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ACONSELHAMENTO PASTORAL:

Poimênica: Visando ensino e aprendizado dentro da comunidade de fé

Cristiano de Castro Guimarães1


Reynaldo Teixeira Junior 
Eneas do Couto Souza 

Resumo

O aconselhamento pastoral representa uma dimensão da poimênica. Dentro dessa visão


é importante valorizar o indivíduo holisticamente. Caso contrário, haveria uma
fragilidade de cuidados. Diante dessa pontuação, este artigo apresentará uma possível
compreensão sobre algumas necessidades humanas, com a proposta de um cuidado
integral. O texto também observa algumas características na pessoa do/a líder, seriam
algumas qualidades e/ou responsabilidades, vivenciadas pelo/a conselheiro/a que
poderiam desenvolver um trabalho muito mais eficaz. Na primeira seção, apontaremos
algumas elucidações do aconselhamento pastoral e poimênica e a sua contribuição para
a igreja, descrevendo alguns valores. Na segunda seção, abordaremos o aconselhamento
pastoral numa perspectiva holística, considerando o indivíduo em sua totalidade. E, por
fim, na terceira seção apresentaremos algumas características primordiais, as quais
podem estar entrelaçadas no/a aconselhador/a, para que haja um maior aproveitamento
no aconselhamento pastoral e, sucessivamente, conduza os/as aconselhados/as, dentro
das suas necessidades, a um caminho de libertação e crescimento.

Palavras-chave: Aconselhamento pastoral; poimênica; holístico; cuidado integral.

Introdução

O trabalho apresenta uma das habilidades do ministério pastoral desenvolvido


por meio do aconselhamento pastoral: o método holístico. Dentro dessa vertente esta
pesquisa propõe apresentar a importância dessa visão, trazendo orientações que

1
Graduando em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo,
Polo Petrópolis. Matrícula 242320. Trabalho de Conclusão de Curso com vistas à obtenção de grau de
Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Eber Borges da Costa.

Graduando em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo,
Polo Petrópolis. Matrícula 228288. Trabalho de Conclusão de Curso com vistas à obtenção de grau de
Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Eber Borges da Costa.

Graduando em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo,
Polo Petrópolis Matrícula 228495. Trabalho de Conclusão de Curso com vistas à obtenção de grau de
Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Eber Borges da Costa.
2

pretendem mostrar o quanto essa área torna-se indispensável no relacionamento de um/a


líder com a sua igreja.

O tema deste estudo merece reflexão porque busca pontuar uma maneira
equilibrada no aconselhamento pastoral; uma visão teológica que poderá refletir num
ensinamento e num aprendizado dentro da comunidade de fé. Isso porque as pessoas
precisariam ser mais bem compreendidas e os/as conselheiros/as necessitariam de um
melhor preparo para compreender os/as aconselhandos/as, dentro das suas
complexidades, tornando-se desta forma, um aprendizado constante na comunidade de
fé.

Observa-se também, nesta pesquisa, uma percepção que contribuiria com a


sessão de aconselhamento. Seria quando algumas características importantes são
observadas pelo/a aconselhador/a, de modo que desaguariam num cuidado integral com
mais eficácia.

Nesse sentido, objetiva-se, com este estudo, uma reflexão da poimênica,


expressando sobre a sua colaboração com a comunidade de fé e, nessa conjuntura, será
apresentado o aconselhamento pastoral como uma dimensão desse ministério. Uma
proposta possibilitadora de cura e crescimento dentro das dimensões da integralidade
humana.

Para tanto, o texto que se segue está organizado em três seções. A primeira: O
aconselhamento pastoral e a contribuição da poimênica, a qual se concentrará em
apresentar algumas definições, sua colaboração para a comunidade de fé, e, também
será exemplificada uma prática da poimênica, o aconselhamento preventivo.

A segunda se dedicará ao aconselhamento pastoral na visão holística, a qual é a


observação do ser-humano sempre dentro do seu todo. Nesse tópico o texto mostrará a
inter-relação das dimensões humanas, suas importâncias e cuidados e apresentará as
dimensões da integralidade.

A terceira se expressará a respeito das características do aconselhador. São


qualidades importantes, quando observadas e exercitadas pelos/as líderes, ocasionariam
num melhor resultado, dentro da sessão de aconselhamento.
3

O aconselhamento pastoral e a contribuição da poimênica


O termo aconselhamento pastoral é bem conhecido no meio das igrejas
evangélicas. O mesmo tem se tornado bastante comum também na sociedade
contemporânea, que busca, através deste, soluções para seus problemas do dia a dia.
Conforme a definição de Clinebell, aconselhamento pastoral é uma dimensão da
“poimênica” que utiliza uma variedade de métodos terapêuticos e espirituais de cura
para ajudar as pessoas a lidar com suas crises, conflitos e problemas numa forma que
conduz ao crescimento e a experimentar a cura do seu estado de fraqueza, abatimento,
sem energia. Para o autor, o aconselhamento pastoral tem uma função reparadora
quando o crescimento das pessoas é prejudicado ou bloqueado devido a crises.
(CLINNEBELL, 1987, p.25).
Já o termo “poimênica”, ao contrário do aconselhamento pastoral, não é tão
conhecido, tanto no meio das igrejas evangélicas, quanto na sociedade. Segundo Hoch
sobre o termo “poimênica”, pode-se dizer que:

Ele provém do grego “poimaino” que descreve a atividade de alguém


que pastoreia um rebanho. Em seu sentido original este ato de
“pastorear" envolvia a preocupação em cuidar do rebanho, protegê-lo
contra eventuais inimigos e zelar pelo seu bem-estar até ao extremo de
se sacrificar por ele. (HOCH, 1980, p. 88).

Conforme Clinebell, a poimênica também pode ser entendida como: “[...] o


ministério amplo e inclusivo de curas e crescimento mútuos de uma congregação e de
sua comunidade, durante todo o ciclo da vida”. (CLINEBELL, 1987. p. 25). Portanto, o
aconselhamento pastoral está diretamente vinculado à poimênica e subordinado a ela.

