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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI


CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA – CEAD
CURSO DE LICENCIATUARA EM FILOSOFIA
Rua Olavo Bilac, 1148 – Centro Sul CEP 64280-001 – Teresina PI
Site: www.ufpi.br

JOSEANE ALVES DO VALE

A NATUREZA COMO UM BEM EM SI


SEGUNDO A ÉTICA DE HANS JONAS

OEIRAS – PI
2018
JOSEANE ALVES DO VALE

A NATUREZA COMO UM BEM EM SI


SEGUNDO A ÉTICA DE HANS JONAS

Monografia apresentada a Universidade


Federal do Piauí – UFPI, como requisito
final para conclusão do curso de
Licenciatura em Filosofia.

Orientação: João Batista Farias Junior.

OEIRAS – PI
2018
JOSEANE ALVES DO VALE

A NATUREZA COMO UM BEM EM SI SEGUNDO A ÉTICA DE HANS JONAS

Monografia apresentada a Universidade Federal do Piauí – UFPI, como requisito final


para conclusão do curso de Licenciatura em Filosofia. Orientação: João Batista Farias
Junior.

Aprovada em ______/______/ 2018

________________________________________
João Batista Farias Junior.
Orientador

________________________________________
1º Examinador (a)

________________________________________
2º Examinador (a)

OEIRAS – PI
2018
Dedico a Deus por mi fortalecer a cada
jornada cansada, ao meu esposo Marcos
Antônio pela confiança e incentivo, aos meus
pais, aos meus irmãos e a turma por suportar
os defeitos e desânimo às vezes expresso.
Agradeço primeiramente a Deus que me deu
esta força e sabedoria para dar continuidade,
a meu esposo Marcos Antônio que sempre
esteve do meu lado me incentivando e ficando
com nossas filhas pra eu estudar e a minha
irmã Roseane por me dizer palavras de
incentivo quando queria fraquejar.
“Se vives de acordo com as leis da natureza,
nunca serás pobre; se vives de acordo com
as opiniões alheias, nunca serás rico”.

SÊNECA
RESUMO

Com o surgimento das evoluções tecnológicas da modernidade, passa-se a emergir


novos e desafiadores questionamentos voltados para o campo da ética que estão
relacionados com urgente necessidade de (re) formulação de princípios éticos
baseados nas circunstâncias do homem atual e que atenda a nova forma de pensar
diante dos avanços alcançados pelos meios tecnológicos. Em face do exposto, o
presente estudo tem como objetivo analisar as contribuições filosóficas do autor Hans
Jonas e seus estudos sobre a ética comportamental do homem e sua relação com o
meio, faz-se uma abordagem da Teoria da Responsabilidade enquanto imperativo
ético que promova a reconciliação entre homem e natureza. Para o desenvolvimento
do presente estudo utilizou-se como caminho metodológico a pesquisa bibliográfica,
pois esta permite a analise do posicionamento de autores que já discorreram sobre a
temática em foco. Entre os autores pesquisados merecem destaque: o próprio JONAS
(2006), BARRETO (2005), CARVALHO (1996), DEMO (2005) e MILARÉ (2004). Além
deste foram lidas outras obras que versam sobre o tema em foco para a elaboração
do posicionamento do autor do presente estudo. O estudo se encontra estruturado
em três capítulos. O primeiro traz a critica de Hans Jonas as éticas antropocêntricas e
seus efeitos na relação do homem com o meio que o cerca. No segundo se apresenta
a natureza como um bem em si própria que o homem precisa ter consciência no uso
de seus recursos, para o bem do próprio homem. No terceiro demonstra-se a
importância do dever, do ser e da responsabilidade que cabe ao homem como
mantenedor da própria espécie. Encerra-se este estudo com reflexões acerca das
contribuições filosóficas de Hans Jonas para a temática em foco, bem como a
necessidade da discursão do conceito de ética na modernidade.

PALAVRAS-CHAVE: Ética. Natureza. Homem. Modernidade.


ABSTRACT

With the emergence of the technological evolutions of modernity, new and challenging
questions are emerging that are related to the urgent need for (re) formulation of
ethical principles based on the circumstances of the present man and that responds to
the new form to think about the advances made by technological means. In view of the
above, the present study aims to analyze the philosophical contributions of the author
Hans Jonas and his studies on the behavioral ethics of man and his relationship with
the environment, a Theory of Responsibility approach is developed as an ethical
imperative that promotes the reconciliation between man and nature. For the
development of the present study, a bibliographical research was used as
methodological path, since it allows the analysis of the positioning of authors who have
already discussed the subject in focus. Among the authors, the following stand out:
JONAS (2006), BARRETO (2005), CARVALHO (1996), DEMO (2005) and MILARÉ
(2004). In addition to this, other works that deal with the subject in focus for the
elaboration of the position of the author of the present study were read. The study is
structured in three chapters. The first brings Hans Jonas' criticism of anthropocentric
ethics and its effects on man's relationship with the environment that surrounds him. In
the second, nature is presented as a good in itself that man must be aware of in the
use of his resources for the good of man himself. The third shows the importance of
the duty, the being and the responsibility that is the responsibility of man as the
maintainer of the species itself. This study is wrapped up with reflections on the
philosophical contributions of Hans Jonas to the theme in focus, as well as the need
for the discursion of the concept of ethics in modernity.

KEY WORDS: Ethics. Nature. Men. Modernity.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................10

CAPITULO I: A CRÍTICA DE HANS JONAS ÀS ÉTICAS ANTROPOCÊNTRICAS.12

O conceito de ética segundo Hans Jonas. ......................................................14

CAPITULO II: A NATUREZA COMO BEM EM SI .....................................................20

Ecocentrismo: caminho a ser percorrido pelo homem. ...................................24

