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Curso Método Vestibulares

Apostila de

Redação
Dicas para escrever melhor

ORGANIZADOR: JOSÉ NERES


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 2

INÍCIO DE CONVERSA

Vamos começar de um modo diferente. Vamos iniciar nosso trabalho lendo algumas da
famosas Pérolas dos Vestibulares, que são facilmente encontradas em várias páginas da
Internet. Vamos torcer para que durante o ano vocês não consigam escrever nada parecido. A
situação é triste, mesmo assim, divirta-se!

Algumas perólas da redação do vestibular 2003 da Unicamp - Universidade de Campinas.

Tema: A mudança é indubitável, mas progresso é uma questão controversa. Por isso todas
falam de evolução, mudança, progresso...
"A mudança sempre ocorreu e sempre vai ocorrer. Ela ocorre para os seres vivos, mortos, para
o concreto, para o abstrato (idéias)."

"Desde o seu surgimento o homem galopou pela escala orgânica, tendo seu cérebro como
montaria, pois anda a frente das demais espécies, dominando-as a seu favor."

"As mudanças ocorrem devagarosamente."

"Dificilmente vamos encontrar mudanças ou progressos que são positivamente bons para
ambas as partes."

"Pode-se notar que o homem só conseguiu ir para diferentes lugares do mundo a partir dos
primatas, que desenvolveram a roda, tendo como conseqüência a possibilidade de conhecer
culturas variadas."

"Desde a priori aos tempos remotos..."

"Antigamente ao bater uma carroça na outra dificilmente alguém morria, hoje após a evolução,
milhares morrem em acidentes de carro."

"O homem progrediu as custas de outros, como Frankstein, que deu vida a uma criatura,
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adquiriu a evolução mas não teve bom êxito com o monstro criado. Já que este monstro não
tinha noção da sua força e deformação."

"Pode até ser por acidente. Tropeçamos no progresso, caimos na mudança e levantamos na
evolução."

"Tudo vem dos seres vivos, até os seres não-vivos."

"E o Homo Sapiens continua seu progresso: desmatando, poluindo e usando desinfetantes, só
para dar cheirinho no seu banheiro."

"Eu, particularmente, desenvolvi uma cabacidade de raciocínio e argumentação incríveis."

"Como diz o ditado: é duro agradar a pobres e troianos."

"Todos os seres evoluem, cada um com a sua evolução, pois somos todos individualistas."

"O homem tem a capacidade infinita de evoluir, mas não sabe utilizá-la de forma segura e
promíscua."

"Os próprios seres humanos somos mudanças ambulantes."

"A falta de consideração para com a natureza ocorre devido a falta de maturidade da cabeça e
dos pensamentos humanos."

"Somos a própria imagem da evolução refletida no espelho do progresso."

"O mundo está reagindo as reações que o homem está fazendo."

"Sonhamos com um mundo melhor, visto que o dinossauro cedeu lugar ao cachorro, gato..."

"Os aminoácidos foram os primeiros habitantes da terra..."

"Fazendo uma comparação das proezas do coelho que se reproduz em grande quantidade, os
humanos já venceram com maior número populacional."

"Segundo a terceira lei de Newton, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."

"A cultura mudou, os costumes mudaram, até os dentes dos nossos bisavós eram diferentes,
temos dentes a menos."

"Após cinco anos de sua introdução à sociedade, havia concluído dois cursos superiores e
penetrado na vida política."

"O macaco é descendente do homem."

"FMI, gente que nunca veio aqui e nem sabe o que é sofrer..."
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"O filósofo Nich do início o século já observava que a evolução geréri a teria que ser de
forma moderada..."

"Porém o mundo anda em rogresso as grandes maioridades das vezes."

"Os maias, por exemplo, puco se sabe sobre essa civilização, muitos a reditam que eles
chegaram a tal ponto evolu tivo que transcenderam. Ou mesmo as civiliz ações dos cristais que
ocuparam o planeta há mui to tempo
atrás e que obtinham todos os seus poderes dos cristais."

"Ainda não se sabe alcerto qual foi..."

"Estamos no apse do mund o digital."

"Tivemos uma longa conv rsa de cinco minutos..."

"Hoje sou antropófago..."

"Anafaquistão, um país qu derrubou as torres e que tem como deus um tal de Bilack..."

VAMOS AGOR FALAR DE ALGO MAIS S RIO


É quase chegada a hora do vestibular e, novamente, a agrura da
decisão de toda uma vida escolar através de apenas um grupo de
provas começa a atormentar a vida dos es tudantes. Isso é normal.
Novamente vamos ouvir falar que redaçã o é um monstro de sete
cabeças, que escrever é muito difícil, que saber elaborar um bom
texto é um dom divino, etc.etc. etc...
Nossa idéia é tirar todas essas “le ndas” sobre redação de
sua cabeça. É possível sim ser um bo redator sem ter sido
agraciado com os presentes dos deuses. No decorrer deste ano,
iramos estudar os modos de como escre ver um texto eficiente,
sem, no entanto, precisar d corar “receitas” ou fórmulas prontas.
Antes de passarmo para as aulas práticas, é bom sempre lem rar que tão importante
quanto escrever é saber ler os textos alheios, pois é através da leitura q ue iremos descortinar o
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universo das idéias dos o tros. Como há uma grande carência de gê ios no mundo atual, é
sempre bom que nos apoi mos naquilo que os mais experientes nos eixaram como herança
cultural, sem, contudo, fa zer de nossos textos meras imitações do q ue já lemos em outras
páginas. Nosso cronogram de trabalho é repleto de texto dos mais va iados autores, dos mais
variados estilos, tudo iss para que você possa entrar em contato com alguns dos mais

significativos pensadores d e nossa língua.

SOBRE O ATO D ESCREVER


José Neres

Para a maioria das pessoas oficialmente alfabetizadas, o ato de


escrever equivale a um terrível castigo. A fo lha em branco toma a
di ensão de um monstro implacável e invencí vel. No pensamento, as
idéias até que fluem normalmente, organizam-se em blocos mais ou
menos harmônicos e se alinham sem maiores roblemas. Mas na hora
de passá-las para o papel...
É na hora de pôr as idéia no papel que verdadeiro drama tem
início. O que parecia ment almente organizado desmorona e, como nu passe de mágica, tudo
se torna sem nexo. Os pen samentos tropeçam nas palavras escritas e a s mãos teimam em não
obedecer às ordens do cére bro. A angústia de não conseguir traduzir as idéias em sinais escritos
costuma, grande parte das vezes, desestimular a quem não está acostu ado com as artimanhas
da mais vã das lutas, con orme disse Drummond: “Lutar com palavr as é a luta mais vã, no
entanto lutamos com elas mal rompe a manhã”. Deve-se, então, com receita o grande poeta
mineiro, aceitar o combate.
Com o tempo, se a pessoa não se entregar ao desânimo e ao im perativo da desistência,

perceberá que é normal pe der o fio do raciocínio durante a elaboração e um texto. Poucos são
os que conseguem ir da in rodução à conclusão sem que a linha do pe samento sofra qualquer
interferência interna ou externa.
Ver a escrita como um terrível desafio é a forma mais simplis ta de propagar a antiga
idéia de que escrever é u m dom recebido apenas pelos “iluminados . Restando, então, aos
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outros pobres mortais apenas a tarefa de ler o que os “gênios” escreveram. Ora, se escrever
fosse unicamente um dom, de nada adiantaria estudar, para nada serviriam os anos e mais anos
que passamos diante de livros, na ingente busca de um aprimoramento intelectual.
Mais do que uma questão de dádiva divina, escrever é uma constante tarefa de prática e
de aperfeiçoamento. De nada adianta ficar lendo manuais de “como escrever bem”, se a pessoa

não estabelece para si um programa de treinamento que busque melhorar a expressão escrita.
Além disso, não se pode esquecer também de que a leitura tem uma importância vital para
quem almeja dominar as palavras no papel. Sem ler, ninguém consegue ter idéias e argumentos
para desenvolver. A leitura (em todos os níveis) é uma espécie de mãe da escrita, uma vez que
é a partir dela que o homem armazena conhecimento para fundamentar as próprias teses ou
mesmo para compreender as motivações alheias.
Escrever é um desafio? Claro que sim. Mas a velha expressão “eu não sei escrever
deveria ser substituída por outra bem mais coerente: “eu não estou acostumado a escrever”.
Afinal, não se pode gostar daquilo que não se conhece direito. Para sair vitoriosa desse desafio,
cada pessoa deve tomar consciência de que a prática constante e sistematizada é o caminho
1
mais curto para perder o medo de enfrentar uma folha em branco.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Temos a seguir, algumas das perguntas mais freqüentes por parte daqueles que desejam
ingressar em um curso superior e que temem os desafios impostos pela famigerada redação.
Claro que nem todas as dúvidas estão elencadas no questionário abaixo, então você terá o
direito (e até mesmo o dever) de também expor seus questionamentos.

01. É VERDADE QUE É MAIS FÁCIL FAZER DISSERTAÇÃO QUE NARRAÇÃO OU


DESCRIÇÃO?
RESPOSTA: Não existe essa história de dizer que um tipo de texto é mais fácil que outro.
O que pode acontecer é alguém estar mais treinado em uma forma ou outra de escrever. Na

1
NERES, José. Estratégia para matar um leitor em formação . São Luís: Carajás, 2005. pág. 71-73
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verdade, nada é fácil. Tudo (tudo mesmo) depende do esforço de cada indivíduo na tentativa de
tira o melhor de si em cada situação.

02. PARA FAZER UMA DISSERTAÇÃO É PRECISO ESTAR BEM INFORMADO?


RESPOSTA: Sem dúvida alguma! Estar informado é um dos requisitos básicos para quem

pretende dissertar, pois, para que se desenvolva coerentemente um raciocínio, é preciso que se
esteja seguro daquilo que está sendo defendido. Ler jornais e revistas, assistir aos noticiários e
analisar criticamente a realidade devem ser tarefas do cotidiano, uma vez que servirão de
alicerce para outras informações que surgirão com o tempo.

03. TODA DISSERTAÇÃO DEVE APRESENTAR OBRIGATORIAMENTE TRÊS


PARÁGRAFOS?
RESPOSTA: Obrigatoriamente três parágrafos?!? Isso não existe. O que ocorre é que
sempre foi sugerido aos vestibulandos o número MÍNIMO de três blocos para que as idéias
ficassem organizadas em introdução, desenvolvimento e conclusão. O que não significa, em
hipótese nenhuma que um texto não possa ser trabalhado em um número maior de parágrafos.
O candidato jamais deve ficar preso às pseudo-regras de escrita. Deve, sim, é lutar para
conseguir coordenar seus pensamentos de um modo prático, lógico e coerente.

04. EU POSSO ME INCLUIR EM MEUS TEXTOS?


RESPOSTA: Aí está um assunto bastante melindroso! Antigamente, pedia-se que todo
texto dissertativo mantivesse seu tom de impessoalidade, isto é, que o redator não deixasse que
o leitor identificasse a “voz” do autor nas possíveis críticas constantes do texto. Mais
recentemente, já se encontra defensores do uso de verbos na primeira pessoa do plural, o que
deixa entrever um certo grau de subjetividade. O que todos desaconselham veementemente é o
uso do pronome Eu em dissertações, por deixar o texto com uma aparência pouco crítica,
principalmente quando aparece seguido do verbo achar, que , por sinal, deve ser abolido de seu
vocabulário.

05. QUAL É O TIPO DE VOCABULÁRIO MAIS ADEQUADO PARA UMA DISSERTAÇÃO?


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RESPOSTA: Já demos uma pequena dica sobre isso no tópico anterior, mas nunca é
demais complementar uma idéias com mais alguns detalhes. Algumas pessoas acreditam que o
sucesso de uma redação está no uso de palavras difíceis e de termos pomposos. Mera ilusão!
Quem vai ler um texto escrito para concurso não está interessado em saber se o vocabulário é
rico, mas sim se as palavras foram empregadas adequadamente e se conseguem traduzir com

lógica o pensamento do candidato sobre o assunto. Portanto, é sempre bom fugir da tentação de
mostrar erudição. O melhor mesmo é usar palavras simples, sem cair, porém no simplismo e na
vulgaridade.

06. EM TEMAS POLÊMICOS, DEVO DEFENDER UMA IDÉIA OU FICAR EM CIMA DO


MURO?
RESPOSTA: Os chamados temas polêmicos (aborto, pena de morte, incesto, eutanásia...)
geralmente pedem um posicionamento crítico por parte do redator. O fato de tomar ou não um
partido fica aquém do fato de saber argumentar sobre o ponto de vista adotado. O candidato
pode pender para ou lado ou para o outro, mas sempre deve ter em mente que, ao defender suas
idéias, deve ser coerente do começo ao final do texto, evitar contradições e jamais escrever
movido apenas pela emoção e pelo chamado “achismo”, ou seja, pelo que “acha” que deve ser.
Quanto ao “ficar sobre o muro”, há temas que devem ser analisados sob os dois aspectos, o
positivo e o negativo e outros que pedem uma tomada de posição, então, antes de escrever, é
importante prestar atenção no tipo de tema a ser trabalhado.

07. QUANTAS LINHAS DEVE TER UM TEXTO DISSERTATIVO?


RESPOSTA: A rigor, não há um número determinado de linhas, o que há é a
recomendação quanto ao número mínimo (geralmente 20) de linhas. É sempre bom ler com
atenção o Manual do Vestibulando, pois cada universidade tem seus próprios critérios sobre
esse assunto.

08. POSSO FAZER CITAÇÕES EM MEUS TEXTOS


RESPOSTA: Não só pode como deve! Contudo as citações devem estar contextualizadas,
ou seja, não se deve citar apenas para alcançar um determinado número de linhas. Ao recorrer a
trechos de outrem, é sempre bom fazer algumas reflexões, como por exemplo: a relevância do
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autor citado para o assunto; a adequação do trecho ao tema; a capacidade do redator em


desenvolver a idéia constante na citação. É importante também que se diga o autor da citação e
que se faça alguns comentários a respeito do fragmento utilizado.

09. POSSO FAZER MEU TEXTO EM FORMA DE POESIA?

RESPOSTA: Nem pensar!!! As universidades querem analisar o seu grau de coerência e de


atualização sobre determinado assunto. Não interessa para ela o fato de você ter ou não alguma
veleidade literária. Geralmente, os próprios manuais já trazem a informação de que o texto deve
ser escrito em PROSA.

10. O QUE ACONTECE SE EU FUGIR AO TEMA PROPOSTO?


RESPOSTA: Infelizmente você estará eliminado. Este é, por sinal, um dos poucos casos
em que a redação é automaticamente anulada, pois se o autor não conseguiu captar a essência
do que lhe foi pedido, não conseguirá elaborar um texto lógico sobre o assunto. Alguns
candidatos, quando percebem que já estão fora do tema, costumam concluir seus texto da
seguinte forma: “De acordo com tudo o que foi visto acima, podemos concluir que...”, o que
não engana os professores mais experientes.

11. QUANTOS ARGUMENTOS DEVO USAR EM MINHA DISSERTAÇÃO?


RESPOSTA: Não há um limite numérico para o número de argumentos utilizados em uma
dissertação, contudo é sempre bom ter em vista o fato de que temos um espaço limitado
(limitadíssimo, na verdade) para o desenvolvimento das idéias. Por isso, não aconselhamos um
acúmulo de argumentos. É melhor trabalhar coerentemente alguns poucos argumentos, que
tocar apenas superficialmente em uma grande quantidade de idéias fragmentadas.

12. PODE HAVER DISSERTAÇÃO NÃO CRÍTICA?


RESPOSTA: Há a chamada dissertação expositiva, aquela em que, como o próprio nome já
indica, temos apenas a exposição de fatos, sem que se precise defender uma idéia em si. Porém
tal tipo de texto geralmente é pobre e não chega a alcançar os verdadeiros objetivos de uma
dissertação, que é discutir um assunto de forma clara, coesa, coerente e lógica.
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13. QUE FAZER PARA NÃO FUGIR AO TEMA?


RESPOSTA: Fugir ao tema pode ser uma demonstração de insegurança ou de excesso de
confiança. No primeiro caso, o candidato acredita que nada sabe e que está perdido diante de
um tema aparentemente desconhecido, por isso começa a “atirar” em todas as direções, sem
analisar conscientemente os fatos que está expondo em seu texto. No outro caso, temos um

candidato que acredita que já sabe tudo e que o tema proposto “é moleza”. Ele começa a
escrever compulsivamente, confiante no fato de que, pelo menos à primeira vista, domina o
assunto. Quando chega ao meio do texto, percebe que as idéias estão escasseando e o texto
“não anda” mais. A solução é recorrer a argumentações desligadas do contexto. Para que não se
fuja ao tema, é de primordial importância a elaboração de um plano de trabalho, ou seja, de um
esquema em que o redator fique sabendo desde o princípio quais serão as idéias que aparecerão
em todas as partes do texto.

14. O QUE NUNCA DEVO FAZER EM UM TEXTO DISSERTATIVO?


RESPOSTA: É melhor perguntar sobre o que deve ser EVITADO em um texto
dissertativo. Em primeiro lugar, devemos evitar um vocabulário muito erudito e cheio de
palavras difíceis, bem como também um palavreado chulo e cheio de frases de duplo sentido.
As gírias e os termos técnicos também devem ser banidos (a menos que o tema exija
comentários sobre tal vocabulário). É sempre importante também ser racional, evitando
defender um tema movido por fortes emoções. Temas como política e religião sempre trazem
um forte impacto ideológico, o que pode trazer sérias conseqüências para a coerência e para a
informatividade do texto.

15. POSSO USAR LETRA DE FORMA NA MINHA REDAÇÃO?


RESPOSTA: Embora o Manual do Vestibulando na fale a esse respeito, o normal e
escrever a redação em letra cursiva, principalmente porque, às vezes, a chamada letra de forma
não deixa que o leitor distinga as maiúsculas das minúsculas.

16. LETRA FEIA REPROVA O CANDIDATO?


RESPOSTA: Não. De forma algumas. O que pode reprovar é a letra ilegível, ou seja aquela
que não se deixa ser lida. Uma letra feia, porém legível, tem o mesmo valor que uma letra
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bonita. No entanto, uma letra muito bonita e cheia de curvas pode dificultar a leitura do texto.
Portanto, o importante é não inovar no tipo de letra a ser usada na redação.

17. QUANTAS LINHAS DEVE TER A MINHA REDAÇÃO?


RESPOSTA: Não se aconselha que o texto seja muito longo, ou muito curto.

Normalmente, o modelo ENEM pede um mínimo de 07 (sete!!!!) linhas. Mas não se deve
limitar ao mínimo, pois o ato de contar quantas linhas faltam para que cheguemos ao mínimo
especificado costuma levar o candidato a uma tensão desnecessária. O candidato não deve,
porém, ficar muito entusiasmado com a aparente facilidade do tema e escrever mais do que o
espaço reservado na folha oficial de redação. O ideal é uma redação que se aproxime das 25
linhas ou um pouquinho mais

18. O QUE ACONTECE SE EU FUGIR AO TEMA PROPOSTO?


RESPOSTA: Infelizmente, quando alguém foge ao tema proposto está automaticamente
eliminado, pois sua redação não poderá receber uma nota por um texto que, na prática, não foi
escrito.

19. QUAIS SÃO OS TIPOS DE TEXTOS EXIGIDOS PARA O VESTIBULAR.


RESPOSTA: Atualmente, seguindo o modelo ENEM, a única tipologia exigida é a
dissertativa, porém há universidades e faculdades que também pedem outros tipos, como
narração, carta...

20. O QUE É MAIS FÁCIL, FAZER UMA NARRAÇÃO OUUM DISSERTAÇÃO?


RESPOSTA: Isso depende muito do estilo de cada candidato. Como já foi dito antes,
alguns se sentem bem mais à vontade escrevendo um texto narrativo; outros, por sua vez,
preferem redigir textos dissertativos. O importante é que você esteja preparado para elaborar
qualquer tipo de texto.

21. O QUE É TEXTO EM PROSA?


RESPOSTA: Texto em prosa é justamente aquele que você está acostumado a redigir na
escola e no dia-a-dia, ou seja, aquele escrito seguindo o alinhamento das margens e levando a
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as palavras até o limite das linhas. O que não se deve fazer em vestibular é o texto em verso,
isto é, aquele em forma de poema.

22. EXISTE ALGUMA PALAVRAQUE EU NÃO DEVO USAR EM MINHA REDAÇÃO?


RESPOSTA: O texto narrativo é mais livre, porém, caso você escolha o tema dissertativo, evite

usar palavras que expressem pobreza vocabular, como COISA, NEGÓCIO, ETC, E OUTRAS
COISAS MAIS... Evite também a primeira pessoa do singular (EU) e idéias muito subjetivas,
como, por exemplo, PARA MIM, NO MEU PONTO DE VISTA, EU ACHO, ACHAMOS... e
outras que tenham valor semelhante. A menos que o tema peça, não use também gírias e
palavras de baixo calão. Lembre-se. O vocabulário usado deve ser simples, porém elegante

23. DEVO USAR UM TÍTULO EM MINHA REDAÇÃO?


RESPOSTA: Atualmente, algumas universidades já exigem que o candidato crie um título para
seus textos, portanto não se esqueça de pôr um em sua redação. O título deve ter relação direta
com o tema e com o próprio texto escrito, pois é a partir dele que o leitor irá fazer sua idéia
inicial sobre o conteúdo da redação. Um bom título é muito importante para que a leitura seja
agradável.

24. NO CASO DE ESCREVER UMA NARRAÇÃO, POSSO ME BASEAR EM UM FATO


VERÍDICO?
RESPOSTA: Pode sim. Agora, mais importante que o fato de ser ou não baseado em um caso
real é a sua criatividade ao narrar a história. Nada de contar um caso desinteressante. Você deve
valorizar cada detalhe do texto, sem cair na narrativa repetitiva e enfadonha. O leitor deve ficar
preso a seu texto da primeira até a última linha, para só então ter certeza do desfecho.

