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AÇÃO DO ARTE/EDUCADOR COMO MEDIADOR CULTURAL EM

UMA ESCOLA PÚBLICA DE JUAZEIRO DO NORTE – CE.


Ana Claudia de Sousa Farias1
Universidade Regional do Cariri/URCA
RESUMO

O papel do arte/educador como mediador cultural no ensino das artes visuais em oficinas de artes em
uma escola de ensino fundamental de Juazeiro do Norte/CE pelo Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência – PIBID/Artes Visuais em parceria com a Universidade Regional do Cariri –
URCA, para formação de apreciadores em artes visuais e valorização do arte/educador. A abordagem
do estudo foi inserida no conceito triangular em arte da educadora Ana Mae Barbosa
(Contextualização histórica, Fazer artístico, Apreciação artística), fundamenta o subprojeto
PIBID/Artes Visuais, e na dissertação de Mestrado da Profa. Ms. Ana Claudia Lopes de Assunção. No
decorrer das atividades junto aos jovens nas oficinas foi possível perceber a carência do profissional
arte/educador como mediador cultural o que impede o fazer e o apreciar arte na educação, destacando
o professor como mediador por excelência na coordenação dos fundamentos em artes, promovendo
conhecimento e aprendendo de forma concomitante com as experiências no contato com os indivíduos
mediados.

Palavras-Chave: Mediação cultural. Arte/educador. Abordagem triangular.

ABSTRACT

The Role of art / cultural educator as mediator in the teaching of visual arts in arts workshops in a
primary school in Juazeiro do Norte / CE by the Scholarship Program Initiation in Teaching - PIBID /
Visual Arts in partnership with the University Regional cariri - URCA, training for connoisseurs of the
visual arts and art appreciation / educator. The study approach was inserted into the triangular concept
art educator Ana Mae Barbosa (Historical context, Making art, artistic Consideration), underlies the
subproject PIBID / Visual Arts, and the Master's thesis of Professor. Ms. Ana Claudia Lopes de
Assunção. During the activities with young people in the workshops was possible to notice the lack of
professional art / cultural educator as mediator prevents the make and appreciate art in education,
highlighting the teacher as mediator of the coordination of the fundamentals in the arts, promoting
knowledge and learning concurrently with the experiences in contact with individuals mediated.

Keywords: Cultural mediation. Art educator. Triangular approach.

PROPOSIÇÕES INTRODUTÓRIAS

Inicialmente, segundo os conceitos adquiridos durante o aprendizado no curso de


Licenciatura Plena em Artes Visuais da Universidade Regional do Cariri – URCA, foi
possível apreender que a mediação cultural é o entendimento do mundo em fluxo pela atuação
de um sujeito individual, institucional ou governamental que promove a interação cultural,
com eventos ou programas culturais proporcionando algo educativo. Essa mediação depende

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Acadêmica do curso de Artes Visuais – IV semestre – URCA. anaclaudiasaldaterra@hotmail.com
2

da gestão dos conhecimentos e técnicas na administração dos processos culturais, como a


idealização e organização de uma exposição, com participação da sociedade promovendo o
encontro entre a cultura e a esfera pública, como estratégia para aprimorar o caráter e o
conhecimento entre a arte/cultura.
Quando de uma exposição inúmeros mecanismos podem ser utilizados para a
abordagem cultural, como a confecção de um guia ou catálogo, facilitando a compreensão das
ideias e a formulação de interpretações. Em um estudo realizado por Assunção (2012), sobre a
interação da mediação cultural e do ensino de artes visuais na educação não-formal, ao
analisar as práticas culturais no Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil –
CCBNB/Cariri, na cidade de Juazeiro do Norte, foi possível perceber que,

A confecção de um catálogo foi de fundamental importância, pois permitia


ao público exercitar suas diferentes formas de interpretar a exposição. Isso
eliminou a necessidade de texto na parede, compreendendo que a função do
educativo não é explicar a exposição para o público, mas sim promover o
exercício de novas interpretações dos conteúdos das obras (ASSUNÇÃO,
2012, p.69).

