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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS

VALENTINE JAHNEL

ANÁLISE AMBIENTAL DOS TRAÇADOS DE LINHAS DE TRANSMISSÃO


PLANEJADAS NO BRASIL

Niterói, RJ
2016
VALENTINE JAHNEL

ANÁLISE AMBIENTAL DOS TRAÇADOS DE LINHAS DE TRANSMISSÃO


PLANEJADAS NO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Engenharia de Biossistemas da
Universidade Federal Fluminense como parte
dos requisitos para a obtenção do título de
Mestre em Engenharia de Biossistemas. Área
de concentração Recursos Naturais e
Ambiente. Linha de Pesquisa: Energia e Meio
Ambiente

Orientador: Prof.o Marcio Cataldi, D.Sc.


Coorientador: Prof.o Ricardo Abranches Felix Cardoso Jr. D.Sc.

Niterói, RJ
2016
J25 Jahnel, Valentine
Análise ambiental dos traçados de linhas de transmissão
planejadas no Brasil / Valentine Jahnel. – Niterói, RJ : [s.n.], 2016.
126 f.

Dissertação (Curso de Engenharia de Biossistemas) –


Universidade Federal Fluminense. Escola de Engenharia, 2016.
Orientadores: Marcio Cataldi, Ricardo Abranches Felix Cardoso
Jr.

1. Planejamento ambiental. 2. Linha de transmissão. 3. Análise


ambiental. Impacto ambiental. I. Título.

CDD 551.4
Dedico este trabalho ao meu filho Ian.
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus orientadores, em especial ao professor Marcio Cataldi, pela


tranquilidade e confiança no decorrer do mestrado.
Agradeço também à Edna Xavier e ao Hermani Vieira, meus chefes na EPE que me
apoiaram e tornaram possível a minha participação neste programa de pós-graduação.
Aos meus colegas da EPE, pela motivação e carinho.
Ao professor Carlos Pereira, coordenador do Programa de Pós-Graduação de Biossistemas,
pela força e incentivo durante o curso.
E por fim, gostaria de agradecer à minha querida família, pelo constante apoio e
compreensão.
RESUMO

O governo brasileiro planeja uma grande expansão no sistema de transmissão de energia


elétrica para o próximo decênio. Essas linhas de transmissão atravessarão as cinco regiões
brasileiras de forma a interligar e viabilizar o escoamento da expansão da geração de
energia localizada, majoritariamente, longe dos grandes centros de carga, como as
hidrelétricas planejadas da região Amazônica e o aproveitamento do potencial eólico do
Nordeste. A definição de um bom traçado de linha de transmissão pode reduzir os
impactos ambientais e facilitar o licenciamento e a implantação de novas linhas de
transmissão. Para isso, é necessário o entendimento das áreas que apresentam restrições
ambientais considerando a legislação a elas associadas, suas ocorrências e distribuição no
território nacional. Mudanças recentes na legislação ambiental têm modificado o
planejamento dos traçados de linhas de transmissão de forma a atender as novas exigências
dos órgãos licenciadores. O estudo baseado nas linhas de transmissão planejadas tem a
vantagem de analisar traçados que já incorporaram as mudanças trazidas pela nova
legislação vigente, além de abranger as áreas onde a expansão do sistema está ocorrendo
no cenário atual. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo avaliar os traçados de
linhas de transmissão planejadas para a identificação das principais áreas de restrição
desviadas e atravessadas no Brasil, considerando as diferenças entre as regiões brasileiras.
Os resultados mostram que as principais causas dos desvios dos traçados planejados no
Brasil foram: paralelismo com rodovias, áreas urbanas, unidades de conservação, corpos
d’água e terras indígenas. Entretanto, a importância de cada variável na definição do
traçado difere significativamente entre as regiões. Na região Norte, a proximidade com
rodovias, o contorno das terras indígenas e dos rios foram as variáveis que geraram
maiores extensões de desvios no traçados de linhas de transmissão planejadas, enquanto na
região Sudeste, destacaram-se os desvios de áreas urbanas e de unidades de conservação.
Em relação às interferências dos traçados em áreas que apresentam restrições ambientais,
os resultados mostraram que os assentamentos rurais e as Áreas de Proteção Ambiental –
APAs (unidades de conservação de uso sustentável) foram as áreas que apresentaram
maior número de interferências havendo, na região Norte e Nordeste, um maior número de
interferências em assentamentos rurais, e na região Sudeste, maior número de
interferências em APAs.

Palavras-Chave: Linhas de transmissão, planejamento, análise ambiental, regiões


brasileiras.
ABSTRACT

Brazilian Government is planning a great expansion in the electrical power transmission


system is for the next decade. The transmission lines will cross the five Brazilian regions to
interconnect and allow the expansion of local energy generation, mostly far from the
biggest power plants, such as the planned hydraulic plants in the Amazonian region and the
wind generation plants in Brazilian Northeast. The definition of a good tracing layout for
transmission lines may reduce the environmental impacts and ease the licensing and
implementation of new lines. Toward this objective, it is necessary to know the areas that
present environmental restrictions, considering the associated legislation, their occurrences
and distribution throughout the national territory. Recent changes in the environmental
legislation have modified the planned layout of transmissions lines in order to accomplish
new requirements of licensing agencies. The study based on planned transmission lines
presents the advantage of considering the layouts that already incorporate these changes
raised by the current legislation, besides comprising the areas where the system’s
expansion is occurring in the actual scenario. Therefore, the present study aims to assess
the tracing layout of power transmission lines for the identification of the main crossed and
avoided restriction areas in Brazil, considering differences between the Brazilian regions.
The results showed that the main causes for deviations in planned tracings in Brazil were:
parallelism to roadways, urban areas, conservation units, water bodies and indigenous
territories. However, the importance of each variable on the definition of the layout
significantly differs among regions. In North region, the proximity to roadways and the
boundary of indigenous territories were the variables that caused the greatest deviations in
the tracing layout of the planned transmission lines, while, in Southeast region the avoiding
of urban areas and conservation units were more important. Regarding the interferences on
layout in areas that present environmental restrictions, results showed that rural settlements
and areas of environmental protection (units of conservation of the sustainable use)
presented the greatest number of interferences, especially in North and Northeast regions
(rural settlements) and Southeast (areas of environmental protection).

Keywords: Transmission lines, planning, environmental analysis, Brazilian regions.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Diagrama do Sistema Interligado Nacional – SIN............................................... 20

Figura 2 - Participação regional na capacidade instalada do SIN ....................................... 21

Figura 3- Terras Indígenas no Brasil ................................................................................... 32

Figura 4 - Terras Quilombolas no Brasil ............................................................................. 34

Figura 5 - Projetos de assentamento rural no Brasil ............................................................ 35

Figura 6 - Unidades de conservação no Brasil .................................................................... 40

Figura 7 - Áreas urbanas no Brasil ...................................................................................... 42

Figura 8 - Corpos d'água no Brasil ...................................................................................... 43

Figura 9 - Malha viária no Brasil ........................................................................................ 44

Figura 10 - Cavidades naturais subterrâneas no Brasil........................................................ 46

Figura 11 – Exemplo de desvio de duas variáveis .............................................................. 53

Figura 12 – Exemplo de desvio de área urbana ................................................................... 54

Figura 13 – Exemplo de desvio de unidade de conservação ............................................... 54

Figura 14 – Exemplo de desvio visando o paralelismo com rodovia .................................. 55

Figura 15 – Exemplo de interferência de traçado em assentamentos rurais e em APA ...... 55

Figura 16 – Percentagem da extensão dos traçados de linhas de transmissão planejadas


analisados por região brasileira ........................................................................ 59

Figura 17 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Norte ............... 63

Figura 18 – Mapa da malha viária na região Norte ............................................................. 63

Figura 19 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na


região Norte ...................................................................................................... 64

Figura 20 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios


na região Norte ................................................................................................. 65

Figura 21 – Desvio visando o paralelismo com rodovias na região Norte .......................... 66

Figura 22 – Desvio de rios na região Norte ......................................................................... 67

Figura 23 – Desvio de terra indígena e interferências com assentamentos rurais na região


Norte ................................................................................................................. 67
Figura 24 – Interferência com terra indígena na região Norte ............................................ 70

Figura 25 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Nordeste .......... 71

Figura 26 - Mapa da malha viária na região Nordeste ........................................................ 71

Figura 27 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na


região Nordeste ................................................................................................. 72

Figura 28 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios


na região Nordeste ............................................................................................ 73

Figura 29 – Desvios visando o paralelismo com rodovias na região Nordeste ................... 74

Figura 30 – Desvio de unidade de conservação de proteção integral no Nordeste ............. 74

Figura 31 – Desvios de terras quilombolas e para o paralelismo com rodovias na região


Nordeste ............................................................................................................ 76

Figura 32 – Desvio de área degradada (em processo de desertificação) na região Nordeste


.......................................................................................................................... 77

Figura 33 – Desvio visando ao paralelismo com rodovias e interferências com


assentamentos rurais no Nordeste ..................................................................... 78

Figura 34 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Centro-Oeste ... 79

Figura 35 - Mapa da malha viária na região Centro-Oeste.................................................. 80

Figura 36 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na


região Centro-Oeste .......................................................................................... 81

Figura 37 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios


na região Nordeste ............................................................................................ 81

Figura 38 – Desvio de áreas urbanas, de pivôs centrais de irrigação e de uma área militar
na região Centro-Oeste ..................................................................................... 82

Figura 39 – Desvio de terra indígena na região Centro-Oeste ............................................ 83

Figura 40 – Desvio de pivôs centrais de irrigação na região Centro-Oeste ........................ 84

Figura 41 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Sudeste ............ 86

Figura 42 - Mapa da malha viária na região Sudeste .......................................................... 86

Figura 43 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na


região Sudeste ................................................................................................... 87

Figura 44 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios


na região Sudeste .............................................................................................. 88
Figura 45 - Desvios de áreas urbanas e interferências com APAs na região Sudeste ......... 89

Figura 46 – Desvio d Unidade de conservação de proteção integral na região Sudeste ..... 89

Figura 47 – Desvio para travessias de reservatórios na região Sudeste .............................. 91

Figura 48 – Interferência com área com concentração de cavidades naturais subterrâneas


(cavernas) no Sudeste ....................................................................................... 93

Figura 49 – Interferência com unidade de conservação de proteção integral na região


Sudeste .............................................................................................................. 93

Figura 50 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Sul ................... 94

Figura 51 - Mapa da malha viária na região Sul.................................................................. 95

Figura 52 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na


região Sul .......................................................................................................... 96

Figura 53 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios


na região Sul ..................................................................................................... 96

Figura 54 - Desvio de área urbana, de área alagável e interferência em APA na região Sul
.......................................................................................................................... 97

Figura 55 – Desvio de lagoa na região Sul .......................................................................... 97

Figura 56 – Desvio de área alagável na região Sul ............................................................. 98

Figura 57 – Desvio de área de grande valor paisagístico na região Sul .............................. 99

Figura 58 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas nas
cinco regiões brasileiras .................................................................................. 102

Figura 59 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios


nas cinco regiões brasileiras ........................................................................... 103

Figura 60 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas no


Brasil ............................................................................................................... 104

Figura 61 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios


no Brasil .......................................................................................................... 104

Figura 62 – Gráficos percentuais das extensões dos desvios das unidades de conservação
no Brasil .......................................................................................................... 106

Figura 63 - Gráficos percentuais das extensões dos desvios dos corpos d’água no Brasil 107

Figura 64 – No de interferência dos traçados em áreas com restrição no Brasil ............... 110

Figura 65 – Gráfico da percentagem das extensões dos desvios sobre a extensão total de
traçados analisados por região e para o Brasil ................................................ 114
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Estudos do planejamento de linhas de transmissão ............................................. 23

Tabela 2 - Regimes de aproveitamento econômico das substâncias minerais .................... 48

Tabela 3 - Base cartográfica utilizada para a análise dos desvios ....................................... 51

Tabela 4 - Campos da tabela de compilação de dados dos desvios..................................... 56

Tabela 5 - Extensão e número de traçados de linhas de transmissão planejadas analisadas


por região .......................................................................................................... 58

Tabela 6 – No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por


variável analisada.............................................................................................. 59

Tabela 7 - No de traçados que não apresentaram desvios e no traçados que apresentaram


desvios não identificados por região a brasileira .............................................. 61

Tabela 8- Interferência dos traçados com áreas restritivas .................................................. 61

Tabela 9 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável
na região Norte ................................................................................................. 64

Tabela 10 – Desvios de unidades de conservação na região Norte ..................................... 68

Tabela 11 – Outras variáveis desviadas na região Norte ..................................................... 68

Tabela 12 – Interferências dos traçados em áreas restritivas na região Norte ..................... 68

Tabela 13 – Interferências dos traçados em outras áreas restritivas .................................... 69

Tabela 14 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por


variável na região Nordeste .............................................................................. 72

Tabela 15 - Desvios de unidades de conservação na região Nordeste ................................ 75

Tabela 16 – Outras variáveis desviadas pelos traçados na região Nordeste........................ 76

Tabela 17 – Interferências dos traçados em áreas restritivas na região Nordeste ............... 77

Tabela 18 – Interferência dos traçados em outras áreas restritivas ..................................... 78

Tabela 19 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por


variável na região Centro-Oeste ....................................................................... 80

Tabela 20 - Desvios de unidades de conservação na região Centro-Oeste ......................... 83

Tabela 21 – Outras variáveis desviadas pelos traçados na região Centro-Oeste ................. 84

Tabela 22 – Interferência dos traçados em áreas restritivas na região Centro-Oeste .......... 84


Tabela 23 – Interferências dos traçados em outras áreas restritivas na região Centro-Oeste
.......................................................................................................................... 85

Tabela 24 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por


variável na região Sudeste ................................................................................ 87

Tabela 25 - Desvios de unidades de conservação na região Sudeste .................................. 90

Tabela 26 – Outras variáveis desviadas na região Sudeste ................................................. 91

Tabela 27 – Interferências dos traçados em áreas restritivas na região Sudeste ................. 92

Tabela 28 – Interferências dos traçados em outras áreas restritivas na região Sudeste....... 92

Tabela 29 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por


variável na região Sul ....................................................................................... 95

Tabela 30 - Desvios de unidades de conservação na região Sul ......................................... 98

Tabela 31 – Outras variáveis desviadas na região Sul......................................................... 99

Tabela 32 – Interferência dos traçados em áreas restritivas na região Sul ........................ 100

Tabela 33 – Extensão dos desvios por região brasileira .................................................... 101

Tabela 34 – No de traçados que apresentaram desvios por região brasileira ..................... 101

Tabela 35 – Desvios de unidades de conservação no Brasil ............................................. 105

Tabela 36 – Desvios de corpos d’água no Brasil............................................................... 106

Tabela 37 – Outras áreas desviadas por região brasileira.................................................. 109

Tabela 38 - Interferência dos traçados de linhas de transmissão planejadas com áreas


restritivas......................................................................................................... 110

Tabela 39 – Outras interferências com áreas restritivas por região brasileira ................... 111

Tabela 40 – Percentagem das extensões dos desvios sobre a extensão total de traçados
analisados por região e para o Brasil .............................................................. 113

Tabela 41 – Atribuição de categorias de influência da variável a partir dos valores de


contribuição da variável na extensão total dos traçados ................................. 114

Tabela 42 – Quadro da influência das variáveis para os desvios dos traçados analisados 115
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica


APA Área de Proteção Ambiental
APCB Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade
Arie Área de Relevante Interesse Ecológico
Conama Conselho Nacional de Meio Ambiente
Cecav Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
EIA Estudo de Impacto Ambiental
EPE Empresa de Pesquisa Energética
Esec Estação Ecológica
FCP Fundação Cultural Palmares
Flona Floresta Nacional
Funai Fundação Nacional do Índio
Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Incra Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
LT Linha de Transmissão
MMA Ministério do Meio Ambiente
Mona Monumento Natural
ONS Operador Nacional do Sistema
Parna Parque Nacional
PDE Plano Decenal de Expansão de Energia
PI Proteção Integral
RAA Relatório de Avaliação Ambiental
RAS Relatório Ambiental Simplificado
RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Rebio Reserva Biológica
Resex Reserva Extrativista
Rima Relatório de Impacto Ambiental
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
RTID Relatório Técnico de Identificação e Delimitação
RVS Refúgio da Vida Silvestre
SIG Sistema de Informação Geográfica
SIN Sistema Interligado Nacional
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
TQ Terra Quilombola
UC Unidades de conservação
UHE Usina Hidrelétrica
US Uso Sustentável
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 17
2. OBJETIVO ............................................................................................................................... 18
2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 18
2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO ............................................................................................... 18
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................. 19
3.1. A EXPANSÃO DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL ...................................... 19
3.2. OS ESTUDOS AMBIENTAIS DE LINHAS DE TRANSMISSÃO ............................... 22
3.2.1. Elaboração da Documentação Técnica para o Processo de Outorga ........................ 22
3.2.1.1. Relatório R1 ......................................................................................................... 23
3.2.1.2. Relatório R3 ......................................................................................................... 24
3.2.2. Estudos para o licenciamento ambiental .................................................................. 27
3.3. ÁREAS COM RESTRIÇÕES PARA OS TRAÇADOS DE LINHAS DE
TRANSMISSÃO.......................................................................................................................... 29
3.3.1. Comunidades tradicionais ........................................................................................ 30
3.3.1.1. Terras Indígenas ................................................................................................... 31
3.3.1.2. Terras quilombolas ............................................................................................... 32
3.3.2. Projetos de Assentamento Rural............................................................................... 34
3.3.3. Unidades de Conservação ........................................................................................ 36
3.3.3.1. Unidades de Conservação de Proteção Integral ................................................... 36
3.3.3.2. Unidades de Conservação de Uso Sustentável ..................................................... 37
3.3.4. Áreas urbanas ........................................................................................................... 40
3.3.5. Corpos d’água .......................................................................................................... 42
3.3.6. Áreas desprovidas de apoio viário............................................................................ 43
3.3.7. Outros ....................................................................................................................... 44
3.3.7.1. Cavidades Naturais Subterrâneas (cavernas)........................................................ 45
3.3.7.2. Aeroportos e aeródromos ..................................................................................... 47
3.3.7.3. Área de valor paisagístico .................................................................................... 47
3.3.7.4. Mineração ............................................................................................................. 48
3.3.7.5. Áreas de agricultura conflitantes com linhas de transmissão ............................... 50
4. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................... 50
4.1. TRAÇADO DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO PLANEJADAS ................................ 50
4.2. BASE DE DADOS DAS ÁREAS RESTRITIVAS CONSULTADA ............................. 51
4.3. CÁLCULO DOS DESVIOS ............................................................................................ 52
4.4. CONTAGEM DAS INTERFERÊNCIAS ........................................................................ 55
4.5. COMPILAÇÃO DOS DADOS EM TABELA ................................................................ 56
4.6. ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................. 57
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 58
5.1. DADOS GERAIS DOS RESULTADOS ......................................................................... 58
5.2. ANÁLISE DOS DESVIOS E INTERFERÊNCIAS DOS TRAÇADOS DE LINHAS DE
TRANSMISSÃO PLANEJADAS EM ÁREAS RESTRITIVAS POR REGIÃO BRASILEIRA62
5.2.1. Região Norte ............................................................................................................ 62
5.2.2. Região Nordeste ....................................................................................................... 70
5.2.3. Região Centro-Oeste ................................................................................................ 78
5.2.4. Região Sudeste ......................................................................................................... 85
5.2.5. Região Sul ................................................................................................................ 94
5.3. ANÁLISE DOS DESVIOS E INTERFERÊNCIAS DOS TRAÇADOS DE LINHAS DE
TRANSMISSÃO PLANEJADAS EM ÁREAS RESTRITIVAS NO BRASIL – ANÁLISE
INTEGRADA DAS REGIÕES BRASILEIRAS ....................................................................... 100
5.4. INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS DETERMINANTES DOS DESVIOS NAS
REGIÕES BRASILEIRAS E NO BRASIL ............................................................................... 112
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 116
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 118
8. APÊNDICE 1 ......................................................................................................................... 126
17

