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As Duas Alianças

Andrew Murray

INTRODUÇÃO

Um dos reconhecidos objetivos de qualquer pregador


da Palavra de Deus é tomar o texto sagrado, originalmente
escrito por pessoas de outra cultura e que viveram há
séculos atrás, e torná-lo claro e compreensível para seus
contemporâneos. E este é um digno objetivo. Mas se este
for seu único objetivo e for apenas isso o que conquista –
uma mera iluminação da mente – seu ministério é um
fracasso aos olhos de Deus. Para que um ministro seja fiel
Àquele que o enviou, ele certamente deve desafiar seus
ouvintes a aplicarem a mensagem do Espírito em suas
vidas diárias – a viverem vigorosa e consistentemente de
acordo com a prescrição divina. E esta é a minha intenção.

Uma das palavras das Escrituras que parece ter saído


de moda é a palavra “aliança”. Houve um tempo quando
ela era a nota chave de nossa teologia e da vida Cristã de
homens fortes e santos. Nós sabemos o quão profundo ela
penetrou na vida e no pensamento nacional da Escócia. Ela
fez homens vigorosos, aos quais Deus e Suas promessas de
poder eram maravilhosamente reais. Ela ainda trará força
e propósito àqueles que desejam colocar suas vidas
totalmente debaixo do controle de Deus. A inspiradora
certeza de que vivem em aliança com um Deus que
jurou cumprir neles cada promessa Sua, os tornará
vigorosos também.
Este livro é uma humilde tentativa de mostrar quais
são exatamente as bênçãos que Deus prometeu, em sua
aliança, derramar a nós; qual a certeza que a Aliança nos
dá de que as bênçãos podem e serão cumpridas; qual a
posição em que ela nos coloca com o próprio Deus; e, quais
são as condições para a plena e contínua experiência
dessas bênçãos. Estou confiante de que, se eu puder levar
as pessoas a ouvir o que Deus tem a dizer sobre Sua
Aliança, e a lidar com Ele como um Deus de Aliança, isto
trará a elas tanto força quanto alegria.

Há pouco tempo, recebi uma carta contendo as


seguintes sugestões: “Eu espero que você me perdoe e me
entenda quando digo que há uma nota de poder a mais a
qual eu gostaria muito que fosse introduzida no seu
próximo livro sobre Intercessão. O próprio Deus tem, eu
sei, me dado algum ensino direto, neste inverno, sobre o
lugar que a Nova Aliança deve ter na oração de
intercessão... eu sei que você crê na Aliança e nos direitos
que fluem dela para nós. Você tem levado a cabo seus
estudos da Aliança vendo como Ela sustenta este assunto
de intercessão? Estou errado em concluir que podemos nos
achegar com intrepidez a presença de Deus e não apenas
pedir mas também reivindicar um direito da Aliança
através de Cristo Jesus para toda a busca espiritual, e
limpeza, e conhecimento, e poder prometido nas três
grandes promessas da Aliança? Se você tomasse a Aliança
e falasse dela da maneira que Deus te habilitasse a fazer,
eu acho que seria o caminho mais rápido que o Senhor
poderia tomar para despertar Sua Igreja para o poder que
Ele colocou nas nossas mãos quando firmou conosco uma
Aliança. Eu ficaria muito contente se você dissesse ao povo
de Deus que ele tem uma Aliança.”.

Apesar desta carta não ser o motivo deste livro ter


sido escrito, e de que nossos direitos da Aliança já foram
considerados noutra parte de forma muito mais abrangente
na sua relação com oração, eu estou persuadido de que
nada nos ajudará mais em nossa obra de intercessão do
que a nossa entrada pessoal no significado de termos um
Deus de Aliança.

Meu grande desejo tem sido perguntar aos cristãos se


eles realmente têm buscado descobrir o que exatamente
Deus quer que eles sejam e que Ele está disposto a torná-
los assim! É apenas enquanto eles esperam que “a mente
do Senhor lhes seja revelada” que a fé deles pode
realmente ver, ou aceitar, ou desfrutar o que Deus chama
de “Sua salvação”. Enquanto esperamos que Deus faça por
nós o que pedimos ou pensamos, estamos O limitando.
Quando cremos que Seus pensamentos são tão mais altos
que os nossos quanto os céus são mais altos que a Terra, e
esperamos n’Ele, como Deus, para fazer conosco de acordo
com Sua Palavra, da forma que Ele a entende, devemos
estar preparados para viver a realmente sobrenatural,
celestial vida que o Espírito Santo pode operar em nós – a
verdadeira vida de Cristo.

Que Deus leve cada leitor ao secreto da Sua presença


e mostre a ele Sua Aliança.

Andrew Murray

Wellington, África do Sul

01/Novembro/1898
CAPÍTULO 1

UM DEUS DE ALIANÇA

“Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o


Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil
gerações aos que o amam e cumprem os seus
mandamentos.” – Dt 7:9

Os homens constantemente fazem alianças. Eles


sabem as vantagens que provêm delas. Uma aliança pode
dar fim à antipatia entre dois grupos. Pode dar uma lista de
serviços e benefícios que devem ser restituídos aos grupos,
oferecendo segurança para certas realizações. Como um
laço de amizade e boa vontade, como uma base para a
perfeita confiança, uma aliança tem freqüentemente
sido de indizível valor.

Na Sua infinita complacência à nossa fraqueza e


necessidade humana, Deus procurou usar todos os
meios possíveis para nos dar a perfeita confiança
n’Ele, e a plena certeza de que tudo que Ele, na Sua
infinita riqueza e poder como Deus, prometeu fazer por
nós. É com isso em vista que Ele consentiu vincular-se em
aliança, como se fosse possível que Ele não fosse confiável.
Feliz é aquele que verdadeiramente conhece a Deus como
seu Deus de Aliança e entende o que a aliança promete a
ele. Que firme confiança e expectativa isso assegura,
garantindo que todos os seus termos sejam cumpridos pra
ele! Que direito e segurança isso dá a ele no próprio Deus
que mantém a aliança! Para alguém que nunca pensou
muito sobre a aliança, uma verdadeira e viva fé nela
significaria a transformação de toda a sua vida. O pleno
conhecimento do que Deus quer fazer por ele e a certeza
de que Ele certamente o fará faz da aliança a própria porta
do céu. Que o Espírito Santo nos dê compreensão de algo
dessa glória.

Quando Deus criou o homem à Sua imagem e


semelhança, Sua intenção era que o homem tivesse uma
vida tão igual à Sua quanto é possível que uma criatura
tenha. Isso aconteceria pelo viver e operar do próprio Deus
no homem. Seu desejo era que o homem se rendesse em
amorosa dependência a maravilhosa glória de ser o
recipiente, o portador, a manifestação da vida divina. O
segredo da felicidade do homem seria uma confiante
rendição de todo o seu ser à vontade e ao trabalhar de
Deus. Quando o pecado entrou, esse relacionamento com
Deus foi destruído, pois o homem desobedeceu, teve medo
de Deus e fugiu d’Ele. Ele não mais conhecia, ou amava, ou
confiava em Deus.

O homem não poderia salvar-se do poder do pecado.


Para que sua redenção pudesse ser efetuada, Deus é quem
deveria fazê-la por completo. E para que Deus a fizesse em
harmonia com a lei da natureza humana, o homem deveria
ser levado a desejá-la – dar o seu consentimento e confiar-
se a Deus. Tudo que Deus queria que o homem fizesse era
que cresse n’Ele. O que um homem crê move e governa
todo seu ser, porque entra nele e se torna parte de sua
própria vida. A Salvação só poderia ser pela fé. Apenas
Deus poderia restaurar a vida que o homem perdeu; então
o homem deveria, por fé, render-se ao trabalhar e à
vontade de Deus. A primeira grande obra de Deus no
homem foi fazê-lo crer. Essa obra custou a Deus mais
cuidado, tempo e paciência do que podemos imaginar. Todo
o Seu procedimento com homens individualmente e com o
povo de Israel como um todo tinha apenas este objetivo:
ensinar os homens a confiar n’Ele. Onde Ele encontrasse
fé, poderia fazer qualquer coisa. Nada O desonrava e
entristecia mais do que a incredulidade. Incredulidade foi a
raiz da desobediência e de cada pecado; ela fez com que
fosse impossível Deus realizar Sua obra. O que Deus
procurou despertar nos homens através de promessa e
ameaça, de misericórdia e julgamento, foi a fé.

Dos muitos artifícios que a paciente e condescendente


graça de Deus usou para erguer e fortalecer a fé, o
principal foi a Aliança. Deus procurou, de várias maneiras,
executar isso através de Sua Aliança. Primeiramente,
Sua Aliança sempre foi uma revelação de Seus
propósitos, pois ela expunha em definidas promessas o
que Deus desejava efetuar naqueles com quem a Aliança
foi feita. Ela era um divino esboço e molde da obra que
Deus pretendia fazer por eles, para que então soubessem o
que desejar e aguardar. Assim, sua fé poderia se nutrir com
as coisas, embora ainda invisíveis, que Deus estava
executando. Do mesmo modo, a Aliança era pra ser a
segurança e garantia, tão simples e compreensível quanto
a divina glória poderia fazê-la ser, de que aquilo que Deus
prometeu seria de certo efetuado naqueles com quem Ele
firmou aliança. No meio de toda a demora,
desapontamento e aparente fracasso das promessas
divinas, a Aliança era pra ser a âncora da alma, a garantia
da divina veracidade, fidelidade e imutabilidade do
cumprimento daquilo que foi prometido. E, acima de tudo,
a Aliança foi projetada para dar ao homem um firme
fundamento em Deus como Aquele que sustenta a Aliança.
Era para ela ligá-lo ao próprio Deus em expectativa e
esperança – para levá-lo a fazer com que apenas Deus
fosse a porção e a força da sua alma.

Oh, se soubéssemos o quanto Deus anseia que


confiemos n’Ele, e quão certo é que cada promessa sua
será cumprida para aqueles que confiam! Oh, se
soubéssemos que é devido apenas à nossa incredulidade
que não possuímos as promessas de Deus, e sem a nossa
confiança Deus não pode – isso mesmo, não pode – fazer
suas poderosas obras em nós, para nós e através de nós!
Oh, se soubéssemos que um dos mais certos remédios para
nossa incredulidade – a cura divinamente escolhida para
ela – é a Aliança a qual Deus firmou conosco. O envio do
Espírito, a economia da graça em Cristo Jesus, toda a nossa
vida espiritual, a saúde, o crescimento e a força da Igreja,
têm sua provisão e estão assegurados na Nova Aliança.
Não é de se admirar que onde a Aliança é pouco
considerada, onde sua reivindicação por uma confiança
abundante e sem hesitação em Deus é pouco
compreendida e experimentada, o cristão não tem a
alegria, a força, a santidade, a celestialidade, as quais
Deus planejou e tão claramente prometeu que ele teria.

Vamos dar ouvidos às palavras com as quais a


revelação escrita de Deus nos incita a conhecermos,
adorarmos e confiarmos no nosso Deus que sustenta a
Aliança. E encontraremos o que temos procurado: a
profunda, plena experiência de tudo que a graça de Deus
pode fazer em nós. No versículo com o qual iniciamos,
Moisés diz: “Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus,
o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia... aos que
o amam.” Ouça também o que Deus diz em Isaías 54:10:
“Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão
abalados; porém a minha benignidade não se apartará de
ti, e a aliança da minha paz não mudará.”. Mais estável que
qualquer montanha é o cumprimento de cada promessa da
Aliança. E em Jeremias 32:40 Deus fala de uma Nova
Aliança: “E farei com eles uma aliança eterna de não
me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor
nos seus corações, para que nunca se apartem de
mim.” Essa Aliança nos assegura que Deus não se
apartará de nós nem nós d’Ele. – que Ele se encarrega
disso por Si mesmo e por nós.

Vamos sinceramente questionar-nos se a deficiência


na nossa vida cristã, e especialmente na nossa fé, não é
devida a negligenciarmos a Aliança. Talvez não tenhamos
confiado no Deus que sustenta a Aliança. Nossa alma não
tem feito o que Deus nos chamou para fazer – nos
“apegarmos à Sua Aliança”, nos “lembramos da Aliança”.
Então Deus não pôde cumprir Suas promessas em nós. Nós
temos que examinar os termos da Aliança, para a vermos
como a escritura da nossa herança – das riquezas que
devemos possuir até mesmo aqui na terra. Nós temos que
pensar na certeza do seu cumprimento como sendo mais
estável que as fundações dos montes eternos. Se nos
voltarmos ao Deus que sustenta Sua Aliança para sempre,
nossa vida certamente será transformada. Ela pode e será
tudo que Deus a planejou para ser.

A grande carência da nossa vida espiritual é que


precisamos mais de Deus. Nós temos aceitado a salvação
como Sua dádiva, mas não temos compreendido o objetivo
da nossa salvação – e sua maior benção – que é nos trazer
àquele íntimo relacionamento com Deus para o qual fomos
criados e no qual a nossa glória na eternidade será
encontrada. Tudo que Deus fez no firmar de uma aliança
para o seu povo foi projetado para ensiná-lo a confiar n’Ele,
a regozijar n’Ele, a ser um com Ele. Não poderia ser
diferente. Se Deus é, de fato, a própria fonte de bondade e
glória, de beleza e bem-aventurança, quanto mais tivermos
da Sua presença, quanto mais nos conformarmos à sua
vontade, quanto mais nos engajarmos no Seu serviço,
quanto mais O tivermos governando e operando em nós,
mais verdadeiramente felizes seremos. Se Deus é, de fato,
o possuidor e autor da vida e da força, da santidade e da
felicidade, e é o único que pode nos dar e operar isso em
nós, quanto mais confiarmos e dependermos d’Ele, mais
fortes, santos e felizes seremos. A única vida autêntica é
aquela que nos leva, a cada dia, mais próximos de Deus e
nos faz desistir de tudo para termos mais d’Ele. Nenhuma
obediência pode ser estrita demais, nenhuma dependência
absoluta demais, nenhuma confiança inerente demais, para
uma pessoa que está aprendendo a ter Deus como seu
maior bem, sua excelente alegria.

Ao firmar aliança conosco, o objetivo de Deus é atrair-


nos para Si mesmo, nos entregar à total dependência d’Ele
mesmo, e então nos levar a correta posição e disposição
nas quais Ele pode nos encher d’Ele mesmo, do Seu amor,
e da sua ventura. Vamos empreender nosso estudo da Nova
Aliança com propósito e desejo honestos de conhecer o que
Deus deseja ser para nós e fazer em nós. A Nova Aliança se
tornará para nós uma das janelas do céu através da qual
vemos o próprio coração de Deus.

CAPÍTULO 2

AS DUAS ALIANÇAS: A RELAÇÃO ENTRE ELAS

“Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um


da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava
nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por
promessa. O que se entende por alegoria; porque estas são
as duas alianças.” Gl. 4:22-24.

Há duas alianças, uma chamada Velha, a outra Nova.


Deus fala sobre isso de maneira muito clara em Jeremias,
onde diz: “Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei
uma aliança nova com a casa de Israel... Não conforme a
aliança que fiz com seus pais.” (Jr 31:31-32). Isso é citado
em Hebreus 8, com o acréscimo: “Dizendo Nova aliança,
envelheceu a primeira.” (v.13). Nosso Senhor falou da
Nova Aliança no Seu sangue.

No Seu tratar com Seu povo, no Seu trabalhar da


Sua grande redenção, foi do agrado de Deus que
houvesse duas alianças. Deus não fez isso
arbitrariamente, mas por bons e sábios propósitos os
quais tornaram indispensavelmente necessário que
fosse assim e não de outra forma. Quanto mais claro
o nosso discernimento sobre as razões para haver
duas alianças, e sobre a relação entre elas, mais
plena e verdadeira pode ser a nossa compreensão
pessoal do que a Nova Aliança deve ser para nós.
Essas alianças indicam dois estágios no tratar de
Deus com o homem e duas maneiras de servirmos a
Deus: uma menor ou rudimentar de preparação e
promessa, uma maior ou mais avançada de
cumprimento e posse. Quando a verdadeira excelência
da segunda é aberta a nós, podemos espiritualmente entrar
no que Deus tem preparado para nós.

Vamos tentar entender porque deveria haver duas


alianças, nem mais nem menos.

A razão para ter havido duas alianças é que em


qualquer interação entre Deus e o homem há dois partidos,
e cada um deles deve ter a oportunidade de provar qual é o
seu papel na Aliança. Na Velha Aliança, o homem recebeu
a oportunidade de provar o que podia fazer, com toda
forma de auxílio que a graça poderia derramar. Essa
aliança terminou com o homem provando sua própria
infidelidade e falência. Na Nova Aliança, Deus prova o que
Ele pode fazer com o homem, tão infiel e debilitado como é,
quando Ele recebe a permissão e a confiança para fazer
toda a obra. A Velha Aliança era dependente da obediência
do homem, era uma aliança que ele poderia quebrar e
quebrou (Jr 31:32). A Nova Aliança tem a promessa de
Deus de que nunca será quebrada, pois Ele mesmo a
mantém e certifica-se de que nós a manteremos. Ele a faz
uma Aliança eterna.

Será de rico proveito para nós olharmos isso mais


profundamente. Essa relação de aliança de Deus com o
homem caído é a mesma relação que havia entre o homem
não caído e o Criador. E qual era essa relação? Deus
propôs fazer o homem a Sua própria imagem e
semelhança. A maior glória de Deus é que Ele possui vida
em Si mesmo – que Ele é independente de tudo mais, e o
que Ele é depende exclusivamente d’Ele mesmo. Se a
imagem e semelhança de Deus não seriam apenas nomes –
uma fraude – e o homem realmente seria como Deus no
poder de fazer a si mesmo o que deveria ser, ele deve
receber o poder do livre arbítrio e da auto-determinação.
Esse era o problema que Deus tinha que resolver quando
Ele criou o homem à Sua imagem. O homem deveria ser
uma criatura feita por Deus; mas ainda assim ele deveria, o
tanto quanto é possível a uma criatura ser, semelhante a
Deus, “feito por si mesmo”. Em todo tratamento de Deus
com o homem, esses dois fatores devem ser levados em
conta. Deus sempre deve tomar a iniciativa e ser para o
homem a fonte de vida. O homem deve sempre ser o
recipiente, e, ao mesmo tempo, o despenseiro da vida que
Deus derramou.

Quando o homem caiu por causa do pecado e Deus


entrou numa aliança de salvação, esses dois lados do
relacionamento ainda deveriam ser mantidos intactos.
Deus deveria sempre ser a primeira parte e o homem a
segunda. E, além do mais, o homem, sendo criado à
imagem de Deus, deveria sempre ter a plena escolha de
receber ou rejeitar o que Deus deu, para provar até onde
ele podia se ajudar e ser, de fato, “feito por si mesmo”. Sua
absoluta dependência em Deus não seria imposta a ele; se
fosse para ela ser algo de valor moral e de verdadeira bem-
aventurança, deveria ser por sua deliberada e voluntária
escolha. E essa, agora, é a razão de ter havido a primeira e
a segunda aliança. Na primeira, o propósito era que os
desejos e esforços do homem fossem plenamente
despertados. Ele receberia tempo para provar o que sua
natureza humana, com o auxílio de instruções externas,
milagres e meios de graça, poderia efetuar. Quando sua
total impotência e seu desesperançado cativeiro sob o
poder do pecado foram evidenciados, veio a Nova Aliança,
na qual Deus revelaria como a verdadeira nobreza e
semelhança do homem a Deus seriam encontradas por sua
absoluta dependência no ser de Deus e fazendo tudo n’Ele.

Naturalmente, este era o único modo possível de Deus


lidar com um ser ao qual Ele deu o poder da escolha,
semelhante ao que Deus possui. E isso é tão verdadeiro no
lidar de Deus com seu povo como um todo quanto no Seu
lidar com indivíduos. As duas alianças representam dois
estágios no processo de Deus educar o homem e da busca
do homem por Deus. O progresso e a transição de uma
para outra não é meramente cronológico ou histórico, é
orgânico e espiritual. É visível, em maior ou menor escala,
em cada membro do corpo e no corpo como um todo.
Debaixo da Velha Aliança havia homens nos quais, por
antecipação, os poderes da redenção vindoura operaram
poderosamente. Na Nova Aliança, há homens nos quais o
espírito da Velha Aliança ainda se faz manifesto. O Novo
Testamento dá evidência, em algumas de suas mais
importantes epístolas – especialmente aquelas aos Gálatas,
Romanos e Hebreus – de quão possível é, dentro da Nova
Aliança, ainda estar retido na escravidão da Velha Aliança.

Esse é o ensinamento da passagem com a qual


iniciamos o capítulo. Na casa de Abraão, o pai dos fiéis,
encontramos Ismael e Isaque: um filho da escrava, outro da
mulher livre; um segundo a carne e a vontade do homem, o
outro por promessa e poder de Deus; um temporário, para
depois ser lançado fora, o outro para ser herdeiro de tudo.
Esse foi um quadro usado para mostrar aos gálatas a vida
que eles levavam, porque confiavam na carne a na sua
religião. Apesar de externamente estarem indo bem,
provaram, por terem sido levados cativos do pecado, que
não eram da mulher livre, mas da escrava. Apenas através
da fé na promessa e no maravilhoso poder vivificador de
Deus é que eles poderiam ser total e plenamente livres e
permanecer na liberdade a qual Cristo nos concedeu.

Enquanto prosseguirmos estudando as duas alianças à


luz deste e de outros versículos, veremos como elas são, de
fato, a divina revelação de dois sistemas de adoração
religiosa, cada uma com seu espírito ou princípio de vida,
governando cada homem que professa ser cristão. Veremos
que a grande causa da fraqueza de tantos cristãos é que o
espírito de escravidão da Velha Aliança ainda tem domínio.
E veremos que nada além do discernimento espiritual, com
uma aceitação de todo o coração e uma viva experiência de
tudo que a Nova Aliança promete que Deus operará em
nós, pode nos adequar para andarmos da forma como Deus
deseja.