Neste sentindo é preciso evitar práticas arcaicas em que as informações eram


apenas repassadas. A mediação cultural exige interação, comunicação, abordagem
característica e conhecimento específico para atuar como mediador. O arte/educador,
profissional licenciado em Artes Visuais, por meio de sua formação pode proporcionar
conhecimento artístico aos jovens em formação regular, desenvolvendo as competências para
a compreensão da arte no contexto de um mundo globalizado das mídias e informações.
O que observamos nessas práticas e que nem todas as escolas públicas do Cariri
Cearense possuem o profissional arte/educador. No geral, professores de outras áreas de
conhecimento é que desenvolvem estas atividades, restringindo o acesso ao fazer arte, pois
limita o educando a práticas arcaicas como o recorte e cole da educação artística com o único
objetivo didático de cumprir o currículo escolar com aulas de arte sem propósito, e
discordantes da educação cultural.
Dessa forma, a atuação do arte/educador na mediação cultural é um assunto de
extrema importância acadêmica norteando a dialética desse artigo que visa relacionar a
atuação do arte/educador como mediador do conhecimento não formal artístico por meio de
oficinas de artes visuais nas escolas do Ensino Básico ministradas por acadêmicos do curso de
Artes Visuais aprovados em edital do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência – PIBID/Artes Visuais em parceria com a Universidade Regional do Cariri –
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URCA, utilizando como abordagem a proposta Triangular (do “ver, fazer e apreciar arte”) da
educadora Ana Mae Barbosa, para a formação de um público que aprecie as artes visuais.
Para a construção deste estudo, questionou-se três aspectos do desenvolvimento
das atividades: O que a mediação cultural tem haver com a escola? Qual o comportamento
dos jovens das oficinas em relação artes visuais, diante do quadro ineficiente de mediação
cultural das artes na escola? E como o PIBID/Artes Visuais (Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação à Docência) em parceria com a Universidade Regional do Cariri – URCA
contribui para a formação de artistas e de público apreciador de arte?
O que pretendemos neste artigo é uma análise desta atividade educativa
promovida pelo PIBID/Artes Visuais desenvolvidas na Escola de Ensino Fundamental
Demóstenes Ratts Barbosa em Juazeiro do Norte – CE, com jovens de faixa etária entre 12 e
18 anos, que participavam semanalmente, no período vespertino de oficinas de artes visuais
ministradas no espaço escolar por acadêmicos bolsistas aprovados em edital para o subprojeto
PIBID/Artes Visuais, que visava à mediação cultural, promovendo a atuação profissional e
social em artes visuais em paralelo à educação formal.
Para a busca das respostas aos questionamentos, partimos das práticas
desenvolvidas nas oficinas de artes tendo como fundamento teórico os aspectos da dissertação
de mestrado da Profa. Ms. Ana Claudia Lopes de Assunção, que estudados conjuntamente
com a Abordagem Triangular da educadora Ana Mae Barbosa, ressaltam a importância do
ensino das artes, a valorização do arte/educador e da mediação cultural no mundo globalizado.
Ainda, o estudo considerou as experiências em sala de aula da autora por meio da interação
didática com os jovens nas oficinas.

1. MEDIAÇÃO CULTURAL NAS ESCOLAS

A educação não é redentora de tudo, mas tem um papel fundamental de fazer


transformações por meio da reflexão, investigação e percepção, abrangendo outras culturas,
tornando-se imprescindível na formação do conhecimento humano, com a mediação cultural.
Mediar é pôr-se a disposição da informação guiando o conhecimento cultural,
assim, o professor é um mediador cultural por excelência, ligando o conhecimento científico e
teórico ao educando, integrando as mídias e as informações. Para Tunes, Tacca e Bartholo Jr.,
2005,
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As considerações encaminham-se para o entendimento de que os conteúdos


escolares somente estarão a serviço do desenvolvimento dos alunos se forem
operados na conjuntura dos seus processos de significação, tendo em conta
que a função primordial da educação é a de nutrir possibilidades relacionais
(TUNES, TACCA, BARTHOLO, 2005, p. 01).