Na interpretação de Schipani “[...] aconselhamento pastoral é definido e


realizado como parte do ministério da Igreja da poimênica, e não como um ramo da
indústria psicoterápica ou das profissões da saúde mental” (SCHIPANI, 2003, p. 32). O
aconselhamento pastoral torna-se um grande desafio a ser encarado por aqueles/as, que
desejam mergulhar neste universo, na medida em que o mesmo deverá indicar caminhos
de esperança frente às desilusões vividas pelos seres humanos, por meio de uma
mensagem acolhedora e libertadora e que vá ao encontro dos anseios de cada indivíduo.
4

O aconselhamento pastoral procura cuidar das inquietações internas e das


diferentes barreiras, as quais interferiram, de forma traumática, no decorrer da vida do
indivíduo. Deve propiciar a libertação das formas inadequadas e distorcidas da
percepção no imaginário, em relação à realidade, direcionando a um crescimento
equilibrado, ou seja, um ato de “[...] auxiliar as pessoas a tomarem decisões orientadas
para uma vida mais sadia, o aconselhamento pastoral incentiva o crescimento moral e
espiritual na vida sábia” (SCHIPANI, 2003, p. 32).

Sob um olhar da Bíblia Sagrada, com respeito ao aconselhamento pastoral, pode-


se observar o que Friesen considera em relação ao livro de Salmos no capítulo 139
versos 23 e 24: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os
meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho
eterno”.

Neste texto o salmista se aproxima de Deus, e pede por conselhos, por


auxílio para o seu coração e, poderíamos dizer, por aconselhamento
pastoral. O próprio salmista indica os movimentos básicos que
deverão acontecer no processo de aconselhamento: “sondar”,
“conhecer”, “provar” e “conduzir por caminhos eternos” (FRIESEN,
2012, p. 20).

Nesta perspectiva, Friesen destaca a necessidade que o ser humano (neste caso o
salmista) tem de ser pastoreado, remetendo-se ao Deus-pastor que se revela em cuidado,
assistência e proteção ao seu rebanho. Ao mesmo tempo, aponta “passos” a serem
seguidos, no aconselhamento pastoral, de modo a promover o bem estar, quer seja
físico, emocional ou espiritual, dos aconselhados/as.

Collins compreendeu que “[...] o aconselhamento pode e deve ser uma parte vital
da igreja em alcançar os outros” (COOLINS, 2002, p. 10). Por meio da fé cristã, o
aconselhamento pastoral deve propor se solidarizar com pessoas em situação de crise e
sofrimento através do diálogo, do estabelecimento duma relação de ajuda que vise
descobrir as causas estruturais que geram o sofrimento para o mesmo.

Deste modo, o aconselhamento torna-se não apenas um desafio, mas também um


compromisso vital no relacionamento do/a pastor/a com a sua igreja. Clinebell adverte
5

sobre a necessidade contínua da poimênica em todas as pessoas. Um processo da vida


dentro de cada fase e suas necessidades. Nesse olhar o aconselhamento pastoral,

Que constitui uma dimensão da poimênica é a utilização de uma


variedade de métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a
lidar com seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao
crescimento e, assim, a experimentar a cura de seu quebrantamento. O
aconselhamento pastoral é uma função reparadora, necessária quando
o crescimento das pessoas é seriamente comprometido ou bloqueado
por crises. As pessoas precisam de poimênica durante a vida toda. Os
métodos de poimênica e de aconselhamento são importantes
dimensões desse ministério possibilitador de integridade
(CLINEBELL, 1987, p. 25).

Para Clinebell, o aconselhamento pastoral é uma parcela da poimênica. Uma


forma curadora, de modo a ampliar e resgatar valores, dando uma maior assistência ao
Corpo de Cristo dentro de sua integralidade. “A poimênica e o aconselhamento pastoral
devem ser holísticos, procurando possibilitar cura e crescimento em todas as dimensões
da integralidade humana” (CLINEBELL, 1987, p. 25). O mesmo deverá proporcionar o
alívio das tensões interiores e dos diferentes complexos que interferem na qualidade de
vida, assim como, apontar atitudes inadequadas e distorções de percepção quanto à
realidade.

Assim sendo, “o aconselhamento pastoral procura ajudar as pessoas a desfrutar


um relacionamento aberto e crescente com Deus, capacitando-as a viver de uma forma
promotora de crescimento em meio às perdas, aos conflitos [...] da vida no mundo”
(CLINEBELL, 1987, p. 108). Para tal objetivo, os recursos bíblicos permanecem
determinantes, como diretrizes, e os recursos das outras ciências afins permanecem
como “complementares e auxílios instrumentais do aconselhamento” (FRIESEN, 2012,
p. 26) pastoral.

De acordo com Schipani os objetivos do aconselhamento estão “a serviço do


discernimento, do estímulo ao crescimento, da orientação, do apoio, da reconciliação e
da cura” (SCHIPANI, 2003, p. 11). A poimênica e o aconselhamento “podem ajudar a
salvar as áreas de nossa vida que naufragaram nas tempestades do nosso dia-a-dia [...]
Um programa eficaz [...] pode transformar o clima interpessoal de uma congregação
[...]” (CLINEBELL, 1987, p. 14).
6

A poimênica possibilita, também, uma prática que pode ser compreendida como
um aconselhamento preventivo. Seria uma forma de preparar, preventivamente, o
indivíduo, contra possíveis problemas que possam se instalar em cada membro dentro
da comunidade de fé. Sob esse olhar, podem ser exemplificados os aconselhamentos
pré-nupciais1, escolas bíblicas dominicais, homilias, entre outros.

Com essa ênfase, Coolins definiu: “em primeiro lugar, a ajuda preventiva
procura evitar os problemas a fim de que não surjam em primeiro lugar” (COLLINS,
2002, p. 109). Como na medicina, onde o tratamento preventivo auxilia e, em até muitos
casos, previne o surgimento de doenças.