CAPITULO III: DEVER SER E RESPONSABILIDADE .............................................27

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................32

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................34


10

INTRODUÇÃO

A relação do ser humano ao longo de sua historia como o meio que o cerca,
com ênfase ao meio ambiente, sempre foi uma interação fundamental para sua
sobrevivência. Esta relação sempre foi marcada no entendimento humano de
dominação sobre a mesma, e que com as evoluções conseguidas pela humanidade
esse relacionamento se agrava devido às consequências da postura assumida pelo
homem, o que acaba por comprometer o futuro de ambos.
O homem se encontra dentro da dicotomia em continuar explorando os
recursos naturais ou desacelerar tais explorações. Diante disso o que se espera é a
criação e implementação de politicas sociais que disseminem em todas as camadas
sociais a importância do uso consciente e responsável dos recursos naturais. É fato
que a natureza tem a capacidade de se recompor, mas também é conhecido que
para isso ela necessita de um tempo, por ela mesma determinado.
Diante do exposto, o presente estudo surge a partir de inquietações acerca do
comportamento humano em face ao uso dos recursos naturais, bem como refletir
sobre os posicionamentos de alguns autores que já discorreram sobre a temática,
com ênfase as abordagens feitas pelo autor Hans Jonas.
A teoria defendida pelo filosofo alemão Hans Jonas acerca do principio da
responsabilidade voltada para a formação de uma sociedade preocupada com as
consequências das atitudes tomadas pela sociedade presente, encontram forças no
que diz respeito a utilização de maneira consciente dos recursos naturais, uma vez
que o homem não pode destruir a fonte da qual retira seu sustento.
Para o desenvolvimento do presente trabalho, elegeu-se como objetivo
principal analisar as condições pelas quais o ser humano deve nortear seus
comportamentos socioambientais para que possa fazer uso dos recursos naturais
sem que negligencie nas politicas de conservação do meio ambiente.
E como objetivos específicos, tem-se: refletir sobre as contribuições do
filosofo Hans Jonas relacionadas ao principio da responsabilidade; reconhecer a
necessidade da criação e implementação de politicas de cunho socioambiental para
a construção de uma sociedade mais consciente; reconhecer a importância do papel
da ética no sentido de comportamento socioambiental do individuo.
11

O desenvolvimento de ações que visem promover a existência de politicas


voltadas para o aperfeiçoamento das ciências e o processo de atitudes racionais
com os meios produtivos se encontra cada vez mais presente na sociedade que se
preocupa em extrair da natureza somente o necessário para atender as demandas
de consumo.
Para nortear a construção deste estudo aponta-se como questionamentos: É
possível em relação harmônica entre o ser humano e o meio ambiente? Até que
ponto o desenvolvimento das novas tecnologias podem favorecer ações conscientes
de utilização dos recursos naturais? O ser humano contemporâneo está sendo
educado para ter um comportamento ético em face ao meio ambiente? Como fazer
uso dos recursos naturais sem que coloque em risco a própria natureza?
Para responder a estes e outros questionamentos, o presente estudo utiliza
como caminho metodológico a pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico, isto é,
analisa e refletir a partir de produções de alguns autores que já discorreram sobre a
temática com ênfase o posicionamento do já citado Hans Jonas e o seu Principio da
Responsabilidade.
As considerações finais estão centradas no entendimento formulado durante
a leitura e analise das referencias da temática, visando proporcionar a quem em
contato com este estudo possa ter uma também posicionar-se. Ao meio acadêmico
este trabalho visa torna-se referencia pela abordagem que se faz.
12

CAP. I: A CRÍTICA DE HANS JONAS ÀS ÉTICAS ANTROPOCÊNTRICAS

Muito se tem discutido acerca do que venha ser uma postura ética e
socialmente aceita. Vários estudiosos do comportamento humano tem se debruçado
sobre teorias que venha explicar os motivos que levam o homem as suas condutas
mais ousadas e/ou as mais tímidas, diante de circunstancias que surgem na sua
vivencia cotidiana.
Dentre estes que percorrem o caminho na tentativa de descobrir e explicitar o
comportamento humano merece destaque Hans Jonas e suas teorias sobre a ética
que deve permear as atitudes do homem em face de si mesmo e ao meio que o
rodeia.
Hans Jonas é um filosofo alemão nascido no ano de 1903. Por circunstancias
do mundo da época, Hans Jonas viajou por vários países, o que pode ter
influenciado na construção da sua visão de mundo e o interesse pelo conhecimento
e questionamento do comportamento humano. Jonas foi jovem em um mundo que
procurar estabelecer seus limites culturais e socioeconômicos.
Ele foi soldado. Transitou pela palestina, depois foi transferido para a Itália,
onde, como soldado da brigada judaica, lutou no exército britânico contra os
nazistas. Em 1949 transferiu-se para o Canadá e, em seguida, para os Estados
Unidos, onde desde então passou a viver e lecionar.
As experiências de Jonas o impulsionaram a percorrer os caminhos da
filosofia, nos quais ele busca desvelar como as ações do homem podem ser
determinantes para a construção e modificação da sociedade, bem como as
consequências dessas ações podem afetar o comportamento individual e social, tais
como sua relação com seu próximo e como o meio ambiente.
Envolto nas evoluções e revoluções em que o mundo presenciava na primeira
metade do século XX, Jonas se enverada por discorrer sobre os avanços
tecnológicos sob o entendimento da filosofia, mas Jonas tornou-se inicialmente
conhecimento no meio filosófico com a publicação de sua obra que versa acerca do
histórico/filosófico da gnose. E posteriormente ele elabora trabalhos sobre a filosofia
da biologia.
A partir de meados dos anos 60, Jonas volta seus estudos e produções para
os questionamentos éticos advindos da postura ética social suscitada pelos avanços
13

tecnológicos. Nesse cenário, já no final dos anos 70 Hans Jonas lança a obra que
mais tarde lhe renderia o titulo de doutor honores causa em filosofia, outorgado em
julho do ano de 1992, pela renomada pela Freie Universität Berlin.
“O Principio da Responsabilidade” é a obra que consagra todo o trabalho
desenvolvido por Hans Jonas. Nele o autor faz varias criticas a politica capitalista e
ao comunismo contemporâneo, bem como faz critica a toda sociedade tecnológica
presente.
Em “O Princípio Responsabilidade” Hans Jonas analisa as éticas clássicas e
modernas e procura demonstrar como estas não consegue lidar com a possibilidade
ou com o futuro, mas apenas com a proximidade e com o presente.
Jonas faz uma profunda analise sobre todas as modernizações para a criação
de maquinas e aparelhos que permitiram a época, uma notável expansão na
produção, o que por muitos do meio tecnológico foi considerado o ápice. Jonas faz
criticas ao marxismo, pois apesar de buscar sanar a carência básica da humanidade
por bens de consumo, essa linha de pensamento, segundo Hans Jonas, acaba por
gerar mais uma necessidade de trabalho.
Jonas afirma em sua obra que apesar das facilidades propostas pelos
avanços tecnológicos, as atividades existentes anteriormente caíram em desuso
levando a grande parte da massa trabalhadora ao desemprego, afetando tanto a
sociedade capitalista como a comunista, que acabam por relacionarem entre si.
Analisando a publicação de Jonas acima citada, é perceptível que em face
das evoluções tecnológicas tudo ficou mais acessível, mas também se deve fazer
uma reflexão no que diz respeito ao desemprego causado pela mesma
modernização, pois a substituição na mão-de-obra afeta diretamente ao trabalho
realizado pelo homem. As sociedades, tanto a capitalista quando a comunista se
viram no desafio de criar novos empregos para que pudesse absorver a mão-de-
obra que ora se encontrava ociosa.
As reflexões de Jonas sobre a ética que deve fundamentar a postura humana
ganham força quando se voltam para a relação deste, ser humano, com a utilização
dos recursos naturais.
O homem se embebe na sua busca incansável pelas facilidades para o dia a
dia que acaba por comprometer o meio que o cerca. Jonas visa em suas obras
filosóficas trazer os olhares para as serias consequências que tais posturas podem
14

ter sobre o comprometimento com a construção de uma sociedade ética e


consciente de seu papel.