O mundo das mídias permite o ingresso na cultura mundial por meio do


deslocamento virtual do indivíduo, pois o acesso ao atual mundo da ciência e inovação passa
por diferentes identidades culturais, linguagens, imagens, conhecimentos científicos e
artísticos.
A mediação cultural depende de inúmeros aspectos sociais funcionando como
projeto sócio-político, onde o mediador aprimora o conhecimento sobre a cultura. Deste
modo, o encontro cultural depende do sujeito, esteja ele responsável por ensinar arte ou ser
ponte da transição entre culturas.
De igual modo para mediar arte é preciso estar ciente da individualidade de cada
sujeito e que esse se encontrará com outros em espaços de interação humana, como a escola,
gerando encontros culturais, com perspectivas e vivências diferentes.
Deste modo, a escola é também um espaço para a mediação cultural considerando
as competências educacionais e a diversidade cultural dos indivíduos nas salas de aula a se
considerar as diversas situações, como: etnias, gênero, classe social, cultura e crenças.
Criar projetos culturais definem o caráter dinâmico e mediador da escola,
permitindo ao educando formar um senso crítico, formas diversificadas de expressão,
interação entre os sujeitos e a cultura de forma aprazível e rica, que torne o conhecimento real
e capaz de ser desenvolvido.
Para Ana Mae Barbosa,

Arte/Educação é todo e qualquer trabalho consciente para desenvolver a


relação de públicos (criança, comunidades, idosos, etc.) com a arte, como em
um diálogo em que um está dentro do outro. Mas arte/educação e ensino de
arte são faces diferentes de uma mesma moeda, a moeda de intimidade com
a arte (BARBOSA, 2013, p. 02).

Essa forma de educação pode contribuir para o entendimento do educando do


mundo, tendo em vista que as artes são obras de um contexto histórico dinâmico. Essa maior
compreensão do seu entorno melhora a sua cognição e a capacidade de aprender, pois
viabiliza novos objetivos enquanto estudante e novos questionamentos como ser pensante.
Segundo Ana Mae Barbosa,
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Ainda é preciso mais pesquisas, mas podemos dizer que a arte leva os
indivíduos a estabelecer um comportamento mental que os levam a comparar
coisas, a passar doestado das ideias para o estado da comunicação, a
formular conceitos e a descobrir como se comunicam esses conceitos. Todo
esse processo faz com que o aluno seja capaz de ler e analisar o mundo
em que vive, e dar respostas mais inventivas (BARBOSA, 2013, p. 01).

Essa forma de mediação cultural possibilita abordar conceitos diferentes e projetá-


los sobre novas interfaces do cotidiano do indivíduo, como o escolar, permitindo relacionar o
conhecimento educacional, as experiências pessoais, o contexto social e os acontecimentos
reais.

2. A INTERAÇÃO DOS JOVENS ESTUDANTES NAS OFICINAS DE ARTES


VISUAIS

Durante as oficinas de arte promovidas pelo PIBID/Artes Visuais na escola Ratts


Barbosa, observou-se o acesso ineficaz dos jovens às artes pela falta do profissional
arte/educador e de um planejamento cultural, devido a política educacional que sujeita o
ensino das artes a outros profissionais como matemáticos e educadores físicos. Isso culminou
em um comportamento indiferente à arte, pela falta da singularidade de conhecimento
necessária ao ensino da arte.
De igual modo, a educação dos jovens sofre profundas modificações devido a
forte influência dos meios de comunicação em massa, a rapidez de informações e a facilidade
do contato cultural. Essa dinâmica tecnológica atual deve ser guiada por mediadores
conscientes da sua importância como meio de informação.
Assim não basta estar atualizados, é necessário contextualizar, e o arte/educador,
nesse sentido, pode fornecer uma experiência real com a mediação cultural, promovendo o
contextualizar, apreciar e fazer arte, fomentando a evolução crítica, fugindo da arte clichê de
decorar a escola para alguma data comemorativa. O ensino da arte não deve se limitar a
condição de transmissor/receptor, nem a situação de decorar datas e conceitos, pois a
compreensão da arte, seja na escola ou em qualquer outra instituição, depende da vivência, ou
seja da prática artística, onde o conhecimento aliado a experiência é uma via de mão dupla
entre o educando e educador.
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O professor não é mais aquele detentor do saber que será repassado ao aluno,
mas sim aquele, junto ao aluno, que irá ensinar e aprender, numa atitude de
mediador entre o conhecimento e a experiência (ASSUNÇÃO, 2012, p. 60).
Mesmo com a ineficiente inserção do profissional licenciado em Artes Visuais na
escola, é possível encontrar educandos que desejam se expressar contra modelos pré-
fabricados de educação e cultura, talvez seja a nova identidade de seres que tem a consciência
que podem produzir e criar.