Através dos Evangelhos, percebe-se Cristo como um mestre em aconselhamento


preventivo. E, por meio dos relatos bíblicos, verificam-se várias direções que norteiam
uma comunidade, no exercício dessa missão. Dessa forma, diversos momentos podem
ressoar, tais como: encorajamento (Mt 10:19), advertência (Mt 10:6), instrução (Mt
10:5b), experiência (Lc 9:2), exemplo (Mt 11:29), enfim, a tradição bíblica apresenta
uma diversidade de prevenções a serem utilizadas dentro do ministério pastoral.

Gary Collins amplia mais o assunto dizendo: “[...] a ajuda preventiva procura
frear ou parar problemas existentes antes de ficarem piores. É chamada prevenção
secundária2 [...]” (COLLINS, 2002, p. 109). Essa ajuda preventiva é como um
reposicionamento de visão, uma renovação da mente, com um olhar mais amplo,
periférico, para aquela situação conflitante. De modo que o foco não esteja apenas no
problema, mas também nas circunstâncias que o cercam, com vista a sanar o mesmo.

Collins cita ainda “um terceiro tipo de ajuda preventiva, às vezes conhecida
como prevenção terciária3, que procura reduzir ou eliminar as influências dos problemas
anteriores” (COLLINS, 2002, p. 109). Seria, exemplificando, como as dificuldades de
um ex-presidiário enfrentando crises pelo preconceito sofrido pela sociedade, ao tentar
se inserir no mercado de trabalho, por causa do seu passado.

1
Nesse aconselhamento “enquanto o casal ainda está considerando o casamento, as duas partes são
alertadas aos problemas em potencial entre o marido e a mulher, e recebem instruções acerca de como
evitar que tais problemas ocorram”. (COLLINS, 2002, p. 109).
2
Prevenção secundária envolve a diminuição da duração e severidade de um problema que está se
desenvolvendo. Encontro de casais poderia ser um método de revitalização. (COLLINS, 2002, p.109).
3
Prevenção terciária – Suponhamos, por exemplo, que um ex-alcoólatra, doente mental ou encarcerado,
volte para sua cidade natal e procura emprego. Muitas vezes, tal pessoa encontra suspeita da parte doutras
pessoas, críticas, preconceitos, falta de aceitação e grande dose de desconfiança. (COLLINS, 2002,
p.109).
7

Clinebell igualmente corrobora o pensamento ao ensinar: “Uma compreensão


dos problemas e das possibilidades de cada estágio da vida é um recurso valioso em
programas4 de poimênica e aconselhamento [...]” (CLINEBELL, 1987, p. 202). O
escritor fortalece a sua citação, explicando:

Quando se põem os óculos da esperança e do crescimento, cada


estágio da vida, desde o nascimento até a morte, oferece um novo
conjunto de forças e possibilidades emergentes, que não existiam em
estágios anteriores. Esta consciência é a fonte de uma esperança que
desabrocha. Cada estágio também contém um novo conjunto de
problemas, limitações, frustrações e perdas. São essas realidades
dolorosas que trazem muitas pessoas ao aconselhamento. A estratégia
é ajudar as pessoas a lidar com os problemas e perdas desenvolvendo
as novas forças e possibilidades do estágio de vida em que se
encontram. A orientação desenvolvimental também implica uma
estratégia de prevenção positiva, que compreende a criação de uma
profusão de grupos de crescimento, de fácil acesso, para ajudar as
pessoas a desenvolver os tesouros especiais de cada estágio da vida.
(CLINEBELL, 1987, p. 202).

Clinebell atribui ao aconselhamento pastoral o objetivo de facilitar ao máximo o


desenvolvimento de uma pessoa em cada estágio da vida a fim de que esta também
contribua para o crescimento das pessoas que a cercam. Neste sentido, o
aconselhamento pastoral visa contribuir para que o/a aconselhando/a se liberte de
bloqueios e medos, encontre a si mesmo e, consequentemente, viva uma vida plena de
sentido e satisfação, investindo suas energias na transformação da sociedade.

A prática do aconselhamento pastoral possui uma contribuição vital à tarefa


alusiva ao ministério pastoral. Pessoas, atenciosamente assistidas, podem ser renovadas,
capacitadas e reintegradas a uma nova perspectiva de visão de si próprias e da
sociedade. O aconselhamento Pastoral deve visar o bem-estar daqueles/as que
necessitam de cuidado. Nessas condições, a saúde integral das pessoas precisa ser
observada. As dificuldades interiores e os obstáculos que se formaram no decorrer de
sua existência podem ser amenizados por meio do ensino e aprendizado.

4
Programas de poimênica fortalecem a comunidade de fé. Nesse contexto, seria necessário avaliá-los e,
também, reciclá-los, dentro das necessidades da igreja, conforme a sua conjuntura. Clinebell exemplifica
algumas causas que poderão criar o ponto de uma crise: “casais cujo primeiro filho acaba de nascer,
casais cujos filhos já saíram de casa e pessoas que se aposentaram recentemente. (CLINEBELL, 1987, p.
202).
8

Ao buscar ajuda por meio do aconselhamento pastoral, a pessoa se comunica


com o/a aconselhador/a, e este/a, por sua vez, interage com o/a aconselhando/a. Em
muitos casos, conforme afirma Hoch, quando uma pessoa expõe “sua situação pessoal,
ela, sem querer, toca nalgum ponto nevrálgico do próprio pastor. Certos sentimentos ou
emoções que o consulente externa podem desencadear no pastor alguns sentimentos
com os quais ele mesmo têm dificuldade de lidar.” (HOCH, 1980, p. 97). Quando isto
acontece, o/a aconselhador/a tem a oportunidade de trabalhar seus próprios medos,
tornando o tempo de aconselhamento pastoral, um aprendizado para si mesmo.

Aconselhamento pastoral na visão holística


O aconselhamento pastoral deve desenvolver o crescimento humano. “A
poimênica e o aconselhamento pastoral devem ser holísticos 5, procurando possibilitar
cura e crescimento em todas as dimensões da integralidade humana.” (CLINEBELL,
1987, p. 25). Desta forma, trazer uma pessoa que sofre com bloqueios emocionais 6, a
um estado de insight7 seria o maior desafio exercido no aconselhamento pastoral dentro
da Igreja. Uma teologia que vise “ajudar as pessoas a se libertar de suas prisões de vida
não vividas, recursos não usados e forças desperdiçadas” (CLINEBELL, 1987, p. 27),
destaca-se em crescimento mútuo, ou seja, um ensinamento e aprendizado dentro da
comunidade de fé. Um olhar holístico do aconselhamento pastoral.