Essa verdade de que há dois estágios no nosso servir


a Deus, dois níveis de intimidade na nossa adoração, é
tipificada por muitas coisas na adoração na Velha Aliança,
e talvez em nenhum lugar mais claramente do que na
diferença entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos no
templo, com o véu os separando. No primeiro, os
sacerdotes podiam sempre entrar e se aproximar de Deus.
Porém, não podiam se aproximar demais; o véu os
mantinha a certa distância. Ultrapassá-lo significaria
morte. Uma vez por ano o sumo sacerdote poderia entrar,
como uma promessa de que viria um tempo em que o véu
seria retirado e o pleno acesso à presença de Deus seria
dado ao Seu povo. Na morte de Cristo, o véu do templo foi
rasgado, e o Seu sangue nos dá a intrepidez e o poder de
entrarmos no Santo dos Santos e vivermos lá dia a dia na
presença imediata de Deus. É pelo Espírito Santo, que foi
enviado desse Santo dos Santos no qual Cristo entrou para
nos trazer a vida de Deus e nos fazer um com Ele, que
podemos viver e andar com a consciência da presença de
Deus em nós.
No entanto, não foi apenas na casa de Abraão que
houve tipos das duas alianças, o espírito de escravidão e o
espírito de liberdade, mas também na casa de Deus no
templo. Os sacerdotes ainda não tinham o livre acesso à
presença do Pai. Não apenas entre os Gálatas, mas por
toda a Igreja havia duas classes de cristãos. Alguns se
contentam com a vida mista, metade carne e metade
espírito, metade esforço próprio e metade graça. Outros
não se contentam com isso, mas buscam de todo o coração
conhecer a plena libertação do pecado e o poder
permanente para o caminhar na presença de Deus que a
Nova Aliança trouxe e é capaz de dar. Que Deus nos ajude
a não nos contentarmos com nada menos que isso.

Nota Adicional

A Segunda Benção

Na vida do crente, algumas vezes vem uma crise tão


claramente marcante quanto sua conversão – um tempo no
qual ele passa de uma vida de contínua fraqueza e falha
para uma vida de força, vitória, e permanente descanso.
Essa transição foi chamada algumas vezes de “a segunda
benção”. Algumas pessoas se opõem a essa frase alegando
não ser baseada nas Escrituras, ou que ela tende a tornar
uma regra para todos o que é apenas experiência em
alguns. Outras a consideram de ajuda para expressar
claramente, em palavras humanas, o que deve ser ensinado
aos crentes como sendo uma possível libertação da vida
comum do cristão para uma permanente comunhão com
Deus e total devoção ao Seu serviço. Eu creio que, se
compreendidas corretamente, essas palavras expressam
uma verdade escritural e podem ser de ajuda a cristãos
que as compreendem.
Eu conectei “a segunda benção” com as duas alianças.
Por que é que Deus fez duas alianças – não uma, ou três?
Porque havia duas partes envolvidas. Na primeira aliança,
o homem deveria provar o que poderia fazer, quem ele era.
Na segunda, Deus mostraria o que Ele pode fazer. A
primeira delimitou um tempo de necessária preparação; a
segunda, um tempo de divino cumprimento. Assim como
isso era necessário à raça humana como um todo, também
era para os indivíduos. A conversão faz do pecador um filho
de Deus, mas um filho ainda cheio de ignorância e
fraqueza, com uma concepção apenas parcial de que uma
devoção de todo o coração é o que Deus requer dele ou da
plena posse que Deus está pronto para ter sobre ele. Em
alguns casos, a transição do estágio rudimentar é por
crescimento e iluminação graduais. Mas a experiência
ensina que na grande maioria dos casos esse contínuo e
saudável crescimento não é visto. Para aqueles que nunca
encontraram o segredo da vitória sobre o pecado e do
perfeito descanso em Deus, e possivelmente perderam a
esperança porque todos os seus esforços foram
fracassados, é comumente de grande ajuda aprender que é
possível, por um único e decisivo passo, entrar em uma
vida inteiramente nova.

O que é preciso para dar esse passo é muito simples.


A pessoa deve ver e confessar o erro, o pecado, da vida que
está vivendo quando esta não está em harmonia com a
vontade de Deus. Ela deve ver e crer na vida que as
Escrituras possuem, a qual Cristo Jesus promete operar e
sustentar nela. Quando ela vir que seu fracasso é devido a
apoiar-se na sua própria força e crer que o nosso Senhor
Jesus irá, de fato, operar tudo nela com o poder divino, ela
tomará coragem e ousará se render a Cristo de uma forma
nova. Ao confessar e desistir de tudo que é do ego e do
pecado, se render totalmente a Cristo e ao Seu serviço, ela
crê e recebe um novo poder para viver sua vida pela fé no
Filho de Deus. Em muitos casos, a mudança é tão clara, tão
destacada, tão maravilhosa quanto a conversão. Por falta
de um melhor, o nome “a segunda benção” veio muito
naturalmente.

Uma vez que é vista quão grandemente necessária é


essa mudança na vida de muitos cristãos e quão
plenamente ela descansa na fé em Cristo e no Seu poder
como é revelado na Palavra, toda dúvida sobre ela ser ou
não baseada nas Escrituras é removida. E uma vez que sua
veracidade é vista, ficaremos surpresos de ver como
através das Escrituras, tanto na história quanto no
ensinamento, encontramos coisas que a ilustram e
confirmam.

A dupla passagem de Israel pela água: primeiro para


fora do Egito, depois para dentro de Canaã. A jornada no
deserto foi o resultado da incredulidade e da
desobediência, permitida por Deus para humilhá-los e
prová-los, e então mostrar o que estava no coração deles.
Quando esse propósito foi completado, a segunda benção
os levou através do Jordão para dentro de Canaã tão
poderosamente quanto a primeira que os havia levado
através do Mar Vermelho para fora do Egito.

Ou, tome o Santo Lugar e o Santo dos Santos do


Tabernáculo como figuras da vida nas duas alianças e,
igualmente, dos estágios da experiência cristã. No
primeiro, há um acesso muito real a Deus e à comunhão
com Ele, mas sempre com um véu no meio. No segundo, há
o pleno acesso através do véu rasgado até a imediata
presença de Deus e há uma mais plena experiência do
poder da vida celestial. Quando nossos olhos são abertos
para vermos como a vida cristã medíocre carece tão
terrivelmente do propósito de Deus e como a vida mista
pode verdadeiramente ser expelida pelo poder de uma
nova revelação do que Deus espera fazer, as figuras das
Escrituras vão brilhar com novo significado.

Ou, olhe os ensinamentos do Novo Testamento. Em


Romanos, Paulo contrasta a vida do cristão debaixo da lei
com a vida do cristão debaixo da graça, o espírito de
escravidão com o espírito recebido na nossa adoção. O que
mais isso significa além de que os cristãos podem ainda
viver debaixo da lei e da sua escravidão, e que precisam
sair desta para uma vida plena de graça e liberdade
através do Espírito Santo? Quando alguém vê primeiro a
diferença, nada além da rendição por fé é necessário para
aceitar e experimentar o que a graça fará através do
Espírito Santo.

Aos Coríntios, Paulo escreve sobre alguns serem


carnais e ainda bebês, andando como aqueles segundo a
carne; e sobre outros serem espirituais, com discernimento
e caráter espirituais. Aos Gálatas, ele fala sobre a
liberdade com a qual Cristo, pelo Espírito, liberta da lei,
em contraste com aqueles que procuraram aperfeiçoar na
carne o que começou no Espírito, e que até mesmo
gloriavam-se na carne. Ele os chama para reconhecerem o
perigo da vida carnal e dividida, e chegarem juntos à vida
da fé, à vida do Espírito, que é a única de acordo com a
vontade de Deus.

Vemos através das Escrituras o que o estado atual da


Igreja confirma: que a conversão é apenas a porta que leva
ao caminho da vida, e que dentro dessa porta ainda há um
grande perigo da pessoa confundir o caminho, de virar-se
para o lado ou para trás. Quando isso ocorre, nós somos
chamados para voltar com todo nosso coração e nos
entregar a nada menos que tudo que Cristo deseja operar
em nós. Assim como há muitos que sempre pensaram que a
conversão deve ser lenta, gradual e incerta, e não
conseguem entender como ela pode ser repentina e
definitiva – porque levam em conta apenas o poder humano
– muitos não conseguem ver como a revelação da
verdadeira vida de santidade e a entrada nela pela fé a
partir de uma vida de esforço próprio e fracasso pode ser
imediata e permanente. Eles olham demais para o esforço
do homem e não percebem que “a segunda benção” não é
nem mais nem menos do que uma visão do que Cristo
deseja operar em nós e uma conseqüente rendição por fé
que submete tudo a Ele.

Eu espero que o que eu escrevi nesse livro ajude


alguns a ver que “a segunda benção” é exatamente o que
eles precisam. É o que Deus por Seu Espírito operará neles
e que não é nada além da aceitação de Cristo em todo Seu
poder salvador como sendo sua força e vida. Isso os levará
e os preparará para uma vida plena na Nova Aliança, uma
vida na qual Deus opera em todos os aspectos.

Deixe-me concluir com uma citação da minha


Introdução ao livro Morrendo para o Ego: Um Diálogo de
Ouro, de William Law:

Muitas coisas foram ditas contra o uso dos termos “a


Vida Mais Alta” e “a Segunda Benção”. No livro de Law,
não vemos tais termos, mas da profunda verdade da qual
eles são provavelmente a incompleta expressão, seu livro
está cheio. Os pontos sobre os quais tanta pressão é
colocada no que é chamado “ensino de Kenswick”
aparecem de maneira proeminente em todo seu
argumento. O baixo estado de vida dos crentes medianos, a
causa de todo o fracasso que provem da auto-confiança, a
necessidade de uma rendição completa de todo o ser à
operação de Deus, o chamado para voltar a Cristo como o
único e seguro libertador de todo poder do ego, a certeza
divina de uma vida melhor para todos aqueles que no
desespero próprio confiarão em Cristo para ela, e a alegria
celestial de uma vida na qual o Espírito de Amor enche o
coração – estas verdades são comuns a ambos. O que torna
a apresentação de Law da verdade de especial valor é o
modo pelo qual ele mostra como a humildade e o total
desespero próprio, com a resignação ao poderoso operar
de Deus me simples fé, é o caminho infalível para ser
livrado do ego e ter o Espírito de Amor gerado no coração.
CAPÍTULO 3

A PRIMEIRA ALIANÇA

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e


guardardes a minha aliança, então sereis a minha
propriedade peculiar dentre todos os povos” – Ex 19:5

“Então vos anunciou ele a sua aliança que vos


ordenou cumprir, os dez mandamentos, e os escreveu em
duas tábuas de pedra.” – Dt 4:13.

“Será, pois, que, se ouvindo estes juízos, os


guardardes e cumprirdes, o Senhor teu Deus te guardará a
aliança e a misericórdia que jurou a teus pais;” – Dt 7:12

“Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma


aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá.
Não conforme a aliança que fiz com seus pais... porque eles
invalidaram a minha aliança.” – Jr 31:31-32.

Nós vimos como a razão para haver duas alianças é


encontrada na necessidade de dar ao divino e ao humano o
devido lugar de cada um no operar do destino do homem.
Deus sempre toma a iniciativa. O homem deve, então, ter a
oportunidade de fazer a sua parte e provar ou o que ele
pode fazer ou que precisa ser feito por ele. A Velha
Aliança por um lado era indispensavelmente
necessária para despertar os desejos do homem, para
inspirar seus esforços, para aprofundar seu senso de
dependência em Deus, para convencê-lo do seu
pecado e da sua impotência espiritual e, por meio
disso, prepará-lo para sentir sua necessidade de
salvação por meio de Cristo. Na significante
linguagem de Paulo: “De maneira que a lei nos serviu
de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé
fôssemos justificados.” e “Mas, antes que a fé viesse,
estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados
para aquela fé que se havia de manifestar.” (Gl
3:24,23). Para entendermos a Velha Aliança
corretamente, devemos sempre nos lembrar suas
duas grandes características: a primeira, que foi ela
divinamente designada, acompanhada de verdadeira
benção, e absolutamente indispensável para a
realização dos propósitos de Deus; a outra, que ela
foi apenas temporária e preparatória para algo
superior, e, portanto, absolutamente insuficiente para
dar a salvação plena que o homem necessita para o
seu coração ou para o coração de Deus ficar
satisfeito.

Note agora os termos desta primeira aliança.


“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz
e guardardes a minha aliança... me sereis um... povo
santo” (Ex 19:5-6). Ou, como está expresso em
Jeremias 7:23, “Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o
vosso Deus”. A obediência sempre aparece,
especialmente no livro de Deuteronômio, como a
condição para a benção: “A bênção, quando ouvirdes os
mandamentos do Senhor, vosso Deus, que hoje vos mando.”
(Dt 11:27). Alguns podem perguntar como Deus pôde
instituir uma aliança a qual Ele sabia que o homem
não podia guardar. A resposta nos abre toda a natureza e
o objetivo da Aliança. Toda educação, divina ou
humana, sempre lida com seus alunos no princípio:
Fidelidade nas pequenas coisas é essencial para obter
as grandes. Ao colocar Israel no Seu treinamento,
Deus lidou com eles como homens nos quais, com
toda a ruína que o pecado havia trazido, ainda havia
uma consciência para distinguir o bem e o mal, um
coração capaz de ser movido a desejar a Deus, e uma
vontade de escolher o bem e, em última estância,
escolher a Ele mesmo. Antes que Cristo e Sua Salvação
pudessem ser revelados, compreendidos e
verdadeiramente apreciados, essas faculdades do homem
tinham que ser tocadas e despertadas. A lei levou os
homens a um treinamento e procurou, se é que posso usar
esta expressão, torná-los o melhor que a instrução externa
poderia realizar. Na provisão feita na lei para uma expiação
e um perdão simbólicos, em toda a revelação que Deus
dava de Si mesmo nos sacerdotes, nos profetas e nos reis,
na Sua interposição na providência e na graça, tudo era
feito para tocar e ganhar o coração do Seu povo escolhido.

A sua obra não foi infrutífera. Debaixo da lei,


administrada pela graça que sempre a acompanhou, foi
treinado um número de santos cuja grande marca era o
temor a Deus e um desejo de andar irrepreensivelmente
em todos os Seus mandamentos. Ainda assim, como um
todo, as Escrituras representam a Velha Aliança como um
fracasso. A lei prometeu vida, mas não podia dá-la (Dt 4:1;
Gl 3:21). O real propósito de Deus ter dado a lei era
exatamente o oposto: ela foi planejada por Ele como
sendo “o ministério da morte” (2 Cor 3:7). Ele a deu
para que ela convencesse o homem do seu pecado, e,
como resultado disso, despertasse a confissão da
impotência espiritual do homem e sua carência de
uma Nova Aliança e de uma verdadeira redenção. É
nesta visão que as Escrituras usam expressões muito
fortes, tais como: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei
diz aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca
esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de
Deus.” (Rm 3:19); “Porque a lei opera a ira.” (Rm 4:15);
“Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse” (Rm
5:20); “a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse
excessivamente maligno.” (Rm 7:13); “Todos aqueles, pois,
que são das obras da lei estão debaixo da maldição” (Gl
3:10); “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados
debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de
manifestar.” (Gl 3:23); “De maneira que a lei nos serviu de
aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos
justificados.” (Gl 3:24). A grande obra da lei foi revelar o
que o pecado era: sua odiosidade, como amaldiçoado por
Deus; sua miséria, operando temporária e eterna ruína;
seu poder, arrastando o homem a uma desesperançada
escravidão; e a necessidade da intervenção divina como
sendo a única esperança de libertação.

Estudando a Velha Aliança, nós precisamos ter


em mente esse duplo aspecto da forma como as
Escrituras o representam. Foi a graça de Deus que
deu a Israel a lei, e essa graça operou junto com a lei
para completarem seu propósito em crentes
individualmente e no povo como um todo. Toda a
Velha Aliança foi uma escola da graça, uma escola
rudimentar, para preparar para a plenitude da graça
e da verdade em Cristo Jesus. Um nome é geralmente
dado a um objeto de acordo com sua característica
mais marcante. E, assim, a Velha Aliança é chamada
de ministério da condenação e morte, não porque não
havia graça nela – ela tinha sua própria glória (2 Cor
3:9-10) – mas porque a lei com sua maldição foi a sua
característica predominante.

Encontramos a combinação destes dois aspectos com


especial clareza nas epístolas de Paulo. Ele diz que todos
que são “das obras da lei” estão sob maldição (Gl 3:10). E
quase imediatamente depois, ele fala da lei como sendo
nossa benfeitora, um aio para nos levar a Cristo, uma
professora sob os cuidados da qual fomos colocados até um
tempo determinado pelo Pai. Sempre somos trazidos de
volta ao que dissemos antes: a Velha Aliança é
absolutamente indispensável pela obra preparatória que
tinha para fazer, mas absolutamente insuficiente para
realizar para nós uma verdadeira ou uma plena redenção.

As duas grandes lições que Deus nos ensinaria


por ela são muito simples. Uma é a lição do pecado, a
outra é a lição da santidade. A Velha Aliança apenas
atinge seu objetivo quando traz aos homens um senso de
sua absoluta pecaminosidade e de sua desesperançada
incapacidade de se libertarem. Enquanto eles não
compreenderem isso, nenhuma oferta de vida da Nova
Aliança será apegada por eles. Enquanto um intenso ansiar
pela libertação do pecado não é conquistado, eles
naturalmente cairão de volta no poder da lei e da carne. A
santidade que a Nova Aliança oferece irá aterrorizá-los ao
invés de atraí-los – principalmente porque a vida no
espírito de escravidão parece dar mais permissividade ao
pecado, porque a obediência é declarada como impossível.

A outra é a lição da santidade. Na Nova Aliança, o


Deus Triuno promete fazer tudo. Ele se encarrega de dar e
manter o novo coração, de colocar Seu próprio Espírito
nele, de dar a vontade e o poder para obedecer e fazer a
Sua vontade. Assim como a pretensão da primeira Aliança
era o senso do pecado, a grande pretensão da Nova é que a
fé de que necessitamos, criada pela disciplina da lei de
Deus, seja encontrada de maneira divina e sobrenatural. A
lei não alcança seu propósito a menos que ela traga o
homem a uma posição de culpa e impotência perante
a santidade de Deus. Aí é que a Nova o encontra, e
revela que esse mesmo Deus o aceita e o faz participante
da Sua santidade.
Esse livro foi escrito para um propósito muito prático.
Seu objetivo é ajudar crentes a conhecerem a maravilhosa
Nova Aliança de graça que Deus firmou com eles e levá-los
ao desfrute diário da vida bendita que ela os assegura. Um
entendimento prático do fato de que a obra peculiar da
primeira Aliança era convencer do pecado, e que sem ela a
Nova Aliança não poderia vir, é exatamente do que muitos
cristãos precisam. Na conversão, eles foram alertados do
pecado pelo Espírito Santo, mas isto tinha referência
principalmente à culpa do pecado e, em certo grau, à sua
odiosidade. Mas um real conhecimento do poder do pecado
– a absoluta inabilidade deles o lançarem fora e operarem
em si mesmos o que é bom – é o que muitos cristãos não
aprendem de início. E até que tenham aprendido isso, eles
não têm a possibilidade de entrar plenamente na benção
da Nova Aliança. É apenas quando uma pessoa percebe a
impossibilidade de fazer o que Deus ordena que ela se
torna capaz de apreciar a promessa do Novo Testamento e
se torna desejosa de esperar em Deus para que Ele faça
tudo nela.

Você, meu leitor, sente que não está vivendo


plenamente na Nova Aliança – que ainda há algo do
espírito de escravidão da Velha Aliança em você? Então
permita que a Velha Aliança termine sua obra em você.
Aceite o seu ensinamento de que todos os seus esforços
são falhos. Assim como na conversão você estava contente
de se prostrar como um condenado, um pecador
merecedor da morte, esteja contente agora em se afundar
perante Deus na confissão que, como um filho redimido
d’Ele, você ainda se sente absolutamente incapaz de fazer
e ser o que Ele pede de você. E comece a perguntar se a
Nova Aliança talvez tenha uma provisão que você ainda
não entendeu – uma provisão para encontrar sua
inabilidade espiritual e para te dar a força de fazer o que é
agradável a Deus. Você encontrará a maravilhosa resposta
na certeza de que Deus, pelo Seu Espírito Santo, se
encarregará de operar tudo em você. O anseio de ser
liberto de uma vida de pecado diário e a extinção de toda
esperança de fazer isso por esforço próprio irá nos
preparar para entendermos e aceitarmos a nova forma de
salvação de Deus – Ele mesmo operando em nós tudo que é
agradável aos Seus olhos.

CAPÍTULO 4

A NOVA ALIANÇA
“Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel
depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no
seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu
Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais cada
um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo:
Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o
menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes
perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos
seus pecados.” – Jr 31:33-34

Isaías foi muitas vezes chamado de o profeta


evangélico, por causa da maravilhosa clareza com a qual
ele anunciava a vinda do Redentor – tanto na Sua
humilhação e sofrimento quanto na glória do reino que Ele
estabeleceria. Porém, foi dado a Jeremias, nesta passagem,
e a Ezequiel, na paralela a esta, predizer qual realmente
seria o resultado da obra do Redentor e o caráter essencial
da salvação que Ele efetuaria, com uma distinção que não
é encontrada em lugar algum no profeta mais velho. Nas
palavras que o Novo Testamento (Hebreus 8) toma como
sendo a revelação divinamente inspirada do que é a Nova
Aliança (Cristo sendo o Mediador), o plano de Deus é
revelado e nos é mostrado o que exatamente Ele fará em
nós para nos tornar aptos e dignos de sermos Seu povo.
Através de toda a Velha Aliança sempre houve um
problema: o coração do homem não estava de acordo com
Deus. Na Nova Aliança, o mal deve ser curado. Sua
promessa central é um coração regozijante na lei de Deus
e capaz de conhecer e manter a comunhão com Ele. Vamos
observar a benção quádrupla que é mencionada.

1. “Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no


seu coração”. Vamos compreender isso melhor. No nosso
coração não existem compartimentos separados nos quais
a lei possa ser colocada enquanto o resto do coração é
entregue a outras coisas; o coração é uma unidade. Nem é
o coração como uma casa – que pode ser cheia de coisas de
uma natureza totalmente diferente daquela da qual as
paredes são feitas, sem nenhuma conexão viva e orgânica.
Não, isto fala da disposição da pessoa – o amor, a vontade,
a vida. Nada pode ser colocado por Deus no coração de
alguém sem que Ele entre e o possua, assegurando a sua
afeição e controlando todo seu ser. E isso é o que Deus se
encarrega de fazer pelo poder da Sua vida e operação
divinas – inspirar o próprio espírito da Sua lei para dentro
e através de todo o seu ser interior. “Porei a minha lei no
seu interior”.

No Sinai, as tábuas da Aliança, com a lei escrita nelas,


eram de pedra, por ser uma substância durável. A pedra foi
totalmente separada para esse único propósito – conduzir e
mostrar esta inscrição divina. A inscrição e a pedra
estavam inseparavelmente conectadas. E então o coração
no qual Deus alcança os Seus caminhos e escreve a Sua lei
em poder, vive somente e totalmente para conduzir aquela
inscrição e é imutavelmente identificada com ela. Apenas
dessa forma Deus pode realizar Seu propósito na criação e
ter Seus filhos com uma mente e um espírito com Ele,
regozijantes em fazer Sua vontade. Quando a Velha
Aliança com a lei gravada na pedra completasse sua
obra de revelar e condenar o pecado, a Nova Aliança
daria em seu lugar a vida de obediência e a
verdadeira santidade de coração. Toda a benção da
Aliança se centra nisso – o coração se tornar apropriado e
equipado para conhecer a Deus: “E dar-lhes-ei coração
para que me conheçam, porque eu sou o Senhor; e
ser-me-ão por povo, e eu lhes serei por Deus; porque
se converterão a mim de todo o seu coração.” (Jr
24:7).

