantes; ou dos povoados de vila Bittencourt
e La Pedrera (CO) distanciados pelos meandros do rio Japurá-Caquetá; de Brasiléia
(subregião do Alto Acre) e Cobija (BO), onde a última tem o dobro da população da
primeira por ser capital de Departamento de Pando; ou de Corumbá (subregião do Pantanal)
e Puerto Suárez (BO), a primeira quase cinco vezes maior do que a última apesar da
fronteira seca; ou ainda de São Borja (BR) e San Tomé (AR), a primeira sendo quatro vezes
maior que a segunda apesar de articuladas por ponte sobre o rio Uruguai.
Tais assimetrias são interessantes por indicar, além de diferenças de grau de
desenvolvimento econômico dos países, tipos diferentes de economia regional, e dinâmicas
distintas de povoamento fronteiriço. Inserções mais favoráveis no espaço-rede nacional,
condições geoambientais desfavoráveis ao povoamento, ausência de infra-estrutura de
articulação entre as aglomerações vizinhas e os centros nacionais, relações políticas entre as

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unidades administrativas locais e o governo central são outros fatores que influem sobre a
evolução urbana das cidades fronteiriças.
O segundo aspecto, em parte resultante do anterior, é que a disposição geográfica
das cidades e seu tamanho urbano devem muito à ação intencional de agentes institucionais
(unidades militares, eclesiásticas, jurídico-administrativas). O caso de Tabatinga
exemplifica bem a questão. Escolhida como lugar estratégico pelos portugueses (século
XVIII), lá construíram uma fortificação a margem do rio Solimões, posteriormente
abandonada. No século XX voltou a ser considerada lugar estratégico pelo governo
brasileiro, abrigando hoje importante infra-estrutura militar que ocupa, por certo, boa parte
da área do município. A fronteira seca entre Tabatinga e Letícia e a presença militar
brasileira levou os colombianos a transformar Letícia em capital do Departamento do
Amazonas, o que lhe proporciona infra-estrutura institucional razoável, incluindo uma
unidade importante de comando militar e um aeroporto internacional. Mais recentemente, a
luta colombiana contra as FARC e o tráfico de cocaína (Plano Colômbia) reforçou o
aparato militar com campos de treinamento especializados na luta anti-guerrilha.
Um tipo de diferente de ação institucional se observa em Guajará-mirim (subregião
Fronteira do Guaporé). A Igreja Católica em Guajará-mirim e ao longo da linha de fronteira
do Guaporé até Mato Grosso promoveu e administra hospital, escolas, seminários, ações
sociais, doação de áreas para construção de unidades habitacionais, inclusive para
imigrantes bolivianos. A ação transfronteira da Igreja tem reforçado a integração com a
cidade-gêmea de Guayaramirin (Bol.), apesar da ausência de ponte sobre o rio Guaporé,
contribuindo senão para o desenvolvimento econômico subregional certamente para a
estabilidade da cidade brasileira, apesar dos anos de domínio das redes de tráfico de drogas
na fronteira do Guaporé.
O terceiro aspecto a ser destacado na geografia das cidades-gêmeas é a disjunção
entre o tipo de interação predominante na linha de fronteira e o tipo de interação que
caracteriza a cidade-gêmea nela localizada. Exemplos dessa disjunção são mais notáveis na
Amazônia, onde as zonas-tampão formadas por parques naturais e terras indígenas são
interrompidas por "corredores" de comunicação de tipo capilar ou sinaptico (Bonfim e
Pacaraima na subregião Campos do Rio Branco; o 'corredor' de Cucuí com a Colômbia, na

15
subregião Parima-Alto rio Negro; ou Tabatinga com Letícia (Col.), na subregião do Alto
Solimões).