O conceito de ética segundo Hans Jonas.

Com o período do Renascimento que marca o fim da Idade Media, a ideologia


do chamado Humanismo ressurge com força no que diz respeito às reflexões acerca
do comportamento humano. Surgem varias reflexões sobre a ética e suas
orientações como nova concepção do que seria moral, centrando seus olhares na
busca pela autonomia humana.
No período Iluminista, os conceitos de ética ficaram mais evidentes, pois os
filósofos do momento passaram a se colocarem favorável à defesa da moral como
fundamentada não só em valores defendidos pela religião, mas também pautada em
valores advindos do entendimento relacionado ao que seja a natureza do homem.
Jonas se debruça na observação dos conceitos de ética, tradicionalmente
reconhecidos, para formular seus pressupostos que representam as inter-relações
do homem. São eles:

(1) A condição humana, conferida pela natureza do homem e pela natureza


das coisas, encontram-se fixada uma vez por todas em seus traços
fundamentais; (2) com base nesses fundamentos, pode-se determinar sem
dificuldade e de forma clara aquilo que é bom para o homem; (3) o alcance
da ação humana e, portanto, da responsabilidade humana é definida de
forma rigorosa (JONAS, 2006, p. 29).

Esses pressupostos defendidos por Jonas sobre a condição humana e sua


natureza tem sua fixação nos seus traços fundamentais, o que na condição de
determinante do que seja o bem antropológico e da extencionalidade da pratica
humana se defina de maneira criteriosa, não correspondendo à modernidade que se
encontra marcada pelas transformações ocorridas nas faculdades humanas bem
como pelas modificações que ocorrem na natureza. (Demo, 2005).
Jonas reconhece que a modernidade da natureza humana tenha sofrido
modificações ao longo do tempo, o que implica aceitar que estas mesmas
transformações tenham alcançado ao campo da ética.
15

Segundo Milaré (2004) é fato que nas civilizações antigas o relacionamento


entre homem e natureza se dava de maneira mais amistosa, as intervenções do
homem no meio ambiente não provocavam tantos desequilíbrios à natureza como
ocorre atualmente.
O homem se colocava como uma extensão da natureza e com ela mantinha
relações de irmandade. A natureza era vista como parte imutável, e a partir daí o
homem construía e refletia no seu conceito de comportamento ético, o que era
definido por uma consciência do bem e do mal, e como isso poderia está ligado à
estrutura formativa de seu comportamento, bem como seus costumes. Nessa linha
de atuação, o homem construía seu universo ao tempo que delineava o que viria a
serem seus princípios bases de uma civilização.
Acerca dessa relação do homem com a natureza Hans Jonas escreve:

Todas as liberdades que ele se permite com os habitantes da terra, do mar e


do ar deixam inalterada a natureza abrangente desses domínios e não
prejudicam a sua força geradora. [...] Ainda que ele atormente anos após
ano a terra com o arado, ela é perene e incansável; ele pode e deve fiar-se
na paciência perseverante da terra e deve ajustar-se ao seu ciclo.
Igualmente perene é o mar. Nenhum saque das suas criaturas vivas pode
esgotar-lhe a fertilidade, os navios que o cruzam não o danificam, e o
lançamento de rejeitos não é capaz de contaminar suas profundezas.
(JONAS, 2006, p. 32)

As palavras de Jonas retratam uma natureza que ainda não reclama do fato
do homem fazer uso de seus recursos, uma natureza que tem prazer em servir as
necessidades humanas. Nessa visão, a ética encontra base no comportamento
responsável do homem para a sua formulação.
Aqui, Jonas demonstra que apesar de algumas atitudes, o homem não pode
fazer “gemer” a natureza que o cerca, mas esse seu entendimento seria
posteriormente reformulado, ao ver que mesmo a natureza como “mãe”, precisa de
cuidados.
Na ética tradicional o sujeito estabelecia seu limite de atuação com a
natureza, onde esta ultima atendia as necessidades essenciais do ser humano de
conformidade com seu querer. Assim tinha-se um espaço humanamente equilibrado
na sua relação com o meio, vida social do homem em constante interação com o
meio natural que o cercava.
16

Entretanto, nessa relação o homem se coloca como construtor de si mesmo,


e sua atuação o leva a impor condicionalmente á construção do seu espaço sobre o
espaço da natureza, o que até então não é considerado de responsabilidade
humana. Nessa visão a natureza cuida de si mesma, que mediante a insistência e
persuasão se ver na obrigação de também cuidar do homem. (Demo, 2005).
Jonas acredita na postura de uso sustentável dos recursos naturais pelo
homem e que sua convivência com o meio pode o fazer refletir e assim este, o
homem, criar conceitos de conservação da vida, bem como aprimorar através de
regras consensuais, padrões éticos, seu relacionamento com o meio e com o seu
semelhante.
Assim sendo, Jonas coloca que a ética não se restringe apenas ao aspecto
inter-humano, mas que a natureza de não usufrui de sua própria capacidade
entregando-se a engenhosidade do homem e seu caráter. A natureza se posta como
caminho para civilidade do homem.
Ainda sobre essa construção da ética, Jonas destaca o que vem a ser
algumas características da ética na modernidade. Ele ressalta primeiramente a todo
o tratamento que o homem tem com o mundo a sua volta, isto é, seu domínio sobre
suas habilidades, com exceção a área medica, que era neutra. (Rodrigues, 2014).
Embora o conceito de ética, tradicionalmente defendido, crie o universo do
ethos humano, de forma social e civil, ele não leva em consideração o aspecto de
mutabilidade da natureza do homem, bem como o fator extra-humano que muito
menos supera os espaços em categorias e o tempo a que está ligado.
Segundo Jonas (2006), as categorias éticas assim como o meio que
fundamenta a antropologia, podem ser colocadas como exemplo do conceito do que
seja o bem humano. Estas categorias estão determinadas constantemente pela
natureza e a situação do homem como ser atuante. Porém este conceito de ética se
limita ao tempo presente da discussão, assim como aos acontecimentos
paradigmáticos contextuais, que surgem se orientações teórica-cientifica.
Na medida em que a ética tradicional encontra seus limites nas questões
voltadas a modernidade presentes no século XX, Jonas ressalta que alguns
problemas e desafios ligados a ordem ética em face ao período tecnológico cria a
necessidade da formulação de novos conceitos para a ética, conceitos estes que
devam acompanhar as tendências da sociedade atual.
17

