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ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS
VALENTINE JAHNEL
Niterói, RJ
2016
VALENTINE JAHNEL
Niterói, RJ
2016
J25 Jahnel, Valentine
Análise ambiental dos traçados de linhas de transmissão
planejadas no Brasil / Valentine Jahnel. – Niterói, RJ : [s.n.], 2016.
126 f.
CDD 551.4
Dedico este trabalho ao meu filho Ian.
AGRADECIMENTOS
Figura 17 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Norte ............... 63
Figura 25 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Nordeste .......... 71
Figura 34 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Centro-Oeste ... 79
Figura 38 – Desvio de áreas urbanas, de pivôs centrais de irrigação e de uma área militar
na região Centro-Oeste ..................................................................................... 82
Figura 41 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Sudeste ............ 86
Figura 50 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Sul ................... 94
Figura 54 - Desvio de área urbana, de área alagável e interferência em APA na região Sul
.......................................................................................................................... 97
Figura 58 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas nas
cinco regiões brasileiras .................................................................................. 102
Figura 62 – Gráficos percentuais das extensões dos desvios das unidades de conservação
no Brasil .......................................................................................................... 106
Figura 63 - Gráficos percentuais das extensões dos desvios dos corpos d’água no Brasil 107
Figura 64 – No de interferência dos traçados em áreas com restrição no Brasil ............... 110
Figura 65 – Gráfico da percentagem das extensões dos desvios sobre a extensão total de
traçados analisados por região e para o Brasil ................................................ 114
LISTA DE TABELAS
Tabela 9 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável
na região Norte ................................................................................................. 64
Tabela 32 – Interferência dos traçados em áreas restritivas na região Sul ........................ 100
Tabela 34 – No de traçados que apresentaram desvios por região brasileira ..................... 101
Tabela 39 – Outras interferências com áreas restritivas por região brasileira ................... 111
Tabela 40 – Percentagem das extensões dos desvios sobre a extensão total de traçados
analisados por região e para o Brasil .............................................................. 113
Tabela 42 – Quadro da influência das variáveis para os desvios dos traçados analisados 115
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 17
2. OBJETIVO ............................................................................................................................... 18
2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 18
2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO ............................................................................................... 18
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................. 19
3.1. A EXPANSÃO DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL ...................................... 19
3.2. OS ESTUDOS AMBIENTAIS DE LINHAS DE TRANSMISSÃO ............................... 22
3.2.1. Elaboração da Documentação Técnica para o Processo de Outorga ........................ 22
3.2.1.1. Relatório R1 ......................................................................................................... 23
3.2.1.2. Relatório R3 ......................................................................................................... 24
3.2.2. Estudos para o licenciamento ambiental .................................................................. 27
3.3. ÁREAS COM RESTRIÇÕES PARA OS TRAÇADOS DE LINHAS DE
TRANSMISSÃO.......................................................................................................................... 29
3.3.1. Comunidades tradicionais ........................................................................................ 30
3.3.1.1. Terras Indígenas ................................................................................................... 31
3.3.1.2. Terras quilombolas ............................................................................................... 32
3.3.2. Projetos de Assentamento Rural............................................................................... 34
3.3.3. Unidades de Conservação ........................................................................................ 36
3.3.3.1. Unidades de Conservação de Proteção Integral ................................................... 36
3.3.3.2. Unidades de Conservação de Uso Sustentável ..................................................... 37
3.3.4. Áreas urbanas ........................................................................................................... 40
3.3.5. Corpos d’água .......................................................................................................... 42
3.3.6. Áreas desprovidas de apoio viário............................................................................ 43
3.3.7. Outros ....................................................................................................................... 44
3.3.7.1. Cavidades Naturais Subterrâneas (cavernas)........................................................ 45
3.3.7.2. Aeroportos e aeródromos ..................................................................................... 47
3.3.7.3. Área de valor paisagístico .................................................................................... 47
3.3.7.4. Mineração ............................................................................................................. 48
3.3.7.5. Áreas de agricultura conflitantes com linhas de transmissão ............................... 50
4. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................... 50
4.1. TRAÇADO DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO PLANEJADAS ................................ 50
4.2. BASE DE DADOS DAS ÁREAS RESTRITIVAS CONSULTADA ............................. 51
4.3. CÁLCULO DOS DESVIOS ............................................................................................ 52
4.4. CONTAGEM DAS INTERFERÊNCIAS ........................................................................ 55
4.5. COMPILAÇÃO DOS DADOS EM TABELA ................................................................ 56
4.6. ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................. 57
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 58
5.1. DADOS GERAIS DOS RESULTADOS ......................................................................... 58
5.2. ANÁLISE DOS DESVIOS E INTERFERÊNCIAS DOS TRAÇADOS DE LINHAS DE
TRANSMISSÃO PLANEJADAS EM ÁREAS RESTRITIVAS POR REGIÃO BRASILEIRA62
5.2.1. Região Norte ............................................................................................................ 62
5.2.2. Região Nordeste ....................................................................................................... 70
5.2.3. Região Centro-Oeste ................................................................................................ 78
5.2.4. Região Sudeste ......................................................................................................... 85
5.2.5. Região Sul ................................................................................................................ 94
5.3. ANÁLISE DOS DESVIOS E INTERFERÊNCIAS DOS TRAÇADOS DE LINHAS DE
TRANSMISSÃO PLANEJADAS EM ÁREAS RESTRITIVAS NO BRASIL – ANÁLISE
INTEGRADA DAS REGIÕES BRASILEIRAS ....................................................................... 100
5.4. INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS DETERMINANTES DOS DESVIOS NAS
REGIÕES BRASILEIRAS E NO BRASIL ............................................................................... 112
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 116
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 118
8. APÊNDICE 1 ......................................................................................................................... 126
17
1. INTRODUÇÃO
linhas de transmissão e que deverão ser evitadas. Devido às diferenças entre as regiões
onde os estudos foram desenvolvidos, essas variáveis e seus pesos são diferentes, de forma
a contemplar as particularidades dos locais. No Brasil, devido à sua grande extensão
territorial, essas restrições também podem variar consideravelmente entre as regiões
brasileiras. O conhecimento regional destas restrições pode contribuir para um melhor
planejamento dos empreendimentos ligados à implantação de linhas de transmissão, de
forma a diminuir o prazo para a obtenção de licenças ambientais, prazo este que em alguns
casos pode influenciar na data de entrada da linha no sistema.
