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Exmo.

Senhor Doutor Juiz de Direito do Juizado Especial Cível da Comarca


de Curitiba - Pr.

GARANTE SERVIÇOS DE APOIO S.C LTDA., pessoa jurídica de direito privado,


localizada na Rua Riachuelo, 31, 3º andar, inscrita no CNPJ sob nº 76.086.123/0001-59,
nesta Capital, neste ato representado por seu preposto e procurador judicial infra-
assinado (cfr. Procuração em anexo), notificado da RECLAMAÇÃO n.º 2002.18431-
7/0, que lhe move MARIA NEUZA PEDROSO, vem muito respeitosamente perante
V.Sa., apresentar a sua DEFESA, pelas seguintes razões de fato e de direito:

A autora é proprietária do Apartamento 301, Bloco 21, do Condomínio Conjunto


Residencial Vale Verde II, nesta Capital, e encontra-se com taxas de condomínio em
atraso, dos meses de fevereiro de 2001 até maio de 2002

Ocorre que a reclamante não paga sua cota mensal de condomínio no prazo fixado.

A reclamada é a empresa prestadora serviço para o Condomínio, para efetuar a cobrança


amigável e judicial das taxas de condomínio.
A reclamante faz varias acusações contra a empresa de cobrança, alegando que após ter
problemas financeiros, a empresa começou a fazer a cobrança de modo humilhante.

O que não corresponde a verdade, pois a empresa nunca desrespeitou nenhum


devedor.

A cobrança dos devedores feita pela empresa reclamada, se limita a enviar


correspondência, contato telefônico, e ação judicial.

Ocorre que a autora esta em débito com suas taxas de condomínio. O não pagamento das
taxas de condomínio na data fixada acarreta na cobrança de multa de 20%, juros,
correção monetária custas processuais e honorários advocáticios, calculado sobre o valor
total do débito.

A Reclamante esta agindo de má-fé quando quer ser indenizada por danos que não
sofreu, e nem sua família, mas esta causando aos outros condôminos, com o não
pagamento de suas contribuições nas datas fixados pelo condomínio.

Ao pleitear a condenação da reclamada “ao pagamento de indenização por danos


morais e a imagem da reclamante e de sua família, no montante de 40 (quarenta)
salários mínimos” fls. a reclamante não se dignou a demonstrar os elementos que
levaram a essa absurda quantia, ignorando regra esculpida no Código Civil, seguinte:

“Artigo 953. A indenização por injuria, difamação ou calúnia consistirá na


reparação do dano que delas resulte ao ofendido.
Parágrafo Único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao
juiz fixar, eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das
circunstâncias do caso”

Ignorou também a autora o entendimento doutrinário segundo o qual compete ao juiz


e não à parte a fixação do valor indenizatório. SILVIO RODRIGUES (in
“Responsabilidade Civil”, 1979, p. 198/9) salienta:

“Será o juiz, no exame do caso concreto, quem concederá ou não a indenização e


a graduará de acordo com a intensidade e duração do sofrimento experimentado
pela vitima”.

Descabe totalmente a pretensão da reclamante, visto que as alegações da empresa


reclamada, provam a sua conduta de devedora, a qual esta em débito as taxas de
condomínio, e agora tenta cobrar indenização por danos morais, que não sofreu.
Nos autos esta comprovada a existência de relação jurídica, sendo improcedente o
pedido de danos morais, posto que há relação jurídica entre o reclamante e
reclamado-condomínio, e portanto, os títulos protestados são devidos, afastando com
isso a possibilidade o pedido de indenização por danos morais.

A reclamante não trouxe aos autos qualquer prova de que efetivamente suportou
algum dano, claro que a simples alegação da reclamante de que determinado fato
ocasionou dano moral, não é suficiente para gerar motivo para pleitear indenização,
deve mostrar de forma clara, precisa e concreta o resultado lesivo.

Neste sentido, tem se orientado o entendimento jurisprudencial que o dano moral


para ser indenizado deve produzir reflexos no patrimônio de quem o tenha sofrido, o
que não ocorreu no presente caso, nesta linha de entendimento transcrevemos o
seguinte acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

“Responsabilidade Civil – indenização de dano moral - Declaração à praça


publicada pela firma ré em jornal de circulação empresarial – Nenhuma
repercussão econômica, porem em prejuízo à empresa autora. Ação
improcedente. Apelação não provida. O dano moral para ser indenizável deve
produzir reflexos no patrimônio de quem o tenha sofrido . (Ac. n.º 1823 – 4ª Cam.
Cível TJPR – Relator Des. Ronaldo Accioly – Ap. Cível n.º 1718-82)”.

Por esses aspectos, sem a efetiva prova do prejuízo experimentado pela reclamante, não
há como se acolher o pedido de indenização, sob pena de enriquecimento ilícito.

Mesmo após a Constituição de 1998, não restou qualquer dúvida que esta orientação,
de irressarcibilidade de dano puramente moral, naqueles casos em que não existe
prova de repercussão econômica ou material, é ainda inapelavelmente prevalecente,

A reclamante tenta inverter o ônus da prova, como se não fosse ele quem deu causa, a
pela empresa prestadora de serviços.

É evidente que os condôminos que efetuam pagamento com atraso sejam onerados com
multa, juros, custas processuais e honorários advocatícios, mesmo em cobrança
extrajudicial, pois é absurdo imaginarmos aquele que paga em atraso pleitear indenização
por danos morais, se utilizando assim do poder Judiciário para enriquecimento ilícito.