25. POSSO CITAR ALGUÉM EM MINHA DISSERTAÇÃO?


RESPOSTA Se for pertinente, pode e deve. Mas só cite pessoas que tenham um certo
respaldo para servir de confirmação às suas informações. Nada de citar pessoas apenas por
citar. Tão importante quanto usar uma citação de alguém é ter certeza de que a citação está
correta e saber se ela se encaixa no tema abordado.
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26. QUAL É O NÚMERO MÍNIMO DE PARÁGRAFOS DEDEVA HAVER EM UM TEXTO


DISSERTATIVO?
RESPOSTA: Por uma questão de lógica, o texto dissertativo deve ter no mínimo TRÊS
parágrafos, uma vez que três também são as partes de uma dissertação: introdução,
desenvolvimento e conclusão. Por outro lado, é também bom observar que o uso de um número

exagerado de parágrafos pode ser prejudicial ao texto, por alongá-lo além do número de linhas
reservado para a confecção do texto.

27. COMO EVITAR A REPETIÇÃO DE PALAVRAS?


RESPOSTA: Na maioria dos casos, a repetição de palavras se dá por duas razões: distração e
pobreza vocabular. O primeiro tem uma fácil solução. Basta, ao acabar de redigir, reler o texto
e detectar os pontos problemáticos, substituindo as palavras repetidas por termos equivalentes.
O outro problema é mais sério, pois não depende de um momento de redação para vestibular,
mas sim de uma série de fatores, como falta de leitura e vícios de linguagem. Este último não
tem solução a curto tempo.

28. O QUE É MAIS IMPORTANTE, OS ASPECTOS GRAMATICAIS OU AS IDÉIAS


CONTIDAS NO TEXTO?
RESPOSTA: Durante muito tempo, corrigir redação significava apenas encontrar as falhas
gramaticais de quem redigiu o texto. Hoje os critérios são outros. Dá-se um grande valor às
idéias contidas no texto, à coesão e à coerência gramatical. Contudo, sem uma apresentação
decente (do ponto de vista estético e gramatical) qualquer texto, por mais coerente que seja e
por mais coeso que esteja, deverá, inevitavelmente perder alguns pontos. Logo é importante
não deixar de lado os aspectos gramaticais, principalmente ortografia, pontuação e acentuação
gráfica.

29. POSSO USAR CORRETIVO LÍQUIDO EM MINHA REDAÇÃO.


RESPOSTA: De jeito nenhum. Evite ao máximo borra e/ou rasurar sua prova. Marcas de
corretivo líquido ou rasuras de borracha nunca são bem vistas pela banca de correção das
provas.
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PARECE PIADA, MAS NÃO É...

O texto abaixo passa, à primeira vista, a impressão de que foi elaborado apenas para
servir de exemplo para uma apostila de redação. Mas, infelizmente, a história é bem diferente.
Ele foi escrito por um aluno pré-universitário que recebeu como tema a seguinte frase:
“Futebol: Ópio para enganar a fome de justiça social”. O texto foi transcrito tal e qual estava no
srcinal.

COPA DO MUNDO

Em tempos atuais de nossa atualidade.


A Copa do mundo, um dos grandes esportes nacionais, ou seja,
internacionais de todos os tempos, nações e culturas neolatinas.
Um esporte que, isto é, arrecadam muito dinheiro. Em benefícios esportistas
(um jogador de futebol ganha mais que um presidente da República).
A Inglaterra, quer dizer, inventou o futebol que era chamado entre os padres
ingleses.
UmNo século
tipo XIX ‘soccer’
de esporte que se depois chamado
desenvolveu na ‘gol’.
Inglaterra, mas expandiu-se: no
Brasil.
O Brasil em 1950. Na final da copa do mundo (Brasil X Uruguai) o Brasil
foi derrotado 1x0; no final do 2º tempo.
O Brasil foi tetra campeão mundial, em 1958l, 1960, 1970 e 1994. Tendo
um dos maiores campeões mundiais “João Lobo Zagalo” tendo o currículo 4 vezes
“campeão mundial”.
A grande conseqüência ‘a fome’ que prejudica vários setores da nossa
população subdesenvolvidos, nas áreas urbanas e rurais de todos os estados
brasileiros.
A nossa justiça, ou seja, tendo o custo de vida com um dos maiores índices
de ‘analfabetismo’. Sem contar um governo descentralizado.
Pelé “O Rei do futebol”
marcando um total de 1.297 gols. Sendo 1.200 gols nos campeonatos
regionais: paulista e brasileiro. E fora do país no time chamado Cosmo nos
Estados Unidos...
Um dos maiores artilheiros do Brasil com 97 gols, vem depois o 2°
artilheiro do Brasil Zico chamado “Galinho de Ouro” com 67 gols e depois vem
Romário com 58 gols.
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Edson Arantes do Nascimento.


“O Atleta do Século”. 2

Como fazer uma boa redação

Dominar a arte da escrita é um trabalho que exige prática e dedicação. No entanto,


conhecer seu lado teórico é muito importante. Aqui você encontra um resumo desta teoria.
Aplique-a em seu trabalho, mas não se esqueça: você precisará fazer a sua parte, isto é,
escrever.

SIMPLICIDADE

Use palavras conhecidas e adequadas. Escreva com simplicidade. Para que se tenha bom
domínio, prefira frases curtas. Amarre as frases, organizando as idéias. Cuidado para não
mudar de assunto de repente. Conduza o leitor de maneira leve pela linha de argumentação.

CLAREZA

O segredo está em não deixar nada subentendido, nem imaginar que o leitor sabe o que
você quer dizer. Evidencie todo o conteúdo da sua escrita. Lembre-se: você está comunicando a
sua opinião, falando de suas idéias, narrando um fato. O mais importante é fazer-se entender.

OBJETIVIDADE

Você tem que expressar o máximo de conteúdo com o menor número de palavras
possíveis. Por isso não repita idéias, não use palavras demais ou outras coisas que só para
aumentem as linhas. Concentre-se no que é realmente necessário para o texto. A pesquisa
prévia ajuda a selecionar melhor o que se deve usar.

UNIDADE

2
Esta redação não é inventada, ela foi escrita realmente por um aluno que sonhava com uma vaga na
Universidade.
CURSO MÉTODO VEST BULARES 16

Não esqueça, o tex o deve ter unidade, por mais longo


. Você
que deve
seja traçar uma
linha coerente do começo ao final do texto. Não pode perder de vista ssa trajetória. Por isso,
muita atenção no que escre ve para não se perder e fugir do assunto. Eli minar o desnecessário é
um dos caminhos para n ão se perder. Para não errar, use a segui nte ordem: introdução,
argumentação e conclusão a idéia.

COERÊNCIA

A coerência entre t das as partes de seu texto, é fator primordial para se escrever bem. É
necessário que elas forme um todo. Para isso, é necessário estabele cer uma ordem para as
idéias se completem e f ormem o corpo da narrativa. Explique, ostre as causas e as
conseqüências.

EXEMPLOS

Obedecer uma orde m cronológica é um maneira de se acertar se mpre, apesar de não ser
criativa. Nesta linha, parta do geral para o particular, do objetivo para subjetivo, do concreto

para o abstrato. Use figur s de linguagem para que o texto fique int ressante. As metáforas
também enriquecem a reda ão.

ÊNFASE

Procure chamar a tenção para o assunto com palavras fortes , cheias de significado,
principalmente no início d narrativa. Use o mesmo recurso para desta ar trechos importantes.
Uma boa conclusão é ess ncial para mostrar a importância do assunt o escolhido. Remeter o
leitor à i éia inicial é uma boa maneira de fechar o te to.

LEIA E ELEIA (Escrever não é coisa do outro mu do)


Lembre-se, é fundamental pensar, planejar, es crever e reler seu texto.
Mesmo om todos os cuidados, pode ser que você n ão consiga se expressar
de form clara e concisa. A pressa pode atrapalhar. om calma, verifique se
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 17

os períodos não ficaram longos, obscuros. Veja se você não repetiu palavras e idéias. À medida
que você relê o texto, essas falhas aparecem, inclusive, erros de ortografia e acentuação. Não se
apegue ao escrito. Refaça se for preciso. Não tenha preguiça, passe tudo a limpo quantas vezes
forem necessárias. No computador, esta tarefa se torna mais fácil. Faça sempre uma cópia do
texto srcinal. Assim você se sentirá à vontade para corrigir quanto quiser, pois sabe que

sempre poderá voltar atrás.


(http://www.planetaeducacao.com.br/estudante/atividades/redacao.asp)

UMA DIFÍCIL ESCOLHA

Normalmente, as universidades oferecem mais de uma tipologia textual como sugestão


para a prova de redação. Cabe ao candidato optar por uma ou por outra. Como as opções mais
comuns são narração e dissertação, deixamos algumas dicas para você. Lembre-se de que,
atualmente, no Maranhão, as Universidades estão pedindo apenas textos dissertativos, mas, fora
de nosso Estado, outros tipos de textos continuam sendo exigidos.

Se Você Escolher o Tema Dissertativo

 Defenda suas idéias de forma coerente, sem usar as expressões para mim, eu acho, no meu
ponto de vista...
 Evite escrever movido por emoções fortes. Temas polêmicos sobre política e religião
costumam levar o redator a envolver-se de forma emocional. Cuidado.
 Antes de começar a escrever, leia com atenção o tema proposto e certifique-se de que seus
conhecimentos sobre o assunto serão suficientes para o desenvolvimento do texto.
 Faça uma introdução que dê uma idéia geral do tema, mas sem esgotá-lo completamente. A
introdução deve servir como “aperitivo” para o restante do texto.
 Desenvolva sua redação de modo lógico e claro, evitando o uso de palavras desconhecidas
e de termos exóticos.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 18

 Conclua seu texto de forma clara, sem apelar para o sentimentalismo excessivo.
 Faça uma revisão gramatical antes de entregar o texto ao fiscal.

Se Você Escolher o Tema Narrativo

 Apresente personagens, tempo, espaço e ação de modo a despertar no leitor o gosto por sua
história.
 Se possível, use diálogos. Eles tornam mais leve a narrativa.
 Crie personagens interessantes, que fujam ao padrão de expectativa do leitor.
 Mesmo sem pedir uma linguagem padrão, o texto narrativo não despreza a forma
gramatical, portanto, cuidado com ortografia, pontuação, acentuação...
 As personagens podem ter uma linguagem próxima à oral, mas somente se for algo
fundamental para o desenrolar do enredo. Nada de tentar inovar

Qualquer que Seja a sua Escolha

 Faça sempre um rascunho antes de passar o texto para a forma definitiva.


 Evite borrões
 Não use borracha e/ou corretivo líquido
 Use um vocabulário rico, mas sem ostentação
 Saia do convencional sem tentar ser inovador em demasia
 Preocupe-se com a estética do texto.
 Assine a folha somente no local indicado
 Não amasse nem rasure a folha de redação e...
 Boa Sorte

LEMBRE-SE: Escrever bem não é sinônimo de usar palavras difíceis.


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 19

A ESTÉTICA DO TEXTO

As questões estéticas sempre são polêmicas. Para alguns professores, o que importa de
verdade é o conteúdo do texto; outros, porém, são partidários de que o candidato também não
pode descuidar da parte gráfica da redação. De um modo ou de outro, é sempre bom ter em
mente que um presente apenas razoável pode ser valorizado por uma embalagem bem
chamativa e que, da mesma forma, um produto valioso pode ser menosprezado por não
apresentar um invólucro agradável à vista. Não se trata, claro, de afirmar que o continente seja
mais importante que o conteúdo, mas de deixar bem claro que um pode ajudar o outro.
Mesmo que não queiramos admitir, nosso primeiro contato é com os aspectos exteriores
de algo. A beleza sempre atrai e a essência de alguma coisa ou de alguém é mais facilmente
buscado quando o contato inicial foi satisfatório. Desse modo, é muito mais agradável ler um
texto bem escrito e que tenha sido escrita com uma letra bonita, com margens regulares, sem
borrões e/ou rasuras que enfrentar alguns garranchos escritos de qualquer maneira. Uma forma
ou outra não alterarão o que está escrito. Pode até ser que o texto que não seja tão agradável à
vista traga mais informação que o outro bem arrumadinho, mas, como nos diz o velho e sábio
adágio popular, “a primeira impressão é a que fica”.

Temos, a seguir, algumas dicas e observações para que seu texto tenha uma aparência
mais agradável e para que as pessoas fiquem cativadas pelos aspectos exteriores de seus
escritos. Não se pode esquecer, no entanto, de que de nada servirá um extremo capricho nos
aspectos gráficos, se o conteúdo não estiver suficientemente elaborado para “prender” o leitor.
O mais importante é o equilíbrio entre o visual e as idéias defendidas.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 20

O FANTASMA DA REDAÇÃO*
José Neres

Todos os anos, mal se aproxima a data do vestibular, um


antigo fantasma chamado Prova de Redação volta a freqüentar o
sono daqueles que aspiram a uma vaga em um curso superior. Fica
então uma dúvida: se tal visita tão incômoda já é esperada, por que
não fazer algo para tornar o horrendo fantasma apenas mais uma prova de um dia de concurso?
Em primeiro lugar, é a falta de hábito de escrever e de questionar a realidade o principal
fator de manutenção da idéia de que redigir é uma tarefa desagradável, complexa, cansativa e
traumatizante. Algumas pessoas chegam inclusive a acreditar na falsa idéia de que somente os
iluminados por forças superiores são capazes de produzir bons textos. A falta de prática e uma
certa dose de preguiça mental (no que diz respeito ao questionamento crítico dos assuntos do
cotidiano) levam o vestibulando a interpretar o seu medo de escrever como algo muito natural.
E, sendo tal medo algo normal e comum à maioria, pouco resta a fazer. É mais fácil acomodar-
se às evidências sobrenadantes das dificuldades de redigir, que enfrentar o desconhecido
mundo da escrita.
O excesso de teoria sobre as chamadas técnicas de redação é outro item que desmotiva o
vestibulando. Se alguém resolver preocupar-se com todas as regrinhas ensinadas para a
confecção do texto ideal, fatalmente desistirá de escrever em um curto intervalo de tempo. São
tantas as questiúnculas, que seguir uma implica desrespeitar a várias outras. Detalhes
insignificantes são incutidos na mente do aluno como se fossem verdades incontestes. Desse
modo, argumentos, idéias e criatividade acabam sendo trucidados em nome de uma forma
estética considerada padrão. Para alguns, infelizmente, a aparência do texto escrito tem muito
mais valor que seu possível conteúdo.

A falta de leitura também contribui para que o ato de escrever seja visto como quase
tortura para muitos e privilégio para bem poucos. Há no mercado uma ampla bibliografia
comprovando que o mal maior do vestibulando não é o uso inadequado das normas

*
Texto publicado inicialmente no jornal O Imparcial, no dia 11 de junho de 2001. Parte do livro Estratéias para
matar um leitor em !orma"#o, $#o %u&s, 'araj(s, 200).
CURSO MÉTODO VEST BULARES 21

gramaticais, mas sim a m á concatenação das idéias, o que pode,


parte,
e ser creditado a
problemasdeleitura ede i terpretação de textos. Há também o estudan e viciado em ler apenas
resumos de obras, nunca l endo os livros indicados pelas universidad s. Sem leitura crítica e
sem um trabalho consiste nte com as idéias acerca do que foi lido fica muito mais difícil
defender os próprios pensa entos através da exposição escrita.

Enquanto o estudant estiver mais preocupado com a quantidad de linhas que com as
idéias defendidas, estiver preterindo o texto original em prol de resumo e estiver com medo de
redigir, a redação continua á sendo um eterno fantasma a atormentar su vida.

A apresentação isual da redação


1.1 . O aluno deve preencher corr etamente todos os itens
do cabeçalho com letra legível.

1.2.Centralizar o título na prim ira linha, sem aspas e


sem grifo. O título pode apresentar i terrogação desde que o
texto responda à pergunta.

1.3. Pular uma linha entre o titu o e o texto, para então


iniciar a redação.

1.4. Fazer parágrafos distando mais ou menos três centímetros a margem e mantê-los
alinhados.

1.5. Não ultrapassar as margens (direita e esquerda) e também não d eixar de atingi-las.

1.6. Evitar rasuras e b orrões. Caso o aluno erre, ele deverá anul r o erro com um traço
apenas. .

1.7. Apresentar letra le ível, tanto de fôrma quanto cursiva.

1.8. Distinguir bem as aiúsculas das minúsculas.


CURSO MÉTODO VEST BULARES 22

1.9. Evitar exceder o número de linhas pautadas ou mo


pedidas
limites
co máximos e
mínimos. Ficar aproximad mente entre cinco linhas aquém ou além dos limites.

1.10. Escrever apenas om caneta preta ou azul. O rascunho ou o e sboço das idéias podem
ser feitos a lápis e rasura os. O texto não será corrigido em caso d utilização de lápis ou
caneta vermelha, verde etc. na redação definitiva.

OBSERVAÇÕES:

Números

A) I dade - deve-se es rever por extenso até o nº 10. Do nº 11 e diante devem-se usar
algarismos;

B) D atas, horas e distâ cias sempre em algarismos: 10h30min, 12h , 10m, 16m30cm, 10km
(m, h, km, I, g, kg).

Palavras Estrangeiras

As que estiverem inco rporadas aos hábitos lingüísticos devem vi sem aspas: marketing,
merchandising, software, dark, punk, status, offlce-boy, hippie, show etc.
(FONTE:www.portrasdasl tras.com.br)

Conselhos para melhorara sua redação


Prof. Hélio Consolaro

Diante dos exames ve stibulares, oferecemos alguns procedimentos para que o estudante
faça um bom texto na prov de redação.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 23

1. Pense no que você quer dizer e diga da forma mais simples. Procure ser direto na
construção das sentenças.

2. Corte palavras sempre que possível. Use a voz ativa, evite a passiva.

3. Evite termos estrangeiros e jargões.

4. Evite o uso excessivo de advérbios.

5. Seja cauteloso ao utilizar as conjunções "como", "entretanto", "no entanto" e "porém".


Quase sempre são dispensáveis.

6. Tente fazer com que os diálogos escritos (em caso de narração) pareçam uma conversa.

Uso do gerúndio empobrece o texto. Exemplo: Entendendo dessa maneira, o problema vai-
se pondo numa perspectiva melhor, ficando mais claro...

7. Adjetivos que não informam são dispensáveis. Por exemplo: luxuosa mansão. Toda

mansão é luxuosa.
8. Evite o uso excessivo do "que". Essa armadilha produz períodos longos. Prefira frases
curtas. Exemplo: O fato de que o homem que seja inteligente tenha que entender os erros dos
outros e perdoá-los não parece que seja certo.

9. Evite clichês (lugares comuns) e frases feitas. Exemplos: “subir os degraus da glória”,
"fazer das tripas coração", "encerrar com chave de ouro", “silêncio mortal", "calorosos
aplausos", "mais alta estima".

10. Verbo "fazer", no sentido de tempo, não é usado no plural. É errado escrever: "Fazem
alguns anos que não leio um livro". O certo é “Faz alguns livros que não leio um livro”.

11. Cuidado com redundâncias. É errado escrever, por exemplo: "Há cinco anos atrás".
Corte o "há" ou dispense o "atrás". O certo é “Há cinco anos...”
CURSO MÉTODO VEST BULARES 24

12. Só com a leitura i tensiva se aprende a usar vírgulas


ente.
corretam
As regras sobre o
assunto são insuficientes.

13. Leia os bons autore s e faça como eles: trate a vírgula com bons odos.

14. Nas citações, use a pas , coloque a vírgula e um verbo seguido do nome de quem disse
ou escreveu aquilo. Exem lo: “O que é escrito sem esforço é geral ente lido sem prazer.”,
disse Samuel Johnson.

15. Leia muito, leia se pre, leia o que lhe pareça agradável.

Escreva diários, cartas, e-mails, crônicas, poesias, redações, qualqu r texto. Só escrevendo,
se aprende a escrever

Vamos começar no ssos trabalhos com algumas informações s bre o que podemos ou
não fazer em nossas dissertações:

ÀS
ASOS SIM ÃO
VEZES
Usar letra de forma
Incluir-se nos textos
Fugir ao tema proposto
Usar gírias
Exemplificar os argument s
Escrever movido por emo ões fortes
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 25

Rasurar a folha de redação


Usar um borrão
Usar corretivo líquido
Usar uma citação nos textos
Usar dados estatísticos

Usar palavras incomuns


Levar o tema para o campo pessoal
Pôr título no texto
Pedir outra folha de redação
Entregar a redação a lápis
Contradizer-me
Usar informações dos textos dados para leitura
Usar dados que eu conheça, mas que não estejam nos
textos
Identificar-me
Defender cegamente ideologias políticas e/ou religiosas

1 – A LETRA – Sua letra não precisa se bonita, mas deve, obrigatoriamente, ser
legível. De nada adianta um traçado cheio de volteios e de curvas, se isso pode inclusive
atrapalhar o processo da continuidade da leitura. Observe os seguintes detalhes:
- Sobre a letra i devemos pôr um pingo, jamais uma bolinha ou outro sinal qualquer;
- A cedilha deve ficar ligada à letra c, para evitar que seja confundida com outro sinal
diacrítico qualquer;
- Não devemos encher as letras de detalhes, eles podem dificultar a leitura;
- Tomemos um cuidado especial com m e n, algumas pessoas costumam escrevê-los de
“cabeça para baixo”.

2 – AS MARGENS E OS RECUOS – Algumas pessoas descuidam das margens do


texto. Na verdade, são elas que dão uma aparência de equilíbrio. Mas devemos chegar à
neurose de ficar contando cada espaço de margens, com medo de que alguma parte fique
milímetros para fora ou para dentro dos outros. Outro cuidado importante é com relação aos
CURSO MÉTODO VEST BULARES 26

recuos de parágrafos, que evem ser, na medida do possív el,, mas


regulares
que não têm uma
regra definitiva. O medo d e errar leva muitas pessoas a incorrerem no erro do “ponto inicial”,
isto é, marcar o início de ada parágrafo com um ponto. Evite isso, p r mais que você esteja
nervoso ou nervosa, é im possível não saber a distância lógica entr a linha e o início do
parágrafo.

3 – BORR ES E RASURAS – Nada pior que tentar apagar ma palavra e deixar na


folha aquela indelével ma ca de borracha ou de corretivo. Pior ainda é riscar a palavra com
bastante força. No caso de um erro ortográfico ou do uso de uma palav ra inadequada o melhor
a fazer é agir discretamen e e elimina a falha de um modo que só de ixe o leitor descobrir o
problema durante a leitura e nunca antes dela. Há diversos modos de azer isso: riscando a(s)
palavra(s) com um ou doi s traços bem finos, pôr a(s) palavra(s) ent re parênteses e risca-la
levemente, tentar corrigir o(s) vocábulo(s) com pequenos retoques. O mais importante é não
deixar o erro sem uma cor reção. Quem for ler a redação ficará mais f liz ao saber que ele foi
remendado que ao saber qu e as incorreções ficaram in natura.