Segundo Jonas (2006), a expectativa na modernidade tecnológica passa a


ser considerada uma ameaça, e isso de forma insolúvel. Isso sob o entendimento
que se anteriormente a relação do homem com o meio ambiente ocorria de forma
humanitária sob o aspecto da antropologia, não promovendo intensas alterações na
essencialidade da natureza, com a modernidade o agir do homem passa a assumir
uma postura um tanto agressora, provocando intensas transformações na natureza,
bem como no próprio ser humano.
Jonas (2006) reconhece que tudo se modificou radicalmente ao redor do
homem. A modernidade técnica é introduzida por meio de ações que ocorre de
forma inédita e grandiosa, não permitindo á ética antiga que acompanhe os novos
objetivos e consequentemente não se enquadrando nos novos conceitos de ética.
Segundo Carvalho (1996):

Tome-se, por exemplo, como primeira grande alteração ao quadro herdado,


a crítica vulnerabilidade da natureza provocada pela intervenção técnica do
homem uma vulnerabilidade que jamais fora pressentida antes que ela se
desse a conhecer pelos danos já produzidos (CARVALHO, 1996, p. 39)

Na citação acima colocada, Jonas discorre acerca de como a mudança do


comportamento humano tem afetado ao meio natural. Anteriormente o mesmo
afirmava que o homem fazia uso consciente dos recursos naturais e que a natureza
não se sentia ameada pelos avanços da humanidade, mas agora o que se ver é
uma natureza preocupado com a velocidade com que uso das tecnologias está
chegando às suas portas.
Os padrões de comportamento éticos devem ser revistos. O homem do
passado retirava do meio natural somente o necessário para o seu sustento, com os
avanços tecnológicos o homem passa a buscar lucros com a utilização dos recursos
naturais. Na visão de Jonas o problema não está em o homem fazer uso de tais
recursos, mas no fato de como o homem se distancia do que é moralmente correto,
ignorando em muitos casos as necessidades de seu próximo.
Deve-se ressaltar que as intervenções tecnologias trouxeram grandes
problemas relacionados ao sistema extra-humano, isto é, ao sistema planetário.
Essas modificações de comportamento alterações o próprio entendimento do que
seja a natureza humana, pois alterou a forma de representação que o homem tinha
18

de si mesmo, bem como a relação que anteriormente mantinha com o mundo ao seu
redor.
Estabelece-se então, uma relação não mais centrada sob a visão de uma
natureza imutável, mas na dramaticidade da vulnerabilidade de todo o meio
ambiente. Em face desta nova compreensão surge uma renovada relação entre
homem e meio natural, onde fica de lado as delimitações da proximidade e
consequentemente, estende-se o crescimento espacial em conjunto com o
prolongamento do tempo diante as consequências das causa versus efeito, que se
encontra em constante movimentação pela práxis técnica. (Jonas, 2006).
Ocorre de forma cumulativa a justaposição dos efeitos advindos das técnicas
desenvolvidas pela natureza em contraste com a postura humana. Jonas afirma que,
[...] seus efeitos vão se somando, de modo que a situação para um agir e um existir
posterior não será mais a mesma da situação vivida pelo primeiro ator, mas sim
crescentemente distinta e cada vez mais um resultado daquilo que já foi feito (Jonas,
2006).
A predominância da arte campestre levou a homem a buscar um progresso de
forma mais sistematizada e duradoura. Entretanto a maneira como o homem se
utilizou para manter o poder e seus meios de denominação o levaram a um estagio
deteriorado do caráter fundamentalmente ético, questionando-se assim o seu Ser.
Desta maneira o ser humano da modernidade perde sua característica
antológica para que se torne agora produto de sua própria produção. Sob este
entendimento o filosofo Jonas sustenta a teoria que o homem moderno tornou-se
“[...] cada vez mais o produto daquilo que ele produziu e o feitor daquilo que ele
pode fazer [...]. Mas que é ele? Nem vocês nem eu; importa aqui o ator coletivo e o
ato coletivo, não o ator individual e o ato individual” (Jonas, 2006).
Ainda sobre a formulação do conceito de ética Jonas (2006) afirma que:

[...] o próprio homem passou a figurar entre os objetos da técnica. O homo


faber aplica sua arte sobre si mesmo e se habilita a refabricar
inventivamente o inventor e confeccionador de todo o resto. Essa
culminação de seus poderes, que pode bem significar a subjugação do
homem, esse mais recente emprego da arte sobre a natureza desafia o
último esforço do pensamento ético, que antes nunca precisou visualizar
alternativas de escolha para o que se considerava serem as características
definitivas da constituição humana. (JONAS, 2006, p. 57)
19

Jonas menciona o conflito em que o homem se coloca diante aos avanços por
ele mesmo provocado. Tudo isso o leva a refletir sobre os caminhos que deverá
percorrer e como a construção de regras o possa auxiliar para que não seja
consumido por sua própria criação.
O estabelecimento de conceitos éticos modernos deve levar o homem a
refletir sobre sua situação atual, bem como conscientiza-lo das consequências de
suas atitudes. Diante das palavras de Hans Jonas pode-se afirmar que um conceito
atual de ética deve fazer com que o homem moderno busque suas origens no que
diz respeito seu trato com a natureza.
20