2. “E eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”.


Não passe desatentamente por estas palavras. Elas
aparecem principalmente em Jeremias e Ezequiel em
conexão com a promessa de uma aliança eterna. Elas
expressam a experiência mais alta do relacionamento de
Aliança. É apenas quando o povo de Deus aprende a amar
e obedecer a Sua lei, quando seus corações e vidas são
total e juntamente devotados a Ele e a Sua vontade, que
então Ele pode ser pra eles a benção totalmente
inconcebível que estas palavras expressam: “E eu serei o
seu Deus”. Ele está dizendo: “Tudo que Sou e tenho
como Deus será seu. Tudo que vocês possam precisar
ou desejar em um Deus, eu serei pra vocês. No mais
pleno significado da palavra, Eu, o Onipresente,
sempre estarei presente com vocês, em toda a Minha
graça e amor. Eu, o Todo Poderoso, irei em cada
momento operar tudo em vocês pelo meu
maravilhoso poder. Eu, o Deus três vezes Santo,
revelarei minha vida santificadora dentro de vocês.
Eu serei o seu Deus. E vocês serão o Meu povo, salvos
e abençoados, governados, guiados e providos por
Mim, conhecidos e vistos como sendo, de fato, o povo
do Santo, do Deus da glória”. Nós precisamos dar
tempo para os nossos corações meditarem e
esperarem no Espírito Santo para operar em nós tudo
o que estas palavras significam.

3. “E não ensinará mais cada um a seu próximo,


nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor
até ao maior deles”. A comunhão individual e pessoal
com Deus será o maravilhoso privilégio de cada
membro do povo da Nova Aliança, mesmo o menor e
mais fraco. Cada um conhecerá ao Senhor. Isso não
quer dizer conhecimento da mente, mas o
conhecimento que envolve apropriação e assimilação
e que é a vida eterna. Assim como o Filho conhecia o Pai
porque era um com Ele e habitava n’Ele, o filho de Deus
receberá pelo Espírito Santo essa iluminação espiritual a
qual fará de Deus Aquele a quem ele melhor conhece,
porque ele O ama muito e vive n’Ele. A promessa “E todos
os teus filhos serão ensinados do Senhor” (Is 54:13; Jo
6:45) será cumprida pelo ensino do Espírito Santo. Deus
falará a cada um, a partir da Sua Palavra, o que ele precisa
saber.

4. “Pois lhes perdoarei a sua maldade, e nunca


mais me lembrarei dos seus pecados.”. A palavra
“pois” mostra que isso é a razão de tudo que
precedeu a essa frase. Porque o sangue dessa Nova
Aliança era de tão infinita dignidade, e seu Mediador
e Sumo Sacerdote no céu de tão divino poder, é
prometido através dele um divino apagar do pecado,
de tal modo que Deus não poderá se lembrar dele. É
este apagar do pecado que nos limpa e liberta de seu
poder, permitindo que Deus escreva Sua lei no nosso
coração e se manifeste em poder como nosso Deus.
Ele pode, então, pelo Seu Espírito, revelar a nós Suas mais
profundas verdades – o profundo mistério de SI mesmo e
de Seu amor. Essa redenção deve ser nossa vida diária e
nossa eterna porção.

Aqui temos então o divino sumário de nossa herança


da Nova Aliança. A última benção mencionada, o perdão do
pecado, é o primeiro na ordem, a raiz de todas. A segunda,
ter Deus como nosso Deus, e a terceira, o divino
ensinamento, são o fruto. A árvore que cresce a partir
desta raiz, e que dá tal fruto, é a que foi nomeada primeiro
– a lei no coração.

A principal demanda da Velha Aliança – “Obedecei a


minha voz, e eu serei vosso Deus” – foi agora provida. Com
a lei escrita no coração, Ele pode ser nosso Deus e nós
sermos Seu povo. Perfeita harmonia com a vontade de
Deus, santidade no coração e na vida, é a única coisa que
satisfaz o coração de Deus e o nosso. E é isso que a Nova
Aliança dá em divino poder: “E dar-lhes-ei coração para
que me conheçam... ser-me-ão por povo, e eu lhes serei por
Deus; porque se converterão a mim de todo o seu coração.”
(Jr 24:7). É na condição do coração, o novo coração dado
por Deus, que a vida da Nova Aliança se articula.

Mas se tudo isso deve ser exata e literalmente


verdadeiro para o povo de Deus, porque experimentamos
tão pouco desta vida em nós? Há apenas uma resposta: Por
causa da nossa incredulidade! Nós falamos do
relacionamento entre Deus e o homem na criação como
sendo o que a Nova Aliança deve tornar possível e real.
Mas Deus não vai obrigar. Ele apenas realiza Seu propósito
quando o coração desejar e aceitar Sua oferta. Na Nova
Aliança, tudo é pela fé. Vamos nos afastar de tudo que a
sabedoria e a experiência humana dizem e pedir a Deus
que nos ensine o que Sua Aliança significa. Se
perseverarmos nessa oração com um espírito humilde e
ensinável, podemos certamente contar com esta promessa:
“E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um
a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos
me conhecerão.”. O ensino de Deus, pelo Espírito Santo,
para nos fazer entender o que Ele nos diz em Sua Palavra,
é o nosso direito de Aliança. Vamos contar com ele. É
apenas através de uma fé dada por Deus que podemos nos
apropriar dessas promessas dadas por Deus. E é apenas
através de um ensino dado por Deus e de uma iluminação
interior que podemos entender o significado delas assim
como crer nelas. Quando Deus nos ensina o significado de
Suas promessas em um coração rendido ao Seu Espírito
Santo, só assim, então, podemos crer e recebê-las com um
poder que as tornam realidade em nossa vida.

Mas, é realmente possível, no meio da pressão e do


peso da vida diária, andar na experiência dessas bênçãos?
Elas realmente são para todos os filhos de Deus? Vamos
perguntar algo: é possível que Deus faça o que Ele
prometeu? Em uma parte da promessa nós cremos – o
completo e perfeito perdão do pecado. Porque não
creríamos na outra parte – a lei escrita no coração, e a
comunhão e ensinamento divinos? Nós estamos tão
acostumados em separar o que Deus juntou – a objetiva, a
obra externa de Seu Filho, e a subjetiva, a obra interna de
Seu Espírito – que consideramos que a glória da Nova
Aliança sobre a Velha consiste principalmente na obra de
redenção de Cristo por nós e não igualmente na obra
santificadora do Espírito em nós. É por causa dessa
ignorância e incredulidade na habitação do Espírito Santo
como o poder através do qual Deus cumpre as promessas
da Nova Aliança que nós não esperamos que elas se
tornem verdadeiras em nós.

Vamos afastar nossos corações de toda a experiência


passada de fracasso, causada apenas por causa da
incredulidade; vamos reconhecer plenamente e de coração
o que o fracasso nos ensinou – a absoluta impossibilidade
de mesmo uma pessoa regenerada andar na lei de Deus
pela sua própria força – e voltar nossos corações calma e
confiantemente para o nosso Deus de Aliança. Vamos ouvir
o que Ele diz que fará por nós e crer n’Ele; vamos
descansar na sua imutável fidelidade e na certeza da
Aliança, no Seu absoluto poder e no Espírito Santo que
opera em nós; e vamos nos render a Ele como nosso Deus.
Ele provará que o que Ele fez por nós em Cristo não nem
um pouco mais maravilhoso do que o que Ele fará em nós a
cada dia pelo Espírito de Cristo.
Nota Adicional

A Lei Escrita No Coração

Pensar na lei escrita no coração algumas vezes gera


dificuldade e desencorajamento porque os crentes não
vêem ou sentem em si mesmos nada que corresponda a
ela. Talvez uma ilustração ajude a remover a dificuldade.
Existem fluidos com os quais você pode escrever e nada
fica visível, na hora e mesmo depois, a menos que a tinta
seja exposta ao sol ou à ação de algum produto químico. O
escrito está lá, mas quem não conhece o processo não
percebe que ele está lá e não sabe como fazer para torná-lo
legível. No entanto, uma pessoa que conhece esse segredo
irá acreditar ainda que não possa ver o escrito.

Assim é com o novo coração. Deus colocou Sua lei


dentro dele. “Bendito o povo em cujo coração está a lei do
Senhor”. Mas ela está lá invisível. Uma pessoa que aceita a
promessa de Deus por fé sabe que a lei está no seu
coração. Enquanto não houver uma fé clara neste ponto,
todas as tentativas de encontrar essa lei ou de cumpri-la
serão em vão. Mas quando a promessa é retida
simplesmente por fé, é dado o primeiro passa para cumpri-
la. A alma está, então, preparada para receber instrução
sobre o que a inscrição da lei no coração significa. Ela
significa, primeiramente, que Deus implantou no novo
coração um amor pela lei de Deus e uma prontidão para
fazer toda Sua vontade. Pode ser que você não sinta esta
disposição lá, mas ela está lá. Deus a colocou lá. Creia
nisso e esteja certo de que há em você uma natureza divina
que diz (e você, portanto, também não hesite em dizer):
“Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu” (Sl 40:8).
No nome de Deus, e em fé, diga isso.

Essa inscrição da lei significa, também, que, ao


implantar este princípio em você, Deus tomou tudo que
você já conhece da Sua vontade e inspirou esse novo
coração com a disposição para obedecê-la. Pode ser que
ela esteja escrita com tinta invisível, e você não tenha
consciência dela. Isso não importa. Aqui você deve lidar
com a divina e oculta obra do Espírito Santo. Não tenha
medo de dizer: “Oh! quanto amo a tua lei!” (Sl 119:97).
Deus colocou o amor das Escrituras no seu coração, no
novo coração. Ele retirou o coração de pedra; é pelo novo
coração que você deve viver.

A próxima coisa na qual implica a inscrição da lei é


que você aceitou toda a vontade de Deus – até mesmo o
que você ainda não conhece – como sendo o deleite do seu
coração. Ao se entregar a Deus, você se entregou
totalmente a Sua vontade. Essa foi a única condição para
você entrar na Aliança. Agora, a graça da Aliança proverá
o ensino para que você conheça, e te fortalecerá para que
você faça, tudo o que o seu Pai tem para você fazer.

Toda a vida na Nova Aliança é uma vida de fé. A fé


aceita toda promessa da Aliança, tem certeza de que elas
estão sendo cumpridas e olha confiadamente para o Deus
da Aliança para fazer Sua obra. A fé crê implicitamente
tanto na promessa quanto no Deus que a deu e a cumpre.

É bom acrescentar aqui que a mesma verdade vale


para todas as promessas concernentes ao novo coração –
elas devem ser aceitas e operadas pela fé. Quando lemos
que “o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo”, sobre “amai-vos, de coração, uns aos
outros ardentemente”, de “Deus confirmando o vosso
coração em santidade”, nós devemos, com os olhos da fé,
considerar essas realidades espirituais como realmente e
muito verdadeiramente existindo em nós. À sua oculta e
invisível maneira, Deus as está operando em nós. Não por
visão ou sentimento, mas pela fé no Deus vivo e na Sua
Palavra, nós sabemos que elas governam as disposições e
inclinações do novo coração. Nós devemos agir nessa fé,
sabendo que temos o poder para amarmos, para
obedecermos, para sermos santos. A Nova Aliança nos dá
um Deus que opera tudo em nós; a fé n’Ele dá a segurança,
acima e além de qualquer sentimento, de que esse Deus
está fazendo Sua bendita obra.

E se a pergunta for o que devemos pensar sobre tudo


que está em nós que contradiz essa fé, vamos nos lembrar
o que as Escrituras nos ensinam sobre isso. Nós falamos
algumas vezes sobre termos um coração velho e um novo.
As Escrituras não. Elas falam sobre o coração velho e de
pedra ter sido removido; sobre o coração, com sua
vontade, disposição, afeições, ter sido renovado com uma
divina novidade. Esse novo coração é colocado no meio do
que as Escrituras chamam de carne, na qual não habita
bem algum. Veremos que é de grande proveito nos apegar
o mais forte que pudermos à linguagem escritural. Isso vai
ajudar grandemente a nossa fé a usar as próprias palavras
que Deus pelo Seu Espírito Santo usou para nos ensinar. E
vai realmente clarear nossa visão para sabermos o que
pensar do pecado que permanece em nós, pensando nele e
lidando com ele na luz da verdade de Deus. Toda afeição e
desejo maus vêm da carne, da vida natural e pecaminosa
do homem. Eles devem seu poder principalmente ao nosso
desconhecimento de sua natureza e a contarmos com
nossa própria força para lançar fora esse mal. Eu já
mostrei como a carne pecaminosa e a carne religiosa são
uma, e como todo fracasso na vida espiritual é devido a
uma secreta confiança em nós mesmos. Quando aceitarmos
e praticarmos o que Deus diz sobre a carne, veremos nela
a fonte de todo mal em nós. Diremos das suas tentações:
“De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o
pecado que habita em mim.” (Rm 7:17). Manteremos nossa
integridade quando mantivermos uma boa consciência –
uma que não nos condene por termos feito qualquer coisa
conscientemente contra a vontade de Deus. E devemos ser
fortes na fé dada pelo Espírito Santo, que habita no novo
coração para fortalecê-lo, para não precisarmos e não
satisfazermos as cobiças da carne.

Eu concluo com uma citação do discurso do Rev. F.


Webster em Keswick ano passado, confirmando o que
acabei de dizer:

“Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não façais


provisão para a carne em suas concupiscências.” (Rm
13:14). Não faça provisão para a carne. A carne está lá,
você sabe. Negar ou ignorar a existência de um inimigo é
dar a ele uma grande vantagem contra você; e a carne
estará no crente até o fim, é uma força maligna para ser
enfrentada continuamente. É uma força maligna dentro de
um homem, porém, graças a Deus, uma força que pode ser
enfrentada pelo poder de Deus para que não tenha o poder
de corromper o coração ou desviar a vontade. A carne está
em você, mas seu coração deve ser mantido limpo a todo
momento apesar da existência desse mal na sua natureza
caída. Cada acesso, cada abertura que leva ao coração,
cada pensamento, desejo, propósito e imaginação do seu
ser, deve ser fechado contra a carne, para que não haja
oportunidade para ela entrar e corromper o coração ou
desviar a vontade da vontade de Deus.

Você diz: “Mas este é um padrão muito elevado”. Mas


é a Palavra de Deus. Não deve haver nenhuma simpatia
secreta pelo pecado. Ainda que a carne esteja lá, você não
tem desculpa para os pecados. Você não deve dizer: “Eu
sou naturalmente irritado, ansioso, ciumento e não consigo
evitar que essas coisas apareçam; elas vêm de dentro”.
Sim, elas vêm de dentro, mas ainda assim não deve haver
provisão, nenhuma abertura no seu coração para essas
coisas entrarem. Seu coração pode estar obstruído com
uma barreira intransponível para essas coisas. “Não faça
provisão para a carne” – não apenas a porta da frente
obstruída e vigiada para que você não a convide para
entrar, mas as portas laterais e dos fundos também devem
estar fechadas. Você deve possuir Cristo de tal forma e ser
tão próximo d’Ele que você odeie tudo que é da carne.

“Não façais provisão para a carne”. A única maneira


de fazer isso é “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”. Eu
falei sobre o coração ser bloqueado para que não haja
abertura a ela, para que a carne não seja capaz de
corromper ou desviar a vontade da vontade de Deus. Como
isso pode ser feito? Revestindo-nos do Senhor Jesus Cristo.
Foi uma benção para mim aprender esse único segredo,
apenas aprender o lado positivo da libertação – revestir-se
do Senhor Jesus Cristo.
CAPÍTULO 5

AS DUAS ALIANÇAS – NA EXPERIÊNCIA CRISTÃ

“O que se entende por alegoria; porque estas são as


duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a
servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da
Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois
é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é
livre; a qual é mãe de todos nós. De maneira que, irmãos,
somos filhos, não da escrava, mas da livre. Estai, pois,
firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não
torneis a colocar-vos debaixo do jugo da escravidão.” – Gl
4:24-5:1.

A casa de Abraão era a Igreja de Deus daquela época.


A divisão na sua casa – um filho nascido conforme a carne,
o outro conforme a promessa – foi uma divinamente
ordenada manifestação da divisão que haveria em todas as
eras entre os filhos da mulher escrava, aqueles que servem
a Deus no espírito de escravidão, e os filhos da mulher
livre, aqueles que O servem no Espírito do Seu Filho. A
passagem nos ensina o que toda a epístola confirma: que
os Gálatas haviam se sujeitado ao jugo da escravidão e que
não estavam apegando-se à liberdade que Cristo proveu.
Ao invés de viverem na Nova Aliança, na Jerusalém que é
do alto, na liberdade que o Espírito Santo dá, toda a sua
caminhada proveu que, embora cristãos, eles eram da
Velha Aliança a qual cria filhos que são escravos. A
passagem nos ensina a grande verdade, que é de extrema
importância compreender, de que um homem com uma
medida de conhecimento e de experiência da graça de
Deus pode provar, por um espírito legal, que ele ainda está
largamente debaixo da Velha Aliança. E isso nos mostrará,
com maravilhosa clareza, quais são as provas da ausência
da verdadeira vida da Nova Aliança.

Um estudo cuidadoso da epístola nos mostra que a


diferença entre as duas alianças é vista em três áreas. A lei
e suas obras são contrastadas com a pregação da fé, a
carne e sua religião com a carne crucificada, a
incapacidade de fazer o bem com um caminhar na
liberdade e no poder do Espírito. Que o Espírito Santo nos
revele essa vida dupla.

Encontramos a primeira antítese nas palavras de


Paulo: “Recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela
pregação da fé?” (3:2). Esses Gálatas foram de fato
nascidos na Nova Aliança – eles receberam o Espírito
Santo. Mas eles foras desviados por mestres judaicos, e,
apesar de terem sido justificados por fé, procuravam ser
santificados por obras; se voltaram à observação da lei
para a manutenção e o crescimento da vida cristã deles.
Eles não entenderam que, assim como a fé foi o único meio
para a graça de Deus no começo, assim também o
progresso na vida divina é apenas pela fé, dia a dia
recebendo sua força apenas de Cristo – que em Jesus
Cristo nada tem utilidade além da fé operando pelo amor.

Quase todo cristão comete o mesmo erro dos cristãos


Gálatas. Muito poucos aprendem na conversão que é
apenas pela fé que ficamos de pé, andamos e vivemos. Eles
não têm entendimento do ensino de Paulo sobre estarem
mortos para a lei, libertos da lei – sobre a liberdade com a
qual Cristo nos tornou livres. “Mas, se sois guiados pelo
Espírito, não estais debaixo da lei.” (5:18). Considerando a
lei como uma divina ordenança para nossa direção, eles se
consideram preparados pela conversão para tomar o
cumprimento da lei como um encargo natural. Eles não
sabem que na Nova Aliança a lei escrita no coração
necessita de uma incessante fé num poder divino para nos
capacitar por este poder a cumpri-la. Eles não conseguem
entender que não à lei mas a uma Pessoa viva que estamos
agora ligados, e que a nossa obediência e santidade só são
possíveis através de uma incessante fé no Seu poder que
sempre opera em nós. É apenas quando isso é visto que
nos tornamos verdadeiramente para vivermos na Nova
Aliança.

A segunda palavra que revela o espírito da velha


Aliança é a palavra “carne”. Seu contraste é com a carne
crucificada. Paulo pergunta: “Sois vós tão insensatos que,
tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?”
(3:3). Carne significa nossa natureza humana pecaminosa.
Na conversão, o cristão geralmente não tem concepção do
terrível mal que é sua vida do ego e da sutileza com a qual
ela se oferece para participar no serviço a Deus. Ela pode
ser muito disposta e diligente no serviço a Deus por um
tempo; ela pode inventar inúmeras táticas para fazer a
adoração a Ele agradável e atrativa; e ainda assim tudo
isso pode ser o que Paulo chama de “mostrar boa
aparência na carne”, de “se gloriar na carne”, na vontade e
no esforço humano. Esse poder da carne religiosa é uma
das grandes marcas da religião da Velha Aliança; ela não
possui a profunda humildade e espiritualidade da
verdadeira adoração a Deus – um coração e uma vida
totalmente dependentes d’Ele.

A prova de que nossa religião é muito parecida com


esta da carne religiosa é que a carne pecaminosa se dá
muito bem com ela. Foi assim com os Gálatas. Enquanto
eles mostravam uma boa aparência na carne e se
gloriavam nela, a vida diária deles estava cheia de
amargura, inveja, ódio, e outros pecados. Eles estavam
mordendo e devorando uns aos outros. Carne religiosa e
carne pecaminosa são uma: não e de se admirar que em
grande parte religião, o temperamento e o egoísmo e o
mundanismo andam lado a lado com ela. A religião da
carne não pode vencer o pecado.

Que contraste com a religião da Nova Aliança! Que


lugar a carne tem nela? “E os que são de Cristo
crucificaram a carne com as suas paixões e
concupiscências.” (5:24). As escrituras falam da vontade da
carne, da mente da carne, dos desejos da carne; o
verdadeiro crente viu tudo isso como sendo condenado e
crucificado em Cristo – ele entregou isso à morte. Ele não
apenas aceita a cruz (com o seu carregar da maldição e a
redenção vinda dela) como sua entrada para a vida, mas
ele se gloria nela como sendo seu único poder diário para
vencer a carne e o mundo. “Estou crucificado com Cristo”.
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de
nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
crucificado para mim e eu para o mundo.” (6:14). Do
mesmo modo que nada do menos que a morte de Cristo foi
necessária para inaugurar a Nova Aliança e a vida de
ressurreição que a fortalece, assim não há entrada para a
verdadeira vida da Nova Aliança que não seja partilhar
dessa morte.

“Da graça tendes caído.” (5:4). Essa é uma terceira


palavra que descreve a condição dos Gálatas em sua
escravidão na qual eles eram incapazes de realizar todo
verdadeiro bem. Paulo não está falando de uma queda
definitiva aqui, pois ele ainda se dirige a eles como
cristãos, mas de terem se desviado de andar no caminho da
capacitadora e santificadora graça pela qual um cristão
pode conquistar vitória sobre o pecado. Enquanto a graça é
principalmente conectada com o perdão e com a entrada
na vida cristã, a carne é o único poder no qual servir e
operar. Mas quando sabemos quão excedente abundância
de graça foi provida e como Deus “faz abundar em vós toda
a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a
suficiência, abundeis em toda a boa obra”, sabemos que
assim como isso é pela fé assim também é apenas pela
graça que nos erguemos por um momento ou tomamos um
simples passo.