4 – A CANETA – or incrível que pareça, até mesmo o tipo de caneta que você irá usar
em sua aprova será importante. Quant o mais simples, melhor.
As mais sofisticadas costumam trazer problemas na hora da
prova. No caso do vestibular as melh res canetas são sempre
as mais simples. Não adianta levar a uela caneta importada,
ou aquela folheada a ouro. O mais im ortante é levar uma que
escreva e que não falhe na hora ma is importante da nossa
vida. No dia da prova, lev pelo menos duas canetas da mesma marca e da mesma cor, paras
prevenir o possível caso de alguma falhar.

5 – A FOLHA DE REDAÇÃO – Cada instituição de ensino t m seu modelo de folha


de redação. Normalmente, ela é única, intransferível e insubstituível, ou seja, você não terá
direito a outra em caso de asura ou de qualquer outra avaria. Há semp e um local especificado
para pôr seu nome e não se pode desenhar ou identificar a folha.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 27

6 – O TÍTULO – Isso também varia de instituição para instituição. Algumas exigem


que o candidato crie um título, outras proíbem terminantemente que isso seja feito. Para evitar
maiores problemas, é sempre bom recorrer a uma leitura do Manual do Vestibulando. No caso
de obrigatoriedade do título, é facultativo o uso de uma linha em branco entre este e o texto.
Algumas pessoas, por razões estéticas preferem o espaço em branco. Importante também é não

alongar muito o título, para não cansar o leitor, bem como evitar usar as primeiras palavras do
texto como título.

7 – A LIMPEZA – Parece óbvio, mas algumas palavras devem ser ditas com relação à
limpeza da folha de resposta das questões objetivas e da redação. Além de evitar os já
comentados borrões, é necessário também cuidar da limpeza das mãos e evitar que o suor
manche o papel. Em casos assim, um lenço pode ser de grande utilidade para o candidato que
não queira arriscar tudo em um pequeno detalhe técnico.

DA INTERNET: 30 dicas para escrever bem:


1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.
2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal
prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. não esqueça as maiúsculas no inicio das frases.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parêntesis (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de srcem portuguesa estão in.
8. Evite o emprego de gíria. Ninguém merece isso, mesmo que pareça maneiro, valeu?
9. Nunca use palavras de baixo calão, porra! Elas podem transformar o seu texto numa merda.
10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
11. Evite repetir a mesma palavra pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição
da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra
repetida.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 28

12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: “Quem cita os outros não tem
idéias próprias”.
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta
mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma idéia várias

vezes.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula especialmente será que ninguém mais
sabe utilizar o ponto de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: “mesóclises: evitá-las-ei!”
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca! O seu texto fica horrível!
25. Evite frases exageradamente longas pois estas dificultam a compreensão da idéia nelas
contida e, por conterem mais que uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo
acessível, forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes de
forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da
leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
28. Não fique escrevendo no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar
causando ambigüidade - e esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda
estão acontecendo.
29. Outra barbaridade que tu deves evitar é usar muitas expressões que acabem por denunciar a
região onde tu moras, carajo!
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá agüentar, já que é
insuportável o mesmo final escutar o tempo todo sem parar.
CURSO MÉTODO VEST BULARES 29

NOÇÕES DE DESCRIÇÃO

NOÇÃO BÁSICA: Descrever é” “pinta


com palavras uma
imagem qualquer, que pode ser uma cena, ma roupa, uma pessoa,
um quadro...
Não existe uma técnica perfeita p ara descrever. O mais
importante é passar para o leitor a sensaçã o de que está vendo no
texto aquilo que o escritor imaginou ou v iu. Nem toda descrição
parte da realidade observada. Em alguns asos, a imaginação do
escritor entra em ação e o apel se torna uma das formas mais eficiente para exteriorizar o que
se imagina. Outras vezes, no entanto, o texto descritivo é pautado no real. Em casos assim, a
responsabilidade do escrit or é redobrada, pois o leitor irá querer “v r” nas palavras o que
estaria na imagem descrita.
Temos a seguir a d scrição de uma das cenas mais divulgadas h á alguns anos. Temos a
reprodução de uma fotogr fia nacionalmente conhecida e o que sobre ela escreveu o escritor
Roberto Pompeu de Toled , um dos mais renomados articulistas da Rev ista Veja. Compare.
CURSO MÉTODO VEST BULARES 30

Repare-se bem no rosto doandante


co Dale Robbin
Hersh, estampado nas fotos dos jornais nos noticiários da TV,
na semana passada. Hersh é o americano detido no aeroporto de
Guarulhos, depois de fazer um gesto o sceno enquanto posava
para a foto a que os americanos sã o agora obrigados ao
desembarcar. No alto do crânio ele exibe uma calva que convida
irresistivelmente ao adjetivo de rigor – luzidia". Nas laterais o
cabelo é bem aparado. Os olhos são p quenos, protegidos por
óculos de aro fino. E, para vingar-se da falta de pêlos mais
acima, cultiva um bigode, no qual os fios brancos já travam
acirrada disputa com os negros pela aioria. No todo, esse
homem de 53 anos exibe um ar séri o. Mais do que sério,
circunspeto. Como é que foi soltar aque e dedo bobo? Supõe-se
em Mr. Hersh um americano de manua , temente a Deus, bom
pai e bom vizinho, exímio piloto ta bém no comando da
máquina de aparar grama em sua casa de subúrbio. Como pôde es apar-lhe o gesto sem-
vergonha? Como vai se explicar em casa? De que forma encaixar
ua figuraem
sisuda aquele
dedo médio insolentemen e ereto, como a vingar, com a fúria estu pradora da potência, a
pretensão à reciprocidade e um país que, entre outras atrações, e não a menor, presenteia os
estrangeiros com as delícias do turismo sexual? (Roberto Pompeu de oledo, Revista Veja, 21
de janeiro de 2004)

Como se pode ver, o texto do jornalista traz as mesmas infor ações que uma pessoa

teria se não conhecesse a foto. Algumas informações que não aparec em na imagem servem
para dar maior brilho ao t exto. Desse modo, é importante ter em me nte que não basta ter o
material para descrever, é ssencial que se tenha também um certo estil que “prenda” o leitor e
o faça “visualizar” o mes o que o escritor viu ou imaginou. Mas tam bém não se pode deixar
de lado que todo texto é brigatoriamente carregado de ideologias e ue sempre se descreve
aquilo que nos interessa, c mo pode ser facilmente notado no texto aci a transcrito.
Alguns escritores prezam bastante pela descrição, outros f azem dela apenas um
complemento para a narra ão ou para a dissertação. Você terá a segui r um outro texto, que é
fragmento de um conhec ido romance. Observe como o escritor t rabalhou os elementos
descritivos.

Nu banco de pau tosco, que existia do lado d fora, junto à parede e


perto da venda, um homem, de calça e camisa de zuarte, chinelos de
cour cru, esperava, havia já uma boa hora, para f alar com o vendeiro.
Era m português de seus trinta e cinco a quarent a anos, alto, espadaúdo,
barb s ásperas, cabelos pretos e maltratados cain o-lhe sobre a testa, por
debaixo de um chapéu de feltro ordinário: pesc oço de touro e cara de
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 31

Hércules, na qual os olhos todavia, humildes como os olhos de um boi de


canga, exprimiam tranqüila bondade. (Aluísio Azevedo, O Cortiço)

Veja agora como, em poucas linhas, o mesmo escritor descreve a personagem Leocádia:

Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado


Bruno, de
terrível portuguesa pequena
leviana entre e socada,
as suas vizinhas.de(Aluísio
carnes Azevedo,
duras, com uma fama
O Cortiço)

Continuando esta parte sobre a descrição, vamos ler um fragmento das Cartas Chilenas.
Nele, você poderá comprovar que a descrição não é uma exclusividade da prosa, podendo
também aparecer em forma de versos.

Ora pois, doce amigo, vou pintá-lo


Da sorte que o topei a vez primeira;
Nem esta digressão motiva tédio
Como aquelas que são dos fins alheias,
- Que o gesto, mais o traje nas pessoas
Faz o mesmo que fazem os letreiros
Nas frentes
Que dão, doenfeitadas dos livrinhos,
que eles tratam, boa idéia.
Tem pesado semblante, a cor é baça.
- O corpo de estatura um tanto esbelta
Feições compridas e olhadura feia,
Tem grossas sobrancelhas, testa curta,
Nariz direito e grande, fala pouco
Em rouco, baixo som de mau falsete
- Sem ser velho, já tem cabelo ruço
E cobre este defeito e fria calva
À força de polvilho, que lhe deita.
Ainda me parece que o estou vendo
No gordo rocinante escarranchado
- As longas calças pelo umbigo atadas,
Amarelo colete e sobre tudo
Vestida uma vermelha e justa farda
De cada bolso
Listadas pontasdadefardeta, pendem
dois brancos lenços;
- Na cabeça vazia se atravessa
Um chapéu desmarcado, nem sei como
Sustenta o pobre só do laço o peso.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 32

Podemos notar também que há descrições engraçadas. Como é o caso da composição


Dona Gigi, um grande sucesso do grupo de Funk Os Caçadores. A música, mesmo não sendo
um primor, tocou bastante nas rádio de todo o Brasil no início do ano de 2006. Vejamos a letra,
que é um bom exemplo de descrição:

Dona Gigi
Waguinho

Mulher feia tudo bem neguinho


Agora feia, fedorenta e mentirosa
Aí não neguinho, aí eu vou ter que zoar

Se me vê agarrado com ela


Separa que é briga, tá ligado!
Ela quer um carinho gostoso
Um bico dois soco e três cruzado!
Tá com pena leva ela pra casa
Porque nem de graça eu quero essa mulher!
Caçadores estão na pista pra dizer como ela é...

Caolha, nariz de tomada, sem bunda, perneta,


Corpo de minhoca, banguela, orelhuda, tem unha incravada,
Com peito caido e um caroço nas costas...
Ih gente! capina, despenca,
Cai fora, vai embora ,
Se não vai dançar,
Chamei 2 guerreiros,
Bispo macedo, com padre quevedo pra te exorcizar...
Oi, vaza!
Fede mais que um urubu,
Canhão! vou falar bem curto e grosso contigo, hein...
Já falei pra vaza!
Coisa igual nunca se viu...
Oh vai pra puxa... tu é feia!

Vejamos também uma descrição que Moacyr Scliar faz da protagonista do livro “A
Mulher que escreveu a Bíblia”:

Não havia ali nenhuma simetria, naquela face, nem mesmo a temível simetria do
focinho do tigre; eu buscava em vão alguma harmonia. Não era a grande harmonia das
esferas que eu pretendia, um pequeno astro harmônico já me seria suficiente, mas nem
isso eu obtinha, porque havia um conflito naquele rosto, a boca destoando do nariz, as
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 33

orelhas destoando entre si. E os olhos, que poderiam salvar tudo, eram estrábicos, um
deles mirando, desconsolado, o espelho, o outro com o olhar perdido, fitando
desamparado o infinito, talvez para não ter de enxergar a cruel imagem. (...) Resumindo,
era isso que eu via: a) assimetria flagrante; b) carência de harmonia; c) estrabismo
(ainda que moderado); d) excesso de sinais. Falta dizer que conjunto era emoldurado
(emoldurado! Essa é boa, emoldurado! Emoldurado como um lindo quadro é
emoldurado! Emoldurado! Por uns secos e opacos cabelos, capazes de humilhar
qualquer cabeleireiro. (SCLIAR, Moacyr. A mulher que escreveu a Bíblia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007. pág. 17-18)

Outro exemplo interessante de descrição é o livro Estação Carandiru, de Dráuzio


Varela. Nele, o autor descreve com detalhes o ambiente penitenciário e faz boas descrições dos
presos.

O CASARÃO

A Detenção é um presídio velho e mal conservado. Os pavilhões são prédios cinzentos


de cinco andares (contando o térreo como primeiro), quadrados, com um pátio interno, central,
e a área externa com a quadra e o campinho de futebol.
As celas ficam de ambos os lados de um corredor – universalmente chamado de
“galeria” – que faz a volta completa no andar, de modo que as de dentro, lado I, t~em janelas
que dão para o pátio interno e as outras para a face externa do prédio, lado E.
Paredes altas separam os pavilhões, e um longo caminho asfaltado, amplo, conhecido
como “Radial”, por analogia à movimentada avenida da zona leste da cidade, faz a ligação
entre eles. (VARELA, Dráuzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
pág. 13.)

CONSELHO PRÁTICO: Um bom exercício para treinar a habilidade de descrever é pegar


uma foto de alguém ou de uma paisagem e tentar reproduzi-la com palavras escritas. No
começo parecer ser difícil, mas depois a prática constante fará com que você consiga descrever
tudo o que quiser com ou sem detalhes.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 34

NOÇÕES DE NARRAÇÃO

CONCEITO BÁSICO: Narrar é contar uma história real ou imaginária, é fazer com que o leitor
compreenda o desenrolar de uma ação interligando ações e preencheu os espaços que ficam no
desenrolar de qualquer texto.
Todas as vezes que contamos uma história, estamos fazendo uma narração. Já faz parte
do ser humano narrar fragmentos de sua história e/ou da história alheia. Mas para que o texto,
oral ou escrito, fique mais atraente, são necessários alguns elementos importantes, como os a
seguir:

ELEMENTOS DE UMA NARRATIVA – obrigatoriamente, os grandes narradores costumam


trazer em seus textos alguns elementos que servem de guia para quem deseja entrar para o
mundo da ficção. Os elementos são os seguintes:

a) Personagens – os elementos que praticam a ação narrativa. São elas as


responsáveis pelos sentimentos de simpatia ou de antipatia do leitor pelo enredo do
texto.
b) Tempo – é o quando ocorre a história. Pode ser determinado cronologicamente ou
ser vago, depende da intencionalidade do escritor. Ás vezes é essencial que o leitor
saiba a época em que acontecem os fatos. Em outros casos, a atemporalidade pode ser
uma marca narrativa, mas, de um modo ou de outro, o leitor acaba sabendo que a
história não está solta no tempo. Os escritores menos experimentados costumam narrar
CURSO MÉTODO VEST BULARES 35

de forma linear (co eço – meio – fim), os mais maduros varia


a forma de seqüenciar
as ações das personagens.
c) Espaço –éoo de os fatos acontecem. Podem ser bastante a mplos ou extremamente
limitados. Quanto sua determinação ou não, depende muito d o tipo de narrativa e do
estilo do escritor. leitura dos grandes autores mostra que a a ordagem espacial pode
ser física ou psicol gica. No primeiro caso, o lugar palpável é o que guia o deslocar das
personagens. No ou tro, a memória predomina sobre a realidade ircundante.
d) Ação – é tudo o que acontece com as personagens. Muitas v zes a ação se confundo
com o próprio enre o do texto.
e) Foco narrat vo – diz respeito ao como a história virá s r contada: em primeira
ou em terceira pes oa, ou seja, com um narrador mais distanci ado ou participante dos
fatos narrados.
f) Narrador – é aquele que conta a história. Pode fazer par te da mesma (narrador-
personagem), ou icar distanciado do envolvimento
fatos narrados.
com o Pode
também ter domíni de tudo o que acontece (narrador oniscien e) ou ter conhecimento
igual aos dos leitor s (narrador sem onisciência)

Vamos identificar cada um dos elementos citados acima na historiet abaixo:

AÇÃO: ________________________________________________ _______________


PERSONAGENS: ___ ___________________________________ ______________
CURSO MÉTODO VEST BULARES 36

NARRADOR: ______ ___________________________________ _______________


DISCURSO: _______ ___________________________________ _______________
ESPAÇO: __________ ___________________________________________________
TEMPO: ___________ ___________________________________ _______________

AÇÃO: ________________________________________________ _______________


PERSONAGENS: ___ ___________________________________ ______________

NARRADOR: ______ ___________________________________ _______________


DISCURSO: _______ ___________________________________ _______________
ESPAÇO: __________ ___________________________________________________
TEMPO: ___________ ___________________________________ _______________

ESTRUTURA DO TEXT NARRATIVO

As narrações costu am, desde tempos imemoriais, seguir uma strutura mais ou menos
padronizada, mas que pode ser facilmente modificada pelos grandes esc ritores. Normalmente, o
que se encontra nos livros e ficção é a seqüência :
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 37

APRESENTAÇÃO de personagens, do COMPLICAÇÃO DO ENREDO,


espaço, do tempo e da própria ação a algo acontece para tirar a paz das
ser desenrolada. personagens.

CLIMAX – o momento de total PERIPÉCIAS – são os


suspense, quando o leitor não pode acontecimentos que levarão as
parar de ler o texto personagens a complicarem ainda
mais suas ações

DESFECHO, o fim da história, que


pode ser aberto ou fechado,
dependendo do autor

ATIVIDADE PRÁTICA

Como atividade, leia o texto abaixo localize cada uma de suas partes.

Cidade de Deus

Rubem Fonseca

O nome dele é João Romeiro, mas é conhecido como


Zinho na Cidade de Deus, uma favela em Jacarepaguá, onde
comanda o tráfico de drogas. Ela é Soraia Gonçalves, uma
mulher dócil e calada. Soraia soube que Zinho era traficante dois
meses depois de estarem morando juntos num condomínio de
classe média alta da Barra da Tijuca. Você se importa?, Zinho
perguntou, e ela respondeu que havia tido na vida dela um homem metido a direito que não
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 38

passava de um canalha. No condomínio Zinho é conhecido como vendedor de uma firma de


importação. Quando chega uma partida grande de droga na favela Zinho some durante alguns
dias. Para justificar sua ausência Soraia diz, para as vizinhas que encontra no playground ou na
piscina, que o marido está viajando pela firma. A polícia anda atrás dele, mas sabe apenas o seu
apelido, e que ele é branco. Zinho nunca foi preso.

Hoje à noite Zinho chegou em casa depois de passar três dias distribuindo, pelos seus
pontos, cocaína enviada pelo seu fornecedor em Puerto Suarez e maconha que veio de
Pernambuco. Foram para a cama. Zinho era rápido e rude e depois de usar a mulher virava as
costas para ela e dormia. Soraia era calada e sem iniciativa, mas Zinho queria ela assim,
gostava de ser obedecido na cama como era obedecido na Cidade de Deus.
“Antes de você dormir posso te perguntar uma coisa?”
“Pergunta logo, estou cansado e quero dormir, amorzinho.”
"Você seria capaz de matar uma pessoa por mim?"
“Amorzinho, eu mato um cara porque ele me roubou cinco gramas, não vou matar um
sujeito que você pediu? Diz quem é o cara. É aqui do condomínio?”
“Não”.
“De onde é?”
“Mora na Taquara”.
“O que foi que ele te fez?”
“Nada. Ele é um menino de sete anos. Você já matou um menino de sete anos?”
“Já mandei furar a bala as palmas das mãos de dois merdinhas que sumiram com uns
papelotes, pra servir de exemplo, mas acho que eles tinham dez anos. Por que você quer matar
um moleque de sete anos?”
“Para fazer a mãe dele sofrer. Ela me humilhou. Tirou o meu namorado, fez pouco de
mim, dizia para todo mundo que eu era burra. Depois casou com ele. Ela é loura, tem olhos
azuis e se acha o máximo.”
“Você quer se vingar porque ela tirou o seu namorado? Você ainda gosta desse vadio, é
isso?”
“Gosto só de você, Zinho, você é tudo para mim. Esse nojento do Rodrigo não vale nada,
só sinto desprezo por ele. Quero fazer a mulher sofrer porque ela me humilhou, me chamou de
burra, ria na frente dos outros.”
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 39

“Posso matar esse safado.”


“Ela nem gosta dele. Quero fazer essa mulher sofrer muito. Morte de filho deixa a mãe
desesperada.”
“Está bem. Você sabe onde o menino mora?”
“Sei.”

“Vou mandar pegar o moleque e levar para a Cidade de Deus.”


“Mas não faz o garoto padecer muito.”
“Se essa vaca souber que o filho morreu sofrendo é melhor, não é? Me dá o endereço.
Amanhã mando fazer o serviço, a Taquara é perto da minha base.”
De manhã bem cedo Zinho saiu de carro e foi para a Cidade de Deus. Ficou fora dois
dias. Quando voltou, levou Soraia para a cama e ela docilmente obedeceu a todas as suas
ordens, Antes de ele dormir, ela perguntou, “você fez aquilo que eu pedi?”
“Faço o que prometo, amorzinho. Mandei meu pessoal pegar o menino quando ele ia para
o colégio e levar para a Cidade de Deus. De madrugada quebraram os braços e as pernas do
moleque, estrangularam, cortaram ele todo e depois jogaram na porta da casa da mãe. Esquece
essa droga, não quero mais ouvir falar nesse assunto", disse Zinho.
“Sim, eu já esqueci.”
Zinho virou as costas para Soraia e dormiu. Zinho tinha um sono pesado. Soraia ficou
acordada ouvindo Zinho roncar. Depois levantou-se e pegou um retrato de Rodrigo que
mantinha escondido num lugar que Zinho nunca descobriria. Sempre que Soraia olhava o
retrato do antigo namorado, durante aqueles anos todos, seus olhos se enchiam de lágrimas.
Mas nesse dia as lágrimas foram mais abundantes.
“Amor da minha vida”, ela disse, apertando o retrato de Rodrigo de encontro ao seu
coração sobressaltado. (Rubem Fonseca , Histórias de amor, com pequenas adaptações)

Agora complete os espaços abaixo com as informações que são pedidas:

AÇÃO: _______________________________________________________________
PERSONAGENS: ______________________________________________________
NARRADOR: __________________________________________________________
DISCURSO: ___________________________________________________________
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 40

ESPAÇO: _____________________________________________________________
TEMPO: ______________________________________________________________
COMPLICAÇÃO _______________________________________________________
CLÍMAX ______________________________________________________________

TIPOS DE NARRATIVAS

Quando se fala em narrativa para vestibular, pensa-se logo em um texto bastante curto,
o que é natural, pois o espaço para criação é relativamente pequeno e não dá para escrever
muito em um intervalo de tempo tão reduzido, ainda mais com um tema imposto e a pressão de
uma prova.
Os textos narrativos mais conhecidos são:
a) Romance – geralmente uma narrativa bastante longa, com muitas personagens e um
espaço de tempo amplo e, principalmente, com vários sub-núcleos temáticos que
convergem para um mesmo ponto. Como exemplos temos: Dom Casmurro (de
Machado de Assis), O Mulato (de Aluísio Azevedo) e O Ateneu (de Raul Pompéia)
b) Novela – texto também com muitas personagens em sem limite de tempo e de
espaço, mas em que os núcleos temáticos se sucedem de forma mais dinâmica. Como
exemplos temos: A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua (de Jorge Amado), Uma
Tarde, Outra Tarde (de Josué Montello)
c) Conto – uma narrativa mais curta, com poucas personagens, tempo e espaço
reduzidos. O texto lido anteriormente (Cidade de Deus) é um conto. Como se trata de
algo bastante sintético, só há espaço para um núcleo narrativo.

d) Fábula – Um texto geralmente curto, que traz animais como personagens. As mais
conhecidas são as Esopo e as de La Fontaine. No Brasil, dois grandes fabulistas são
Monteiro Lobato e Millôr Fernandes.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 41

e) Apólogo – texto muito parecido com a fábula, a principal diferença é que as


personagens são objetos, não animais. Nos dois casos, há sempre uma idéia de uma
lição de moral.