Interações Transfronteiriças e Cidades-Gemeas


No âmbito local-regional, os fluxos transfronteira entre cidades-gêmeas apresentam
elementos comuns, porém comportamentos diferenciados, dependendo das características
de cada cidade e do segmento de fronteira envolvido. A seguir, alguns desses elementos são
brevemente discutidos.

a) Trabalho
Um dos fatores que apresenta efeitos mais concentrados nas comunidades
fronteiriças em zona de fronteira é o trabalho. As oportunidades que oferece o Estado mais
desenvolvido, sobretudo para a realização de tarefas pesadas descartadas pelos profissionais
qualificados desse mesmo Estado, acarretam ao longo do tempo fluxo de trabalhadores do
lado mais pobre para o lado mais rico do limite internacional. Esse fluxo pode ser
constituído por trabalhadores diaristas ou sazonais, sem qualificação ou semi-qualificados,
formais ou informais, atraídos pelas oportunidades de trabalho e, principalmente, pelos
possíveis pagamentos de assistência social no outro lado. Pelos mesmos motivos também
ocorre saída de trabalhadores qualificados e profissionais do Estado menos desenvolvido
para o mais desenvolvido. Se esse afluxo de trabalhadores reduz as pressões demográficas e
o desemprego no Estado menos desenvolvido, pode também se converter em potencial para
grave exploração de trabalhadores ilegais na região de fronteira do mais desenvolvido.
No caso do Brasil, não existe um marco regulatório único para tratar fluxos de
trabalhadores transfronteira, em geral adotando-se uma política diferente segundo o lugar
geográfico, os interesses brasileiros e a relação com o país vizinho. Tal política se expressa
na preferência por acordos bilaterais em vez de adotar normas e regras aplicáveis a todas as
cidades-gêmeas. Embora justificada pelas diferenças entre cidades-gêmeas e entre países,
os efeitos dessa política são problemáticos em termos de administração e desenvolvimento
regional da faixa e da zona de fronteira, tendendo a reforçar em vez de modificar visões
preconcebidas e assimetrias hostis à integração subcontinental. Na fronteira entre o Rio
Grande do Sul e o Uruguai, por exemplo, um acordo bilateral criou o documento de

16
cidadão fronteiriço, que regulariza e facilita as interações transfronteiriças através da
expedição de permissão de trabalho e circulação para as cidades gêmeas localizadas neste
segmento fronteiriço. Enquanto isso, na extensa fronteira amazônica, a maioria esmagadora
dos trabalhadores encontra-se em situação ilegal, dependendo da tolerância das autoridades
locais. Por esse motivo, grande parte desses trabalhadores ilegais se dedica a atividades
informais de baixa qualificação no lado brasileiro.
Políticas públicas especificamente dirigidas à faixa de fronteira brasileira poderiam
adotar um marco regulatório único para as cidades-gêmeas no que se refere à mobilidade do
trabalho. Além de dificultar tratamento abusivo da mão de obra por parte de autoridades e
empresários nos dois lados da linha de fronteira, instituiria uma forma de controle e
aproveitamento mais eficaz da mobilidade do trabalho.

b) Fluxos de Capital
Mais difíceis de mensurar, devido à relativa imobilidade comparada à alta
mobilidade dos trabalhadores, são os fluxos de capital. Mesmo assim, aqui é necessário
distinguir o circuito 'superior' transnacional dos fluxos e o circuito local transfronteira. No
primeiro caso existem normas do Banco Central (Brasil) que legalizam a entrada e saída de
vultosos capitais estrangeiros (a conhecida CC-5 do BACEN). No circuito inferior, no
entanto, a legislação vigente para a faixa de fronteira, baseada em lei de segurança nacional
impedem que estrangeiros, na condição de pessoa física, possam ser proprietários de
empresas do lado brasileiro, mesmo quando a recíproca não é verdadeira.
Tal situação pode ser observada atualmente entre Ponta Porã (Subregião Cone-Sul-
Matogrossense) e Pedro Juan Caballero (Py). Faz poucos anos dois fatos, o primeiro a
comprovação de que bancos paraguaios naquela cidade eram usados por bancos brasileiros
em operações de lavagem de dinheiro e evasão fiscal, e o segundo, a redução pelo governo
brasileiro da quota de compras em zonas francas de países vizinhos em toda a fronteira
tiveram impacto negativo na economia urbana de Pedro Juan. Apesar dos significativos
investimentos de brasileiros do lado paraguaio, a busca de oportunidades de investimento
de residentes paraguaios em Ponta Porã não é permitida, o que não impede que empresas de
fachada brasileira recebam esses capitais.

