Professional Documents
Culture Documents
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA E CULTURA
PROJETO DE PESQUISA
Salvador
1
2017
SARA ROGÉRIA SANTOS BARBOSA
Salvador
2017
2
SUMÁRIO
JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................... 6
OBJETIVOS ............................................................................................................................. 7
OBJETIVO GERAL............................................................................................................. 7
ORÇAMENTO ....................................................................................................................... 10
CRONOGRAMA .................................................................................................................... 11
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 13
3
Nesse aspecto, a canção se torna importante enquanto gênero textual: ela ultrapassa a
barreira do texto impresso, a voz do eu lírico encontra eco nas vozes dos ouvintes, se faz
materializar nas ruas, casas, ajuntamentos culturais e colabora na construção/invenção de uma
memória coletiva que provoca saudade de um tempo que não foi vivido pelo saudoso e ele se
vê positivamente representado. A construção/invenção dessa memória urge por locais de
história, por assim dizer, para que seja ativada e leve o sujeito à reflexão de seu passado. Para
Nora (1993, p. 18), a memória “obriga cada um a relembrar e a reencontrar o pertencimento,
princípio e segredo da identidade. Esse pertencimento, em troca, o engaja inteiramente”. Aqui,
narrativa e poesia presentes nas letras das canções cumprem papel intermediário pelo qual a
história será contada e a memória coletiva, então, ativada (BARBERO, 1997).
As canções cujas letras serão analisadas fazem parte do samba-reggae, ritmo da década
de 1980 que, cadenciada numa forma dançante, valorizava a cultura negra. Dentre as várias
produções daquela época, os dois primeiros LP da Banda Reflexus1, Reflexus da Mãe África
1
A Banda Reflexu´s tem a sua origem datada do ano de 1986 em Salvador-Bahia, no Bairro do Cabula, quando
ainda se chamava Raízes do Sol e formada por Marquinhos, Raí Amorim, Gilda, Julinho e Noy e, mais tarde,
Marinez. A Banda Reflexu´s alcançou o seu apogeu em 1987 com a seguinte formação: Marinez, Julinho,
Marquinhos, Ronaldo, Waschington, Ubirajara [Bira], Ednilson, Abílio, Wilson Pedro, primeiro na Bahia com a
música Guaratimbiriba e, depois, Alfabeto do negão. Seu sucesso maior veio com a música Madagáscar. Detentora
de cinco discos de ouro, três discos de platina duplos, quatro CD’s lançados no Brasil e no exterior, foi a 1ª banda
4
(1987) e Serpente Negra (1988), são o objeto elencado para este estudo por apresentarem
material suficiente para uma análise acerca da representação identitária étnico-cultural negra
em dissonância, como dito outrora, com a sua representação em alguns romances brasileiros.
Para fundamentar teoricamente essa linha de análise, convém entendermos que “possuir uma
identidade cultural nesse sentido é estar primordialmente em contato com um núcleo imutável
e atemporal, ligando ao passado o futuro e o presente numa linha ininterrupta”. (HALL, 2003,
p. 29).
baiana a apresentar-se no Canecão [Rio Janeiro], projetando-se no cenário nacional da música feita na Bahia,
abrindo as portas para outros artistas baianos. (OLIVEIRA, Glécia Carneiro, 2014, p. 117) Disponível em
http://aninter.com.br/Anais%20CONINTER%203/GT%2017/17.%20OLIVEIRA.pdf. Acesso em 28 de agosto de
2017.
5
Assim sendo, é totalmente aceitável trabalhar não só o referido gênero textual e sua
intertextualidade como também considerar os interdiscursos presentes no objeto estudado. À
luz de Hall (2003, p. 28), compreendemos que a identidade cultural apresenta “traços da
unidade essencial, unicidade primordial, indivisibilidade e mesmice” e que ela também,
presume-se, “seja fixada no nascimento, seja parte da natureza, impressa através do parentesco
e da linhagem dos genes, seja constituída de nosso eu mais interior”. Como discorrer acerca de
construção discursiva é também falar sobre cultura e ideologia, fazem parte da análise teóricos
dos Estudos Culturais, a exemplo de Bhabha (1998) e suas considerações sobre o local da
cultura e sua representação simbólica.
