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A EDUCAÇÃO EM ÉMILE DURKHEIM

Maria Inalva Galter e


Elenita Conegero Pastor Manchopei[1]

Este estudo é o resultado de uma análise preliminar do livro Educação e


Sociologiaii[2] de Émile Durkheim (1858-1917). Daremos destaque ao papel
fundante que o autor atribui à educação, considerando-a do ponto de vista
sociológico, como reguladora da vida social. Pretendemos mostrar que a sua
preocupação com a problemática educacional expressa a busca de “soluções” para
o contexto de crise da sociedade burguesa nas décadas finais do século XIX e
iniciais deste século, que luta para continuar o processo de reprodução de suas
relações.
Émile Durkheim é considerado um dos pensadores mais expressivos e que
mais contribuiu para a consolidação da Sociologia como ciência empírica e disciplina
acadêmica. Pesquisador metódico e criativo foi o primeiro professor universitário de
Sociologiaiii[3] e deixou um número considerável de seguidores. Durkheim viveu
numa Europa conturbada por guerras e em processo de modernização, sua
produção intelectual reflete a tensão entre valores e instituições que estavam
desmoronando e formas emergentes, que ainda estavam se delineando.
O pensamento de Durkheim pode ser balizado, de um lado, pela Revolução
Francesa e a Revolução Industrial e, de outro, pelo conjunto de idéias que, sobre
esses mesmos acontecimentos, vinha sendo formulado por autores como Saint-
Simon (1760- 1825) e Auguste Comte (1798- 1857), que passariam a ocupar
posição de destaque na história da Sociologia.
Entre os pressupostos que constituíram a teoria de Durkheim, destaca-se a
crença de que a humanidade evolui no sentido de um gradual aperfeiçoamento,
impulsionada pela lei do progresso. Esse princípio, herdado do pensamento
Iluminista, influenciou toda a vida intelectual do século XIX. Aflorava-se, assim, a
consciência de que as idéias e os valores da velha ordem social (feudal), da qual
ainda restavam elementos remanescentes, foram destruídos pela Revolução e que,
portanto, era necessário criar um novo sistema científico e moral que caminhasse
em sintonia com a ordem industrial instaurada. Por outro lado, disseminava-se a
crença de que a vida coletiva não era apenas um somatório da vida dos indivíduos,
mas, apresentava-se mais distinta e mais complexa. Certamente, é esse o objeto
das Ciências Sociais e seu estudo demandava a utilização do método positivo,
apoiado na observação, indução e experimentação, semelhante, porém, mais
adequado as particularidades dos fatos sociais, ao que vinha sendo feito pelos
cientistas naturais. Dessa maneira, as ciências da sociedade deviam aspirar à
formulação de leis que estabelecessem relações constantes entre os fenômenos.
Assim, tendo vivido no interior de um ambiente bastante conturbado pelas
transformações sociais e observado de maneira particular a sociedade francesa iv[4] a
preocupação de Durkheim foi com a ordem social. Ele afirmava que a raiz de todos
os males da sociedade de seu tempo era uma certa fragilidade da moral
contemporânea. Na busca de resposta a essa questão, propôs a formulação de
novas idéias morais capazes de guiar a conduta dos indivíduos, aos quais a ciência,
através de suas investigações, poderia indicar os caminhos e as soluções, pois os
valores morais constituíam um dos elementos mais eficazes para neutralizar as
crises econômicas e políticas.
O olhar sociológico que determinou o método pelo qual Durkheim investigou
a sociedade da sua época predominou também na maneira como ele encarou a
educação. Essa questão pode ser evidenciada em Paul Fauconnet (1874- ?), na
parte introdutória do livro Educação e Sociologia, observou que é por seu aspecto
social que Durkheim abordou a educação, e, ainda, que a sua doutrina de
educação é elemento essencial de sua sociologia. Durkheim, citado por Fauconnet,
expôs que:
Como sociólogo, (...) será sobretudo dentro da sociologia que vos falarei
de educação. Aliás, assim procedendo, não haverá perigo em mostrar a
realidade educativa, por aspecto que a deforme; estou convencido, ao
contrário, de que não há melhor processo para salientar a verdadeira
natureza da educação. Ela é fenômeno eminente social. (Fauconnet, In:
Durkheim, 1975, p. 5)