17
Em vários lugares do mundo é comum investimento de empresários nos dois lados
da fronteira para se protegerem dessa instabilidade. Tal proibição, que penaliza diretamente
a livre-circulação de capitais nas cidades-gêmeas não incentiva o desenvolvimento
econômico local.
A mesma lei proíbe a instalação de empresas industriais com maioria de ações
pertencentes a estrangeiros, o que não impede, por outro lado, que investidores brasileiros
instalem unidades industriais e agroindustriais do lado menos desenvolvido em busca de
trabalho barato e desorganizado (inclusive trabalhadores brasileiros residentes em qualquer
uma das cidades-gêmeas), e de padrões ambientais menos rigorosos. Os lucros, no entanto,
são invariavelmente drenados através da fronteira para o Brasil.
Caso similar, porém mais complexo, ocorre entre as cidades-gêmeas de Foz do
Iguaçu (estado do Paraná) e Ciudad Del Este (Departamento do Alto Paraná) no Paraguai.
No campo financeiro, a cidade paraguaia abriga mais de uma dezena de bancos paraguaios
e estrangeiros utilizados por nacionais brasileiros e argentinos não só para transações
legítimas como também para operações de evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Só que
essas operações são feitas por canais legais e por via eletrônica a partir das grandes cidades
da costa atlântica, não estando submetida à legislação aplicada à faixa de fronteira.
O que se conclui daí é que as coibições sobre movimento e investimento de capitais
aplicadas pela legislação vigente na faixa de fronteira estão completamente defasadas em
relação ao espaço-de-fluxo, característico do mercado de capitais no período atual. Ademais,
pouco contribui para a defesa da segurança nacional, fundamentada no espaço-dos-lugares
(Machado, 2003). Em lugar de defender acaba por penalizar os lugares da fronteira, além
de incentivar a emergência de sistemas de produção locais situados na zona cinza entre o
legal e o ilegal.
O sistema produtivo de fronteira que combina comportamentos legais e ilegais
também é encontrado na zona de fronteira entre Foz do Iguaçu e a Zona Franca de Ciudad
Del Este (ver figura abaixo). Esta última concentra empresas 'maquiladoras' que consomem
subprodutos de indústrias localizados no Brasil (São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul) sob
a forma de contrabando, voltando ao Brasil e sendo registrado como produto brasileiro ou
paraguaio ou mesmo de terceiro país, dependendo do câmbio e das mudanças na política
brasileira de impostos incidentes sobre importação e exportação.

18
SISTEMA PRODUTIVO DE FRONTEIRA
BR-369 p/
FOZ DO IGUAÇU – CIUDAD DEL ESTE – PUERTO IGUAZÚ Cascavel Londrina

Iquique Lago/Hidrelétrica de ITAIPÚ


(Chile) Hernendárias BR-277 p/
CURITIBA
BRASIL
CIUDAD DEL
Ruta 7 p/ Mingaguazu ESTE FOZ DO IGUAÇU
Assunção Madeira, Soja
Zona Franca
Cataratas
Energia