O contraste com a vida de impotência espiritual e


fracasso é encontrado nas palavras “pelo Espírito”. “Mas,
se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”
(5:18) a qual demanda força própria. “Andai em Espírito, e
não” – uma definida e certa promessa – “e não cumprireis a
concupiscência da carne.” (5:16). O Espírito liberta da lei,
da carne e do pecado. “Mas o fruto do Espírito é: amor,
gozo, paz” (5:22). Da promessa da Nova Aliança, “E porei
dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus
estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.” (Ez
36:27), o Espírito é o centro e o resumo. Ele é o poder da
vida sobrenatural de verdadeira obediência e santidade.

E qual seria o rumo que os Gálatas teriam tomado se


tivesse aceitado esse ensino de Paulo? Quando ouviram sua
pergunta, “Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes,
sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses
rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis
servir?” (4:9), eles teriam sentido que só havia um rumo.
Nada poderia ajudá-los além de voltarem-se de imediato ao
caminho que havia deixado. No ponto onde eles o
deixaram, eles poderiam entrar de novo. Para qualquer um
deles que desejasse fazer isso, esse afastar-se do espírito
legalista da Velha Aliança e essa renovada rendição ao
Mediador da Nova Aliança poderia ser por um ato
instantâneo – um único passo. Quando a luz da promessa
da Nova Aliança brilhasse nele e ele visse como Cristo
deveria ser tudo, e a fé ser tudo, e o Espírito Santo no
coração ser tudo e a fidelidade do Deus que mantém a
Aliança ser tudo em todos, ele sentiria que tinha apenas
uma coisa a fazer – em total fraqueza se render a Deus, e
em simples fé contar com Ele pra fazer tudo o que Ele
falou.

Na experiência cristã ainda pode haver a vida de


escravidão e fracasso da Velha Aliança. Na experiência
cristã pode haver uma vida que se entrega inteiramente à
graça e ao espírito da Nova Aliança. Na experiência cristã,
quando a verdadeira visão do que a Nova Aliança significa
foi recebida, uma fé que descansa plenamente no Mediador
da Nova Aliança pode entrar de imediato na vida a qual a
Aliança assegura.

Eu insistentemente sugiro aos crentes que anseiam


conhecer ao máximo o que a graça de Deus pode operar
neles que estudem cuidadosamente essa questão: se
estarmos na escravidão da Velha Aliança é ou não a razão
do nosso fracasso, e se um claro discernimento sobre a
possibilidade de uma total mudança no nosso
relacionamento com Deus não é o que é necessário para
nos dar o socorro que buscamos. Pode ser que estejamos
buscando crescimento espiritual através de um uso mais
diligente dos meios de graça e de um mais sincero
empenho para vivermos de acordo com a vontade de Deus,
e ainda falharmos completamente. A razão é que há uma
escondida raiz do mal que precisa ser removida. Essa raiz
é o espírito de escravidão, o espírito legalista do esforço
próprio. Esse espírito impede que a fé humilde que sabe
que Deus operará tudo e então se rende a Ele para fazê-lo.
Esse espírito pode ser encontrado no meio de todo grande
zelo pelo serviço a Deus e toda sincera oração por Sua
graça; ele não desfruta o descanso da fé, e não pode
vencer o pecado porque ele não se situa na liberdade com
a qual Cristo nos tornou livres e não sabe que onde está o
Espírito do Senhor aí há liberdade. Neste ponto a alma
pode dizer: “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo
Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” (Rm 8:2).
Quando admitirmos de coração não que apenas há falhas
em nossa vidas mas que também há algo radicalmente
errado que pode ser mudado, nos voltaremos com novo
interesse, com uma mais profunda confissão da ignorância
e da inabilidade, e com uma esperança que olha apenas
para Deus para nos ensinar e fortalecer, para descobrirmos
que na Nova Aliança há uma verdadeira provisão para toda
necessidade.

CAPÍTULO 6

A ALIANÇA ETERNA

“E eles serão o meu povo, e eu lhes serei o seu Deus...


E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de
fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações,
para que nunca se apartem de mim.” Jr 32:38,40
“E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós
um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de
pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de
vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos,
e guardeis os meus juízos, e os observeis... E farei com eles
uma aliança de paz; e será uma aliança perpétua.” Ez
36:26-27; 37:26

Nós já tivemos palavras sobre a instituição da Nova


Aliança. Vamos ouvir ao próximo ensino concernente a ela
que encontramos em Jeremias e Ezequiel, onde Deus fala
sobre ela ser uma Aliança eterna.

Em toda aliança há duas partes. E a própria base de


uma aliança é a suposição de que cada parte será fiel ao
papel que ele ou ela se encarregou de cumprir. A
infidelidade de qualquer um dos lados quebra a aliança.

Assim foi com a Velha Aliança. Deus havia dito a


Israel, “Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus”
(Jr 7:23; 11:4). Estas simples palavras continham toda a
Aliança. E quando Israel desobedeceu, a Aliança foi
quebrada. A questão de Israel ser capaz ou não de
obedecer não foi levada em consideração: a desobediência
anulou os privilégios da Aliança.

Se uma Nova Aliança deveria ser feita e se deveria ser


melhor que a Velha, uma coisa deveria ser providenciada.
Nenhuma nova aliança poderia ser proveitosa a não ser
que uma provisão fosse feita para assegurar a obediência.
Deve haver obediência. Deus como Criador nunca poderia
tomar Suas criaturas em Seu favor e comunhão a menos
que elas O obedecessem. Isso seria algo impossível. Se a
Nova Aliança era para ser melhor que a Velha – se era
para ser uma Aliança eterna, que nunca seria quebrada –
ele deve fazer provisão o suficiente para assegurar a
obediência do povo da Aliança.
E essa é, de fato, a glória da Nova Aliança, a glória
que se sobressai – que essa provisão foi feita. De uma
forma que nenhum pensamento humano imaginou, por
uma estipulação que nunca entrou em uma aliança
humana, por um se encarregar no qual a infinita
condescendência, poder e fidelidade de Deus fossem muito
maravilhosamente exibidos, por um sobrenatural mistério
de sabedoria e graça divinas, a Nova Aliança provê uma
garantia, não só da fidelidade de Deus, mas do homem
também! O próprio Deus encarregou-se de assegurar a
parte do homem assim como a Sua própria. É crucial
entender isso.

É por causa dessa essencial parte da Nova Aliança


que muito supera e desorienta todos os pensamentos
humanos sobre o que uma aliança significa, que cristãos,
desde os Gálatas até hoje, não têm sido capazes de ver e
crer no que a Nova Aliança realmente traz. Eles pensam
que a infidelidade humana é um fator para ser
permanentemente considerado como algo invencível e
incurável, e que a possibilidade de uma vida de obediência
com um testemunho interior de uma boa consciência e um
do alto, da satisfação de Deus, não deve ser esperado. Eles
têm, portanto, procurado estimular a mente ao seu
extremo com argumentos e bons motivos, e nunca
perceberam que o Espírito Santo deve ser o incessante,
universal e todo suficiente operador de tudo que deve ser
feito por um cristão.

Vamos buscar a Deus seriamente para que Ele nos


revele pelo Espírito Santo as coisas que ele tem
preparadas para aqueles que O amam, coisas que o
coração humano não concebeu – a maravilhosa vida da
Nova Aliança. Tudo depende do nosso entendimento sobre
o que Deus operará em nós. Ouça o que Deus diz em
Jeremias 32:40 sobre as duas partes dessa Aliança eterna,
palavras dadas brevemente depois de ter anunciado a Nova
Aliança e para esclarecê-la. O pensamento central da
Aliança, que o coração deve ser acertado, é aqui
reiterado e confirmado. Primeiro: “E farei com eles
uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o
bem”. Isso é, Deus será imutavelmente fiel. Ele não se
desviará de ser bom conosco. “E porei o meu temor nos
seus corações, para que nunca se apartem de mim”. Essa
promessa é a segunda metade: Israel também será
imutavelmente fiel. E isso é porque Deus os inspirará a
temê-lo para que nunca se apartem d’Ele. Assim como
Deus não se desviará deles, eles não se desviarão de Deus!
Tão fielmente quanto Ele se encarrega de cumprir a Sua
parte ele se encarrega de cumpri a parte deles, para que
eles não se apartem d’Ele!

Ouça agora a Palavra de Deus em Ezequiel sobre


um dos termos da Sua Aliança de paz, Sua eterna
Aliança: “E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei
que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus
juízos, e os observeis” (Ez 36:27). Na Velha Aliança não
temos nada deste tipo. Nós temos, ao contrário, da história
do bezerro de ouro e da quebra das tábuas da Aliança em
diante, o triste fato do contínuo afastamento de Deus. Nós
encontramos Deus ansiando por aquilo que Ele tanto
desejava ver, mas não conseguia encontrar. “Quem dera
que eles tivessem tal coração que me temessem, e
guardassem todos os meus mandamentos todos os dias”
(Dt 5:29). Nós encontramos, através do livro de
Deuteronômio, algo sem paralelo na história de qualquer
religião ou legislador religioso – que Moisés, de maneira
muito distinta, profetiza que eles abandonariam a Deus,
com as terríveis maldições e com a dispersão que
sobreviria a eles. É apenas no final das suas ameaças (Dt
30:6-8) que ele dá a promessa do novo tempo que viria: “E
o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração
de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus com
todo o coração, e com toda a tua alma... e darás ouvidos à
voz do Senhor”.
Toda a Velha Aliança era dependente da fidelidade do
homem: “O Senhor teu Deus guarda Sua Aliança com
aqueles que guardam Seus mandamentos”. Deus guardar a
Aliança era de pouco valor se o homem não a guardasse.
Nada poderia ajudar o homem até que o “se diligentemente
guardares” da lei foi substituído pela palavra da promessa,
“E porei dentro de vós o meu Espírito... e guardareis os
meus juízos”. A suprema diferença da Nova Aliança –
aquilo pelo que o Mediador, o sangue e o Espírito foram
dados, o fruto que Deus procurou e Se comprometeu a
produzir – era essa: um coração cheio tanto do temor
quanto do amor de Deus, um coração no qual Seu Espírito
e Sua lei habitam, um coração que se agrada em fazer Sua
vontade.

Aqui está o mais profundo segredo da Nova Aliança.


Ele trata com o coração do homem de uma forma que
envolve poder divino. Ele não apenas apela ao coração com
motivos de temor ou amor, de dever ou gratidão – o que a
lei também fazia – mas ele revela o próprio Deus, limpando
nosso coração e o tornando novo, o mudando
completamente de um coração de pedra para um coração
de carne – um gentil, vivo, amável coração. Ele inclui o
colocar do Seu Espírito no interior do seu coração e assim,
pelo Seu soberano poder e amor soprando e operando nele,
tornando verdadeira a promessa: “Farei que andeis nos
meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis”.
Um coração em perfeita harmonia com Deus, uma vida e
um andar no Seu caminho – Deus se empenhou em Aliança
operar isso em nós. Ele Se encarrega da nossa parte na
Aliança tanto quanto se encarrega da Sua própria.

Isso não é nada menos do que a restauração do


relacionamento original entre Deus e o homem que Ele
criou à Sua imagem. Ele estava na Terra para ser a própria
imagem de Deus, porque Deus viveria e operaria tudo nele;
e ele encontraria sua glória e bem-aventurança em, então,
tributar tudo a Deus. Isso agora é a superior glória da
Nova Aliança, da dispensação Pentecostal, que, pelo
Espírito Santo, Deus poderia ser novamente a vida que
habita no interior de Seu povo e então tornar realidade a
promessa: “Farei que andeis nos meus estatutos”.

Com a presença de Deus assegurada a nós em cada


momento do dia (“Não me desviarei deles”); com o Seu
“temor colocado em nosso coração” pelo Seu próprio
Espírito, e nosso coração, então, respondendo à Sua santa
presença; com nossos corações, então, endireitados com
Deus – nós podemos, nós andaremos em Seus estatutos e
guardaremos Seus juízos.

O grande pecado de Israel sob a Velha Aliança –


através do qual eles muito O entristeceram – foi este: eles
limitaram O Santo de Israel. Sob a Nova Aliança o perigo
desse pecado não é menor. Ele faz com que seja impossível
Deus cumprir Suas promessas. Vamos buscar, acima de
tudo, o ensino do Espírito Santo que nos mostrará para que
exatamente Deus estabeleceu a Nova Aliança, para
podermos honrá-lO por crer em tudo que o Seu amor
preparou para nós.

E se perguntarmos qual a causa da descrença que


impede o cumprimento da promessa, veremos que não é
preciso ir longe para encontrá-la. Ela é, em muitos casos,
uma falta de desejo pela benção prometida. Pense naqueles
que foram a Jesus na Terra: a intensidade do desejo deles
pela cura que precisavam, tornou-os prontos e felizes em
crer na Sua palavra. Onde a lei de Deus fez sua obra
completa para que o desejo de ser liberto do pecado seja
forte e domine o coração, a promessa da Nova Aliança,
quando realmente compreendida, vem como pão para um
homem faminto. A sutil incredulidade que pensa ser
impossível ser livre de pecar, no entanto, remove o poder
de aceitar a provisão da Aliança eterna. A Palavra de Deus,
“Porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se
apartem de mim... E porei dentro de vós o meu Espírito, e
farei que andeis nos meus estatutos”, é tão freqüentemente
entendida com uma compreensão débil, de acordo com
nossa experiência. E então a alma entra num desespero ou
num auto-contentamento que diz que nunca pode ser de
outra forma.

Deixe me dizer a todo leitor que deseja ser capaz de


crer plenamente em tudo que Deus diz: Acolha cada
sussurro da consciência e do Espírito que convence do
pecado. Qualquer que seja – um temperamento
precipitado, uma língua afiada, um pensamento rude ou
impaciente, qualquer coisa do egoísmo ou da vontade-
própria – acolha aquilo que os condena em você como
parte do ensino que te leva a Cristo e a plena posse da Sua
salvação. A Nova Aliança foi feita para suprir a
necessidade de um poder para não pecar, um poder que a
Velha não podia dar. Venha com esta necessidade; ela vai
preparar e abrir o coração para tudo que a Aliança eterna
assegura para você. Ela o trará para aquela humilde e total
dependência de Deus em Sua onipotência e Sua fidelidade
com as quais Ele pode e irá operar tudo que Ele prometeu.
CAPÍTULO 7

A NOVA ALIANÇA: UM MINISTÉRIO DO ESPÍRITO

“Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo,


ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o
Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas
tábuas de carne do coração... Não que sejamos capazes,
por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos;
mas a nossa capacidade vem de Deus, O qual nos fez
também capazes de ser ministros de um novo testamento,
não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o
espírito vivifica. E, se o ministério da morte... veio em
glória... Como não será de maior glória o ministério do
Espírito? Porque, se o ministério da condenação foi
glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da
justiça.” 2 Cor 3:3, 5-9.

Neste maravilhoso capítulo, Paulo lembra os


Coríntios, falando de seu ministério entre eles, das
principais características deste. Ele contrasta seu
ministério, como sendo da Nova Aliança, e toda a
dispensação da qual ele é uma parte, com aquele da Velha.
A Velha foi gravada na pedra, a Nova no coração. A Velha
poderia ser escrita com tinta e era destacada pela letra que
mata; a Nova é destacada pelo Espírito que vivifica. A
Velha era um ministério de condenação e morte; a Nova, de
justiça e vida. A Velha, de fato, teve sua glória, pois era
divinamente apontada e trouxe benção divina; mas era uma
glória que desvaneceria, e teve uma glória que não pôde
ser comparada com a glória muito maior daquela que
perdura. Com a Velha, havia o véu no coração; na Nova, o
véu é retirado da face e do coração, pois nela o Espírito do
Senhor dá liberdade. E nós, que com faces desveladas
refletimos a glória do Senhor, estamos sendo
transformados com glória crescente à Sua imagem, pelo
Espírito do Senhor. Essa glória que se sobressai prova
nisso seu poder, que não apenas caracteriza a dispensação
no seu lado divino, mas também exerce de tal forma seu
poder no coração e na vida dos seus sujeitos que ela pode
ser vista também neles.

Pense um pouco sobre o contraste. A Velha Aliança


funcionou como a letra que mata. A lei veio com sua
instrução literal e procurou, pelo conhecimento que deu da
vontade de Deus, apelar ao temor do homem e seu amor –
aos seus poderes naturais da mente, da consciência e da
vontade. Ela falou ao homem como se ele pudesse
obedecer para que isso o convencesse do que ele não
sabia, do fato de que ele não podia obedecer. Assim ela
cumpriu sua missão: “E o mandamento que me fora para
vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte”
(Rm 7:10). Na Nova, pelo contrário, como tudo é diferente.
Ao invés da “letra” que compele, há o Espírito que dá vida,
que exala a própria vida de Deus, a vida do céu em nós. Ao
invés de uma vã tentativa de operar de fora para dentro, o
Espírito e a lei são colocados no interior para operar
externamente a vida e o caminhar.

Essa passagem traz à vista a benção distintiva da


Nova Aliança. Operando nossa salvação, Deus derramou
sobre nós duas maravilhosas dádivas. Nó lemos: “Deus
enviou seu Filho... Para remir os que estavam debaixo da
lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois
filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu
Filho, que clama: Aba, Pai.” (Gl 4:4-6). Aqui nós temos as
duas partes da obra de Deus na salvação. Uma, a mais
objetiva, é o que Ele fez para que nós nos tornássemos
Seus filhos: Ele enviou o Seu Filho. A segunda, a mais
subjetiva, é o que Ele fez para que vivêssemos como Seus
filhos: Ele enviou o Espírito do Seu Filho para os nossos
corações. Na primeira, nós temos a manifestação externa
da obra da redenção; na outra, sua apropriação interna. A
primeira foi em prol da segunda. Essas duas metades
formam uma grandiosa unidade e não podem ser
separadas.

Nas promessas da Nova Aliança, como as


encontramos em Jeremias e Ezequiel assim como no texto
com o qual iniciamos o capítulo e em muitas outras
passagens das Escrituras, está claro que o grande objetivo
de Deus na salvação é tomar posse do coração. O coração é
a vida real; com o coração é que um homem ama, deseja e
age. O coração faz o homem. Deus criou o coração do
homem para ser Sua própria habitação para que nele Ele
pudesse revelar Seu amor e Sua glória. Então Deus enviou
Cristo para realizar uma redenção pela qual o coração do
homem poderia ser ganho de volta para Ele, pois nada
além disso poderia satisfazer a Deus. E isso é o que é
realizado quando o Espírito Santo torna o coração de um
filho Deus como ele deveria ser. Toda a obra da redenção
de Cristo – Sua propiciação e vitória, Sua exaltação e
intercessão, Sua glória à destra de Deus – é apenas
preparatória para o que é o principal triunfo da Sua graça:
a renovação do coração para ser o templo de Deus. Através
de Cristo, Deus dá o Espírito Santo para glorificá-lO no
coração pelo operar nele de tudo que Ele fez e está fazendo
pela alma.

Alguns mestres religiosos parecem temer que ao dar


proeminência à obra de Cristo no coração do crente pelo
Espírito Santo eles poderiam depreciar a obra de Cristo na
Cruz ou Sua obra agora no céu. O resultado tem sido que a
habitação interior do Espírito Santo e Sua poderosa obra
como sendo a vida do coração são pouco conhecidas por
muitos. Mas se olharmos com cuidado para o que as
promessas da Nova Aliança realmente significam, veremos
como o “envio do Espírito de Seu Filho aos nossos
corações” é, de fato, a consumação e coroa da obra de
redenção de Cristo. Nós precisamos considerar no que
essas promessas implicam.

Na Velha Aliança, o homem falhou no que tinha que


fazer; na Nova, é para Deus fazer tudo nele. A Velha podia
apenas convencer do pecado; a Nova é para afastar o
pecado e limpar o coração da sua imundície. Na Velha, o
coração é que estava errado; para a Nova, um novo
coração é provido – no qual Deus põe Seu temor, Sua lei e
Seu amor. A Velha exigiu, mas falhou em assegurar a
obediência; na Nova, Deus faz com que andemos nas Suas
ordenanças. A Nova é para adequar o homem para uma
verdadeira santidade, um verdadeiro cumprimento da lei
de amar a Deus de todo o coração e o próximo como a si
mesmo – um caminhar verdadeiramente agradável a Deus.
A Nova transforma o homem de glória em glória à imagem
de Cristo, tudo isso porque o Espírito do Filho de Deus é
dado ao coração. A velha não deu nenhum poder; na Nova
tudo é pelo Espírito, o supremo poder de Deus. Tão
completo quanto o reino e o poder de Cristo é no trono do
céu, assim é o Seu domínio no trono do coração pelo Seu
Espírito Santo dado a nós.

É quando juntamos todos estes traços da vida da Nova


Aliança em um só foco e olhamos para o coração de um
filho de Deus como sendo o objeto dessa poderosa
redenção, que podemos começar a entender o que está
assegurado para nós e o que é que devemos esperar do
nosso Deus de Aliança. Veremos que a glória do ministério
do Espírito é que Deus pode encher nosso coração com Seu
amor e torná-lo Sua habitação.

Estamos acostumados a dizer, e corretamente, que o


valor do Filho de Deus, que veio e morreu por nós, é da
mesma medida de valor da alma à vista de Deus e da
grandeza da obra que teve de ser feita para salvá-la.
Vejamos também que a divina glória do Espírito Santo, o
Espírito do Pai e do Filho, é a medida do anseio de Deus
em ter nosso coração totalmente para Ele. É também a
medida de glória da obra que será completada em nós, e
do poder pelo qual a obra será feita.

Veremos que a glória do ministério do Espírito não é


outra além da glória do Senhor – porquanto ela não está
apenas no céu, mas presencialmente pousando sobre nós e
habitando em nós, e nos transformando de um grau de
glória a outro. A inconcebível glória do nosso Senhor
exaltado no céu tem sua contraparte aqui na terra na
abundante glória do Espírito Santo que O glorifica em nós,
que derrama Sua glória em nós enquanto nos transforma à
imagem d’Ele.

A Nova Aliança não tem poder para salvar e abençoar


exceto porque é um ministério do Espírito. Esse Espírito
opera em menor ou maior grau se é negligenciado e
entristecido ou se recebe rendição e confiança. Vamos
honrá-lO e dar a Ele Seu lugar como sendo o Espírito da
Nova Aliança, aceitando tudo que Ele espera fazer por nós.

Ele é a grande dádiva da Aliança. Sua vinda do céu foi


prova que o Mediador da Aliança estava no trono em glória
e podia agora nos tornar participantes da vida celestial.

Ele é o único mestre do significado da Nova Aliança


porque, habitando em nosso coração, Ele desperta nele o
pensamento e o desejo pelo que Deus tem preparado para
nós.

Ele é o Espírito da fé, que nos capacita a crer na


outrora incompreensível benção e no poder nos quais a
Nova Aliança opera, e para os reivindicarmos como nossos.
Ele é o Espírito da graça e do poder pelo qual a
obediência à Aliança e a comunhão com Deus podem ser
mantidas sem interrupção.