1. INTRODUÇÃO

O sistema de transmissão de energia elétrica no Brasil tem grande importância para


o atendimento às cargas e para a confiabilidade do sistema elétrico nacional. A grande
extensão do país exige um sistema de transmissão de grande dimensão, capaz de interligar
a geração e a carga de diversas regiões geográficas, otimizando a operação do sistema
(VIEIRA, 2009).
Ele se destaca tecnicamente pela interligação de um grande número de unidades
produtoras e unidades consumidoras de energia elétrica, distribuídas em uma área de
dimensões continentais. Estas características permitem considerá-lo único em âmbito
mundial (BONATTO et al., 2004).
O Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2024 estima que 267 novas linhas
de transmissão estão previstas para entrar em operação no Brasil nos próximos 10 anos,
perfazendo uma extensão de aproximadamente 46.000 km. Nesse cenário, destacam-se as
grandes interligações que se prestarão para escoamento da energia de usinas hidrelétricas
situadas na Amazônia (UHE Belo Monte, usinas do rio Teles Pires e da bacia do Tapajós).
Também na região Amazônica, destaca-se a interligação com a Venezuela, a partir de
Manaus. Na região Nordeste e no Rio Grande do Sul, as linhas de transmissão planejadas
para o decênio estão associadas, majoritariamente, ao escoamento da energia de parques
eólicos (MME/EPE, 2015).
CARDOSO Jr. (2014) aponta que, no que tange a empreendimentos lineares, o
órgão ambiental licenciador vem participando ativamente do processo decisório dos
traçados, exigindo que alternativas de variantes sejam implementadas em áreas ambientais
sensíveis, de forma a reduzir os impactos ambientais que afetam a sociedade. Para que um
traçado seja considerado otimizado ele deve garantir que as variáveis ambientais sejam
devidamente incorporadas ao projeto de engenharia, utilizando-se, para isso, as melhores
práticas construtivas dentro de uma economicidade estabelecida, de forma a proporcionar a
maior linearidade possível entre as subestações.
Pesquisas têm sido realizadas em várias partes do mundo visando o
desenvolvimento de metodologias para a definição de traçados de linhas de transmissão a
partir da aplicação de geotecnologias (MONTEIRO, 2005; ARAÚJO, 2007; SCHMIDT,
2009; SUMPER, 2010; BAGLI, 2011; ARANEO, 2015). Esses estudos baseiam-se na
definição e atribuição de pesos às áreas que apresentam restrições para a passagem das
18

linhas de transmissão e que deverão ser evitadas. Devido às diferenças entre as regiões
onde os estudos foram desenvolvidos, essas variáveis e seus pesos são diferentes, de forma
a contemplar as particularidades dos locais. No Brasil, devido à sua grande extensão
territorial, essas restrições também podem variar consideravelmente entre as regiões
brasileiras. O conhecimento regional destas restrições pode contribuir para um melhor
planejamento dos empreendimentos ligados à implantação de linhas de transmissão, de
forma a diminuir o prazo para a obtenção de licenças ambientais, prazo este que em alguns
casos pode influenciar na data de entrada da linha no sistema.

2. OBJETIVO

2.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar os traçados de linhas de transmissão planejadas para a identificação das


principais áreas de restrição desviadas e atravessadas no Brasil, apontando as
características e particularidades de cada região brasileira.

2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO

• Levantar as principais variáveis determinantes para os traçados de linhas de


transmissão e legislação a elas associadas;
• Identificar e quantificar as principais causas dos desvios dos traçados
definidos nos estudos ambientais do planejamento de linhas de transmissão;
• Quantificar as interferências dos traçados em áreas que apresentam
restrições ambientais;
• Analisar os desvios dos traçados das linhas de transmissão planejadas e suas
interferências por região brasileira;
• Analisar os desvios dos traçados das linhas de transmissão planejadas e suas
interferências para o Brasil como um todo, a partir de uma análise integrada
das regiões brasileiras;
• Elaborar uma tabela que apresente de forma sucinta e simplificada a
influência das principais variáveis determinantes dos desvios em cada
região brasileira.
19

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. A EXPANSÃO DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL

Devido à grande diversidade hidrológica existente entre as regiões do país, tornou-


se atraente a implantação de interligações regionais que permitem atender aos centros de
consumo em diferentes bacias hidrográfica. Essas interligações proporcionam uma
produção de energia superior a que seria possível obter pelo mesmo conjunto de usinas
isoladas entre si (BONATTO et al., 2004).
De acordo com o PDE 2024 (MME/EPE, 2015), devido à grande extensão
territorial brasileira e à presença de um parque gerador predominantemente hidrelétrico, a
Rede Básica de transmissão do SIN se desenvolveu utilizando uma grande variedade de
níveis de tensão em função das distâncias envolvidas entre as fontes geradoras e os centros
de carga. Dessa forma, a Rede Básica de transmissão do SIN, que compreende as tensões
de 230 kV a 750 kV, tem como principais funções:

• A transmissão da energia gerada pelas usinas para os grandes centros de


carga;
• A integração entre os diversos elementos do sistema elétrico para garantir
estabilidade e confiabilidade da rede;
• A interligação entre as bacias hidrográficas e regiões com características
hidrológicas heterogêneas de modo a otimizar a geração hidrelétrica; e
• A integração energética com os países vizinhos.

A Figura 1 apresenta a configuração do SIN no ano de 2013 e algumas instalações a


serem implantadas até 2015 (traçados esquemáticos).
20

Fonte: ONS
Figura 1- Diagrama do Sistema Interligado Nacional – SIN

O Plano Decenal de Energia 2024 aponta que na região Norte ocorrerá a maior
expansão hidrelétrica, onde se destacam as usinas de Belo Monte e São Luiz do Tapajós,
com 11.233 e 8.040 MW de potência total, respectivamente.
A energia eólica também apresenta grande potencial a ser explorado e se consolida
como um dos principais componentes para a expansão da matriz de energia elétrica do
Brasil. O PDE 2024 prevê uma expansão de 18.909 MW de potência dessa fonte,
distribuídos no Nordeste e Sul do Brasil (MME/EPE, 2015).
21

Fonte: MME/EPE, 2015.


Figura 2 - Participação regional na capacidade instalada do SIN

Assim, por conta da expansão hidrelétrica na região Norte e da relevante expansão


da oferta de energia das usinas eólicas localizadas na região Nordeste, está prevista a
incorporação ao SIN de expansões para promover o escoamento deste excedente de energia
das regiões Norte e Nordeste para a região Sudeste/Centro-Oeste (MME/EPE, 2015).
Em virtude do panorama hidrológico severo que se tem observado nos últimos
anos, a disponibilidade de capacidade de transmissão, particularmente entre as regiões
Norte/Nordeste e o Sudeste/Sul, torna-se um elemento fundamental para a adequada gestão
dos reservatórios das usinas hidrelétricas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico -
ONS. As eventuais restrições de intercâmbios entre estas regiões aumentam a necessidade
de despacho de geração térmica, acarretando aumento do custo marginal de operação e,
como consequência, onerando os custos de suprimento de energia elétrica aos
consumidores. Logo, o planejamento energético decenal prevê significativa expansão da
capacidade das interligações para garantir os requisitos de escoamento energético através
das regiões Norte e Nordeste em direção ao Sudeste/Centro-Oeste e Sul do país
(MME/EPE, 2015).
22

3.2. OS ESTUDOS AMBIENTAIS DE LINHAS DE TRANSMISSÃO

Para que uma nova instalação de transmissão (linha ou subestação) seja licitada ou
autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel, faz-se necessário prover,
àquela Agência, informações da viabilidade de execução da obra, tanto do ponto de vista
técnico-econômico, como também socioambiental.
Assim, considerando a data de entrada em operação de cada instalação de
transmissão da Rede Básica e a necessidade da outorga de sua concessão por meio de um
processo de licitação ou autorização, a EPE procede aos estudos e elabora, com apoio dos
concessionários, relatórios correspondentes para os empreendimentos, em tempo hábil para
fornecer os subsídios para o processo licitatório de outorga da Aneel (EPE, 2008).

3.2.1. Elaboração da Documentação Técnica para o Processo de Outorga

O processo de documentação da Aneel para a outorga de uma nova instalação a ser


integrada à Rede Básica passa por quatro fases distintas:

• Os estudos técnico-econômicos e socioambientais preliminares,


documentados no relatório denominado R1;
• O detalhamento técnico da alternativa de referência documentado no
relatório denominado R2;
• A caracterização e análise socioambiental do corredor selecionado para o
empreendimento, documentadas no relatório denominado R3; e,
• A definição dos requisitos do sistema circunvizinho, de forma a se assegurar
a integração adequada entre a nova obra e as instalações existentes,
documentada no relatório denominado R4 (EPE, 2008).

Desta forma, dos quatro relatórios do planejamento que subsidiam a Aneel com
informações da LT a ser licitada, dois possuem análises ambientais, os relatórios R1 e R3.
Após o leilão, inicia-se o licenciamento ambiental da linha de transmissão. A empresa
vencedora fica responsável pela realização dos Estudos de Impacto Ambiental - EIA que,
com as informações do projeto básico, incorpora as características específicas do
empreendimento às análises ambientais. Nessa etapa, a empresa pode propor um traçado
diferente do apontado nos relatórios de planejamento, buscando otimizar os custos e
viabilizar a licença ambiental.
23

A Tabela 1 apresenta os relatórios do planejamento e após leilão, e as áreas que


elaboram os estudos.

Tabela 1- Estudos do planejamento de linhas de transmissão


Estudos do planejamento
Área Licenciamento
R1 R2 R3 R4
Detalhamento Definição dos
Seleção da técnico da requisitos do
Engenharia Projeto Básico
melhor alternativa de sistema
alternativa selecionada circunvizinho
elétrica e Caracterização e
Estudo de
ambiental e análise
impacto
proposta de um socioambiental
Meio ambiental do
corredor de do corredor
ambiente traçado definido
estudo para o selecionado e
pelo
R3 definição da
empreendedor
diretriz
(Fonte: Adaptado de ELETROBRÁS, 2000)

Licitação

3.2.1.1. Relatório R1

Os relatórios R1 apresentam análises preliminares da viabilidade de alternativas de


interligação considerando seus aspectos técnico-econômicos e socioambientais. Esses
estudos são realizados pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, empresa pública
vinculada ao Ministério de Minas e Energia. A EPE coordena grupos de trabalho com
empresas do setor elétrico que atuam nas diferentes regiões do Brasil, identificando, de
acordo com as ofertas e demandas de energia elétrica, as alternativas de interligação.
A análise socioambiental no relatório R1 visa apontar a viabilidade socioambiental
das alternativas de interligação analisadas e fornecer uma extensão preliminar da
alternativa planejada considerando os desvios de áreas de maior sensibilidade
socioambiental. Elas são desenvolvidas paralelamente aos estudos de engenharia dando
subsídios para a definição da melhor alternativa de interligação considerando soluções
técnicas, questões econômicas e variáveis socioambientais.
No relatório R1, são identificadas as áreas mais favoráveis à implantação do
sistema de transmissão, bem como as áreas de maior complexidade (unidades de
24

conservação, terras indígenas, núcleos urbanos, florestas e outros ecossistemas


importantes), configurando-se em áreas que devem ser evitadas. Tais áreas condicionam a
identificação das alternativas de localização dos corredores. Assim, a partir de uma análise
regional, são estudadas alternativas de corredor (com cerca de 10 a 20 km de largura) para
posterior seleção de um corredor preferencial, para nas etapas posteriores do projeto
estudar-se a melhor localização da diretriz da linha de transmissão dentro deste corredor.
Para características ambientais específicas que requeiram tratamento técnico diferenciado
(por exemplo, alteamento de torres, travessia de recursos hídricos, dentre outros) a análise
socioambiental também deve fornecer os elementos necessários para a composição de
custos de cada alternativa de corredor a ser comparada e assim permitir sua comparação já
contemplando os custos ambientais especiais (EPE, 2005).

3.2.1.2. Relatório R3

Os relatórios R3 apresentam a caracterização socioambiental do corredor de


passagem selecionado nos estudos realizados para a elaboração do R1. A análise dos
aspectos ambientais do corredor deve permitir a identificação dos pontos de destaque, sob
a ótica socioeconômica e ambiental, que possam aportar maior complexidade para a
implantação da linha de transmissão, refletindo-se em maiores custos ambientais e maiores
prazos no processo de licenciamento do empreendimento. Observa-se que esta avaliação
servirá de subsídio aos estudos necessários ao futuro licenciamento ambiental (EPE, 2005).
As análises no R3 exigem um maior detalhamento do que as análises ambientais
apresentadas no relatório R1, devendo ser realizadas inspeções de campo e utilizadas
imagens de satélite de melhor resolução e mais atualizadas. Nesses estudos a escala
trabalhada é maior e são consideradas para desvio áreas de dimensões menores.
Assim, os relatórios R3 têm como objetivos:
• Definir a diretriz da linha de transmissão evitando áreas de sensibilidade
socioambiental;
• Apresentar as dificuldades socioambientais da diretriz que permitam antever
a necessidade de um tempo maior para o licenciamento ambiental;
• Fornecer informações que apontem a necessidade estruturas diferenciadas
para a construção da linha de transmissão (ex.: travessia de rios, áreas
alagáveis, vegetação nativa de formações florestais, etc.); e,
25

• Levantar características de uso do solo das áreas atravessadas pela diretriz


que impliquem em maiores custos fundiários (ex.: proximidade com área
urbana, agricultura mecanizada, pivôs centrais de irrigação, etc.).

O termo de referência para elaboração dos Relatórios R3 (EPE, 2008) aponta que o
relatório deve apresentar o resultado das avaliações socioambientais preliminares relativas
ao corredor de passagem proposto e de análises in loco da exequibilidade do
empreendimento, identificando uma diretriz (lineamento, trajeto, rota) preferencial para a
linha de transmissão, do ponto de vista econômico e socioambiental, bem como sob o
aspecto construtivo, e lista as informações a serem prestadas, a saber:

I. Caracterização do Meio Físico (Climatologia; Geomorfologia, Recursos


Minerários, Pedologia, Geotecnia, Recursos Hídricos e Usos da Água);

II. Caracterização do Meio Biótico (Vegetação; Fauna e Ecossistemas e Áreas


Protegidas);

III. Caracterização do Meio Socioeconômico e Cultural (Aspectos Econômicos


e Demográficos Municipais; Educação, Saúde e Saneamento; Infraestrutura
Regional; Uso e Ocupação do Solo; Estrutura Fundiária, Assentamentos e
Áreas de Conflito; Patrimônio Arqueológico, Histórico-Cultural e Natural;
Populações Tradicionais; Terras Indígenas e Remanescentes de Quilombos;
e Áreas de Interesse Estratégico);

IV. Avaliação Sucinta dos Impactos Socioambientais da Diretriz Selecionada;

V. Programas Socioambientais recomendados;

VI. Análise integrada das caracterizações realizadas e identificação das áreas


mais ou menos sensíveis à implantação do empreendimento no corredor;

VII. Indicação da diretriz preferencial para a Linha de Transmissão e extensão


aproximada; e,

VIII. Relatório fotográfico.

Uma vez selecionada a diretriz da linha de transmissão, seu percurso deverá ser
descrito trecho a trecho e deverão ser apresentadas as seguintes informações:

• Extensão (km);
26

• Coordenadas geográficas dos pontos de origem e destino e dos vértices;

• Extensão do paralelismo com outra(s) linha(s) de transmissão e do


compartilhamento de faixa de servidão, caso haja;

• Extensão atravessada em cada bioma e extensão de florestas ou


remanescentes florestais atravessados;

• Extensão de áreas alagadas atravessadas;

• Número de travessias de corpos d’água com largura entre 500 e 1000 metros
e com largura acima de 1.000 metros;

• Extensão de travessia em unidade(s) de conservação e em zonas de


amortecimento de unidades de conservação, especificando por cada unidade
de conservação.

• Extensão de travessia em áreas prioritárias para conservação da


biodiversidade (APCB), por tipo de APCB;

• Especificação das áreas urbanas atravessadas, caso haja;

• Extensão da diretriz da linha com e sem apoio de estradas de rodagem,


considerando “com apoio de estradas de rodagem” os trechos em que essas
se situam a 15 km ou menos da diretriz da linha;

• Número de travessias de oleodutos e gasodutos, caso haja;

• Extensão de travessia em plantações de cana-de-açúcar, caso haja;

• Extensão de travessia em áreas de reflorestamento;

• Terra(s) indígena(s) eventualmente atravessada(s) ou situada(s) a até 10 km


da diretriz da linha; e,

• Indicação de eventual travessia em área(s) remanescente(s) de quilombo(s).

A lista é um indicativo das variáveis mais importantes a serem observadas na


definição do traçado de uma linha de transmissão.
Em novembro de 2014, a EPE atualizou o termo de referencia para a elaboração
dos relatórios R3. As principais modificações foram relacionadas à incorporação de
exigências definidas pela Portaria nº 421, de 26 de outubro de 2011 do MMA (apresentada
27

no item 3.2.2), que dispõe sobre o licenciamento e a regularização ambiental federal de


sistemas de transmissão de energia elétrica, e pela Portaria Interministerial nº 419, de 26 de
outubro de 2011, que regulamenta a atuação dos órgãos e entidades da administração
pública federal envolvidos no licenciamento ambiental, atualmente revogada pela Portaria
nº60/2015.
Um avanço do novo termo de referência foi a incorporação de um check-list a ser
respondido pelo agente responsável pela elaboração do relatório R3 informando se de áreas
de sensibilidade socioambiental identificadas pelo relatório R1 foram desviadas.
Cabe mencionar que, pela recente data do novo termo de referência, nenhum dos
traçados dos relatórios R3 analisados no presente estudo seguiram o novo termo de
referência. No entanto, tendo em vista que as portarias mencionadas foram editadas em
2011, mesmo antes da atualização do termo de referência, os traçados já tinham
incorporados as mudanças referentes à nova legislação.

3.2.2. Estudos para o licenciamento ambiental

A Resolução Conama nº 1, de janeiro de 1986 determina que as linhas de


transmissão de energia elétrica com tensão acima de 230 kV estão sujeitas à elaboração de
Estudos de Impacto Ambiental - EIA e Relatório de Impacto Ambiental – RIMA para a
obtenção da licença ambiental. Segundo a resolução, o EIA deverá desenvolver, no
mínimo, as seguintes atividades técnicas:

I. Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto de modo a


caracterizar a situação ambiental da área antes da implantação do projeto
considerando:

• O meio físico – o subsolo, as águas o ar e o clima, destacando os


recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos
d’água, etc.;

• O meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora,


destacando as espécies indicadoras da qualidade ambiental, raras e
ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente; e,

• O meio socioeconômico – o uso e ocupação do solo, os usos da


água, e a socioeconomia, destacando sítios e monumentos
arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, etc.
28

II. Análises dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através


de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes discriminando-os em impactos negativos e
positivos, diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos,
temporários ou permanentes, dentre outros;

III. Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos; e,

IV. Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos


impactos positivos e negativos.