CAP. II: A NATUREZA COMO BEM EM SI

A modernização no campo das pesquisas tecnológicas, bem como o


reconhecimento dos diversos problemas que assolam o meio ambiente, traz consigo
a necessidade de uma discussão transversal que se fundamente nos princípios
filosóficos defendidos por Jonas em sua obra “O principio da Responsabilidade”.
O homem moderno deve buscar em suas raízes a conscientização de como
ele pode cuidar do meio natural que o cerca. Não há como se evoluir, no sentido
pleno da palavra, sem fazer uso dos recursos naturais, mas cabe ao homem criar
mecanismos que possam, na medida do possível, reparar as perdas as quais a
natureza está sujeita para dá vida ao próprio homem.
O meio ambiente tem capacidade de se auto reestruturar em face de uma
catástrofe de ordem natural e até mesmo dos danos provocados pelas ações do
homem. A natureza cria sua própria forma de se recompor, mas o homem não tem
respeitado esse tempo, do qual o meio natural precisa para se recuperar.
Jonas se lança na busca de meios para que o homem se conscientize do seu
papel diante do uso dos recursos ambientais. Daí sua assertiva ao se debruçar na
critica ao que se o posicionamento ético do homem, não só no trato consigo mesmo,
mas também no seu relacionamento com o meio ambiente. A corrente filosófica
defendida por Jonas contribui com novos posicionamentos para que suja o
fortalecimento de uma proposta de cunho pedagógico, que seja responsável e
basificada no norteamento ético da responsabilidade. (Barreto, 2008).
Jonas (2006) adota uma abordagem que trata o meio natural de forma
fenomenológica e considera a terra como morada do homem e seu habitat do qual
ele, o homem, encontra todas as condições para a manutenção não só de sua
espécie como também dos demais seres vivos.
Em analise a palavra de Jonas (2006) é possível constatar que a vida
contemporânea revela que há bastante tempo o homem vem fazendo uso indevido
de “sua própria casa”, a terra. Essa destruição provocada pelas ações do homem
ocorre de diversas formas, tais como: o desmatamento desenfreado, a criação de
lagos artificiais, a formação de chuvas artificiais, a poluição área, a degradação das
matas ciliares, a mudança nos cursos naturais dos rios, e consequentemente a
destruição das varias espécies animais.
21

Assim sendo, a forma como o ser humano vem utilizando os recursos


naturais, sem o estabelecimento de politicas que tragam equilíbrios entre os avanços
tecnológicos e a conservação dos recursos naturais, traduzem a necessidade de
uma aprofundada mudança, não que seja no campo biológico, mas sim no que diz
respeito sua postura ética, filosófica e cultural do agir do ser humano. O homem
precisa de uma visão renovada acerca da natureza, visão esta que permita se fazer
reflexões a partir das formas de educação, e que seja uma educação voltada para
uma ética ambiental.
Na contemporaneidade, diante das volumosas revoluções industriais,
crescente se tornou a degradação do meio ambiente, assim aquela que no passado
era vista como lugar perfeito para habitação e moradia vai perdendo espaço para um
meio totalmente transformado, modificado e repaginado por algo/alguém de domínio
superior.
Essas constantes modificações trazem como consequência o surgimento de
uma catástrofe ambiental, que não se limita ao homem, mas que se estende a todos
os outros seres vivos. O problema do meio ambiente passa a ser algo que ganha a
atenção planetária, pois suas consequências passam a atingir a todos.
Tudo isso leva a urgente e necessária busca do conhecimento de um novo
entendimento na concepção de natureza. Mediante essa nova compreensão do
mundo como habitat, o homem volta a refletir acerca do potencial da natureza, e o
torna melancólico ao lembra-se de como já foi seu relacionamento com a mesma.
Em analise as ideias de Jonas (2006), pode-se fazer os seguintes
questionamentos:

O homem ainda mora claramente entre o céu e a terra? [...] será que um
espírito meditativo ainda reina sobre a Terra? Aquilo que hoje reina sobre a
terra é a tecnologia moderna, cujo domínio ordena e rege a nossa relação
com tudo aquilo que é. (JONAS, 2006, p. 59)

Os questionamentos que se faz a Jonas (2006) surgem como apelos


desesperado em face da situação em que se encontra o meio ambiente, o autor não
despreza o uso dos recursos naturais pelo homem, mas se preocupa com o caminho
para o qual o homem está se dirigindo e levando consigo tudo ao seu redor. A
natureza cede aos avanços tecnológicos impostos pelo homem ao tempo que geme
diante tanta devastação.
22

Jonas (2006) apresenta o mundo como local próprio para a habitação, mas
que para isso deve-se se estabelecer uma reconciliação entre o homem e a
natureza, como nova perspectiva configurada no relacionamento amistoso entre
ambos.
Os questionamentos em torno da crise pela qual passa o meio ambiente,
levantados por Jonas (2006) buscam levar o homem a uma atuação ética, que de
forma ampliada possa apontar para condições propicias para o surgimento de uma
ética ambiental e/ou uma ética de responsabilidade.
Nesse sentido torna-se pertinente colocar as palavras de Jonas que diz:

Construir e pensar são, cada um a seu modo, indispensáveis para o habitar.


Ambos são, no entanto, insuficientes para o habitar se cada um se mantiver
isolado, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro. Essa
escuta só acontece se ambos, construir e pensar, pertencem ao habitar,
permanecem em seus limites e sabem que tanto um como [o] outro provém
da obra de uma longa experiência e de um exercício incessante (JONAS,
2006, p. 63).

Os questionamentos postos dialogam com o entendimento formulado pelo


próprio Jonas (2006) no que diz respeito à passividade da natureza diante as
agressões provocadas pelos avanços tecnológicos oriundos das ações humana.
Ambos concordam que o homem deveria ser reflexivo, pois ao fazer uso impensável
dos recursos naturais, acaba por comprometer sua própria existência.
Jonas (2006) ressalta que, mediante as transformações que surgem de forma
acelerada e como vem ocorrendo na atualidade, se faz urgente a reflexão
relacionada ao rumo que o homem está condicionando a si e a sua imagem. Com
tais atitudes ele, o homem, acaba por comprometer sua própria sobrevivência além
de deixar ameaçada a integridade de sua essência.
Assim sendo, a alternativa apontada por Jonas ao homem moderno, que este
estabeleça uma nova ética baseada no respeito mutuo entre cada individuo e
consequentemente, o respeito de todos para com o meio ambiente. Essa mudança
de comportamento permite que ao homem se perguntar em que medida ele deve
está no mundo e como criar meios de assegurar seus projetos, a existência das
futuras gerações, isso tudo centrado na formulação de uma ética de
responsabilidade. A natureza não pode pagar uma conta que não seja dela.
O próprio Jonas destaca que:
23

O homo faber aplica sua arte sobre si mesmo e se habilita a refabricar


inventivamente o inventor e confeccionador de todo o resto. Essa
culminação de seus poderes, que pode muito bem significar a subjugação
do homem, esse mais recente emprego da arte sobre a natureza desafia o
último esforço do pensamento ético, que antes nunca precisou visualizar
alternativas de escolha para o que se considerava serem as características
definitivas da constituição humana. (JONAS, 2006, p. 57).