Ele mesmo é o possuidor, sustentador e comunicador


de tudo que a Aliança promete, o revelador e glorificador
de Jesus, o Mediador e Fiador da Aliança.

Crer plenamente no Espírito Santo como sendo a


presente, permanente e toda-abrangente dádiva da Nova
Aliança tem sido para muitos uma entrada na plenitude da
benção da Aliança.

Comece imediatamente, filho de Deus, a dar ao


Espírito Santo em sua vida o lugar que Ele tem no plano de
Deus. Permaneça perante Deus e creia que Ele está dentro
de você, e peça ao Pai para operar em você através d’Ele.
Considere a si mesmo, seu espírito assim como seu corpo,
com santa reverência como sendo Seu templo. Permita que
a consciência da Sua santa presença e obra o encha de
santa mansidão e temor. E esteja certo de que tudo que
Deus te chama para ser, Cristo através do Seu Espírito
operará em você.
Nota Adicional

George Müller e Sua Segunda Conversão

Na vida de George Müller de Bristol houve uma


época, quatro anos após sua conversão, a qual ele sempre
revia. Ele freqüentemente falou dela como sendo sua
entrada na verdadeira vida cristã.

Numa carta dada a ministros e obreiros após seu


nonagésimo aniversário, ele disse:

“Isso leva a outro pensamento – a total rendição do


coração a Deus. Fui convertido em novembro de 1825, mas
só cheguei a uma plena entrega do coração, quatro anos
mais tarde, em julho de 1829. O amor ao dinheiro
desapareceu; perdi amor a lugares, a posições, aos
prazeres e compromissos com o mundo. Deus, Deus, e
somente Deus, tornou-se a minha porção. Nele encontrei
meu tudo; não precisei de nada mais. E, pela graça de
Deus, isso permaneceu e me tornou feliz, extremamente
feliz, e me levou a me ocupar unicamente das coisas de
Deus. Eu lhes pergunto com muito amor, meus queridos
irmãos: vocês já entregaram plenamente seu coração a
Deus, ou há ainda alguma coisa com que estão ocupados
sem consideração para com Deus? Antes eu lia um pouco
das Escrituras, mas preferia outros livros. Depois daquela
ocasião, a revelação que ele me fez de si mesmo tornou-se
inefavelmente maravilhosa para mim, e posso dizer de
coração que Deus é um Ser infinitamente desejável. Não
fiquem satisfeitos enquanto não puderem dizer do íntimo
de sua alma: Deus é um Ser infinitamente desejável!”

Segue o registro dessa mudança como ele o escreve


no seu diário. Ele fala de alguém que ele ouviu pregar em
Teignmouth, onde ele foi para cuidar de sua saúde:

“Embora eu não tenha gostado de tudo que ele falou,


eu vi nele uma seriedade e solenidade diferente dos
demais. Através do ministrar desse irmão, o Senhor
concedeu-me uma grande bênção e a Ele serei grato ao
longo de toda a eternidade. Deus começou a mostrar-me
que unicamente a Sua Palavra deve ser nosso padrão para
o julgamento em coisas espirituais, que a Palavra de Deus
somente pode ser explicada pelo Espírito Santo e que, em
nossos dias, assim como nos tempos passados, Ele é o
Mestre de Seu povo. Antes dessa ocasião em minha vida,
eu não havia, em minha experiência, entendido a função do
Espírito Santo. Anteriormente eu não havia enxergado que
somente o Espírito Santo pode ensinar-nos acerca de nossa
condição natural, mostrar-nos nossa necessidade de um
Salvador, capacitar-nos a crer em Cristo, explicar-nos as
Escrituras, ajudar-nos a pregar, etc...

Foi a compreensão dessa verdade em especial que


exerceu uma grande influência em minha vida, pois o
Senhor capacitou-me a experimentar sua validade quando
eu coloquei de lado comentários e quase todos os outros
livros e comecei simplesmente a ler e estudar a Palavra de
Deus. Como resultado, na primeira noite em que entrei em
meu quarto, fechei a porta a fim de orar e meditar nas
Escrituras, eu aprendi mais em algumas poucas horas do
que havia aprendido durante um período de vários meses.
A maior diferença, no entanto, foi o poder real que
experimentei em minha alma através disso.”

Em outra passagem, ele diz assim:

“Eu caíra na armadilha que muitos cristãos caem:


preferir ler livros religiosos ao invés da Bíblia. Na verdade,
de acordo com as Escrituras, nós deveríamos pensar da
seguinte maneira: 'O próprio Deus dignou-se a tornar-se
autor de um livro, e eu sou ignorante acerca deste precioso
livro que o Seu Espírito inspirou; por causa disso, eu devo
ler novamente este Livro dos livros mais cuidadosamente,
com mais oração, com muito mais meditação'. Mas essa
não foi minha atitude. É verdade que minha ignorância
sobre a Palavra levou-me a desejar estudá-la, todavia, por
causa da minha dificuldade em entendê-la, nos primeiros
quatro anos de minha vida cristã, eu negligenciei na sua
leitura. Assim como muitos cristãos fazem, eu
praticamente preferia ler as obras de homens não
inspirados ao invés de ler os oráculos do Deus vivo. Como
conseqüência disso, eu permaneci um bebê tanto no
conhecimento quanto na graça. No conhecimento, porque
todo verdadeiro conhecimento deve ser obtido da Palavra
de Deus por meio de Seu Espírito. Como triste
conseqüência, esta falta de conhecimento me impediu de
caminhar nos caminhos de Deus com firmeza e constância.
Pois é a verdade que nos liberta, livrando-nos do cativeiro
dos desejos da carne, da concupiscência dos olhos e da
soberba da vida. A Palavra prova isto. Também a
experiência dos santos e minha própria experiência
provam, de modo incontestável, a veracidade deste
princípio, pois quando aprouve ao Senhor, em agosto de
1829, ensinar-me a confiar nas Escrituras, minha vida e
meu caminhar tornaram-se muito diferentes.
Se alguém me perguntasse como é possível ler as
Escrituras de modo mais proveitoso, eu responderia da
seguinte maneira:

1. Acima de tudo, devemos ter a Palavra armazenada em


nossa mente, de modo que apenas Deus, por meio do
Espírito Santo, possa ensinar-nos. Desta forma, é de Deus
que vamos esperar todas as bênçãos e vamos buscar a
bênção de Deus tanto antes quanto durante a leitura da
Palavra.

2. Deveríamos compreender claramente que o Espírito


Santo não é apenas o melhor Mestre, mas também é
suficiente. Nem sempre Ele nos ensina imediatamente
aquilo que desejamos saber. É possível, portanto, que
algumas vezes necessitemos suplicar-lhe várias vezes a fim
de receber explicação para algumas passagens; mas no
final Ele certamente irá nos ensinar se nós buscarmos luz
com oração, com paciência e para a glória de Deus.”

Apenas mais uma passagem, de um elogio dado na


ocasião do nonagésimo aniversário de Müller:

“Por sessenta e nove anos e dez meses George Muller


fôra um homem muito feliz. Isso ele atribuía a duas coisas:
ele havia mantido uma boa consciência, não seguindo
deliberadamente um caminho que ele soubesse ser
contrário à vontade de Deus; isso não quer dizer que ele
era perfeito; ele era pobre, fraco e pecador. Em segundo
lugar, ele atribuía sua felicidade ao seu amor pelas
Escrituras. Nos seus últimos anos, ele costumava ler toda a
Bíblia quatro vezes por ano, aplicando-a ao seu próprio
coração e sobre ela meditando. Ele amava a Palavra de
Deus muito mais agora do que há sessenta e seis anos
atrás. Foi seu amor à Palavra, bem como o manter de uma
boa consciência que lhe proporcionaram todos aqueles
anos de paz e alegria no Espírito Santo.”
Em conexão com o que foi dito sobre a Nova Aliança
ser um ministério do Espírito, essa narrativa é muito
instrutiva. Ela nos mostra como o poder de George Müller
baseava-se em Deus revelando a ele a obra do Espírito
Santo. Ele escreve que, até a época daquela mudança, ele
ainda “não havia, em experiência, entendido a função do
Espírito Santo”. Nós falamos muito do poder de oração de
George Müller; é importante lembrar-nos que esse poder
era totalmente devido ao seu amor, e fé, na Palavra de
Deus. Mas é ainda de maior importância notar que seu
poder de crer na Palavra de Deus tão plenamente era
totalmente devido a ter aprendido a conhecer o Espírito
Santo como seu Mestre. Quando as palavras de Deus são
explicadas a nós e são tornadas vivas dentro de nós pelo
Espírito Santo, elas têm um poder de despertar a fé que,
de outra forma, não teriam. A Palavra, então, nos traz ao
contato com Deus, ela vem a nós como que diretamente de
Deus, e amarra toda a nossa vida n’Ele.

Quando o Espírito Santo, então, nos alimenta da


Palavra, toda a nossa vida fica sob Seu poder, e o fruto é
visto não apenas no poder da oração mas de igual forma no
poder da obediência. Note como o Sr. Müller nos diz isso,
que os dois segredos da sua grande felicidade eram o seu
grande amor pela Palavra de Deus e sempre manter uma
boa consciência, não fazendo nada deliberadamente contra
a vontade de Deus. Em se entregar ao ensino do Espírito
Santo, ele rendeu plenamente todo o seu coração a Deus
para ser governado pela Palavra. Ele se entregou a
obediência dessa Palavra em todas as coisas. Ele creu que
o Espírito Santo deu a graça para obedecer, então, ele foi
capaz de manter um caminhar livre de transgredir
deliberadamente a lei de Deus. Esse é um ponto no qual
ele sempre insistiu. Então ele escreve, concernente a uma
vida de dependência de Deus: “Não há como – não é
possível – viver em pecado e ao mesmo tempo, através da
comunhão com Deus, receber do céu tudo que é necessário
para a vida presente”. Novamente, falando do fortalecer da
fé: “É de suma importância que busquemos manter um
coração justo e uma boa consciência, e, portanto, não nos
entregarmos deliberada e habitualmente às coisas
contrárias à mente de Deus. Toda a minha confiança em
Deus, todo o meu apoiar n’Ele na ora da provação, sumirá
se eu tiver uma consciência culpada e não buscar afastar
essa consciência culpada mas continuar a fazer coisas que
são contrárias a mente d’Ele.”

Um exame cuidadoso desse testemunho nos mostrará


como os principais pontos que foram reforçados em
conexão com “a segunda benção” são todos encontrados
aqui. Há a plena rendição do coração para poder ser
ensinado e guiado apenas pelo Espírito de Deus. Há o mais
alto padrão de santidade que de imediato mostrado. Há o
tenro desejo de não ofender a Deus em nada, mas ter em
todo o tempo uma boa consciência que testifica que somos
agradáveis a Deus. E há a fé em que quando o Espírito
Santo revela a nós, na Palavra, a vontade de Deus, Ele dá
força suficiente para a realizarmos. “A maior diferença”,
ele diz, sobre ler com fé sob o ensino do Espírito Santo,
“foi o poder real que experimentei em minha alma através
disso”. Não é de se admirar que ele disse: “A mudança foi
tão grande que foi como uma segunda conversão”.

O central é isso: que creiamos na Nova Aliança a nas


suas promessas como sendo um ministério do Espírito. Que
a crença pode vir a alguns repentinamente, como com
George Müller; ou pode vir sobre outros gradativamente.
Que todos digam a Deus que estão prontos a colocar todo o
seu coração e toda a sua vida debaixo do governo do
Espírito Santo que habita dentro deles, que os ensina pela
Palavra e os fortalece pela Sua graça. Ele nos capacita a
viver vidas agradáveis a Deus.
CAPÍTULO 8

AS DUAS ALIANÇAS: A TRANSIÇÃO

“Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança


eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus
Cristo, grande pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda
a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós
o que perante ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja
glória para todo o sempre. Amém.” – Hb 13:20-21.
A transição da Velha Aliança para a Nova não foi lenta
ou gradual, mas ela veio através de uma enorme crise;
nada menos do que a morte de Cristo foi o fechamento da
Velha Aliança. Nada menos do que Sua ressurreição de
entre os mortos, pelo sangue da eterna Aliança, foi a
abertura da Nova. O caminho de preparação que levou à
crise foi longo e demorado, mas o rasgar do véu, que
simbolizou o fim da velha adoração, foi obra instantânea.
Através da morte, de uma vez por todas, a obra de Cristo
como cumpridor da lei estava para sempre consumada. Ele
levou a lei ao seu fim. Através da ressurreição no poder de
uma vida infinita, a Aliança da vida foi prenunciada.

Estes eventos têm um significado eterno, pois eles


revelam o caráter das Alianças com as quais se relacionam.
A morte de Cristo mostra a natureza da Velha Aliança. Em
outra porção ela é chamada de “ministério da morte” (2
Cor 3:7). Ela trouxe nada além de morte. Ele terminou em
morte; sim, apenas pela morte a vida vivida debaixo dela
poderia terminar. A Nova seria uma Aliança de Vida; ela
teve seu nascimento no onipotente poder de ressurreição
que trouxe Cristo de volta de entre os mortos. Sua marca e
benção é que tudo o que ela provê não vem apenas como
uma promessa, mas como uma experiência no poder de
uma vida infinita. A morte revela a total ineficácia e
insuficiência da Velha; a vida concede a nós para sempre
tudo o que a Nova tem a oferecer. Um olhar cuidadoso
sobre a completude da transição, como vista em Cristo, nos
prepara para compreender a realidade da mudança em
nossa vida, quando, “como Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em
novidade de vida”.

A completa diferença entre a vida na Velha e na Nova


é destacadamente ilustrada por uma passagem em
Hebreus. Após ter dito que uma morte pela redenção das
transgressões deveria ocorrer antes que a Nova Aliança
pudesse ser estabelecida, o autor acrescenta, “Porque onde
há testamento, é necessário que intervenha a morte do
testador” (9:16). Antes que qualquer herdeiro possa
receber sua herança, o primeiro possuidor dela deve ter
morrido. O antigo proprietário, a vida velha, deve
desaparecer totalmente antes que o novo herdeiro, a nova
vida, possa entra na herança. Nada a não ser a morte pode
operar a transferência de propriedade. É assim com Cristo,
com a Velha e a Nova vida da Aliança, com nossa própria
libertação da Velha e nossa entrada na Nova. Agora, tendo
sido “mortos para a lei pelo corpo de Cristo... libertados da
lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos” –
aqui está a completude da libertação da parte de Cristo –
“de modo que servimos” – aqui está a completude da muda
na nossa experiência – “em novidade de espírito e não na
caducidade da letra” (Rm 7:4,6).

A transição, se for para ser real e completa, deve


ocorrer através de uma morte. Como com Cristo, o
Mediador da Aliança, assim deve ser com o Seu povo, os
herdeiros da Aliança. N’Ele estamos mortos para o pecado;
n’Ele estamos mortos para a lei. Como Adão morreu para
Deus e dele herdamos uma natureza que está, na verdade,
morta no pecado, morta para Deus e para Seu reino, assim
em Cristo nós morremos para o pecado e herdamos uma
nova natureza que está, na verdade, morta para o pecado e
seu domínio. É quando o Espírito Santo revela e torna real
para nós que essa morte para o pecado e para a lei é a
única condição de uma vida para Deus que essa transição
essa transição da Velha para a Nova Aliança pode ser
completamente operada em nós.

A Velha era, e foi designada para ser, um “ministério


da morte”; até que ela tenha feito toda a sua obra em nós
não há libertação completa de seu poder. O homem que vê
que o “eu” é incuravelmente mau e deve morrer, que
entrega o “eu” totalmente para a morte enquanto se
esvazia perante Deus em completa impotência e rendição a
Sua obra, que consente com a morte com Cristo na cruz
como sendo o que ele merece e, em fé, a aceita como sua
única libertação – apenas este está preparado para ser
guiado pelo Espírito Santo até o completo desfrute da vida
da Nova Aliança. Ele aprenderá a entender quão
completamente a morte dá fim ao esforço próprio, e como,
quando ele vive em Cristo para Deus, tudo dali em diante é
para ser obra do próprio Deus.

Veja quão belamente o texto com o qual iniciamos o


capítulo destaca essa verdade: que assim como a
ressurreição de Cristo de entre os mortos foi obra do
próprio Deus, igualmente nossa vida espiritual deve ser
totalmente uma obra do próprio Deus. Tão real e
maravilhosa quanto a transição de Cristo da morte para a
vida foi, assim deve ser nossa experiência do que a vida da
Nova Aliança traz. Note o assunto dos dois versos. Em
Hebreus 13:20, nós temos o que Deus fez ao erguer Cristo
de entre os mortos; no verso 21, o que Deus fará em nós,
operando em nós o que é agradável a Ele. (20) “Ora, o
Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus,
nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas,” (21) “vos
aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade,
operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus
Cristo”. Nós temos aqui o nome do nosso Senhor Jesus
duas vezes. A primeira se refere ao que Deus fez a Cristo
por nós, O erguendo; na segunda, ao que Deus está
fazendo através de Cristo em nós, operando o Seu prazer
em nós. Por ser o mesmo Deus que continua em nós a obra
que Ele começou em Cristo, ela é em nós o mesmo que ela
foi em Cristo. Na morte de Cristo nós O vemos em total
submissão, permitindo e confiando em Deus para operar
tudo e Lhe dar vida. Deus realizou a maravilhosa transição.
Vemos o mesmo em nós; é apenas quando nós também nos
entregamos a morte, quando nos desistimos do “eu” e das
suas obras, quando jazemos como na sepultura esperando
que Deus opere tudo, que o Deus da vida de ressurreição
pode operar em nós todo Seu bom prazer.

Foi “pelo sangue da eterna aliança”, com sua expiação


pelo pecado e sua destruição do poder do pecado, que
Deus efetuou aquela ressurreição. É através desse mesmo
sangue que nós somos redimidos e libertados do poder do
pecado, e feitos participantes da vida de ressurreição de
Cristo. Quanto mais estudarmos a Nova Aliança, mais
veremos que seu único objetivo e restaurar o homem da
Queda para a vida em Deus para a qual ele foi criado. Ela
faz isso primeiro por libertá-lo do poder do pecado pela
morte de Cristo, e então por tomar posse de seu coração,
sua vida, para que Deus opere tudo nele pelo Espírito
Santo.

Todo o argumento da epístola aos Hebreus sobre a


Velha e a Nova Aliança é resumido aqui nesses versos
conclusivos. Assim como Ele ergueu Cristo de entre os
mortos, o Deus da Aliança eterna pode aperfeiçoar e te
aperfeiçoará em toda a boa obra, para fazer a Sua vontade,
operando em você o que perante Ele é agradável por Cristo
Jesus. Você fazer a Sua vontade é a razão da criação e da
redenção. Deus operar tudo em você é o que a redenção
tornou possível. A Velha Aliança de lei, esforço e fracasso,
terminou em condenação e morte. A Nova Aliança vem
para dar, em todos que a lei arruinou e levou a curvarem-se
em total impotência, a lei escrita no coração, o Espírito
habitando nele, e Deus operando tudo, tanto o querer
quanto o realizar, através de Jesus Cristo.

Oh, uma divina revelação de que a transição da morte


de Cristo, em sua impotência, para Sua vida no poder de
Deus, é a imagem, o penhor, o poder da nossa transição da
Velha Aliança, quando esta tiver nos arruinado, para a
Nova, na qual Deus opera tudo em todos!
A transição da Velha para a Nova como efetuada em
Cristo foi repentina. É assim com o cristão? Nem sempre.
Em nós, ela depende de uma revelação. Houve casos nos
quais um cristão, lutando e debatendo contra o jugo da
escravidão, foi instantaneamente capacitado a ver quão
completa salvação a Nova Aliança traz à vida interior
através do ministério do Espírito, e pela fé ele entrou de
imediato nesse descanso. Houve outros casos nos quais a
luz de Deus se ergueu no coração tão gradualmente quanto
o nascer do dia. A oferta, dada por Deus, de entrada no
desfrute dos nossos privilégios da Nova Aliança é sempre
iminente e imediata. Todo cristão é um filho da Nova
Aliança e herdeiro de todas as suas promessas. A morte
d’Aquele que firmou a Aliança dá ao cristão o pleno direito
da imediata posse dessas promessas. Deus anseia nos levar
a terra da promessa; não vamos perder por causa da
incredulidade.

Deve haver alguém que não está certo de que uma tão
poderosa mudança em sua vida está ao seu alcance, mas
ainda assim, que gostaria de saber o que fazer para que
haja esperança de obtê-la. Como eu acabei de dizer, a
morte de qualquer pessoa que firmou uma aliança dá ao
herdeiro o direito imediato de receber a herança. Porém, o
herdeiro, se ele for menor de idade, não entra na posse
dela. Um determinado número de anos dá fim ao estágio de
minoridade terrena e então ele não fica mais sob tutores.
Mas na vida espiritual, o estágio de pupilo termina não
com o passar dos anos, mas no momento em que o menor
prova sua aptidão para ser tornado livre da lei – através da
aceitação da liberdade que há em Cristo Jesus. A transição
– como com a Velha Aliança, como com Cristo, como com
os discípulos – vem quando o tempo tiver chegado e tudo
estiver preparado.

Mas alguém que está ansiando por estar preparado


deve fazer o que? Reconhecer a sentença de morte para
tudo que é da vida do “eu”; chegar e manter-se numa
posição de total indignidade e incapacidade perante Deus;
prostrar-se diante d’Ele em humildade, submissão,
paciência e sujeição à Sua vontade e misericórdia. Fixe o
seu coração sobre o grande e poderoso Deus, o qual, em
Sua graça, operará em você infinitamente mais do que
você possa pedir ou pensar, e que fará de você um marco
da Sua misericórdia. Creia que toda benção da Aliança da
graça é sua; pela morte de Cristo, você é herdeiro de todas
elas – e por este ato de fé, de saber que tudo é seu. O novo
coração é seu; a lei escrita no coração é sua; o Espírito
Santo, o selo da Aliança, é seu. Haja baseado nessa fé, e
conte com Deus como fiel e capaz de fazer real em você
todo o poder e a glória da Sua Aliança eterna.

Que Deus revele a nós a diferença entre as duas vidas,


debaixo da Velha ou da Nova; o poder de ressurreição da
Nova, com Deus operando tudo em nós; o poder da
transição assegurada a nós na morte com Cristo e na vida
n’Ele. E que Ele nos ensine agora a confiar em Cristo Jesus
para nos dar uma plena participação de tudo que a Nova
Aliança assegura.
CAPÍTULO 9

O SANGUE DA ALIANÇA

“Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez


convosco” – Ex 24:8; Hb 9:20.

“Este cálice é a nova aliança no meu sangue” – 1 Cor


11:25; Mt 26:28.