UMA FÁBULA DE ESOPO

O Fazendeiro, seu Filho e o Burro


"Um fazendeiro e seu filho viajavam para o mercado, levando consigo um burro. Na estrada,
encontraram umas moças salientes, que riram e zombaram deles:
- Já viram que bobos? Andando a pé, quando deviam montar no burro?
O fazendeiro, então, ordenou ao filho:
- Monte no burro, pois não devemos parecer ridículos.
O filho assim o fez.

Daí a pouco, passaram por uma aldeia. À porta de uma estalagem estavam uns velhos que
comentaram:
- Ali vai um exemplo da geração moderna: o rapaz, muito bem refestelado no animal, enquanto
o velho pai caminha, com suas pernas fatigadas.
- Talvez eles tenham razão, meu filho, disse o pai. Ficaria melhor se eu montasse e você fosse a
pé.
Trocaram então as posições.

Alguns quilometros adiante, encontraram camponesas passeando, as quais disseram:


-A crueldade de alguns pais para com os filhos é tremenda! Aquele preguiçoso, muito bem
instalado no burro, enquanto o pobre filho gasta as pernas.
- Suba na garupa, meu filho. Não quero parecer cruel, pediu o pai.
Assim, ambos montados no burro, entraram no mercado da cidade.

- Oh!! Gritaram outros fazendeiros que se encontravam lá. Pobre burro, maltratado, carregando
uma dupla carga! Não se trata um animal desta maneira. Os dois precisavam ser presos.
Deviam carregar o burro às costas, em vez de este carregá-los.

O fazendeiro e o filho saltaram do animal e carregaram-no. Quando atravessavam uma ponte, o


burro, que não estava se sentindo confortável, começou a escoicear com tanta energia que os
dois caíram na água."

(Quem a todos quer ouvir, de ninguém é ouvido)

NARRATIVAS EM PROSA x NARRATIVAS EM VERSO


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 42

Normalmente, os textos narrativos são escritos em prosa. Mas também é possível


encontrar textos narrativos que apareçam em verso. É bom lembrar que na antiguidade, todas as
histórias eram escritas em versos e só no século XVIII a prosa começou a dominar o terreno
dos textos narrativos. As grandes epopéias, como A Ilíada, A Odisséia (de Homero), Os
Lusíadas (de Camões), O Paraíso Perdido (de Jonh Milton) e a Divina Comédia (de Dante)

foram escritas em forma de poemas. Na atualidade, os texto de cordel também são bons
exemplos de narrativas em versos.
A narração em prosa é a mais conhecida de todos. O texto se divide em parágrafos e o
desenrolar do enredo é mais claro, como ocorre em “O Abridor de Latas” – transcrito a seguir.
Quando se trata de uma narrativa em prosa, os recursos usados pelos poetas podem deixar o
texto mais estético, mas também podem dificultar a leitura de uma pessoa menos acostumada a
esse estilo. É o que acontece nas duas letras de música, que serão estudas logo depois.

EXEMPLO DE NARRATIVA EM PROSA

O Abridor de Latas
Millôr Fernandes

Pela primeira vez no


Brasil um conto escrito
inteiramente em câmera
lenta.

Quando esta história se inicia já se passaram quinhentos anos, tal


a lentidão com que ela é narrada. Estão sentadas à beira de uma estrada
três tartarugas jovens, com 800 anos cada uma, uma tartaruga velha com
1.200 anos, e uma tartaruga bem pequenininha ainda, com apenas 85
anos. As cinco tartarugas estão sentadas, dizia eu. E dizia-o muito bem
pois elas estão sentadas mesmo. Vinte e oito anos depois do começo
desta história a tartaruga mais velha abriu a boca e disse:

- Que tal se fizéssemos alguma coisa para quebrar a monotonia


dessa vida?
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 43

- Formidável – disse a tartaruguinha mais nova, 12 anos depois –


vamos fazer um pique-nique?

Vinte e cinco anos depois as tartarugas se decidiram a realizar o


pique-nique. Quarenta anos depois, tendo comprado algumas dezenas de
latas de sardinha e várias dúzias de refrigerante, elas partiram. Oitenta
anos depois chegaram a um lugar mais ou menos aconselhável para um
pique-nique.

- Ah – disse a tartaruguinha, 8 anos depois – excelente local este!

Sete anos depois todas as tartarugas tinham concordado. Quinze


anos se passaram e, rapidamente elas tinham arrumado tudo para o
convescote. Mas, súbito, três anos depois, elas perceberam que faltava o
abridor de latas para as sardinhas.

Discutiram e, ao fim de vinte anos, chegaram à conclusão de que a


tartaruga menor devia ir buscar o abridor de latas.

- Está bem – concordou a tartaruguinha, três anos depois – mas só


vou se vocês prometerem que não tocam em nada enquanto eu não voltar.

Dois anos depois as tartarugas concordaram imediatamente que não


tocariam em nada, nem no pão nem nos doces. E a tartaruguinha partiu.

Passaram-se cinqüenta anos e a tartaruga não apareceu. As outras


continuavam esperando. Mais 17 anos e nada. Mais 8 anos e nada ainda.
Afinal uma das tartaruguinhas murmurou:

- Ela está demorando muito. Vamos comer alguma coisa enquanto


ela não vem?

As outras concordaram, rapidamente, dois anos depois. E


esperaram mais 17 anos. Aí outra tartaruga disse:

- Já estou com muita fome. Vamos comer só um pedacinho de doce


que ela nem notará.

As outras tartarugas hesitaram um pouco mas, 15 anos depois,


acharam que deviam esperar pela outra. E se passou mais um século
nessa espera. Afinal a tartaruga mais velha não pôde mesmo e disse:
- Ora, vamos comer mesmo só uns docinhos enquanto ela não vem.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 44

Como um raio as tartarugas caíram sobre os doces seis meses


depois. E justamente quando iam morder o doce ouviram um barulho no
mato por detrás delas e a tartaruguinha mais jovem apareceu:

- Ah, murmurou ela – eu sabia, eu sabia que vocês não cumpririam


o prometido e por isso fiquei escondida atrás da árvore. Agora não vou
buscar mais o abridor, pronto!

Fim (30 anos depois)


MORAL: APRESSADO NÃO COME NEM CRU .
EXEMPLO DE NARRATIVA EM VERSO

PROBLEMA SOCIAL

Guará/Fernandinho
Se eu pudesse dar um toque em meu destino
Não seria um peregrino nesse imenso mundo cão
Nem o bom menino que vendeu limão
Trabalhou na feira pra comprar seu pão
Não aprendia as maldades que essa vida tem
Mataria a minha fome sem ter que lesar ninguém
Juro que nem conhecia a famosa funabem
Onde foi a minha morada desde os tempos de neném
É ruim acordar de madrugada pra vender bala no trem
Se eu pudesse tocar em meu destino
Hoje eu seria alguém
Seria eu um intelectual
Mas como não tive chance de ter estudado em colégio legal
Muitos me chamam de pivete
Mas poucos me deram um apoio moral
Se eu pudesse eu não seria um problema social
AÇÃO: _______________________________________________________________
PERSONAGENS: ______________________________________________________
NARRADOR: __________________________________________________________
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 45

DISCURSO: ___________________________________________________________
ESPAÇO: _____________________________________________________________
TEMPO: ______________________________________________________________

OUTRO EXEMPLO

CIDADÃO
(Lúcio Barbosa)

Tá vendo aquele edifício moço ajudei a levantar


Foi um tempo de aflição eram quatro condução duas pra
ir duas pra voltar
Hoje depois dele pronto olho pra cima e fico tonto mas
me chega um cidadão
E me diz desconfiado tu tá aí admirado ou tá querendo roubar
Meu domingo tá perdido vou pra casa entristecido dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio eu nem posso olhar pro
prédio que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento pus a massa fiz cimento
ajudei a rebocar
Minha filha inocente vem pra mim toda contente pai vou
me matricular
Mas me diz um cidadão criança de pé no chão aqui não
pode estudar
Esta dor doeu mais forte por que, que eu deixei o
norte eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava mas o pouco que eu plantava tinha
direito a comer
Tá vendo aquela igreja moço onde o padre diz amém
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 46

Pus o sino e o badalo enchi minha mão de calo lá eu


trabalhei também
Lá sim valeu a pena tem quermesse tem novena e o padre
me deixa entrar
Foi lá que cristo me disse rapaz deixe de tolice não

se deixe amedrontar
Fui eu quem criei a terra enchi o rio fiz a serra não
deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas e na maioria das casas eu
também não posso entrar

AÇÃO: _______________________________________________________________
PERSONAGENS: ______________________________________________________
NARRADOR: __________________________________________________________
DISCURSO: ___________________________________________________________
ESPAÇO: _____________________________________________________________

TEMPO: ______________________________________________________________

SOBRE A COMPOSIÇÃO DE UM TEXTO NARRATIVO

Escrever um texto narrativo pode, á primeira vista, ser uma tarefa fácil. Basta inventar
uma história, pôr algumas personagens e dar um final que agrade ao leitor. Mas, na prática, não
é bem assim. Elaborar uma narração exige paciência e cuidado estético. Muitas vezes,
reescrever é mais importante que escrever, pois as falhas vão sendo corrigidas e o estilo se
torna mais apurado. É o que acontece, por exemplo, com o escritor piauiense O. G. Rego de

Carvalho, que admite que:

“Tive 17 contos recusados, que me lembre, mas fazendo uma


estatística melhor, acho que tive umas 30 recusas, porque eu escrevi
muito dos 16 aos 19 anos. (...) Essas cousas, tão importantes na vida do
escritor, não me desanimaram. Ao contrário, a cada recusa, mais eu
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 47

aprimorava, aprimorava o meu texto, aprimorava a história, procurava


fazer um enredo mais interessante, mais aceitável. Eu burilava as frases,
procurava sugerir mais do que dizer, dar uma conotação poética ao que
eu escrevia, até que, em 1949, com 19 anos, tive um conto aceito,
chamado ‘Um Filho”. (O. G. Rego de Carvalho. Como e por que me fiz
escritor)

Muitos outros escritores de primeira linha deram , e dão, depoimentos a respeito das
dificuldades que sentiam ao escrever seus textos ficcionais. Leia agora o que disse sobre o ato
de escrever o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade:

Como Comecei a Escrever


Carlos Drummond de Andrade

Aí por volta de 1910 não havia rádio nem televisão, e o cinema


chegava ao interior do Brasil uma vez por semana, aos domingos. As
notícias do mundo vinham pelo jornal, três dias depois de publicadas no
Rio de Janeiro. Se chovia a potes, a mala do correio aparecia ensopada, uns
sete dias mais tarde. Não dava para ler o papel transformado em mingau.

Papai era assinante da " Gazeta de Notícias", e antes de aprender a ler


eu me sentia fascinado pelas gravuras coloridas do suplemento de
domingo. Tentava decifrar o mistério das letras em redor das figuras, e
mamãe me ajudava nisso. Quando fui para a escola pública, já tinha a
noção vaga de um universo de palavras que era preciso conquistar.

Durante o curso, minhas professoras costumavam passar exercícios


de redação. Cada um de nós tinha de escrever uma carta, narrar um
passeio, coisas assim. Criei gosto por esse dever, que me permitia aplicar
para determinado fim o conhecimento que ia adquirindo do poder de
expressão contido nos sinais reunidos em palavras.

Daí por diante as experiências foram-se acumulando, sem que eu


percebesse que estava descobrindo a literatura. Alguns elogios da
professora me animavam a continuar. Ninguém falava em conto ou poesia,
mas a semente dessas coisas estava germinando. Meu irmão, estudante na
Capital, mandava-me revistas e livros, e me habituei a viver entre eles.
Depois, já rapaz, tive a sorte de conhecer outros rapazes que também
gostavam de ler e escrever.

Então, começou uma fase muito boa de troca de experiências e


impressões. Na mesa do café-sentado (pois tomava-se café sentado nos
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 48

bares, e podia-se conversar horas e horas sem incomodar nem ser


incomodado) eu tirava do bolso o que escrevera durante o dia, e meus
colegas criticavam. Eles também sacavam seus escritos, e eu tomava parte
nos comentários. Tudo com naturalidade e franqueza. Aprendi muito com
os amigos, e tenho pena dos jovens de hoje que não desfrutam desse tipo
de amizade crítica.

Muitas vezes, somos levados a pensar que as narrativas nascem de formas estapafúrdias.
Acreditamos que os escritores são pessoas tocadas pela mão divina e só por isso conseguem
produzir obras de elevado nível. No entanto, a prática de leitura nos permite perceber que o que
existe na verdade é o trabalho incessante de seleção daquilo que pode ser transformado em obra
de arte. Não se trata de ser iluminado, mas de usar a iluminação natural para compor textos que
poderiam ser escritos por qualquer pessoa com lucidez suficiente para não deixar escapar
nenhuma das oportunidades que o dia-a-dia nos oferece. O escritor mineiro Fernando Sabino
ilustra muito bem as palavras acima em um de seus textos.

Como comecei a escrever


Fernando Sabino

Quando eu tinha 10 anos, ao narrar a um amigo uma história que


havia lido, inventei para ela um fim diferente, que me parecia melhor.
Resolvi então escrever as minhas próprias histórias.

Durante o meu curso de ginásio, fui estimulado pelo fato de ser


sempre dos melhores em português e dos piores em matemática — o que,
para mim, significava que eu tinha jeito para escritor.

Naquela época os programas de rádio faziam tanto sucesso quanto


os de televisão hoje em dia, e uma revista semanal do Rio, especializada
em rádio, mantinha um concurso permanente de crônicas sob o titulo "O
Que Pensam Os Rádio-Ouvintes". Eu tinha 12, 13 anos, e não pensava
grande coisa, mas minha irmã Berenice me animava a concorrer,

passando àvárias
Mandava máquina
por as minhase crônicas
semana, e mandando-as
era natural que volta e para
meiaouma
concurso.
fosse
premiada.

Passei a escrever contos policiais, influenciado pelas minhas


leituras do gênero. Meu autor predileto era Edgar Wallace. Pouco depois
passaria a viver sob a influência do livro mais sensacional que já li na
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 49

minha vida, que foi o Winnetou de Karl May, cujas aventuras procurava
imitar nos meus escritos.

A partir dos 14 anos comecei a escrever histórias "mais sérias",


com pretensão literária. Muito me ajudou, neste início de carreira,ter
aprendido datilografia na velha máquina Remington do escritório de meu
pai. E a mania que passei a ter de estudar gramática e conhecer bem a
língua me foi bastante útil.

Mas nada se pode comparar à ajuda que recebi nesta primeira fase
dos escritores de minha terra Guilhermino César, João Etienne filho e
Murilo Rubião -- e, um pouco mais tarde, de Marques Rebelo e Mário de
Andrade, por ocasião da publicação do meu primeiro livro, aos 18 anos.

De tudo, o mais precioso à minha formação, todavia, talvez tenha


sido a amizade que me ligou desde então e pela vida afora a Hélio
Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, tendo como
inspiração comum o culto à Literatura.

Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 4 - Crônicas", Editora Ática -
São Paulo, 1980, pág. 8.

VINTE E UMA COISAS QUE APRENDI COMO ESCRITOR


Moacyr Scliar

APRENDI que escrever é basicamente contar histórias, e que os


melhores livros de ficção que li eram aqueles que tinham uma história
para contar.

APRENDI que o ato de escrever é uma seqüela do ato de ler. É preciso


captar com os olhos as imagens das letras, guardá-las no reservatório que
temos em nossa mente e utilizá-las para compor depois as nossas próprias
palavras.

APRENDI que, quando se começa, plagiar não faz mal nenhum. Copiei
descaradamente muitos escritores, Monteiro Lobato, Viriato Correa e
outros. Não se incomodaram com isto. E copiar me fez muito bem.
APRENDI que, quando se começa a escrever, sempre se é
autobiográfico, o que - de novo - não prejudica. Mas os escritores que
ficam sempre na autobiografia, que só olham para o próprio umbigo,
acabam se tornando chatos.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 50

APRENDI que, para aprender a escrever, tinha de escrever. Não


adiantava só ficar falando de como é bonito ( ... )

APRENDI que uma boa idéia pode ocorrer a qualquer momento:


conversando com alguém, comendo, caminhando, lendo (e, segundo
Agatha Christie, lavando pratos).

APRENDI que uma boa idéia é realmente boa quando não nos
abandona, quando nos persegue sem cessar. O grande teste para uma
idéia é tentar se livrar dela. Se veio para ficar, se resiste ao sono, ao
cansaço, ao cotidiano, é porque merece atenção.

APRENDI que aeroportos e bares são grandes lugares para se escrever.


O bar, por razões óbvias; o aeroporto, porque neles a vida como que está
em suspenso. Nada como uma existência provisória para despertar a
inspiração literária.

APRENDI que as costas do talão de cheque é um bom lugar para anotar


idéias (é por isso que escritor tem de ganhar a grana suficiente para abrir
uma conte bancária). O guardanapo do restaurante também serve, desde
que seja de papel e não de pano. (...)

APRENDI que o computador é um grande avanço no trabalho de


escrever, mas tem um único inconveniente: elimina os srcinais, os
riscos, os borrões, e portanto a história do texto, a qual - como toda
história - pode nos ensinar muito.

APRENDI que a mancha gráfica representada pelo texto impresso diz


muito sobre este mesmo texto. As linhas não podem estar cheias de
palavras; o espaço vazio é tão eloqüente quanto o espaço preenchido pela
escrita. O texto precisa respirar, e quando respira, fica graficamente
bonito. Um texto bonito é um texto bom.

APRENDI a rasgar e jogar fora. Quando um texto não é bom, ele não é
bom - ponto. Por causa da auto-comiseração (é a nossa vida que está ali!)
temos a tentação de preservá-lo, esperando que, de forma misteriosa,
melhore por si. Ilusão. É preciso ter a coragem de se desfazer. A cesta de
papel é uma grande amiga do escritor. (...)

APRENDI a não ter pressa de publicar. Já se ouviu falar de muitos


escritores batendo aflitos, à porta de editores. O que é mais raro, muito
mais raro, são os leitores batendo à porta do escritor.

APRENDI a não reler meus livros. Um livro tem existência autônoma,


boa e má. Não precisa do olhar de quem o escreveu para sobreviver.

APRENDI que, para um escritor, um livro é como um filho, mas que é


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 51

preciso diferenciar entre filhos e livros.

APRENDI que terminar um livro se acompanha de uma sensação de


vazio, mas que o vazio também faz parte da vida de quem escreve.

APRENDI que há uma diferença entre literatura e vida literária, entre


literatura e política literária. Escrever é um vício solitário.

APRENDI a diferenciar entre o verdadeiro crítico e o falso crítico. O


falso crítico não está falando do que leu. Está falando dos seus próprios
problemas.

APRENDI que, para um escritor, frio na barriga ou pêlos do braço


arrepiados são um bom sinal: um livro vem vindo aí.

Veja agora os depoimentos de outros escritores com relação ao


trabalho com as palavras:

Escrevo sobre aquilo que não sei para ficar sabendo. Tenho a
impressão de que tudo que a gente escreve, consciente ou
inconscientemente é sempre uma catarse... É uma forma de recuperação
do sentido da vida. (Fernando Sabino)

- Gosto de escrever, é quando mais me sinto eu, me percebo inteiro


do jeito que sou (...) “O diabo é que a gente nunca escreve o que quer,
pois cada um escreve do jeito que pode. (Airtom Monte)

- Na verdade o que vem primeiro não é a idéia, nem a história, ou


os personagens. O que vem primeiro é a angústia(...)Vem aquela
angústia, aquela necessidade compulsiva ... Eu tenho de escrever uma
peça (...) todo o meu teatro opõe o homem ao sistema social. (Dias
Gomes)

- Às vezes eu passava noites em claro, escrevendo, simplesmente


porque não podia parar de escrever. (Moacyr Scliar)

- Eu gosto mesmo é de escrever ficção e é ficção que eu vou


escrever. (Marilene Felinto)

- Escrevo quando me dá vontade, isto é: quando a inspiração


vem(...) Se o que quero é dizer uma determinada coisa, e eu a direi ao
preço que for, mesmo desrespeitando regras de gramática. (Octávio de
Faria)

- Todo artista produz para externar suas paixões, seus recalques,


seus conflitos íntimos. Então como é que pode ser imparcial ? (...)
Pessoas que escrevem, como as que pintam ou representam, são pessoas
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 52

complicadas, parciais, cheiade personalismos e de preferências como as


demais pessoas do mundo (Rachel de Queiroz)

TIPOS DE DISCURSO

Um escritor pode mostrar os pensamentos e as falas das personagens através de três


tipos de discurso, a saber: direto, indireto ou indireto livre.
1. DISCURSO DIRETO – Quando o narrador e as personagens têm direito de fala, cada
um de sua vez, sem atropelos e com marcação de passagem de uma fala para outra.

Vílson chegou mansamente e perguntou para Saul:


- Você quer ir ao cinema comigo?
Saul respondeu espantado:
- Sinto muito, já tenho compromisso para este final de semana.

2. DISCURSO INDIRETO – Quando o narrador sintetiza com suas palavras aquilo que
seria dito pelas personagens. Geralmente o texto é constituído de vários períodos
compostos por subordinação, com orações substantivas evidenciadas pelo uso da
conjunção integrante.