Os adolescentes não querem brincar de fazer coisas, experimentar, mas


requerem construir e se constituir como sujeitos históricos. Não querem
brincar de ouvir música, querem compor, tocar, cantar, constituir uma banda;
não querem apreciar e desejar a capoeira, querem gingar; não querem
construir cinzeiros de argila que trincam e se quebram, querem esculpir; e
assim não querem consumir modelos, querem produzir e, nessa produção
com qualidade se sentir capazes de criação e, através disso, se constituírem
como seres capazes (CARVALHO, 2008, p. 133).

A sociedade Líquida atual, assim nomeada pelo sociólogo polonês Zygmunt


Bauman, é marcada pela multiculturalidade, apresentando a forma de acordo com o contexto,
caracterizando a interação com os meios virtuais de comunicação. É esse mundo em que a
mediação cultural ocupa importante papel de trazer à tona a memória de um povo.
Promover a aproximação entre as diversidades é próprio da cultura, pois a
sobrevivência cultural requer a compreensão de outros códigos para construir os sentidos
(semiósis), pois conhecimento gera conhecimento. Os jovens participantes das oficinas eram
incentivados por meio da interação do conhecimento com as mídias e exposições, tais como
as visitadas no Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil – CCBNB/Cariri.
Os processos de mediação cultural auxiliam na constituição do espaço semiótico,
irregular e heterogêneo, dentro dos limites da cultura contemporânea, da hibridização das
questões atuais em trânsito, de um mundo como ponto de conhecimento acessível a todos os
seres do planeta.
Na escola enquanto espaço de mediação cultural o educando teve a oportunidade
de vivenciar a prática artística, doando seus sentimentos a novas experiências e
transformações, pela prática da criatividade segundo o conhecimento que adquiriu nas
oficinas e por meio da sua vivência, expondo e confrontando o seu mundo com seu entorno.

3. INFLUÊNCIA DO PIBID/ARTES VISUAIS NA ESCOLA DEMÓSTENES RATTS


BARBOSA.
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A criação de um curso de especialização em Arte/Educação destinado a formação


de arte/educadores pela educação complementar, motivou um grupo de professores
arte/educadores a buscarem meios para implantação do Curso de Licenciatura Plena em Artes
Visuais, da Universidade Regional do Cariri – URCA, que desde 2008, sob a liderança do
Prof. Dr. em Artes Visuais, Fábio Rodrigues, busca formar artistas/professores/pesquisadores
das artes visuais, pela criação de valores artísticos, conhecimento e inserção dos futuros
educandos dentro do contexto cultural. Nesse intuito, o curso de Artes Visuais em associação
ao PIBID, buscou espaço nas escolas públicas do Cariri Cearense, por meio de oficinas de
artes ministradas por acadêmicos bolsistas do PIBID/Artes Visuais.
Inicialmente, para realizar as oficinas foi necessário analisar a situação do ensino
das artes nas escolas públicas da região e constatar o déficit no processo de aprendizado das
artes visuais, resultado da inexistência do arte/educador em sala de aula. Após evidenciar as
lacunas existentes foi possível planejar a abordagem pela proposta triangular que compreende
o contextualizar, fazer e apreciar arte, tendo em vista que a educação tem o papel de
transformar por meio da reflexão, da investigação e da percepção.
Normalmente os encontros iniciavam-se com uma saudação, depois uma conversa
sobre a vida dos artistas e a arte contemporânea, relacionando a experiência de cada educando
com a sua vivência no universo da arte, ressaltando o que os impactava de forma singular.
Nesse contato percebeu-se o grau de afinidade de cada educando com o universo da arte ao
respeitar o seu espaço e processo criativo. Foi possível evidenciar que quanto mais o grupo
conhecia sobre a vida do artista mais apreciavam o trabalho artístico. O mesmo ocorreu
quando da visita a espaços como o CCBNB/Cariri.
Inicialmente buscou-se incentivar a reflexão sobre a arte por meio da apresentação
visual de algumas obras despertando o interesse dos educandos em configurar arte, segundo
suas interpretações, por meio do desenho, pintura e outras propostas de experiência com artes.
Qualquer esforço para atingir o entendimento cultural e o conhecimento social
pela ação do arte/educador deve partir da análise do conceito de arte, enquanto criação
cultural histórica, assim é necessária, entender qual a função da arte na sociedade de consumo
e padrões estéticos.