P.IGUAZÚ
Exportação de
Prod.Industrias e
Alimentos

P/ Dionísio Intermediação Comercial


Cerqueira (Br) de produtos do SE
asiático (legal e ilegal ) ;
Ruta 6 para Contrabando de armas
Corrientes (Arg)
Exportação e
PARAGUAI contrabando de
produtos de maquila
Turismo
P/ Santa Rosa e
S.Ângelo (Br) Evasão Fiscal;
Ruta 12 p/ Lavagem de dinheiro.
Posadas Aéreo p/ Exterior
ARGENTINA
Limite Internacional

Em outro par de cidades-gemeas, as agencias bancárias de Guajará-mirim em


Rondônia são beneficiadas pelo fato dos empresários bolivianos localizados na cidade de
Guayaramerín, do outro lado do rio Guaporé, preferir depositar seu dinheiro no lado
brasileiro, em parte pela ‘segurança’ que não encontram em seu próprio país5; em parte
para buscar o mercado financeiro brasileiro, mais organizado e informatizado e, por isso
mesmo, oferecendo melhores oportunidades de investimento. É igualmente certo que a
'segurança' pode também ser traduzida por fuga ao fisco e ao controle de saída de divisas
Org.L.Osorio,
pelo governo
2001boliviano, assim como para operações de lavagem de dinheiro. De novo aqui,

a lógica do espaço-de-fluxo se impõe em detrimento do espaço-dos-lugares, a zona de


fronteira pouco se beneficiando desse tipo de fluxo de capitais.

c) Terra e outros recursos naturais


Outro elemento incentivador de fluxos transfronteira é a terra. Normalmente no lado
do país menos desenvolvido a terra é mais barata, o que atrai o interesse do lado oposto. A
compra e exploração de grandes extensões de terras paraguaias por brasileiros é um caso
em pauta. A incorporação crescente de terras paraguaias por parte de empresas vinculadas à
agroindústria brasileira de soja ao mesmo tempo em que transformou o campo e as

5
Segundo entrevistas realizadas em Trabalho de campo, setembro 2001.

19
comunidades paraguaias gerando divisas para o país vizinho, constitui uma fonte
permanente de tensão na medida em que os brasileiros se apropriam das melhores terras.
Na zona de fronteira onde estão situadas as cidades-gêmeas de Brasiléia (estado do
Acre) e Cobija (departamento de Pando, BO), muitos brasileiros trabalham ou migram para
o lado boliviano (legal ou ilegalmente) devido ao preço mais barato da terra e à baixa
restrição na proteção ambiental da extração de madeira nobre.

INTERAÇÕES NA FRONTEIRA BRASIL-BOLÍVIA


Brasiléia (BR) - Cobija (BO)

P/Assis Brasil

Rio Acre
BR-317

COBIJA BRASILÉIA

P/Rio Branco e
Xapuri

BR-317
Epitaciolândia

BOLÍVIA

BRASIL

Igarapé Bahia

Trabalhadores
diaristas/ estudantes
Trabalhadores legal-ilegais
Trabalhadores ilegais
(seringueiros, outros)
Madeira, borracha
Imigrantes

Compra de Gêneros
Serviço de Alimentícios
Consumo Coletivo
Zona de Bilingüismo
Recreação

Limite Internacional
Fonte: Trabalho de Campo, 2001. Lia Machado, Grupo RETIS,
UFRJ,CNPq

Vale ressaltar que exceto nos casos das zonas de fronteira com a Argentina e a
Colômbia, o lado brasileiro é mais "fechado" à imigração e trabalho transfronteira dos
países vizinhos do que estes em relação ao Brasil. Mesmo assim, na Argentina, onde antiga
legislação agrária proíbe a compra de terras por estrangeiros, a compra de terras por
brasileiros, mesmo em condições ilegais, tem sido registrada, como no município de