“O método holístico de poimênica e aconselhamento vê a nós, seres humanos,


como possuidores de uma riqueza de forças, potencialidades e recursos não descobertos
e não desenvolvidos” (CLINEBELL, 1987, p. 28). Uma das funções específicas na
assistência pastoral seria prestar assistência de uma forma integral.

Há uma interdependência nessa relação. Um verdadeiro compromisso,


principalmente quando a tarefa exceder o conhecimento do cuidador. Nesse conjunto,

5
O termo HOLÍSTICO é usado por CLINEBELL no sentido de integral, no seu todo.
6
Entende-se por bloqueio emocional como sendo “uma barreira psicológica que colocamos para
nós mesmos e que nos impede de perceber com clareza alguns aspectos da vida.” Disponível em:
http://psico.online/blog/bloqueio-emocional-o-que-e-isso/. Acessado em 24/09/2017.
7
INSIGHT – “Compreensão profunda dos seus sentimentos e seus relacionamentos, libertando-os
da dominação que experiências passadas exercem no presente”. Surge dentro de um relacionamento de
confiança e empatia em que a pessoa em dificuldade sente-se segura o suficiente para conscientizar-se
desses dolorosos resíduos do passado e explorá-los. Ao elaborarem a níveis cada vez mais profundos
essas forças interiores construtoras de vida, as pessoas reduzem gradativamente bloqueios interiores de
vitalidade e auto aceitação. Elas lidam com os sentimentos obsoletos e impróprios e resolvem conflitos
interiores do passado que bloqueiam o crescimento. (CLINEBELL, 1987, p. 368, 370).
9

explorar as estruturas humanas e compreender o seu funcionamento torna-se


fundamental para uma boa assistência ao/a aconselhando/a. Desse modo Friesen relata:

A tarefa do aconselhamento pastoral na perspectiva holística é a ver o


homem sempre dentro do seu todo. É preciso permanecer em
constante aprimoramento no entendimento a respeito do homem, sua
estrutura, seu desenvolvimento, sua dinâmica e funcionamento
(FRIESEN, 2012, p.25-26).

Quando o aconselhamento pastoral é visto dentro de um cuidado integral, muitos


problemas poderiam ser mais bem compreendidos. Nessa conjuntura, seria muito
proveitoso um estudo contínuo e detalhado a respeito do ser-humano.

Infelizmente muitos/as aconselhandos/as têm sido ofendidos/as8 e agravados


mais ainda os seus problemas, por falta, inclusive, de preparo por parte dos
aconselhadores. Numa abordagem holística, Bootz interpreta as ideias de Clinebell
sobre as seis dimensões (CLINEBELL, 1987, p. 29-32) da integralidade, as quais
integram a pessoa e a fundamenta. Nessas observações notabilizam-se:

As seis dimensões interdependentes, as quais são: uma mente avivada,


um corpo vitalizado, relacionamentos íntimos enriquecidos, uma
relação harmônica com a natureza, relacionamentos significativos com
instituições sociais e um relacionamento profundo com Deus. O ser-
humano é primeiramente um ser relacional. Relações sadias mantêm a
saúde. Relações obstruídas fazem decrescer a qualidade do viver.
Viver integralmente estas dimensões deveria ser algo natural. Mas há
resistências (BOOTZ, 2003, pág. 38).

Collins diz: “Não devemos lidar somente com a parte espiritual e esquecer-nos
das necessidades psicológicas ou físicas; todas elas fazem companhia entre si, e o
ajudador que se esquece disto faz um desserviço ao seu auxiliado e ao seu Senhor”
(COLLINS, 2002, p. 49). Da mesma maneira, o autor ainda afirma:

O aconselhamento no discipulado diz respeito à pessoa inteira. O


homem é uma unidade que raramente tem uma necessidade puramente
espiritual, uma anormalidade unicamente psicológica, um conflito
somente social, ou uma doença meramente física. Quando alguma
coisa desanda com um aspecto da pessoa unificada, a totalidade do ser
do indivíduo é afetada (COLLINS, 2002, p. 49).

8
O livro de provérbios 18.19 diz que o irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas
contendas são ferrolhos (empecilhos para uma relação amigável) de um castelo. BÍBLIA. Português.
Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. Ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
Edição revista e atualizada no Brasil.
10

Friesen testifica essa afirmação quando expressa que “o salmista experimentou


essa inter-relação das dimensões humanas muito nitidamente, quando ao confessar seu
pecado de adultério [...]” (FRIESEN, 2012, p. 24). Nessa conjuntura, Friesen ainda
descreve:

Essa postura entende que essas dimensões do ser-humano têm uma


interferência mútua. Uma integra a outra. Uma interfere diretamente
na outra. As dimensões humanas interagem entre si. Se uma dimensão
sofre um abalo, estímulo ou impulso, influencia diretamente e em
proporções semelhantes às outras. Por exemplo, uma doença física
“abate” também a alma e o espírito. Da mesma maneira, pecados não
perdoados “abalam” a alma (pensar, decidir e sentir) e afetam também
o corpo (FRIESEN, 2012, p. 24).

Collins também pontua sobre a importância de não se negligenciar o lado


espiritual no aconselhamento. Torna-se, então, uma área indispensável para o equilíbrio
da “homeostase” 9 Acerca do lado espiritual o autor, também, afirma:

O aconselhamento que omite a dimensão espiritual é fútil em última


análise. Pode amontoar tesouros na terra para o ajudador, mas nada faz
para preparar os ajudados para a eternidade ou para ajudá-los a
experimentar a vida abundante na terra – abundância esta que somente
vem com a dedicação a Cristo (Jo 10:10) (COLLINS, 2002, p. 20).