Além deles, serão utilizados ainda Souza (2002) e Eagleton (2005), teóricos que também
versam acerca da cultura e seu poder de despertar o sentimento de pertencimento; e Le Goff
(1992), Polak (1989) e Achugar (2006) darão suporte teórico para trabalhar a memória, sua
conservação e seu esquecimento. Apesar de o viés musical da canção não fazer parte
inicialmente deste estudo, caso haja necessidade de estabelecer uma análise que perpasse tal
área de conhecimento, alguns teóricos que têm no conjunto música e letra seu objeto de pesquisa
colaborarão na construção deste trabalho, uma vez que filiam à área também das letras tal
gênero e afirmam que, via de regra, a identificação começa pelo som. São eles: Wisnik (1982;
2004; 2014) e Tatit (2001; 2007; 2008), o qual desenvolveu um método de análise chamado
semiótica da canção utilizado neste estudo como procedimento metodológico pelo qual é
possível àqueles que detém também o conhecimento musical analisar a canção em suas duas
frentes: letra e música.
(1988), ambos da Banda Reflexus, nos anos oitenta do século XX? Quais mecanismos
narrativos, sonoros e performáticos são utilizados na construção desse discurso de valorização
identitária? As hipóteses surgidas a partir dessas reflexões baseiam-se na presença de uma
narrativa e discursividade que apontam para uma tradição étnica que valoriza o povo negro e
sua cultura. Dessa forma, acreditamos na existência de uma canção cuja letra apresenta-se como
espaço de representação de identidades étnicas negras. Tal valorização pauta-se na
religiosidade, narrativa histórica, liberdade das correntes subjetivas e concretas, valorização de
línguas africanas enquanto marcas de resistência e, vale muito considerar, a performance
enquanto transformação do corpo em voz.
JUSTIFICATIVA
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Analisar a representatividade do negro na música popular brasileira da segunda metade do
século XX, especificamente nas letras interpretadas pela Banda Reflexus nos álbuns Mãe África
(1987) e Serpente Negra (1988), a fim de estabelecer uma análise da construção das identidades
étnicas no gênero que é, sobretudo, poético: a letra da canção.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Discutir os conceitos de cultura, representação, identidade, diferença e etnicidade a fim de que
haja compreensão de como se dá essa representatividade nas letras das músicas objeto deste
estudo e quanto elas contribuem para as construções discursivas das identidades étnicas;
8
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
p. 16). Para tanto, serão considerados os níveis discursivo, narrativo e tensivo em conformidade
com os pressupostos semióticos sempre que a letra der margem para tal análise.
Diante do exposto quanto aos teóricos que fundamentarão esta pesquisa, desenvolver-
se-ão os seguintes procedimentos: discussão acerca dos principais conceitos que permearão a
feitura do trabalho, a exemplo de cultura, identidade, memória, história, representação,
reafricanização e canção. Para tanto, será feita a análise de tais conceitos à luz de teóricos dos
Estudos Culturais, a exemplo de Bhabha, Hobsbawn, Hall, Souza, dentre outros que certamente
darão suporte para melhor entendimento dos termos e sua aplicabilidade. Tal discussão
compreende parte importante do trabalho, uma vez que se constitui enquanto alicerce de
entendimento do que se pretende com o objeto: verificar a representatividade no negro na
canção.
Busca-se, então, a partir desses conceitos, apropriar-se do sentido do termo
reafricanização e ver, nessa representatividade, sua efetivação. Compreendemos que falar dessa
reafricanização requer falar em memória e história. Para isso, lançaremos mão também dos
pressupostos teóricos de Nora, Achugar, Pollak e Barbero, dentre outros. Perceba-se que no
procedimento metodológico fica evidente a escolha do método de análise, e também arcabouço
teórico, a literatura comprada, o método temático e a semiótica da canção, uma vez que será
necessário estabelecer comparações entre as letras das canções a fim de estabelecer uma
reconhecia temática e, por fim, organizar em categoria e proceder com a análise da
representatividade negra em suas linhas.
Após a discussão teórica, partimos para verificação de quais mecanismos foram
utilizados para representar discursivamente o negro. Será necessário perceber como a literatura
e a canção convergem na utilização desses expedientes, que vão desde a escolha de uma palavra
até o significado de um som enquanto marca identitária. Assim sendo, dialogar com autores que
versam acerca da música negra, desde o ritmo até a performance, passando pela construção de
letras que resgatam um passado histórico é condicionante para compreensão dessas escolhas.
