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Bibliografia recomendada:
1. Noção
Esta figura implica, assim, pelo menos dois sujeitos: um deles, normalmente (mas não
necessariamente) um comerciante, que obtém o financiamento e mantém o exclusivo
controlo da sua atividade, sendo o único a surgir nas relações externas (associante) e
(pelo menos um) outro, que não tem de exercer uma atividade comercial e que realiza
um investimento remunerado na atividade do primeiro (associado).
Esta figura tem já uma longa tradição entre nós, tendo sido inicialmente regulada pelo
Código Ferreira Borges como sociedade (nos artigos 571.º a 576.º), sob a designação
“associação em conta de participação” (também designada de sociedade “momentânea e
anonima”), e posteriormente pelo Código Veiga Beirão, que previa a “conta em
participação” (nos artigos 224.º a 229.º, normas que foram revogadas pelo Decreto-Lei
n.º 231/81, de 28 de Julho).
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SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS
CONTRATOS CIVIS E COMERCIAIS
Ano letivo de 2011/2012
Doutor Alexandre Mota Pinto
(Com a colab. da Dra. Joana Torres Ereio)
Note-se ainda, como nota fundamental desta figura, que a associação em participação
não tem personalidade jurídica. Perante terceiros, o associante surge como o único
titular e dono do negócio − só ele intervém no tráfego jurídico e, portanto, só em relação
a ele se constituem direitos e obrigações perante terceiros. A sua relação com o(s)
associado(s) é uma relação meramente obrigacional, não sendo contitulares de qualquer
património comum.
2. Regulamentação legal
3. Elementos
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Neste capítulo, de ora em diante, as normas não identificadas referir-se-ão a este diploma.
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Nos termos do artigo 24.º, n.º 1, a contribuição do associado, que deve ingressar no
património do associante quando consista na constituição ou transmissão de um direito,
deve ainda ser suscetível de avaliação patrimonial, revestindo-se esta avaliação −
traduzida na atribuição de um valor monetário à contribuição do associado através de
estipulação contratual ou de avaliação judicial − de particular relevância prática (cfr. o
artigo 24.º, n.º 4).
A associação em participação difere, desde logo, da sociedade, visto que não dá azo à
formação de um património comum nem visa o exercício em comum de uma atividade
económica.
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participação do associado nas perdas. O critério de distinção entre estas duas figuras é a
comunidade do fim visado pelos contraentes. No entanto, este critério revela-se pouco
operatório na prática, pelo que será muitas vezes necessário recorrer a um método
indiciário, através da identificação de indícios dessa comunidade de fim das partes.
5. Forma
Nos termos do artigo 23.º, o contrato de associação em participação não está sujeito a
forma especial (integrando, nessa medida, a categoria dos contratos consensuais),
exceto se a natureza dos bens que constituem a contribuição do associado exigir forma
especial para a transmissão (maxime, bens imóveis).
Por outro lado, e sem prejuízo da regra geral da consensualidade, há certas cláusulas do
contrato de associação em participação que apenas se podem provar por documento
escrito: as cláusulas de exclusão da participação do associado nas perdas (na prática,
muito frequentes), e as que, quanto a estas perdas, estabelecem a responsabilidade
ilimitada do associado (cfr. o artigo 23.º, n.º 2, que estabelece uma formalidade
meramente ad probationem).
Nesta matéria vale o contratualmente acordado entre as partes (cfr. o artigo 25.º, n.º 1,
2.ª parte). Nos casos em que as partes apenas regulem o modo de participar nos lucros
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ou nas perdas, aplica-se o critério de participação nos lucros à participação nas perdas e
vice-versa (cfr. o artigo 25.º, n.º 2).
7. Deveres do associante
Além dos demais deveres legais e dos acordados pelas partes, o associante tem os
deveres previstos no artigo 26.º (deveres gerais) e no artigo 31.º (deveres relativos à
prestação de contas).
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9. Integração de lacunas
Discute-se a que regime (civil ou societário) se deve recorrer para efeitos de integração
das lacunas de um contrato de associação em participação − por exemplo, em caso de
vícios do contrato, devem ser chamadas à colação as disposições que regulam as
sociedades irregulares?
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Bibliografia recomendada:
1. Noção
Traço fundamental do contrato de consórcio é que este não dá origem a um novo ente
jurídico (pelo que o consórcio não tem personalidade jurídica), e nem sequer a um
património autónomo.
2. Regulamentação legal
Antes deste diploma, e face à ausência de um regime legal próprio, era comum
discutir-se a aplicação do regime das sociedades irregulares às empresas consorciadas, o
que não deixava de ser uma consequência perversa daquele vazio legal: as partes não
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Neste capítulo, de ora em diante, as normas não identificadas referir-se-ão a este diploma.
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tinham querido constituir uma sociedade e afinal podia considerar-se que a haviam
constituído, e ainda por cima irregular, com os riscos inerentes à aplicação do respetivo
regime.
3. Elementos
3.1 Sujeitos
Esta atuação concertada tende a gerar uma relação “intuitus personae” entre os
membros do consórcio, dado o elevado nível de confiança recíproca exigido, razão pela
qual o consórcio é unanimemente apontado como o protótipo das relações de
cooperação interempresarial − com base nesta relação de confiança entre os
consorciados fala-se, inclusive, de uma “boa fé qualificada”, com reflexos em vários
aspetos do regime do contrato de consórcio (cfr. em particular, os artigos 8.º a 10.º).