2. OBJETIVO
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Fonte: ONS
Figura 1- Diagrama do Sistema Interligado Nacional – SIN
O Plano Decenal de Energia 2024 aponta que na região Norte ocorrerá a maior
expansão hidrelétrica, onde se destacam as usinas de Belo Monte e São Luiz do Tapajós,
com 11.233 e 8.040 MW de potência total, respectivamente.
A energia eólica também apresenta grande potencial a ser explorado e se consolida
como um dos principais componentes para a expansão da matriz de energia elétrica do
Brasil. O PDE 2024 prevê uma expansão de 18.909 MW de potência dessa fonte,
distribuídos no Nordeste e Sul do Brasil (MME/EPE, 2015).
21
Para que uma nova instalação de transmissão (linha ou subestação) seja licitada ou
autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel, faz-se necessário prover,
àquela Agência, informações da viabilidade de execução da obra, tanto do ponto de vista
técnico-econômico, como também socioambiental.
Assim, considerando a data de entrada em operação de cada instalação de
transmissão da Rede Básica e a necessidade da outorga de sua concessão por meio de um
processo de licitação ou autorização, a EPE procede aos estudos e elabora, com apoio dos
concessionários, relatórios correspondentes para os empreendimentos, em tempo hábil para
fornecer os subsídios para o processo licitatório de outorga da Aneel (EPE, 2008).
Desta forma, dos quatro relatórios do planejamento que subsidiam a Aneel com
informações da LT a ser licitada, dois possuem análises ambientais, os relatórios R1 e R3.
Após o leilão, inicia-se o licenciamento ambiental da linha de transmissão. A empresa
vencedora fica responsável pela realização dos Estudos de Impacto Ambiental - EIA que,
com as informações do projeto básico, incorpora as características específicas do
empreendimento às análises ambientais. Nessa etapa, a empresa pode propor um traçado
diferente do apontado nos relatórios de planejamento, buscando otimizar os custos e
viabilizar a licença ambiental.
23
Licitação
3.2.1.1. Relatório R1
3.2.1.2. Relatório R3
O termo de referência para elaboração dos Relatórios R3 (EPE, 2008) aponta que o
relatório deve apresentar o resultado das avaliações socioambientais preliminares relativas
ao corredor de passagem proposto e de análises in loco da exequibilidade do
empreendimento, identificando uma diretriz (lineamento, trajeto, rota) preferencial para a
linha de transmissão, do ponto de vista econômico e socioambiental, bem como sob o
aspecto construtivo, e lista as informações a serem prestadas, a saber:
Uma vez selecionada a diretriz da linha de transmissão, seu percurso deverá ser
descrito trecho a trecho e deverão ser apresentadas as seguintes informações:
• Extensão (km);
26
• Número de travessias de corpos d’água com largura entre 500 e 1000 metros
e com largura acima de 1.000 metros;
Segundo CARDOSO Jr. (2014), o traçado das linhas de transmissão devem buscar
o maior alinhamento possível entre as subestações considerando, entretanto, as restrições
técnicas e ambientais do traçado. Para o autor, as principais restrições a serem
consideradas na definição de um traçado de linha de transmissão são: terras indígenas,
comunidades quilombolas, assentamentos fundiários, unidades de conservação, zonas
urbanas, barreiras físicas geomorfológicas, travessia de corpos hídricos, patrimônio
histórico e beleza cênica, áreas de preservação permanente, fragmentos florestais com
vegetação nativa, locais desprovidos de acessos secundários, cavidades naturais,
benfeitorias rurais, aeródromos e patrimônio arqueológico e paleontológico.
Estudos vêm sendo realizados em diferentes países para o desenvolvimento de
metodologias para o delineamento de traçados de linhas de transmissão com o uso de
geotecnologias. Essas metodologias baseiam-se na atribuição de pesos de ponderação para
variáveis de restrição para a implantação de linhas de transmissão.
A pesquisa realizada por ARANEO (2015), na Itália, lista como as áreas que devem
ser evitadas pelos traçados de linhas de transmissão: os aeroportos, áreas militares, áreas
urbanas, parques nacionais, áreas de interesse da União Europeia, áreas de travessias de
30
“No termo de referência do estudo ambiental exigido pelo IBAMA para o licenciamento
ambiental deverão constar as exigências de informações ou de estudos específicos
referentes à interferência da atividade ou empreendimento em terra indígena...”
3.3.1.2.Terras quilombolas
Na Portaria nº 60/2015 terras quilombolas são definidas como “as áreas ocupadas
por remanescentes das comunidades dos quilombos, que tenha sido reconhecida pelo
Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID, devidamente publicadas”.
A mesma portaria exige a elaboração de estudos específicos no caso de
interferências do empreendimento em terras indígenas, também estipula que sejam
realizados estudos específicos para terras quilombolas:
Permite apenas o uso indireto dos recursos naturais com exceção dos casos
previstos em lei. Engloba as categorias mais restritivas das unidades de conservação,
apresentadas a seguir:
faixa de 3 mil metros a partir dos limites da unidade de conservação, com exceção das
Áreas de Proteção Ambiental - APAs, das Reservas Particulares do Patrimônio Natural -
RPPNs e em áreas urbanas consolidadas.