No livro As Regras do Método Sociológico, Durkheim já havia exposto a


importância atribuída à educação, considerando-a como reguladora dos tipos de
conduta ou de pensamentos que são, tanto externos ao indivíduo, como, também,
dotado dum poder coercitivo em virtude do qual se lhe impõe.
Em Educação e Sociologia, o autor, realizou uma sistemática análise crítica
das concepções acerca dos sistemas de educação, formuladas principalmente por
pensadores e filósofos modernos. Critica, às vezes, a abrangência das propostas,
noutros casos, o pouco alcance ou o caráter subjetivo das formulações. A crítica do
autor, centra-se em negar o caráter individual da educação (especialmente quanto
às suas finalidades), bem como, negar a natureza supostamente fixa e imutável do
indivíduo.
O autor citou, por exemplo, as formulações feitas por Stuart Mill, Kant e
James Mill (Fauconnet, In: Durkheim, 1975, p. 33-4), aventando que as definições
propostas por esses autores partem do postulado de que há uma educação ideal,
perfeita, apropriada a todos os homens, indistintamente. A esse respeito, observou
que é a "educação universal a única que o teorista se esforça por defender. Mas, se
antes de o fazer, ele considerasse a história, não encontraria nada em que apoiasse
tal hipótese (ibidem, p. 35)”.
Acerca desse seu posicionamento, Durkheim fez um questionamento
afirmando que poderiam objetá-lo dizendo que isso não representa o ideal e que se
a educação tem variado, tem sido pelo desconhecimento do que deveria ser,
considerou tal argumento insuficiente:

O postulado tão contestável de uma educação ideal conduz a erro ainda


maior. Se se começa por indagar qual deve ser a educação ideal,
abstração feita das condições de tempo e lugar é porque se admite,
implicitamente, que os sistemas educativos nada têm de real em si
mesmos. Não se vê neles um conjunto de atividades e de instituições
sociais, que a educação exprime ou reflete, instituições essas, por
conseqüência, que não podem ser mudadas à vontade, mas só com a
estrutura mesma da sociedade. (ibidem., p. 36)

Para o autor, cada sociedade, considerada em momento determinado de seu


desenvolvimento, possui um sistema de educação que se impunha aos indivíduos
de modo geralmente irresistível. Assim, haveria em cada sociedade um tipo
regulador de educação.

É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como


queremos. Há costumes com relação aos quais somos obrigados a nos
conformar; se os desrespeitamos, muito gravemente, eles se vingarão
em nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em estado de
viver no meio de seus contemporâneos, com os quais não encontrarão
harmonia. (...) Há, pois, a cada momento, um tipo regulador de
educação, do qual não podemos separar sem vivas resistências, e que
restringem as veleidades dos dissidentes. (ibidem., p. 36-7)

Considerou, ainda, que os costumes e as idéias que determinam o tipo de


educação necessária à sociedade, não é criado individualmente. Inclusive, em sua
maior parte é obra das gerações passadas. Para ele, todo o passado da
humanidade contribuiu para estabelecer um conjunto de princípios que governam a
educação do homem no presente.
Como conhecer a educação necessária a cada sociedade? Para o autor,
somente o entendimento histórico, isto é, quando se estuda a maneira pela qual se
formaram e se desenvolveram os sistemas de educação, “inseridos no conjunto de
outros fenômenos sociais como a religião, a organização política, o grau do
desenvolvimento das ciências, do estado das indústrias, etc (ibidem., p. 37)”.
Afirmava que separadas dessas causas históricas, os sistemas de educação tornam-
se incompreensíveis (Ibidem, p. 37). Nenhum indivíduo pode construir pelo esforço
próprio aquilo que não é obra do pensamento individual. Afinal, ele não se
encontra em face de uma tábula rasa, sobre a qual poderia construir o que
quisesse, mas diante de realidades que não podem ser criadas, destruídas ou
transformadas à vontade.
Nesse sentido, o autor questionou aqueles que buscavam fixar fins certos à
tarefa de educar, afirmando que somente a observação permitiria dizer se a
educação tem uma finalidade ou outra. Não há meios de se saber a priori.
Enfatizou que o importante seria dizer em que consiste a tarefa de educar, a que
tende, a que necessidades humanas corresponde. Para responder a essas
indagações e constituir a noção preliminar de educação, reafirmou o autor: “para
determinar a coisa a que damos esse nome, a observação histórica parece-nos
indispensável (ibidem, p. 38)”.
Na verdade, haveria de se considerar os sistemas de educação existentes,
ou que tenham existido, compará-los e apreender deles os caracteres comuns. Que
caracteres comuns são esses? A existência de gerações de adultos e de crianças,
bem como a ação da primeira, sobre a segunda. Partindo desses postulados,
Durkheim procurou definir a natureza específica dessa ação (de gerações adultas
sobre gerações de crianças).
Para essa tarefa, o autor, partiu do entendimento de que cada sociedade
apresenta sistemas de educação especiais. Esses sistemas apresentam dois
aspectos: múltiplo e uno ao mesmo tempo. Múltiplo, pois há tantas espécies de
educação, em determinada sociedade, quantos meios diversos nela existirem.
A necessária diversidade pedagógica em dada sociedade, decorre do grau de
especialização existente em cada sociedade. Cada profissão constitui um meio sui
generis, que reclama aptidões particulares e conhecimentos especiais, meio que é
regido por certas idéias, certos usos, certas maneiras de ver as coisas; e como a
criança deve ser preparada em vista de certa função, a que será chamada a
preencher, a educação não pode ser a mesma, desde certa idade, para todo e
qualquer indivíduo.
Durkheim afirma que quanto ao aspecto uno, "Não há povo em que não
exista certo número de idéias, sentimentos e práticas que a educação deve inculcar
a todas as crianças, indistintamente, seja qual for a categoria social a que
pertençam (Ibidem., p. 40)”.
Portanto, para Durkheim qualquer que seja a importância dos sistemas
especiais de educação, não constituem eles toda a educação. O aspecto múltiplo e
o aspecto uno, divergem até certo ponto, para além do qual se confundem.
Assentam assim numa base comum. Em outras palavras, cada sociedade constrói,
para seu uso, certo ideal de homem, tanto do ponto de vista intelectual, quanto o
físico e moral. Esse ideal é que constitui o eixo educativo.