Em 2011, o Ministério do Meio Ambiente – MMA editou a Portaria 421, que


determina que o licenciamento ambiental federal poderá ocorrer pelo procedimento
simplificado, como Relatório Ambiental Simplificado – RAS, pelo procedimento
ordinário, como Relatório de Avaliação Ambiental – RAA, ou por meio de Estudo de
Impacto Ambiental - EIA, conforme o grau de impacto do empreendimento.
A mesma portaria estabelece que o procedimento de licenciamento ambiental será
simplificado quando a faixa de servidão da LT não implicar simultaneamente em:

• Remoção de população que implique na inviabilização da comunidade e/ou sua


completa remoção;

• Afetação de unidades de conservação de proteção integral;

• Localização em sítios de: reprodução e descanso identificados nas rotas de aves


migratórias; endemismo restrito e espécies ameaçadas de extinção
reconhecidas oficialmente;

• Intervenção em terra indígena;

• Intervenção em território quilombola;

• Intervenção física em cavidades naturais subterrâneas pela implantação de


torres ou subestações;

• Supressão de vegetação nativa arbórea acima de 30% da área total da faixa de


servidão; e,

• Extensão superior a 750 km.


29

Além dessas condições, a Portaria 421/11 também considera de pequeno potencial


de impacto ambiental, as linhas de transmissão implantadas ao longo da faixa de domínio
de rodovias, ferrovias, linhas de transmissão e outros empreendimentos lineares pré-
existentes, ainda que situadas em terras indígenas, em territórios quilombolas ou em
unidades de conservação de uso sustentável.
A partir do estudo de impacto ambiental é definido o traçado da linha de
transmissão planejada que será submetido ao órgão ambiental para a obtenção da licença
prévia. Nessa etapa, o responsável pela definição do traçado é o empreendedor vencedor
do leilão, que levará em consideração os aspectos técnicos e econômicos para a sua
definição.
A avaliação do EIA realizada pelos analistas dos órgãos ambientais pode indicar a
necessidade de mudança do traçado de forma a minimizar impactos, resultando em
condicionantes para a liberação da licença prévia. Importa destacar que a licença prévia
visa aprovar a localização do empreendimento e apontar a sua viabilidade ambiental.

3.3. ÁREAS COM RESTRIÇÕES PARA OS TRAÇADOS DE LINHAS DE


TRANSMISSÃO

Segundo CARDOSO Jr. (2014), o traçado das linhas de transmissão devem buscar
o maior alinhamento possível entre as subestações considerando, entretanto, as restrições
técnicas e ambientais do traçado. Para o autor, as principais restrições a serem
consideradas na definição de um traçado de linha de transmissão são: terras indígenas,
comunidades quilombolas, assentamentos fundiários, unidades de conservação, zonas
urbanas, barreiras físicas geomorfológicas, travessia de corpos hídricos, patrimônio
histórico e beleza cênica, áreas de preservação permanente, fragmentos florestais com
vegetação nativa, locais desprovidos de acessos secundários, cavidades naturais,
benfeitorias rurais, aeródromos e patrimônio arqueológico e paleontológico.
Estudos vêm sendo realizados em diferentes países para o desenvolvimento de
metodologias para o delineamento de traçados de linhas de transmissão com o uso de
geotecnologias. Essas metodologias baseiam-se na atribuição de pesos de ponderação para
variáveis de restrição para a implantação de linhas de transmissão.
A pesquisa realizada por ARANEO (2015), na Itália, lista como as áreas que devem
ser evitadas pelos traçados de linhas de transmissão: os aeroportos, áreas militares, áreas
urbanas, parques nacionais, áreas de interesse da União Europeia, áreas de travessias de
30

ursos, áreas de valor paisagístico, áreas de interesse arqueológico, áreas de interesse


cultural e arquitetônico, áreas de risco geológico, corredores ecológicos, áreas de cultivo
de uvas e azeitonas, áreas de proteção de aves, entre outras. Adicionalmente, o estudo
indica que devem ser priorizadas áreas onde o relevo facilite a absorção visual do
empreendimento, além de se buscar proximidade com rodovias e outros empreendimentos
de energia existentes.
No México, no estudo apresentado por VEGA et al. (1996), os autores apontam
como restrições ambientais as áreas de floresta, agricultura, áreas de interesse da flora e da
fauna, hidrologia, área urbana, paisagem e recursos minerais.
SCHMIDT (2009), em sua pesquisa realizada nos Estados Unidos, citou como
áreas que deveriam ser evitadas pelos traçados de linhas de transmissão: os aeroportos,
áreas construídas, áreas militares, áreas de mineração, parques nacionais e estaduais, sítios
arqueológicos, refúgios da vida silvestre, áreas úmidas, rios de beleza cênica, entre outros,
e atribui pesos que favorecem o paralelismo com empreendimentos lineares como outras
linhas de transmissão, rodovias e gasodutos.
No Brasil, o estudo apresentado por ARAÚJO (2007), cita como sendo importantes
para o traçado de linhas de transmissão, a localização de aeródromos e aeroportos, áreas de
turismo, áreas urbanas e de expansão urbana, rodovias, unidades de conservação, áreas
indígenas e de remanescentes de quilombo, entre outras.
Como pode-se observar nestes estudos, existe uma grande divergência entre quais
são as principais variáveis a serem consideradas nos traçados de linha de transmissão,
mostrando que existe uma grande influência regional, cultural e sócio-ambiental na sua
escolha, o que nos dá um indício de que, no Brasil, esta definição também deve ser
regionalizada, dadas as dimensões continentais do país.
Nos próximos itens, serão apresentadas as principais restrições para o traçado de
linhas de transmissão no Brasil, a legislação associada quando pertinente e um mapa de sua
ocorrência nas cinco regiões brasileiras.

3.3.1. Comunidades tradicionais

Conforme já apresentado no item 3.2.2, a interferência em terras indígenas ou em


terras quilombolas são determinantes na definição do procedimento do licenciamento pelo
órgão ambiental. Durante o processo de licenciamento, o empreendedor necessita das
anuências da Fundação Nacional do Índio (Funai), que defende os interesses dos povos
31

indígenas e a da Fundação Cultural Palmares, representando as comunidades


remanescentes de quilombos.

3.3.1.1. Terras Indígenas

A Constituição Federal, no parágrafo 1° do artigo 231, conceitua as terras indígenas


como ”terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”.

A Portaria Interministerial nº 60 /2015, que revogou a Portaria Interministerial nº


419/2011, regulamenta os órgãos e entidades da Administração Pública Federal envolvidos
no licenciamento ambiental (incluindo Fundação Nacional do Índio - Funai), estabelece no
Art. 4º.:

“No termo de referência do estudo ambiental exigido pelo IBAMA para o licenciamento
ambiental deverão constar as exigências de informações ou de estudos específicos
referentes à interferência da atividade ou empreendimento em terra indígena...”

Assim, caso o empreendimento interfira em terras indígenas será exigido um estudo


específico ao empreendedor (estudo do componente indígena) para a obtenção da licença
ambiental.
É considerado interferência em Terra Indígena quando “a atividade ou
empreendimento submetido ao licenciamento ambiental localizar-se em terra indígena ou
apresentar elementos que possam gerar dano socioambiental direto no interior da terra
indígena, respeitados os limites do Anexo II”.
Para os empreendimentos de linhas de transmissão, o anexo II da portaria estipula
para a Amazônia Legal uma extensão de 8 km a partir dos limites da terra indígena e de 5
km para as localizadas nas demais regiões. A Instrução Normativa no 2, de 27 de março de
2015 estabelece os procedimentos administrativos da Funai nos processos de
licenciamento ambiental.
A Figura 3 apresenta as terras indígenas no Brasil.
32

Fonte dos dados: Funai, 2015; IBGE, 2009


Figura 3- Terras Indígenas no Brasil

3.3.1.2.Terras quilombolas

A Instrução Normativa Incra nº 57, de 7 de outubro de 2009, que regulamenta o


procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das
terras quilombolas, conceitua remanescentes das comunidades de quilombos no Art. 3º:

“Consideram-se remanescentes das comunidades de quilombos os grupos étnicos-


raciais, segundo critérios de auto-definição, com trajetória histórica própria, dotados
de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra
relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”
33

Na Portaria nº 60/2015 terras quilombolas são definidas como “as áreas ocupadas
por remanescentes das comunidades dos quilombos, que tenha sido reconhecida pelo
Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID, devidamente publicadas”.
A mesma portaria exige a elaboração de estudos específicos no caso de
interferências do empreendimento em terras indígenas, também estipula que sejam
realizados estudos específicos para terras quilombolas:

“quando a atividade ou empreendimento submetido ao licenciamento ambiental


localizar-se em terra quilombola ou apresentar elementos que possam gerar dano
sócio-ambiental direto no interior da terra quilombola, respeitados os limites do
Anexo II”;

Desta forma, os empreendimentos que passarem a menos de 8 km de terras


quilombolas na Amazônia Legal, ou a 5 km nas outras regiões, deverão realizar estudos
específicos com a avaliação do impacto do empreendimento nessas comunidades que serão
apresentados para a Fundação Cultural Palmares. A Fundação Cultural Palmares é a
instituição responsável pelas questões relacionadas aos remanescentes de quilombos,
inclusive a certificação de áreas de quilombos, necessária para a titulação das terras de
quilombo pelo Incra. A Instrução Normativa da Fundação Cultural Palmares no 01, de 25
de março de 2015 estabelece os procedimentos administrativos a serem observados nos
processos de licenciamento ambiental dos quais a fundação participe.
Cabe mencionar que existe um grande número de comunidades remanescentes de
quilombos certificadas que ainda não possuem suas áreas delimitadas pelo RTID. A Figura
4 apresenta as terras quilombolas no Brasil.
34

Fonte dos dados: Incra, 2015; IBGE, 2009


Figura 4 - Terras Quilombolas no Brasil

3.3.2. Projetos de Assentamento Rural

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, é o órgão


responsável por implementar a política de reforma agrária e realizar o ordenamento
fundiário nacional.
A Instrução Normativa do Incra no 15, de 30 de março de 2004, que dispõe sobre o
processo de implantação e desenvolvimento de projetos de assentamento de reforma
agrária conceitua projeto de assentamento:

“Consiste num conjunto de ações, em área destinada a reforma agrária, planejadas,


de natureza interdisciplinar e multisetorial, integradas ao desenvolvimento territorial
e regional, definidas com base em diagnósticos precisos acerca do público
beneficiário e das áreas a serem trabalhadas, orientadas para utilização racional dos
35

espaços físicos e dos recursos naturais existentes, objetivando a implementação dos


sistemas de vivência e produção sustentáveis, na perspectiva do cumprimento da
função social da terra e da promoção econômica, social e cultural do(a)
trabalhador(a) rural e de seus familiares.”

Na paisagem, os assentamentos rurais, em geral, se apresentam com delimitações


de propriedades rurais menores e uma maior concentração de casas numa área
predominantemente rural. Para a passagem de linhas de transmissão em assentamentos
rurais, além do risco de interferência com residências, deve-se levar em conta que, no caso
de culturas incompatíveis com a faixa de servidão (como cana-de-açúcar e silvicultura), a
perda da área da faixa de servidão em pequenas propriedades rurais pode trazer prejuízos
consideráveis na fonte de renda do agricultor, além de interferir na cadeia de produção de
alimentos local. A Figura 5 apresenta os projetos de assentamento rural no Brasil.

Fonte dos dados: Incra, 2015; IBGE, 2009


Figura 5 - Projetos de assentamento rural no Brasil
36

Cabe mencionar que o Incra é um dos órgãos intervenientes no processo de


licenciamento sendo a sua anuência necessária para a liberação da licença pelo órgão
ambiental.

3.3.3. Unidades de Conservação

Unidades de conservação - UC são espaços territoriais e seus recursos ambientais,


incluindo as águas jurisdicionais, com características ambientais relevantes, legalmente
instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção
(SNUC,2000).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação instituído através da Lei 9.985, de
18 de julho de 2000 estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das
unidades de conservação.
As UCs dividem-se em dois grandes grupos, o de proteção integral, que admite
apenas o uso indireto dos atributos naturais (não envolvendo consumo, coleta, dano ou
destruição dos recursos naturais), e o de uso sustentável, que permite a coleta e uso dos
recursos naturais, mas de forma a garantir a perenidade dos mesmos e dos processos
ecológicos.
Os grupos de unidades de conservação se dividem em categorias de acordo com os
objetivos da área protegida, e estão sujeitas a diferentes regimes de uso.

3.3.3.1. Unidades de Conservação de Proteção Integral

Permite apenas o uso indireto dos recursos naturais com exceção dos casos
previstos em lei. Engloba as categorias mais restritivas das unidades de conservação,
apresentadas a seguir:

• Estação Ecológica (Esec)- tem como objetivo a preservação da natureza e a


realização de pesquisas científicas;

• Reserva Biológica (Rebio)- tem como objetivo a preservação integral da biota


e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência
humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de
recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias
37

para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os


processos ecológicos naturais;

• Parque Nacional (Parna)- tem como objetivo básico a preservação de


ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica,
possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de
atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com
a natureza e de turismo ecológico;

• Monumento Natural (Mona)- tem como objetivo básico preservar sítios


naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica;

• Refúgio da Vida Silvestre (RVS)- tem como objetivo proteger ambientes


naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de
espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.

3.3.3.2. Unidades de Conservação de Uso Sustentável

As unidades de conservação de uso sustentável visam à compatibilização da


conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. O
grupo é composto das seguintes categorias:

• Área de Proteção Ambiental (APA) - é uma área em geral extensa, com um


certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o
bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais;

• Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) - é uma área em geral de pequena


extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características
naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem
como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou
local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com
os objetivos de conservação da natureza;

• Floresta Nacional (Flona) - é uma área com cobertura florestal de espécies


predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo
38

sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em


métodos para exploração sustentável de florestas nativas;

• Reserva Extrativista (Resex) - é uma área utilizada por populações extrativistas


tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e,
complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de
pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a
cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais
da unidade;

• Reserva de Fauna - é uma área natural com populações animais de espécies


nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para
estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos
faunísticos;

• Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS)- é uma área natural que abriga


populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de
exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e
adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel
fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade
biológica; e,

• Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) - é uma área privada,


gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade
biológica.

O SNUC aponta que o entorno de unidades de conservação também estão sujeitas a


normas e restrições específicas com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre
a unidade. Essas áreas são chamadas de zonas de amortecimento e são normalmente
definidas pelos planos de manejo.
A Resolução Conama n° 428/2010 estabelece que os empreendimentos de
significativo impacto ambiental que possam afetar uma unidade de conservação ou sua
zona de amortecimento só poderão ter a licença ambiental concedida após autorização do
órgão responsável pela administração da unidade de conservação. Para as unidades de
conservação que não possuem plano de manejo, estarão sujeitos ao mesmo procedimento
os empreendimentos de significativo impacto ambiental que estiverem localizados numa
39

faixa de 3 mil metros a partir dos limites da unidade de conservação, com exceção das
Áreas de Proteção Ambiental - APAs, das Reservas Particulares do Patrimônio Natural -
RPPNs e em áreas urbanas consolidadas.
Cabe mencionar que as unidades de conservação podem ser criadas no âmbito das
três esferas do governo: federal, estadual e municipal. As unidades de conservação federais
estão sob responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade –
ICMBio, que disponibiliza os dados sobre as suas unidades, como as áreas, os planos de
manejo, entre outros. No entanto, destaca-se que para as unidades de conservação criadas
pelos governos estaduais e municipais, muitas vezes, não existem dados disponíveis sobre
elas, prejudicando a consideração dessas unidades no planejamento de empreendimentos
como o de linhas de transmissão. Adicionalmente, aponta-se que nas esferas estaduais e
municipais do governo, podem ocorrer unidades de conservação não categorizadas pelo
SNUC, seja por terem sido criadas antes da publicação do SNUC (ano 2000), ou por terem
objetivos que não se enquadram em nenhuma das suas categorias.
A Portaria MMA no 55/2014 estabelece os procedimentos relacionados à Resolução
n° 428/2010 entre o órgão responsável pelas unidades de conservação nacionais, o
ICMBio, e o órgão responsável pelo licenciamento ambiental federal, o Ibama. A Figura 6
mostra as unidades de conservação no Brasil.
40

Fonte dos dados: MMA, 2015; IBGE, 2009


Figura 6 - Unidades de conservação no Brasil

3.3.4. Áreas urbanas

Os traçados das linhas de transmissão desviam sempre que possível das áreas
urbanas e de expansão urbana, uma vez que, a passagem por essas áreas resulta em um
elevado número de desapropriações, aumenta os riscos de acidentes com a população
urbana e degrada a paisagem local.
Entretanto, para as linhas de transmissão que atravessam áreas urbanas ou áreas em
expansão urbana, é necessário, desde os estudos iniciais, a consulta aos planos diretores.
O plano diretor é definido pelo Estatuto das Cidades (Lei Federal 10.257/2001)
como o instrumento básico para orientar a política de desenvolvimento e de ordenamento
da expansão urbana do município.
O Plano Diretor é obrigatório para municípios:
41

• Com mais de 20 mil habitantes

• Integrantes de regiões metropolitanas

• Áreas de interesse turístico

• Situados em áreas de influência de empreendimentos ou atividades com


significativo impacto ambiental na região ou no país.

Um dos produtos do plano diretor é o zoneamento que divide o município em áreas


que possuem diretrizes diferenciadas para uso e ocupação do solo. Muitas vezes os planos
diretores estipulam limitações à passagem das linhas de transmissão em zonas
determinadas que, em geral, são áreas de maior adensamento populacional.
Para as linhas de transmissão que se conectam em subestações localizadas em áreas
urbanas consolidadas, as linhas de transmissão subterrâneas são uma boa solução
tecnológica, apesar do seu elevado custo (cerca de dez vezes o custo de linhas de
transmissão aéreas). A Figura 7 apresenta as áreas urbanas no Brasil.
42

Fonte: MMA, 2007; IBGE, 2009


Figura 7 - Áreas urbanas no Brasil

3.3.5. Corpos d’água

Os traçados de linhas de transmissão tendem a buscar os trechos mais estreitos dos


corpos d’água para a sua travessia, pois o cruzamento de extensos corpos d’água pelas
linhas de transmissão requer estruturas diferenciadas com altura suficiente para transpor o
vão entre as torres das margens do corpo d’água e garantir a distância de segurança da
linha (distância mínima entre os condutores da linha e o nível máximo das águas). Nos
casos de hidrovias, o cálculo da distância de segurança apresentado pela NBR 5422
considera também a altura do maior mastro na via. A Figura 8 apresenta um mapa dos
corpos d’água no Brasil.
43

Fonte dos dados: IBGE, 2009


Figura 8 - Corpos d'água no Brasil

3.3.6. Áreas desprovidas de apoio viário

O apoio rodoviário evita a abertura de novos acessos para a construção do


empreendimento, uma das atividades mais impactantes da etapa de implantação da linha,
pois demanda desmatamentos da vegetação nativa e podem iniciar processos erosivos na
região. Desta forma, em regiões desprovidas de acesso, os traçados das linhas de
transmissão tendem a fazer extensos desvios buscando proximidade com rodovias.
CAMPOS, 2010 aponta que em especial na Amazônia, a abertura de novos acessos
pode gerar impactos indiretos de grande magnitude, uma vez que confere acessibilidade a
áreas que até então se encontravam isoladas, e que a existência de um vetor de penetração
44

na floresta poderá induzir a ocupação desordenada de áreas próximas e fomentar


desmatamentos irregulares para a extração de madeira ou estabelecimento de atividades
agropecuárias. A Figura 9 mostra a malha viária existente no Brasil.