Cabe mencionar que as unidades de conservação podem ser criadas no âmbito das
três esferas do governo: federal, estadual e municipal. As unidades de conservação federais
estão sob responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade –
ICMBio, que disponibiliza os dados sobre as suas unidades, como as áreas, os planos de
manejo, entre outros. No entanto, destaca-se que para as unidades de conservação criadas
pelos governos estaduais e municipais, muitas vezes, não existem dados disponíveis sobre
elas, prejudicando a consideração dessas unidades no planejamento de empreendimentos
como o de linhas de transmissão. Adicionalmente, aponta-se que nas esferas estaduais e
municipais do governo, podem ocorrer unidades de conservação não categorizadas pelo
SNUC, seja por terem sido criadas antes da publicação do SNUC (ano 2000), ou por terem
objetivos que não se enquadram em nenhuma das suas categorias.
A Portaria MMA no 55/2014 estabelece os procedimentos relacionados à Resolução
n° 428/2010 entre o órgão responsável pelas unidades de conservação nacionais, o
ICMBio, e o órgão responsável pelo licenciamento ambiental federal, o Ibama. A Figura 6
mostra as unidades de conservação no Brasil.
40
Os traçados das linhas de transmissão desviam sempre que possível das áreas
urbanas e de expansão urbana, uma vez que, a passagem por essas áreas resulta em um
elevado número de desapropriações, aumenta os riscos de acidentes com a população
urbana e degrada a paisagem local.
Entretanto, para as linhas de transmissão que atravessam áreas urbanas ou áreas em
expansão urbana, é necessário, desde os estudos iniciais, a consulta aos planos diretores.
O plano diretor é definido pelo Estatuto das Cidades (Lei Federal 10.257/2001)
como o instrumento básico para orientar a política de desenvolvimento e de ordenamento
da expansão urbana do município.
O Plano Diretor é obrigatório para municípios:
41
3.3.7. Outros
Além das restrições citadas acima, existem outras áreas que também apresentam
restrições para a passagem de linhas de transmissão. No entanto, essas variáveis podem
demandar menores extensões de desvio, ou apresentar baixa frequência de ocorrência de
desvio do traçado. Algumas dessas variáveis são descritas nos próximos itens.
45
“é todo e qualquer espaço subterrâneo penetrável pelo ser humano, com ou sem
abertura identificada, popularmente conhecido como caverna, gruta, lapa, toca,
abismo, furna e buraco, incluindo seu ambiente, seu conteúdo mineral e hídrico, as
comunidades bióticas ali encontradas e o corpo rochoso onde as mesmas se inserem,
desde que a sua formação tenha sido por processos naturais, independentemente de
suas dimensões ou do tipo de rocha encaixante.”
A área de influência será definida pelo órgão ambiental competente, que poderá
exigir estudos específicos às expensas do empreendedor. Entretanto, até a definição da área
de influência pelo órgão ambiental, esta será de 250 metros no entorno da cavidade natural
subterrânea.
46
Uma linha de transmissão pode, em geral, desviar facilmente das cavidades naturais
subterrâneas e de suas respectivas áreas de influência. No entanto, como as cavidades
naturais estão situadas em regiões geológicas específicas, como as áreas definidas como
alto potencial de ocorrência de cavernas na Figura 10, é comum as cavidades ocorrerem de
forma agrupada, aumentando o risco de interferências.
Recentemente, o órgão ambiental tem exigido estudos de potencial espeleológico
específicos para as linhas de transmissão que atravessam essas áreas com maior ocorrência
de cavidades naturais subterrâneas.
47
Uma linha de transmissão deve, sempre que possível, evitar áreas de valor
paisagístico, pois altera a paisagem e gera impacto visual no local onde é implantada.
Segundo GARCIA (2006), o impacto visual de um sistema de transmissão é originado
principalmente pela repetição contínua de torres e condutores através da linha de visão,
tornando-se uma imposição visual, podendo provocar impactos ao interferir com áreas de
lazer e recreação, parques nacionais, pontos turísticos, locais históricos, lagos,
reservatórios e paisagens naturais.
DRUMMOND (2013) aponta que se uma linha de transmissão for construída
paralelamente à única estrada de acesso a um parque nacional, ou se ela escala
verticalmente uma encosta claramente visível de um ponto turístico importante, ela será
mais conspícua e sujeita a ser vista por mais tempo, por mais pessoas, com maior
intensidade. Entretanto, existem diversas soluções de traçado para diminuir o grau de
visibilidade de uma LT e, consequentemente, os seus impactos "cênicos", mesmo nas
proximidades de áreas naturais preservadas.
48
3.3.7.4. Mineração
A maioria das culturas pode ser praticada nas faixas de servidão. No entanto,
espécies facilmente combustíveis, como plantações de cana-de-açúcar e a silvicultura, não
podem coexistir com a faixa de servidão. Desta forma, com a passagem da linha de
transmissão, uma grande área de produção pode ser inviabilizada para a cultura. Para as
pequenas propriedades rurais, a perda da área produtiva na faixa de servidão tende a
comprometer consideravelmente a renda do agricultor rural.
Na nas áreas de agricultura extensiva, as torres de transmissão podem dificultar a
passagem de maquinário agrícola, e os cabos das linhas, a passagem de aviões
pulverizadores. Em relação aos pivôs centrais de irrigação, esses devem ser desviados
pelas linhas devido à incompatibilidade dos dois tipos de estruturas. Essas áreas são bem
visíveis em imagens de satélite, possuindo, em média, 1 km de diâmetro.
4. MATERIAL E MÉTODOS
Ressalta-se que os desvios considerados para rodovias foram os desvios feitos para
que o traçado atravessasse uma área com melhor apoio viário, em geral, seguindo em
paralelo a uma rodovia ou outra via de acesso.
Sendo o desvio superior à extensão necessária para desviar da área mais restritiva, a
diferença foi contabilizada na segunda variável para não haver sobreposição na medição de
desvios. A Figura 11 exemplifica o mencionado.
1
O padrão de desvio para a variável Rodovias difere dos demais por buscar proximidade com essas feições,
enquanto os desvios para as outras variáveis visam o contorno e afastamento das áreas restritivas.