Vílson chegou mansamente e perguntou se Saul queria ir ao cinema com ele. Saul,
espantado, respondeu que sentia muito, mas já estava com compromisso marcado para
aquele final de semana.

3. DISCURSO INDIRETO LIVRE – É aquele em que não é possível definir com

exatidão quem está falando. As falas podem tanto ser do narrador quanto das
personagens, ou ainda serem apenas reflexos dos pensamentos de algum deles.

Convidar ou não Saul para ir ao cinema? E se ele já tivesse compromisso para o fim de
semana. Decepção. Resolveu arriscar.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 53

PRÁTICA

Observe o tipo de discurso utilizado pelo cronista Stanislaw Ponte Preta, no texto a
seguir:

Vamos Acabar Com Esta Folga


Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)

O negócio aconteceu num café. Tinha uma porção de sujeitos, sentados nesse
café, tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses,
argelinos, alemães, o diabo.
De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via homem
pra ele ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela provocação e logo um
turco, tão forte como o alemão, levantou-se de lá e perguntou:
— Isso é comigo?
— então
Aí Pode ser com avançou
o turco você também
para o—alemão
respondeu o alemão.
e levou uma traulitada tão segura que
caiu no chão. Vai daí o alemão repetiu que não havia homem ali dentro pra ele.
Queimou-se então um português que era maior ainda do que o turco. Queimou-
se e não conversou. Partiu para cima do alemão e não teve outra sorte. Levou um
murro debaixo dos queixos e caiu sem sentidos.
O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes
que o que dizia era certo. Não havia homem para ele ali naquele café. Levantou-
se então um inglês troncudo pra cachorro e também entrou bem. E depois do
inglês foi a vez de um francês, depois de um norueguês etc. etc. Até que, lá do
canto do café levantou-se um brasileiro magrinho, cheio de picardia para
perguntar, como os outros:
— Isso é comigo?
O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o brasileiro deu um sorriso cheio
de bossa e veio vindo gingando assim pro lado do alemão. Parou perto, balançou
o corpo e... pimba! O alemão deu-lhe uma porrada na cabeça com tanta força
que quase desmonta o brasileiro.
Como, minha senhora? Qual é o fim da história? Pois a história termina aí,
madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e
pensar que são mais malandros do que os outros.
CURSO MÉTODO VEST BULARES 54

DICAS IMPORTANTES:

- Tente sempre dar mais


a avi suas personagens
através da elaboração de diál gos e de situações
verossímeis.

- Procure adequar o modo de falar das personagens a


sua situação sócio-econômica.
- Leia sempre os grandes iccionista, observando
sempre quais são os seus passos n criação do enredo das
histórias.
- Procure ser leve na criação de seus textos, evitando tornar o t xto um emaranhado de
situações sem senti o. (da Internet)

A CRÔNICA
CO CEITO BÁSICO: Crônica deriva da palav a Cronus (tempo), por
isso é tida como um tipo de texto que busca representar os
acon ecimentos de uma época. O bom cronista está sempre atento aos
acon ecimentos circundantes e não titubeia e transformar um fato
corri ueiro em uma obra de arte. Tecnicamen te, a crônica segue os
mesmos passos de um tex to narrativo. A grande diferença está no fat o de ser uma produção
necessariamente ligada ao acontecimentos de nosso cotidiano. O Bra il pode ser orgulhar de
ter alguns dos mais impo tantes cronistas do mundo. É o caso de R ubem Braga, Fernando
Sabino, Lourenço Diaféria, Stanislaw Ponte Preta e outros de grande tal nto.

UM EXEMPLO DE CRÔNICA
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 55

A ÚLTIMA CRÔNICA

Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café


junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.

A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito


mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada
um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo
humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao
circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante
de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-
me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar,
curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na
lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem
assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que
merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das


últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da
humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença
de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido
pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou
correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que
compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da
sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente


retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta
no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando
imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este
ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A
mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua
presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem
atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um
bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o


pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo
que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A
mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se
mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como
um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 56

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente


na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende
as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore
e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas,
muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos:
"parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a
guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos
sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura —
ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao
colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer
intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo,
nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça
abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

COMENTÁRIO: Um acontecimento aparentemente banal dá margens para que o escritor não


apenas mostre o fato, mas que também faça uma denúncia social a seu modo. A linguagem é
acessível, com um vocabulário bastante simples. Qualquer pessoa, de qualquer nível social
pode compreender a mensagem inserida nas entrelinhas da crônica, pois, sendo inicialmente um

texto jornalístico, ela não tem a intenção de ser difícil, mas sim de mostrar um pouco de uma
realidade que não é observada por todos da mesma forma.

Para concluir esta parte sobre crônica, vamos ler um belíssimo texto de Vinícius de
Morais, mais conhecido no mundo literário como poeta, mas que também nos deixou
maravilhosas páginas de prosa, como o texto a seguir. Observe bem o senso lírico do autor e e
sua sensibilidade para tratar de um tema tão belo.

Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso,


muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher;


pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 57

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser


de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada
onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para
viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho
amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É
preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois
quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de
que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem
trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa,
indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de
arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é
preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a
bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no
seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito


mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o
grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois,
um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas,


molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor
que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa
farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto
e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um
cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois
qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser
bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro
com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e


ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se
souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 58

Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág.
130.

O cronista é um escritor crônico


Affonso Romano de Sant’Anna

O primeiro texto que publiquei em jornal foi uma crônica. Devia ter eu lá
uns 16 ou 17 anos. E aí fui tomando gosto. Dos jornais de Juiz de Fora, passei para
os jornais e revistas de Belo Horizonte e depois para a imprensa do Rio e São
Paulo. Fiz de tudo (ou quase tudo) em jornal: de repórter policial a crítico literário.
Mas foi somente quando me chamaram para substituir Drummond no Jornal do
Brasil, em 1984, que passei a fazer crônica sistematicamente. Virei um escritor
crônico.

O que é um cronista?

Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista é como uma galinha, bota seu
ovo regularmente. Carlos Eduardo Novaes diz que crônicas são como laranjas,
podem
de casa ser doces ou azedas
ou espremidas na salae de
seraula.
consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona

Já andei dizendo que o cronista é um estilita. Não confundam, por enquanto,


com estilista. Estilita era o santo que ficava anos e anos em cima de uma coluna,
no deserto, meditando e pregando. São Simeão passou trinta anos assim, exposto
ao sol e à chuva. Claro que de tanto purificar seu estilo diariamente o cronista
estilita acaba virando um estilista.

O cronista é isso: fica pregando lá em cima de sua coluna no jornal. Por isto,
há uma certa confusão entre colunista e cronista, assim como há outra confusão
entre articulista e cronista. O articulista escreve textos expositivos e defende temas
e idéias. O cronista é o mais livre dos redatores de um jornal. Ele pode ser
subjetivo. Pode (e deve) falar na primeira pessoa sem envergonhar-se. Seu "eu",
como o do poeta, é um eu de utilidade pública.

Que tipo de crônica escrevo? De vários tipos. Conto casos, faço descrições,
anoto momentos líricos, faço críticas sociais. Uma das funções da crônica é
interferir no cotidiano. Claro que essas que interferem mais cruamente em
assuntos momentosos tendem a perder sua atualidade quando publicadas em livro.
Não tem importância. O cronista é crônico, ligado ao tempo, deve estar
encharcado, doente de seu tempo e ao mesmo tempo pairar acima dele.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 59

DICAS IMPORTANTES:

1. Tudo pode servir de tema para uma crônica.

2. Evite palavras difíceis, pois um cronista deve sempre prezar pela clareza de suas idéias.
3. A defesa da idéia não precisa ser direta e evidente. É nas entrelinhas que um cronista demonstra todo o
seu potencial de observação e de argumentação.
4. Evite a repetição de idéias. O importante é a essência do texto.

LENDO UM CONTO

Para concluir o estudo do texto narrativo, vamos ler um conto de Ítalo Calvino, um dos
mais importantes escritores do século XX. Note que por traz de um enredo aparentemente
simples, podemos encontrar muitas informações de caráter histórico e ideológico. Veja também
como um tema bastante complexo pode ser trabalhado de forma bastante simples e didática.

A OVELHA NEGRA
Ítalo Calvino

Havia um país onde todos eram ladrões.


À noite, cada habitante saía, com a gazua e a lanterna, e ia arrombar a
casa do vizinho. Voltava de madrugada, carregado, e encontrava sua casa
roubada.
E assim todos viviam em paz e sem prejuízo, pois um roubava o outro, e
este, um terceiro, e assim por diante, até que se chegava ao último, que roubava
o primeiro. O comércio naquele país só era praticado como trapaça, tanto por
quem vendia, como por quem comprava. O governo era uma associação de
delinqüentes,
preocupavam emvivendo à custa
fraudar dos súditos,
o governo. Assim aevida
os súditos por sem
prosseguia sua tropeços,
vez só see
não havia ricos nem pobres.
Ora, não se sabe como, ocorre que no país apareceu um homem honesto.
À noite, em vez de sair com um saco e a lanterna, ficava em casa fumando e
lendo romances.
Vinham os ladrões, viam a luz acesa e não subiam.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 60

Essa situação durou algum tempo: depois foi preciso fazê-lo


compreender que, se quisesse viver sem fazer nada, não era essa uma boa razão
para não deixar os outros fazerem. Cada noite que ele passava em casa era uma
família que não comia no dia seguinte.
Diante desses argumentos, o homem honesto não tinha o que objetar,
também começou a sair de noite para voltar de madrugada, mas não ia roubar.
Era honesto, não havia nada a fazer. Andava até a ponte e ficava vendo passar a
água embaixo. Voltava para casa, e a encontrava roubada.
Em menos de uma semana o homem honesto ficou sem um tostão, sem o
que comer, com a casa vazia. Mas ata aí tudo bem, porque era culpa sua; o
problema era que seu comportamento criava uma grande confusão. Ela deixava
que lhe roubassem tudo, ao mesmo tempo, não roubava ninguém; assim, sempre
havia alguém que, voltado para casa de madrugada, achava a casa intacta: a casa
que o homem honesto deveria ter roubado. O fato é que, pouco depois, os que
não eram roubados acabaram ficando mais ricos que os outros e passaram a não
querer mais roubar. E, além disso, os que vinham para roubar a casa do homem
honesto, sempre a encontravam vazia; assim, iam ficando pobres.
Enquanto isso, os que tinham se tornado ricos pegaram o costume, eles
também, de ir de noite até à ponte, para ver a água que passava embaixo. Isso
aumentou a confusão, pois muitos outros ficaram ricos e muitos outros ficaram
pobres.
Ora, os ricos perceberam que, indo de noite até a ponte, mais tarde
ficariam pobres. E pensaram: “Paguemos aos pobres para irem roubar para nós”.
Fizeram-se os contratos, estabeleceram-se os salários, as percentagens:
naturalmente, continuavam a ser ladrões e procuram enganar-se uns aos outros.
Mas, como acontece, os ricos tornavam-se cada vez mais ricos e os pobres cada
vez mais pobres.
Havia ricos tão ricos que não precisavam mais roubar e que mandavam
roubar para continuaram a ser ricos. Mas, se paravam de roubar, ficam pobres
porque os pobres os roubavam. Então pagaram aos mais pobres dos pobres para
defenderem as suas coisas contra os outros pobres, e assim instituíram a polícia e
construíram as prisões.
Dessa forma, já poucos anos depois do episódio do homem honesto, não
se falava mais de roubar ou de ser roubado, mas só de ricos ou de pobres, e no
entanto todos continuavam a ser pobres.
Honesto só tinha havido aquele sujeito, e morrera logo, de fome.
CURSO MÉTODO VEST BULARES 61

NOÇÕES DE DISSERTAÇÃO

Para começar, vam s ler um artigo da escritora gaúcha


. Observemos
Lya Luf como ela
trata um assunto bastante c omum com uma outra visão. Depois vamos ntrar em contato com o
que alguns leitores falaram sobre o texto.

BALEIAS NÃO ME EMOCIONAM


Lya Luft
(Revista Veja, 25 de agosto de 2004)

Hoje quero falar de gente e b ichos. De notícias que


freqüentemente aparecem sobre baleias encalhadas e pingüins
perdidos em alguma praia. Não sei se me aborrece ou me
inquieta ver tantas pessoas acorrend o, torcendo, chorando,
porque uma baleia morre encalhada. as certamente não me
emociona.
Sei que não vão me achar muit simpática, mas eu não
sou sempre simpática. Aliás, se não g sto de grosseria nem de
vulgaridade, também desconfio dos eternos bonzinhos, dos
politicamente corretos, dos sempre sorridentes ou gentis.
Prefiro o ol o no olho, a clareza e a sinceridade – desd que não machuque só
pelo prazer e magoar ou por ressentimento.
Nãog sto de ver bicho sofrendo: sempre curti ani ais, fui criada com eles.
Na casa ond e nasci e cresci, tive até uma coruja, cham da, sabe Deus por quê,
Sebastião. ra branca,construída
gaiola espe ialmente enorme, para
com ela,
aqueles
quaseolhos
do taqu e anho
reviravam.
de um Fugiu da
pequeno
quarto, e po muitos dias eu a procurei no topo das árvor s, doída de saudade.

Na il ha improvável que havia no mínimo lago d jardim que se estendia


atrás da cas , viveu a certa altura da minha infância um casal de veadinhos, dos
quais um ta mbém fugiu. O outro morreu pouco depois . Segundo o jardineiro,
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 62

morreu de saudade do fujão – minha primeira visão infantil de um amor romeu-


e-julieta. Tive uma gata chamada Adelaide, nome da personagem sofredora de
uma novela de rádio que fazia suspirar minha avó, e que meu irmão pequeno
matou (a gata), nunca entendi como – uma das primeiras tragédias de que tive
conhecimento. De modo que animais fazem parte de minha história, com muitas
aventuras, divertimento e alguma emoção.
Mas voltemos às baleias encalhadas: pessoas torcem as mãos, chegam
máquinas variadas para içar os bichos, aplicam-se lençóis molhados, abrem-se
manchetes em jornais e as televisões mostram tudo em horário nobre. O público,
presente ou em casa, acompanha como se fosse alguém da família e, quando o
fim chega, é lamentado quase com pêsames e oração.
Confesso que não consigo me comover da mesma forma: pouca
sensibilidade, uma alma de gelos nórdicos, quem sabe? Mesmo os que não me
apreciam, não creiam nisso. Não é que eu ache que sofrimento de animal não
valha a pena, a solidariedade, o dinheiro. Mas eu preferia que tudo isso fosse
gasto com eles depois de não haver mais crianças enfiando a cara no vidro de
meu carro para pedir trocados, adultos famintos dormindo em bancos de praça,
famílias morando embaixo de pontes ou adolescentes morrendo drogados nas
calçadas.
Tenho certeza de que um mendigo morto na beira da praia causaria menos
comoção do que uma baleia. Nenhum Greenpeace defensor de seres humanos se
moveria. Nenhuma manchete seria estampada. Uma ambulância talvez levasse
horas para chegar, o corpo coberto por um jornal, quem sabe uma vela acesa.
Curiosidade, rostos virados, um sentimentozinho de culpa, possivelmente
irritação: cadê as autoridades, ninguém toma providência?
Diante de um morto humano, ou de um candidato a morto na calçada, a
gente se protege com uma armadura. De modo que (perdão) vejo sem
entusiasmo as campanhas em favor dos animais – pelo menos enquanto se
deletarem tão facilmente homens e mulheres.

COMENTÁRIOS DOS LEITORES

Num tempo em que a hipocriia e a m!dia" de m#o dada" ditam noo modo de a$ir
e penar" %ico muito %e&i' ao &er o (&timo arti$o de L)a Lu%t *+Ba&eia n#o me emocionam+"
Ponto de ,ita" -. de a$oto0 N1 no eni2i&i'amo com aqui&o que n#o no caua
e%or3o0 Como no eni2i&i'ar com um mendi$o na ca&3ada quando poder!amo t45&o
au6i&iado7 Me&hor penar na 2a&eia" coitadinha0 Como tam28m #o coitadinho aque&e

que paam %ome na 9%rica" nunca o %aminto de noa rua0 Pao" a partir de ho:e" a
&er eu te6to com outro o&ho0 A enhora $anhou meu repeito e minha admira3#o0
Gilberto Carlos Nunes Bra!&ia" ;F

Etou decepcionada com o Ponto de ,ita ecrito por L)a Lu%t0 N#o epera,a um
te6to t#o %rio de uma ecritora que ha,ia demontrado tanta eni2i&idade anteriormente0
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 63

Sou de%enora do animai e acredito que o ere humano t4m uma id8ia terri,e&mente
equi,ocada de que #o prioridade na <erra0 Somo apena e&emento que comp=em a ,ida
no p&aneta0 Acredito que a humanidade 8 reponá,e& pe&a maiore tra$8dia do noo
p&aneta" dede 2a&eia enca&hada at8 a mi8ria 2rai&eira de todo o dia0
Frida Frick Cacai" Portu$a&

> intereante como certo +inte&ectuai+ 2rai&eiro $atam eu tempo em criticar o
de%enore de animai0 E 8 empre o memo ar$umento? a ,ida da ep8cie humana 8 mai
importante que a ,ida de qua&quer outra ep8cie anima&0 Ee tipo de penamento Peter
Sin$er de%iniu como +peciim+0 Em ,e' de criticar o que %a'em" da pr16ima ,e' que
uma crian3a %aminta aparecer na :ane&a do eu carr#o com ar5condicionado" %a3a como o
protetore de animai? pe$ue ee er e &e,e para ua caa" d4 de comer e trate5o com
amor e carinho0

Lane Azevedo Clayton Autin" <e6a" E@A

uando L)a Lu%t prop=e que 1 ,o&temo noa aten3#o para o direito animai
depoi que ti,ermo reo&,ido o pro2&ema humano" e&a prop=e a ne$&i$4ncia perp8tua
do animai0 Io porque nunca che$ará o dia em que todo o pro2&ema humano
etar#o reo&,ido0
Regina Rheda Gaine,i&&e" F&1rida" E@A

@m etudo %eito no E@A motra uma re&a3#o entre crue&dade com ere humano e
com animai  muito eria& i&&er come3aram matando animai0 O ado&ecente
reponá,ei pe&o recente tiroteio em co&8$io americano t4m em comum um paado
de ,io&4ncia contra animai0

Cristina Nishida Na$ano" Dap#o

Como podemos ver, há os mais diversos pontos de vista sobre um mesmo assunto. Cada

pessoa pode manifestar-se de formas diferentes das outras, sem que necessariamente alguém
tenha que estar errado. Saber argumentar é o foco principal de um trabalho dissertativo. E é isso
que vamos estudar a seguir.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 64

CONCEITO BÁSICO: Dissertar significa defender um ponto de vista com relação a um tema
proposto, ou seja, o escritor deve demonstrar suas idéias de modo a deixar claro que se
posiciona contra ou a favor de determinado assunto.

Normalmente, os alunos preferem a dissertação à narração. Há vários motivos para que

isso aconteça. Como já estudamos anteriormente, escrever um texto narrativo exige uma boa
dose de criatividade e um certo domínio técnico da formação do enredo. Já para elaborar um
texto dissertativo, o primordial é que se esteja bem informado acerca do(s) assunto(s)
discutido(s). a dissertação exige um vocabulário teoricamente mais rico que o da narração, ao
mesmo tempo em que os aspectos gramaticais são tratados de forma mais rigorosa.

A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Um texto dissertativo deve, obrigatoriamente, estar interligado. Cada argumento tem


que ser usado tendo-se em vista o conjunto harmônico das idéias discutidas. As partes de um
texto dissertativo são:

INTRODUÇÃO – Exposição gral do


tópico defendido
1 parágrafo breve

DESENVOLVIMENTO
A defesa da idéia, com argumentos e
exemplificação.
X parágrafos

CONCLUSÃO – enceramento que pode


trazer questionamentos ou sugestões

1 parágrafo breve
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 65

ATIVIDADE PRÁTICA – leia o texto dissertativo a seguir, observando cada uma das partes
do texto. É bom também prestar atenção para os elementos que fazem a coesão entre os
parágrafos.

SEMPRE LEIA O ORIGINAL


Stephen anit'

Uma greve geral dos professores alguns anos atrás teve uma conseqüência
interessante. Reintroduziu, para milhares de estudantes, o valor esquecido das
bibliotecas. Os melhores alunos readquiriram uma competência essencial para o
mundo moderno - voltaram a aprender sozinhos, como antigamente. Muitos
descobriram que alguns professores nem fazem tanta falta assim. Descobriram
também que nas
bibliotecas estão os livros srcinais, as obras que seus professores usavam para dar
as aulas, os grandes clássicos, os autores que fizeram suas ciências famosas.
Muitos professores se limitam a elaborar resumos malfeitos dos grandes
livros. Quantas vezes você já assistiu a uma aula em que o professor parecia estar
lendo o material? Seria bem mais motivador e eficiente deixar que os próprios
alunos lessem os livros. Os professores serviriam para tirar as dúvidas, que
fatalmente surgiriam.
Hoje, muitas bibliotecas vivem vazias. Pergunte a seu filho quantos livros
ele tomou emprestado da biblioteca neste ano. Alguns nem saberão onde ela fica.
Talvez devêssemos pensar em construir mais bibliotecas antes de contratar mais
professores. Um professor universitário, ganhando 4.000 reais por mês ao longo
de trinta anos (mais os cerca de vinte da aposentadoria), permitiria ao Estado
comprar em torno de 130.000 livros, o suficiente para criar 130 bibliotecas.
Seiscentos professores poderiam financiar 5.000 bibliotecas de 10.000 livros cada
uma, uma por município do país.
Universidades são, por definição, elitistas, para a alegria dos cursinhos.
Bibliotecas são democráticas, aceitam todas as classes sociais e etnias. Aceitam
curiosos de todas as idades, sete dias por semana, doze meses por ano. Bibliotecas
permitem ao aluno depender menos do professor e o ajudam a confiar mais em si.
Nunca esqueço minha primeira visita a uma grande biblioteca, e a sensação
de pegar nas mãos um livro escrito pelo próprio Einstein, e logo em seguida o de
cálculo de Newton. Na época, eu queria ser físico nuclear.
Infelizmente, livros nunca entram em greve para alertar sobre o total
abandono em que se encontram nem protestam contra a enorme falta de
bibliotecas no Brasil. Visitei no ano passado uma escola secundária de Phillips
Exeter, numa cidade americana de 30.000 habitantes, no desconhecido Estado de
New Hampshire. Os alunos me mostraram com orgulho a biblioteca da escola, de
NOVE andares, com mais de 145.000 obras. A Biblioteca Mário de Andrade, da
cidade de São Paulo, tem 350.000. A bibliotecária americana ganhava mais do que
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 66

alguns dos professores, ao contrário do que ocorre no Brasil, o que demonstra o


enorme valor que se dá às bibliotecas nos Estados Unidos.
Não quero parecer injusto com os milhares de professores que incentivam os
alunos a ler livros e a freqüentar bibliotecas. Nem quero que sejam substituídos,
pois são na realidade facilitadores do aprendizado, motivam e estimulam os alunos
a estudar, como acontece com a maioria dos professores do primário e do colegial.
Mas estes estão ficando cada vez mais raros, a ponto de se tornarem assunto de
filme, como ocorre em Sociedade dos Poetas Mortos, com Robin Williams.
Na próxima aula em que seu professor fizer o resumo de um livro só, ou lhe
entregar uma apostila mal escrita, levante-se discretamente e vá direto para a
biblioteca. Pegue um livro srcinal de qualquer área, sente-se numa cadeira
confortável e leia, como se fazia 500 anos atrás. Você terá um relato apaixonado,
aguçado, com os melhores argumentos possíveis, de um brilhante pensador. Você
vai ler alguém que tinha de convencer toda a humanidade a mudar uma forma de
pensar.
Um autor destemido e corajoso que estava colocando sua reputação, e muitas
vezes seu pescoço, em risco. Alguém que estava escrevendo apaixonadamente
para convencer uma pessoa bastante especial: você.