Fonte dos dados: IBGE, 2009


Figura 9 - Malha viária no Brasil

3.3.7. Outros

Além das restrições citadas acima, existem outras áreas que também apresentam
restrições para a passagem de linhas de transmissão. No entanto, essas variáveis podem
demandar menores extensões de desvio, ou apresentar baixa frequência de ocorrência de
desvio do traçado. Algumas dessas variáveis são descritas nos próximos itens.
45

3.3.7.1. Cavidades Naturais Subterrâneas (cavernas)

A Resolução Conama nº 347, de 10 de setembro de 2004, que dispõe sobre o


patrimônio espeleológico define cavidade natural subterrânea:

“é todo e qualquer espaço subterrâneo penetrável pelo ser humano, com ou sem
abertura identificada, popularmente conhecido como caverna, gruta, lapa, toca,
abismo, furna e buraco, incluindo seu ambiente, seu conteúdo mineral e hídrico, as
comunidades bióticas ali encontradas e o corpo rochoso onde as mesmas se inserem,
desde que a sua formação tenha sido por processos naturais, independentemente de
suas dimensões ou do tipo de rocha encaixante.”

Esta resolução estipula que os empreendimentos que podem degradar o patrimônio


espeleológico ou sua área de influência dependerão de licenciamento ambiental para sua
implantação.
A área de influência sobre o patrimônio espeleológico está assim definido na
Resolução:

“área que compreende os elementos bióticos e abióticos, superficiais e subterrâneos,


necessários à manutenção do equilíbrio ecológico e da integridade física do
ambiente cavernícola”

A área de influência será definida pelo órgão ambiental competente, que poderá
exigir estudos específicos às expensas do empreendedor. Entretanto, até a definição da área
de influência pelo órgão ambiental, esta será de 250 metros no entorno da cavidade natural
subterrânea.
46

Fonte dos dados: Cecav, 2015; Cecav, 2012; IBGE, 2009


Figura 10 - Cavidades naturais subterrâneas no Brasil

Uma linha de transmissão pode, em geral, desviar facilmente das cavidades naturais
subterrâneas e de suas respectivas áreas de influência. No entanto, como as cavidades
naturais estão situadas em regiões geológicas específicas, como as áreas definidas como
alto potencial de ocorrência de cavernas na Figura 10, é comum as cavidades ocorrerem de
forma agrupada, aumentando o risco de interferências.
Recentemente, o órgão ambiental tem exigido estudos de potencial espeleológico
específicos para as linhas de transmissão que atravessam essas áreas com maior ocorrência
de cavidades naturais subterrâneas.
47

3.3.7.2. Aeroportos e aeródromos

Segundo a NBR 5422, ao passar nas proximidades de aeroportos, as linhas de


transmissão devem ser projetadas de forma a ficarem inteiramente situadas abaixo do
gabarito de aproximação do aeroporto, e ser sinalizadas.
A Portaria no 957 de 9 de julho de 2015, que dispõe sobre as restrições aos objetos
projetados no espaço aéreo que possam afetar adversamente a segurança ou a regularidade
das operações aéreas, define o plano básico de zona de proteção de aeródromo como o
conjunto de superfícies limitadoras de obstáculos que estabelece as restrições impostas ao
aproveitamento das propriedades no entorno de um aeródromo.
As áreas com restrições podem chegar a 20.000 metros a partir da pista de pouso, e
devem ser consideradas quando da definição do traçado de uma linha de transmissão.
Contudo, as zonas de proteção devem ser estudadas caso a caso, pois variam de acordo
com as características de aeródromo.

3.3.7.3. Área de valor paisagístico

Uma linha de transmissão deve, sempre que possível, evitar áreas de valor
paisagístico, pois altera a paisagem e gera impacto visual no local onde é implantada.
Segundo GARCIA (2006), o impacto visual de um sistema de transmissão é originado
principalmente pela repetição contínua de torres e condutores através da linha de visão,
tornando-se uma imposição visual, podendo provocar impactos ao interferir com áreas de
lazer e recreação, parques nacionais, pontos turísticos, locais históricos, lagos,
reservatórios e paisagens naturais.
DRUMMOND (2013) aponta que se uma linha de transmissão for construída
paralelamente à única estrada de acesso a um parque nacional, ou se ela escala
verticalmente uma encosta claramente visível de um ponto turístico importante, ela será
mais conspícua e sujeita a ser vista por mais tempo, por mais pessoas, com maior
intensidade. Entretanto, existem diversas soluções de traçado para diminuir o grau de
visibilidade de uma LT e, consequentemente, os seus impactos "cênicos", mesmo nas
proximidades de áreas naturais preservadas.
48

3.3.7.4. Mineração

A mineração e a transmissão de energia elétrica podem ser conflitantes quando há


impossibilidade de coexistência entre essas duas atividades. Desta forma, o levantamento
das autorizações e concessões minerais deve ser realizado junto ao Departamento Nacional
de Produção Mineral – DNPM, que disponibiliza uma base cartográfica dos processos
minerários. A base cobre uma grande extensão do território nacional e apresenta processos
em diferentes fases, de requerimento de pesquisa à concessão de lavra, e especifica
diversas substâncias sujeitas à extração, como areia, água mineral, minério de ferro,
esmeralda e ouro.
Segundo o parecer da Procuradoria-Geral Federal sobre conflito entre atividades de
exploração de recursos minerais e de geração e transmissão de energia elétrica (DNPM,
2008), essas duas atividades encontram-se no mesmo patamar jurídico-constitucional, não
havendo como, a partir da análise da legislação em vigor, afirmar de antemão a prevalência
de qualquer uma das duas atividades.
O Código de Mineração, Decreto-lei no 227, de 28 de fevereiro de 1967, define os
diferentes regimes de aproveitamento das substâncias minerais, a saber: regime de
autorização; regime de concessão; regime de licenciamento; regime de permissão de lavra
garimpeira; e regime de monopolização (Tabela 2).

Tabela 2 - Regimes de aproveitamento econômico das substâncias minerais

Regime Legal Descrição


Visa à realização dos trabalhos necessários à definição da
Autorização jazida, sua avaliação e a determinação da exequibilidade do
seu aproveitamento.
Visa à realização do conjunto de operações coordenadas
Concessão objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a
extração do minério até o seu beneficiamento.
Visa ao aproveitamento das substâncias minerais de emprego
Licenciamento imediato na construção civil ou como corretivo de solos na
agricultura.
Visa à lavra e aproveitamento imediatos de substâncias
minerais que, em razão da sua dimensão, natureza,
Permissão de lavra garimpeira
localização e utilização econômica, independem de prévios
trabalhos de pesquisa.
Depende de lei especial e os trabalhos são executados direta
Monopolização
ou indiretamente pelo Governo Federal
Fonte: Adaptado de DNPM, 2008
49

Apresenta-se redigido, no Art. 42 do mesmo código que “A autorização será


recusada, se a lavra for considerada prejudicial ao bem público ou comprometer
interesses que superem a utilidade da exploração industrial, a juízo do Governo”.
Sobre esse artigo do Código de Mineração, a Procuradoria-Geral Federal entende
que:
“Apesar de não constar expressamente no Art. 42, do Código de Mineração, a
incompatibilidade entre as atividades minerária e energética é requisito essencial
para a aplicação do referido dispositivo legal, uma vez que só haverá conflito entre
tais se a coexistência de ambas for efetivamente inviável. Caso contrário, o interesse
público impõe a manutenção das duas atividades, buscando-se, assim, o
desenvolvimento de ambos os setores de forma sustentada.” (DNPM, 2008).

O mesmo parecer defende que a superação da utilidade do aproveitamento mineral


deve ser definida caso a caso, a princípio, pelo Ministro de Minas e Energia, conforme o
trecho transcrito do documento, a seguir:

“A superação da utilidade do aproveitamento mineral na área pelo interesse


envolvido no projeto energético depende de definição caso a caso, considerando os
diversos interesses, valores e fatores envolvidos e mediante critérios de
conveniência e oportunidade.
O interesse prioritário ou prevalecente deverá ser definido, em princípio, pelo
Ministro de Estado de Minas e Energia, por ser a autoridade responsável pela
elaboração e definição das políticas energética e mineral no País e chefe do órgão ao
qual se vincula tanto o DNPM como a ANEEL, autarquias federais responsáveis
pela regulação dos setores de mineração e de energia elétrica, respectivamente.”
(DNPM, 2008).

Devido à extensa cobertura territorial das áreas que apresentam processos


minerários, o cruzamento de linhas de transmissão nessas áreas é bastante frequente.
Entretanto, deve-se observar que os processos que se encontram em fases mais avançadas,
(como concessão de lavra) ou as áreas que já apresentam a atividade minerária em curso,
tendem a serem as áreas de maior restrição para a passagem de uma linha de transmissão.
50

3.3.7.5. Áreas de agricultura conflitantes com linhas de transmissão

A maioria das culturas pode ser praticada nas faixas de servidão. No entanto,
espécies facilmente combustíveis, como plantações de cana-de-açúcar e a silvicultura, não
podem coexistir com a faixa de servidão. Desta forma, com a passagem da linha de
transmissão, uma grande área de produção pode ser inviabilizada para a cultura. Para as
pequenas propriedades rurais, a perda da área produtiva na faixa de servidão tende a
comprometer consideravelmente a renda do agricultor rural.
Na nas áreas de agricultura extensiva, as torres de transmissão podem dificultar a
passagem de maquinário agrícola, e os cabos das linhas, a passagem de aviões
pulverizadores. Em relação aos pivôs centrais de irrigação, esses devem ser desviados
pelas linhas devido à incompatibilidade dos dois tipos de estruturas. Essas áreas são bem
visíveis em imagens de satélite, possuindo, em média, 1 km de diâmetro.

4. MATERIAL E MÉTODOS

No presente trabalho, foram utilizados os traçados de linhas de transmissão


planejadas obtidos a partir dos relatórios R3 e dos estudos realizados para o licenciamento
ambiental (Estudo de Impacto Ambiental – EIA e Relatório Ambiental Simplificado –
RAS) da base cartográfica disponibilizada pela EPE. Esses dados foram cruzados com as
bases cartográficas das áreas que apresentam restrições para a passagem de linhas de
transmissão, tornando possível a identificação e a quantificação dos desvios dos traçados
estudados.
Ao total, 171 traçados de linhas de transmissão planejadas tiveram seus desvios
analisados, perfazendo um total de 29.759 de km. Desses, 116 traçados foram obtidos a
partir de relatórios R3 e 55 dos relatórios do licenciamento ambiental (EIA ou RAS).
Para a realização da análise, os dados foram trabalhados em um ambiente de
Sistema de Informação Geográfica (SIG) utilizando-se o software ArcGIS 10.1 para o
tratamento dos dados e o software Google Earth para a visualização dos traçados em
imagens de satélite e a realização da medição dos desvios.

4.1. TRAÇADO DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO PLANEJADAS

Conforme mencionado, o presente estudo utilizou os traçados dos relatórios R3 e


dos estudos do licenciamento ambiental (EIA ou RAS) da base cartográfica de linhas de
51

transmissão planejadas disponibilizada pela EPE em arquivo shapefile. Ressalta-se que os


relatórios R3 são realizados em uma etapa anterior ao leilão, e apresentam traçados
preliminares que não são sujeitos à aprovação de um órgão ambiental licenciador. Assim,
são traçados que apresentam um nível menor de detalhamento se comparados aos traçados
do licenciamento. No entanto, visando aumentar a abrangência e a amostragem dos dados,
foram utilizados os traçados definidos nos dois tipos de estudo, apesar das suas diferenças.
Da base utilizada, foram excluídos:

• Os traçados com extensão inferior a 10 km – Em geral, tratam-se de


seccionamentos e, devido a curta extensão, tendem a não apresentar desvios
significativos (com extensão superior a 1 km);

• Os traçados de linhas de transmissão de corrente contínua - Por possuírem


grandes extensões (acima de 1000 km), elas seguem um padrão diferenciado
de desvios das linhas de corrente alternada, cuja tecnologia não permite
extensões superiores a 400 km.

4.2. BASE DE DADOS DAS ÁREAS RESTRITIVAS CONSULTADA

Além da base das linhas de transmissão planejadas, para a identificação e cálculo


dos desvios dos traçados foi necessário consultar outras bases cartográficas, como as áreas
que apresentam restrições para a passagem das linhas de transmissão e o limite das regiões
brasileiras, apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3 - Base cartográfica utilizada para a análise dos desvios

Base Cartográfica Fonte Ano


Terra indígena Funai 2015
Territórios quilombolas Incra 2015
Unidades de Conservação Federais MMA 2015
Unidades de Conservação Estaduais Eletrobras 2011
Projetos de assentamento Incra 2015
Ocorrência de cavernas Cecav 2015
Potencial de ocorrência de cavernas Cecav 2012
Áreas urbanas MMA 2007
Hidrografia IBGE 2009
Sistema viário IBGE 2009
Regiões Brasileiras IBGE 2009
52

4.3. CÁLCULO DOS DESVIOS

Os desvios foram calculados comparando-se as extensões dos trechos dos traçados


planejados com os mesmos trechos em linha reta sem o desvio da variável restritiva. Para
tanto, as medições foram realizadas utilizando-se o programa Google Earth com a
visualização dos arquivos das linhas de transmissão planejadas e das áreas restritivas no
formato KMZ. As imagens de satélites observadas a partir do Google Earth facilitou a
identificação dos desvios de áreas que não se encontram delimitadas nas bases consultadas,
como pivôs centrais de irrigação, aglomerados populacionais, etc.
Como a intenção do estudo é a identificação das restrições responsáveis pelos
desvios mais significativos, isto é, os desvios de grandes extensões, apenas foram
considerados os desvios superiores a 1 km por traçado. Nos casos em que o desvio
englobou mais de uma área, o desvio foi computado primeiramente na área mais restritiva,
na seguinte ordem:

I. Terra indígena, terra quilombola e área urbana;

II. Unidade de conservação de proteção integral;

III. Unidade de conservação de uso sustentável (exceto APA), travessia e desvio


de corpos hídricos;

IV. Área de Proteção Ambiental - APA e assentamento rural; e

V. Rodovias (desvio para aproximação)1.

Ressalta-se que os desvios considerados para rodovias foram os desvios feitos para
que o traçado atravessasse uma área com melhor apoio viário, em geral, seguindo em
paralelo a uma rodovia ou outra via de acesso.

Sendo o desvio superior à extensão necessária para desviar da área mais restritiva, a
diferença foi contabilizada na segunda variável para não haver sobreposição na medição de
desvios. A Figura 11 exemplifica o mencionado.

1
O padrão de desvio para a variável Rodovias difere dos demais por buscar proximidade com essas feições,
enquanto os desvios para as outras variáveis visam o contorno e afastamento das áreas restritivas.
53

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 11 – Exemplo de desvio de duas variáveis

A Figura 11 apresenta um desvio de área urbana e de unidade de conservação de


proteção integral. Sendo a área urbana mais restritiva do que a unidade de conservação de
proteção integral, o desvio atribuído à área urbana foi a diferença entre a extensão da linha
tracejada amarela e a linha tracejada vermelha, enquanto a extensão computada para o
desvio da unidade de conservação de proteção integral foi a diferença entre a extensão do
traçado tracejado azul e o traçado tracejado amarelo. Observe que o desvio considerou os 3
km da zona de amortecimento definida pela Resolução Conama no 428/2010.
As Figuras 12, 13 e 14 apresentam, de forma esquemática, alguns exemplos da
medição de desvios dos traçados das áreas que apresentam restrições. O desvio é calculado
a partir da diferença entre a linha tracejada amarela e a linha tracejada vermelha.
54

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 12 – Exemplo de desvio de área urbana

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 13 – Exemplo de desvio de unidade de conservação
55

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 14 – Exemplo de desvio visando o paralelismo com rodovia

4.4. CONTAGEM DAS INTERFERÊNCIAS

Além dos desvios, foram identificadas as interferências dos traçados das linhas de
transmissão planejadas em áreas com restrições. Nos casos das interferências, o que foi
contabilizado foi o número de interferências por traçado.
A Figura 15 mostra o traçado de uma LT planejada atravessando uma APA e alguns
assentamentos rurais.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 15 – Exemplo de interferência de traçado em assentamentos rurais e em APA
56

4.5. COMPILAÇÃO DOS DADOS EM TABELA

Os dados foram compilados em uma tabela Excel como a apresentada no


APÊNDICE 1. Nas células foram inseridas as extensões dos desvios e o número de
interferências. Vale lembrar que apenas foram contabilizados os desvios com extensões
superiores a 1 km.
A Tabela 4 apresenta a descrição dos campos da tabela utilizada para anotação das
extensões dos desvios e a quantificação das interferências.

Tabela 4 - Campos da tabela de compilação de dados dos desvios

Campo geral Campo específico Descrição


ID Número que identifica o traçado
ID Estudo Relatório R3, EIA ou RAS
Extensão Extensão total do traçado

UC PI (Exten.) Unidade de conservação de Proteção Integral - Extensão do desvio

UC PI (Categ.) Unidade de conservação de Proteção Integral - Indicação da Categoria

UC US (Exten.) Unidade de conservação de Uso sustentável - Extensão do desvio

UC US (Categ.) Unidade de conservação de Uso sustentável - Indicação da Categoria

TI Extensão do desvio de terra indígena


TQ Extensão do desvio de terra quilombola
Área Urbana Extensão do desvio de área urbana
Alagável Extensão do desvio de área alagável
Desvios Reservatório
Extensão do desvio para travessia de reservatório
Travessia
Reservatório Desvio Extensão do desvio do reservatório

Rio Travessia Extensão do desvio para travessia de rio

Rio Desvio Extensão do desvio de rio (meandros)

Assentamento Extensão do desvio de assentamento rural

Outros Extensão do desvio de outros

OBS Observações e especificação de outros (listados no item 3.3.7)

Rodovias Extensão do desvio para aproximação da malha viária

Assentamento Número de assentamentos atravessados

Interferência APA Número de APAs atravessadas

Outra Indicação de outras áreas atravessadas


57

Sem desvio
Não foi identificado desvios acima de 1 km
significativo
OBS Desvio não O desvio não pode ser identificado a partir da base consultada e das
identificado imagens de satélite
OBS Observação

Sobre alguns campos da tabela, cabem comentários.

• Para as unidades de conservação, devido às diferentes restrições atribuídas


às categorias, as mesmas foram discriminadas durante o levantamento dos
desvios.
• Devido a diferença da natureza do desvio, foram diferenciadas os desvios
dos rios (em geral meandros) e dos reservatórios (braços dos reservatórios)
dos desvios das travessias dos rios e reservatórios, que em geral estão
limitados aos seus trechos mais estreitos;
• No campo Sem desvios significativos foram assinaladas os traçados que não
tiveram desvios superiores a 1 km;
• No campo Desvio não identificado foram apontadas as linhas que tinham
desvios significativos que não puderam ser identificados nem mesmo nas
imagens de satélite
• No campo Outros (no campo geral Desvios), foram incluídos os desvios que
não estão listados na tabela. Destes, estão algumas variáveis que possuem
base de dados cartográficos, como cavernas e aeródromos, e os que apenas
podem ser identificados nas imagens de satélite, como aglomerados
populacionais, pivôs centrais de irrigação, áreas de mineração, etc; e
• No campo Outra (no campo geral Interferências), foram incluídas as áreas
protegidas atravessadas pelo traçado, como as unidades de conservação, as
terras indígenas e as terras quilombolas.