Estamos rodeados por imagens impostas pela mídia, vendendo produtos,


ideias, conceitos, comportamentos, slogans políticos etc... Nós aprendemos
por meio delas inconscientemente. A educação deveria prestar atenção ao
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discurso visual. Ensinar a gramática visual e sua síntese através da arte e


tomar as crianças conscientes da produção de alta qualidade como forma de
prepará-las para compreender e avaliar todo tipo de imagem (BARBOSA,
2003, p. 03).

O Subprojeto PIBID/Artes Visuais como forma de inserir o educando nos espaços


de artes urbanos propiciou a visita às exposições disponibilizadas pelo CCBNB/Cariri
estimulando a apreciação artística da produção contemporânea da arte.
Além das visitas, os estudantes foram provocados a vivenciar seu processo de
criação. Esse processo seguiu alguns passos para ser executado, tais como: reflexão sobre a
proposta, escolha da linguagem artística, planejamento sobre os conceitos a serem aplicados
na composição, e só depois a produção, permitindo que os estudantes entendessem a lógica da
criação.
Trabalhar as percepções do ato criativo na Abordagem Triangular favorece entre
outras coisas formular o pensamento crítico, proporcionando ao arte/educador a ciência da
mediação de forma dinâmica, pois como o mediador, é um pesquisador e formador de
opiniões, e deve estar atualizado, capacitando o jovem para a formação, ampliando a visão de
si, da família, escola, bairro, sociedade e da cultura em que vive, além de incentivá-lo a buscar
transformações.
Uma ação educativa em artes orientada pela Abordagem Triangular provoca
e estimula o arte/educador a ser um pesquisador e, por conseguinte, um
questionador de uma sociedade intercultural, constituída de múltiplas
culturas, em que ensinar arte implica estar próximo do produto artístico, ou
seja, ver, ler, contextualizar, interpretar e o fazer arte. Nas relações
pedagógicas, ter contato com a obra de arte neste nível equivale a vivenciar
uma experiência do aluno (ASSUNÇÃO, 2012, p. 23).

A sociedade de conhecimento apresenta múltiplas oportunidades de


aprendizagem, para a escola, o professor e para o educando que podem ser benéficas quando
organizadas de forma a articular o conhecimento prático-teórico. Trata-se da formação cidadã,
com lugar para a reflexão crítica, autonomia informativa e liberdade de expressão nas
múltiplas formas de linguagem. Assim, o professor é capaz de mediar, construir e reconstruir
buscando sentido no que faz e no que os educandos fazem. O professor tem na cultura a
plataforma política e artística, pensando a mediação como lugar de cultivo e continuidade.
A concepção de arte/educação muda quanto aos conteúdos e objetos artísticos,
onde o educando aprende a relacionar com a cultura a educação contemporânea ampliando o
universo da arte. As observações nas oficinas da Escola de Ensino Fundamental Demóstenes
Ratts Barbosa demonstraram o crescimento intelectual e compreensão do universo artístico
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dos participantes.
A falta de compreensão evidenciada nos primeiros contatos foi substituída pelo
interesse e produção cultural de acordo com a aproximação das vidas dos educandos com o
universo da arte. Tais estímulos e a nova visão sobre arte foram visualizados quando do
desenvolvimento de seus trabalhos artísticos e na participação em sala, aguçando o raciocínio
e a percepção do fazer arte dentro de seu universo cultural coletivo e particular.
Isso só confirmou a proposição que para aprender arte é necessário aproximar o
objeto artístico, proporcionando o encontro com o universo da arte, tanto no fazer, como no
apreciar e compreender a arte, conhecendo a arte e agindo com intelectualidade sobre a
proposta artística.
Além disso, a valorização da produção dos educandos foi realizada em cada
oficina, pela documentação e exposição das obras dentro da própria escola, por meio da
apresentação dos trabalhos artísticos nos corredores e escadas, de acordo com a escolha do
local pelo próprio educando, como a técnica da ilusão de ótica (desenho desconstruído).