53
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 11 – Exemplo de desvio de duas variáveis
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 12 – Exemplo de desvio de área urbana
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 13 – Exemplo de desvio de unidade de conservação
55
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 14 – Exemplo de desvio visando o paralelismo com rodovia
Além dos desvios, foram identificadas as interferências dos traçados das linhas de
transmissão planejadas em áreas com restrições. Nos casos das interferências, o que foi
contabilizado foi o número de interferências por traçado.
A Figura 15 mostra o traçado de uma LT planejada atravessando uma APA e alguns
assentamentos rurais.
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 15 – Exemplo de interferência de traçado em assentamentos rurais e em APA
56
Sem desvio
Não foi identificado desvios acima de 1 km
significativo
OBS Desvio não O desvio não pode ser identificado a partir da base consultada e das
identificado imagens de satélite
OBS Observação
Desta forma, na distribuição dos traçados por região, os traçados que atravessam
mais de uma região brasileira foram computados na região onde este se apresenta com
maior extensão.
Visando realizar uma análise não apenas da extensão dos desvios, como também da
sua frequência de ocorrência, optou-se por fazer uma análise tanto da extensão do desvio
quanto do número de linhas que desviaram de uma determinada variável. Convém
mencionar que um traçado pode desviar de mais de uma área restritiva.
Os dados foram trabalhados com o detalhamento da tabela 3, discriminando os
grupos e as categorias das unidades de conservação, tipos de corpos d’água, etc. No
entanto, nas análises mais generalistas, os dados dos desvios foram agrupados, e para as
discussões mais específicas, foram apresentados em sua forma detalhada.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 5 - Extensão e número de traçados de linhas de transmissão planejadas analisadas por região
Sul Norte
13% 27%
Sudeste
21%
Centro-Oeste Nordeste
13% 26%
Figura 16 – Percentagem da extensão dos traçados de linhas de transmissão planejadas analisados por
região brasileira
A Tabela 5 aponta que houve um acréscimo de 5,2 % nas extensões totais dos
traçados analisados devido aos desvios. Observa-se que a região Norte foi a região que
apresentou a maior extensão de desvios enquanto a região Centro - Oeste foi a que
apresentou menores extensões de desvios e menor relação desvios (km) /traçados (km).
A Tabela 6 apresenta a extensão dos desvios e o número de traçados que
apresentaram desvios para evitar áreas com restrições ou para seguir em paralelo a
rodovias. Os valores percentuais estão relacionados aos valores totais dos números de
traçados analisados e extensão total dos desvios, apresentados na Tabela 5.
Tabela 6 – No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável analisada
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Paralelismo com Rodovias 54 32 453 29
Área Urbana 70 41 332 21
Unidades de Conservação 37 22 238 15
Terra Indígena 13 8 107 7
Corpos dágua 41 24 212 14
Outras 62 36 210 14
Na Tabela 6, verifica-se que a maior extensão de desvio dos traçados analisados foi
em decorrência do paralelismo com rodovias, perfazendo um total de 453 km, o
60
equivalente a 29 % do total da extensão dos desvios. Esses desvios evitam as áreas com
pouco apoio viário que, além de prejudicar a logística para a construção e manutenção da
linha de transmissão, frequentemente são as causas de maiores interferências com a
vegetação nativa.
A variável determinante do desvio que ocorreu com maior frequência e segunda
maior em extensão foi a área urbana, estando presente em 41 % dos traçados analisados, e
perfazendo um total de 332 km de extensão. A restrição para a passagem de linhas de
transmissão em áreas urbanas é muito alta embora muitos dos desvios não tenham grandes
extensões. Uma vez que as áreas urbanas encontram-se espargidas por todo o Brasil, há
uma grande frequência desses desvios. Ainda assim, como esse estudo somente considerou
os desvios maiores de 1 km por traçado, o número e a extensão dos desvios de áreas
urbanas tendem a ser ainda maiores.
As unidades de conservação apresentam a terceira maior extensão de desvios dos
traçados, com 238 km. Cabe mencionar que neste campo estão agrupadas as unidades de
conservação de proteção integral e de uso sustentável, apesar dos diferentes graus de
restrição que elas apresentam.
Os desvios que ocorreram por conta dos corpos d’água somaram um total de 212
km, e foram causas de desvios em 41 linhas. Incluídos nessa classe, encontram-se os
desvios de rios, reservatórios e lagos, e os desvios realizados para a viabilização de
travessias desses corpos d’água.
Em relação às terras indígenas, os desvios dos traçados planejados foram de
aproximadamente 107 km de extensão, identificados em 13 dos 171 traçados analisados,
indicando que as extensões dos desvios tendem a ser grandes.
No campo Outras, da coluna das variáveis determinantes dos desvios, diferentes
áreas identificadas estão agrupadas, dentre elas terras quilombolas, áreas com concentração
de cavernas, áreas de mineração, assentamento rural, áreas alagáveis, etc., que serão
apresentados nos próximos itens.
Alguns traçados não apresentaram desvios significativos, ou seja, desvios com
extensões superiores a 1 km, enquanto outros apesentaram desvios que não puderam ser
identificados a partir da base de dados consultada. O número de traçados que apresentaram
essas situações encontram-se na Tabela 7.
61
Tabela 7 - No de traçados que não apresentaram desvios e no traçados que apresentaram desvios não
identificados por região a brasileira
Número de traçados
Traçados de LT
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total
Não apresentaram desvio significativo
1 6 2 2 3 14
(> 1 km)
Apresentaram desvios não
7 7 5 7 5 31
identificados
Neste item, os traçados são analisados por região brasileira visando identificar quais
são os principais motivos de desvios e a frequência de interferências com áreas restritivas
considerando as características de cada região.
Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007; IBGE, 2009
Figura 17 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Norte
Tabela 9 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Norte
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 21 66 261 49
Área Urbana 6 19 17 3
UC PI 4 13 23 4
UC US 3 9 10 2
Terra Indígena 7 22 82 16
Terra Quilombola 0 0 0 0
Área Alagável 2 6 9 2
Travessia corpos d’água 8 25 65 12
Desvio corpos d’água 6 19 24 5
Assentamento Rural 6 19 15 3
Outros 4 13 22 4
300
250
200
150
100
50
0
*Desvio de aproximação
Figura 19 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Norte
65
25
20
15
10
5
0
*Desvio de aproximação
Pode-se observar a partir dos gráficos que o paralelismo com rodovias, terra
indígena e travessias de corpos d’água são as variáveis mais significativas para os desvios
dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Norte.
Conforme apresentado na Figura 18, a malha viária na região Norte é deficiente,
formado por poucas rodovias pavimentadas e estradas não pavimentadas. Tendo em vista
que a região Norte engloba grande parte da Amazônia Legal, as regiões com déficit em
vias de acesso muitas vezes estão cobertas com florestas ombrófilas bem preservadas que
em média possuem de 35 a 40 metros de altura (MESQUITA, 2009). Além da dificuldade
para transpor a vegetação nativa, o impacto da construção uma linha de transmissão nessas
áreas é muito alto e tende a ser intensificado pela falta de vias de acesso. Tais condições
justificam os grandes desvios dos traçados para o paralelismo com rodovias existentes na
região Norte, observados em 21 dos 32 traçados analisados (66%), e responsável por um
acréscimo de 261 km nas extensões dos mesmos. A Figura 21 apresenta um exemplo de
desvio do traçado visando o paralelismo com rodovia em uma região com pouco apoio
viário.
66
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 21 – Desvio visando o paralelismo com rodovias na região Norte
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 22 – Desvio de rios na região Norte
Em relação às terras indígenas, essas áreas são responsáveis por grandes desvios na
região Norte (Figura 23). Além do desvio da área delimitada, deve-se observar que a
maioria dos desvios consideram também a distância estipulada pela portaria 411/11
(revogada pela Portaria no 60/15 mantendo o mesmo valor), sendo de 8 km de afastamento
para a Amazônia Legal. Cabe lembrar que o órgão ambiental poderá exigir estudos
específicos referentes às interferências do empreendimento com terra indígena se o
empreendimento estiver localizado a uma distância inferior ao determinado pela portaria.
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 23 – Desvio de terra indígena e interferências com assentamentos rurais na região Norte
68
Importa mencionar que esta foi a única interferência com terra indígena identificada
dentre os traçados analisados. A interferência foi em razão do paralelismo com uma
rodovia que passa dentro da terra indígena, sendo que o entorno é totalmente desprovido de
acessos, conforme apresentado na Figura 24. O desvio dessa terra indígena causaria
grandes impactos com a vegetação nativa (floresta ombrófila bem preservada), com
grandes extensões de áreas alagáveis, além de interferência com unidades de conservação.
70
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 24 – Interferência com terra indígena na região Norte
Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007IBGE, 2009
Figura 25 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Nordeste
Tabela 14 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Nordeste
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 18 38 127 35
Área Urbana 17 35 36 10
UC PI 2 4 36 10
UC US 6 13 53 15
Terra Indígena 1 2 4 1
Terra Quilombola 4 8 7 2
Área Alagável 1 2 1 0
Travessia corpos d’água 3 6 13 4
Desvio corpos d’água 4 8 21 6
Assentamento Rural 3 6 10 3
Outros 11 23 51 14
140
120
100
80
60
40
20
0
*Desvio de aproximação
Figura 27 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Nordeste
73
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
*Desvio de aproximação
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 29 – Desvios visando o paralelismo com rodovias na região Nordeste
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 30 – Desvio de unidade de conservação de proteção integral no Nordeste
75
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 31 – Desvios de terras quilombolas e para o paralelismo com rodovias na região Nordeste
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 32 – Desvio de área degradada (em processo de desertificação) na região Nordeste
Cabe mencionar, uma vez mais, que apenas foram computados os desvios
superiores a 1 km por traçado. Desta forma, os desvios das variáveis podem ter ocorrido
em uma frequência muito superior, mas sem ter atingido o 1 km de acréscimo à linha por
conta do desvio. Esse é o caso, por exemplo, do desvio de aeroportos e cavernas que,
embora ocorram com certa frequência, não é comum o desvio ser superior a 1 km.
Em relação às interferências dos traçados em áreas que apresentam restrições, a
Tabela 17 mostra que os traçados analisados na região Nordeste interferiram em 100
assentamentos rurais, o que ocorreu em 54% dos traçados analisados. Assim como ocorreu
na região Norte, as interferências com assentamentos rurais ocorreram em grande número,
enquanto os desvios foram pouco significativos, presentes em apenas 6% dos traçados.
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 33 – Desvio visando ao paralelismo com rodovias e interferências com assentamentos rurais no
Nordeste
Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007; IBGE, 2009
Figura 34 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Centro-Oeste
80
Tabela 19 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Centro-Oeste
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 5 24 29 20
Área Urbana 5 24 23 16
UC PI 2 10 7 5
UC US 3 14 16 11
Terra Indígena 3 14 18 13
Terra Quilombola 0 0 0 0
Área Alagável 0 0 0 0
Travessia corpos d’água 1 5 4 3
Desvio corpos d’água 3 14 20 14
Assentamento Rural 2 10 5 3
Outros 1 5 21 15
81
30
25
20
15
10
5
0
*Desvio de aproximação
Figura 36 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Centro-
Oeste
5
4
3
2
1
0
*Desvio de aproximação
essas áreas frequentemente estão ocupadas com agricultura mecanizada e possuem vias
secundárias que dão suporte à agricultura. Apesar da maioria dessas vias não estarem
representadas no mapa, elas fornecem um bom apoio viário para a implantação das linhas
de transmissão planejadas.