4.6. ANÁLISE DOS DADOS

Por conta da grande extensão do território brasileiro e da diferença socioeconômica


e ambiental entre as regiões, verificou-se que as restrições levantadas diferenciam
consideravelmente entre as regiões. Desta forma, optou-se por fazer uma discussão dos
resultados primeiramente por região, para então discutir os desvios para o Brasil como um
todo.
58

Desta forma, na distribuição dos traçados por região, os traçados que atravessam
mais de uma região brasileira foram computados na região onde este se apresenta com
maior extensão.
Visando realizar uma análise não apenas da extensão dos desvios, como também da
sua frequência de ocorrência, optou-se por fazer uma análise tanto da extensão do desvio
quanto do número de linhas que desviaram de uma determinada variável. Convém
mencionar que um traçado pode desviar de mais de uma área restritiva.
Os dados foram trabalhados com o detalhamento da tabela 3, discriminando os
grupos e as categorias das unidades de conservação, tipos de corpos d’água, etc. No
entanto, nas análises mais generalistas, os dados dos desvios foram agrupados, e para as
discussões mais específicas, foram apresentados em sua forma detalhada.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo são apresentados primeiramente os dados gerais dos resultados,


seguidos por uma análise mais detalhada dos desvios e interferências por região. Então, o
comportamento dos traçados em relação às áreas que apresentam restrições são discutidos
para o Brasil como um todo, considerando as diferenças entre as regiões.

5.1. DADOS GERAIS DOS RESULTADOS

A Tabela 5 apresenta o número e a extensão total dos traçados analisados por


região. Observa-se que houve uma maior extensão de traçados analisados na região Norte,
seguida pelo Nordeste (Figura 16), e um maior número de linhas na região Sudeste.
Segundo o PDE 2024, a expansão do SIN na região Norte se deve aos novos
aproveitamentos hidrelétricos na Amazônia, na região Nordeste ao escoamento do
excedente do potencial eólico, e na região Sudeste, aos reforços no sistema.

Tabela 5 - Extensão e número de traçados de linhas de transmissão planejadas analisadas por região

Traçados e desvios de LT Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total


o
N de traçados 32 48 21 38 32 171
Extensão dos traçados (km) 7912 7884 3850 6106 4007 29759
Extensão dos desvios (km) 528 359 143 255 267 1552
% Desvios (km)/Traçados (km) 6,7 4,6 3,7 4,2 6,7 5,2
59

Percentagem da extensão dos traçados analisados


por região brasileira

Sul Norte
13% 27%
Sudeste
21%

Centro-Oeste Nordeste
13% 26%

Figura 16 – Percentagem da extensão dos traçados de linhas de transmissão planejadas analisados por
região brasileira

A Tabela 5 aponta que houve um acréscimo de 5,2 % nas extensões totais dos
traçados analisados devido aos desvios. Observa-se que a região Norte foi a região que
apresentou a maior extensão de desvios enquanto a região Centro - Oeste foi a que
apresentou menores extensões de desvios e menor relação desvios (km) /traçados (km).
A Tabela 6 apresenta a extensão dos desvios e o número de traçados que
apresentaram desvios para evitar áreas com restrições ou para seguir em paralelo a
rodovias. Os valores percentuais estão relacionados aos valores totais dos números de
traçados analisados e extensão total dos desvios, apresentados na Tabela 5.

Tabela 6 – No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável analisada
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Paralelismo com Rodovias 54 32 453 29
Área Urbana 70 41 332 21
Unidades de Conservação 37 22 238 15
Terra Indígena 13 8 107 7
Corpos dágua 41 24 212 14
Outras 62 36 210 14

Na Tabela 6, verifica-se que a maior extensão de desvio dos traçados analisados foi
em decorrência do paralelismo com rodovias, perfazendo um total de 453 km, o
60

equivalente a 29 % do total da extensão dos desvios. Esses desvios evitam as áreas com
pouco apoio viário que, além de prejudicar a logística para a construção e manutenção da
linha de transmissão, frequentemente são as causas de maiores interferências com a
vegetação nativa.
A variável determinante do desvio que ocorreu com maior frequência e segunda
maior em extensão foi a área urbana, estando presente em 41 % dos traçados analisados, e
perfazendo um total de 332 km de extensão. A restrição para a passagem de linhas de
transmissão em áreas urbanas é muito alta embora muitos dos desvios não tenham grandes
extensões. Uma vez que as áreas urbanas encontram-se espargidas por todo o Brasil, há
uma grande frequência desses desvios. Ainda assim, como esse estudo somente considerou
os desvios maiores de 1 km por traçado, o número e a extensão dos desvios de áreas
urbanas tendem a ser ainda maiores.
As unidades de conservação apresentam a terceira maior extensão de desvios dos
traçados, com 238 km. Cabe mencionar que neste campo estão agrupadas as unidades de
conservação de proteção integral e de uso sustentável, apesar dos diferentes graus de
restrição que elas apresentam.
Os desvios que ocorreram por conta dos corpos d’água somaram um total de 212
km, e foram causas de desvios em 41 linhas. Incluídos nessa classe, encontram-se os
desvios de rios, reservatórios e lagos, e os desvios realizados para a viabilização de
travessias desses corpos d’água.
Em relação às terras indígenas, os desvios dos traçados planejados foram de
aproximadamente 107 km de extensão, identificados em 13 dos 171 traçados analisados,
indicando que as extensões dos desvios tendem a ser grandes.
No campo Outras, da coluna das variáveis determinantes dos desvios, diferentes
áreas identificadas estão agrupadas, dentre elas terras quilombolas, áreas com concentração
de cavernas, áreas de mineração, assentamento rural, áreas alagáveis, etc., que serão
apresentados nos próximos itens.
Alguns traçados não apresentaram desvios significativos, ou seja, desvios com
extensões superiores a 1 km, enquanto outros apesentaram desvios que não puderam ser
identificados a partir da base de dados consultada. O número de traçados que apresentaram
essas situações encontram-se na Tabela 7.
61

Tabela 7 - No de traçados que não apresentaram desvios e no traçados que apresentaram desvios não
identificados por região a brasileira

Número de traçados
Traçados de LT
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total
Não apresentaram desvio significativo
1 6 2 2 3 14
(> 1 km)
Apresentaram desvios não
7 7 5 7 5 31
identificados

O presente estudo identificou também as interferências dos traçados das linhas de


transmissão planejadas com áreas restritivas, se destacando em número os assentamentos
rurais e as Áreas de Proteção Ambiental – APAs, unidades de conservação de uso
sustentável, conforme apresentado na Tabela 8.

Tabela 8- Interferência dos traçados com áreas restritivas


o
Área restritiva N de Interferências
Assentamento 254
APA 59
Outra 23
Total 336

Observa-se, na Tabela 8, que foram identificadas mais interferências em


assentamentos rurais do que em APAs. No campo Outras se encontram principalmente
unidades de conservação de diferentes categorias, além de uma terra indígena, uma terra
quilombola, entre outras áreas.
Como os dados dos desvios e os dados das interferências estão apresentados na
Tabela 6 para todo o Brasil, eles não mostram o que cada variável representa para cada
região. Os desvios das terras indígenas, por exemplo, são determinantes para os traçados de
linhas de transmissão na região Norte. Contudo, os valores apresentados na Tabela 6 são
relativamente baixos por não serem tão significativos nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul.
Em relação às áreas urbanas, essas áreas de restrição são muito importantes para os
traçados localizados no Sudeste e no Sul, entretanto, pouco expressivas nas regiões Norte e
Nordeste.
Da mesma forma, as interferências com assentamentos rurais estão
predominantemente localizadas nas regiões Norte e Nordeste, enquanto a interferências
com APAs ocorrem com mais frequência no Sudeste.
62

Assim, para que os resultados finais não desconsiderem as diferenças regionais


brasileiras, as análises foram realizadas primeiramente por região, e então para todo o
Brasil.

5.2. ANÁLISE DOS DESVIOS E INTERFERÊNCIAS DOS TRAÇADOS DE


LINHAS DE TRANSMISSÃO PLANEJADAS EM ÁREAS RESTRITIVAS
POR REGIÃO BRASILEIRA

Neste item, os traçados são analisados por região brasileira visando identificar quais
são os principais motivos de desvios e a frequência de interferências com áreas restritivas
considerando as características de cada região.

5.2.1. Região Norte

Na região Norte foram analisados 32 traçados de linhas de transmissão planejadas,


dos quais 17 foram obtidos a partir de relatórios R3 e 15 de estudos para o licenciamento
ambiental (EIA ou RAS), perfazendo um total de 7.912 km de extensão de traçado.
A Figura 17 apresenta o mapa dos traçados planejados analisados e as áreas
restritivas para a passagem de linhas de transmissão, enquanto a Figura 18 mostra os
traçados planejados analisados e a malha viária existente, ambos na região Norte.
63

Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007; IBGE, 2009
Figura 17 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Norte

Fonte dos dados: IBGE, 2009


Figura 18 – Mapa da malha viária na região Norte
64

A Tabela 9 apresenta os dados sobre os desvios dos traçados de linhas de


transmissão planejadas na região Norte em valores absolutos e percentuais relativos à
região Norte. As Figuras 19 e 20 mostram os valores em gráficos.

Tabela 9 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Norte
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 21 66 261 49
Área Urbana 6 19 17 3
UC PI 4 13 23 4
UC US 3 9 10 2
Terra Indígena 7 22 82 16
Terra Quilombola 0 0 0 0
Área Alagável 2 6 9 2
Travessia corpos d’água 8 25 65 12
Desvio corpos d’água 6 19 24 5
Assentamento Rural 6 19 15 3
Outros 4 13 22 4

Extensão dos desvios (km) - Região Norte

300
250
200
150
100
50
0

*Desvio de aproximação
Figura 19 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Norte
65

No de traçados que apresentaram desvios - Região Norte

25
20
15
10
5
0

*Desvio de aproximação

Figura 20 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios na região


Norte

Pode-se observar a partir dos gráficos que o paralelismo com rodovias, terra
indígena e travessias de corpos d’água são as variáveis mais significativas para os desvios
dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Norte.
Conforme apresentado na Figura 18, a malha viária na região Norte é deficiente,
formado por poucas rodovias pavimentadas e estradas não pavimentadas. Tendo em vista
que a região Norte engloba grande parte da Amazônia Legal, as regiões com déficit em
vias de acesso muitas vezes estão cobertas com florestas ombrófilas bem preservadas que
em média possuem de 35 a 40 metros de altura (MESQUITA, 2009). Além da dificuldade
para transpor a vegetação nativa, o impacto da construção uma linha de transmissão nessas
áreas é muito alto e tende a ser intensificado pela falta de vias de acesso. Tais condições
justificam os grandes desvios dos traçados para o paralelismo com rodovias existentes na
região Norte, observados em 21 dos 32 traçados analisados (66%), e responsável por um
acréscimo de 261 km nas extensões dos mesmos. A Figura 21 apresenta um exemplo de
desvio do traçado visando o paralelismo com rodovia em uma região com pouco apoio
viário.
66

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 21 – Desvio visando o paralelismo com rodovias na região Norte

Os corpos d’água também se destacam na região. A região Norte abrange grande


parte da bacia hidrográfica do rio Amazonas, sendo a mais extensa rede hidrográfica do
globo, ocupando uma área total de 6.110.000 km2 e com contribuição média de 132.145
m³/s de água apenas no território brasileiro (ANA, 2015). Desta forma, os desvios
realizados para a travessia dos rios ou para o desvio de grandes meandros de rios foram
responsáveis não apenas por uma grande extensão total dos desvios (89 km), como também
ocorreram em razoável frequência, com 25% das linhas apresentando desvios para
travessias e 19% para desvios dos meandros dos rios. Associadas aos rios, a região Norte
possui grandes áreas alagáveis que também são causas de desvios. Em 2 traçados essas
áreas foram responsáveis pelo acréscimo de 9 km (ressalta-se que apenas os desvios
superiores a 1 km por traçado foi considerado). As áreas alagáveis demandam fundações
diferenciadas de alto custo financeiro e elevam consideravelmente os impactos ambientais
na construção e na abertura de vias de acesso.
A Figura 22 apresenta um exemplo de desvio de rio na região Norte. Neste trecho,
o rio possui 3 km de largura.
67

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 22 – Desvio de rios na região Norte

Em relação às terras indígenas, essas áreas são responsáveis por grandes desvios na
região Norte (Figura 23). Além do desvio da área delimitada, deve-se observar que a
maioria dos desvios consideram também a distância estipulada pela portaria 411/11
(revogada pela Portaria no 60/15 mantendo o mesmo valor), sendo de 8 km de afastamento
para a Amazônia Legal. Cabe lembrar que o órgão ambiental poderá exigir estudos
específicos referentes às interferências do empreendimento com terra indígena se o
empreendimento estiver localizado a uma distância inferior ao determinado pela portaria.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 23 – Desvio de terra indígena e interferências com assentamentos rurais na região Norte
68

As unidades de conservação foram responsáveis por 33 km de desvios na região Norte, 23


dos quais determinados por unidades de conservação de proteção integral, conforme
apresentado pela Tabela 10.

Tabela 10 – Desvios de unidades de conservação na região Norte

Unidades de conservação desviadas o


N de traçados Extensão (km)
Grupo Categoria
Parque Nacional 1 16
Proteção Integral Parque Estadual 2 6
Refúgio da Vida Silvestre 1 1
Reserva Florestal* 1 8
Uso Sustentável Floresta Nacional 1 1
Reserva dos Recursos Naturais* 1 1
*Unidades de conservação não categorizadas pelo SNUC

Em relação aos assentamentos rurais, houve um total 15 km de desvio dessas áreas,


o equivalente a apenas 3% da extensão total dos desvios na região Norte, apesar de ser uma
área que apresenta grandes extensões de assentamentos (Figura 5).
Conforme apresentado na Tabela 9, não foi identificado nenhum desvio de terras
quilombolas na região Norte.
Em relação às outras variáveis desviadas, foram identificados desvios superiores a 1
km para as áreas de mineração, aeroporto e uma área de reflorestamento, conforme
indicado na Tabela 11.

Tabela 11 – Outras variáveis desviadas na região Norte


o
Outras áreas desviadas N de traçados Extensão (km)
Mineração 1 15
Aeroporto 1 2
Reflorestamento 1 2

Além dos desvios, foi quantificado o número de interferências em áreas que


apresentam restrições para a passagem de linhas de transmissão. As interferências
identificadas para a região Norte estão na Tabela 12.

Tabela 12 – Interferências dos traçados em áreas restritivas na região Norte


o o o
Área atravessada pelo traçado N de traçados % N de traçados totais N de Interferências
Assentamento rural 24 75 104
APA 7 22 7
Outra 4 13 4
69

A Tabela 12 mostra que os traçados analisados na região Norte interferiram em 104


assentamentos rurais e a interferência ocorreu em 75% dos traçados analisados. Convém
observar que, apesar do grande número de interferências nessas áreas, os desvios
levantados foram pouco significativos, ocorrendo em apenas cerca de 20 % dos traçados e
totalizando 15 km de extensão total (Tabela 9).
Na região Norte os assentamentos frequentemente estão dispostos de forma
agrupada abrangendo grandes áreas, o que praticamente inviabiliza o desvio dos traçados
de linhas de transmissão. Além disso, muitas vezes os assentamentos estão localizados às
margens das escassas rodovias e estradas existentes na região, sendo estes também os
locais mais favoráveis para a passagem das linhas de transmissão, o que justifica o alto
número de assentamentos rurais atravessados e a pequena extensão atribuída aos desvios.
Em relação às interferências com APAs, estas ocorreram em 22% dos traçados,
totalizando 7 interferências.
Foram observadas também interferências em terra indígena e três unidades de
conservação de uso sustentável (Tabela 13).

Tabela 13 – Interferências dos traçados em outras áreas restritivas


o o
Outras interferências N de traçados N de áreas
Terra indígena 1 1
Reserva Florestal* (UC - US) 1 1
Floresta Estadual (UC - US) 1 1
Reserva Extrativista (UC - US) 1 1
*Unidades de conservação não categorizadas pelo SNUC

Importa mencionar que esta foi a única interferência com terra indígena identificada
dentre os traçados analisados. A interferência foi em razão do paralelismo com uma
rodovia que passa dentro da terra indígena, sendo que o entorno é totalmente desprovido de
acessos, conforme apresentado na Figura 24. O desvio dessa terra indígena causaria
grandes impactos com a vegetação nativa (floresta ombrófila bem preservada), com
grandes extensões de áreas alagáveis, além de interferência com unidades de conservação.
70

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 24 – Interferência com terra indígena na região Norte

5.2.2. Região Nordeste

Na região Nordeste foram analisados 7.884 km de extensão de traçados de linhas de


transmissão planejadas. Ao total, foram 48 traçados dos quais 31 foram obtidos a partir de
relatórios R3 e 17 de estudos para o licenciamento ambiental (EIA ou RAS).
A Figura 25 apresenta o mapa dos traçados planejados analisados e as áreas
restritivas para a passagem de linhas de transmissão, e a Figura 26, os traçados planejados
analisados e a malha viária existente, ambos na região Nordeste.
71

Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007IBGE, 2009
Figura 25 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Nordeste

Fonte dos dados: IBGE, 2009


Figura 26 - Mapa da malha viária na região Nordeste
72

A Tabela 14 apresenta os dados sobre os desvios dos traçados de linhas de


transmissão planejadas na região Nordeste, representados em gráficos nas Figuras 27 e 28.

Tabela 14 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Nordeste
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 18 38 127 35
Área Urbana 17 35 36 10
UC PI 2 4 36 10
UC US 6 13 53 15
Terra Indígena 1 2 4 1
Terra Quilombola 4 8 7 2
Área Alagável 1 2 1 0
Travessia corpos d’água 3 6 13 4
Desvio corpos d’água 4 8 21 6
Assentamento Rural 3 6 10 3
Outros 11 23 51 14

Extensão dos desvios (km) - Região Nordeste

140
120
100
80
60
40
20
0

*Desvio de aproximação

Figura 27 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Nordeste
73

No de traçados que apresentaram desvios - Região


Nordeste

18
16
14
12
10
8
6
4
2
0

*Desvio de aproximação

Figura 28 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios na região


Nordeste

Parte do potencial eólico brasileiro encontra-se no interior nordestino e, conforme


citado no item 3.1, para o aproveitamento dessa energia faz-se necessário a ampliação do
sistema de transmissão para escoamento dessa energia para os grandes centros de carga.
Desta forma, muitas das linhas de transmissão planejadas atravessam essa região que
apresenta ainda áreas remotas, municípios com pequenas áreas urbanas e pouca
infraestrutura.
As variáveis que se destacam para o desvio das linhas de transmissão planejadas na
região Nordeste são o paralelismo com rodovias e as unidades de conservação.
Conforme apresentado na Figura 26, diferentemente do litoral, o interior da região
Nordeste apresenta uma malha viária pouco estruturada, contando com poucas rodovias
pavimentadas, o que justifica o paralelismo com as rodovias ser o principal motivo dos
desvios dos traçados analisados (Figura 29). Desta forma, 38% dos traçados analisados na
região Nordeste apresentaram desvios que visavam ao paralelismo com acessos viários,
totalizando 127 km de extensão em desvios para esse fim.
74

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 29 – Desvios visando o paralelismo com rodovias na região Nordeste

As unidades de conservação também foram causas de desvios significativos na


região Nordeste. Conforme mostra a Tabela 14, esses desvios se destacam mais em
extensão do que em número de traçados. Para as unidades de conservação de proteção
integral apenas dois traçados somaram um desvio de 36 km para essa variável, significando
10% da extensão total dos desvios na região.
A Figura 30 apresenta um exemplo de desvio de uma unidade de conservação de
proteção integral na região Nordeste.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 30 – Desvio de unidade de conservação de proteção integral no Nordeste
75

Importa destacar também que a categoria de unidade de conservação que somou um


maior número de traçados e maior extensão de desvios foi a APA (Tabela 15).
Diferentemente de regiões como o Sudeste e Sul, onde as APAs podem se encontrar
bastante antropizadas, na região Nordeste essas áreas ainda se apresentam conservadas,
justificando o desvio mesmo com o baixo grau de restrição atribuído a essa categoria de
unidade de conservação.