Figura 1: Oficina de Arte Visual Escola Demóstenes Ratts Barbosa.

Fonte: Imagens da Autora.

A prática permitiu aos estudantes a experiência com a produção artística, e ao


arte/educador a vivência no papel de mediador cultural expandindo as competências e
habilidades de ambas as partes, apoiadas por uma ação reflexiva. Sobretudo a interlocução
poética como forma de compreensão e transformação das questões humanas, por meio de
ações de criação que deveriam estar articuladas sem interferir na autonomia e autoria de cada
um deles. Para Assunção, (2012, p.24) “Nesse sentido, observa-se que o ver e o apreciar as
obras de arte são inseridos no ensino de arte contemporâneo, para estreitar as relações do
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educando com o universo artístico local, regional e universal”.

IR ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA

A concepção de arte-educação muda no tempo, os conteúdos de ensino envolvem


os objetos artísticos, e o educando aprende ao se relacionar com a cultura. A educação
contemporânea influência, sem que o educando, perca a sua autonomia e autoria, dentro dessa
proposta do arte-educador ser também o mediador por excelência, criando projetos
relacionando o educando com o universo da arte, favorecendo a aproximação do mundo em
fluxo do educando com o da arte, com mais propriedade em seu desenvolvimento criativo.
Foi observado o crescimento intelectual e a compreensão do universo artístico dos
participantes da oficina do PIBID/Artes Visuais, pois a falta de compreensão dos primeiros
contatos, foi substituída com a aproximação do universo da arte, trabalho dos artistas, visitas
as exposições nos Centros Culturais e o desenvolvimento de trabalhos artísticos. Antes, era
como se o universo artístico simplesmente não existisse para eles, mas com a Abordagem
Triangular, das obras e saberes sobre arte, com textos críticos utilizados foi possível aguçar a
percepção de cada um dentro de seu universo cultural, demonstrando que a arte depende da
aproximação do objeto artístico, com o direito de conhecer arte e agir com intelectualidade.
A experiência demonstrou que a mediação cultural perpassa o campo das artes, e
nessa perspectiva é importante conhecer e oferecer o conhecimento do meio em que estamos
inseridos e no qual atuamos como educadores e educandos.

Se pretendermos uma educação não apenas intelectual, mas principalmente


humanizadora, a necessidade da arte é ainda mais crucial para desenvolver a
percepção e a imaginação, para captar a realidade circundante e desenvolver
a capacidade necessária à modificação desta realidade (BARBOSA, 1994, p
05).

A mediação cultural pode proporcionar uma melhor compreensão das


transformações sociais, visando a educação pela arte como possibilidade infinita de
surpreender e construir novos olhares para o mundo e novos mundos para olhar, pois “cultura
não se injeta, se pratica” (BARBOSA,1998, p.46).
Portanto, Arte e Educação estão no mesmo âmbito humano, como exercícios de
ligação da produção humana, relacionando-se com a dimensão sensível do ser. Deste modo, a
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arte é um fazer formativo, uma linguagem do conjunto expressivo, dotado de sentido.


Como futuros arte/educadores é necessário entender que o trabalho com arte
independentemente de sua linguagem, exige o contato direto com a criatividade, dessa forma,
as oficinas do PIBID/Artes Visuais buscavam motivar a percepção artística nos traços,
desenhos, cores, ideias, e na vivência individual do jovem, tornando uma experiência
prazerosa de entrega do educando ao processo criativo.
A arte, como uma linguagem dos sentidos, proporciona ao educando um exercício
de comunicação, ampliando os significados de linguagem e expressão, assim, os jovens
devem encontrar os caminhos de entendimento por meio das próprias leituras de um mundo
em fluxo (BARBOSA, 2003).
Todo mundo é capaz de expressar-se artisticamente. Mas qualquer arte/educador
precisa desenvolver suas potencialidades criativas, para entender os caminhos dos educandos
em direção à criação, repassando conceitos, direcionando a aula e o educando o construir.
Segundo Assunção, 2012, fazendo uma releitura da Abordagem Triangular da
Educadora Ana Mae Barbosa, numa visão mais regional sobre a educação e seus processos no
Cariri Cearense, afirmou,

A partir das experiências com a Abordagem Triangular, pressupõe-se que o


ensino da arte passou a ser compreendido como expressão e cultura, ao
valorizar inclusive o que é próprio de cada região inserindo o sujeito como
autor de sua própria história, buscando um exercício de leitura dele mesmo e
do mundo (ASSUNÇÃO, 2012, p.24).