20
Bernardo de Irogoyen (Província de Misiones) (Sales, 1997). Embora na sede municipal de
Bernardo de Irogoyen, cidade-gêmea de Dionísio Cerqueira (SC) predomina a população
argentina, na área rural mais de 50% dos habitantes é brasileira (Sales apud Espínola, 1997).
Tal dinâmica sugere que as cidades-gêmeas podem atuar como trampolim para investidas
na região de fronteira do país vizinho sem modificar sua própria dinâmica migratória. Neste
sentido, a imigração e mesmo os interesses econômicos atuam sob a forma de redes, que
interligam as regiões de fronteira de países vizinhos sem alterar de forma significativa as
cidades-gêmeas em seu caminho.
São precisamente os interesses econômicos, a dinâmica do mercado de terras e a
fronteira 'móvel' de brasileiros que estão prestes a justificar investimentos em infra-
estrutura e boas relações de vizinhança por parte do Brasil.

d) Serviços de Consumo Coletivo


Excetuando-se os casos de cidades-gêmeas com nível similar de desenvolvimento,
onde é comum a duplicação de serviços de consumo coletivo (saúde, educação, saneamento,
bombeiros, etc.), a assimetria na oferta de serviços é responsável por fluxos
transfronteiriços na maioria das cidades, com dominância de fluxos dirigidos ao Brasil. A
maior parte deles se relaciona aos serviços de saúde e, secundariamente, a serviços de
educação.
O sistema brasileiro de saúde pública, apesar de suas lacunas, alcança todos os
municípios de fronteira, cada prefeitura recebendo recursos de acordo com a estimativa da
população municipal. Ao contrário, a maioria dos países vizinhos privatizou o sistema de
saúde, o que não só encareceu e colocou fora do alcance da população os serviços como
reduziu sua presença ao seguir critérios de lucro na localização geográfica. Em
conseqüência, quase todas as prefeituras reclamam do afluxo constante de residentes na
cidade e na faixa de fronteira, seja de seus nacionais, seja de brasileiros residentes e
imigrantes, que não estão computados na base de cálculo dos recursos provenientes do SUS
(Sistema Único de Saúde – Governo Federal).
No caso da Tríplice Fronteira Norte (Peru, Colômbia, Brasil), os serviços de saúde
prestados pelo Hospital da Guarnição [militar] em Tabatinga são buscados por peruanos e
colombianos, os primeiros porque as localidades peruanas de fronteira não têm assistência

21
adequada, e no caso dos colombianos, porque os serviços de saúde são particulares e
custosos. Por outro lado, a falta de pessoal médico é problema freqüente do lado brasileiro,
como observado em Guajará-mirim, o que estimula a vinda de profissionais do país vizinho
que, no entanto, não podem exercer sua atividade legalmente devido às exigências dos
Conselhos de Medicina.
Em diversas cidades-gêmeas é cada vez mais comum que os nacionais da cidade
vizinha queiram ter seus filhos do lado brasileiro de forma a garantir o atendimento
posterior, o que nem sempre é compreendido pelas prefeituras, gerando má-vontade de
parte a parte.
Já os fluxos transfronteiriços relacionados à educação variam muito de acordo com
nível de desenvolvimento das cidades-gêmeas e a presença de imigrantes brasileiros e seus
descendentes na região de fronteira do país vizinho. Diferenças de idioma, cultura, custos
altos e entraves burocráticos ao reconhecimento de diplomas coíbem muito a vinda de
estudantes estrangeiros e mesmo de brasileiros para as cidades vizinhas, principalmente no
ensino de 3º grau. A expansão do bilingüismo em diversos segmentos da zona de fronteira
tem atenuado alguns desses obstáculos. Cobija (BO) é pólo atrator para Brasiléia,
Epitaciolândia e áreas próximas devido à presença de universidades e cursos profissionais
dos qual o Alto vale do rio Acre é carente.