No decurso da história, constitui-se todo um conjunto de idéias acerca


da natureza humana, sobre a importância respectivas de nossas
diversas faculdades, sobre o direito e sobre o dever, a sociedade, o
indivíduo, o progresso, a ciência, a arte, etc., idéias essas que são a
base mesma do espirito nacional; toda e qualquer educação, a do rico e
a do pobre, a que conduz às carreiras liberais, como a que prepara para
funções industriais tem por objeto fixar essas idéias na consciência dos
educandos. Resulta desses fatos que cada sociedade faz do homem
certo ideal, tanto do ponto de vista intelectual, quanto do físico e
moral; que esse ideal é, até certo ponto, o mesmo para todos os
cidadãos; que a partir desse ponto ele se diferencia, porém, segundo os
meios particulares que toda sociedade encerra em sua complexidade.
Esse ideal, ao mesmo tempo, uno e diverso, é que constitui a parte
básica da educação. (ibidem., p. 40)

Esse ideal tem por função suscitar na criança: um certo número de estados
físicos e mentais que a sociedade a que pertença, considere como indispensáveis a
todos os seus membros; certos estados físicos e mentais, que o grupo social
particular (casta, classe, profissão) considere igualmente indispensáveis a todos
quanto o formem.
Assim, o autor sintetiza o seu entendimento da educação como sendo:

[...] a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que


não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto
suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos,
intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu
conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se
destine. (ibidem, p. 41)

Como conseqüência dessa definição, Durkheim, diferenciou no indivíduo,


dois seres (duas consciências): um, constituído de todos os estados mentais que
não se relacionam senão conosco mesmo e com os acontecimentos de nossa vida
pessoal; aquele que poderia se chamar de ser individual. O outro, um sistema de
idéias, sentimentos e hábitos, que exprimem em nós, não a nossa individualidade,
mas o grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte; tais são as crenças
religiosas e as práticas morais, as tradições nacionais ou profissionais, as opiniões
coletivas de toda espécie. Seu conjunto forma o ser social. Aí melhor se revela a
importância e a fecundidade do trabalho educativo. Seu fim, portanto, é organizar e
constituir o ser social em cada um de nós.
Expôs o autor que esse ser social não nasce com o homem, não se
apresenta na constituição humana primitiva, assim como não resulta de nenhum
desenvolvimento espontâneo. Em suas palavras:

Espontaneamente, o homem não se submeteria à nenhuma autoridade


política; não respeitaria a disciplina moral, não se devotaria, não se
sacrificaria. Nada há em nossa natureza congênita que nos predisponha
a tornar-nos, necessariamente, servidores de divindades, ou de
emblemas simbólicos da sociedade, que nos leve a render-lhes culto, a
nos privarmos em seu proveito ou em sua honra. Foi a própria
sociedade, na medida de sua formação e consolidação, que tirou de seu
próprio seio essas grandes forças morais, diante das quais o homem
sente a sua fraqueza e inferioridade. (ibidem, p. 42)