A autora não comprovou os alegados danos morais e constrangimentos suportados e


alegou fatos inverídicos, pelo que não merece acolhimento pelo judiciário, haja visto
que aciona a tutela jurisdicional do Estado alegando situações que em nenhum
momento ocorreram, tudo na tentativa de enriquecer-se injustificadamente, o que
certamente afasta a configuração do pretenso dano moral.

O jurista IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, no artigo “A industria dos danos


morais” publicado em 24/04/96, escreveu no Jornal da Tarde:

“Hoje há verdadeira industria do Dano Moral. Quem pretende receber sem


nenhum risco substancial indenização do pretenso ofensor pode ingressar em
juízo com ação de indenização por danos morais, estabelecer reduzido valor de
causa apenas para efeitos de alçada e pedir que o juiz arbitre sua “dor moral”.

Se perder a ação, quase nada pagará, pois os honorários de sucumbência, entenda-


se, os honorários que pagaria a parte vencida – serão ridículos. Se ganhar, os
honorários que seu advogado receberá serão de 10 a 20% do valor da indenização,
cujos números podem ultrapassar consideravelmente aqueles atribuídos à ação pela
pessoa que deseja lavar sua honra com dinheiro.

Em outras palavras, quem diz que sua honra tem preço e esta sofrendo uma dor
moral intensa e quer o “pretium dolaris”, deve dizer quanto vale a sua honra e
esperar que o juiz verifique se sua honra foi efetivamente atingida e se vale o que
foi pedido.

Só desta forma haveria justiça no debate judicial, ambas as partes se posicionando


em igualdade de condições.

Norma desse teor afastaria as aventureiros desse tipo de ação e restabeleceria o


principio constitucional de que o dano deve ser ressarcido de forma proporcional ao
agravo (art. 5º inciso V da CF), pois, nesta hipótese, só as pessoas que realmente
tivessem a honra afetada teriam interesse de ingressar em juízo sem receio de
enfrentar a decisão final, pois já quantificado o valor da ofensa”.

O pretenso dano levantado pela autora, pelo qual espera receber vultosa soma,
efetivamente jamais ocorreu, não passando de mera hipótese, pois, reitere-se, não
demonstrou de forma clara e concisa os danos morais alegados, mas, jamais socorrer-
se das vias judiciais para pleitear valor imoral e absurdo.

O que pretende a autora, enriquecer-se ilicitamente? Onde está configurado o dano moral
que pleiteia? Quais os documentos comprobatórios dos prejuízos irreparáveis?
Nas indenizatórias as provas devem ser concretas e suficientes no sentido de demonstrar
efetivos prejuízos, quer material, quer moral, na fase cognitiva da ação, para a correta
fixação do quantum indenizatório, não podendo, ser objeto de enriquecimento sem causa,
como pretende a autora.

O entendimento jurisprudencial é unânime nesse sentido de não haver dano, quer


moral, quer material, sem prova:

“Sem base probatória segura para que seja identificado, o dano moral não há
que ser indenizado”. (STJ – Ag. n.º 42.388-3/RS – Rel. Min. CLAUDIO
SANTOS – j. 05/10/93 – DJU n.º 197, p. 21.685).

“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – PROVA DO DANO – NECESSIDADE.


O dano para ser indenizável, há de ser alegado e provado na fase probatória que
antecede a sentença.” (TAMG – Ap. Cível n.º 60.348 – Rel. Des. HUMBE.ERTO
THEODORO JUNIOR – p. 179).

Indenização dessa natureza reclama danos efetivamente produzidos e não danos


supostos. Sem prejuízo efetivo, ou seja, sem danos concretos, não se indeniza.

Contudo, no caso de cabimento, a indenização deve ser estabelecido em parâmetros


que impossibilitem o enriquecimento sem causa.

Corrobora com este entendimento a mansa e pacifica doutrina, ‘in verbis’:

“A indenização deve ser a mais completa possível, mas não pode ser causa de
enriquecimento sem causa, de locupletamento à custa do devedor”.
(in Tratado de Direito Administrativo, 3ª edição, 1995, vol. I, P. 423)

Neste sentido leciona ARRUDA ALVIM:

“O valor a ser dado a essas causas morais é estimado pelo demandante, mas deve sê-
lo de forma razoável e adequada. Se arbitrário for, a outra parte deve impugná-lo,
cabendo ao julgador, dentro de seu equilíbrio, fixa-lo de acordo com a relevância e o
significado da causa para os litigantes que disputam a decisão judicial. Inclusive é
corrigível de oficio, vez que o assunto é de ordem pública e pelos efeitos processuais a
que dá causa, deve ficar sob a fiscalização do Juiz mesmo porque envolve interesse
tributário do Estado”. (Jurisprudência do CPC – 16/228 e 16/230).
Assim sendo, não há que se falar em indenização de danos morais, posto que
efetivamente não houve dano, porém, caso este r. Juízo entenda que a indenização
por danos morais é cabível, desde já requer que esta seja fixada de forma a evitar o
enriquecimento injustificado do autor.

POSTO ISTO, requer a V. Exa. com base nos argumentos e fundamentos legais
mencionados, que se digne a julgar improcedente o pedido de dano moral, e determine
o arquivamento da presente reclamação, com a condenação do reclamante nos
honorários advocatícios, estes fixados na base usual de 20%, sobre o valor do pedido.

Requer, provar o alegado, por todos os meios de provas em direito admitidas, em


especial a documental, ouvida de testemunhas, e depoimento pessoal da autora, sob pena
de confesso.

N. Termos
P. Deferimento.
Curitiba 20 de maio de 2003.

Manoel Alexandre S. Ribas


Advogado.

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