“O sangue da aliança com o qual foi santificado” – Hb


10:29.

“Pelo sangue da eterna aliança” – Hb 13:20.

O sangue é um dos mais sábios, profundos, poderosos


e dos mais celestiais desígnios de Deus. Ele está na raiz de
ambas as Alianças, mas especialmente na da Nova Aliança.
A diferença entre as duas Alianças é a diferença entre o
sangue de animais e o sangue do Cordeiro de Deus. O
poder da Nova Aliança não é menor que o valor do sangue
do Filho de Deus! Nossa experiência cristã não deve
conhecer nenhum padrão para paz com Deus e purificação
do pecado e poder sobre o mundo a não ser o que o sangue
de Cristo pode dar! Se quisermos entrar verdadeira e
plenamente em tudo o que a Nova Aliança deve ser para
nós, vamos pedir a Deus para nos revelar o valor e o poder
do sangue da Aliança, o precioso sangue de Cristo.

A primeira Aliança não foi iniciada sem sangue. Não


poderia haver Aliança ou amizade entre um Deus santo e
homes pecaminosos e rebeldes sem expiação e
reconciliação, e não poderia haver expiação sem uma
morte com penalidade pelo pecado. Deus declarou: “Eu vos
tenho dado o sangue sobre o altar, para fazer expiação pela
vossa alma” (Lv 17:11). O sangue derramado na morte
significava a morte de um sacrifício entregue pelo pecado
do homem; o sangue aspergido no altar significava que a
morte substituta do pecador fora aceita por Deus. Não
havia perdão nem Aliança sem derramamento de sangue.

Tudo isso era tipo e sombra do que um dia se tornaria


uma misteriosa realidade. O que nenhum mero homem ou
anjo poderia ter concebido – o que até mesmo hoje
ultrapassa todo entendimento – foi o que Cristo fez: o
eterno Filho de Deus assumiu carne e sangue, e então
derramou esse sangue como o sangue da Nova Aliança,
não para meramente ratificá-la, mas para abrir o caminho
a Deus e tornar possível a reconciliação. Além da
compreensão de qualquer mortal, Cristo Jesus se tornou o
poder vivo pelo qual a entrada na Aliança deve ser obtida e
toda vida nela ser assegurada. Até que formemos nossa
expectativa de uma vida na Nova Aliança conforme o
inconcebível valor e poder do sangue do Filho de Deus, não
veremos nem de relance a vida sobrenatural e celestial que
um filho de Deus deve viver. Vamos considerar a tripla luz
que as Escrituras nos ensinam com relação a isso.

Na passagem de Hebreus 9:15 nós lemos: “Por isso


mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que,
intervindo a morte para remissão das transgressões que
havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da
eterna herança aqueles que têm sido chamados”. Os
pecados cometidos durante o período da primeira Aliança,
que só haviam sido expiados figurativamente, se
acumularam diante de Deus. Uma morte era necessária
para a redenção destes. Nesta morte e nesse
derramamento de sangue do Cordeiro de Deus, não apenas
estes foram expiados, mas o poder de todo pecado foi
quebrado para sempre.
O sangue da Nova Aliança é o sangue redentor, é o
preço e o resgate do poder do pecado e da lei. Em qualquer
compra feita na terra, a transferência de propriedade do
antigo dono para o novo é completa. O valor de um artigo
pode ser altíssimo e seu proprietário pode estar fortemente
ligado a ele, mas, se o preço for pago, ele está para sempre
separado de seu antigo proprietário. O apego que o pecado
tinha em nós era terrível. Nenhuma mente pode
compreender o seu direito legítimo sobre nós debaixo da
lei de Deus, seu horrível e tirânico poder de nos escravizar.
Mas o sangue do Filho de Deus foi dado como pagamento.
“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata
ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de
viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com
o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro
imaculado e incontaminado”. (1 Pe 1:18-19). Fomos
livrados, resgatados, redimidos da nossa velha vida natural
sob o poder do pecado – total e eternamente. O pecado não
tem o menor direito sobre nós, nem o menor poder sobre
nós, a menos que a ele seja dado o domínio através de
nossa ignorância ou incredulidade ou de nosso coração
dividido. Nosso direito de nascença da Nova Aliança é
permanecer na liberdade com a qual Cristo nos tornou
livres. Até que a alma veja, deseje e aceite a redenção e a
liberdade pelas quais o sangue do Filho de Deus foi o
preço, e reivindique a totalidade e a segurança delas, ela
nunca poderá viver a vida da Nova Aliança de maneira
plena.

Tão maravilhoso quanto o derramamento de sangue é


para a nossa redenção, assim é a aspersão do sangue para
a nossa purificação. Aqui está mais um dos mistérios
espirituais da Nova Aliança que perdem seu poder quando
entendidos unicamente com a sabedoria humana, sem o
ministério do Espírito da vida. Quando as Escrituras falam
sobre “tendo os corações purificados da má consciência”
(Hb 10:22) e que o “sangue de Cristo purificará a nossa
consciência” (Hb 9:14), ou se refere a cantarmos na terra
“Àquele que, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos
pecados” (Ap 1:5), isso coloca esse poderoso e avivador
sangue do Cordeiro em contato direto com os nossos
corações. Isso dá a segurança que aquele sangue, em seu
infinito valor, em seu divino poder purificador do pecado,
pode nos manter puros na nossa caminhada aos olhos e à
luz de Deus. É quando nós conhecemos, confiamos e
esperamos neste sangue da Nova Aliança, e o recebemos
de Deus através do poderoso operar do Espírito no
coração, que começamos a crer que a bendita promessa de
uma vida e caminhada conforme a Nova Aliança pode ser
cumprida.

Há outro aspecto que as Escrituras ensinam sobre


esse sangue da Nova Aliança. Quando os judeus
contrastaram Moisés com o nosso Senhor Jesus, Ele disse:
“se não comerdes a carne do Filho do Homem e não
beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos…
quem comer a minha carne e beber o meu sangue
permanece em mim, e eu, nele” (Jo 6:53-56). Como se o
redimir, o aspergir, o limpar e o santificar não
expressassem suficientemente a intensa interioridade de
sua ação e o seu poder de permear todo o nosso ser, o
beber desse precioso sangue é declarado como sendo
indispensável para ter a vida espiritual. Se queremos
entrar profundamente no espírito e no poder da Nova
aliança, bebamos, pelo Espírito Santo, profundamente
deste cálice – o cálice da Nova Aliança no sangue de Cristo.

Por causa do pecado, não podia haver nenhuma


aliança entre o homem e Deus sem o sangue. E nenhuma
Nova Aliança poderia começar sem o sangue derramado do
Filho de Deus. Assim como a purificação dos pecados era a
primeira condição para se fazer uma aliança, também é a
primeira condição para a entrada nela. Sempre vemos que
uma mais profunda apropriação das bênçãos da Aliança
deve ser precedida de uma nova e mais profunda
purificação do pecado. Em Ezequiel, as palavras sobre
Deus nos fazendo andar em Seus estatutos são precedidas
de “de todas as vossas imundícias vos purificarei” (36:25).
E depois lemos (37:23, 26), “Nunca mais se contaminarão...
com qualquer das suas transgressões... e os purificarei.
Assim, eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus... Farei
com eles aliança de paz; será aliança perpétua”. O
confessar, o lançar fora, e o purificar do pecado no sangue
são a indispensável, e toda-suficiente, preparação para
uma vida em aliança perpétua com Deus.

Muitos sentem que não entendem ou percebem esse


maravilhoso poder do sangue. Meditar nisso não os ajuda;
até mesmo a oração parece não trazer a luz que eles
procuram. Verdadeiramente, o sangue de Cristo é um
mistério divino ultrapassa qualquer pensamento. Como
qualquer benção celestial e espiritual, ele precisa ser
imputado a nós pelo Espírito Santo. Foi “através do
Espírito eterno” que Cristo ofereceu o sacrifício no qual o
sangue foi derramado. O sangue tinha a vida de Cristo
nele, a vida que recebia poder do Espírito. O derramar do
sangue por nós foi para preparar o caminho para o
derramar do Espírito em nós. É o Espírito Santo, e apenas
Ele, que pode ministrar o sangue da Aliança eterna em
poder.

Assim como o Espírito Santo leva a alma a sua fé


inicial no perdão que o sangue de Cristo comprou e na paz
que ele dá, Ele leva posteriormente ao conhecimento e à
experiência do poder purificador deste sangue. Aqui
novamente pela fé – fé numa operação do grande poder de
Deus – uma purificação é efetuada de tal forma a dar um
coração limpo. Esse coração limpo é primeiramente
conhecido e aceito pela fé, separado de sinais ou
sentimentos, separado de entendimento ou razão, e então
experimentado na alegria e na comunhão com Deus que ele
traz. Oh, crer no sangue da Aliança eterna e na purificação
que o Espírito Santo ministra!
Vamos crer no ministério do Espírito Santo até que
toda nossa vida na Nova Aliança se torne uma obra
totalmente d’Ele, para a glória do Pai e de Cristo!

O sangue da Aliança – oh, mistério dos mistérios! Oh,


graça acima de toda graça! Oh, o grande poder de Deus,
abrindo o caminho para dentro do Santo dos Santos, para
dentro dos nossos corações e para dentro da Nova Aliança,
onde O Santo e o nosso coração se encontram! Peçamos
ardentemente a Deus que, pelo Seu Espírito Santo, nos
faça saber o que esse sangue é o que ele opera. Essa
transição da morte da Velha Aliança para a vida da Nova é
“através do sangue da eterna Aliança”. E isso é para nós.
CAPÍTULO 10

JESUS, O MEDIADOR DA NOVA ALIANÇA

“Eu Te darei por aliança do povo” – Isa. 42:6; 49:8.

“Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o


caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o
Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a
quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos
Exércitos.” – Mal. 3:1

“Jesus se tem tornado fiador de superior aliança.” –


Hb. 7:22

“Mediador de superior aliança instituída com base em


superiores promessas... o Mediador da nova aliança... Mas
tendes chegado... a Jesus, o Mediador da nova aliança”. –
Hb. 8:6; 9:15; 12:22-24.

Nós temos aqui quatro títulos dados ao nosso Senhor


Jesus em conexão com a Nova Aliança.
Primeiro, Ele mesmo é chamado de a Aliança. Isso faz
sentido porque a união entre Deus e o homem, na qual a
Aliança se foca, foi realizada n’Ele pessoalmente; porque
n’Ele a reconciliação entre o humano e o divino foi
perfeitamente efetuada; porque n’Ele, Seu povo encontra a
Aliança com todas as suas bênçãos. Ele é tudo que Deus
tem para dar e então nos provê a segurança de que isso foi
dado.

Segundo, Ele é chamado de Mensageiro da Aliança


porque Ele veio para estabelecê-la e proclamá-la.

Terceiro, Ele é a Garantia e o Fiador da Aliança – não


somente porque Ele pagou nosso débito, mas porque Ele é
tanto nossa garantia de que Deus cumprirá Sua parte
quanto o fiador de Deus para garantir que nós
cumpriremos a nossa parte.

E quarto, Ele é Mediador da Aliança porque, assim


como a Aliança foi estabelecida no seu sangue expiatório, é
administrada e aplicada por Ele, é acessível apenas pela fé
n’Ele, assim também é conhecida experimentalmente
apenas através do poder da Sua vida de ressurreição e da
Sua incessante intercessão.

Todos esses nomes apontam para esta verdade: Na


Nova Aliança Cristo é tudo em todos.

O assunto é tão amplo que seria impossível entrar em


todos os vários aspectos dessa preciosa verdade. A obra de
Cristo na expiação e intercessão, no Seu derramar do
perdão e do Espírito Santo, em Sua diária comunicação de
graça e força – essas são verdades que estão na própria
fundação da fé dos cristãos. Nós não precisamos falar mais
delas aqui. O que precisa sim ser esclarecido para muitos,
entretanto, é como, através da fé em Cristo como o
Mediador da Nova Aliança, nós realmente temos acesso ao
desfrute de todas as bênçãos prometidas nela. Nós já
vimos em nosso estudo da Nova Aliança como todas essas
bênçãos culminam em uma coisa – que o coração do
homem deve ser tornado apropriado, sendo esta a única
possível maneira de ele viver em favor diante de Deus e do
amor de Deus encontrar satisfação nele. Ele deve receber
um coração de reverência a Deus, para amar a Deus de
todo o seu ser, para obedecer a Deus e guardar todos os
Seus estatutos. Tudo que Cristo fez e faz tem isso como
alvo, e todas as bênçãos de paz e comunhão fluem disso.
Nesta Aliança, o poder salvador e o amor de Deus
encontram a maior prova do triunfo deles sobre o pecado.
Nada revela tanto a graça de Deus, o poder de Jesus
Cristo, a realidade da salvação, o quão bendita é a Nova
Aliança, quanto o coração de um crente onde o pecado
outrora abundou, mas a graça agora superabunda dentro
dele.

Eu não sei como posso expor melhor a glória do


nosso bendito Senhor Jesus, enquanto Ele conquista o
objetivo da Sua obra de redenção e toma total posse do
coração humano, do que apontando a posição que Ele toma
e a obra que Ele faz no caso de uma pessoa que está sendo
levada para fora da escravidão da Velha Aliança e para
dentro da experiência da promessa e do poder da Nova
Aliança. Estudando a obra do Mediador em um indivíduo
talvez consigamos um conceito mais verdadeiro da real
glória e grandeza da obra que Ele na verdade realiza, do
que simplesmente pensando na obra que Ele fez por todos
nós.

Vamos ver como a entrada na benção da Nova Aliança


é obtida.

O primeiro passo para ela é o senso de pecado do


crente. Ele vê que as promessas da Nova Aliança não
parecem ser verdadeiras na sua experiência. Não há
apenas o pecado que habita no seu interior, mas ele vê que
dá caminho para raiva, vontade própria, mundanismo, e
outras conhecidas violações da lei de Deus. Ele não possui
a obediência para qual Deus o chama, então sua
consciência o condena. É através dessa convicção de
pecado que um desejo pela plena benção da Nova Aliança
deve aparecer. Onde, no entanto, há a suposição de que a
obediência é uma impossibilidade e de que nada além de
uma vida de fracasso é o que deve ser esperado, é inútil
falar da promessa ou do poder de Deus. O coração não
pode responder quando tem como certo que essa liberdade
pregada é um sonho. Mas, quando a insatisfação de
alguém por causa do estado que se encontra gera um
anseio por algo melhor, então o coração é aberto para
receber a mensagem.

Agora vem o segundo passo. Quando a mente da


pessoa é direcionada ao sentido literal dos termos da Nova
Aliança com suas promessas de purificação do pecado, de
um coração cheio de reverência pela lei de Deus, e de
poder para guardar os mandamentos de Deus e para nunca
se afastar d’Ele, o anseio começa a crescer e a tornar-se
esperança. Quando os olhos do crente são fixados em
Jesus, o Fiador da Aliança, que vai, ele próprio, tornar tudo
isso real – e quando é ouvida a voz de testemunhas que
podem declarar como, após anos de escravidão, tudo isso
foi realizado nelas – então é feita a pergunta sobre o que é
necessário para entrar nessa vida bendita.

Então segue o terceiro passo. Vem a questão que


sonda os nossos corações sobre estarmos ou não dispostos
a desistir de todo mau hábito, de toda nossa vontade
própria, de tudo que é do espírito do mundo, e nos render
total e exclusivamente a Jesus. Deus não pode tomar posse
totalmente de uma pessoa, e abençoá-la maravilhosamente
e operar nela poderosamente, até que Ele a tenha
completa e plenamente pra Si mesmo. Feliz é o cristão que
está pronto para qualquer sacrifício.

Agora vem o último, o mais simples, e ainda assim o


mais difícil passo. E é a necessidade da pessoa conhecer a
Jesus como Mediador da Aliança. Quando ouvimos sobre a
vida de santidade e vitória sobre o pecado que a Aliança
promete, e ouvimos que ela será nossa de acordo com
nossa fé – que se a reivindicarmos por fé ela certamente
será nossa – o coração freqüentemente fracassa por causa
do medo. Eu estou disposto, mas será que eu tenho o poder
de me render plenamente e de me manter nessa rendição?
Será que eu o tenho poder, a fé forte, para agarrar e
segurar essa benção oferecida para que ela se torne e
continue a ser minha? Como tais perguntas deixam a alma
perplexa – até que ela encontra a resposta para elas em
uma palavra: Jesus! É Ele quem vai derramar o poder para
nos rendermos e crermos.

Leitor, isso é tão certa e exclusivamente uma obra de


Cristo quanto a expiação e a contínua intercessão são d’Ele
somente. Assim como foram obras d’Ele o vencer e o
ascender ao trono, é obra d’Ele provar Seu domínio na
alma do indivíduo. É Ele, Aquele que Vive, que tem o poder
divino para operar e manter a vida de comunhão e vitória
em nós. Ele é o Mediador e o Fiador da Aliança – Ele, o
Deus-homem, que se encarrega não só do que Deus requer,
mas também de tudo que nós precisamos.

Quando isso é visto, o crente entende que nessa


questão, assim como na conversão, tudo é pela fé. O que é
necessário agora é dar as costas ao ego e qualquer coisa
que ele possa ou precise fazer – abandonar o ego e cair nos
braços de Jesus. Ele é o Mediador da Nova Aliança: é
privilégio e dever d’Ele nos levar para dentro dela. Na
certeza de que Jesus e cada benção da Nova Aliança já nos
pertence em virtude de sermos filhos de Deus, e agora,
com o desejo de apropriar-se e desfrutar o que até agora
permitimos ficar inutilizado, vamos nos render. Vamos
reivindicar e aceitar nossa herança como algo que
possuímos no presente. Eu rogo a você: ouse
intrepidamente tomar a dádiva celestial – uma vida em
Cristo conforme superiores promessas. Pela fé, receba a
Jesus como seu pessoal Mediador da Nova Aliança, um que
a ministra tanto no céu quanto no seu coração. Ele é o
Mediador que torna efetiva a Aliança entre o Pai e você.

O medo que algumas vezes expressamos é de que, se


enfatizarmos demais a obra que Cristo faz no coração do
crente, nós acabemos sendo afastados de confiar no que
Ele fez uma vez na cruz. A resposta é simples. É apenas
com o coração que Cristo pode ser verdadeiramente
conhecido ou honrado. É no coração que a obra da graça
deve ser feita e que o poder salvador de Cristo deve ser
mostrado. É primeiramente no coração que o Espírito
Santo tem Sua esfera de operação. Ele deve operar a
semelhança de Cristo no coração; é no coração que Ele
pode melhor glorificar a Cristo. O Espírito pode glorificar a
Cristo diariamente através de revelar o Seu poder salvador
em nós.

Se estivéssemos falando do que nós devemos fazer


para limpar nosso coração e mantê-lo correto, então o
medo seria bem fundamentado. Mas a Nova Aliança nos
chama para fazer exatamente o oposto. O que ela nos diz
sobre a expiação e a justiça de Deus que Jesus conquistou
por nós será nossa única glória mesmo quando estivermos
no meio da mais alta santidade do céu. A obra de Cristo de
santificação do coração aprofunda mais a consciência da
Sua justiça como sendo nossa única súplica. A obra
santificadora do Espírito, assim como o cumprimento das
promessas da Nova Aliança, é simplesmente Ele tomando
as coisas de Cristo e as revelando e as concedendo a nós.
Quanto mais profunda for a nossa entrada nessa dádiva da
Nova Aliança que é um novo coração, mais pleno será
nosso conhecimento e nosso amor por Aquele que é o
Mediador. A Aliança lida com o coração – que Cristo habite
lá por fé. Quando olhamos para o coração – não à luz de
sentimento ou experiência, mas à luz da fé na Aliança de
Deus – nós iremos entender, assim como Deus entende, que
lá Cristo se manifesta e que lá Ele e o Pai fazem sua
morada.

Nota Adicional

Cânone Battersby

Eu duvido que consiga encontrar um caso que melhor


ilustre o lugar que Cristo, o Mediador da Aliança, toma em
nos levar à plena benção desta do que o caso do fundador
da Convenção de Keswick, o antigo Cânone Battersby.
Foi na convenção de Oxford em 1873 que ele deu
testemunho sobre ter “recebido uma nova e distinta
benção a qual antes me era desconhecida”. Por mais de 25
anos ele foi muito diligente como um ministro do
evangelho, e, ao que parece pelos seus diários, muito fiel
em buscar manter uma caminhada próxima a Deus. Mas
ele era sempre perturbado com a consciência de ser
vencido pelo pecado. Já em 1853 ele havia escrito:
“Novamente eu sinto o quão longe estou de habitualmente
desfrutar a paz, o amor e a alegria que Cristo promete. Eu
tenho que confessar que ainda não os tenho, e que o
temperamento rude e nada cristão constantemente luta
dentro de mim para tomar o controle”. Quando em 1873
ele lê o que estava sendo publicado sobre a “vida
superior”, o efeito foi ser levado à total insatisfação
consigo mesmo e com seu estado. Certamente havia
dificuldades nesse ensino que ele não entendia
completamente, mas ele sentia que ou buscava coisas
superiores – nada menos que a redenção de todas as
iniqüidades – ou cairia mais e mais no mundanismo e no
pecado.

Em Oxford ele ouviu uma mensagem sobre “o


descanso da fé”. Isso abriu seus olhos para a verdade de
que um crente que realmente anseia por libertação do
pecar deve simplesmente crer na promessa de Cristo e,
independente de sentimento, confiar n’Ele para fazer Sua
obra de purificação e sustentação da alma. “Eu pensei na
suficiência de Jesus, e disse, ‘eu vou descansar n’Ele’; e eu
realmente descansei n’Ele. Eu tive medo de que fosse uma
emoção passageira; mas eu descobri que a presença de
Jesus foi graciosamente manifestada a mim de uma forma
que eu não conhecia antes, e descobri que eu realmente
permanecia n’Ele. Eu não quero descansar nessas
emoções, mas apenas em crer e me agarrar em Cristo
como o meu tudo”. Ele era um homem de uma natureza
muito reservada mas sentiu como encargo, antes do final
da conferência, confessar publicamente sua deficiência
passada e testificar abertamente sua entrada em uma nova
e definitiva experiência.

Em um escrito não muito tempo depois disso, ele


apontou quais os passos que levam a essa experiência.
Primeiro, deve haver uma visão clara das possibilidades de
conquistas cristãs: uma vida, em palavra e ação,
habitualmente governada pelo Espírito, em constante
comunhão com Deus e de contínua vitória sobre o pecado
através do permanecer em Cristo. Então, deve vir em
seguida uma deliberada disposição da vontade por uma
plena renúncia de todos os ídolos da carne ou do espírito e
uma rendição da vontade a Cristo. E então vem este último
e importante passo: Devemos olhar para o alto e esperar
no nosso ascenso Senhor para nos capacitar em todas as
nossas necessidades para fazermos isso.