Ao analisar-se o lado psicológico, há de se concordar com Titus, quando ele


exemplifica que a origem de um ferimento pode ter sido instalada, através de um
relacionamento frustrante com o próprio pai. Nessa situação, muitos conflitos podem ter
sido acumulados no decorrer da vida, somados com as frustrações do cotidiano. Nessa
circunstância, compreender as raízes do problema posicionaria melhor o/a
aconselhador/a, quando se observa a pólvora que explodiu o lado emocional de um/a
aconselhando/a. Titus confirma:

A ferida pode vir, por exemplo, de um pai ausente, que estava lá


fisicamente, mas não emocionalmente. O filho aprende, então, que
não pode dividir seus assuntos e seus medos mais profundos com seu
pai. Raiva, frustração, e até ódio, criam raízes no coração do filho.
9
A definição de homeostasia no dicionário de Português é fisiologia. Estado de estabilidade do
organismo em relação a funções e composições químicas que fazem parte do corpo; homeostase.
Designação, criada pelo fisiologista Walter Cannon, assinala o processo de regulação através do qual um
organismo permanece em equilíbrio. Disponível em: <http://dicionarioportugues.org/pt/homeostasia>.
Acesso em: 07 Setembro de 2017.
11

Consequentemente, esses estados emocionais se aprofundam com o


tempo, o que faz o comportamento futuro dessas crianças ser, de
alguma forma afetado. Inúmeros homens contam histórias repugnantes
de surras frequentes que levaram de seus pais. Quando ele cresce, a
raiva insuportável e não resolvida do passado se mistura com as
frustrações do cotidiano (TITUS, 2011, p. 60-61).

A base para saber lidar com os fracassos e frustações, começa na infância. Ela
pode ser moldada, aprendida, exercitada. Assim, é necessário saber que muitas
depressões manifestadas em adultos têm as suas raízes encravadas em experiências e
traumas do passado, da infância tais como: experiência, de perdas, desamparos, traumas,
abandonos, separações, violações. Diante disto, Titus enfatiza: “O fracasso da
paternidade é um motivo crucial para a desintegração das famílias, o crescimento das
pragas sociais, o desrespeito à autoridade e todos os males que assolam a sociedade
como um todo” (TITUS, 2011, p. 62).

Hart fala a respeito do tema, explicando: “o dano psicológico também pode


advir da educação que os pais dão aos filhos – negligente, permissiva ou muito
repressora” (HART et al., 2002, p. 69).

Rauchfleisch apresentou uma exemplificação casuística sobre algumas


concepções psicológicas que demonstraram variadas referências teóricas do
entendimento da “gênese e a formação da imagem de Deus” (RAUCHFLEISCH, 2014,
p. 60), para o ser humano, ou mesmo dos inúmeros modelos sobre Deus no desenrolar
da vida. Nesse contexto são vistos vários referenciais, mas mostram, também, que eles
não são unidimensionais. Assim visualizou-se uma diferenciação de cinco dimensões, as
quais ficaram explícitas nas imagens que o/a aconselhador e o/a aconselhado/a tinham
em seu interior, a saber:

Significado de Deus: representações místicas, proteção e ordem,


distante e abstrato, criação e sentido; Comportamento de Deus: dar
apoio, dominar/castigar, passividade; Sentimentos de Deus: atenção de
Deus, sentimentos de rejeição de Deus; Sentimentos em relação a
Deus: proteção/ proximidade, sentimentos de rejeição, temor/culpa;
Sentimentos em relação a Deus: condução/não condução, avaliar e
castigar/ aceitação não valorativa, compreensão empática,
proximidade experimentável, atenção e efeitos pró-sociais
(RAUCHFLEISCH, 2014, p. 60).
12

É importante, então, ressaltar a dimensão do aconselhamento pastoral, dentro da


visão holística, pois esses cuidados apresentados anteriormente trarão uma maior
condição de revigoramento. Uma mudança de vida. No entanto, o/a aconselhador/a,
precisa estar preparado para cumprir essa missão, caso contrário poderão existir muitas
contradições, por isso algumas características seriam de vital importância para tais
pessoas.

Características do/a aconselhador/a

Um/a aconselhador/a poderá desenvolver um trabalho mais eficaz, na medida em


que alguns aspectos sejam entrelaçados na sua maneira de ser e agir, dentro da
comunidade de fé. Seria observar algumas características, as quais, estando envolvidas
na pessoa do/a líder, possibilitariam uma melhor capacitação no aconselhamento
pastoral e, consequentemente, poderiam ajudar os/as aconselhandos/as a se ajustarem
melhor, dentro dos seus conflitos.

Em relação à responsabilidade do/a conselheiro/a, Friesen procura expressar da


seguinte maneira: a responsabilidade do conselheiro é “assistir” 10 ao aconselhando
enquanto este busca seus recursos para ajustar-se, para resolver seus conflitos.
““Assistir” no sentido de estar presente, de auxiliar, de ajudar, de favorecer” (FRIESEN,
2012, p. 19).

Nessa conjuntura, pode-se observar a base primordial do conselheiro pastoral –


sua estrutura espiritual. Segundo Collins, há três características cruciais para o líder
cristão: obediência, amor e frutificação. O autor relata:

Um discípulo é uma pessoa que é dedicada e obediente à Pessoa e


ensinos do Mestre. Cristo exigia a submissão absoluta à Sua
autoridade, a completa devoção à Sua Pessoa, confiança na Sua
Palavra, e fé na Sua providência. Os discípulos eram aqueles que,
depois de terem convicção da veracidade da Palavra, dedicavam-se
completamente à pessoa que os ensinara. Nem todos os cristãos se
comprometem totalmente a serem discípulos de Jesus Cristo, mas
todos os cristãos devem revelar pelo menos algumas características do
amor. É uma contradição em termos pensar que alguém pode ser um

10
Conforme expressa Friesen, a palavra assistir recebe aspas, provavelmente, para chamar atenção do
leitor, em relação à presença, ao auxílio, à ajuda e ao favor dado pelo/a conselheiro/a ao aconselhando/a,
de acordo com a sua própria explicação dada em seu livro. (FRIESEN, 2012, p. 19ss).
13

verdadeiro seguidor de Cristo e não ser amoroso. A frutificação...