Tabela 15 - Desvios de unidades de conservação na região Nordeste

Unidades de conservação desviadas o


N de traçados Extensão (km)
Grupo Categoria
Parque Nacional 1 30
Proteção Integral
Refúgio da Vida Silvestre 1 6
Floresta Nacional 1 1
Uso Sustentável
Área de Proteção Ambiental - APA 5 52

As áreas urbanas também se destacam como uma importante variável na região


nordeste, não pela extensão dos desvios, e sim pelo número de traçados que apresentaram
desvios (35% dos traçados). Isso ocorre porque, em geral, as áreas urbanas no Nordeste
não possuem grandes extensões, apesar de estarem presentes em grande número de forma
dispersa na região. Assim, apesar da alta frequência de ocorrência, a extensão total dos
desvios de áreas urbanas foi menos significativo, correspondendo a 10 % da extensão total
dos desvios no Nordeste.
O desvio de terras quilombolas ocorreu em maior frequência e extensão do que as
o desvios atribuídos às terras indígenas, sendo essa a região que mais possui terras
quilombolas no Brasil. Entretanto, essas áreas, em geral, não possuem grandes extensões e
o desvio total para essa variável não foi muito expressiva (2% da extensão total dos
desvios).
76

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 31 – Desvios de terras quilombolas e para o paralelismo com rodovias na região Nordeste

Os assentamentos rurais foram responsáveis por desvios em 6% dos traçados


analisados correspondendo a 3 % da extensão total dos desvios, apesar dessa região
apresentar um grande número de assentamentos.
Na região Nordeste, o campo Outros apresentou 14 % da extensão total dos
desvios. A Tabela 16 apresenta a discriminação do campo Outros, contando com 8
variáveis diferentes.

Tabela 16 – Outras variáveis desviadas pelos traçados na região Nordeste


o
Outras áreas desviadas N de traçados Extensão (km)
Área degradada erosão 1 27
Área militar 1 10
Cavernas 1 4
Parque eólico 2 3
Povoados 2 2
Pivô de irrigação 2 2
Área de exploração de petróleo 1 2
Aeroporto 1 1

Na Tabela 16, destaca-se o desvio de uma área degradada em processo de


desertificação que aumentou o traçado em 27 km (Figura 32). O desvio não visou apenas a
não intensificação dos processos erosivos, mas também evitar os riscos que áreas em
processos muito intensos de erosão podem oferecem às linhas de transmissão (ATE XVI,
2013).
77

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 32 – Desvio de área degradada (em processo de desertificação) na região Nordeste

Cabe mencionar, uma vez mais, que apenas foram computados os desvios
superiores a 1 km por traçado. Desta forma, os desvios das variáveis podem ter ocorrido
em uma frequência muito superior, mas sem ter atingido o 1 km de acréscimo à linha por
conta do desvio. Esse é o caso, por exemplo, do desvio de aeroportos e cavernas que,
embora ocorram com certa frequência, não é comum o desvio ser superior a 1 km.
Em relação às interferências dos traçados em áreas que apresentam restrições, a
Tabela 17 mostra que os traçados analisados na região Nordeste interferiram em 100
assentamentos rurais, o que ocorreu em 54% dos traçados analisados. Assim como ocorreu
na região Norte, as interferências com assentamentos rurais ocorreram em grande número,
enquanto os desvios foram pouco significativos, presentes em apenas 6% dos traçados.

Tabela 17 – Interferências dos traçados em áreas restritivas na região Nordeste


o o o
Área atravessada pelo traçado N de traçados % N de traçados totais N de Interferências
Assentamento rural 26 54 100
APA 5 10 5
Outra 2 4 2

Assim como na região Norte, os assentamentos rurais no Nordeste se encontram em


grande número e de forma agrupada, ocupando áreas extensas e inviabilizando os desvios
dos traçados. Além disso, frequentemente essas áreas localizam-se às margens de rodovias,
sendo também os caminhos preferenciais de traçados de linhas de transmissão,
principalmente em regiões com pouca infraestrutura viária, como ocorre na região Norte e
interior da região Nordeste (Figura 33).
78

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 33 – Desvio visando ao paralelismo com rodovias e interferências com assentamentos rurais no
Nordeste

Os traçados analisados na região Nordeste atravessaram 5 APAs, conforme


apresentados na Tabela 17. Cabe lembrar que as APAs foram as unidades de conservação
que apresentaram maior valor total de extensão de desvio na região Nordeste e, conforme
já mencionado, na região elas abrangem ecossistemas naturais bem preservados,
diferentemente das APAs da região Sudeste que, de forma geral, encontram-se bastante
antropizadas.
Além de interferência em assentamentos rurais e APAs, se verificou também
interferência em uma terra quilombola e em uma Reserva Ecológica Estadual, unidade de
conservação de proteção integral (Tabela 18).

Tabela 18 – Interferência dos traçados em outras áreas restritivas


o o
Outras interferências N de traçados N de áreas
Terra quilombola 1 1
Reserva Ecológica Estadual* (UC - PI) 1 1
*Unidades de conservação não categorizadas pelo SNUC

5.2.3. Região Centro-Oeste

Na região Centro-Oeste foram analisados 3.850 km de extensão de traçados de


linhas de transmissão planejadas. Ao total, foram 21 traçados dos quais 12 foram obtidos a
partir de relatórios R3 e 9 de estudos para o licenciamento ambiental (EIA ou RAS). De
todas as regiões, o Centro-Oeste foi a que teve menor amostragem de traçados.
79

A Figura 34 apresenta o mapa dos traçados planejados analisados e as áreas


restritivas para a passagem de linhas de transmissão, e a Figura 35, os traçados planejados
analisados e a malha viária existente, ambos na região Centro-Oeste.

Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007; IBGE, 2009
Figura 34 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Centro-Oeste
80

Fonte dos dados: IBGE, 2009


Figura 35 - Mapa da malha viária na região Centro-Oeste

A Tabela 19 mostra os dados sobre os desvios dos traçados de linhas de transmissão


planejadas na região Centro-Oeste em valores absolutos e percentuais relativos à região.
As Figuras 36 e 37 representam os valores em gráficos.

Tabela 19 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Centro-Oeste
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 5 24 29 20
Área Urbana 5 24 23 16
UC PI 2 10 7 5
UC US 3 14 16 11
Terra Indígena 3 14 18 13
Terra Quilombola 0 0 0 0
Área Alagável 0 0 0 0
Travessia corpos d’água 1 5 4 3
Desvio corpos d’água 3 14 20 14
Assentamento Rural 2 10 5 3
Outros 1 5 21 15
81

Extensão dos desvios (km) - Região Centro - Oeste

30
25
20
15
10
5
0

*Desvio de aproximação

Figura 36 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Centro-
Oeste

No de traçados que apresentaram desvios - Região Centro -


Oeste

5
4
3
2
1
0

*Desvio de aproximação

Figura 37 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios na região


Nordeste

As variáveis que se destacam para o desvio das linhas de transmissão planejadas na


região Centro-Oeste são: paralelismo com rodovias, áreas urbanas, desvio de corpo d’água
e terras indígenas.
Conforme apresentado na Figura 35, o Centro-Oeste possui grandes regiões com
deficiência de uma malha viária estruturada, principalmente na porção oeste da região.
Entretanto, diferentemente da região norte e nordeste, onde a falta de rodovias representa
áreas de difícil acesso, muitas vezes remotas e pouco antropizadas, na região Centro-Oeste,
82

essas áreas frequentemente estão ocupadas com agricultura mecanizada e possuem vias
secundárias que dão suporte à agricultura. Apesar da maioria dessas vias não estarem
representadas no mapa, elas fornecem um bom apoio viário para a implantação das linhas
de transmissão planejadas.
Assim, apesar de ser o principal motivo dos desvios, o paralelismo com rodovias
não são tão significativos como nas outras regiões com infraestrutura viária deficiente e
representam 20% do total das extensões dos desvios, sendo que na região Norte esta
porcentagem é de 49% e no Nordeste 35%.
As áreas urbanas também se destacaram na região Centro-Oeste, com 16% da
extensão total dos desvios. Ressalta-se que os traçados localizados próximos a Brasília, na
porção leste da região, elevaram consideravelmente este valor, sendo a área urbana menos
significativa para o restante da região. A Figura 38 apresenta um traçado desviando de área
urbana e de expansão urbana no Distrito Federal. As unidades de conservação não estão
representadas na figura para facilitar a visualização do desvio de área urbana.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; EPE, 2015
Figura 38 – Desvio de áreas urbanas, de pivôs centrais de irrigação e de uma área militar na região
Centro-Oeste

O desvio de corpos d’água representaram 14% da extensão total dos desvios e


estiveram presentes e 14% dos traçados. Foram causas dos desvios reservatórios de usinas
hidrelétricas e meandro de rios. Para travessia de corpos d’água os números foram
inferiores, com 5 % da extensão dos desvios e 3% do número de traçados.
As terras indígenas foram responsáveis por 13% da extensão total dos desvios,
estando presentes em 3 dos 21 traçados (14%). Entretanto, a região apresenta um potencial
83

para números ainda maiores, uma vez que a porção noroeste da região apresenta um grande
número de terras indígenas e poucos dos traçados analisados passaram nessa área.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 39 – Desvio de terra indígena na região Centro-Oeste

As unidades de conservação foram responsáveis por 16% da extensão total dos


desvios, onde 5 % foram desvios de unidades de conservação de proteção integral (Estação
Ecológica) e 11% desvios de unidades de conservação de uso sustentável (Área de
Proteção Ambiental - APA). Os números de traçados e extensão por categoria estão
apresentados na Tabela 20.

Tabela 20 - Desvios de unidades de conservação na região Centro-Oeste

Unidades de conservação desviadas o


N de traçados Extensão (km)
Grupo Categoria
Proteção Integral Estação Ecológica 2 7
Uso Sustentável Área de Proteção Ambiental - APA 3 16

Apenas dois traçados (10%) desviaram de assentamentos rurais, representando 3%


das extensões totais de desvios.
Não foram identificados desvios de terras quilombolas e áreas alagáveis nos
traçados analisados.
Na região Centro-Oeste, o campo Outros, que apresenta outras variáveis
responsáveis por desvios, apresentou 15 % da extensão total dos desvios, sendo
incorporadas quatro variáveis diferentes, discriminadas na Tabela 21. Importa ressaltar que
84

apenas um traçado analisado apresentou os desvios para as quatro variáveis que compõe o
campo Outros (Tabela 21).

Tabela 21 – Outras variáveis desviadas pelos traçados na região Centro-Oeste


o
Outras áreas desviadas N de traçados Extensão (km)
Chapada (relevo) 1 12
Área militar 1 4
Cavernas 1 3
Pivôs centrais de irrigação 1 2

A Figura 38 mostra os desvios de pivôs centrais de irrigação e da área militar, e a


Figura 40 apresenta o trecho do desvio de pivôs centrais de irrigação com mais detalhe.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; EPE, 2015


Figura 40 – Desvio de pivôs centrais de irrigação na região Centro-Oeste

Em relação às interferências identificadas em áreas que apresentam restrições,


foram identificadas na região Centro-Oeste 16 interferências em assentamentos rurais, que
ocorreram em 33% dos traçados, 10 interferências em APAs, que também ocorreram em
33% dos traçados analisados e 4 interferências em outras áreas de restrição, ocorrendo em
19% dos traçados, conforme apresentado na Tabela 22.

Tabela 22 – Interferência dos traçados em áreas restritivas na região Centro-Oeste


o o o
Área atravessada pelo traçado N de traçados % N de traçados totais N de Interferências
Assentamento rural 7 33 16
APA 7 33 10
Outra 4 19 4
85

As outras interferências ocorreram em unidades de conservação de proteção


integral e de uso sustentável (Tabela 23). Verifica-se que as duas unidades de conservação
de uso sustentável não são categorizadas pelo Sistema Nacional de Unidades de
Conservação - SNUC.

Tabela 23 – Interferências dos traçados em outras áreas restritivas na região Centro-Oeste


o o
Outras interferências N de traçados N de áreas
Refúgio da Vida Silvestre (UC - PI) 1 1
Área de proteção de manancial (UC - US)* 2 2
Estrada Parque (UC - US)* 1 1
*UCs não categorizadas pelo Snuc

5.2.4. Região Sudeste

Na região Sudeste, foram analisados 6.106 km de extensão de traçados de linhas de


transmissão planejadas, num total 38 traçados dos quais 28 foram obtidos a partir de
relatórios R3 e 10 de estudos para o licenciamento ambiental (EIA ou RAS).
A Figura 41 apresenta o mapa dos traçados planejados analisados e as áreas
restritivas para a passagem de linhas de transmissão, e a Figura 42, os traçados planejados
analisados e a malha viária existente, ambos na região Sudeste.
86

Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007; IBGE, 2009
Figura 41 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Sudeste

Fonte dos dados: IBGE, 2009


Figura 42 - Mapa da malha viária na região Sudeste
87

A Tabela 24 apresenta os dados sobre os desvios dos traçados de linhas de


transmissão planejadas na região Sudeste e as Figuras 43 e 44 mostram os valores em
gráficos.

Tabela 24 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Sudeste
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 6 16 17 7
Área Urbana 23 61 126 49
UC PI 8 21 58 23
UC US 2 5 2 1
Terra Indígena 0 0 0 0
Terra Quilombola 1 3 1 0
Área Alagável 0 0 0 0
Travessia corpos d’água 3 8 15 6
Desvio corpos d’água 3 8 16 6
Assentamento Rural 3 8 5 2
Outros 8 21 15 6

Extensão dos desvios (km) - Região Sudeste

140
120
100
80
60
40
20
0

*Desvio de aproximação

Figura 43 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Sudeste
88

No de traçados que apresentaram desvios - Região Sudeste

25
20
15
10
5
0

*Desvio de aproximação
Figura 44 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios na região
Sudeste

Na região Sudeste, as variáveis que tiveram maior importância nos desvios dos
traçados das linhas de transmissão planejadas foram as áreas urbanas, seguidas das
unidades de conservação de proteção integral.
O Sudeste é uma região bastante urbanizada e abrange as duas maiores cidades
brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. As áreas urbanas possuem grandes extensões e são
responsáveis por muitos e extensos desvios. Na região, 49% do total das extensões dos
desvios, ou seja, 126 km, ocorreu devido a áreas urbanas e os desvios dessas áreas
estiveram presentes em 61% dos traçados analisados (Tabela 24).
A Figura 45 apresenta um exemplo de desvios de áreas urbanas. Observa-se que, ao
desviar das áreas urbanas, o traçado atravessou duas APAs neste trecho.
89

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 45 - Desvios de áreas urbanas e interferências com APAs na região Sudeste

As unidades de conservação de proteção integral apresentaram o segundo maior


percentual de extensão dos desvios, com 23 % da extensão total, estando presentes em 21%
dos traçados analisados. Em contrapartida, as unidades de conservação de uso sustentável
foram responsáveis por um percentual pouco significativo de desvios, representando
apenas 1% da extensão total e presente em 5% dos traçados, apesar de cobrirem grandes
extensões na região. A Figura 46 apresenta o desvio de uma unidade de conservação de
proteção integral.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 46 – Desvio d Unidade de conservação de proteção integral na região Sudeste
90

A Tabela 25 apresenta as extensões dos desvios e o número de traçados que


desviaram de unidades de conservação, com a discriminação das suas categorias.

Tabela 25 - Desvios de unidades de conservação na região Sudeste

Unidades de conservação desviadas o


N de traçados Extensão (km)
Grupo Categoria
Estação Ecológica 1 1
Reserva Biológica 2 32
Proteção Integral Parque Nacional 1 12
Parque Estadual 3 12
Parque Municipal 1 1
Floresta Nacional 1 1
Uso Sustentável
Área de Proteção Ambiental - APA 1 1

O paralelismo com rodovias foi responsável por apenas 7% da extensão total dos
desvios. Esse valor pode ser considerado baixo se comparado com as regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, sendo esta variável responsável por 49%, 35% e 20% dos
desvios totais dessas regiões, respectivamente. A diferença nos valores está relacionada à
infraestrutura viária existente nas regiões. Como pode ser observado na Figura 42, a malha
viária cobre toda a região Sudeste, com predomínio de rodovias pavimentadas. Desta
forma, não são necessários fazer desvios extensos na região visando o apoio viário para a
construção e manutenção da linha planejada. Em relação às outras regiões, devido à falta
de infraestrutura viária, tais desvios são necessários.
Os desvios para travessias e os desvios de corpos d’água também foram
significativos na região Sudeste, totalizando 12% dos desvios totais (6% para travessia e
6% para desvios de corpos d’água). Cabe observar que na região Sudeste, os desvios estão
associados principalmente aos reservatórios de usinas hidrelétricas que barram os rios da
região e limitam a passagem da linha de transmissão (Figura 47).
91

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 47 – Desvio para travessias de reservatórios na região Sudeste

Os desvios de assentamentos rurais e terras quilombolas não foram muito


significativos. Os assentamentos rurais representaram aproximadamente 2% da extensão
total dos desvios enquanto as terras quilombolas, menos de 1%.
Não foram identificados desvios de terras indígenas nem de áreas alagáveis na
região Sudeste.
Os desvios identificados de outras variáveis, contabilizadas no campo Outros,
representaram cerca de 6% da extensão total dos desvios e estiveram presentes em 8% dos
traçados. Na região Sudeste, foram identificados desvios para áreas de mineração, área
militar, pivôs centrais de irrigação e áreas de relevo de chapada. A Tabela 26 apresenta os
valores da extensão desses desvios por variável e o número de traçados que apresentaram
os desvios.

Tabela 26 – Outras variáveis desviadas na região Sudeste


o
Outras áreas desviadas N de traçados Extensão (km)
Mineração 4 6
Área militar 2 5
Pivôs centrais de irrigação 1 3
Chapada (relevo) 1 1

Em relação às interferências dos traçados analisados na região Sudeste, foram


identificadas 31 interferências em APAs, presentes em 39 % dos traçados analisados e 12
interferências e assentamentos rurais, presentes em 21% dos traçados conforme mostra a
Tabela 27.
92

Tabela 27 – Interferências dos traçados em áreas restritivas na região Sudeste


o o o
Área atravessada pelo traçado N de traçados % N de traçados totais N de Interferências
Assentamento rural 8 21 12
APA 15 39 31
Outra 12 32 13

Destaca-se o elevado valor do número de interferências em Áreas de Proteção


Ambiental – APA. Na região Sudeste, as APAs possuem grandes extensões, muitas vezes
estão localizadas próximas às áreas urbanas (chegando a englobar algumas), e podem se
apresentar bastante antropizadas. Tais condições, com frequência, inviabilizam, ou mesmo
não justificam, o seu desvio, o que é confirmado pelo baixo valor dos desvios associados a
essas áreas (Tabela 25). A Figura 45 mostra uma situação de interferência com APA na
região Sudeste.
As interferências com áreas de assentamento rural foram baixas se comparado aos
números de interferências das regiões Norte e Nordeste (104 e 100 respectivamente).
Conforme apresentado na Figura 5, os assentamentos rurais na região Sudeste estão em
menor número e tamanho do que os assentamentos das regiões Norte e Nordeste,
justificando o menor número de interferências e os baixos valores dos desvios para essas
áreas.
Além de interferências em APAs e assentamentos rurais, foram identificadas
também interferências em um significativo número de unidades de conservação, muitas das
quais, de proteção integral, e uma área específica que apresentou uma grande concentração
de cavernas (Tabela 28) (Figura 48).