Um exame cuidadoso desta curta afirmação provará


como tudo é centrado em Cristo. A rendição para uma vida
de contínua comunhão e vitória deve ser a Cristo. A força
para essa vida deve estar n’Ele e vir d’Ele, pela fé n’Ele. E
o poder para se render plenamente e descansar n’Ele deve
ser esperado de vir apenas d’Ele.

Em junho de 1875, aconteceu a primeira Convenção


de Keswick. No cartaz que a anunciava, lia-se: “Muitas em
pessoas em muitos lugares estão ansiando serem trazidas
para um maior desfrute da presença divina nas suas vidas
diárias, e uma manifestação mais plena do poder do
Espírito Santo, seja subjugando as paixões da carne ou os
capacitando a oferecer serviço mais efetivo a Deus. É
certamente a vontade de Deus que Seus filhos sejam
saciados nesses anseios; e há aqueles que podem testificar
que Ele pode saciá-los, e que os sacia com frescas e diárias
manifestações da Sua graça e poder”. Os resultados da
primeira Convenção foram muito abençoados, e após seu
encerramento ele escreve: “Há uma notável semelhança
nos testemunhos que até agora recebi em relação à
natureza da benção obtida, ... a habilitação dada para se
render plenamente ao Senhor e a conseqüente experiência
de uma paz permanente, excede em muito qualquer coisa
previamente experimentada”. Entre todos, o principal
pensamento era Cristo, primeiro atraindo e capacitando a
alma a descansar n’Ele e então indo ao encontro dela com
a realização do seu desejo, a experiência permanente do
Seu poder para mantê-la em vitória sobre o pecado e em
comunhão com Deus.

E qual foi o fruto desta nova experiência? Oito anos


depois, Cânone Battersby disse: “Faz oito anos desde que
conheci essa benção como minha. Eu não posso dizer que
nunca, nem por um momento, parei de confiar no Senhor
para me sustentar. Mas posso dizer que enquanto confiei
n’Ele, Ele me sustentou; Ele tem sido fiel”.

CAPÍTULO 11

JESUS, O FIADOR DE UMA SUPERIOR ALIANÇA


“E, visto que não é sem prestar juramento... por isso
mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliança...
Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se
chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.”
Hb 7:20,22,25

Um abonador ou fiador é aquele se coloca como


legalmente responsável por outro, prometendo que um
certo encargo será fielmente cumprido. Jesus é o Fiador da
Nova Aliança. Ele nos provê a segurança de que a parte de
Deus na Aliança será fielmente cumprida. E Ele provê para
Deus a segurança de que a nossa parte será fielmente
cumprida também. Para vivermos em aliança com Deus,
tudo depende de sabermos o que Jesus assegura para nós.
Quanto mais O conhecemos e confiamos n’Ele, mais nossa
fé estará assegurada de que cada promessa e exigência da
Aliança será cumprida. Nós podemos conhecer que uma
vida que fielmente guarda a superior Aliança de Deus é, de
fato, possível, porque Jesus é o Fiador desta Aliança. Ele
torna a fidelidade de Deus e a nossa igualmente certas.

Nós lemos que foi por causa de Seu sacerdócio ser


confirmado pelo juramento de Deus que Ele se tornou a
segurança ou garantia dessa superior Aliança. O juramento
de Deus nos dá a total certeza de que o Seu “assegurar” é
que garante todas as superiores promessas. O significado e
o infinito valor do juramento de Deus é explicado no
capítulo anterior desta epístola: “Pois os homens juram
pelo que lhes é superior, e o juramento, servindo de
garantia, para eles, é o fim de toda contenda. Por isso,
Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros
da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs
com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis,
nas quais é impossível que Deus minta, forte alento
tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de
lançar mão da esperança proposta” (Hb 6:16-18). O que
temos, então, é não apenas uma Aliança com algumas
promessas definidas com relação à obra de Cristo, mas
temos o Deus vivo vindo com um juramento. Por mais difícil
e impressionante que possa parecer, podemos começar a
ver que a única coisa que Deus tem como alvo na Sua
Aliança, e que Ele veementemente pede, é a nossa absoluta
confiança de que Ele fará tudo o que Ele prometeu? Seu
juramento é um fim para todo medo ou dúvida.
Aproximemo-nos de Deus com uma fé como a de Abraão, a
qual glorifica a Ele – uma fé totalmente segura de que Ele
é capaz de cumprir tudo o que prometeu. A Aliança é um
mistério selado, exceto para quem pretende confiar em
Deus e se entregar à Sua Palavra e obra, sem reservas.

Sobre a obra de Cristo como o Fiador de uma superior


Aliança, a passagem com a qual iniciamos nos diz que
através deste sacerdócio confirmado por juramento Ele é
capaz de salvar total e eternamente (a palavra panteles –
“perfeitamente” – inclui essas duas ideias) aqueles que,
através Dele, se chegam a Deus.
CAPÍTULO 12

O Livro da Aliança

“E tomou o livro da aliança e o leu aos ouvidos do


povo, e eles disseram: Tudo o que o Senhor tem falado
faremos, e obedeceremos! Então, tomou Moisés aquele
sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o
sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de
todas estas palavras.” – Ex. 24: 7-8; compare com Hb. 9:
18-20.

Aqui temos um novo aspecto relativo ao bendito Livro


de Deus. Antes de Moisés aspergir o sangue, ele leu o Livro
da Aliança e obteve a aceitação do Livro pelo povo. E
quando o aspergiu, ele disse, “Eis aqui o sangue da aliança
que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas
palavras”. O Livro continha todas as condições da Aliança;
apenas através do Livro é que eles poderiam saber tudo
que Deus pedia deles e tudo que eles poderiam pedir de
Deus. Vamos considerar qual nova luz pode ser lançada
tanto sobre a Aliança quanto sobre o Livro pelo
pensamento de que a Bíblia é o Livro da Aliança.

O primeiro pensamento que é sugerido é o de que o


espírito da nossa vida e experiência, enquanto vive ou na
Velha ou na Nova Aliança, em nada será mais manifesto do
que no nosso lidar com o Livro. A Velha tinha um livro
assim como a Nova tem. Nossa Bíblia contém ambos. A
Nova estava contida na Velha; a Velha é exposta na Nova. É
possível ler a Velha no espírito da Nova; é possível ler tanto
a Nova quanto a Velha no espírito da Velha.

Nós podemos ver esse espírito da Velha mais


claramente em Israel quando a Aliança foi feita. Juntos,
eles estavam prontos a prometer: “Tudo o que o Senhor
tem falado faremos, e obedeceremos!”. Havia um senso tão
pequeno da sua própria pecaminosidade, ou da santidade e
glória de Deus, que, com perfeita auto-confiança, eles se
consideraram capazes de se encarregarem de manter a
Aliança. Eles entenderam muito pouco do significado
daquele sangue com o qual eles foram aspergidos e da
morte e da redenção dos quais esse sangue era símbolo.
Na sua própria força, no poder da carne, eles estavam
prontos para se engajar no serviço de Deus. Com este
mesmo espírito é que muitos cristãos julgam a Bíblia –
como um sistema de leis, um curso de instruções para nos
dirigir no caminho que Deus quer que nós sigamos. Tudo
que Ele pede de nós, eles crêem, é que nós temos que fazer
o nosso melhor para procurar cumprir os Seus preceitos.
Eles estão sinceramente prontos para fazer isso. Eles
conhecem pouco ou nada sobre o significado da morte
através da qual a Aliança é estabelecida, ou sobre a vida
resultante da morte, unicamente através da qual um
homem pode andar em aliança com o Deus do céu.

Este espírito de auto-confiança em Israel é explicado


pelo que tinha acabado de acontecer anteriormente.
Quando Deus desceu no monte Sinai no meio de trovões e
relâmpagos para dar a lei, eles estavam com muito medo.
Eles disseram a Moisés: “Fala-nos tu, e te ouviremos;
porém não fale Deus conosco, para que não morramos”
(Ex. 20:19). Eles pensaram ser simplesmente uma questão
de ouvir e conhecer – certamente eles poderiam obedecer.
Eles não entenderam que é apenas a presença, e o temor, e
a proximidade, e o poder de Deus nos humilhando que
pode vencer o poder do pecado e dar o poder para
obedecer. É tão mais fácil receber a instrução de um
homem e viver do que esperar e ouvir a voz de Deus e
morrer para toda nossa própria força e bondade.

Semelhantemente, muitos cristãos tentam servir a


Deus sem nunca buscar viver em contato diário com Ele, e
sem a fé de que é apenas a Sua presença que pode nos
impedir de pecar. A religião deles consiste em uma
instrução externa de um homem; o esperar ouvir a voz de
Deus para que eles possam obedecê-lO, juntamente com a
morte para a carne e para o mundo que vem de um
caminhar próximo com Deus – estes são desconhecidos.
Eles podem ser fiéis e diligentes no seu estudo da Bíblia,
em ler ou ouvir ensinamento bíblico; mas ter, o tanto
quanto for possível, dessa comunhão com o próprio Deus
da Aliança que torna a vida cristã possível – isso eles não
buscam.

Se você quer ser liberto de tudo isso, aprenda a


sempre ler o Livro da Nova Aliança no espírito da Nova
Aliança. Um dos primeiros artigos da Nova Aliança se
refere a esta questão. Quando Deus diz: “Na mente, lhes
imprimirei as minhas leis, também no coração lhas
inscreverei”, Sua intenção é de que as palavras do Seu
Santo Livro não sejam mais meramente um ensinamento
externo, mas que elas governem nossa disposição e deleite,
escritas em nós como um nascimento e uma vida pelo
Espírito Santo. Cada palavra da Nova Aliança, então, se
torna uma divina segurança do que pode ser obtido pelo
trabalhar do Espírito Santo. A pessoa aprende a ver que a
lei escrita traz morte, que a carne para nada se aproveita.
O estudo e o conhecimento das palavras e pensamentos da
Bíblia não podem ser aproveitados, a menos que haja uma
espera no Espírito Santo para que Ele os transforme em
vida. A aceitação da Escritura Sagrada como um livro de
regras e o recebimento destas através de mero
entendimento humano provará ser tão infrutífero quanto a
resposta de Israel no Sinai. Mas quando a Palavra de Deus
é falada pelo Deus vivo dentro de um coração que espera
Nele, ela se torna viva e poderosa. Então, ela se torna uma
palavra que opera efetivamente naqueles que crêem,
dando, dentro do coração, a verdadeira posse da graça da
qual a Palavra fala.
A Nova Aliança é um ministério do Espírito (veja o
capítulo 7). Todo o seu ensinamento deve ser ensinamento
vindo do Espírito Santo. Os dois capítulos mais memoráveis
da Bíblia sobre a pregação do Evangelho são aqueles nos
quais Paulo expõe o segredo do seu ensinamento (1 Co. 2;
2 Co. 3). Todo ministro deve buscar ver se está adequado
quando examinado por eles. Eles nos dizem que, na Nova
Aliança, o Espírito Santo é tudo. É unicamente o Espírito
Santo entrando no coração, inscrevendo, revelando, dando
as impressões da lei e da verdade de Deus, que pode
operar verdadeira obediência. Nenhuma eloqüência ou
sabedoria humana pode ser nem minimamente
aproveitada; Deus deve revelar, pelo Seu Espírito Santo,
tanto ao pregador quanto ao ouvinte as coisas que Ele
preparou para nós. O que é verdade paro o pregador é
igualmente verdade para o ouvinte. Uma das razões
primárias por que muitos cristãos nunca saem da Velha
Aliança – nunca sequer percebem que estão nela – é que há
muito conhecimento intelectual e nenhuma espera pelo
poder do Espírito no coração. É apenas quando
pregadores, ouvintes e leitores crêem que o Livro da Nova
Aliança precisa do Autor da Nova Aliança para explicá-lo e
aplicá-lo, que a Palavra de Deus pode fazer sua obra.

Aprenda a dupla lição. O que Deus uniu, não separe o


homem. A Bíblia é o Livro da Nova Aliança. E o Espírito
Santo é o único intérprete do que pertence à Aliança. Não
espere entender ou beneficiar-se do conhecimento bíblico
sem continuamente buscar o guiar do Espírito Santo. Tome
cuidado para que o seu zeloso estudo bíblico, seus
excelentes livros, ou seus amados mestres não tomem o
lugar do Espírito Santo! Ore diariamente, e
perseverantemente, e acreditadamente pelo Seu ensino.
Ele inscreverá a Palavra no seu coração.

A Bíblia é o Livro da Nova Aliança. Peça ao Espírito


Santo especialmente para revelar a você a Nova Aliança na
Bíblia. É inconcebível o tamanho da perda que a Igreja de
nossos dias está sofrendo porque tão poucos crentes
realmente vivem como herdeiros da Nova Aliança, no
verdadeiro conhecimento e desfrute de suas promessas.
Em humilde fé, peça a Deus para te dar, durante toda sua
leitura da Bíblia, o espírito de sabedoria e revelação,
iluminando os olhos do seu coração para saber quais as
promessas que a Aliança revela. Há divina segurança em
Jesus, a pedra angular da Aliança, e cada promessa será
cumprida em você com divino poder. O ministério do
Espírito, humildemente esperado e ouvido, fará o Livro da
Aliança brilhar com nova luz – a luz da face de Deus e de
uma salvação plena.

É muito possível que você ainda não tenha


contemplado a Nova Aliança como um todo, de uma forma
que compele aceitação. Ouça novamente o que ela
realmente é. Verdadeira obediência e comunhão com Deus
– para a qual o homem foi criado, a qual o pecado quebrou,
a qual a lei demandava mas não podia operar, a qual o
próprio Filho de Deus desceu do céu para restaurar em
nossas vidas – foi agora colocada ao nosso alcance e
oferecida a nós. Nosso Pai nos diz no Livro da Nova Aliança
que Ele agora espera que nós vivamos em plena e
ininterrupta obediência e comunhão com Ele. Ele nos diz
que pelo imenso poder de Seu Filho e Espírito, Ele próprio
operará isso em nós; tudo foi preparado para isso. Ele nos
diz que tal vida de obediência ininterrupta é possível
porque Cristo, como o Mediador, viverá em nós e nos
capacitará em cada momento a viver Nele. Ele nos diz que
tudo que Ele quer é simplesmente nossa rendição em fé,
que nós nos entreguemos a Ele e a Sua obra. Oh, olhemos
e vejamos esta santa vida, com todos os seus poderes e
bênçãos, descendo de Deus no céu, no Filho e no Seu
Espírito! Creiamos que o Espírito Santo pode nos capacitar
a ver e a aceitar essa vida como uma dádiva preparada,
para ser derramada com vivo poder e tomar posse de nós.
Olhemos para cima e para dentro, com fé no Filho e no
Espírito, e Deus nos mostrará não apenas que cada palavra
escrita no Livro da Aliança é verdadeira, mas também que
pode ser feita espírito e verdade dentro de nós em nossa
vida diária. De fato, isso pode ocorrer!
CAPÍTULO 13

Obediência da Nova Aliança

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e


guardardes a minha aliança, então, sereis a minha
propriedade peculiar dentre todos os povos... vós me sereis
reino de sacerdotes e nação santa” – Ex. 19:5-6

“O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o


coração de tua descendência, para amares o Senhor, teu
Deus, de todo o coração e de toda a tua alma... de novo,
pois, darás ouvidos à voz do Senhor; cumprirás todos os
seus mandamentos que hoje te ordeno.” – Dt.30:6, 8.

“Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis


nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os
observeis.” – Ez. 36:27.

Ao firmar a Nova Aliança, Deus disse muito


definitivamente: “Não conforme a aliança que fiz com seus
pais” (Jr. 31:32). Nós aprendemos qual era o problema que
havia naquela Aliança: tornou o favor de Deus dependente
da obediência do povo. “Se obedecerdes, Eu serei vosso
Deus”. Nós aprendemos como a Nova Aliança remediou o
defeito: O próprio Deus proporciona a obediência. Isso
muda o “Se cumprirdes Meus mandamentos” para “Porei
dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus
estatutos”. Ao invés da Aliança e do seu cumprimento
dependerem da obediência do homem, Deus se encarrega
de assegurar a obediência. A Velha Aliança provou a
necessidade e apontou o caminho da santidade; a Nova
inspira o amor e dá o poder para a santidade.

Em conexão com esta mudança, um sério e muito


perigoso engano é freqüentemente cometido. Porque na
Nova Aliança a obediência não ocupa mais o lugar que
ocupava na Velha, como sendo a condição da Aliança, e a
livre graça tomou seu lugar - justificando os ímpios e
derramando dádivas aos rebeldes – muitos têm a
impressão de que a obediência não é mais tão importante
quanto era. Esse erro é terrível. Toda a Velha Aliança
deveria ensinar a lição da absoluta e indispensável
necessidade de obediência para uma vida sob o favor de
Deus. A Nova Aliança não vem para proporcionar um
substituto para esta obediência, mas, através da fé,
assegurar a obediência, por dar um coração que se
regozija nela e tem o poder para praticá-la. E os homens
abusam da livre graça quando se contentam com a graça
sem a obediência para a qual ela é dada. Eles se orgulham
dos maiores privilégios da Nova Aliança enquanto sua
principal benção, o poder de uma vida santa, um coração
que se regozija na lei de Deus e é capacitado pelo Seu
Espírito que nele habita, é negligenciada. Se há uma coisa
que precisamos entender, é o lugar que a obediência tem
na Nova Aliança.

Que o nosso primeiro pensamento seja: Obediência é


essencial. Na própria raiz do relacionamento entre o
homem e Deus, e de Deus aceitando o homem na Sua
comunhão, há o pensamento de obediência. É sobre ela
que Deus falou no Paraíso quando “o Senhor Deus ordenou
ao homem” que não comesse do fruto proibido. Na grande
salvação de Cristo, ela é o poder que nos redimiu: “por
meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”
(Rm. 5:19). Entre as promessas da Nova Aliança, ela toma
o primeiro lugar: Deus intenta circuncidar os corações do
Seu povo – na remoção do corpo da carne pela circuncisão
de Cristo – para amarem a Deus de todo o seu coração e
obedecerem aos Seus mandamentos. O dom mais elevado
da exaltação de Cristo foi o Espírito Santo, enviado para
trazer a salvação para nós como uma realidade interior. A
primeira Aliança exigia obediência e falhou porque não
pode encontrá-la. A Nova Aliança foi expressamente feita
para proporcionar obediência. Para viver na plena
experiência da benção da Nova Aliança, obediência é
essencial.

É essa indispensável necessidade de obediência que


explica porque muitas vezes a entrada no pleno desfrute da
Nova Aliança dependeu de um único ato de rendição. Havia
algo na vida, algum mal ou duvidoso hábito, sobre o qual a
consciência freqüentemente disse que não estava de
acordo com a perfeita vontade de Deus. Tentativas de
abafar essa problemática sugestão foram feitas. Ou a
descrença disse que seria impossível vencer esse hábito e
manter uma promessa de obediência à voz interior.
Enquanto isso, todas as nossas orações parecem não ter
proveito. Era como se a fé não conseguisse se apossar da
benção que estava em plena vista – até que, finalmente, a
alma concordou em tomar essa coisinha como sendo o
teste para sua rendição de obedecer em tudo e a prova de
sua fé que, em tudo, o Fiador da Aliança daria poder para
manter a obediência. Com essa coisa má ou duvidosa
abandonada, com uma boa consciência restaurada e a
confiança do coração perante Deus assegurada, a alma
pode receber e possuir o que ela procurava. Obediência é
essencial.

A obediência é possível. O pensamento de uma


demanda que o homem não pode suprir corta a verdadeira
esperança e força pela raiz. O pensamento secreto:
“Nenhum homem pode obedecer a Deus”, lança milhares
de volta para a vida da Velha Aliança e para uma falsa paz
– que Deus não espera mais do que fazermos nosso melhor.
A obediência é possível: toda a Nova Aliança promete e
assegura isso.

Apenas entenda corretamente o que significa


obediência. O homem renovado ainda tem a carne, com sua
natureza caída, da qual emergem involuntários maus
pensamentos e disposições. Esses podem ser encontrados
em um homem verdadeiramente obediente. A obediência
tem a ver com o fazer do que se sabe ser a vontade Deus,
que é ensinada pela Palavra, pelo Espírito Santo e pela
consciência. Quando George Müller falou da grande
felicidade que ele teve por mais de 60 anos no serviço de
Deus, ele a atribuiu a duas coisas: ele amou a Palavra de
Deus e “ele manteve uma boa consciência, não indo
obstinadamente em uma direção que ele sabia ser
contrária à mente de Deus”. Quando a plena luz de Deus
alcançou Gerhard Tersteegen, ele escreveu: “Eu prometo,
com Tua ajuda e poder, preferir abandonar minha última
gota de sangue do que consciente e voluntariamente ser,
no meu coração ou na minha vida, falso e desobediente a
Ti”. Tal obediência é um grau atingível de graça.

Sim, a obediência é possível. Quando a lei é escrita no


coração; quando o coração é circuncidado para amar ao
Senhor e obedecê-lO; quando o amor de Deus é derramado
no coração – isso significa que o amor da lei de Deus e o
amor Dele mesmo, agora se tornou o poder que move
nossa vida. Esse amor não é um sentimento vago na
imaginação do homem de algo que existe no céu, mas é um
vivo e grande poder de Deus no coração, agindo
efetivamente, de acordo com Sua obra. Uma vida de
obediência é possível.

Essa obediência é pela fé. “Pela fé, Abraão obedeceu”


(Hb. 11:8). Pela fé, as promessas da Aliança, a presença do
Fiador da Aliança, o secreto operar interior do Espírito
Santo, e o amor de Deus em Seu infinito desejo e poder de
tornar verdadeiro em nós todo Seu amor e Suas
promessas, devem viver em nós. A fé pode aproximar-nos
destas coisas e nos fazer viver no meio delas. Cristo e Sua
maravilhosa redenção não precisam permanecer distantes
de nós, no céu, mas podem se tornar nossa experiência
contínua! Não importa o quão frios ou fracos nos sintamos,
a fé sabe que o novo coração está em nós, que o amor da
lei de Deus é a nossa própria natureza, que o ensino e o
poder do Espírito estão dentro de nós. Tal fé sabe que pode
obedecer. Vamos ouvir a voz de nosso Salvador, o Fiador da
Aliança, quando ele diz, com um mais profundo e mais
pleno significado do que quando Ele estava na Terra: “Se
podes! Tudo é possível ao que crê.”

E, por último, vamos entender: Obediência é bem-


aventurança. Não a tenha apenas como o caminho para o
gozo e para as bênçãos da Nova Aliança, mas ela mesma,
na sua própria natureza, é gozo e felicidade. Ter a voz de
Deus o ensinando e guiando, estar unido a Deus, desejando
o que Ele deseja, fazendo o que Ele mesmo opera em você
pelo Seu Espírito, cumprindo Sua santa vontade e O
agradando – certamente, tudo isso é alegria inexprimível e
cheia de glória!