Jesus emprega a ilustração de videiras que não estavam produzindo
uvas. A melhor coisa para tais sarmentos, segundo Ele disse, é serem
cortados da videira e queimados no fogo (COLLINS 2002, p. 11-13).

Friesen descreve algumas características indispensáveis do próprio conselheiro


que auxiliará as respostas num aconselhamento efetivo: “Autenticidade; receptividade
com distanciamento e empatia11 apurada” (FRIESEN, 2012, p. 94). E, acrescenta, ainda:

O conselheiro cristão, o conselheiro pastoral deve ter firmes princípios


cristãos. Precisa ser fortalecido pelo poder de Deus. Deve ter firmes
convicções pessoais, sendo cheio do Espírito Santo (Gl 5.22s) e das
características do seu fruto [...]. E convicções não se estabelecem
apenas como dinâmica mental de lógica e compreensão. A experiência
e a prática estabelecem e firmam as convicções (FRIESEN, 2012, p.
87).

Collins enfatiza os atributos pessoais do conselheiro, apontando a sua


importância ao bom aconselhamento. Dentro dessa uniformidade ele sustenta o assunto
relatando: “Os conselheiros eficazes são bem-sucedidos, não tanto por causa da sua
orientação ou técnicas teóricas, mas sim, por causa da sua empatia, calor e
autenticidade” (COLLINS, 2002, p. 26). Não podemos menosprezar o aperfeiçoamento
em métodos e conhecimentos específicos a serem exercitados no aconselhamento
pastoral, pois essas experiências somam para um melhor resultado dessa missão. Nesse
sentido Friesen confirma:

É claro que o treinamento em métodos e técnicas, o embasamento


teórico sobre aconselhamento pastoral, os estudos sobre o
desenvolvimento do ser-humano e de sua personalidade são
fundamentais e podem ajudar o conselheiro. O conselheiro pastoral
precisa de informações básicas sobre o comportamento humano. As
qualidades e as habilidades do conselheiro podem e devem ser
desenvolvidas (FRIESEN, 2012, p. 86-87).

11
Empatia – essa palavra tem sua origem no grego e quer dizer “sofrimento com”. É a
sensibilidade do terapeuta para com os sentimentos existentes, e é também a facilidade para comunicar
esses sentimentos ao aconselhando de maneira reflexiva, verbal e analógica. E essa devolução dos
sentimentos percebidos é sintonizada com os sentimentos atuais do aconselhando. Empatia no fundo é
amor “ágape”. (FRIESEN, 2012, p. 96).
14

Portanto, para uma ajuda eficaz, é saudável obter uma percepção de aprendizado
contínuo, visto que há uma infinidade de personalidades nos seres humanos, ou seja,
cada pessoa é única, e se manifesta de forma particular a cada conjuntura. É necessário
encontrar-se pessoalmente com os indivíduos e suas feridas.

Nesse entendimento, Clinebell nos ensina que o ministério pastoral precisa “[...]
empregar dimensões diferentes de sua personalidade multifacetada, em resposta às
necessidades variáveis de aconselhandas12 diferentes” (CLINEBELL, 1987, p. 18).
Podemos lembrar-nos de alguns exemplos citados por Friesen, a cada situação13 “abuso
sexual, medos e fobias que não possuem causas racionais e evidentes, um sonho que
angustia14, uma depressão que se instalou, tentações sexuais difíceis de vencer, [...]
violência familiar, dificuldades na educação dos filhos [...] e muitos outros” (FRIESEN,
2012, p. 46-47).

Numa sábia direção, Clinebell endossa as aptidões essenciais de apoio que


aconselhadores precisam descobrir e, sucessivamente, poderia haver um melhor
resultado na assistência conferida. São comportamentos indispensáveis a serem
praticados pelo conselheiro, tais como:

Comportamento atencioso e solícito [...]; Convidar a pessoa a falar


sobre assuntos significativos [...]; Ouvir e observar cuidadosamente
mensagens não verbais; Seguir a iniciativa da pessoa, evitando mudar
de assunto [...]; Responder empaticamente [...]; Buscar clarificação
[...]; Explorar áreas significativas que a pessoa não abordou [...] e
efetuar confrontação na medida que for necessária e apropriada [...]
(CLINEBELL, 1987, pág. 89).

12
Explicação importante de Clinebell a respeito do seu livro que inclui o detalhe da expressão
“aconselhanda”: “Para corresponder à intenção do autor, que utiliza uma linguagem inclusiva (isto é, que
inclui ambos os sexos empregando sempre as formas masculina e feminina “he or she”, ao referir-se ao
pastor ou à pastora, p. ex.), e, ao mesmo tempo, para simplificar o texto em português, resolvemos utilizar
as formas masculina e feminina alternadamente ao longo do texto (com algumas exceções). Isto significa
que, em um ou mais blocos ou seções, é empregado apenas o feminino ou o masculino (pastora ou pastor,
p. ex.) para referir-se tanto a mulheres quanto a homens. Exceções constituem as passagens em que o
autor se refere somente a homens ou somente a mulheres. Estes casos estão assinalados explicitamente ou
são evidentes a partir do contexto imediato. Em outros casos, utilizamos, para maior clareza, ambas as
formas”. (CLINEBELL, 1987, p. 11).
13
Clinebell traz também algumas situações vividas por muitos que bloquearam o crescimento em
direção à integralidade. (CLINEBELL, 1987, p. 29).
14
Devemos lembrar que há dois tipos de angústia: real e neurótica. Enquanto a real é desencadeada por
um conflito real e representa um sinal adequado à situação para um acontecimento a ser esperado de fato,
a angústia neurótica emerge de um conflito neurótico de um modo totalmente inadequado à situação do
momento e leva de roldão o ego da pessoa em questão. (RAUCHFLEISCH, 2014, p. 69).
15

Há outra pontuação interessante, vista por Friesen, quando se observa o impacto


causado pelo líder em relação ao seu modo ético de agir. São motivações as quais levam
as pessoas a procurarem um conselheiro cristão, em outras palavras, seria compreender
as expectativas que impulsionaram essa escolha. Nessa situação o escritor exemplifica:

As pessoas levam seus problemas a conselheiros que transmitem


empatia e aceitação incondicional. [...] Levam a conselheiros de quem
gostam, [...] a quem respeitam, [...] que manifestam seu interesse em
aconselhar [...] e que elas sabem que são ou imaginam serem
competentes para aconselhar, [...] nos quais confiam no sentido de que
obedecem rigorosamente a uma ética de sigilo profissional, [...] que
conhecem Deus. (FRIESEN, 2012, p. 70-80).