3.2 Objeto
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A respeito deste artigo 2.º, discute-se se esta norma estabelece uma tipologia taxativa
(Raúl VENTURA e P. Sousa VASCONCELOS), exemplificativa (L. Ferreira LEITE) ou
delimitativa (J. Oliveira ASCENSÃO), caso em que seria permitido o recurso à analogia.
Parece-nos que o legislador quis definir as hipóteses em que entendeu ser adequado o
recurso a esta figura, pelo que não se tratará de uma tipologia meramente
exemplificativa. Contudo, não vemos motivos para excluir a possibilidade de recurso ao
contrato de consórcio em hipóteses análogas às previstas no artigo 2.º.
Ainda a propósito da noção de contrato de consórcio (artigo 1.º), convém notar que o
legislador não exige que o consórcio prossiga uma atividade comercial ou que os
membros do consórcio sejam empresas, limitando-se a fazer referência à prossecução de
uma atividade económica − muito embora, no texto legal, faça várias referências à
cooperação entre empresas.
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demais membros); em segundo lugar, do ponto de vista do fim, já que não visa, em si
mesmo, a obtenção de lucros; em terceiro lugar, do ponto de vista patrimonial, na
medida em que o consórcio não dispõe de um património comum (note-se, aliás, que no
consórcio não só não existe um património comum, como estão mesmo proibidos os
fundos comuns, nos termos do artigo 20.º).
5. Forma
O contrato de consórcio está sujeito a simples forma escrita, exceto se implicar uma
transmissão e esta carecer de forma mais solene. Em todo o caso, a inobservância da
forma legalmente exigida só provoca a nulidade total do contrato de consórcio, quando
não seja possível converter o negócio de transmissão num simples negócio de cessão da
utilização do bem − cfr. o artigo 3.º.
6. Modalidades de consórcio
Seguindo a classificação legal (cfr. o artigo 5.º), podem distinguir-se duas modalidades
de consórcio, tendo em conta a projeção externa deste:
6.1.1 Noção
(ii) as atividades ou os bens são fornecidos diretamente a terceiros por cada um dos
membros do consórcio, mas sem expressa invocação dessa qualidade.
6.1.2 Regime
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No consórcio interno, sendo convencionada a participação nos lucros e/ou nas perdas,
aplica-se o regime da associação em participação (cfr. o artigo 25.º, ex vi artigo 18.º)
quanto à determinação da participação dos consorciados nos lucros e/ou nas perdas.
Note-se, a este respeito, que muito embora o artigo 18.º pareça aplicar-se às duas
modalidades de consórcio interno previstas no artigo 5.º, n.º 1, na verdade, aplica-se
apenas aos consórcios internos previstos na alínea a) desta norma, já que nos consórcios
previstos na alínea b) (cfr. 6.1.1(ii) supra) não há, por natureza, quaisquer lucros ou
perdas a partilhar.
6.2.1 Noção
Por sua vez, no consórcio externo, as atividades ou os bens são fornecidos diretamente a
terceiros por cada um dos membros do consórcio, com expressa invocação dessa
qualidade.
6.2.2 Regime
O consórcio externo é objeto de uma regulação muito mais detalhada que o consórcio
interno, o que se justifica na medida em que é precisamente no âmbito do consórcio
externo que se levantam questões mais complexas, relativas, nomeadamente, à
representação e responsabilidade das empresas consorciadas.
6.2.2.1 Órgãos
A lei dispõe, desde logo, sobre a orgânica do consórcio externo, prevendo a criação quer
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Por outro lado, o contrato deve designar um dos consorciados como chefe do consórcio
(cfr. o artigo 12.º), ao qual competirá exercer as funções internas e externas que lhe
forem contratualmente atribuídas. Não se definindo no contrato as funções internas do
chefe do consórcio, caber-lhe-á desempenhar as funções supletivamente previstas no
artigo 13.º.
6.2.2.2 Denominação
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Relativamente às relações com terceiros, importa recordar, desde logo, que se trata
sempre de relações dos próprios consorciados com terceiros, e não do consórcio que,
como vimos, não tem personalidade jurídica.
Sobre esta matéria regem os artigos 15.º, n.º 1, 2.ª parte, aplicável quando estejam em
causa obrigações singulares, e 19.º, aplicável quando se trate de obrigações plurais, o
que sucederá se todos os consorciados celebrarem um determinado contrato com um
terceiro, diretamente ou através de representante − cfr., quanto à atribuição de poderes
de representação, o artigo 14.º. O artigo 19.º, n.º 3 estabelece o regime aplicável aos
casos de responsabilidade extracontratual.
Ora, dispõe expressamente o artigo 19.º − cuja ratio terá sido, desde logo, excluir a
presunção legal do artigo 100.º do Código Comercial, para cuja aplicação bastaria que
os membros do consórcio fossem empresas comerciais e que o objeto do consórcio se
enquadrasse na respetiva atividade −, que nas obrigações plurais não se presume a
solidariedade ativa ou passiva dos membros do consórcio. Por conseguinte, cada
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Não obstante, a norma não prescreve o regime da conjunção, pelo que, nos termos
gerais do artigo 513.º do Código Civil, haverá que aferir, caso a caso, se a solidariedade
resulta da vontade das partes (por convenção expressa no contrato ou tacitamente) ou
das circunstâncias do contrato (a dita solidariedade técnica), concluindo-se pela
existência daquela vontade por interpretação do contrato.
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