Tipologia de Interações Transfronteiriças

O Quadro 1 propõe uma classificação das cidades-gêmeas de acordo com o tipo de


interação transfronteiriça. Foram incluídos no quadro tanto as cidades-gêmeas como
povoados localizados no limite internacional, porém somente as aglomerações urbanas com
a categoria de cidade no lado brasileiro aparecem no quadro com o tipo de interação
transfronteiriça correspondente. Adaptaram-se para o caso brasileiro os modelos de
interação transfronteiriça propostos por Cuisinier-Raynal (2001), em seu estudo sobre a
fronteira peruana. A principal adaptação foi aplicar os modelos de interação às cidades-
gêmeas e não só aos segmentos fronteiriços, como na proposta original. No decorrer do
trabalho foram feitas referencias a esses modelos: a) margem; b) zonas-tampão; c) frentes;

22
d) capilar; e) sinaptico. Para as cidades-gêmeas localizadas na zona de fronteira
compartilhada pelo Brasil com países vizinhos somente os três últimos modelos se aplicam.
O modelo frente faz uso do termo usualmente empregado para caracterizar frentes
pioneiras de povoamento, sem dúvida um tipo de frente cultural. Quando aplicado às
interações fronteiriças, o tipo “frente” pode designar além da frente cultural (afinidades
seletivas), as frentes indígenas, caracterizada pela mobilidade transfronteiriça indígena, e a
frente militar, quando existe apenas a presença de batalhões de fronteira, seja para assinalar
simbolicamente a presença do Estado, seja como núcleo logístico militar em casos de
conflito fronteiriço. Aglomerações proto-urbanas com interações transfronteiriças
intermitentes e investimentos institucionais reduzidos à perspectiva tática (prefeitura, posto
de saúde, aeródromo, batalhão de fronteira) caracterizam o modelo frente.
Na zona de fronteira brasileira somente no Acre as pequenas aglomerações de Santa
Rosa do Purus (Brasil) e Santa Rosa (Peru) mantêm interações do tipo frente indígena,
graças à mobilidade transfronteiriça de indígenas dos dois lados da divisória Nas cercanias
das aglomerações encontram-se diversas terras indígenas oficialmente reconhecidas, com
predominância dos grupos Ashanika, Kulina, e Kaxinawa (ISA, 2000). Grande parte dos
povoados que aparecem ao longo da fronteira brasileira, principalmente no Arco Norte,
mantêm interações de tipo frente, tanto indígena como militar (Normandia em Roraima;
Iauretê, Vila Bittencourt, Estirão do Equador no Amazonas; Foz do Breu no Acre, etc.).
As interações de tipo capilar são caracterizadas por trocas difusas que emergem
espontaneamente entre as aglomerações e que podem evoluir no sentido de integração sem
patrocínio governamental, seja na construção de infra-estrutura de articulação transfronteira,
seja na realização de acordos binacionais. Na zona de fronteira existem diversas cidades-
gêmeas que podem ser assim caracterizadas, tanto em situação geográfica de fronteira seca,
caso de Corumbá (MS) e Puerto Quijaro/Puerto Suárez na Bolívia, ou fluvial, caso de
Oiapoque (AP) e Saint George na Guiana Francesa, Porto Xavier (RS) e San Javier na
Argentina.
A interação transfronteira de tipo sinaptico constitui geralmente uma evolução de
interações de tipo capilar, principalmente em lugares estratégicos ou onde a consolidação e
expansão das redes de intercambio binacionais justifiquem investimentos institucionais. No
modelo sinapse as trocas entre as aglomerações urbanas são intensas e ativamente apoiadas

23
pelos Estados contíguos (infra-estrutura de articulação; mecanismos de apoio e
regulamentação ao comércio), sendo mais visível que no tipo capilar a justaposição de
fluxos comerciais internacionais e interurbanos. Ao longo da fronteira brasileira existem
vários casos de cidades-gêmeas que podem ser assim caracterizadas, sendo o mais famoso a
Tríplice fronteira formada por Foz do Iguaçu no Brasil, Ciudad del Este no Paraguai e
Puerto Iguazú na Argentina.