Outra característica imprescindível na vida do aconselhador seria uma vida


equilibrada, através da exploração dos recursos espirituais 15. Essa prática não apenas
direciona o ministério a um melhor atendimento, mas é o meio pelo qual traz saúde
psicológica do/a pastor/a-conselheiro/a. Exercer essa dinâmica traz estabilidade tanto
para o aconselhador, quanto ao aconselhando.

Nas Escrituras bíblicas podemos descobrir inúmeras formas de apoio emocional


e, consequentemente, uma balança saudável no aconselhamento. Seria frágil demais
desprezar os conselhos nela contidos. Entre diversas maneiras de aplicar a Bíblia
Sagrada, no aconselhamento pastoral, cabe seguir a orientação de Clinebell que se
baseiam em “permitir que a sabedoria aponte o processo, o espírito e os objetivos do
aconselhamento” (CLINEBELL, 1987, p. 119). Ao exercitar o trabalho de orientação
pastoral, a Bíblia Sagrada e sua mensagem, quando visualizada kerigmaticamente (uma
metodologia que busca compreender a essência da mensagem), traz um resultado
bastante atualizado na vida de ambos, dentro de uma sessão de instrução.

Para o/a pastor/a cria-se uma segurança, na medida em que a Bíblia Sagrada
torna-se seu principal fundamento. Para o/a aconselhando/a as Escrituras Sagradas
podem potencializar as forças dos enfraquecidos e redimensioná-los a uma nova
perspectiva de visão. Titus desperta sobre os cuidados sancionados por Deus, através de
uma nova identidade16, relatando que “compreender como Deus vê você e como
15
Bootz alerta sobre a importância da aplicação dos recursos espirituais, os quais justificam a prática do
aconselhamento pastoral, dentro dessa visão cristã. “A inclusão de outros recursos é positiva e auxilia a
prática do aconselhamento pastoral, na medida em que os recursos espirituais, essenciais ao Evangelho,
não se tornam escamoteados”. (BOOTZ, 2003, p. 312ss).
16
Seria importante concordarmos com o autor, quando ele diz: “você deve concordar com o Senhor
e saber o quanto é especial. Na verdade, o Pai projetou sua vida antes da fundação do mundo”.
16

valoriza é a chave para mudar a maneira como você se vê e se avalia” (TITUS, 2011, p.
13).

Bootz adiciona outro recurso necessário para um bom aproveitamento no


aconselhamento pastoral. Poderia se dizer uma característica de consolo e compaixão. A
imposição de mãos. Ele relata: “a imposição de mãos é holística, pois abarca o ser-
humano nessas diferentes dimensões, oferecendo conforto físico, mental e espiritual”
(BOOTZ, 2003, p. 295). Nesse diálogo Hoch acrescenta:

A imposição de mãos é um recurso espiritual porque não está sob


nosso controle. Nem da razão. E, por enquanto, nem das ciências
humanas. Sua força e atuação estão nas mãos do Espírito, que sopra
onde e quando quiser. Um aconselhamento pastoral energético,
segundo o que expressa Paulo em Romanos 1.16, é um ato de poder
divino. O momento da imposição de mãos é um momento sagrado,
pois nele a saudade do lar, de Deus Pai, do espaço do amor que acolhe
em misericórdia gratuita é sagrada. (HOCH, 2008, p. 114-115).

É um recurso fundamental para aqueles que esperam transmitir cura, apoio,


orientação e reconciliação. Às vezes, a menor ação de um toque 17 pode ser um veículo
de comunicação, de amor e de aceitação pessoal.

Outro atributo indispensável do orientador cristão está centralizado na oração 18.


Todas outras qualidades citadas são importantes, mas tornam-se mais eficazes quando
estão fundamentadas numa prática de intimidade com Deus. Uma necessidade diária.

Poderíamos, então, compreender uma nova identidade espiritual e enxergar como Deus acolhe e se
importa com o ser – humano. Essa visão colaboraria com a prática da sessão de aconselhamento. (TITUS,
2010, p. 10ss).
17
Dentro desse assunto há um livro bastante promissor que discorre sobre toque significativo.
TRENT, John; SMALLEY, Gary. A bênção: O poder das palavras abençoadoras na família. Rio de
Janeiro: Central Gospel, 2013. O livro proporciona conselhos sólidos e práticos, bem como uma nova
perspectiva sobre como transformar esse ato, em uma parte maior de nossa família. A bênção expressa,
poderosamente, esses elementos baseado na Bíblia como algo necessário à preparação de crianças para
relacionamentos positivos no futuro, inclusive no relacionamento delas com um Deus amoroso. E se
perdermos, contudo, a chance de ganhar a bênção em nossa vida? O livro traz esperança para reverter às
circunstâncias e ajudar os leitores a encontrarem a bênção mesmo em situações de divórcio, morte,
abandono, adoção e família com filhos de outros casamentos.
18
Bootz enfatiza dois tipos de oração: a oração meditativa e a contemplativa. O diferencial está na
maneira de nutrir esta harmonia com o Espírito Santo; na oração meditativa, a sintonia é mediada por
objetos, exigindo certo uso da mente racional. Na oração contemplativa não há intermediários. (BOOTZ,
2003, p. 160). Clinebell pontua: “oração e meditação são disciplinas devocionais complementares que
podem enriquecer-se mutuamente. É claro que há muitas formas de oração”. (CLINEBELL, 1987, p.
123).
17

Um tempo valioso e, muitas vezes, silencioso, confiado ao verdadeiro conselheiro,


como dito por Clinebell: “Em linguagem tradicional: Em nosso aconselhamento, é
importante orar em silêncio por abertura para a presença do Espírito Santo, o “Grande
Aconselhador” [...]” (CLINEBELL, 1987, p. 128).