Tabela 28 – Interferências dos traçados em outras áreas restritivas na região Sudeste


o o
Outras interferências N de traçados N de áreas
Estação Ecológica (UC - PI) 1 1
Parque Nacional (UC - PI) 2 2
Parque Estadual (UC - PI) 2 2
Monumento Natural (UC - PI) 2 2
Reserva Particular do Patrimônio Natural (UC - US) 2 2
Área de Proteção Especial (UC - US) 1 1
Área de Proteção de Manancial (UC - US) 2 2
Cavernas (área com concentração de cavernas) 1 1
93

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Cecav, 2015; EPE, 2015
Figura 48 – Interferência com área com concentração de cavidades naturais subterrâneas (cavernas)
no Sudeste

Os cruzamentos com as unidades de conservação muitas vezes estão associados a


falta de alternativas de traçados para o desvio dessas áreas, principalmente quando o
traçado atravessa unidades de conservação de proteção integral. Em geral, tratam-se de
desvios de áreas urbanas consolidadas. Não havendo espaço para o desvio das duas
variáveis, o traçado acaba cruzando a unidade de conservação, conforme apresentado na
Figura 49.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; EPE, 2015
Figura 49 – Interferência com unidade de conservação de proteção integral na região Sudeste
94

5.2.5. Região Sul

Foram analisados 32 traçados de linhas de transmissão planejadas na região Sul,


perfazendo um total de 4.007 km de extensão. Dos traçados analisados, 28 foram obtidos a
partir de relatórios R3 e 4 de estudos para o licenciamento ambiental (EIA ou RAS).
A Figura 50 apresenta o mapa dos traçados planejados analisados e as áreas
restritivas para a passagem de linhas de transmissão, e a Figura 51, os traçados planejados
analisados e a malha viária existente, ambos na região Sul.

Fonte dos dados: Funai, 2015; MMA, 2015; Eletrobrás, 2011; Incra, 2015 MMA, 2007; IBGE, 2009
Figura 50 - Mapa dos traçados planejados e as áreas restritivas na região Sul
95

Fonte dos dados: IBGE, 2009


Figura 51 - Mapa da malha viária na região Sul

A Tabela 29 apresenta os dados sobre os desvios dos traçados de linhas de


transmissão planejadas na região Sul em valores absolutos e percentuais relativos à região.
As Figuras 52 e 53 representam os valores em gráficos.

Tabela 29 - No de traçados que apresentaram desvios e as extensões dos desvios por variável na região
Sul
o o
Variável determinante dos N de % N de traçados Extensão % Extensão dos desvios
desvios traçados totais (km) totais
Rodovias 4 13 19 7
Área Urbana 19 59 130 49
UC PI 5 16 20 7
UC US 2 6 13 5
Terra Indígena 2 6 3 1
Terra Quilombola 1 3 2 1
Área Alagável 4 13 13 5
Travessia corpos d’água 1 3 1 0
Desvio corpos d’água 9 28 33 12
Assentamento Rural 1 3 1 0
Outros 7 22 32 12
96

Extensão dos desvios (km) - Região Sul

150
120
90
60
30
0

*Desvio de aproximação

Figura 52 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas na região Sul

No de traçados que apresentaram desvios - Região Sul

20

15

10

*Desvio de aproximação

Figura 53 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios na região Sul

Pode-se observar a partir da Tabela 29 que as maiores causas de desvios na região


Sul foram as áreas urbanas e os desvio de corpos d’água.
Conforme mostra a Figura 50, muitas das linhas analisadas passam na porção leste
do estado do Rio Grande do Sul, encontrando limitações tanto em áreas urbanas como nas
lagoas presentes na região, o que elevaram consideravelmente os valores dessas duas
variáveis (Figura 54).
97

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Funai, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 54 - Desvio de área urbana, de área alagável e interferência em APA na região Sul

As áreas urbanas foram responsáveis por 130 km de desvios (49% da extensão total
dos desvios), que ocorreram em 59% dos traçados analisados, enquanto os desvios de
corpos d’água foram responsáveis por 33 km de desvios, dos quais 26 km foram desvios de
lagoas (Figura 55). Aproximadamente 28% dos traçados apresentaram desvios de corpos
d’água.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; Incra, 2015; EPE, 2015
Figura 55 – Desvio de lagoa na região Sul

O desvio de unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável


representaram juntas 12% da extensão dos desvios contabilizados. Cabe mencionar que
98

16% dos traçados apresentaram desvios de unidades de conservação de proteção integral.


A Tabela 30 mostra os desvios por categorias de unidades de conservação.

Tabela 30 - Desvios de unidades de conservação na região Sul

Unidades de conservação desviadas o


N de traçados Extensão (km)
Grupo Categoria
Reserva Biológica 1 13
Proteção Integral Parque Nacional 1 3
Parque Estadual 3 4
Uso Sustentável Área de Proteção Ambiental - APA 2 13

Por contar com uma boa infraestrutura viária, observou-se que os desvios que
visam o paralelismo com rodovias não foram muito significativos na região Sul. Assim,
apenas 13% dos traçados apresentaram desvios para paralelismo com rodovias, que
representaram 7% do total da extensão dos desvios.
Os desvios de áreas alagáveis, apesar de não serem muito extensos (5% da extensão
total dos desvios), ocorreram em uma frequência razoável, estando presentes em 13% dos
traçados planejados.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; MMA, 2015; EPE, 2015
Figura 56 – Desvio de área alagável na região Sul

Foram identificados também desvios de terra indígena, terra quilombola e


assentamento rural. Entretanto, os desvios dessas áreas não ultrapassaram 1% da extensão
total dos desvios (por variável), conforme observado na Tabela 29. Cabe destacar que essas
99

áreas ocorrem na região Sul em menor número e em pequenas extensões, tendo um padrão
de distribuição diferente das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Figuras 3, 4 e 5).
Na região Sul, o campo Outros apresentou 12 % da extensão total dos desvios,
sendo incorporadas 5 variáveis diferentes, discriminadas na Tabela 31.

Tabela 31 – Outras variáveis desviadas na região Sul


o
Outras áreas desviadas N de traçados Extensão (km)
Paisagem 1 23
Mineração 3 4
Polo petroquímico 1 2
Povoados 2 2
Reflorestamento 1 1

Cabe um comentário a respeito da variável paisagem neste campo. Por ser de difícil
identificação e devido a subjetividade para inclusão da extensão de um desvio para essa
variável, é possível que muitos dos desvios associados a paisagem tenham sido
contabilizados no campo Desvios não identificados, apresentado no item 5.1. No entanto, a
extensão do desvio atribuído a essa variável nesse campo, trata-se de uma área de valor
paisagístico reconhecido nacionalmente, localizada entre os estados do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina. A Figura 57 mostra o traçado que apresentou extensão no campo
Paisagem.

Fonte dos dados: Google Earth, 2015; EPE, 2015


Figura 57 – Desvio de área de grande valor paisagístico na região Sul
100

A Figura 57 mostra que na subida da serra, optou-se em seguir em paralelo a uma


linha de transmissão existente e evitar novas interferências com a paisagem.
Sobre o campo reflorestamento, cabe mencionar que os desvios dessas áreas
ocorrem com certa frequência na região Sul. Contudo, assim como ocorre com os
aeroportos, os desvios dessas áreas raramente possuem extensões superiores a 1 km e,
portanto, muitas não foram contabilizadas.
Sobre as interferências dos traçados analisados em áreas que apresentam restrições,
verifica-se a partir da Tabela 32 que foram identificados 22 interferências em
assentamentos rurais, que ocorreram em 16% dos traçados, e 6 interferências em APAs,
que também ocorreram em 16% dos traçados. Não foram identificadas interferências em
outras áreas com restrições.

Tabela 32 – Interferência dos traçados em áreas restritivas na região Sul


o o o
Área atravessada pelo traçado N de traçados % N de traçados totais N de Interferências
Assentamento rural 5 16 22
APA 5 16 6
Outra 0 0 0

5.3. ANÁLISE DOS DESVIOS E INTERFERÊNCIAS DOS TRAÇADOS DE


LINHAS DE TRANSMISSÃO PLANEJADAS EM ÁREAS RESTRITIVAS
NO BRASIL – ANÁLISE INTEGRADA DAS REGIÕES BRASILEIRAS

Para analisar os traçados planejados de linhas de transmissão para todo o Brasil,


foram considerados os valores absolutos das extensões dos desvios e do número de
traçados que apresentaram desvios, sendo este a soma dos valores apresentados por região.
Conforme já apresentado no item 5.1, o presente estudo identificou 1552 km em
desvios ao analisar 171 traçados de linhas de transmissão planejadas no país.
A Tabela 33 apresenta os valores das extensões dos desvios por variável e por
região brasileira, e a Tabela 34, o número de traçados que apresentaram desvios. Na
sequencia, são apresentados os gráficos referentes às tabelas distinguindo as regiões
(Figuras 58 e 59) e dos valores totais (Figuras 60 e 61).
101

Tabela 33 – Extensão dos desvios por região brasileira

Extensão dos desvios (km)


Variável determinante dos desvios
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total
Rodovias 261 127 29 17 19 453
Área Urbana 17 36 23 126 130 332
UC PI 23 36 7 58 20 144
UC US 10 53 16 2 13 94
Terra Indígena 82 4 18 0 3 107
Terra Quilombola 0 7 0 1 2 10
Área Alagável 9 1 0 0 13 23
Travessia corpos d’água 65 13 4 15 1 98
Desvio corpos d’água 24 21 20 16 33 114
Assentamento Rural 15 10 5 5 1 36
Outros 22 51 21 15 32 141
Total 528 359 143 255 267 1552

Tabela 34 – No de traçados que apresentaram desvios por região brasileira


o
N de traçados que apresentaram desvios
Variável determinante dos desvios
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total
Rodovias 21 18 5 6 4 54
Área Urbana 6 17 5 23 19 70
UC PI 4 2 2 8 5 21
UC US 3 6 3 2 2 16
Terra Indígena 7 1 3 0 2 13
Terra Quilombola 0 4 0 1 1 6
Área Alagável 2 1 0 0 4 7
Travessia corpos d’água 8 3 1 3 1 16
Desvio corpos d’água 6 4 3 3 9 25
Assentamento Rural 6 3 2 3 1 15
Outros 4 11 4 8 7 34
o
N de traçados analisados na região 32 48 21 38 32 171
102

Extensão dos desvios (km) por variável


Regiões Brasileiras
300

250

200

Norte
150
Nordeste
Centro-Oeste
100 Sudeste
Sul

50

*Desvio de aproximação

Figura 58 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas nas cinco regiões brasileiras
103

No de traçados que apresentaram desvios (por variável)


Regiões brasileiras
25

20

15

Norte
10 Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
5
Sul

*Desvio de aproximação

Figura 59 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios nas cinco regiões brasileiras
104

Extensões dos Desvios (km) - Brasil

500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0

*Desvio de aproximação

Figura 60 - Extensão dos desvios dos traçados de linhas de transmissão planejadas no Brasil

No de traçados que apresentaram desvios - Brasil

70
60
50
40
30
20
10
0

*Desvio de aproximação

Figura 61 - No de traçados de linhas de transmissão planejadas que apresentaram desvios no Brasil

Os dados mostram que o maior valor de extensão dos desvios dos traçados
analisados foi devido ao paralelismo com rodovias existentes. Esses desvios ocorreram,
sobretudo, nas regiões Norte e Nordeste (Figura 60) e estão associados à deficiente
infraestrutura viária dessas regiões. Vale mencionar que os desvios para o paralelismo com
rodovias na região Norte apresentaram valores muito superiores aos da região Nordeste
(261 e 127 km respectivamente).
105

Os desvios de áreas urbanas foram os que ocorreram em maior frequência dentre as


variáveis analisadas e obtiveram o segundo maior valor em extensão de desvios. O Sul e o
Sudeste foram as regiões que apresentaram os maiores valores em extensão e onde os
desvios foram mais frequentes (Tabela 34; Figuras 58 e 59).
Cabe observar que os desvios para paralelismo com rodovias obtiveram o maior
valor de extensão e segunda maior frequência, enquanto os desvios de áreas urbanas
tiveram maior frequência e segundo maior valor de extensão. A situação apresentada
demonstra que, em geral, os desvios realizados para contornar áreas urbanas são menores
em extensão do que os desvios que visam o apoio viário.
As unidades de conservação apresentaram o terceiro maior valor de extensão dos
desvios, como mostra a Tabela 33. Somando-se os dois grupos, elas foram responsáveis
por 238 km de extensão em desvios. Nota-se que os desvios de unidades de conservação de
proteção integral foram maiores em extensão e em frequência do que os desvios de
unidades de conservação de uso sustentável (Tabela 35).

Tabela 35 – Desvios de unidades de conservação no Brasil

Unidades de conservação desviadas o


N de traçados Extensão (km)
Grupo Categoria
Parque 13 84
Reserva Biológica 3 45
Proteção Integral Estação Ecológica 3 8
Refúgio da Vida Silvestre 2 7
Total 21 144
Área de Proteção Ambiental - APA 11 82
Reserva Florestal* 1 8
Uso Sustentável Floresta Nacional 3 3
Reserva dos Recursos Naturais* 1 1
Total 16 94
*Não categorizada pelo SNUC

A categoria de unidades de conservação que apresentou os maiores valores dos


desvios foram os parques, incluídas as três jurisdições: federal, estadual e municipal. Em
segundo lugar foram as APAs, mesmo sendo esta a categoria menos restritiva. Cabe
mencionar que os parques e as APAs também são as categorias de unidades de
conservação de maior ocorrência em território nacional, o que reflete nos números e
extensões de desvios dessas áreas. A Figura 63 apresenta os gráficos percentuais referentes
às extensões dos desvios das unidades de conservação.
106

*UCs não categorizadas pelo SNUC


Figura 62 – Gráficos percentuais das extensões dos desvios das unidades de conservação no Brasil

Desvios associados a corpos d’água tiveram a quarta maior contribuição à extensão


total. A Tabela 36 apresenta os valores das extensões dos desvios diferenciando os que
ocorreram para a travessia dos corpos d’água dos que ocorreram para o seu contorno.

Tabela 36 – Desvios de corpos d’água no Brasil

Extensão dos desvios (km)


Variável determinante
Corpo d'água Centro-
dos desvios Norte Nordeste Sudeste Sul Total
Oeste
Travessia de corpo Reservatórios 0 1 4 15 1 21
98
d'água Rios 65 12 0 0 0 77
Reservatórios 8 18 7 9 0 42
Desvio de Corpo d'água Rios 13 3 13 7 7 43 114
Lagoas 3 0 0 0 26 29
Total por região 89 34 24 31 34 212

Os valores apresentados demonstram que as extensões dos desvios para evitar os


corpos d’água foram superiores às extensões dos desvios para as suas travessias, com
valores de 114 km e 98 km respectivamente.
Importa observar que os tipos de corpos d’água desviados variam de acordo com a
região. Na região Norte, destacam-se os rios, com extensões de desvios mais altos para
107

travessia dos rios do que para os seus desvios. Cabe mencionar que na região Norte
encontram-se as maiores travessias de linhas de transmissão em rios do Brasil, se
destacando a travessia do rio Amazonas, cujo vão entre as torres chega a medir 2.000
metros e onde foi necessária a construção de torres de 295 metros de altura.
Na região Sudeste os desvios ocorreram predominantemente para travessia de
reservatórios. A região apresenta rios que correm no sentido leste-oeste, encontrando-se
sequencialmente barrados, limitando a passagem dos traçados das linhas de transmissão
que atravessam a região no sentido norte-sul aos trechos mais estreitos localizados entre
remansos dos reservatórios e o consequente barramento (Figura 47).
Em relação à região Sul, as lagoas foram as maiores responsáveis pelos desvios de
corpos d’água. Tendo em vista que muitas das linhas planejadas localizam-se a leste do
estado do Rio Grande do Sul, as frequentes lagoas que ocorrem nessa região geraram
significativos desvios nos traçados (Figura 55). A Figura 63 apresenta os gráficos
percentuais referentes às extensões dos desvios dos corpos d’água.

Figura 63 - Gráficos percentuais das extensões dos desvios dos corpos d’água no Brasil
108

A terra indígena foi a variável que teve o quinto maior valor de extensão de desvio
dos traçados de linhas de transmissão no Brasil. A partir do Figura 58 podemos observar
que elas causaram desvios de grandes extensões apenas nas regiões Norte e Centro-Oeste,
enquanto nas outras regiões, os desvios são pouco significativos. Na região Norte, as terras
indígenas foram responsáveis pelo acréscimo de 82 km nos traçados analisados, ficando
atrás somente dos desvios para o paralelismo de rodovias e a da extensão total de desvios
devido a corpos d’água. Vale mencionar nessas duas regiões ocorrem as maiores extensões
de terras indígenas no Brasil.
Os desvios das terras quilombolas foram pouco significativos para todas as regiões,
sendo o Nordeste, a região que apresentou o maior número de desvios (4) e a maior
extensão total para essa variável (7 km). Cabe lembrar que a Portaria nº 60 / 2015
considera terras quilombolas as terras reconhecidas pelo Relatório Técnico de Identificação
e Delimitação – RTID, e a base de dados utilizada para a análise dos traçados contempla
apenas essas áreas. Entretanto, conforme mencionado no item 3.3.1.2, existe um grande
número de comunidades remanescentes de quilombos certificadas que ainda não possuem
suas áreas delimitadas pelo RTID. Por tratar-se de comunidades tradicionais, essas
comunidades costumam ser desviadas pelos traçados das linhas de transmissão mesmo não
estando enquadradas na definição de terras quilombolas pela Portaria no60 /2015. Contudo,
não existe uma base nacional sistematizada da localização dessas comunidades,
normalmente identificadas apenas nas visitas de campo realizadas para o licenciamento
ambiental. Assim, não foi possível identificar os desvios associados às comunidades
remanescentes de quilombos que não possuem suas terras reconhecidas pelos RTIDs,
devendo, na prática, os desvios associados à questão quilombola serem superiores aos
desvios identificados no presente estudo.
Os assentamentos rurais foram responsáveis por 36 km de desvios identificados em
15 traçados planejados, ocorrendo com mais frequência na Amazônia e no Nordeste,
regiões onde os assentamentos apresentam-se em maior número e área.
Em relação aos desvios associados às áreas alagáveis, a região Sul foi a que
apresentou maior extensão de desvios associados a essa variável, que representou 5% da
extensão total dos desvios da região, seguido da região Norte. Na região Sul, os desvios
estão associados aos banhados característicos do estado do Rio Grande do Sul, enquanto na
região norte, essas áreas localizam-se às margens dos grandes rios amazônicos.
109

As outras áreas desviadas, computadas no campo Outros da coluna Variáveis


Determinantes dos Desvios, foram responsáveis por 141 km de desvios e ocorreram em 34
traçados analisados. A maioria desses desvios só pôde ser identificada a partir de imagens
de satélites (Tabela 37).

Tabela 37 – Outras áreas desviadas por região brasileira

Extensão dos desvios (km)


Outras áreas desviadas
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total
Aeroporto 2 1 3
Área de exploração de petróleo 2 2
Área degradada erosão 27 27
Área militar 10 4 5 19
Cavernas 4 3 7
Chapada (relevo) 12 1 13
Mineração 15 6 4 25
Paisagem 23 23
Parque eólico 3 3
Pivô central de irrigação 2 2 3 7
Polo petroquímico 2 2
Povoados 2 2 4
Reflorestamento 2 1 3

Algumas dessas variáveis ocorreram em apenas um traçado, mas foram


responsáveis por desvios de grandes extensões, como o desvio de uma área de grande valor
paisagístico no sul do país, que provocou um acréscimo de 23 km no traçado planejado, e o
desvio de uma extensa área degradada em processo de desertificação, a qual, segundo o
EIA da linha planejada, o cruzamento poderia colocar em risco a segurança da linha de
transmissão. O desvio dessa área acrescentou 27 km no traçado de uma linha planejada no
Nordeste.
Cabe destacar que, para algumas dessas variáveis, os desvios são bastante
frequentes nos traçados, como os desvios de aeroportos, cavernas, pivôs centrais de
irrigação, reflorestamento e povoados. Contudo, em geral os desvios são inferiores a 1 km
e por isso muitos deles não foram contabilizados devido à premissa do estudo de
considerar os desvios a partir de 1 km de extensão.
Os desvios de áreas de mineração e áreas militares ocorreram em três das cinco
regiões e apresentaram extensões significativas (25 e 19 km respectivamente).
110

Importa lembrar que, no momento das análises dos traçados muitos desvios não
tiveram suas causas identificadas a partir da base de dados utilizada no estudo e das
imagens de satélite. O número de traçados que apresentaram desvios não identificados
encontra-se na Tabela 7.
Em relação às interferências em áreas com restrições, destacaram-se, em números,
as áreas de assentamento rural, para as quais foram identificadas 254 interferências, e as
Áreas de Proteção Ambiental – APAs, com 59 interferências. A Tabela 38 e a Figura 64
apresentam o número de interferências por região do Brasil.