Para um homem saudável, é um prazer andar e


trabalhar, usar a sua força e vencer dificuldades. Para um
escravo ou mercenário, é sujeição e cansaço. A Velha
Aliança requeria obediência com um implacável “devo” e
brandia a ameaça que a seguia. A Nova Aliança muda o
“devo” para o “posso”. Com confiança, peça a Deus para
mostrar a você, pelo Seu Espírito Santo, como “fomos
criados em Cristo Jesus para boas obras”, e como, tão
adequada quanto a videira é para dar uvas, sua nova
natureza é perfeitamente preparada para toda boa obra.
Peça-O para mostrar a você que Ele deseja que a
obediência seja não apenas algo possível, mas a mais
prazerosa e atrativa dádiva que Ele tem para derramar – a
entrada no Seu amor e toda a sua bem-aventurança.
Na Nova Aliança, a principal benção não é o
maravilhoso tesouro da força e graça que ela contém, nem
a divina segurança de que esse tesouro jamais pode falhar,
mas que o Deus vivo dá-Se, e faz-Se conhecido, e toma
posse de nós como nosso Deus! Para isso o homem foi
criado, para isso ele foi redimido, para isso o Espírito
Santo foi dado e está habitando em nós. Entre o que Deus
já operou em nós e o que Ele espera operar, a obediência é
um bendito elo. Vamos buscar andar perante Ele com
confiança de que somos daqueles que vivem nessa nobre e
santa consciência: Minha única obra é obedecer a Deus.

Qual pode ser a razão, então, de tantos crentes terem


visto tão pouco da beleza dessa vida da Nova Aliança, com
o seu poder para uma santa e regozijante obediência?
Pense nos discípulos no caminho de Emaús: “Os seus olhos
estavam como que impedidos de reconhecer Jesus”. O
Senhor estava com os discípulos, mas os seus corações
estavam cegos. Ainda é assim. É muito parecido com o
servo de Elias: todo o céu está ao redor dele e ele não vê
nada. Nada irá ajudar, a não ser a oração: “Oh Senhor,
abra os seus olhos para que ele veja”. Senhor, não há
alguém que possa estar lendo isso, que precisa apenas de
um toque para enxergar tudo isso? Oh, dê esse toque!

Ouça, meu irmão. Seu Pai o ama com um amor infinito


e deseja tornar você, hoje mesmo, Seu santo, feliz e
obediente filho. Ele tem para você uma vida totalmente
diferente do que você tem vivido. É uma vida na qual Sua
graça, na verdade, operará em você, em todo momento,
tudo que Ele pede que você seja. Uma vida de obediência
como de criança, fazendo diariamente o que o Pai te
mostra ser a vontade Dele. Uma vida na qual o amor
permanente de seu Pai, e a presença permanente do seu
Salvador, e o gozo do Espírito Santo, podem mantê-lo e
fazê-lo feliz e forte.
Essa é a mensagem Dele. Essa vida é para você. Não
tenha medo de aceitar essa vida, de se entregar a ela e a
toda sua obediência. Em Cristo, ela é possível, certamente
que é!

Volte-se para o céu e peça ao Pai para mostrar a você


essa bendita vida espiritual. Peça e espere por isso.
Mantenha seus olhos fixos nisso. A grande benção da Nova
Aliança é a obediência; o maravilhoso poder para desejar e
fazer o que Deus deseja. De fato, ela é a entrada para
qualquer outra benção. É o Paraíso restaurado e o céu
aberto – a criatura honrando seu Criador, o Criador se
deleitando em Sua criatura; o filho glorificando o Pai, o Pai
glorificando o filho, enquanto Ele o muda de um grau de
glória a outro, até a semelhança de Seu Filho.

CAPÍTULO 14

A Nova Aliança: Uma Aliança de Graça

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois


não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” – Rm.
6:14.
As palavras “Aliança de graça”, apesar de não serem
encontradas nas Escrituras, são a expressão correta da
verdade que estas ensinam abundantemente: que o
contraste entre as duas Alianças não é diferente daquele
entre a lei e a graça. A graça é a grande característica da
Nova Aliança: “Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa;
mas onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm.
5:20). Foi para tirar totalmente os Romanos da vida
debaixo da Velha Aliança e para ensiná-los qual a posição
deles na Nova, que Paulo escreveu: “não estais debaixo da
lei, mas debaixo da graça”. E ele os assegura de que, se
crerem nisso, e viverem nessa realidade, a experiência
deles confirmaria a promessa de Deus: “o pecado não terá
domínio sobre vós”. O que a lei não podia fazer – dar
libertação do poder do pecado sobre nós – a graça
efetuaria. A Nova Aliança foi totalmente uma Aliança de
graça. Na maravilhosa graça de Deus foi onde teve sua
origem; ela foi planejada pra ser uma manifestação das
riquezas e da glória dessa graça. Como o resultado da
graça, e através do operar da graça em nós, todas as suas
promessas podem ser cumpridas e experimentadas.

A palavra graça é usada de duas formas.


Primeiramente, ela é a graciosa disposição em Deus que O
move a nos amar livremente, sem termos mérito nisso, e a
derramar todas as Suas bênçãos sobre nós. Então, ela
também significa o poder através do qual essa graça faz
sua obra em nós. A obra redentora de Cristo e a
justificação que Ele conquistou por nós, igualmente a obra
do Espírito em nós e o poder da nova vida que Ele traz, são
chamados de “graça”. Isso inclui tudo que Cristo fez e
ainda faz, tudo que Ele tem e dá, tudo que Ele é para nós e
em nós. João diz: “cheio de graça e de verdade, e vimos a
sua glória, glória como do unigênito do Pai”. “Porque a lei
foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade
vieram por meio de Jesus Cristo”. “Porque todos nós temos
recebido da sua plenitude e graça sobre graça”. O que a lei
demanda, a graça supre.
O contraste que João apontou é explicado por Paulo:
“Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa” e para
preparar o caminho para que a graça superabundasse. A
lei aponta o caminho, mas não dá a força para caminhar
nele. A lei demanda, mas não dá provisão para que suas
demandas sejam satisfeitas. A lei sobrecarrega, condena e
mata. Ela pode despertar desejo, mas não pode satisfazê-
lo. Ela pode incentivar o esforço, mas não pode assegurar o
sucesso. Ela pode apelar para as motivações, mas não dá
poder interior além daquele que o próprio homem possui.
E, então, enquanto lutando contra o pecado, ela se tornou
seu aliado, entregando o pecador a uma condenação sem
esperança. “a força do pecado é a lei” (1 Co. 15:56).

Para nos libertar da escravidão e do domínio do


pecado, a graça atingiu seu auge através de Cristo Jesus.
Esta obra é dupla. Sua enorme abundância é vista no livre
e total perdão que há para toda transgressão, no derramar
de uma perfeita justificação, e no fato de o cristão ser
aceito no favor e na amizade com Deus. “no qual temos a
redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados,
segundo a riqueza da sua graça” (Ef. 1:7). Não é apenas na
conversão e na admissão no favor de Deus, mas através de
toda a nossa vida, em cada passo do nosso caminho e no
meio das maiores realizações do mais maduro santo. Nós
devemos tudo à graça e a ela apenas. O pensamento de
mérito, trabalho e dignidade é completamente excluído.

A enorme abundância da graça é igualmente vista na


obra que o Espírito Santo mantém dentro de nós a todo
momento. Já descobrimos que a benção central da Nova
Aliança, que flui da redenção de Cristo e do perdão dos
nossos pecados, é o novo coração, no qual a lei de Deus, a
reverência e o amor foram colocados. É no cumprimento
dessa promessa, na manutenção do coração em um estado
de aptidão para a habitação de Deus, que a glória da graça
é especialmente vista. Normalmente é assim que deve ser.
Paulo escreve: “onde abundou o pecado, superabundou a
graça”. E onde, até onde eu sei, o pecado abundou? Todo o
pecado na Terra e no inferno não poderia me afetar se não
fosse a presença do pecado no meu coração. É lá que ele
exerceu seu terrível domínio. E é lá que a enorme
abundância de graça é provada como sendo beneficial para
mim. Toda a graça na Terra e no céu não poderia me
ajudar; é apenas no coração que ela pode ser recebida,
conhecida e desfrutada. “Onde abundou o pecado” – no
coração – ali “superabundou a graça, a fim de que, como o
pecado reinou pela morte”, operando sua destruição no
coração e na vida, “assim também reinasse a graça”,
também no coração, “pela justiça para a vida eterna,
mediante Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm. 5:21). Como foi
dito há pouco, “os que recebem a abundância da graça e o
dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a
saber, Jesus Cristo” (Rm. 5:17).

As Escrituras dizem coisas maravilhosas sobre esse


reinado da graça no coração. Paulo fala sobre a graça que
o tornou apto para sua obra, sobre “o dom da graça de
Deus a mim concedida segundo a força operante do seu
poder” (Ef. 3:7). “Transbordou, porém, a graça de nosso
Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus” (1 Tm.
1:14). “sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã;
antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não
eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co. 15:10). “Então, ele
me disse: A minha graça te basta, porque o poder se
aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co. 12:9).

Ela fala da mesma forma sobre a graça trabalhando


na vida dos crentes quando ele os exorta a “fortificarem-se
na graça que está em Cristo Jesus” (2 Tm. 2:1); quando ele
nos diz da “graça de Deus” m Coríntios; quando ele os
encoraja: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a
fim de que... superabundeis em toda boa obra” (2 Co. 9:8).
Graça não é apenas o poder que move o coração de Deus
na sua compaixão por nós quando Ele absolve o pecador e
o torna um filho, mas, igualmente, é o poder que move o
coração do santo e provê para ele, a cada momento, a
disposição e o poder que ele precisa para amar a Deus e
para fazer Sua vontade.

É impossível ser enfático o suficiente ao falar da


necessidade de conhecer que tão maravilhosa, gratuita e
suficiente quanto a graça que perdoa, é a graça que
santifica. Nó somos tão absolutamente dependentes da
primeira quanto somos da segunda. A graça que opera em
nós deve fazer tudo em nós e através de nós, assim como a
graça que perdoa faz tudo por nós. Tanto em um caso
quanto no outro, tudo é exclusivamente pela fé. Não
compreender isso traz um perigo duplo. Por um lado, as
pessoas pensam que a graça não pode ser mais exaltada do
que no derramar de perdão no vil e no indigno, e surge um
sentimento secreto de que, se Deus é tão magnificado
pelos nossos pecados, não devemos esperar sermos livres
deles nessa vida. Para muitos, isso corta a vida de
verdadeira santidade pela raiz. Por outro lado, por não
saberem que sempre e unicamente a graça deve fazer toda
a obra na nossa santificação e no nosso dar-frutos, homens
são levados a se apoiar em seus próprios esforços. Suas
vidas permanecem fracas e escravizadas à lei, e eles nunca
se rendem, permitindo que a graça faça tudo que ela
poderia fazer.

Vamos ouvir o que a Palavra de Deus diz: “Porque pela


graça sois salvos, mediante a fé... não de obras, para que
ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em
Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas” (Ef. 2:8-10). A graça
é contrastada com nossas próprias boas obras, não apenas
antes da conversão, mas depois. Nós somos criados em
Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para nós. É apenas a graça que pode operá-las
em nós e efetuá-las através de nós. Não apenas o início,
mas a continuação da vida cristã é obra da graça. “E, se é
pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já
não é graça” (Rm. 11:6). Quando vemos que a graça deve,
literal e absolutamente, fazer tudo em nós, para que todas
as nossas ações sejam uma demonstração da graça em nós,
então concordamos em viver a vida da fé – uma vida na
qual, a todo momento, tudo é esperado de Deus. É apenas
então que experimentaremos que o pecado, nunca, nem
por um momento, será mestre sobre nós.

“Pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da


graça”. Há três vidas possíveis: uma totalmente debaixo da
lei; uma totalmente debaixo da graça; e uma vida
misturada, parcialmente lei e parcialmente graça. É contra
essa última que Paulo alerta os romanos. É essa que é tão
comum e opera enorme ruína entre os cristãos. Vamos nos
perguntar se essa não é a nossa posição e a causa do nosso
estado deficiente. Vamos pedir a Deus para abrir nossos
olhos, para vermos que na Nova Aliança tudo – todo
momento, todo tempo de nossa vida cristã – deve ser por
graça – graça enormemente abundante e poderosamente
operante. Vamos crer que nosso Deus de Aliança espera
fazer com que toda a graça abunde sobre nós. E vamos
começar a viver a vida da fé que depende de Deus, confia
em Deus, olha para Deus e sempre espera em Deus,
através de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, para fazer em
nós aquilo que agradável aos Seus olhos.

Que a graça e a paz sejam de vocês na medida mais


plena.

CAPÍTULO 15

A Aliança de Sacerdócio Perpétuo

“Minha aliança com ele [Levi] foi de vida e de paz, e


eu lhas dei para que temesse; então temeu-me, e
assombrou-se por causa do meu nome. A lei da verdade
esteve na sua boca, e a iniqüidade não se achou nos seus
lábios; andou comigo em paz e em retidão, e da iniqüidade
converteu a muitos.” – Ml. 2:5-6.

O plano de Deus era que Israel fosse uma nação de


sacerdotes. Na primeira Aliança estabelecida, isso foi
muito distintamente estipulado: “Agora, pois, se
diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha
aliança, então... vós me sereis reino de sacerdotes” (Ex.
19:5-6). Eles deveriam ser os despenseiros da voz de Deus,
os canais através dos quais o conhecimento e a benção de
Deus deveriam ser comunicados ao mundo. Através deles,
todas as nações deveriam ser abençoadas.

No meio do povo de Israel, uma tribo foi


especialmente separada para incorporar e enfatizar a idéia
sacerdotal. Normalmente, todos os filhos primogênitos
seriam sacerdotes, mas, para assegurar uma separação
mais completa dos sacerdotes em relação ao resto do povo,
e para enfatizar a desistência de outras buscas, Deus
escolheu uma tribo para ser exclusivamente devotada à
obra de provar o que constitui o espírito e o poder do
sacerdócio. Assim como o sacerdócio de todo o povo era
parte da Aliança de Deus com eles, assim também o
chamado especial de Levi é referido como sendo a Aliança
de vida e paz de Deus. Isso era pra ser um quadro para
ajudar a eles e nós, em certa medida, a entender o
sacerdócio do Seu próprio Filho bendito, o Mediador da
Nova Aliança.

Assim como Israel, todo o povo de Deus sob a Nova


Aliança é um sacerdócio real. O direito de livre e pleno
acesso a Deus, o dever e o poder de mediarmos por nossos
semelhantes, e sermos o canal de benção de Deus para
eles, é o inalienável direito de nascença de todo crente. No
entanto, devido à fraqueza e a incapacidade de muitos dos
filhos de Deus, e a falta de conhecimento deles sobre a
poderosa graça da Nova Aliança, eles são totalmente
incapazes de tomar e exercitar suas funções sacerdotais.
Para remediar essa falta de serviço e para mostrar as
enormes riquezas de Sua graça na Nova Aliança, Deus
ainda permite e convida aqueles dos Seus redimidos que
estão dispostos a oferecer suas vidas a este bendito
ministério. Para aqueles que aceitam o chamado, a Nova
Aliança traz em medida especial o que Deus disse: “Minha
aliança com ele foi de vida e de paz”. Ela se torna para eles
realmente a “aliança do sacerdócio perpétuo” (Nm. 25:13).
Assim como a aliança do sacerdócio de Levi apontava para
e culminou no sacerdócio de Cristo, o nosso sacerdócio
aponta para o sacerdócio de Cristo novamente e recebe
dele sua benção para dispensar ao mundo.

Para aqueles que desejam conhecer as condições nas


quais, como parte da Nova Aliança, a Aliança de um
sacerdócio perpétuo pode ser recebida e conduzida, um
estudo das condições sob as quais Levi recebeu o
sacerdócio será muito instrutivo. Nos é dito não apenas
que Deus escolheu aquela tribo, mas também por que Ele o
fez. Malaquias diz: “então temeu-me, e assombrou-se por
causa do meu nome”. A referência é sobre o que ocorreu
no Sinai quando Israel havia feito o bezerro de ouro.
Moisés chamou todos que não haviam se afastado do
Senhor, que estavam prontos a vingarem a desonra feita a
Deus, para irem até ele. A tribo de Levi o fez e, sob o seu
comando, tomaram suas espadas e mataram três mil do
povo idólatra (Ex. 32:26-29). Na benção com a qual Moisés
abençoou as tribos antes de sua morte, a absoluta devoção
de Levi a Deus, desconsiderando parentes ou amigos, é
mencionada como prova de sua aptidão para o serviço a
Deus: “Dá, ó Deus, o teu Tumim e o teu Urim para o
homem, teu fidedigno... aquele que disse a seu pai e a sua
mãe: Nunca os vi; e não conheceu a seus irmãos e não
estimou a seus filhos, pois guardou a tua palavra e
observou a tua aliança” (Dt. 33:8-9).
O mesmo princípio é fortemente ilustrado na história
do neto de Arão, Finéias, na qual ele, no seu zelo pelo por
Deus, executou julgamento sobre a desobediência ao
mandamento de Deus. As palavras são muito sugestivas.
“Então o Senhor falou a Moisés, dizendo: Finéias, filho de
Eleazar, o filho de Arão, sacerdote, desviou a minha ira de
sobre os filhos de Israel, pois foi zeloso com o meu zelo no
meio deles; de modo que, no meu zelo, não consumi os
filhos de Israel. Portanto dize: Eis que lhe dou a minha
aliança de paz; e ele, e a sua descendência depois dele,
terá a aliança do sacerdócio perpétuo, porquanto teve zelo
pelo seu Deus, e fez expiação pelos filhos de Israel” (Nm.
25:10-13). Ser zeloso com o zelo de Deus, ser zeloso pela
honra de Deus e se levantar contra o pecado, é a porta
para a Aliança de sacerdócio perpétuo. É o segredo de ser
incumbido por Deus da sagrada obra de ensinar o Seu
povo, de queimar incenso diante Dele, e de converter a
muitos da injustiça. (Dt. 33:10; Ml. 2:6).

Mesmo a Nova Aliança corre o risco de ser usada para


a busca de nossa própria felicidade ou santidade mais do
que para a honra de Deus ou para a libertação dos homens.
Mesmo onde estas não são negligenciadas, elas nem
sempre têm o lugar que deveriam – aquele lugar de
primazia que torna tudo, mesmo o que temos de melhor e
de mais querido, secundário e subordinado à obra de
ajudar e abençoar os homens. Um despreocupado desprezo
de tudo que possa interferir com a vontade e os
mandamentos de Deus; ser zeloso juntamente com o zelo
de Deus contra o pecado; testemunhar e lutar contra ele a
qualquer custo – estes são requisitos na escola de
treinamento para o ofício sacerdotal.

É disso que o mundo precisa hoje: homens de Deus


nos quais a chama de Deus queima; homens que podem se
erguer, falar e agir poderosamente em nome de Deus, que
no meio do Seu próprio povo é desonrado pela adoração a
um bezerro de ouro. Olhe para a posição que foi dada para
o dinheiro e para as riquezas na igreja, olhe para a
prevalência do mundanismo e do luxo, ou o perigo sutil de
uma adoração endereçada para o Deus verdadeiro, mas
sob as formas vindas dos egípcios e adequadas para a
sabedoria e para a vida carnal mundanas. Uma forma
externa de religião que não pode ser aprovada por Deus é
freqüentemente encontrada até mesmo onde o povo ainda
professa estar em aliança com Deus. “Consagrai-vos, hoje,
ao Senhor; cada um contra o seu filho e contra o seu irmão,
para que ele vos conceda, hoje, bênção” (Ex 32:29). Esse
chamado de Moisés é tão necessário hoje quanto sempre o
foi. A todo aquele que responde há a recompensa do
sacerdócio.

Que todo que deseja conhecer completamente o que a


Nova Aliança significa se lembre da Aliança de vida e de
paz de Deus com Levi. Aceitar o santo chamado para ser
um intercessor envolve petição contínua e sacrifício
perante o Senhor. Ame, trabalhe, ore, e creia como um dos
quais Deus procurou e encontrou na fenda diante Dele. A
Nova Aliança foi estabelecida por um sacrifício e por uma
morte: considere isso como seu mais maravilhoso
privilégio, sua mais plena entrada numa vida cheia de
significado. Você é chamado para refletir a glória do
Senhor e para ser transformado na imagem Dele de glória
em glória, pelo Espírito do Senhor, permitindo que o
espírito do sacrifício e da morte de Cristo seja o poder que
move você em suas funções sacerdotais. Sacrifique-se –
viva e morra pelos seus semelhantes.

Um dos propósitos primários pelos quais o Senhor fez


uma Aliança conosco é, como tantas vezes dissemos,
despertar forte confiança Nele e na Sua fidelidade à Sua
promessa. E uma das formas que Ele nos usa para
despertar e, então, fortalecer a fé, é nos usando como Seus
canais de benção para o mundo. Na obra de salvar homens,
Ele deseja que a oração de intercessão tome o primeiro
lugar. Ele deseja que nós nos acheguemos a Ele para
receber Dele a vida e o poder espiritual que pode fluir de
nós para o mundo. Ele sabe quão difícil e desesperador é
lidar com pecadores, em muitos casos. Ele sabe que não é
algo pequeno para nós acreditarmos que, em resposta a
nossa oração, o enorme poder de Deus se moverá para
salvar aqueles ao nosso redor. Ele sabe que requer uma fé
forte para pacientemente perseverar em oração em casos
nos quais a resposta é muito demorada. E, então, Ele se
encarrega, através de experiências que Ele nos faz passar,
de manifestar e provar o que a fé no Seu divino poder pode
fazer ao trazer todas as bênçãos da Nova Aliança sobre nós
mesmos, para que, então, sejamos capazes de esperar
confiadamente no que pedimos pelos outros.

Na nossa vida sacerdotal, há ainda outro aspecto. Os


sacerdotes não recebiam herança como aquela dada a seus
irmãos; o Senhor Deus era a herança deles. Eles tinham
acesso ao Seu lugar de habitação e à Sua presença, para
que lá eles pudessem interceder e, então, testificar o que
Deus é e o que Ele deseja. Seus privilégios e experiências
pessoais os adequavam para sua obra. Para intercedermos
com poder, nós devemos viver na plena realização da vida
da Nova Aliança. Isso nos dá não apenas liberdade e
confiança em Deus e poder para perseverar, isso nos poder
em relação aos homens – porque podemos provar e
testificar o que Deus fez por nós. Aqui está a plena glória
da Nova Aliança: que, como Cristo, o Mediador dessa
Aliança, nós temos a chama do amor divino habitando em
nós e nos consumindo no serviço aos homens. Que cada um
de nós perceba que a principal glória da Nova Aliança é
que ela é a Aliança de um sacerdócio perpétuo.

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