24
Quadro 1 - Cidades Gêmeas e Interações Transfronteiriças - 2004
GÊMEA Tipo de Interação
PopUrb e/ou PAÍS PopUrb Transfronteiriça
localidade
mais
UF LOCALIDADE Tipo 2000 próxima TIPO ** Articulação
Saint Fluvial
AP Oiapoque cidade 7.842 Georges GF cidade <10 mil s/ponte Capilar
Fluvial
RR Bonfim cidade 3.000 Lethen GU cidade 2.300 s/ponte Capilar
Santa Elena
RR Pacaraima cidade 2.760 de Uairén VZ cidade <10 mil Front. Seca Sinapse
Fluvial.
RR Uaicás povoado - VZ s/ponte -

AM Cucuí povoado - CO Front. Seca -


Fluvial
AM Iauretê povoado Yavarate CO/VZ s/ponte -
Fluvial
AM Vila Bittencourt povoado La Pedrera CO s/ponte -
Fluvial.
AM Ipiranga povoado Tarapaca CO s/ponte -
AM Tabatinga cidade 26.637 Letícia CO cidade 26.760 Front. Seca Sinapse
Fluvial
AM Benjamin Constant cidade 17.171 - PE s/ponte -
Fluvial
AM Atalaia do Norte cidade 4.175 - PE s/ponte -
Fluvial
AM Caxias povoado - PE s/ponte -
Fluvial
AM Estirão do Equador povoado - PE s/ponte -
Fluvial
AM Bom Jesus povoado - PE s/ponte -
Fluvial
AM Rodrigues povoado - PE s/ponte -
Boqueirão da
AC Esperança povoado - PE Front.Seca -
AC Foz do Breu povoado - PE Front.Seca -
AC S.Rosa do Purus cidade 518 Santa Rosa PE pov. <5 mil Front.Seca Frente Indígena
Fluvial
AC Assis Brasil cidade 2.151 Iñapari PE cidade 1.273 s/ponte Capilar
Fluvial
- Bolpebra BO pov. < 5 mil s/ponte Capilar
AC Canindé povoado - BO - -
AC Quixadá povoado - BO - -
Fluvial
AC Brasiléia cidade 9.026 Cobija BO cidade 20.220 c/ponte Sinapse
Fluvial
AC Epitaciolândia cidade 7.404 Cobija BO c/ponte Sinapse

25
GÊMEA Tipo de Interação
PopUrb e/ou PAÍS PopUrb Transfronteiriça
localidade
mais
F LOCALIDADE Tipo 2000 próxima TIPO ** Articulação
Fluv.s/pont
AC Capixaba cidade 1.521 - BO e -
Fluv.s/pont
AC Plácido de Castro cidade 6.979 - BO e -
Fluv.s/pont
AC Acrelândia cidade 3.506 - BO e -
Fluv.s/pont
RO Abunã vila 427 - BO e -
Fluv.s/pont
RO Araras Pov. 291 - BO e -
Fluv.s/pont
RO Nova Mamoré cidade 7.247 - BO e -
Fluv.s/pont
RO Iata Pov. 329 - BO e -
Guayaramerí cidad Fluv.s/pont
RO Guajará-Mirim cidade 32.225 n BO e 33.095 e Capilar
Fluv.s/pont
RO Surpresa pov 449 - BO e -
Fluv.s/pont
RO Conceição vila - BO e -
Fluv.s/pont
RO Príncipe da Beira vila 380 - BO e -
Fluv.s/pont
RO Costa Marques cidade 6.758 - BO e -
Fluv.s/pont
RO Santo Antônio vila - BO e -
Fluv.s/pont
RO Pedras Negras vila - BO e -
Fluv.s/pont
RO Laranjeiras vila - BO e -
Pimenteiras do Fluv.s/pont
RO Oeste cidade 1.398 - BO e -
Puerto cidad Fluv.s/pont
MS Corumbá cidade 86.144 Suarez BO e 14.263 e Capilar
povoad Fluv.s/pont
MS Porto Bush o - PY e -
Pto.Palma Fluv.s/pont
MS Porto Murtinho cidade 8.339 Chica PY pov. < 5 mil e Capilar
cidad Fluvial
MS Bela Vista cidade 18.023 Bella Vista PY e 5.066 c/ponte Sinapse
povoad
MS Campestre o - PY Front.Seca -
MS Antônio João cidade 6.297 - PY Front.Seca -
Pedro Juan cidad
MS Ponta Porã cidade 54.383 Caballero PY e 53.566 Front.Seca Sinapse
povoad
MS Sanga Puitã o - PY Front.Seca -
MS Aral Moreira cidade 3.271 - PY Front.Seca -
povoad
MS Vila Marques o - PY Front.Seca -
cidad
MS Coronel Sapucaia cidade 9.472 Capitan Bado PY e 4.213 Front.Seca Sinapse
cidad
MS Paranhos cidade 5.795 Ypeju PY e 1.827 Front.Seca Capilar
MS Sete Quedas cidade 8.999 - PY Front.Seca -
povoad
MS Jacaré o - PY Front.Seca -
MS Japorã cidade 1.205 - PY Front.Seca -