Tinhorão, estudioso da música negra, é um teórico-chave que deve ser agregado aos Estudos
Culturais para a validação desse passo metodológico.
Vencidas essas duas etapas, resta-nos analisar comparativamente essas canções. Depois de
lidas, elas serão agrupadas levando em consideração a temática comum. Nesse aspecto, cabe à
literatura comparada, enquanto método de pesquisa e suporte teórico, fornecer lastro para o
estabelecimento da tematologia, método temático e mecanismos de análise. Inicialmente, serão
utilizados Carvalhal (2007), Brunel (1983) e Schmeling (1984). Para eles, a literatura
comparada é também um método de pesquisa e como tal apresenta certos parâmetros que devem
10
ORÇAMENTO
ORÇAMENTO
Material Quantidade Preço unitário Total
permanente
Notebook 1 3200,00 3200,00
Livros 25 50,00 1250,00
Impressora 1 800,00 800,00
Material de consumo
Fotocópia de textos 500,00 0,15 75,00
Cartucho boxe para 16 60,00 960,00
impressora
Resma 8 20 160,00
Eventos
Verba para diária 6 700,00 4200,00
(dois eventos por ano)
CRONOGRAMA
ANO 1 – 2018
ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Estudo de material teórico-crítico X X X X X X X X X X X X
Estabelecimento de mecanismos de análise X X
das letras das canções
Separação das canções levando em X X
consideração a presença de um discurso
representativo de negritude
Agrupamento das canções selecionadas em X X
conjuntos de tematologias identificados
Análise do corpus X X X X X X X X
Apresentação do Primeiro capítulo: X X X
Construção do arcabouço teórico e crítico
Apresentação de trabalhos em eventos da X X X X X
área e publicação de artigos
Qualificação X
ANO 2 – 2019
ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Estudo do material teórico-crítico X X X X X X X X X X X X
Análise do corpus X X X X X X X X X X X X
Revisão do Primeiro capítulo a partir das X X X X
considerações apresentadas na qualificação
e produção do Segundo capítulo
Apresentação de trabalhos em eventos da X X X X X
área e publicação de artigos
ANO 3 – 2020
ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Estudo de material teórico-crítico X X X X X X X X X X X X
Produção do Terceiro capítulo X X X X
Revisão dos capítulos de desenvolvimento e X X X X
análise
Revisão de texto X X
Apresentação de trabalhos em eventos da X X X X X
área e publicação de artigos
12
ANO 4 – 2021
ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D
Produção da Introdução e Considerações X X
finais
Defesa X
13
REFERÊNCIAS
ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura.
Belo Horizonte: UFMG,2006.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Org. Liv Sovik. Trad.
Adelaide LA Guardia Resende. Belo Horizonte: EdUFMG, 2003.
MERREL, Floyd. A Semiótica de Charles S. Peirce hoje. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução de Yara Aun
Khoury. In Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História do
Departamento de História da PUC-SP, São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez. 1993. Disponível em:
http://www.pucsp.br/projetohistoria/downloads/revista/PHistoria10.pdf>. Acesso em 04 de
set. 2012.
OLIVEIRA, Glécia Carneiro. Música e Resistência: uma breve análise histórica e discursiva
do preconceito racial e social nas músicas da Banda Reflexu’s. Salvador: Congresso
internacional de Socias e Humanidades, 2014. Disponível em
http://aninter.com.br/Anais%20CONINTER%203/GT%2017/17.%20OLIVEIRA.pdf. Acesso
em 28 de agosto de 2017
SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
TATIT, Luiz. Análise semiótica através das letras. Cotia SP: Ateliê Editorial, 2001.
_______. Semiótica da canção: melodia e letra. São Paulo: Editora Escuta, 2007.
_______. Elos de melodia e letra: analise semiótica de seis canções. Cotia SP: Ateliê
Editorial, 2008.
TINHORÃO, José Ramos. Música popular: de índios, negros e mestiços. Rio de Janeiro:
Editora Vozes, 1972.
_______. Os sons que vem da rua. São Paulo: Edições Tinhorão, 1976.
_______. História Social da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Editora 34, 2010.
_______. Festa de negro em devoção de branco. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
_______. Os sons dos negros no Brasil. Rio de Janeiro: Editora 34, 2012.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989.
_______; SQUEFF, Enio. Música: o nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo:
Brasiliense, 1982.