Assim, apesar de ser o principal motivo dos desvios, o paralelismo com rodovias
não são tão significativos como nas outras regiões com infraestrutura viária deficiente e
representam 20% do total das extensões dos desvios, sendo que na região Norte esta
porcentagem é de 49% e no Nordeste 35%.
As áreas urbanas também se destacaram na região Centro-Oeste, com 16% da
extensão total dos desvios. Ressalta-se que os traçados localizados próximos a Brasília, na
porção leste da região, elevaram consideravelmente este valor, sendo a área urbana menos
significativa para o restante da região. A Figura 38 apresenta um traçado desviando de área
urbana e de expansão urbana no Distrito Federal. As unidades de conservação não estão
representadas na figura para facilitar a visualização do desvio de área urbana.
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; EPE, 2015
Figura 38 – Desvio de áreas urbanas, de pivôs centrais de irrigação e de uma área militar na região
Centro-Oeste
para números ainda maiores, uma vez que a porção noroeste da região apresenta um grande
número de terras indígenas e poucos dos traçados analisados passaram nessa área.
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 39 – Desvio de terra indígena na região Centro-Oeste
apenas um traçado analisado apresentou os desvios para as quatro variáveis que compõe o
campo Outros (Tabela 21).
Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007; IBGE, 2009
Figura 41 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Sudeste
Tabela 24 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Sudeste
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 6 16 17 7
Área Urbana 23 61 126 49
UC PI 8 21 58 23
UC US 2 5 2 1
Terra Indígena 0 0 0 0
Terra Quilombola 1 3 1 0
Área Alagável 0 0 0 0
Travessia corpos d’água 3 8 15 6
Desvio corpos d’água 3 8 16 6
Assentamento Rural 3 8 5 2
Outros 8 21 15 6
140
120
100
80
60
40
20
0
*Desvio de aproximação
Figura 43 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Sudeste
88
25
20
15
10
5
0
*Desvio de aproximação
Figura 44 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios na região
Sudeste
Na região Sudeste, as variáveis que tiveram maior importância nos desvios dos
traçados das linhas de transmissão planejadas foram as áreas urbanas, seguidas das
unidades de conservação de proteção integral.
O Sudeste é uma região bastante urbanizada e abrange as duas maiores cidades
brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. As áreas urbanas possuem grandes extensões e são
responsáveis por muitos e extensos desvios. Na região, 49% do total das extensões dos
desvios, ou seja, 126 km, ocorreu devido a áreas urbanas e os desvios dessas áreas
estiveram presentes em 61% dos traçados analisados (Tabela 24).
A Figura 45 apresenta um exemplo de desvios de áreas urbanas. Observa-se que, ao
desviar das áreas urbanas, o traçado atravessou duas APAs neste trecho.
89
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 45 - Desvios de áreas urbanas e interferências com APAs na região Sudeste
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 46 – Desvio d Unidade de conservação de proteção integral na região Sudeste
90
O paralelismo com rodovias foi responsável por apenas 7% da extensão total dos
desvios. Esse valor pode ser considerado baixo se comparado com as regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, sendo esta variável responsável por 49%, 35% e 20% dos
desvios totais dessas regiões, respectivamente. A diferença nos valores está relacionada à
infraestrutura viária existente nas regiões. Como pode ser observado na Figura 42, a malha
viária cobre toda a região Sudeste, com predomínio de rodovias pavimentadas. Desta
forma, não são necessários fazer desvios extensos na região visando o apoio viário para a
construção e manutenção da linha planejada. Em relação às outras regiões, devido à falta
de infraestrutura viária, tais desvios são necessários.
Os desvios para travessias e os desvios de corpos d’água também foram
significativos na região Sudeste, totalizando 12% dos desvios totais (6% para travessia e
6% para desvios de corpos d’água). Cabe observar que na região Sudeste, os desvios estão
associados principalmente aos reservatórios de usinas hidrelétricas que barram os rios da
região e limitam a passagem da linha de transmissão (Figura 47).
91
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 47 – Desvio para travessias de reservatórios na região Sudeste
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Cecav, 2015; EPE, 2015
Figura 48 – Interferência com área com concentração de cavidades naturais subterrâneas (cavernas)
no Sudeste
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 49 – Interferência com unidade de conservação de proteção integral na região Sudeste
94
Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007; IBGE, 2009
Figura 50 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Sul
95
Tabela 29 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Sul
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 4 13 19 7
Área Urbana 19 59 130 49
UC PI 5 16 20 7
UC US 2 6 13 5
Terra Indígena 2 6 3 1
Terra Quilombola 1 3 2 1
Área Alagável 4 13 13 5
Travessia corpos d’água 1 3 1 0
Desvio corpos d’água 9 28 33 12
Assentamento Rural 1 3 1 0
Outros 7 22 32 12
96
150
120
90
60
30
0
*Desvio de aproximação
Figura 52 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Sul
20
15
10
*Desvio de aproximação
Figura 53 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios na região Sul
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 54 - Desvio de área urbana, de área alagável e interferência em APA na região Sul
As áreas urbanas foram responsáveis por 130 km de desvios (49% da extensão total
dos desvios), que ocorreram em 59% dos traçados analisados, enquanto os desvios de
corpos d’água foram responsáveis por 33 km de desvios, dos quais 26 km foram desvios de
lagoas (Figura 55). Aproximadamente 28% dos traçados apresentaram desvios de corpos
d’água.
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 55 – Desvio de lagoa na região Sul
Por contar com uma boa infraestrutura viária, observou-se que os desvios que
visam o paralelismo com rodovias não foram muito significativos na região Sul. Assim,
apenas 13% dos traçados apresentaram desvios para paralelismo com rodovias, que
representaram 7% do total da extensão dos desvios.
Os desvios de áreas alagáveis, apesar de não serem muito extensos (5% da extensão
total dos desvios), ocorreram em uma frequência razoável, estando presentes em 13% dos
traçados planejados.
Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; EPE, 2015
Figura 56 – Desvio de área alagável na região Sul
áreas ocorrem na região Sul em menor número e em pequenas extensões, tendo um padrão
de distribuição diferente das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Figuras 3, 4 e 5).
Na região Sul, o campo Outros apresentou 12 % da extensão total dos desvios,
sendo incorporadas 5 variáveis diferentes, discriminadas na Tabela 31.
Cabe um comentário a respeito da variável paisagem neste campo. Por ser de difícil
identificação e devido a subjetividade para inclusão da extensão de um desvio para essa
variável, é possível que muitos dos desvios associados a paisagem tenham sido
contabilizados no campo Desvios não identificados, apresentado no item 5.1. No entanto, a
extensão do desvio atribuído a essa variável nesse campo, trata-se de uma área de valor
paisagístico reconhecido nacionalmente, localizada entre os estados do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina. A Figura 57 mostra o traçado que apresentou extensão no campo
Paisagem.
250
200
Norte
150
Nordeste
Centro-Oeste
100 Sudeste
Sul
50
*Desvio de aproximação
Figura 58 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas nas cinco regiões brasileiras
103
20
15
Norte
10 Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
5
Sul
*Desvio de aproximação
Figura 59 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios nas cinco regiões brasileiras
104
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
*Desvio de aproximação
Figura 60 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas no Brasil
70
60
50
40
30
20
10
0
*Desvio de aproximação
Os dados mostram que o maior valor de extensão dos desvios dos traçados
analisados foi devido ao paralelismo com rodovias existentes. Esses desvios ocorreram,
sobretudo, nas regiões Norte e Nordeste (Figura 60) e estão associados à deficiente
infraestrutura viária dessas regiões. Vale mencionar que os desvios para o paralelismo com
rodovias na região Norte apresentaram valores muito superiores aos da região Nordeste
(261 e 127 km respectivamente).
105
travessia dos rios do que para os seus desvios. Cabe mencionar que na região Norte
encontram-se as maiores travessias de linhas de transmissão em rios do Brasil, se
destacando a travessia do rio Amazonas, cujo vão entre as torres chega a medir 2.000
metros e onde foi necessária a construção de torres de 295 metros de altura.
Na região Sudeste os desvios ocorreram predominantemente para travessia de
reservatórios. A região apresenta rios que correm no sentido leste-oeste, encontrando-se
sequencialmente barrados, limitando a passagem dos traçados das linhas de transmissão
que atravessam a região no sentido norte-sul aos trechos mais estreitos localizados entre
remansos dos reservatórios e o consequente barramento (Figura 47).
Em relação à região Sul, as lagoas foram as maiores responsáveis pelos desvios de
corpos d’água. Tendo em vista que muitas das linhas planejadas localizam-se a leste do
estado do Rio Grande do Sul, as frequentes lagoas que ocorrem nessa região geraram
significativos desvios nos traçados (Figura 55). A Figura 63 apresenta os gráficos
percentuais referentes às extensões dos desvios dos corpos d’água.
Figura 63 - Gráficos percentuais das extensões dos desvios dos corpos d’água no Brasil
108
A terra indígena foi a variável que teve o quinto maior valor de extensão de desvio
dos traçados de linhas de transmissão no Brasil. A partir do Figura 58 podemos observar
que elas causaram desvios de grandes extensões apenas nas regiões Norte e Centro-Oeste,
enquanto nas outras regiões, os desvios são pouco significativos. Na região Norte, as terras
indígenas foram responsáveis pelo acréscimo de 82 km nos traçados analisados, ficando
atrás somente dos desvios para o paralelismo de rodovias e a da extensão total de desvios
devido a corpos d’água. Vale mencionar nessas duas regiões ocorrem as maiores extensões
de terras indígenas no Brasil.
Os desvios das terras quilombolas foram pouco significativos para todas as regiões,
sendo o Nordeste, a região que apresentou o maior número de desvios (4) e a maior
extensão total para essa variável (7 km). Cabe lembrar que a Portaria nº 60 / 2015
considera terras quilombolas as terras reconhecidas pelo Relatório Técnico de Identificação
e Delimitação – RTID, e a base de dados utilizada para a análise dos traçados contempla
apenas essas áreas. Entretanto, conforme mencionado no item 3.3.1.2, existe um grande
número de comunidades remanescentes de quilombos certificadas que ainda não possuem
suas áreas delimitadas pelo RTID. Por tratar-se de comunidades tradicionais, essas
comunidades costumam ser desviadas pelos traçados das linhas de transmissão mesmo não
estando enquadradas na definição de terras quilombolas pela Portaria no60 /2015. Contudo,
não existe uma base nacional sistematizada da localização dessas comunidades,
normalmente identificadas apenas nas visitas de campo realizadas para o licenciamento
ambiental. Assim, não foi possível identificar os desvios associados às comunidades
remanescentes de quilombos que não possuem suas terras reconhecidas pelos RTIDs,
devendo, na prática, os desvios associados à questão quilombola serem superiores aos
desvios identificados no presente estudo.
Os assentamentos rurais foram responsáveis por 36 km de desvios identificados em
15 traçados planejados, ocorrendo com mais frequência na Amazônia e no Nordeste,
regiões onde os assentamentos apresentam-se em maior número e área.
Em relação aos desvios associados às áreas alagáveis, a região Sul foi a que
apresentou maior extensão de desvios associados a essa variável, que representou 5% da
extensão total dos desvios da região, seguido da região Norte. Na região Sul, os desvios
estão associados aos banhados característicos do estado do Rio Grande do Sul, enquanto na
região norte, essas áreas localizam-se às margens dos grandes rios amazônicos.
109
Importa lembrar que, no momento das análises dos traçados muitos desvios não
tiveram suas causas identificadas a partir da base de dados utilizada no estudo e das
imagens de satélite. O número de traçados que apresentaram desvios não identificados
encontra-se na Tabela 7.
