Professional Documents
Culture Documents
heróis, esquecendo o povo que com eles partia para a guerra, dos monarcas
que se alimentavam e à sua numerosa corte com os impostos pagos pelos
seus servidores mais esquecidos, mas aos quais se ficavam a dever os
grandes monumentos e feitos gloriosos que ficavam para o futuro, apenas
se devendo e tendo como engenheiros, arquitectos e guerreiros os monarcas
e príncipes. Sabemos que apenas se falava e escrevia sobre a nobreza e o
alto clero, os mestres das ordens religiosas e militares…
1.a O Homem e o OUTRO. Esta uma situação linguística dos nossos dias
que é muito diferente da que encontramos na Idade Média. O homem era
apenas um homem perdido. Não havia palavra para o designar. Usava-se
Homo, enquanto o que o dominava e lhe exigia o impossível era o Dominus
que detinha o dominium, era o dono da terra em que o Homo trabalhava
para ele, porque o dominus, o dom, exercia o dominium sobre ele (pp. 280-
281).
pp. 294-307
Aos olhos dos demãos povos – o Islam , por exemplo -, esses homens e
mulheres eram “francos”. O erro é evidente, provinha do facto de,
nesses tempos, o profano e o sagrado se acharem misturados e o poder
ser teocrático – era o dominium, o da fé e o do povo “dominante”.
Não posso concordar com Robert Fossier quando faz ver que “o que
podemos encontrar na Europa, entre greco-romanos, os Celtas e os
Germanos, não possui, ao que parece, qualquer conteúdo espiritual:
tem-se a impressão de que o jurídico e o económico sobrelevavam na
representação dos humanos á responsabilidade moral e religiosa”.
Odin, Thor, Zeus, Júpiter e todo o respectivo elenco, nos contos e nas
falas deles e dos seus crentes, englobavam, nas suas reflexões a
repartição humana. Livres, servos, crentes ou gentios, depois frades e
leigos, virgens ou casados, com família ou sem ela.
O costume era “antigo”, quando atestado havia já dez anos, pelo menos, no
dizer dos anciãos que, na aldeia, eram consultados de um modo muito
oficial, e de grande antiguidade, quando reconhecido de ainda antes disso.
Fazia jurisprudência a norma consuetudinária e o resultado do julgamento,
da opinio iuris, para casos posteriores. Foi fonte de Direito. Esta
Jurisprudência renovava-se, pois, á medida os casos registados e
perpetuava-se pela memória de geração em geração. Aplicava-se a tudo o
que, em caso de litígio o Direito Canónico não resolvesse, tais como,
problemas de heranças, gestão fiscal, conflitos de interesses, utilizando
sanções espirituais e, em casos mais graves, físicas também.