Assim, dentro da Abordagem Triangular, é preciso repensar: “Por que estamos


fazendo arte?” Segundo a educadora Ana Mae “Para conhecer uma sociedade conheça as suas
produções”, possibilitando lê e compreender na mediação cultural a contemporaneidade, não
só o educador leva o conhecimento, pois o educando aprecia a obra, conhece o contexto e faz
a sua própria interpretação, criando ao invés de copiar.
Trata-se do fazer artístico refletindo o seu processo dentro de uma linguagem
artística e filosófica. É uma caixinha que vai ser feita? Pois bem, essa caixinha vai sair a partir
de uma reflexão e de uma linguagem artística abordada; depois da reflexão, apreciamos e
debatemos com os educandos o projeto e depois sua produção. Isso proporciona a prática, a
participação, pois os educandos aprendem a sentir a arte.
Acreditamos na função de mediador cultural durante as oficinas do PIBID/Artes
Visuais na Escola Ratts Barbosa, trilhando o melhor caminho do fazer e da produção artística,
motivando o educando na concepção e investigação de materiais a serem utilizados,
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expressando a cultura e assuntos do interesse do próprio educando. Neste momento, entram as


conversas, reflexões, dinâmicas e as visitas aos espaços expositivos, proporcionando desafios
e possibilidades, respeitando à diversidade do grupo e valorizando a linguagem individual,
sem, contudo, deixar o coletivo, pois as vozes são múltiplas, mas cada corpo é único.
Para fazer arte é necessário tempo. Tempo de preparação, maturidade,
pertencimento, pesquisa e trabalho. Sendo necessário um indivíduo, que traz em si um mundo
vivido e deve estar aberto para novos mundos. Sem o educador/educando não há educação,
tendo em vista a troca de experiências e conhecimento.
Portanto, o indivíduo como solo, trabalhado e cultivado pela mediação da
educação pela arte, não se deixa fenecer, quando frequentado pela essência da arte e da vida,
reafirma e (re) significar sua presença de mundo, cidadania, no movimento da vida e no
direito de exercer singularidade, germinado da arte.

REFERÊNCIAS

ASSUNÇÃO, A. C. L. de. Mediação Cultural no Cariri: um estudo de caso. Dissertação.


Programa associado de pós-graduação em artes visuais-UFPB/UFPE/CCHLA, João Pessoa,
2012.

BARBOSA, A. M. Imagem no ensino da arte. 2 ed. São PauloPerspectiva,1994.

BARBOSA, A. M. Arte, Educação e Cultura. Artigo de Opinião. 2003. Disponível em:


http://www.instituto14bis.org.br/arquivos/ArteEducacaoECultura.pdf, acesso em 06/08/2013.

BARBOSA, A.M. Entrevista de Ana Mae Barbosa sobre Arte/Educação. Depoimento


[abr. 2013]. Entrevistadores: Simão de Miranda e Flávio Amaral. São Paulo-SP, 2013.
Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/138759981/Artigo-Simao-de-Miranda-Entrevista-
Com-Ana-Mae-Barbosa - http://pt.scribd.com/doc/138759894/Artigo-Flavio-Amaral-
Entrevista-Com-Ana-Mae-Barbosa, acesso em 20/07/2013.

BAUMAN, Z. Entrevista. Revista Filosofia. Depoimento [s.n] Disponível em:


filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edições/58/artigo 214649-1.asp, acesso em:
26/07/2013.

CARVALHO, L. M. O Ensino de artes em ONG’S. 1º Ed. Cortez. 144 páginas. São Paulo,
2008.

TUNES, E.; TACCA, M. C. V. R.; BARTHOLO Jr., R. dos S.O professor e o ato de ensinar.
Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 126, p. 689-698, set./dez. 2005.

Ana Claudia Sousa Farias


Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Artes Visuais - Semestre 4º
Bolsista do PIBID/Artes Visuais
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4052556Y6

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