Para Durkheim, é a sociedade a grande entidade moral. É ela a responsável


pela conservação e pelo acréscimo do legado de cada geração, ligando uma a
outra. É a moral de uma dada sociedade que obriga as pessoas a considerarem
interesses que não os seus próprios, que ensina a dominar as paixões, os instintos,
constituindo leis, ensinando o sacrifício, a privação e a subordinação dos fins
individuais aos fins sociais.
A moral, na abordagem do autor, é um sistema de normas de conduta que
prescrevem como o sujeito deve conduzir-se em determinadas circunstâncias. Ela
envolve uma noção de dever, constitui uma obrigação, possui um respeito especial,
são sentidas como desejáveis e, para cumpri-las, somos capazes de ultrapassar
nossa natureza individual.
Para ele, as normas morais têm uma finalidade desejável e desejada para
aqueles a quem se destinam. Elas não são uma mera ordem: experimentamos um
prazer sui generis em cumprir com nosso dever porque é nosso dever. A noção de
bem penetra a noção de dever. Junto ao conceito de autoridade desenvolve o de
liberdade, a "filha da autoridade bem compreendida. Porque ser livre não é fazer o
que se queira; é ser-se senhor de si, saber agir pela razão, praticando o dever
(Ibidem., p. 54). Cada povo, em certo momento de sua história, possui uma moral.
É com base nela que a opinião pública e os tribunais julgam. Negá-la é negar a
sociedade e, embora possam haver consciências que não se ajustem à moralidade
de seu tempo, existe uma moral comum e geral àqueles que pertencem a uma
coletividade e uma infinidade de consciências morais particulares que a expressem
de modo diferenciado. Por exemplo, se o educador tem uma ascendência moral
sobre seus alunos é porque é uma autoridade legítima diante deles, a qual não se
dá através do temor que ele possa inspirar, mas da própria crença na missão que
desempenha. O mesmo se pode dizer do sacerdote que fala em nome de uma
divindade. Ambos são órgãos de entidades morais: um da sociedade e das grandes
idéias morais de seu tempo, outro, de seu Deus. Mas é a sociedade a autoridade
moral, é ela que confere às normas morais seu caráter obrigatório. Fora dessa
moral comum, existe uma diversidade de outras moralidades, expressas pelas
diferentes individualidades. No entanto, o valor moral dos atos deve-se a que visam
a motivos superiores aos dos indivíduos, seu fim é a sociedade.
Na verdade, todo o sistema de representação que mantém em nós a idéia e
sentimento da lei, da disciplina interna ou externa, é instituído pela sociedade
(Ibidem, p. 45). Como a cada nova geração, a sociedade encontra-se em face de
uma tabula rasa, sendo necessário construir quase tudo, pois ao nascer a criança
traz apenas a sua natureza de indivíduo, cabe à educação agregar ao ser egoísta e
associal, uma natureza capaz de vida moral e social. Essa é a obra da educação.
Portanto, essa virtude criadora de constituir no homem um novo ser, é o atributo
peculiar da educação.
Por defender de maneira contundente a natureza social da educação,
Durkheim foi acusado, por muitos pensadores da sua época, de antagonizar
indivíduo e sociedade. Em resposta, afirmou que esse suposto antagonismo não
correspondia à realidade dos fatos, pois: "longe de estarem em oposição, ou de
poderem desenvolver-se em sentido inverso, um do outro - sociedade e indivíduo
são idéias dependentes uma da outra. Desejando melhorar a sociedade, o indivíduo
deseja melhorar a si próprio (ibidem., p. 46).
Segundo o autor, a ação exercida pela sociedade, especialmente através da
educação:

[...] não tem por objeto, ou por efeito, comprimir o indivíduo,


amesquinhá-lo, desnaturá-lo, mas ao contrário engrandecê-lo e torná-lo
criatura verdadeiramente humana. Sem dúvida, o indivíduo não pode
engrandecer-se senão pelo próprio esforço. O poder do esforço
constitui, precisamente, uma das características essenciais do homem.
(Ibidem, p. 47)