Como podemos entender, “A oração é a ligação direta com Deus, aquele que
conhece o mais profundo da existência do aconselhando. E é a Ele que se deve recorrer
diante de qualquer problema e opressão” (FRIESEN, 2012, p. 157). Um recurso
indispensável e uma das características imprescindíveis dentro de uma sessão de
aconselhamento, principalmente nos momentos de dificuldade.

Considerações finais
Esse artigo possibilitou a reflexão do aconselhamento pastoral através de uma
perspectiva holística. Nessa visão, pode-se direcionar os cuidados pastorais por meio
desse viés, porque as dimensões dos seres humanos estão inter-relacionadas. Um
cuidado holístico que possibilite um amadurecimento, dentro da comunidade de fé.

Uma direção oportuna de possíveis restaurações, ou seja, a visão holística pode


ser vista como um caminho de grande oportunidade e mudança na vida do/a
aconselhando/a, pois, nessa conjuntura, o/a conselheiro/a poderá identificar, mais
detalhadamente, possíveis bloqueios e distorções de personalidades. Esse método
enxerga os seres humanos como possuidores de inúmeras riquezas e potencialidades, as
quais ainda não haviam sido descobertas ou foram abafadas e/ou, ainda, não foram
desenvolvidas no decorrer da vida. É um caminho de reposicionamento de identidade
do/a aconselhando/a.

Nessa descoberta, observamos a poimênica como um ministério de inclusão de


cura e crescimento, dentro da comunidade de fé. Nesse desafio, o cuidado holístico pode
ser visto como um método eficaz, o qual precisa ser realizado durante todo o ciclo da
vida, pois quando se obtém uma compreensão de cada estágio da vivência do ser-
humano, poderá ser plausível a aplicação de alguns programas de poimênica e
aconselhamento pastoral, com o intuito de recuperar e acrescentar valores, como foi
exemplificado no item nomeado nesse artigo como “a ajuda preventiva”.
18

Foi refletido, também, acerca do insight, conforme é afirmado no livro do autor


Clinebell e descrita essa informação dentro deste trabalho, pois quando esse estado é
despertado numa pessoa, ela poderá se libertar das opressões e experiências dolorosas
do passado e, também, compreender melhor o porquê e/a origem de alguns conflitos
presentes. Há um estado de conscientização das raízes dos problemas, observado/a
pelo/a aconselhando/a, na medida em que o aconselhamento é exercitado dentro de um
relacionamento de confiança e empatia. Dentro dessa observação, as características do/a
aconselhador/a tornam-se fundamentais na prática do aconselhamento.

Sendo assim, essa pesquisa apresentou algumas características importantes que


necessitam estar entrelaçadas na vida do/a aconselhador/a, possibilitando desenvolver
uma teologia que evidenciasse libertação e crescimento. Seriam caminhos de exemplos
e práticas. Essas características desaguam em maneiras saudáveis para expressar uma
maior assistência à comunidade de fé, dentro da sua integralidade. Esse caminho
provoca uma maior estabilidade dentro de uma sessão de aconselhamento pastoral.

Nessa circunstância, pode-se dizer: Um equilíbrio da homeostase dentro de um


cuidado holístico (um esforço para que as inter-relações humanas estejam envolvidas
dentro de uma harmonia) na vida do/a aconselhador/a e, também, na vida do
aconselhando/a, tornando-se um meio de ensino e aprendizagem.

A presente pesquisa possibilitou a verificação de que o cuidado holístico é uma


possibilidade para o aconselhamento pastoral.

Certamente, essa temática merece ainda maiores reflexões e aprofundamentos.


Entretanto, espera-se que este estudo tenha colaborado com o tema proposto, e,
futuramente, provoque, ainda mais, estudiosos/as a acrescentarem novos
desdobramentos em relação a essa temática tão desafiadora.

Referências bibliográficas em suporte impresso

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. Ed.


Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
19

CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação


e crescimento. Tradução de Walter O. Schluppo e Luis Marcos Sander. 5ed . São
Leopoldo: Sinodal, são Paulo: Paulinas, 1987.

COLLINS, Gary R. Ajudando uns aos outros pelo aconselhamento. São Paulo:
Edições Vida Nova, 2002.

FRIESEN, ALBERT. Cuidando do ser: Treinamento em aconselhamento pastoral.


Curitiba. Editora Evangélica Esperança, 2012.

HART, Archibald; GULBRAND, Gary; SMITH, Jim. Os desafios do aconselhamento


pastoral: soluções práticas. São Paulo: Vida Nova, 2002.

HOCH, Lothar Carlos; Heimann, Thomas. Aconselhamento Pastoral e


espiritualidade. São Leopoldo: Sinodal, 2008.

RAUCHFLEISCH. Udo. Quem cuida da Alma? Controle de fronteiras entre


psicoterapia e poimênica. São Leopoldo/ RS: Editora Sinodal, 2014.

SCHIPANI, Daniel S. O caminho da sabedoria no aconselhamento pastoral. São


Leopoldo: Sinodal, 2003.

TITUS, Larry. Teleios: O homem completo. Rio de Janeiro: Graça, 2010.

TRENT, John; SMALLEY, Gary. A bênção: O poder das palavras abençoadoras na


família. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2013.

Referências bibliográficas em suporte digital

BOOTZ, Everton Ricardo; HOCH, Lothar Carlos (Orient.). “Consultei a Deus, ele me
respondeu, e me livrou de todos os temores”: O uso de recursos espirituais no
aconselhamento pastoral. 2003. Dissertação (Doutorado em Teologia) – Escola Superior
de Teologia, São Leopoldo (texto eletrônico). Disponível em: <http:
20

//www3.est.edu.br/biblioteca/btd/Textos/Doutor/bootz_er_td34>. Acesso em 10 de
setembro 2017.

DICIONÁRIO Português. Disponível em: <http://dicionarioportugues.org/pt/homeostasia>.


Acesso em: 07 Setembro de 2017.

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