Stephen anit' %oi pro%eor uni,eritário por trinta ano *0anit'0com02r

Re,ita e:a" Editora A2ri&" edi3#o HJ-" ano K" n H de H de maio de


-JJK" pá$ina -J

ARGUMENTOS E PROGRESSÃO DE IDÉIAS

Tão importante quanto ter conhecimento sobre o que se vai escrever, é ter poder de
argumentação para convencer os leitores de que nossas idéias são lógicas e devem ser levadas a
sério. Para que isso ocorra, será necessário que o escritor trabalhe seu poder de raciocínio e que
haja uma espécie de progressão temática no decorrer do texto, caso contrário, teremos o que
chamamos de circunlóquio, ou seja, idéias repetidas com palavras diferentes, o que é altamente
prejudicial ao entendimento global dos argumentos.

A seguir, iremos ler um texto de autoria do senador Cristovam Buarque. O escritor, de


modo bastante claro discute um tema que sempre é lembrado nas rodas de conversa. Mas, no
CURSO MÉTODO VEST BULARES 67

lugar de repetir fórmulas feitas, prefere, em um tom ial,


bastante
contrariar
coloqo senso
comum e discutir seu pon o de vista com relação à problemática esc lhida para o debate de
idéias.

In A ernacionalização do Mundo
Cristovam Buarque
Durante debate em uma Universida e, nos Estados Unidos,
fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da
Amazônia. O jovem americano introduzi sua pergunta dizendo
que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.
Foi a primeira vez que um debatedor deter inou a ótica humanista
como o ponto de partida para uma resposta minha.
De fato, como brasileiro eu simple mente falaria contra a
internacionalização da Amazônia. Por ma is que nossos governos
não tenham o devido cuidado com esse pat imônio, ele é nosso.
Respondi que, como humanista, sentindo o risco da
degradação ambiental que sofre a Amazôn ia, podia imaginar a sua
internacionalização, como também de udo o mais que tem
importância para a Humanidade.
Se a mazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada,
internaciona
petróleo é t lizemos também
o importante para as reservas da
o bem-estar de humanid
petróleo de
do quanto
mundoa inteiro.
AmazôniaO
para o noss futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de
aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou n ão o seu preço. Os ricos
do mundo, n o direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade.
Dam sma forma, o capital financeiro dos pa íses ricos deveria ser
internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para t odos os seres humanos,
ela não pod ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a
Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado p elas decisões arbitrárias
dos especul adores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras
sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especu ação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de
todos os gr ndes museus do mundo. O Louvre não d ve pertencer apenas à
França. Cad a museu do mundo é guardião das mais bela s peças produzidas pelo
gênio huma o. Não se pode deixar esse patrimônio cult ral, como o patrimônio
naturalama ônico, seja manipulado e destruído pelo gos o de um proprietário ou
de um país.
quadro de Não faz muito,
m grande um milionário
mestre. japonês,
Antes disso, deciq uadro
aquele iu enterrar comterelesido
deveria um
internacionalizado.
Duran e o encontro em que recebi a pergunta, as N ações Unidas reuniam o
Fórum do ilênio, mas alguns presidentes de países ti veram dificuldades em
comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA . Por isso, eu disse que
Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser i nternacionalizada. Pelo
CURSO MÉTODO VEST BULARES 68

menos Man hatan deveria pertencer a toda a Humanida de. Assim como Paris,
Veneza, Ro a, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recif , cada cidade, com sua
beleza espec ifica, sua história do mundo, deveria pertenc r ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia , pelo risco de deixá-la
nas mãos d brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos
EUA. Até p orque eles já demonstraram que são capaz s de usar essas armas,
provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis
queimadas f itas nas florestas do Brasil.
Nos s us debates, os atuais candidatos à presi dência dos EUA têm
defendido a idéia de internacionalizar as reservas flores ais do mundo em troca
da dívida. omecemos usando essa dívida para garant ir que cada criança do
mundo ten a possibilidade de ir à escola. Internaci nalizemos as crianças
tratando-as, todas elas, não importando o pais onde nasc eram, como patrimônio
que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do q ue merece a Amazônia.
Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um
patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que las trabalhem quando
deveriames udar; que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionali zação do mundo. Mas,
enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei pa a que a Amazônia seja
nossa. Só nossa.

Veja os agora uma caso em que a argumen tação não se sustenta.


Emboratec icamente bem escrito, o texto abaixo, de aut oria do jornalista Diogo
Mainardi, ão encontra sustentação no que diz espeito ao poder de
argumentaç o.

O HINO SÓ ATRAPALH
Diogo Mainardi

Os jogadores brasileiros cantar m direitinho o Hino


Nacional. O esforço para memorizá-lo os atordoou. Tanto que
só conseguiram ganhar da Turquia gra ças a um gol roubado.
Compare o hino turco com o brasileiro. O turco tem apenas oito
versos. Encontram-se temas comuns a outros hinos, como
sacrifício, liberdade, sangue, bandeira e heroísmo, mas eles
aparecem de maneira simples, direta. O hino brasileiro é o
oposto: longo demais, rebuscado de ais, palavroso demais,
com seus vinte e tantos adjetivos. Per e-se em redundâncias,
em construções em ordem inversa, em ridículas prosopopéias.
Roque Júnior entende como as marge s plácidas do Ipiranga
podem ouvir um brado retumbante? Edmílson sabe a dif rença entre um lábaro,
uma flâmula uma bandeira? Juninho Paulista já viu u céu risonho em nosso
impávido col sso? É natural que, com essas porcarias a cabeça, eles acabem
tropeçando na bola.
CURSO MÉTODO VEST BULARES 69

O hino chinês também é melhor que o brasileiro.om o"nosso sangue e a


nossacarne,c onstruamos outra Grande Muralha." Tem o ze versos, sendo que a
maioria repet e "avante, avante, avante" e "marchar, archar, marchar". Dos
adversários d Brasil na primeira fase da Copa do Mundo, só a Costa Rica possui
um hino espa lhafatoso e adjetivado como o nosso: "N bre pátria tua formosa
bandeira, abai xo do límpido azul de teu céu, branca e pura descansa a paz, na luta
tenaz de fecu do labor". Mas os costa-riquenhos levam u a vantagem sobre nós:
seu hino é mai s curto e, portanto, menos patético.
O hino rasileiro foi composto por Francisco Manu l da Silva em 1831. Só
em 1922, por ém, ganhou uma letra oficial, de autoria d e um poeta justamente
esquecido cha mado Joaquim Osório Duque Estrada. Ou se ja, o hino ficou 91 anos
sem ter uma etra. Proponho um retorno a esses velhos t empos. Vamos abolir a
letra do nosso hino. Foi o que fez a Espanha depois do fi da ditadura franquista:
eliminou a le ra do hino e manteve apenas a música. Ho e em dia, os jogadores
espanhóis se l imitam a cantarolar: "Lá-lalá-lalá-lalááá". Fi ca bem mais fácil jogar
bola desse jei to. Podemos também imitar a Alemanha, q ue cortou partes de seu
hino, em parti cular as que recordavam os sonhos de sup emacia dos nazistas. O
problema, nes se caso, é saber qual estrofe salvar do hino b rasileiro. A que começa
com "Brasil, m sonho intenso, um raio vívido" ou a qu começa com "Deitado
eternamente e m berço esplêndido"?
Outra s ída é trocar de hino. Já tentamos fazê-lo no passado. Depois da
proclamação a República, nossos chefes militares arma ram um concurso para
escolher um novo hino, porque o velho evocava o i pério. O vencedor se
caracterizou ela mais escandalosa tentativa de remoçã o histórica: "Nós nem
cremosquee cravos outrora tenha havido em tão nobre p aís". Isso no Brasil, um
dos últimos l gares do mundo a abolir a escravidão. Ain a bem que Deodoro da
Fonseca se r cusou a adotá-lo como novo Hino Nacion al, relegando-o à mera
condição de hi no da proclamação da República.
Esqueça o hino, Cafu. Tire a mão do peito, Ronaldi ho Gaúcho. A partir de
agora, pense apenas em cobrir a zaga e em chutar direito para o gol.

SOBRE A T CNICA DI SERTATIVA

Leia abaixo as recomendações de u ma página da Internet


obre a técnica de escrever um texto dissertativo

1º. Passo: Estudo da tese.


Em todas as propostas de r edação, o vestibulando recebe uma tese ou ma orientação, que traz
com detalhes o que é pro osto para a construção da redação. É nec ssário fazer um estudo
dessa proposta, tentando e trair a palavra chave e o tema principal que eve ser trabalhado.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 70

2º. Passo: Introdução

Após extrair da orientação sua idéia básica, você irá iniciar o seu primeiro parágrafo. Para isso,
faça uma afirmação pessoal em torno do assunto, evidenciando sua opinião sobre a tese. Para se
tornar mais simples a introdução do assunto podem ser usadas expressões do tipo “É
inadmissível”, “É vergonhoso”, “É inevitável”, “É inaceitável” e assim por diante. Após inserir
o assunto, partimos então para a análise da conseqüência imediata causada pelo assunto
tratado. Nesse caso, tente relacionar conseqüências de caráter mais social.

3º. Passo: Desenvolvimento

O desenvolvimento é elaborado em no máximo três parágrafos.

No segundo parágrafo da redação, vamos contestar a tese, tentando buscar o porquê de haver
tal problema ou tal situação.

No terceiro parágrafo trabalha-se o elemento que cria uma contradição com o assunto tratado,
com a tese em geral. Para ficar mais simples a comparação pode-se iniciar com “Enquanto...”.

O quarto parágrafo trabalha a exemplificação, que torna o texto muito mais rico e interessante.
Por isso é importante sempre ler jornais e revistas, para que tenha algum assunto para usar
como exemplo.

4º. Passo: Conclusão

Agora que já foram trabalhados os quatro parágrafos (introdução + desenvolvimento) podemos


partir para a conclusão. Concluir um texto é simples e importantíssimo. Se você trabalhou bem
o tema e tem bastante informação sobre o assunto, será ainda mais simples. Na conclusão, que
é o último parágrafo, tentamos fazer sugestões, citações e uma síntese geral, objetiva, do

assunto tratado durante o texto.

Tipos de Introdução
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 71

A introdução da dissertação traz ao leitor o tema a ser discutido além de, muitas vezes,
trazer sob qual ângulo a questão será discutida. Dessa forma, é ela quem provoca no leitor o
primeiro impacto, é ela a apresentação de seu texto e, portanto deve ser muito bem trabalhada,
o que não é tão difícil, pois há várias boas maneiras de começar uma dissertação. As formas
abaixo são algumas possíveis, mas, certamente, não são as únicas.

Vale ainda salientar que a introdução só deve ser feita após estar concluído o "Projeto de
Texto".

Roteiro

Como em toda introdução, o tema deve estar presente.

Além disso, neste tipo é apresentado ao leitor o roteiro de discussão que será seguido
durante o desenvolvimento. Para exemplificação, suponhamos o tema:

A questão do menor no Brasil

Uma possível introdução seria:

Para se analisar a questão da violência contra o menor no Brasil é essencial que se


discutam suas causas e suas conseqüências.

0 principal defeito em uma redação que utiliza este tipo de introdução é seguir outro roteiro
que não seja o nela citado.

Hipótese (hipo) tese

Este tipo de introdução traz o ponto de vista a ser defendido, ou seja, a tese que se pretende
provar durante o desenvolvimento. Evidentemente a tese será retomada – e não copiada - na
conclusão.

Vejamos um exemplo para o mesmo tema:


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 72

A questão da violência contra o menor tem srcem na miséria - a principal


responsável pela desagregação familiar.

0 principal risco desse tipo de introdução é não ser capaz de realmente comprovar a tese
apresentada.

Perguntas

Esta introdução constitui-se de uma série de perguntas sobre o tema.

Exemplo:

É possível imaginar o Brasil como um pais desenvolvido e com justiça social


enquanto existir tanta violência contra o menor?

O principal problema neste tipo de introdução é não responder, ou responder de forma


ineficaz, as perguntas feitas. Além disso, por ser uma forma bastante simples de começar um
texto, às vezes não consegue atrair suficientemente a atenção do leitor.

Histórica

Esta introdução traça um rápido panorama histórico da questão, servindo muitas vezes de
contraponto ao presente.

Às crianças nunca foi dada a importância devida. Em Canudos e em Palmares não


foram poupadas. Na Candelária ou na praça da Sé continuam não sendo.

Deve-se tomar o cuidado de se escolher fatos históricos conhecidos e significativos para o


desenvolvimento que se pretende dar ao texto.

Compararão - por semelhança ou oposição


Procura-se neste tipo de introdução mostrar como o tema, ou aspectos dele, se assemelham
- ou se opõem - a outros.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 73

É comum encontrar crianças de dez anos de idade vendendo balas nas esquinas
brasileiras. Na França, nos EUA ou na Inglaterra - países desenvolvidos - nessa idade
as crianças estão na escola e não submetidas a violência das ruas.

É bastante importante que a comparação seja adequada e sirva a algum propósito bem claro
- no caso, mostrar o subdesenvolvimento brasileiro na questão do menor.

Definição

Parte da definição do significado do tema, ou de uma parte dele.

Menor: o mais pequeno, de segundo plano, inferior, aquele que não atingiu a
maioridade. O uso da palavra “menor” para se referir às crianças no Brasil já
demonstra como são tratadas: em segundo plano.

Vale perceber que há, muitas vezes, mais de uma maneira de se definir algo e, portanto a
escolha da definição mais adequada dependera do ponto de vista a ser defendido.

Contestação

Contesta uma idéia ou uma citação conhecida.

O Brasil é o país do futuro. A criança é o futuro do país. Ora, se a criança no Brasil


passa fome, é submetida às mais diversas formas de violência física, não tem escola,
nem saúde, como pode ser esse o pais do futuro? Ou será que a criança não é o futuro
do país?

Repare como esse tipo de introdução pode ser bastante atraente, uma vez que desfazer
clichês atrai mais a atenção do que usá-los.

Narração

Trata-se de contar um pequeno fato de relevância como ponto de partida para a análise do
tema.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 74

Sentar numa frigideira com óleo quente foi o castigo imposto ao pequeno D., de um
ano e meio, pelo pai, alcoólatra. Temendo ser preso, ele levou a criança a um hospital
uma semana depois. A mulher, também vitima de espancamentos, o denunciou à
polícia. O agressor fugiu.

Cuidado, ao fazer este tipo de introdução, para não cometer o erro de contar um fato sem
relevância, ou transformar toda sua dissertação em uma narrativa.

Estatística

Consiste em se apresentar dados estatísticos relativos à questão a ser tratada.

Quarenta mil crianças morreram hoje no mundo, vítimas de doenças comuns


combinadas com a desnutrição. Para cada criança que morreu hoje, muitas outras
vivem com a saúde debilitada. Entre os sobreviventes, metade nunca colocará os pés
em uma sala de aula. Isso não é uma catástrofe futura. Isso aconteceu ontem, está
acontecendo hoje. E irá acontecer amanhã, exceto se o mundo decidir proteger suas

crianças.
Veja que o dado estatístico, muitas vezes, não diz nada por si só. E necessário que ele
apareça acompanhado de uma análise criteriosa.

Mista

Procura fundir várias formas de introdução. Veja como o exemplo dado em contestação traz
também a introdução com perguntas. Vejamos um outro possível exemplo.

Crianças mortas em frente a Igreja da Candelária. Denúncias de meninas se


prostituindo nas cidades e nos campos. Garotos vendendo balas nas esquinas. Não é

possível imaginar o Brasil um país desenvolvido e com justiça social enquanto perdurar
tão triste quadro.
CURSO MÉTODO VEST BULARES 75

QUE EVITAR EM UM TEXTO?

Embora não exista uma fórmula mágica para escrever


ção para
uma red
vestibular, há
sempre alguns casos que p dem ser evitados. Veja os casos mais signifi cativos a seguir:

1. Vícios de lingua em

São alterações defeituosas que sofre a língua em sua pronúncia e


escrita devidas à ignorância do povo ou ao descaso de alguns
escritores. São devidas, em grande parte, à supo ta idéia da afinidade
def rma ou pensamento.

Os vícios de linguagem sã : barbarismo, anfibologia, cacofonia, eco, a rcaísmo, vulgarismo,


estrangeirismo, solecismo, obscuridade, hiato, colisão, neologismo, pre iosismo, pleonasmo.

BARBARISMO:

É o vício de linguagem qu consiste em usar uma palavra errada quant à grafia, pronúncia,
significação, flexão ou for ação. Assim sendo, divide-se em: gráfico, ortoépico, prosódico,
semântico, morfológico e órfico.

• Gráficos: hontem, roesa, conssessiva, aza, por: ontem, proeza, concessiva e asa.

• Ortoépicos: inter sse, carramanchão, subcistir, por: inte esse, caramanchão,


subsistir.

• Prosódicos: pegada , rúbrica, filântropo, por: pegada, rubrica, fil ntropo.


Semânticos: Tráfio (por tráfego) indígena (como sinônimo e índio, em vez de
autóctone).

• Morfológicos:cida dões, uma telefonema, proporam, reavi, det u, por: cidadãos, um


telefonema, propus ram, reouve, deteve.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 76

• Mórficos: antidiluviano, filmeteca, monolinear, por: antediluviano, filmoteca,


unlinear.

OBS.: Diversos autores consideram barbarismo palavras, expressões e construções


estrangeiras, mas, nesta apostila, elas serão consideradas "estrangeirismos."

AMBIGÜIDADE OU ANFIBOLOGIA:

É o vício de línguagem que consiste em usar diversas palavras na frase de maneira a causar
duplo sentido na sua interpretação.

Ex.: Não se convence, enfim, o pai, o filho, amado. O chefe discutiu com o
empregado e estragou seu dia. (nos dois casos, não se sabe qual dos dois é autor, ou
paciente).

CACOFONIA:

Vício de linguagem caracterizado pelo encontro ou repetição de fonemas ou sílabas que


produzem efeito desagradável ao ouvido. Constituem cacofonias:

• A colisão.

Ex.: Meu Deus não seja já.

• O eco

Ex.: Vicente mente constantemente.

• o hiato

Ex.: Ela iria à aula hoje, se não chovesse


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 77

• O cacófato

o Ex.: Tem uma mão machucada: A aliteração - Ex.: Pede o Papa paz ao
povo. O antônimo é a "eufonia".

ECO:

Espécie de cacofonia que consiste na seqüência de sons vocálicos, idênticos, ou na


proximidade de palavras que têm a mesma terminação. Também se chama assonância.

Ex.: É possível a aprovação da transa ção sem concisão e sem associa ção.

De repente, o presidente ficou extremamente doente com dor de dente.

Na poesia, a "rima" é uma forma normal de eco. São expressivas as repetições vocálicas a
curto intervalo que visam à musicalidade ou à imitação de sons da natureza (harmonia
imitativa); "Tíbios flautins finíssimos gritavam" (Bilac).

ARCAÍSMO:
Palavras, expressões, construções ou maneira de dizer que deixaram de ser usadas ou
passaram a ter emprego diverso.

Na língua viva contemporânea: asinha (por depressa), assi (por assim) entonces (por então),
vosmecê (por você), geolho (por joelho), arreio (o qual perdeu a significação antiga de
enfeite), catar (perdeu a significação antiga de olhar), faria-te um favor (não se coloca mais
o pronome pessoal átono depois de forma verbal do futuro do indicativo), etc.

VULGARISMO:

É o uso lingüístico popular em contraposição às doutrinas da linguagem culta da mesma


região.

O vulgarismo pode ser fonético, morfológico e sintático.


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 78

• Fonético:

o A queda dos erres finais: anda, comê, etc. A vocalização do " L" final nas
sílabas.
o

Ex.: mel = meu , sal = saú etc.

o A monotongação dos ditongos.

Ex.: estoura = estóra, roubar = robar.

o A intercalação de uma vogal para desfazer um grupo consonantal.

Ex.: advogado = adevogado, rítmo = rítimo, psicologia = pissicologia.

• Morfológico e sintático:
o
Temos a simplificação das flexões nominais e verbais.
o Ex.: Os aluno, dois quilo, os homê brigou.
o Também o emprego dos pronomes pessoais do caso reto em lugar do oblíquo.
o Ex.: vi ela, olha eu, ó gente, etc.

ESTRANGEIRISMO:

Todo e qualquer emprego de palavras, expressões e construções estrangeiras em nosso


idioma recebe denominação de estrangeirismo. Classificam-se em: francesismo, italianismo,
espanholismo, anglicismo (inglês), germanismo (alemão), eslavismo (russo, polaço, etc.),
arabismo, hebraísmo, grecismo, latinismo, tupinismo (tupi-guarani), americanismo (línguas
da América) etc...