O filosofo Jonas (2006) através de seus questionamentos apresenta um


entendimento antológico do relacionamento singular entre homem e o mundo que o
rodeia, sendo que este ambiente deve ser compreendido como seu local de
habitação e sua morada única, o que coloca o homem como conhecedor do mundo
como abrigo, local onde ele, o homem, se encontra consigo mesmo e os demais
seres vivos.
Sob esta óptica, o fato do homem habitar a terra deve despertar nele a
conscientização do zelo e pelo meio promovendo posturas de visem diminuir os
graus de destruição da natureza. O sentimento de dependência quanto ao uso dos
recursos naturais deve despertar no homem contemporâneo um comportamento
ético primando pelo zelo de seu local de vivencia, mudando sua relação com o
mundo e abrindo novas portas para o entendimento de interdependência
homem/natureza.
Os dois autores até aqui citados, Barreto (2008) e Jonas (2006) nos coloca na
busca por novos meios para a manutenção da relação do ser humano com a
natureza. A partir daí cabe a cada individuo por meio da utilização dos
conhecimentos trazidos pelos conceitos de ética de responsabilidade adotar postura
pautada na conscientização do uso dos recursos naturais.
Assim, para que a mudança de comportamento do homem diante da natureza
possa surtir efeito, faz-se necessário a elaboração de politicas públicas voltadas
para a promoção de ações conscientes ancoradas na chamada “Educação
Ambiental”.
Tendo como fundamentação as considerações acima colocadas, é pertinente
afirmar que a crise pela qual passa o meio natural na atualidade, nos lança para um
grandioso debate envolvendo a ética educacional com o proposito de refletir as
barreiras impostas nas questões disciplinares, ancorando-se nos princípios que
fundamentam a ética da responsabilidade.
24

Ecocentrismo: caminho a ser percorrido pelo homem.

O conceito de “Ecocentrismo” ainda se encontra em estado de formulação,


mas o que já se pode afirmar é que este conceito leva em consideração a
concessão do valor intrínseco que liga os indivíduos ao meio natural, através de
ações individuais e/ou coletivas.
O entendimento do que seja ecocentrismo considera a inerência da natureza
e seu valor. Diante dessa compreensão a proteção ao meio natural ocorre com o
objetivo de protege ela mesma e não somente ao homem, que faz uso em muitos
casos indevidos dos seus recursos.
Na busca de sua autoproteção, a natureza pode reagir de forma que o
homem não compreenda. Para que seja estabelecida essa compreensão e o homem
reconheça as consequências de suas ações, os ecocentristas procuram apresentar
justificativas para que o homem mude sua postura no trato com a natureza.
A sociedade humana representa um conjunto de símbolos que traduzem os
sentimentos da mesma. Os novos padrões de modernidade advindos da Europa do
século XVII trazem consigo diversos símbolos da racionalidade construída pelo
modelo industrial que aglomera a sociedade de consumo com a sociedade de risco.
A logica do sistema progressista, o individualismo em combinação com o
pensamento antropocêntrico de mundo e do entendimento instrumental da natureza
são fatores que ecoam modernidade. Esse formato imediatista tem sua
racionalidade de caráter econômico orientada pelo acumulo de capital.
A forma como caminha a sociedade moderna pode ser considerada como
uma maneira de constantes mudanças. A contemporaneidade dos fatos no leva a
avaliar que as relações do homem moderno com o meio natural é movido pela
elevada quantidade evolutiva da ciência e da técnica, que são incríveis revoluções
que acabam por gerar um potencial destrutivo em grande escala.
A crise que envolve a sociedade contemporânea é algo que surge de com
diversas conceituações. Tanto é que o conjunto de símbolos que traduzem a
sociedade atual está com seus fundamentos abalados. A questão ambiental é uma
constante quando se fala dos problemas que o homem tem pressa em
resolver/amenizar.
25

Os conceitos que cercam o crescimento econômico, o desenvolvimento, a


ciência, a técnica bem como a dominação dos recursos naturais se encontram
ameaçados. A relação homem-natureza está presente neste contexto de crise, haja
vista que pensava que o desenvolvimento seria uma forma do homem se tornar
independente da natureza, tornando-se apenas seu dominador.
O reconhecimento da crise ambiental clareia a necessidade de uma renovada
forma de relação do homem com a natureza, este primeiro deve rever sua postura
ética diante daquela que proporciona condições para a manutenção da vida.
Nesse sentido Milaré (2004) afirma que:

A consideração do valor intrínseco do mundo natural e dos excessos do


antropocentrismo é fundamental, um pressuposto, para se pensar a Ética da
Vida que, em última análise, se apresenta como condicionadora da Ética do
Meio Ambiente, um dos seus mais expressivos aspectos (MILARÉ, 2001, p.
17).

Sob esse entendimento da ética ambiental as diversas formas de vidas


trazem valores intrínsecos diante um significado próprio uma vez que a própria
natureza precede ao aparecimento humano. Essa ordem de formação das coisas
são expressões que englobam a crença de cada individuo, como expressão do
criacionismo ou na natureza divina.
Além do mais, algumas correntes filosóficas entendem que nem tudo que há
na natureza foi estabelecido para uso imediato dos objetivos humanos, ou para
outros fins, entendendo-se que por outros motivos fogem a compreensão do próprio
homem.
O sistema que envolve o meio natural é algo aberto e sempre há entrada e
saída de energia. Estes são espaços onde a qualquer momento se processam
interação entre os seres que compõem tal sistema, independente da presença
humana.
O homem é apenas uma parte integrante das diversas relações processadas
pelo meio natural. O meio ambiente desperta no ser humano a compreensão de
suas limitações e finitudes. Existe uma relação de interdependência entre os entes
que se encontram na natureza, e o homem precisa cada vez mais de conscientizar
disso.
26

CAP. III DEVER SER E RESPONSABILIDADE.

Em sua apresentação sobre questões voltadas ao dever e responsabilidade,


Hans Jonas demonstra preocupação com a sustentabilidade da vida na terra, que
passa por inevitáveis transformações tecnológicas. A ponderação de Jonas (2006)
traz para a geração contemporânea a responsabilidade moral de zelar pela
continuidade da vida.
Jonas (2006) coloca que por um lado a responsabilidade se eleva na medida
em que o conhecimento que se tem sobre a preservação da vida demonstra a
facilidade de destruir a mesma. Do outro lado desse entendimento de Jonas, o
aumento do dever se revela meramente em função da elevação do conhecimento,
mas também se fundamenta no “poder-fazer” do ser humano.
Ao buscar a conscientização em torno de uma ética favorável à civilização
tecnológica, Jonas (2006) coloca seu olhar direcionado para uma possível imagem
do futuro humano. A situação de risco em que se encontra a sobrevivência do
homem se torna o ponto de partida para todo o questionamento levantado por
Jonas, cujo temor pela autodestruição humana exige a elaboração de uma postura
ética que busca transparecer o dever e responsabilidade que metafisicamente
fundamento a construção da imagem humana em um futuro não tão distante.
Em face do atual cenário em que o ser humano se encontra, Jonas (2006)
sugere e fundamenta de forma antológica a categorização do dever e
responsabilidade como meio para a construção de uma ética, para que o homem
presente no século XXI formule seus princípios fundamentais para que possa criar
condições para salvaguardar o meio natural de suas próprias ações predatórias.
A condição humana na contemporaneidade demonstra que nenhuma ação
ética, até o momento, considerou a possibilidade de uma emergente destruição do
planeta e consequentemente da sua própria espécie. Essa situação, no entanto,
começa a exigir a construção de uma postura ética que permita, a partir do presente,
a construção de condições de preservação da humanidade no futuro.
Apesar dos apontamentos da teoria acerca do principio da responsabilidade
através da ética sob a perspectiva de Jonas (2006) tenha sua sustentação na
continuidade da vida do homem, sua teoria busca da mesma maneira a continuidade
da vida extra-humana, isto é, a vida das outras espécies.
27

