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O instrumento e o símbolo no desenvolvimento da criança

Inicialmente, o propósito desse texto é caracterizar o comportamento tipicamente humano e


as características que o formaram ao longo do tempo. Seguindo a linha de raciocínio de três
perguntas fundamentai.: 1) qual a relação entre os seres humanos e o seu ambiente físico e
social? 2) quais as formas novas de atividade que fizeram com que o trabalho fosse o meio
fundamental de relacionamento entre homens e a natureza e quais as consequências
psicológicas dessas formas de atividade? 3) qual a natureza das relações entre o uso de
instrumentos e o desenvolvimento da linguagem?

Karl Stumpf acreditava que o estudo do desenvolvimento da criança era paralelo ao da


botânica, acreditava-se que ambos seguiam, como elemento principal, a maturação dos
órgãos. O que logo em seguida foi dado como incoerente, visto que a maturação é um fator
secundário.

Após a incoerência relativa a tese botânica do desenvolvimento, a psicologia moderna ampliou


seu campo de pesquisa para a área zoológica. Em vários pontos a psicologia animal converge
com a da criança, em especial para o entendimento dos processos psicológicos elementares.
Ademais, quando a tese botânica estava em alta, os psicólogos enfatizavam o caráter singular
das funções psicológicas superiores. Entretanto, a abordagem zoológica suscitou-os a
interpretar não mais como algo singular e sim como uma extensão direta dos processos
correspondentes nos animais. Essa maneira de teorizar aparece particularmente na análise da
inteligência pratica das crianças, cujo aspecto mais importante é o uso de instrumentos.

A inteligência pratica nos animais e nas crianças

O estudo de W. Kohler foi de grande importância para a época, contribuiu parar nortear o
trabalho experimental nesse campo, que consistia na comparação direta do comportamento
do chimpanzé com alguns tipos de respostas das crianças.

K. Buhler seguiu em uma vertente um pouco parecida com a de Kohler, usou como base de
referência aspectos físicos como apreensão manual de crianças pequenas, capacidade de usar
diversas vias para o mesmo resultado. Ele acreditava que a manifestação de inteligência
pratica em crianças era parecida com as dos chimpanzés, o que de fato era parecido em uma
fase em especial que era denominada “idade de chimpanzé”. Embora esses experimentos
servissem de base de analogia entre macacos e crianças, Buhler descobriu que a inteligência
pratica ou raciocínio técnico independia da fala.

C. Buhler com seus estudos veio a comprovar essas afirmativas, dizendo que a inteligência
pratica, assim como os movimentos sistemáticos, a percepção, o cérebro e as mãos se
desenvolvem por inteiro. Porem cada “evolução” depende de seu desenvolvimento orgânico e
o domínio do uso de instrumentos.

Buhler estabeleceu o princípio para estudar o desenvolvimento, que constitui que os primeiros
esboços de fala inteligente são precedidos pelo raciocínio técnico. Parte dessa teoria é
questionável por aferir que os sucessos obtidos pelos chimpanzés independem totalmente da
fala. Ele partiu do pressuposto que a relação entre inteligência pratica permanecem intactas
pela vida toda, o que estudos posteriores provaram o contrário.
Shapiro e Gerke afirmaram que o raciocínio pratico da criança se assemelha aos dos
chimpanzés em alguns aspectos e se diferem em outros, além de enfatizar a experiência social
no desenvolvimento humano, essa experiência contribui pela possibilidade de imitação.
Ademais, a partir da imitação o indivíduo adquire formas e possíveis meios para se nortear no
decorrer do seu desenvolvimento. Tal noção de adaptação está ligada a concepção
mecanicista, tendo em vista que a repetição da ação cabe somente para prover a criança com
esquemas motores e não a mudanças na estrutura interna. Não leva em consideração a
contribuição da fala para o desenvolvimento de uma nova organização estrutural da atividade
pratica.

Guillaume e Meyerson concluíram que os métodos utilizados pelos macacos antropoides são
similares aos usados por pessoas afásicas (mudos). Isso contribui para suposição de Vygostsky,
que consisti em que a fala tem um papel essencial para a organização das funções psicológicas
superiores.

Ambas as linhas de trabalho nos levam a focalizar nossa atenção sobre a importância de
compreender a atividade pratica das crianças quando na idade de começas a falar. Vygostsky
se preocupa em descrever e especificar o desenvolvimento daquelas formas de inteligência
pratica especificamente humanas.

A relação entre a fala e o uso de instrumentos

Kohler provou a inutilidade de tentar desenvolver em animais, formas elementares de


operações com signos e símbolos. Tias experimentos comprovaram que o comportamento
propositado dos animais independe da fala ou de qualquer atividade utilizadora de signos.

Acreditava-se que a fala tinha origem distinta das outras funções psicológicas e também que
todas os outros estágios do desenvolvimento intelectual da criança estavam em um estado
adormecido, esperando somente o momento certo para emergir. Assumia-se que a
inteligência pratica e a fala tinha origem distintas e consequentemente, eram estudas
separadamente, o que é um equívoco.

A interação social e a transformação da atividade pratica

Tomando por base a discussão apresentada na seção anterior e ilustrada pelo trabalho
experimental a ser descrito a seguir, pode-se tirar a seguinte conclusão: o momento de maior
significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente
humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então
duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem.

Após a chegada da fala, a criança ressignifica o uso de instrumentos, amplia todas as suas
formas de ação.

A criança torna-se controladora do ambiente por meio da fala, a criação dessas formas
caracteristicamente humanas de comportamento produz, mais tarde, o intelecto. E propicia a
base para as formas especificas do uso de instrumentos. Ela usa a fala como forma de
pensamento, intensificando-a cada vez que a ação fica mais complicada e qualquer tentativa
de interferir/impedir ou é inútil ou provoca uma paralisação na mesma. É valido considera a
fala egocêntrica como parte da transição entre a fala exterior e interior.

Nossos experimentos demonstraram dois fatos importantes: (1) A fala da criança é tão
importante quanto a ação para atingir um objetivo. As crianças não ficam simplesmente
falando o que elas estão fazendo; sua fala e ação fazem parte de uma mesma função
psicológica complexa, dirigida para a solução do problema em questão. (2) Quanto mais
complexa a ação exigida pela situação e menos direta a solução, maior a importância que a
fala adquire na operação como um todo. As vezes a fala adquire uma importância tão vital
que, se não for permitido seu uso, as crianças pequenas não são capazes de resolver a
situação.

A criança usa a fala como pré-requisito para desempenhar determinadas funções.

Tal aquisição possibilita a versatilidade de caminhos até chegar ao seu objetivo final, o que nos
macacos é de certa forma limitado. Ela articula os seus passos e então executa.

Finalmente, é muito importante observar que a fala, além de facilitar a efetiva manipulação de
objetos pela criança, controla, também, o comportamento da própria criança. Assim, com a
ajuda da fala, as crianças, diferentemente dos macacos, adquirem a capacidade de ser tanto
sujeito como objeto de seu próprio comportamento.

Resumindo, Vygotsky simplifica suas ideias em: a capacidade humana de domínio da


linguagem possibilita a ela diversos instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis,
planejar uma determinada tarefa, e o domínio do seu próprio comportamento. Essa forma de
linguagem, possibilita-a a interação social com outras pessoas, tais formas constituem-se como
base para formas novas de atividades, diferenciando-as dos animais.

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