O estrangeirismo pode ser morfológico ou sintático.


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 79

• Estrangeirismos morfológicos:

Francesismo: abajur, chefe, carnê, matinê etc...


Italianismos: ravioli, pizza, cicerone, minestra, madona etc...
Espanholismos: camarilha, guitarra, quadrilha etc...
Anglicanismos: futebol, telex, bofe, ringue, sanduíche breque.
Germanismos: chope, cerveja, gás, touca etc...
Eslavismos: gravata, estepe etc...
Arabismos: alface, tarimba, açougue, bazar etc...
Hebraísmos: amém, sábado etc...
Grecismos: batismo, farmácia, o limpo, bispo etc...
Latinismos: index, bis, memorandum, quo vadis etc...
Tupinismos: mirim, pipoca, peteca, caipira etc...
Americanismos: canoa, chocolate, mate, mandioca etc...
Orientalismos: chá, xícara, pagode, kamikaze etc...
Africanismos: macumba, fuxicar, cochilar, samba etc...

Estrangeirismos Sintáticos:
Exemplos:

Saltar aos olhos (francesismo);


Pedro é mais velho de mim. (italianismo);
O jogo resultou admirável. (espanholismo);
Porcentagem (anglicanismo), guerra fria (anglicanismo) etc...

SOLECISMOS:

São os erros que atentam contra as normas de concordância, de regência ou de colocação.

Exemplos:

• Solecimos de regência:

Ontem assistimos o filme (por: Ontem assistimos ao filme).


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 80

Cheguei no Brasil em 1923 (por: Cheguei ao Brasil em 1923).


Pedro visava o posto de chefe (correto: Pedro visava ao posto de chefe).

• Solecismo de concordância:

Haviam muitas pessoas na festa (correto: Havia muitas pessoas na festa)


O pessoal já saíram? (correto: O pessoal já saiu?).

• Solecismo de colocação:

Foi João quem avisou-me (correto: Foi João quem me avisou).


Me empresta o lápis (Correto: Empresta-me o lápis).

OBSCURIDADE:

Vício de linguagem que consiste em construir a frase de tal modo que o sentido se torne

obscuro, embaraçado, ininteligível. Em um texto, as principais causas da obscuridade são: o


abuso do arcaísmo e o neologismo, o provincianismo, o estrangeirismo, a elipse, a sínquise
(hipérbato vicioso), o parêntese extenso, o acúmulo de orações intercaladas (ou incidentes)
as circunlocuções, a extensão exagerada da frase, as palavras rebuscadas, as construções
intrincadas e a má pontuação.

Ex.: Foi evitada uma efusão de sangue inútil (Em vez de efusão inútil de
sangue).

NEOLOGISMO:

Palavra, expressão ou construção recentemente criadas ou introduzidas na língua.


Costumam-se classificar os neologismos em:

• Extrínsecos: que compreendem os estrangeirismos.


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 81

• Intrínsecos: (ou vernáculos), que são formados com os recursos da própria língua.
Podem ser de srcem culta ou popular.

Os neologismos de srcem culta subdividem-se em:

• Científicos ou técnicos: aeromoça, penicilina, telespectador, taxímetro (redução:


táxi), fonemática, televisão, comunista, etc...

• Literários ou artísticos: olhicerúleo, sesquiorelhal, paredro (= pessoa importante,


prócer), vesperal, festival, recital, concretismo, modernismo etc...

OBS.: Os neologismos populares são constituídos pelos termos de gíria. "Manjar"


(entender, saber do assunto), "a pampa", legal (excelente), Zico, biruta, transa,
psicodélico etc...

PRECIOSISMO:

Expressão rebuscada. Usa-se com prejuízo da naturalidade do estilo. É o que o povo chama
de "falar difícil", "estar gastando".

Ex.: "O fulvo e voluptoso Rajá celeste derramará além os fugitivos esplendores da
sua magnificência astral e rendilhara d’alto e de leve as nuvens da delicadeza,
arquitetural, decorativa, dos estilos manuelinos."

OBS.: O preciosismo também pode ser chamado de PROLEXIDADE.

PLEONASMO:

Emprego inconsciente ou voluntário de palavras ou expressões involuntárias, desnecessárias,


por já estar sua significação contida em outras da mesma frase.

O pleonasmo, como vício de linguagem, contém uma repetição inútil e desnecessária dos
elementos.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 82

Exemplos:

Voltou a estudar novamente.


Ele reincidiu na mesma falta de novo.
Primeiro subiu para cima, depois em seguida entrou nas nuvens.
O navio naufragou e foi ao fundo. Neste caso, também se chama perissologia ou tautologia.
FONTE:http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/portugues/gramatica/vicios_linguagem.htm

2. Frases-feitas

Um outro defeito que deve ser evitado nos textos dissertativos (e em quaisquer outros) é
o uso de expressões já vulgarizadas pelo uso excessivo. Não se trata de um caso de erro
gramatical, mas sim de uma questão de criatividade. Se todo mundo usa as mesmas frases, os
textos ficarão sem srcinalidade. Veja a seguir algumas frases que devem ser evitadas a todo
custo:
- Arrebentar a boca do balão
- Silencio sepulcral
- A vida é uma caixinha de surpresas
- No Brasil, o rico cada dia fica mais rico e o pobre fica cada vez mais pobre.
- Caso haja pena de morte no Brasil, somente negros e pobres irão morrer.
- Vitória esmagadora.
- Somente Jesus cristo salvará o nosso povo desta crise.
- Cair pelas tabelas
- Esmagadora maioria
- Chover no m olhado
- Botar pra quebrar
- Passar em brancas nuvens
- Ver o sol nascer quadrado
- Segurar com unhas e dentes
- Ficar literalmente arrasado
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 83

- Dizer cobras e lagartos


- Estar com a bola toda
- Agradar a gregos e troianos
- Nem mesmo Jesus Cristo agradou a todos

3. Vícios de raciocínio
Como o nome já indica, trata-se de uma falha na articulação das idéias. A mais comum
de todas é a que traz generalizações com vestes de verdade absoluta, ou seja, o escritor sai de
um ou de vários casos particulares e cria uma espécie de regra que ele tenta impor como sendo
verdade universal. Vejamos alguns casos:
- Mulher não sabe dirigir.
- Toda loira é burra.
- Todo político é corrupto.
- Todo homem é safado.
- Os cariocas são malandros
- Os baianos são preguiçosos

Agora vamos ler e comentar algumas redações de alunos aprovados. Aproveitaremos para ver o
que deve ou não ser feito em nossos próximos textos:

REDAÇÃO 01

NOME: LUCIANA PAULINO MAGAZONI


(ESCOLA PARTICULAR)

SÃO PAULO / SP
HISTÓRIA (1A OPÇÃO)

Globalização X exclusão
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 84

Se há anos perguntássemos acerca das expectativas da população para o


mundo no ano 2000, não seria árdua tarefa depararmo-nos com as mais
fantasiosas projeções: o mundo seria um desenho animado futurista. Robôs
conviveriam com os humanos, desempenhariam tarefas domésticas
impecavelmente e até arrumariam a gola das camisas dos patrões antes que estes
se dirigissem ao trabalho. Hoje, às portas do terceiro milênio, a constatação da
miséria e das desigualdades sociais, políticas e tecnológicas entre povos e nações
faz-nos crer que as projeções do passado se distanciam da realidade.

A comunidade científica tem caminhado a passos largos em direção a


importantíssimas descobertas nas últimas décadas. A concretização do projeto
Genoma deflagra infinitos avanços desde os primeiros estudos mendelianos e
aponta para uma transformação ideológica, ao passo que põe em pauta temas
polêmicos como a seleção artificial e até mesmo “melhoramento”
intraespecífico. O desenvolvimento e o uso de satélites de ponta criaram o
fenômeno da simultaneidade, e, aparentemente, os meios de comunicação e
redes como a Internet colocam o homem sob a condição de cidadão do mundo.
Apesar de todos esses pontos, que evidentemente convergem com as ditas
projeções futuristas, há questões centrais: A quem se destina essa tecnologia?
Quem dela usufrui? Quem a manipula? De quem é o poder?

Seria em demasia ingênuo acreditar que a população mundial goza das


mesmas condições de vida e que todas essas conquistas humanas são acessadas
de forma igualitária. Estabelece-se uma dialética, e um abismo se entrepõe ante o
desenvolvimento e a exclusão, a riqueza e a marginalização. São milhões de
famintos pelo mundo, pessoas que sequer sentaram-se em bancos escolares e
que, submetidos a condições subumanas, não podem exercer sua cidadania e
reivindicar o que lhes é de direito. A mesma relação se estende a países, tendo
em vista que há a supremacia de uma minoria que explora as demais nações
política e economicamente. É inegável que movimentos xenófobos apontam para
a marginalização de dadas etnias, culturas e religiões. O regionalismo evidente
na formação dos denominados “blocos econômicos” entre os países divide o
mundo em ricos e pobres, e a exclusão é inerente a esse atroz processo.

Globalização? Inexistência de fronteiras? As respostas a essas indagações


requerem ponderações. Sem sermos maniqueístas, é impossível afirmar que a
humanidade evolui e ultrapassa barreiras. Enquanto descaso governamental,
exclusão social e penúria coexistirem com a tecnologia e a dita modernidade,
homens continuarão se degladiando pelo poder, e este será local.

COMENTÁRIOS______________________________________________________________
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REDAÇÃO 02

NOME: BÁRBARA SILVEIRA FALLEIROS


(ESCOLA PARTICULAR)
CAMPINAS / SP
LETRAS – LICENCIATURA E BACHARELADO (D) (1A OPÇÃO)

Um paradoxo da modernidade: eliminação de fronteiras,


criação de fronteiras

Aldous Huxley, quando escreveu Admirável mundo novo, talvez não


imaginasse estar criando a brilhante antevisão de uma sociedade tecnológica que
se formaria quase cinqüenta anos antes do que ele previa em seu livro. Ao
descrever uma realidade futurista baseada no quase absoluto controle do
conhecimento científico, formou personagens sem aquilo que Nietzsche
chamava de “vida vermelha viva”, sem a essência, pessoas fabricadas numa
produção em série, massificadas, iguais.

Quando nos vemos hoje diante da eliminação de fronteiras, sejam elas


científicas, como em Admirável mundo novo, ou de ordem geográfica ou
econômica, somos inclinados a pensar: estariam as fronteiras que separam o
individual do coletivo também sendo eliminadas, e nós, caminhando para um
futuro de igualdade?

Temos um mundo baseado no controle de conhecimentos tecnológicos. O


progresso científico fez as informações chegarem a qualquer lugar do mundo em
instantes, com a formação de redes como a Internet. A fabricação da vida está a
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 86

um passo de ser controlada, com experiências genéticas como a que envolveu a


ovelha Dolly, o Projeto Genoma ou o útero artificial criado na Universidade de
Tóquio.

A uniformização da cultura é outro fruto do mundo globalizado. As


empresas multinacionais, que dominam as relações econômicas, contribuem para
isso. Palavras e expressões da língua inglesa estão tão incorporadas ao nosso
vocabulário que nem percebemos o quão estranho é dizer “vamos teclar”, ou
“isso eu deleitei”. O McDonald’s é realmente o maior símbolo dessa
uniformização cultural. Ele está instalado lá, em frente às pirâmides egípcias,
com sua filial ocidentalizada exatamente igual a qualquer outra em New York.
Essa padronização se percebe em tantos outros aspectos, e o mundo se torna
cada vez mais americano, na fala, nas roupas, no mecanismo de pensamento.

O que tem sido feito com a cultura nos faz achar normal a exibição, em
um programa de tevê, de uma mulher e seu cotidiano dentro de uma casa, como
se paredes de vidros fossem a própria transgressão dos limites público-privado.
Mas temos, por outro lado, pessoas isoladas em apartamentos quaisquer de
megalópoles, buscando criar uma identidade, real ou não, diante de uma tela de
computador. Diante de personalidades virtuais, que se criam e desfazem. Aí sim
tudo é privado, porque, frente a uma realidade tão ampla, a essência não se
expande e essas pessoas permanecem sozinhas.

Também quando nos deparamos com casos como o de um shopping, com


um processo na justiça para impedir pessoas pobres de transitarem dentro dele,
temos o mais claro exemplo de que as verdadeiras fronteiras a serem eliminadas
são as únicas que são mantidas. Diversas pesquisas mostram que o índice de
desigualdade social e a precariedade na distribuição igualitária de renda
aumentaram nas últimas décadas. Enquanto no Japão se tem o lixo tecnológico,
nos países subdesenvolvidos crianças procuram nos lixões restos de comida. E o
bicho continua sendo um homem. A tecnologia capaz de mandar pessoas para
morar no espaço é incapaz de fornecer saúde, alimentação e educação de
qualidade para todos. Pessoas ainda morrem de fome, porque a tecnologia não é
para elas. A eliminação de fronteiras, bem ou mal, é direcionada. E para manter,
paradoxalmente, tudo como antes.

Comentários
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REDAÇÃO 03

NOME: EZIEL PERCINO DA SILVA


(ESCOLA PÚBLICA)
JUNDIAÍ / SP
PEDAGOGIA (D) (1A OPÇÃO)

A articulação dos novos modelos estruturais (globalização), o


desenvolvimento de novas técnicas de comunicação e a nova configuração
mundial (pós-guerra fria), geraram um modelo de domínio muito sutil em que a
ausência do respeito e da consciência sobre “o outro” e, ainda, o sentimento de
verdade unilateral sobre o espaço existencial, são fatores determinantes. Se, por
um lado, a dissolução de fronteiras significa uma aproximação entre os diversos
valores, por outro, assimila de maneira quase frenética “a lógica do dominador”,
em que a parte “superior” manipula a história e as suas complexas elaborações
segundo os seus interesses. Sendo a humanidade multifacética, uma “lógica de
domínio” torna-se elemento constitutivo insuportável, gerando confrontos.
Se valorizarmos a percepção desta lógica, a crença numa “ética universal” – ou
seja, um conjunto de valores que sirva para todos os povos de todas as épocas –
apresentar-se-á vulnerável, pois a multiplicidade será mais visível,
impossibilitando um único julgamento. Ou seja, ficará nítida a distância entre a
cosmovisão do dominador e a do dominado.

Por exemplo, atualmente observamos no plano geopolítico a superação


das fronteiras. Mas esta realidade é, na verdade, a representação de uma
realidade embutida: a legitimação da lógica capitalista. A sociedade de mercado
e consumo, moldada segundo as aspirações dos países ricos, apresenta-se como
única configuração histórica viável, produzindo conexões éticas que se estendem
muito além dos relacionamentos econômicos e/ou políticos. É a dominação de
uma cultura sobre a outra, alimentada pelo fator ideológico.

Estamos muito acostumados a ver o mundo com os nossos “olhos


ocidentais”. Desrespeitamos as fronteiras, julgamos a história e seus
movimentos, estabelecemos conceitos e até mesmo fazemos guerras segundo os
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 88

“olhos” que temos. Queremos que a nossa verdade seja a verdade do mundo
todo. Foi desta forma que os colonizadores ocuparam a América,
desconsiderando que os povos nativos tinham uma outra bagagem ética, viam o
mundo e a vida de uma outra forma. Foram desta forma as Cruzadas, as guerras
religiosas. Acabar com as fronteiras sempre significou construir o mundo
conforme a lógica do dominador. E a lógica do dominador é sempre criar uma
fronteira entre ele e o dominado.

Desta forma, torna-se imprescindível a tomada de uma “atitude


profética” sobre o nosso tempo. Temos que resgatar a expressão “unidade na
multiplicidade”. Ou seja, interação e diálogo entre os povos sem desrespeito às
diferenças. Que a aproximação entre os valores (queda de fronteiras) não
signifique a imposição de um valor sobre os outros (construção de fronteiras). A
valorização dos nossos vários sistemas existenciais e a não–absolutização de um
sobre o outro é uma exigência urgente que nos fará perceber a grandeza e a
amplitude de tudo o que a humanidade é e produz.

Comentários
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PRÁTICA

Temos a seguir alguns trechos de redações que contêm problemas gramaticais, de

coesão, de coerência, de argumentação ou de qualquer outro aspecto. Vamos comentar cada um


deles e ver o que poderia ser feito para melhorá-los.

TRECHO 01
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 89

Mesmo o Brasil, sendo um país subdesenvolvido, a sua população é mal conscientizada,


agravando o problema da água. Juntamente a população, setores de extrema importância para a
sociedade também favorecem de forma siginificativa para o extermínio desse recurso. TEMA:
O desperdício da água no mundo

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TRECHO 02
Pura mascaração da realidade, o carnaval, faz as pessoas esquecerem dos seus
problemas, dos seus direitos e deveres como cidadães. TEMA: Carnaval como mascaramento
da realidade

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TRECHO 03
Quem rouba s tênis das crianças? Quem rouba sua bolça? São os menores. A lei acaba
deixando sem recursos a maioria, que são as vítimas.

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TRECHO 04

A televisão forma e modifica idéias, influencia no comportamento das pessoas e as


convense a comprar produtos por ela oferecidos.

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TRECHO 05
Enfim, assistir televisão de ser considerado um lazer como outro qualquer, e não uma
obrigação, como é escovar dente. Existem variados meios de comunicação que podem
proporcionar as mesmas coisas, e muitas, e muitas vezes, com maior precisão. Além do mas, é
melhor viver do que assistir à vida, e melhor ainda, é ir às comprar do que imaginar-se indo.
TEMA: Televisão

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TRECHO 06
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O homem promoveu alta tecnologia, mas não sabe utilizar de forma a oferecer a
informação, a educação, a cultura e a cidadania. TEMA: A televisão como meio de
comunicação

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TRECHO 07
Atualmente, a tecnologia também é uma forma de fazer com que essas mesmas
informações possam chegar com a mesma facilidade à todas as classes da sociedade, onde quer
que estejam. TEMA: A televisão

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TRECHO 08
O que se tem notado atualmente é o aumento do número de graduados no mercado, e,
esse número tende a aumentar com a existência de um mercado que cada dia cobra mais.
O mercado busca competência, e para tal feito, ele não irá absorver aqueles que apenas
possuem um curso superior, mas sim aquele que tendo ou não um diploma, são sinônimos de
inteligência, responsabilidade e força de vontade.
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TRECHO 09
A população de Paço do Lumiar e São José de Ribamar são obrigados a passar por
situações desagradáveis quase todos os dias; sofrem com a lotação e demora dos ônibus. Sem
opção, ou por pressa mesmo, acabam recorrendo ao transporte alternativo. TEMA: transporte
alternativo.

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TRECHO 10
Acho que com está idéia de que por causa da televisão os jovens não lêem, não se está
falando mal da televisão. Geralmente está se querendo falar dos jovens, porque se deixam levar
pelo que se passa na televisão.

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TRECHO 11

Enquanto todas as atenções estam voltadas para a guerra dos estados Unidos com o
Iraque, o povo brasileiro sofre com uma guerra: Governo contra o crime organizado.

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TRECHO 12

Há várias formas de atacar esse problema. A principal é que a sociedade e a família se


conscientizem e estimulem seus idosos, oferecendo-lhes oportunidades de expor seus
conhecimentos adquiridos durante suas vidas. Caso contrário ele tende a aumentar e desde já é
preciso encará-lo de frente.

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Veja agora algumas falhas de alunos de anos anteriores (as de vocês – se houver – virão
nas apostilas posteriores)

 Olhos azúis
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 94

 Possuía um feitio traissoeiro


 Totalmente à favor
 Esquisofrenias
 Iam a igreja
 Vivem poucas familias onde a maioria vive da roça

 biblia
 ...um casal que se encontram juntinhos
 Cabelos castanhos caidos no rosto...
 Uma postura sempre muito seria...
 Sempre bem arrumada com um sorriso no rosto.
 Nos ultimos anos...
 O chapeu
 Essa familia tinha pessoas que eram muito religiosas. Onde a religião para eles vinha
em primeiro lugar.
 Pessoas muito espontaneas
 As melhores impressões possiveis
 Todos aparentam serem boas pessoas...
 Tranquila
 Aparenta uns trinta e cinco à quarenta anos...
 Certo animal têm como caracteristica principal...
 Quem ver até se impreciona
 Como caracteristica meio que apeladora, carrega em sua mão uma belissima rosa
vermelha.
 Tem pêlos bem macio...
 Talvéz
 Bastante semelhante a mãe...
 E por ultimo o caçula, o méis mimado por todos e o mais bagunceiro.
 Nem toda família é perfeita, mais essa parece ser uma das poucas exeções.
 E Nina com seus doze anos já prostituía-se.
 ... assistindo desenho animado...
 Uma cinta que parecei desnecessário
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 95

 Já que ném o pai ném a mãe obtiam beleza extraordinária...


 Seus filhos eram muito obdientes
 ... disperta o carinho e a simpatia de todos.
 Os seus pelos finos e macios passam a sensação de aconchego...
 Família adequada e de exêmplo para o mundo atual

 .Todo dia de domingo a família Fulano arruma-se para ira a missa.

COESÃO E COERNCIA

CONCEITOS BÁSICOS: Um bom texto deve estar coeso e ser coerente. COESÃO é
uma idéia mais gramatical que semântica. Ela é conseguida através do uso adequado dos
pronomes, das conjunções, dos advérbios, dos artigos e dos numerais. Mas, infelizmente, ter
um texto totalmente coeso não equivale a ter um texto excelente, pois há muitos outros fatores
que interagem para que a articulação textual fique perfeita. Por outro lado, quando falamos de
COERÊNCIA, o mais importante não é mais o fator gramatical, mas sim a organização das
idéias e a ausência de situações contraditórias.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 96

É sempre bom lembrar que o que realmente faz de um texto um Texto é a sua coerência.
Sem ela o que teremos é um amontoado de palavras alinhadas, sem tessitura e sem sentido
lógico. Logo abaixo, teremos um caso bem significativo em que a presença da coesão não
salvou a coerência textual. Veja como as idéias ficam conflitantes e sem sentido... o texto foi
tirado do livro A Coerência Textual, de autoria dos professores Ingedore Koch e Luís Carlos

Travaglia.