Diante disso, é pertinente ressaltar que se torna reconhecível as


necessidades do ser humano contemporâneo em sua conjuntura tecno-cienticica em
que se envolve não somente sua espécie, mas todo o meio que circunda. Como
consequência, ao apontar a teoria do dever e responsabilidade como meio para
contornar tal problema na relação homem / meio ambiente, Jonas (2006) coloca
como resposta a um dos fundamentais questionamentos em tempos atuais, isto é, a
crise do meio ambiente e seus efeitos globais, que em vários casos já possuem
caráter irreversíveis diante de uma técnica colocada em prática sem uma previa
avaliação das possíveis consequências que certamente acompanham tais práticas.
Assim sendo, os entendimentos postos pelo filosofo Jonas, mesmo que de
maneira um tanto profética, no dever do homem em salvar sua sobrevivência sobre
a terra, a apresentação da teoria do dever e responsabilidade como fundamento
ético, certamente pode ser um dos poucos caminhos a serem seguidos pelo homem.
No inicio de sua obra intitulada “O principio da responsabilidade”, o autor
Hans Jonas (2006) faz uma sucinta apresentação da teoria que vem a fundamentar
sua produção. Nesta obra o autor Jonas (2006) faz uso de um personagem
mitológico, o Prometeu, como figura antológica que possui poder cientifico e
claramente anuncia suas teses que serão posteriormente fundamentais para a
fundamentação da própria teoria da responsabilidade.
Jonas (2006) afirma que:

A técnica moderna transformou-se em ameaça ou a ameaça


aliou-se à técnica; o vazio de que padece a nova práxis coletiva
não é mais do que o vazio atual provocado pelo relativismo de
valores; a ameaça que a „heurística do medo‟ antecipa
conscientiza o homem da ameaça suspensa, sobre a
„integridade da sua essência‟, ou seja, „a imagem do homem‟;
se a integridade da essência do homem está em risco, impõe-
se a fundamentação de uma ética forte que deve assemelhar-
se ao aço e não ao algodão em rama (JONAS, 2006, p. 67).

A teoria ora mencionada aponta para o entendimento formulado por Jonas


(2006), e se direcionam para a afirmação da existência de limites a serem
observados pela civilização tecno-científica, a qual em relação conturbada que se
realiza entre homem e meio natural, coloca em risco a situação precária do ser
humano.
28

Esta situação cobra do ser humano a obrigação em formular a criação de


seus próprios princípios éticos, que tenham por base o dever e a responsabilidade,
não só consigo, mas com todo o meio que o cerca e também com olhar às gerações
que há de vir.
Quando propõe um novo fundamento para o principio ético em contraponto ao
homem que vive a base da tecnologia, Jonas (2006) procura demonstrar por que o
uso da técnica moderna torna-se um potencial problema filosófico e
consequentemente um desafio ético, pois para o autor, a partir dessa discussão
emerge a necessidade da criação de uma teoria voltada para o dever e
responsabilidade.
Ao fazer essa consideração, a revelação do pressuposto e o significado de
sua base teórica sobre a ética, Jonas (2006) busca destacar alguns elementos que
venham a compor sua teoria, isto é, suas fundamentações filosóficas nas quais sua
teoria tem apoio. Em analise a principal obra pela qual se destaca, Hans Jonas,
apresenta o principio da responsabilidade, pode-se facilmente identificar as
categorias pelos quais sua elaboração teórica do dever e responsabilidade se
constroem.
Jonas (2006) afirma que:

Em torno das categorias de bem, de dever e de ser e


encontraria na relação pais filhos seu arquétipo primordial. A
adequação entre o ser e o “dever ser” tem sido tarefa primordial
na história da humanidade desde seus primórdios. [...] Hans
Jonas apresenta o entrelaçamento dessas três categorias
como base de configuração da ética nova (JONAS, 2006, p.
47).

Entretanto, é no caminho apontado por estas categorias, “o bem, o dever e o


ser”, que o autor Jonas (2006) sugere a sua teoria da responsabilidade e,
consequentemente, esses elementos colocados pelo filosofo Jonas traz consigo
questões que mantem relação direta do ser humano com o dever/ser, da
causa/consequência, do valor/responsabilidade.
Como é fácil se perceber, o caminho de estudo escolhido por Jonas (2006)
para sua investigação se pauta na necessidade e relevância de sua tese da
responsabilidade na postura humana. Mesmo assim, não se pode perder de vista
que aqui se busca apresentar o alcance em que se chegou a temática em foco, além
29

de apontar para a fundamentação metafisica como meio possível de entendimento a


teoria formulado pelo autor em estudo.
A teoria do dever e responsabilidade tem sua fundamentação em situações
hipotéticas ontológicas, isto é, “o bem, o dever e o ser”, defendidos por Jonas (2006)
nos leva a entender que somente por meio da compreensão cientifica dos
acontecimentos não se poder ter a ultima palavras sobre a situação de todos os
seres vivos.
Em analise as colocações feitas por Jonas (2006), se faz pertinente afirmar
que o “ser” em todas suas manifestações provem de um “dever”, isto é, podemos
entender que o bem passa a ser um dever mediante a existência da vontade de
execução de determinada ação.
Seguindo este entendimento, vislumbra-se que o bem pode surgir de uma
incumbência, pois “com isso, torna-se um dever, desde que seja uma vontade que
assuma essa exigência e trate de realizá-la” Hans Jonas (2006). A postura do dever
que advém do ser não pode ser compreendida por mera dedução logica, em certo
circunstancia pode-se retirar o dever do ser, mas isso só na esfera de questão
existencial e nunca um dever de maneira prescrita. Existe, no entanto, uma inegável
vontade exacerbada de criar leis para admoestação do ser, tornando-o capaz de
responder as emergentes exigências de um dever.
O filosofo Hans Jonas apresenta por um lado uma inquietação no que diz
respeito à condição da vida, especialmente com a vida da espécie humana e
estabelece uma proposta de imagem do homem e seu futuro. Por outro lado, o autor
denuncia a urgência em relação a situação critica em que se encontra a natureza.
Segundo Hans Jonas 2006, p.149, “Mais do que uma extensão do espectro
genérico, o interesse se manifesta na intensidade dos fins próprios dos seres vivos,
nos quais a finalidade da natureza se torna cada vez mais sugestiva”.
Á medida em que propõe um argumento teleológico do meio natural, Jonas
(2006) visa demonstrar que todos os seres vivos devem procurar cumprir seu
objetivo de existência, mesma que esta existência se restrinja a si mesmo. Hans
compreende o bem como algo que inerente a realidade do ser humano, pois ele
considera isso como próprio do homem e que pode transformar-se em
responsabilidade à medida em que surja a vontade de transforma-la em algo
concreto.
30