Sendo a humanidade definida segundo as necessidades sociais, parece que a


sociedade impõe aos homens insuportável tirania. Na realidade, adverte Durkheim,
o próprio homem é interessado nessa tirania, pois o novo ser que a ação coletiva
constrói, através da educação, é que constitui o que há de propriamente humano
em nós.
Na sua perspectiva, a crescente diferenciação provocada pela divisão do
trabalho levava os indivíduos a não ter praticamente nada em comum, a não ser a
qualidade de ser homem. Portanto:

[...] nada mais resta que os homens possam amar e honrar em comum
senão o próprio homem (...). E como cada um de nós encarna algo de
humanidade, cada consciência individual encerra algo de divino e fica
assim marcada por um caráter inviolável para os outros. (Durkheim,
1975, p. 244)

Dos muitos aspectos que compõem a abordagem sociológica de Émile


Durkheim relativas à educação, o que mais se destaca é a consideração
obrigatória de uma relação estreita entre as determinações individuais e as
construções sociais, donde resulta, antes de tudo, uma clara ascendência dos
aspectos sociais sobre os individuais.
Esse pensamento não é exclusivo de Durkheim, mas produto de uma época,
da sociedade burguesa que, a partir do século XIX, empenhava para continuar
reproduzindo suas relações. Num contexto marcado pelo acirramento das
diferenças sociais, expresso nos embates entre as classes sociais (burguesia e
proletariado), novas exigências foram sendo colocadas, obrigando a sociedade a
rever seus velhos encaminhamentos. Dentre as várias exigências que estavam
colocadas, foram àquelas referentes às questões de cunho social que se
destacaram. Isso aconteceu porque a sociedade que se constituiu pautada na
defesa do indivíduo (do burguês), a medida que se defrontou com possibilidades
muito próximas de subversão do instituído (o caso da França é exemplar), precisou,
para se manter, instituir novos valores, novas normas de convívio social. Na
verdade, foi necessário empenhar-se para estabelecer uma nova moral social que
regulasse a vida coletiva, objetivando conservar a ordem estabelecida.
Para ele, a educação tinha por objetivo suscitar e desenvolver, no indivíduo,
certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade
política, no seu conjunto, e pelo meio especial no qual ele está inserido. Nesse
sentido, podemos dizer que seu método na verdade expressou um caráter
eminentemente educativo. Deduz-se daí o importante papel que o autor atribuiu a
educação.

i[1]
Docentes do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste.
ii[2]
Esse livro reúne escritos de Durhheim cuja organização e publicação foi feita póstumamente
por Paul Fouconnet. Todos os textos, que se transformaram nos capítulos (quatro ao todo)
foram escritos no começo desse século, abrangendo o intervalo de 8 anos (1901- 1911). Os
dois primeiros capítulos foram lições inaugurais na Sorborne; o terceiro é um texto publicado na
Revue de Methaphysique et Morale, n. 11; e o quarto é a aula inaugural do curso sobre o
ensino secundário na França. (Em Aberto, 1990, p. 36)
iii[3]
Leclercq afirmou que Durkheim fora homem de pensamento mas também de ação, pois
soube exercer nas esferas governamentais uma influência graças à qual a sociologia foi
introduzida oficialmente não só nas universidades mas também nas escolas normais (
Leclercq, 1964, p. 62).
iv[4]
Alguns acontecimentos que marcaram a vida dos franceses e de Durkheim, em particular,
no final do século XIX: A 1º de setembro de l870, a derrota de Sedan; a 28 de janeiro de 1871,
a capitulação diante das tropas alemãs; a insurreição da Comuna de Paris e a proclamação da
III República; a votação da Constituição de l875 e a eleição de seu primeiro presidente; a
aprovação do divórcio na França; a organização do ensino público laica. (Rodrigues, 1981, p.
9-10)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

DIAS, Fernando Correia. Durkheim e a sociologia no Brasil. Em Aberto, Brasília, 9


(46): 33-48, abr./jun., 1990.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. In: Durkheim. 2ª ed. Trad. de


Margarida Garrido Esteves. São Paulo, Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores)

DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. 10ª ed. Trad. de Lourenço Filho. São
Paulo, Melhoramentos, 1975.

DURKHEIM, Émile. Sociologia e Ciências Sociais. Trad. Inês D. Ferreira. São Paulo,
DIFEL, 1975.

JACQUES, Leclercq. Introdução à sociologia. Trad. Antônio Correia, 2ª ed. Coimbra,


Editor: Sucessor, 1964.

RODRIGUES, José Albertino (org.). Durkheim (Sociologia). Trad. Laura Natal


Rodrigues. 2ª ed. São Paulo, Ática, 1984. (Coleção grandes cientistas sociais).

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