Em relação às interferências em áreas com restrições, destacaram-se, em números,
as áreas de assentamento rural, para as quais foram identificadas 254 interferências, e as
Áreas de Proteção Ambiental – APAs, com 59 interferências. A Tabela 38 e a Figura 64
apresentam o número de interferências por região do Brasil.
Tabela 38 - Interferência dos traçados de linhas de transmissão planejadas com áreas restritivas
Número de interferências
Área de restrição
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total
Assentamento 104 100 16 12 22 254
APA 7 5 10 31 6 59
Outra 4 2 4 13 0 23
Total 115 107 30 56 28 336
120
100
Norte
80
Nordeste
60 Centro-Oeste
Sudeste
40
Sul
20
0
Assentamento rural APA Outra
A partir dos resultados apresentados no item 5.3, pode-se observar que as variáveis
determinantes dos desvios possuem importância diferenciada de acordo com as regiões
onde estão localizadas.
113
Tabela 40 – Percentagem das extensões dos desvios sobre a extensão total de traçados analisados por
região e para o Brasil
Contribuição da variável na extensão total dos traçados da região ou do
Variável determinante dos país (%)
desvios
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil
Rodovias 3,30 1,61 0,75 0,28 0,47 1,52
Área Urbana 0,21 0,46 0,60 2,06 3,24 1,12
Unidades de Conservação 0,42 1,13 0,60 0,98 0,82 0,77
Terra Indígena 1,04 0,05 0,47 0,00 0,07 0,36
Corpos d’água 1,12 0,43 0,62 0,51 0,85 0,71
Outras 0,58 0,88 0,68 0,34 1,20 0,71
114
Porcentagem das extensões dos desvios dos traçados por região e para o
Brasil
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
Figura 65 – Gráfico da percentagem das extensões dos desvios sobre a extensão total de traçados
analisados por região e para o Brasil
Tabela 42 – Quadro da influência das variáveis para os desvios dos traçados analisados
Sudeste Muito Baixa Muito Alta Média Muito Baixa Baixa Baixa
Vale observar que na região Centro-Oeste, não houve destaque para nenhuma
variável específica e todas as variáveis ficaram em apenas duas categorias de influência:
Baixa e Média.
Os percentuais para o Brasil foram obtidos a partir da soma da extensão dos desvios
de uma variável das cinco regiões brasileiras e pode-se observar que o desvio para o
paralelismo com rodovias foi o que mais contribuiu para a extensão total dos desvios,
seguida das áreas urbanas e das unidades de conservação.
6. CONCLUSÃO
O presente estudo apresenta uma análise dos desvios e interferências dos traçados
de linhas de transmissão planejadas em áreas de restrição ambiental no Brasil,
considerando as diferenças entre as 5 (cinco) regiões do país.
Os resultados mostram que as principais causas dos desvios dos traçados de linhas
de transmissão planejadas no Brasil são: paralelismo com rodovias, áreas urbanas,
unidades de conservação, corpos d’água e terras indígenas. Entretanto, a importância de
cada variável na definição do traçado difere significativamente entre as regiões.
Essas diferenças estão associadas às características de cada uma delas. Na região
Norte, por exemplo, destacaram-se os desvios para proximidade com rodovias, os desvios
de terras indígenas e os desvios de corpos d’água. Essa região cobre grande parte da
Amazônia Legal brasileira que, além de possuir uma deficiente malha viária, apresenta
grande parte da sua área coberta por florestas nativas. Além da dificuldade para transpor a
vegetação, o impacto ambiental da construção de uma linha de transmissão nessas áreas é
muito alto e tende a ser intensificado pela falta de vias de acesso, o que justifica os grandes
desvios visando o apoio viário. Esta região também é caracterizada pelos extensos rios
amazônicos e grandes áreas de terras indígenas, o que refletiu nos desvios apresentados
pelos traçados planejados nessa região.
O oposto ocorre na região Sudeste. Sendo a região mais urbanizada do Brasil e
abrangendo as duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, muitos e
extensos desvios foram atribuídos às áreas urbanas. Em contrapartida, os desvios visando
o paralelismo com rodovias e os desvios de terras indígenas, tão importantes na região
Norte, foram os menos significativos na região Sudeste.
Além dos desvios, o presente estudo analisou as interferências dos traçados em
áreas que apresentam restrições ambientais. Os resultados mostraram que os assentamentos
117
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5422– Projeto de linhas aéreas de
transmissão de energia elétrica. 1985.
ARANEO, R., CELOZZI, S., VERGINE, C. Eco-sustainable routing of power lines for the
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analysis and multicriteria evaluation to minimise environmental impacts.
Environmental Impact Assessment Review 31, 234-239, 2011.
_______. Decreto nº 6.640, de 07 de novembro de 2008. Dá nova redação aos arts. 1º, 2º,
3º, 4º e 5º e acrescenta os arts. 5-A e 5-B ao Decreto nº 99.556, de 1º de outubro de
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EPE. Empresa de Pesquisa Energética. Diretrizes para Elaboração dos Relatórios Técnicos
Referentes às Novas Instalações da Rede Básica. Número interno EPE: EPE-DEE-
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SHU, J. et al. A New Method for Spatial Power Network Planning in Complicated
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SUMPER, A. et al. Methodology for assessment of existing high voltage lines in urban
áreas. Energy Policy 38, 6036- 6044, 2010.
8. APÊNDICE 1
Legenda
ID – Número de identificação
OBS
UC PI – Unidade de conservação de
Assenta
mento
Proteção Integral
Desvio
UC US – Unidade de conservação de
Rio
Uso Sustentável
Reservatório
Desvio
TI – Terra Indígena
TQ – Terra Quilombola
Travesia
Rio
Alagável
Urbana
Área
TQ
TI
(Categ.)
UC US
OBS
(Exten.)
UC US
identificado
Desvio não
OBS
(Categ.)
UC PI
significativo
Sem desvio
(Exten.)
UC PI
Outra
Estudo Extensão
APA
Interferência
ID
Assentamento
ID