Este entendimento serve de base para a teoria do dever e responsabilidade


defendida pelo próprio Jonas (2006) quando afirma que “como exigência
pertencente à realidade do ser, direcionada à preservação da vida”. Assim sendo, o
dever torna-se uma exigência que se encontra subentendida no intimo do ser.
Com o intuito de fundamentar de maneira ontológica sua formulação teórica
sobre a ética, Jonas (2006) baseia-se na primazia do ser humano em relação ao
nada. A escolha pelo ser humano em contraponto ao nada traz a ética da
responsabilidade à sua fundamentação inaugural e a sua essência primordial.
Com o objetivo de dirigir o futuro, o principio da responsabilidade defendido
por Hans Jonas, se encontra em um novo campo, o qual a ética antecede ao
conceito prescrito e amplamente utilizado por ela mesma, que é a reciprocidade.
De acordo com o próprio Hans Jonas (2006):

A ideia tradicional de direitos e deveres não é mais suficiente


para fundamentar a nova ética porque não há outro
presentificado no tempo ou no espaço, cujo direito ou dever
sirva de bússola orientadora ou reflexo invertido para si.
(JONAS, 2006, p. 153)

A ideia defendida por Hans Jonas (2006) postula que:

O sujeito moral deve considerar objeto de sua responsabilidade


seres humanos futuros, ou seja, seres que ainda não são e
que, portanto, a partir de uma ótica tradicional, não têm direitos
e nem podem exercer seus deveres. (JONAS, 2006, p. 157)

Para Jonas (2006), o dever como manifestação da existência futura tem


dependência ligada exclusivamente a postura responsável do ser humano. O autor
coloca o ser humano como único responsável pela construção de um futuro que está
em processo de construção e que está projetado de acordo com a continuidade do
direito do ser e do estar no mundo.
31

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo procura demonstrar em que medida a teoria formulada


pelo filosofo alemão Hans Jonas com o titulo “O principio da responsabilidade” pode
consubstanciar uma nova linha ética que seja capaz de nortear o agir do ser humano
diante aos problemas advindos das inovações tecnológicas.
Em face da defesa realizada por Hans Jonas (2006) em sua teoria, nota-se a
urgência na qual o seu conceito sobre a ética justifica-se no movimentar-se da
humanidade em sua totalidade. A ética posta por Jonas (2006) surge para ordenar
as ações do homem e regulamentar seu poder no agir diante do meio natural.
“Assim como deve estar adaptado à sua magnitude, o princípio ordenador também
deve adaptar-se ao tipo de ação que se deve regular.” (Jonas, 2006).
Diante da tese posta por Hans Jonas (2006), as condutas contemporâneas do
homem exigem consequentemente novas regras que as acompanhem e quem sabe
em uma nova perspectiva se formule uma ética mais que cada vez mais interaja com
as necessidades da humanidade que vive em constantes modificações.
Enveredando-se por essa linha de compreensão o filosofo Hans Jonas (2006)
aponta a responsabilidade como sendo o principio norteador para a direção que
conduza a ação e a fundamentação de uma ética para a contemporânea era da
tecnologia.
Em relação às criticas que se levantam as ideias de Hans Jonas (2006) e as
tratativas do autor, percebe-se que uma observação mais apurada hodierna e a
mudança de postura do ser humano criam uma dupla direção.
Primeiro fica claro o risco que o campo cientifico e tecnológico, sob a
empolgação do poder em excesso e do poderio de intervenção, criam preocupação
à sobrevivência do ser humano e também das demais espécies de seres vivos. Por
outro lado, o eminente perigo é conduzido pelo poder de intervenção da própria
natureza humana, que acaba por manipular o futuro das novas gerações que pode
afetar a própria autonomia e comportamento de dignidade humana.
Torna-se pertinente ressaltar que o próprio Hans Jonas (2006) afirma que,
“uma vez que nada menos que a natureza do homem se encontra sob a esfera de
influência das intervenções humanas, a precaução se torna o primeiro dever ético, e
o pensar hipotético, nossa primeira responsabilidade.” (Jonas, 2013).
32

Infere-se das palavras do autor em estudo a exigência de uma nova postura


ética que seja fundamentada na relação de responsabilidade solidária, que
estabeleça ponte entre o presente e o futuro. Essa preocupação não era
considerada em outras épocas, mas as emergentes inovações tecnológicas
impulsionaram o homem a esta reflexão.
Ponderando nas palavras de Hans Jonas (2006), não é mais aceitável de
abstinência em questionamentos éticos. Não se admite uma sobrevivência sem uma
ética que seja solidária, planetária e civilmente tecnológica. A ética entendida como
planetária exorta à sobrevivência das espécies, reforçando a urgente necessidade
de mudança na postura e atitudes do ser humano.
Em face dessa nova concepção de ética, precisa surge um desencanto da
centralidade do ser humano como parte do planeta e uma forma de encantamento
pela própria humanidade e a relação entre as demais formas de vida, procurando
buscar o “humanismo da humanidade”, isto é, uma reformada etapa para a história
da própria humanidade, onde seja possível a reconstrução do mundo habitável.
Portanto, fundamentado na abordagem filosófica realizada por Jonas (2006)
acerca da emergente necessidade de uma postura ética ontologicamente norteada
nos desafios levantados pelo uso das inovações tecnológicas da
contemporaneidade e considerando a importância do tema dada pelo autor em
estudo, conclui-se e ao mesmo tempo permite-se a possibilidade de engendrar um
moderno direcionamento ético que seja capaz de reorganizar o agir do ser humano,
de modo que posso superar a eminente ameaça de supressão da espécie não só
humana, mas toda forma de vida.
33

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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JONAS, Hans. O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para uma


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Nacional de pós-graduação em Filosofia), São Paulo: Paulus, 2013.

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_______. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2


ed., São Paulo: revista dos tribunais, 2001, 1119 p.

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