26
Guaira (BR);
Salto del
MS Mundo Novo cidade 13.612 Guayrá PY ponte -
povoad
MS Porto Gov. Fragelli o - PY - -
Salto del cidad Fluv.s/pont
PR Guaíra cidade 24.878 Guayra PY e 6.700 e Sinapse
Ciudad del cidad
PR Foz do Iguaçu cidade 256.524 Este PY e 223.350 ponte Sinapse

Puerto cidad
- Iguazu AR e 9.151 Front.Seca Sinapse

PR Pranchita cidade 3.160 - AR ponte -


Sto. Antonio do fluv.
PR Sudoeste cidade 10.814 - AR s/ponte -

PR Barracão cidade 5.825 B. Irigoyen AR Front.Seca Sinapse


Bernardo de cidad
SC Dionísio Cerqueira cidade 8.610 Irigoyen AR e < 10 mil Front.Seca Sinapse
povoad fluv.
RS Alto Uruguai o - AR s/ponte -
fluv.
RS Porto Mauá cidade 924 - AR s/ponte -
fluv.
RS Panambi cidade 28.291 - AR s/ponte -
fluv.
RS Porto Vera Cruz cidade 502 - AR s/ponte -
fluv.
RS Porto Lucena cidade 2.416 - AR s/ponte -
cidad fluv.
RS Porto Xavier cidade 5.569 San Javier AR e < 5 mil s/ponte Capilar
fluv.
RS Garruchos cidade 1.191 - AR s/ponte -
cidad
RS São Borja cidade 57.273 Santo Tomé AR e 14.352 ponte Sinapse
cidad Fluv.s/pont
RS Itaqui cidade 34.823 Alvear AR e 5.419 e Capilar
povoad Fluv.s/pont
RS São Marcos o - AR e -
Paso de Los cidad
RS Uruguaiana cidade 118.538 Libres AR e 40.000 ponte Sinapse
Monte cidad
RS Barra do Quaraí cidade 2.865 Caseros AR e 18.247 ponte Sinapse
cidad
- Bella Unión UY e ponte Sinapse
cidad
RS Quaraí cidade 22.060 Artigas UY e < 25 mil ponte Sinapse
Santana do cidad
RS Livramento cidade 84.455 Rivera UY e 84.103 Front.Seca Sinapse
cidad
RS Aceguá* cidade Aceguá UY e 1.400 Front.Seca Capilar
cidad
RS Jaguarão cidade 27.174 Rio Branco UY e < 10 mil ponte Sinapse
cidad
RS Chuí cidade 4.859 Chuy UY e < 5 mil Front.Seca Sinapse
povoad
RS Barra do Chuí o - UY Front.Seca -

27
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