Tabela 38 - Interferência dos traçados de linhas de transmissão planejadas com áreas restritivas

Número de interferências
Área de restrição
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total
Assentamento 104 100 16 12 22 254
APA 7 5 10 31 6 59
Outra 4 2 4 13 0 23
Total 115 107 30 56 28 336

No de interferências em áreas com restrição

120

100
Norte
80
Nordeste
60 Centro-Oeste
Sudeste
40
Sul
20

0
Assentamento rural APA Outra

Figura 64 – No de interferência dos traçados em áreas com restrição no Brasil

Observa-se na Tabela 38 que foi identificado um grande número de interferências


em assentamentos rurais nas regiões Norte (104 interferências) e Nordeste (100
interferências), com valores aproximadamente 5 vezes superiores às outras regiões
111

brasileiras. Essas duas regiões apresentam um elevado número de assentamentos rurais


que, na maioria das vezes, estão dispostos de forma agrupada ocupando extensas áreas e
inviabilizando o desvio do traçado. Além disso, é comum os assentamentos rurais
localizarem-se às margens das rodovias existentes, locais também buscados para a
implantação de linhas de transmissão, principalmente em áreas que possuem pouca
infraestrutura viária, o que ocorre nessas duas regiões.
As interferências em APAs se destacaram na região Sudeste, onde ocorreram 31
das 59 interferências totais, enquanto a região Nordeste apresentou o menor número de
interferências nessas áreas, sendo identificadas apenas 5 interferências. O oposto ocorre em
relação aos desvios das APAs. Na região Sudeste, o desvio de APAs foi pouco
significativo, sendo identificado apenas 1 desvio de 1 km de extensão, enquanto no
Nordeste, APA foi a categoria de unidade de conservação que apresentou a maior extensão
em desvios, com 52 km para o desvio de 5 APAs. Tal situação demonstra que, na prática,
o nível de restrição das variáveis analisadas para o desvio dos traçados pode variar de
acordo com a região. Neste caso específico, as APAs apresentam características distintas
nas duas regiões. Enquanto na região Nordeste as APAs abrangem ecossistemas bem
conservados, no Sudeste, as APAs frequentemente se encontram antropizadas, englobando
inclusive extensas áreas urbanas, e são muitas vezes as únicas áreas viáveis para a
passagem de linhas de transmissão em meio a áreas mais restritivas, como áreas urbanas e
unidades de conservação de proteção integral (Figura 45).
Além de assentamentos rurais e APAs, o presente estudo identificou o cruzamento
dos traçados com outras áreas que apresentam restrições, computadas no campo Outra na
Tabela 38. A maioria dessas áreas são unidades de conservação de diferentes categorias.
Contudo, foi identificado também interferência em terra indígena, terra quilombola e uma
área com grande concentração de cavernas (Tabela 39).

Tabela 39 – Outras interferências com áreas restritivas por região brasileira


o
N de áreas
Outras Interferências
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total
Terra Indígena 1 1
Terra Quilombola 1 1
Cavernas 1 1

Unidade de Estação Ecológica 1 1


conservação Refúgio da Vida Silvestre 1 1
de Proteção Parque (Nacional e Estadual) 4 4
112

Integral Monumento Natural 2 2


Reserva Ecológica Estadual * 1 1
Reserva Extrativista 1 1
Floresta Estadual 1 1
Reserva Particular do
Unidade de 2 2
Patrimônio Natural
conservação
Reserva Florestal* 1 1
de Uso
Sustentável Área de Proteção Especial* 1 1
Área de Proteção de
2 2 4
Manancial*
Estrada Parque* 1 1
*Não categorizada pelo SNUC

Pode-se observar a partir da Tabela 39 que as interferências em unidades de


conservação ocorreram em maior número, com um total de 20 interferências, das quais 9 se
deram em unidades de conservação de proteção integral e 11 em unidades de conservação
de uso sustentável (excluídas as APAs). A maioria das interferências em unidades de
conservação ocorreu na região Sudeste (12 interferências), onde muitas das unidades de
conservação foram atravessadas em decorrência da impossibilidade de seus desvios devido
à presença de áreas urbanas, muito frequentes na região (Figura 49).
A interferência em terra indígena ocorreu na região Norte em razão do paralelismo
com uma rodovia que atravessa a área. Uma vez que o seu entorno não apresenta vias de
acesso, o desvio dessa terra indígena provocaria grandes impactos em vegetação nativa e
em áreas alagáveis, além de interferências com unidades de conservação (Figura 24).
Em relação às outras interferências, foi identificada uma interferência com terra
quilombola na região Nordeste e uma interferência em uma área que apresenta grande
concentração de cavernas na região Sudeste.
Não foram identificadas interferências em outras áreas com restrições além dos
assentamentos rurais e APAs na região Sul.

5.4. INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS DETERMINANTES DOS DESVIOS NAS


REGIÕES BRASILEIRAS E NO BRASIL

A partir dos resultados apresentados no item 5.3, pode-se observar que as variáveis
determinantes dos desvios possuem importância diferenciada de acordo com as regiões
onde estão localizadas.
113

Para o levantamento da influência dessas variáveis nas cinco regiões brasileiras e


no Brasil (para o qual foram considerados os valores totais dos resultados), foram
calculados os percentuais de contribuição de cada variável para a extensão total dos
traçados analisados em cada região. Os cálculos foram baseados nos valores do campo
Extensão dos desvios da Tabela 33, e no campo Extensão dos traçados da Tabela 5.
As variáveis foram agrupadas para facilitar a visualização dos resultados. Os dois
grupos de unidades de conservação foram agrupados em um único campo, os valores das
extensões das travessias e dos desvios de corpos d’água foram agrupados no campo
Corpos d’água, e as variáveis Terra Quilombola, Área Alagável, Assentamento Rural
foram incluídas no campo Outras da tabela.
Ressalta-se que a importância das variáveis nas diferentes regiões brasileiras foi
detalhada no item 5.3. A presente abordagem visa elencar e apresentar de forma sucinta e
simplificada a influência dessas variáveis nas regiões a partir dos valores percentuais das
extensões dos desvios dos traçados considerando a extensão total dos traçados analisados
por região. Desta forma, a Tabela 40 e a Figura 65 apresentam a contribuição das variáveis
na extensão total dos traçados analisados de cada região e do Brasil como um todo.

Tabela 40 – Percentagem das extensões dos desvios sobre a extensão total de traçados analisados por
região e para o Brasil
Contribuição da variável na extensão total dos traçados da região ou do
Variável determinante dos país (%)
desvios
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil
Rodovias 3,30 1,61 0,75 0,28 0,47 1,52
Área Urbana 0,21 0,46 0,60 2,06 3,24 1,12
Unidades de Conservação 0,42 1,13 0,60 0,98 0,82 0,77
Terra Indígena 1,04 0,05 0,47 0,00 0,07 0,36
Corpos d’água 1,12 0,43 0,62 0,51 0,85 0,71
Outras 0,58 0,88 0,68 0,34 1,20 0,71
114

Porcentagem das extensões dos desvios dos traçados por região e para o
Brasil

Rodovias Área Urbana Unidades de Conservação


Terra Indígena Corpos dágua Outras

3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00

Figura 65 – Gráfico da percentagem das extensões dos desvios sobre a extensão total de traçados
analisados por região e para o Brasil

A partir dos valores apresentados na Tabela 40, as influências das variáveis na


região foram categorizadas como: Muito Baixa, Baixa, Média, Alta e Muito Alta, de acordo
com intervalos dos valores percentuais apresentados na Tabela 41.

Tabela 41 – Atribuição de categorias de influência da variável a partir dos valores de contribuição da


variável na extensão total dos traçados
Valores percentuais da contribuição da
Influência da Variável
variável na extensão total dos traçados
0 - 0,33 Muito Baixa
0,33 - 0,66 Baixa
0,66 - 1 Média
1 - 1,5 Alta
> 1,5 Muito Alta

A Tabela 42 apresenta os resultados da influência das variáveis determinantes dos


desvios para cada região brasileira e para o Brasil.
115

Tabela 42 – Quadro da influência das variáveis para os desvios dos traçados analisados

Variável determinante dos desvios


Região
Brasileira Área Unidades de Terra Corpos
Rodovias Outros
Urbana Conservação Indígena d’água

Norte Muito Alta Muito Baixa Baixa Alta Alta Baixa

Nordeste Muito Alta Baixa Alta Muito Baixa Baixa Média

Centro-Oeste Média Baixa Média Média Baixa Média

Sudeste Muito Baixa Muito Alta Média Muito Baixa Baixa Baixa

Sul Baixa Muito Alta Média Muito Baixa Média Alta

Brasil Muito Alta Alta Média Baixa Média Média

A partir da Figura 65, da Tabela 40 e da Tabela 42, podemos observar que as


rodovias foram muito importantes na para os traçados localizados nas regiões Norte e
Nordeste e pouco relevante nas regiões Sudeste e Sul. O oposto ocorre com as áreas
urbanas, que foram responsáveis por grandes desvios nas regiões Sudeste e Sul, no entanto,
tiveram baixa contribuição para a extensão total dos desvios dos traçados nas regiões Norte
e Nordeste.
As unidades de conservação foram responsáveis pela segunda maior contribuição
na extensão dos desvios nas regiões Nordeste e Sudeste, sendo uma importante variável
para essas duas regiões.
As terras indígenas tiveram valores representativos nas extensões totais dos desvios
apenas nas regiões Norte e Centro-Oeste, apresentando valores percentuais muito baixos
para as outras regiões.
Os desvios de corpos d’água obtiveram valores percentuais significativos em todas
as regiões. Cabe apontar que, na região Norte, esses desvios tiveram tanta influência nos
traçados quanto as terras indígenas.
As regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul tiveram valores elevados para o campo
Outras, que agrupa diversas variáveis. Essas três regiões apresentaram casos particulares
de grandes desvios causados por um único traçado em situação específica. No Nordeste o
desvio ocorreu para o contorno de uma área degradada, no Centro-Oeste para o contorno
de áreas com relevo de chapada, e no Sul, o desvio ocorreu para minimizar impactos numa
área de grande valor paisagístico.
116

Vale observar que na região Centro-Oeste, não houve destaque para nenhuma
variável específica e todas as variáveis ficaram em apenas duas categorias de influência:
Baixa e Média.
Os percentuais para o Brasil foram obtidos a partir da soma da extensão dos desvios
de uma variável das cinco regiões brasileiras e pode-se observar que o desvio para o
paralelismo com rodovias foi o que mais contribuiu para a extensão total dos desvios,
seguida das áreas urbanas e das unidades de conservação.

6. CONCLUSÃO

O presente estudo apresenta uma análise dos desvios e interferências dos traçados
de linhas de transmissão planejadas em áreas de restrição ambiental no Brasil,
considerando as diferenças entre as 5 (cinco) regiões do país.
Os resultados mostram que as principais causas dos desvios dos traçados de linhas
de transmissão planejadas no Brasil são: paralelismo com rodovias, áreas urbanas,
unidades de conservação, corpos d’água e terras indígenas. Entretanto, a importância de
cada variável na definição do traçado difere significativamente entre as regiões.
Essas diferenças estão associadas às características de cada uma delas. Na região
Norte, por exemplo, destacaram-se os desvios para proximidade com rodovias, os desvios
de terras indígenas e os desvios de corpos d’água. Essa região cobre grande parte da
Amazônia Legal brasileira que, além de possuir uma deficiente malha viária, apresenta
grande parte da sua área coberta por florestas nativas. Além da dificuldade para transpor a
vegetação, o impacto ambiental da construção de uma linha de transmissão nessas áreas é
muito alto e tende a ser intensificado pela falta de vias de acesso, o que justifica os grandes
desvios visando o apoio viário. Esta região também é caracterizada pelos extensos rios
amazônicos e grandes áreas de terras indígenas, o que refletiu nos desvios apresentados
pelos traçados planejados nessa região.
O oposto ocorre na região Sudeste. Sendo a região mais urbanizada do Brasil e
abrangendo as duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, muitos e
extensos desvios foram atribuídos às áreas urbanas. Em contrapartida, os desvios visando
o paralelismo com rodovias e os desvios de terras indígenas, tão importantes na região
Norte, foram os menos significativos na região Sudeste.
Além dos desvios, o presente estudo analisou as interferências dos traçados em
áreas que apresentam restrições ambientais. Os resultados mostraram que os assentamentos
117

rurais e as Áreas de Proteção Ambiental – APAs (unidades de conservação de uso


sustentável) foram as áreas que apresentaram maior número de interferências e, assim
como os desvios, esses números diferem entre as regiões brasileiras. As regiões Norte e
Nordeste apresentaram maior número de interferências em assentamentos rurais, enquanto
a região Sudeste apresentou maior número de interferências em APAs.
Deve-se observar que, devido à escala do trabalho (foi realizado o levantamento
dos desvios em 29.759 km de traçado nas cinco regiões brasileiras), da metodologia
utilizada (que considerou apenas os desvios acima de 1 km por traçado) e da complexidade
da análise (muitas vezes as variáveis encontram-se agrupadas havendo necessidade do
desmembramento dos valores das extensões dos desvios para a atribuição nas diferentes
variáveis), o presente estudo não tem a finalidade de quantificar com precisão os valores
das extensões dos desvios, e sim, identificar as principais variáveis responsáveis pelos
desvios de linhas de transmissão planejadas, considerando as diferenças entre as regiões
brasileiras, trazendo somente uma aproximação da grandeza desses desvios.
Desta forma, ao final das discussões dos resultados, é apresentado um quadro que
elenca de forma simplificada a influência das variáveis de restrição ambiental na extensão
dos desvios dos traçados analisados, compilando os principais resultados encontrados ao
longo do trabalho. Apesar da tabela ser representativa apenas para os dados do estudo, pois
está sujeita à distribuição dos traçados analisados (retrato da expansão do sistema no
momento), ela dá uma indicação bem coerente da influência das variáveis nos traçados de
forma geral, uma vez que reflete a situação socioambiental das regiões brasileiras.
Como a definição de um bom traçado de linha de transmissão pode reduzir os
impactos ambientais e facilitar o licenciamento e a implantação de novas linhas de
transmissão, as informações apresentadas no presente estudo podem contribuir no
planejamento de linhas de transmissão, sinalizando as especificidades ambientais de cada
região do país de modo a contribuir para a otimização dos traçados. Com isso poderão ser
evitados atrasos no licenciamento com traçados menos impactantes, assim como
minimizados os riscos de sobrecustos não previstos, sobretudo os associados ao aumento
das extensões devido a desvios não identificados. Além disso, esse tipo de levantamento
em relação às características regionais de variáveis ambientais que possam impactar na
obtenção de licenças de instalação e de operação pode auxiliar, não só no planejamento de
linhas de transmissão, mas também em qualquer outro tipo de empreendimento onde o
desenvolvimento tecnológico e a preservação do meio ambiente precisem progredir juntos.
118

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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_______. Decreto nº 6.640, de 07 de novembro de 2008. Dá nova redação aos arts. 1º, 2º,
3º, 4º e 5º e acrescenta os arts. 5-A e 5-B ao Decreto nº 99.556, de 1º de outubro de
1990, que dispõe sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no
território nacional.

_______. Decreto-lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967. Dá nova redação ao Decreto-lei


nº 1.985, de 29 de janeiro de 1940. (Código de Minas).

_______. Instrução Normativa FCP 01, de 25 de março de 2015. Estabelece


procedimentos administrativos a serem observa- dos pela Fundação Nacional do
Índio - Funai nos processos de licenciamento ambiental dos quais participe.

_______. Instrução Normativa Funai 02, de 27 de março de 2015. Estabelece


procedimentos administrativos a serem observados pela Fundação Cultural Palmares
nos processos de licenciamento ambiental dos quais participe.

_______. Instrução Normativa Incra 15 de 30 de maio de 2004. Dispõe sobre o processo de


implantação e desenvolvimento de projetos de assentamentos de reforma agrária.

_______. Instrução Normativa Incra 57 de 20 de outubro de 2009. Regulamenta o


procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação,
desintrusão, titulação e registro das terras ocupadas por remanescentes das
comunidades dos quilombos.
120

_______. Instrução Normativa MMA 02, de 20 de agosto de 2009. Define a metodologia


para classificação do grau de relevância de cavidades naturais subterrâneas.

_______. Portaria da Fundação Cultural Palmares 98/07. Cadastro Geral de Remanescentes


das Comunidades Quilombolas.

_______. Portaria Interministerial 419 de 26 de outubro de 2011. Regulamenta a atuação


dos órgãos e entidades da Administração Pública Federal envolvidos no
Licenciamento Ambiental.

_______. Portaria Interministerial 60 de 24 de março de 2015. Estabelece procedimentos


administrativos que disciplinam a atuação dos órgãos e entidades da administração
pública federal em processos de licenciamento ambiental de competência do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA.

_______. Portaria MD 957 / GC3 de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as restrições aos
objetos projetados no espaço aéreo que possam afetar adversamente a segurança ou a
regularidade das operações aéreas.

_______. Portaria MMA 55 de 17 de fevereiro de 2014. Estabelece procedimentos entre o


Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA relacionados à
Resolução no 428, de 17 de dezembro de 2010.

_______. Portaria MMA 421 de 26 de outubro de 2011. Dispõe sobre o licenciamento e a


regularização ambiental federal de sistemas de transmissão de energia elétrica.

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regularização ambiental federal de sistemas de transmissão de energia elétrica.

_______. Resolução CONAMA 01, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios


básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental.
121

_______. Resolução CONAMA 347, de 10 de setembro de 2004. Dispõe sobre a proteção


do patrimônio espeleológico.

_______. Resolução CONAMA 428, de 17 de dezembro de 2010. Dispõe, no âmbito do


licenciamento ambiental sobre a autorização do órgão responsável pela
administração da Unidade de Conservação (UC).

_______. Lei 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio.

_______. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 Institui o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação (SNUC).

_______. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da


Constituição Federal e estabelece diretrizes gerais da política urbana.

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126

8. APÊNDICE 1

Rodovias Tabela utilizada para o levantamento dos desvios e interferências

Legenda

ID – Número de identificação
OBS

Estudo – Relatório R3 ou EIA;RAS


Outros

UC PI – Unidade de conservação de
Assenta
mento

Proteção Integral
Desvio

UC US – Unidade de conservação de
Rio

Uso Sustentável
Reservatório
Desvio

TI – Terra Indígena

TQ – Terra Quilombola
Travesia
Rio

Alagável – Terreno Alagável


Reservatório
Travessia
Desvios

Alagável
Urbana
Área
TQ
TI
(Categ.)
UC US

OBS
(Exten.)
UC US

identificado
Desvio não
OBS
(Categ.)
UC PI

significativo
Sem desvio
(Exten.)
UC PI

Outra
Estudo Extensão

APA
Interferência
ID

Assentamento
ID

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