Era meia-noite. O sol brilhava. Pássaros cantavam pulando de galho em galho. O


homem cego, sentado á mesa de roupão, esperava que lhe servisse o desjejum. Enquanto
esperava, passava a mão na faca sobre a mesa, como se a acariciasse tendo idéias,
enquanto olhava fixamente a esposa a sua frente. Esta, que lia o jornal, absorta em seus
pensamentos, de repente começou a chorar, pois o telegrama lhe trazia a notícia de que
seu irmão se enforcara em um pé de alface. O cego, pelado, com a mão no bolso,
buscava consolá-la e calado dizia: a terra é uma bola quadrada que gira parada em torno
do sol. Ela se queixa de que ele ficou impassível porque não é o irmão dele que vai
receber as honrarias. Ele se agasta, olha-a com desdém, agarra a faca, passa manteiga na
torrada e lhe oferece, num gesto de amor.

Nem precisamos comentar a leitura, pois fica claro que as partes do texto não se

encaixam perfeitamente no que diz respeito à significação, embora do ponto de vista gramatical
não apresentem problemas que possam desvirtuar o autor.

TAREFA:
Como tarefa, leia os dois textos e identifique neles os elementos que fazem a coesão,
bem como buscar possíveis incoerências (se houver).

TEXTO 01

OS PATOLÓGICOS

por Mi&&r Fernande


Uma bela pata, das antigas, que acreditava na prole e na responsabilidade
familiar (1), acabando de dar à luz uma maravilhosa ninhada de sete patinhos, e
preocupadíssima com sua educação rápida - e eclética - num mundo em que a
competição é verdadeiramente patológica (2), levou-os, certa manhã, à beira do
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 97

regato para que eles iniciassem suas aulas de natação, prática fundamental à
espécie.

- Vejam só, amados filhinhos! - disse a pata, depois de verificar, com uma das
patas, se a temperatura da água estava adequada. - Reparem bem na maneira
correta e elegante de entrar na água (3).

Dizendo isso, atirou-se na correnteza, pousando levemente à flor das águas.

E ficou boiando, esperando, bobamente feliz, que os filhos a acompanhassem


(4).

Mas os patinhos, em vez de acompanhar a mãe, numa natural compulsão


biossociológica, permaneceram na margem onde estavam dando risadinhas e
virando a cara, numa atitude estranha e desrespeitosa (5). A mãe, furiosa,
recorreu à sua autoridade moral, e berrou para que eles a acompanhassem. Ao
que o mais atrevido dos patinhos (6), naturalmente feito porta voz dos outros,
dirigiu-se a ela da seguinte maneira:

- Mãe, você deve ser mesmo uma velha supremamente idiota supondo que nós
vamos arriscar nossas vidas tão tenras da maneira tola porque você está
arriscando a sua. Que você não tenha aprendido nada através da existência e não
saiba o risco que corre se atirando num elemento tão estranho e imprevisível, ou
está se arriscando simplesmente porque lhe resta muito pouco de vida, isso é lá
com você. Mas nós, os jovens, sabemos mais; não nos atemos nem à filosofia do
absolutismo biossocial, nem às besteiras do condicionamento total. Pois se é
verdade que, devido à lei natural desconhecida para nós - nos recusamos a testá-
la sem salva-vidas, pois pode ser coisa absolutamente individual -, você flutua
confortavelmente (apesar do seu peso, gorda como está), isso pode não acontecer
conosco. Nos atirarmos à água pode nos ser fatal. Portanto, madame, esteja certa
de que só agiremos no sentido de experiências aquáticas a partir de um
conhecimento mais profundo - o duplo sentido é involuntário - do líquido
elemento. No momento, porém, dispensamos a sua orientação e permanecemos
em terra. Tchau, bela!

Terminando, o patinho líder, seguido dos irmãos, saiu correndo veloz e


alegremente em direção à granja. Mas, quando iam atravessando a estrada, os
sete foram esmagados por um caminhão.

MORAL? @ASE SEMPRE A GEN<E EI<A O PERIGO ERRA;O0

Nota
H Fam!&ia nuc&ear0
- Perd#oQ
K N#o e6ite maneira correta de entrar na á$ua0 N#o e6ite maneira correta
de %a'er coia nenhuma0
 hQ
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 98

. Muito na do o2rinho do <io Patinha0


 @m &!der7

TEXTO 02

SNOOER
Mi&&r Fernande

Certa vez eu jogava uma partida de sinuca e só havia a bola sete na mesa. De
modo que mastiguei-a lentamente saboreando-lhe os bocados com prazer. Refiro-
me à refeição que havia pedido ao garçom. Dei-lhe duas tacadas na cara. Estou me
referindo à bola. Em seguida saí montado nela e a égua, de que estou falando
agora, chegou calmamente à fazenda de minha mãe. Fui encontrá-la morta na
mesa, meu irmão comia-lhe uma perna com prazer e ofereceu-me um pedaço:
"Obrigado" disse eu, "já comi galinha no almoço".

Logo em seguida chegou minha mulher e deu-me na cara. Um beijo, digo.


Dei-lhe um abraço. Fazia calor. Daí a pouco minha camisa estava inteiramente
molhada. Refiro-me à que estava na corda secando, quando começou a chover.
Minha sogra apareceu para apanhar a camisa. Não tive remédio senão esmagá-la
com o pé. Estou falando da barata que ia trepando na cadeira.

Malaquias, meu primo, vivia com uma velha de oitenta anos. A velha era sua
avó, esclareço. Malaquias tinha dezoito filhos, mas nunca se casou. Isto é, nunca
se casou com uma mulher que durasse mais de um ano. Agora, sentado à nossa
frente Malaquias fura o coração com uma faca. Depois corta as pernas e o sangue
vermelho do porco enche a bacia.

Nos bons tempos passeávamos juntos. Eu tinha um carro. Malaquias tinha


uma namorada. Um dia rolou a ribanceira. Me refiro a Malaquias. Entrou pela
pretoria adentro arrebentando a porta e parou resfolegante junto do juiz pálido de
susto. Me refiro ao carro. E a Malaquias.
[In Millôr Fernandes.Trinta anos de mim mesmo. São Paulo: Abril Cultural, 1973.]
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 99

E.C.T

(Nando Reis, Marisa Monte, Carlinhos Brown)

Tava com cara que carimba postais


Que por descuido abriu uma carta que voltou
Levou um susto que lhe abriu a boca
Esse recado veio pra mim, não pro senhor
Recebo craque colante, dinheiro parco embrulhado
Em papel carbono e barbante
E até cabelo cortado, retrato de 3x4
Pra batizado distante
Mas, isso aqui, meu senhor,
É uma carta de amor

Levo o mundo e não vou lá


Levo o mundo e não vou lá
Levo o mundo e não vou lá
Levo o mundo e não vou...

Mas esse cara tem a língua solta


A minha carta ele musicou
Tava em casa, a vitamina pronta
Ouvindo no rádio a minha carta de amor
Dizendo: eu caso contente, papel passado e presente
Desembrulhado o vestido
Eu volto logo, me espera
Não brigue nunca comigo
Eu quero ver nosso filho
O professor me ensinou fazer uma carta de amor
Leve o mundo que eu vou já
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 100

TE!AS DE REDAÇÃO

Colocamos a seguir alguns temas de redações dos últimos vestibulares. O objetivo é


simplesmente dar um contato mais próximo com a forma com que as universidades pedem a
redação aos candidatos a uma vaga no curso superior. Vamos analisar cada uma delas e dar
sugestões para a elaboração de textos.

01. aborto

Proposta de redação
Com base em leitura, inclusive do artigo abaixo, redija uma dissertação de 30 linhas sobre o
tema: "Aborto: uma questão policial, política, religiosa, social ou pessoal?"

Algumas considerações sobre a questão do aborto

Regina Soares Jurkewcz

Quando falamos sobre o aborto, a primeira pergunta que nos ocorre é se somos contra ou a
favor. Não é nestes termos que quero abordar a questão. O ato abortivo quase sempre acontece
acompanhado por muito sofrimento. As mulheres que o praticam, experimentam vazio,

remorso, tristeza, ainda que conscientemente tenham encontrado no aborto uma solução
imediata e uma espécie de alívio. Portanto, a questão que se coloca não é a de ser contra ou a
favor do aborto, mas de examinar as circunstâncias em que o mesmo acontece e o que pode ser
feito para diminuir o sofrimento de tantas mulheres.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 101

Estou aqui representando as Católicas pelo Direito de Decidir, ou seja um grande número
de mulheres, que são católicas e exercem o direito de decidir sobre sua vida sexual e
reprodutiva.

Gostaria de fazer essa reflexão, levando em conta 3 aspéctos:

1. Dados da realidade

2. O que diz a Igreja Católica sobre o aborto

3. O que propomos.

1. Dados da realidade:

A prática do aborto no Brasil é proibida por lei, exceto em duas situações: estupro e risco de
vida da gestante. Porém, os hospitais não estão preparados, para atender mulheres que se
enquadrem em uma dessas situações. Em São Paulo, apenas o Hospital do Jabaquara tem
implantado um programa de "aborto legal", que atende com dignidade mulheres vítimas de
estupro ou com risco de vida, mediante a apresentação de um boletim de ocorrência e com no
máximo 12 semanas de idade gestacional. Atualmente estes serviços começam a se expandir
para outros estados.

As pesquisas públicas apontam que a nível mundial, cerca de 150 mil mulheres morrem
anualmente por prática de abortos clandestinos, incompletos. No Brasil, a média de morte
materna é de 156 mulheres para cada 100 mil nascimentos. O aborto é considerado uma das
principais causas de mortalidade materna. Cerca de 60% dos leitos de ginecologia no Brasil são
ocupados por mulheres com sequelas de aborto. O número de abortos é enorme, porém não há
dados estatísticos claros, devido a clandestinidade com que é praticado.

Um estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde revelou que cerca de 45 milhões
de abortos são realizados anualmente. Entre esses abortos, em média 20 milhões são realizados
em condições inseguras e ilegais, causando a morte de mais de 70 mil mulheres por ano. É nos
países do terceiro mundo que se dão 50% dos abortos realizados no mundo.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 102

As mulheres com boas condições sociais e econômicas, procuram as clínicas particulares,


enquanto as mulheres pobres recorrem às aborteiras, chás, agulhas de croché, etc.. o que muitas
vezes traz como consequência infecções e até mesmo risco de vida.

Os métodos anticoncepcionais não são acessíveis à todas as mulheres, seja por questão
econômica ou cultural. Muitas vezes, os homens "não gostam de usar camisinha".

A "família ideal" com boas condições econômicas, sociais, psicológicas e afetivas, que
tranquilamente planeja o nascimento dos filhos, está longe do nosso cotidiano. A realidade
mostra que no Brasil, 25% das famílias é mantida por mulheres, ou seja há muitas mulheres
sozinhas, sem companheiro, com os filhos para criar. Esse é o nosso cotidiano, isso é o que
vemos nas periferias das grandes cidades e nos lugares pobres do meio rural.

É necessário entender a prática do aborto dentro desse contexto, que é o da maioria da


população brasileira. Não existe "o aborto em si", a esta realidade conectam-se questões
relativas à educação sexual, consciência de direitos reprodutivos e também questões de ordem
econômica e cultural.

2. O que diz a Igreja Católica sobre o aborto:

Quando a Igreja Católica fala da defesa incondicional da vida, parece-nos que este princípio
sempre foi parte de seu pensamento, de forma contínua, imutável. De fato os estudos históricos
vão nos mostrar que não é bem assim.

Nos primeiros 6 séculos do Cristianismo, a preocupação central da Igreja e do Estado era


com a constituição do casamento monogâmico como regra para toda a sociedade. A prática do
aborto revelava que um casal se uniu sexualmente, sem desejar a procriação. Os casos de
adultério eram punidos mais duramente do que os casos de homicídio. Portanto, nos primeiros
séculos do Cristianismo a punição do aborto se referia ao adultério que este aborto revelava.
Pode-se dizer que a afirmação do casamento monogâmico como única união legítima, era mais
importante como fundamento social do que a proteção da vida.

A Igreja historicamente não tem tido o mesmo rigor de defesa da vida em outras questões
que não o aborto. Por exemplo:
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 103

. A Igreja defende a legitimidade da "guerra justa" em casos de tirania irremovível de outra


forma (princípio do mal menor).

. Em alguns países, aceita a pena de morte.

. A Igreja patrocinou a Inquisição, com a eliminação física de pessoas tidas como hereges
da fé.

. Na colonização, a Igreja tolerou e participou do genocídio em relação aos índios,


abençoou a escravidão dos mesgros que foram maltratados as vezes até a morte.

Por que a Igreja Católica é tão intransigente em sua defesa da vida na questão do aborto?
Seria uma reafirmação do androcentrismo... medo da autonomia das mulheres?

Nos primeiros séculos, os teólogos mais importantes da época, argumentavam que o aborto
não era um homicídio durante as primeiras etapas da gravidez. Os escritos de S. Agostinho
expressavam a posição geral da Igreja, que por um lado, condenava o controle da natalidade e o
aborto - porque destruiam a conexão entre o ato conjungal e a procriação - e por outro lado, não
entendiam o aborto como homicídio. S. Agostinho escreve:

"A grande interrogação sobre a alma não se decide apressadamente com juízos não
discutidos e opiniões imprudentes; de acordo com a lei, o aborto não é considerado um
homicídio, porque ainda não se pode dizer que exista uma alma viva em um corpo que carece
de sensação uma vez que ainda não se formou a carne e não está dotada de sentidos".

A discussão teológica se dava em torno do momento em que o feto passaria a ser uma
pessoa, porque somente a partir desse momento o aborto seria considerado um homicídio. Não
havia consenso sobre o momento da "hominização". Para alguns ela ocorria no momento da
concepção, mas a maioria dos teólogos aceitava a teoria da "hominização tardia", que ocorria
40 dias depois da concepção para os homens, e 80 dias depois da concepção para as mulheres.
A idéia da hominização tardia, baseava-se no conceito de hilomorfismo, que veio de
Aristóteles. Segundo esse conceito, o ser humano é uma unidade formada de corpo e alma, e
não pode haver alma em um corpo que ainda não está formado.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 104

Durante o período medieval prevaleceu a teoria de Tomás de Aquino, que afirmava que só
haveria aborto pecaminoso quando o feto estivesse totalmente formado. Os "Catálogos
Penitenciais" da época evidenciavam o dissenso, pois as punições variavam, sendo mais ou
menos rígidas de acordo com as diferentes concepções.

A teoria da hominização tardia foi predominante até o século XIX, quando então, o Papa
Pio IX, em 1869, declara que o aborto é pecado em qualquer situação e em qualquer momento
que se realize. Pela primeira vez Papa e teólogos coincidem e rechaçam a teoria da
hominização tardia.

No século XX o dissenso interno voltou. Quando a encíclica Humanae Vitae foi publicada,
em 1968, as questões de sexualidade e contracepção não encontraram acordo entre teólogos
católicos e episcopados, que reagiram aos ensinamentos do Papa Paulo VI. Os bispos belgas
afirmaram que:

"Segundo a doutrina tradicional, há que reconhecer que a última regra prática é ditada
pela consciência devidamente esclarecida segundo o conjunto de critérios que se expõem na
Gaudium et Spes (n.50, &2, n.51, &3), e que o juízo sobre a oportunidade de uma nova
transmissão da vida pertence, em última instância, aos esposos, que devem decidir sobre a
questão, na presença de Deus".

Atualmente há teólogos e religiosos(as) que fazem a defesa da validade moral de um ato


abortivo. Daniel Maguire, formado em Roma, professor de teologia moral afirma:

"A anticoncepção é não somente lícita, como pode ser moralmente obrigatória. Da mesma
forma, a opção por um aborto - uma opção que, ironicamente, faz-se mais necessária quando
se proibe a anticoncepção artificial - e, em muitas circunstâncias, uma opção moral para as
mulheres".

Também a Irmã Ivone Gebara, em 1993 assumiu uma posição de concordância com a
liberalização da legislação em vigor com relação ao aborto.

Portanto, observamos contradições e diversidade de opiniões na Igreja Católica sobre a


compreensão do aborto enquanto ato pecaminoso e homicida. Atualmente, o conceito teológico
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 105

de proteger o embrião desde o momento da concepção é mantido, no entanto a doutrina do


Vaticano sobre o aborto não se inclui entre os temas sobre os quais o Papa se declara infalível;
é matéria de legislação eclesiástica relacionada com a penitência, portanto, pode ser discutida
pelos/as católicos/as.

3. O que propomos:

. Que se leve em conta a fala, a vida e a prática das mulheres para elaborar um pensamento
que realmente se refira à vida delas e não simplesmente ignorar tudo e defender o princípio
absoluto "nós defendemos a vida"... e pronto.

. Acreditamos que mulheres e homens são dotados de capacidade e valores éticos


suficientes para tomar decisões sérias e responsáveis em relação aos seus direitos reprodutivos
e ao aborto.

. As mulheres não vão abortar mais se os serviços de saúde pública em relação ao aborto
forem implementados... pois trata-se de uma experiência de sofrimento. Na Holanda o aborto é

permitido e sua incidência é de 0,5% em cem mulheres. No Brasil a incidência do aborto é de


3,5% em cem mulheres.

. As mulheres não abortam sozinhas.. o homem que abandona uma mulher grávida, está
abortando antes mesmo que a mulher.

. Nós, católicas, queremos diminuir o peso da culpa que recai sobre os ombros das mulheres
e afirmar sua autonomia para decidirem sobre seu próprio corpo e os filhos que desejam ter.

. Queremos que o Estado ofereça educação sexual e ofereça serviços de saúde relativos à
vida reprodutiva de homens e mulheres e proporcione o acesso aos métodos anticonceptivos.

Tema 02 - A Importância da água


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 106

A água existe no universo há muitos e muitos milhões de anos, mas em estado sólido, como
gelo, ou em estado gasoso, como vapor.

O único planeta conhecido em que se encontra água no estado líquido é o planeta Terra. E a
água é justamente o elemento vital que diferencia o nosso planeta dos outros.

Foi na água dos oceanos que, há mais de 3 bilhões de anos, surgiram as primeiras formas de
vida. Esses organismos foram se desenvolvendo, se desenvolvendo e, durante muito tempo, a
água foi o único ambiente no qual podia haver vida.

Somente há 360 milhões de anos, mais ou menos, que apareceu um ser capaz de viver tanto
na água quanto na terra. Depois surgiram os dinossauros, depois os mamíferos, e somente há 4
milhões de anos surgiram os primeiros seres humanos.

Tudo isso nos mostra como a água é importante em nossas vidas, os seres vivos têm seus
organismos compostos por 2/3 de água, e o homem, ou qualquer outro animal, resiste a até
trinta dias sem alimento, mas não suporta mais do que alguns poucos dias sem água. Apesar de

estarmos acostumados a imagens de gigantescos mares e oceanos, e de sabermos que 2/3 da


superfície da Terra são cobertos por água, quase toda a água existente em nosso planeta, é
salgada, ou seja, não é boa para o consumo humano ou animal, sendo também imprópria para a
lavoura.

Portanto os seres humanos, os animais e as plantas necessitam de água doce para viver.
Apenas 3% da água existente é doce, além disso, apenas 1/3 dessa água doce não está debaixo
da terra, nos lençóis freáticos, ou congelada nos pólos em forma de geleiras, calotas polares e
icebergs.

No caso da água, este 1/3 é igual a 40 quintilhões de litros, mas toda essa água está em
constante movimento, evaporando-se dos oceanos, rios e lagos, transformando-se em vapor e
formando as nuvens na atmosfera. Quando o vapor se condensa, a água volta para a Terra em
forma de chuva, granizo ou neve, este é o ciclo da água, que acontece por causa da influência
do sol e da gravidade.
CURSO MÉTODO VEST BULARES 107

Parte da água que cai s bre a terra se distribui pela


sãosuperfície,
formadoseos
assi
lagos, os rios e os riachos, a parte da água que cai e se infiltra no solo ai ser absorvida pelas
plantas ou vai alimentar os lençóis freáticos, ou seja, lençóis subterrâne s de água que
alimentam nascentes e poç s.

Você Sabia?

75 % do planeta Terra composto de água e 75 % do nosso corpo ta mbém. Apenas uma


coincidência?

(Artigo da CampanhaadFraternidade de 2004 - Igreja Católica)

Proposta de redação

Leia o texto acima, vej a figura e redija uma dissertação de 30 linh s sobre o tema:

"Haverá um dia em que o homem beberá as águas de suas lágrimas ara matar a sua sede."

Passar a limpo na folha de redação. Pôr título.


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 108

Tema 03 – Celibato e pedofilia

Após ler os textos abaixo e interpretar a figura, redija texto dissertativo de 30 linhas sobre o tema que os
norteia.

Entrevista concedida à Folha da Região, 5/5/2002.

Leia a entrevista toda

O padre Luigi Favero, da direção das Faculdades e Colégio Salesiano em Araçatuba

FR - A doutrina do celibato pode influenciar na ocorrência de casos de pedofilia ou de


relacionamentos afetivos envolvendo padres?

Favero - As estatísticas dizem que a grande maioria dos abusos sexuais acontecem dentro das famílias.
Infelizmente, cometidos pelos próprios pais. Então, o problema não é o celibato. O problema realmente deve
ser desvios na personalidade. Depois, também tem o mistério do pecado humano, em que todos nós podemos
errar. O problema é a natureza humana que é limitada e falha.

FR - A Igreja pune de alguma forma os padres que cometem abusos sexuais?

Favero - A própria sociedade condena isso porque é um desvio grave. A Igreja não é juiz, ela é mãe.
Quando alguém erra, a Igreja nunca coloca um dedo para julgar. A Igreja não está aqui para julgar nem
condenar alguém, e sim para ajudar. Mas é claro que a pedofilia é uma coisa muito grave. É um problema
que entra também na questão da liberdade sexual.

Tema 04 – A corrupção no Brasil

INSTRUÇÃO: Leia a seguinte paródia de Millôr Fernandes.


CURSO MÉTODO VEST BULARES 109

in: Bundas, ano 1, nº 4, 6 a 12 de julho de 1999, p. 5.

PROPOSIÇÃO

A maioria dos brasil iros condena a corrupção, considerando-a culpada dos principais
males que atingem o país, mas há também quem afirme que é uma "d oença sem remédio" ou

que faz parte da natureza e nossa sociedade. Nesse contexto, o cartu m de Millôr Fernandes,
parodiando um gênero de ublicidade oficial, convoca sarcasticamente s jovens a participar da
corrupção em todos os seto res da vida nacional.

Posicionando-se como alguém que pensa em seu futuro e sabe que pode encontrar no
caminho a corrupção, ma ifeste sua opinião sobre o assunto,e scre endo uma redação, de
gênero dissertativo, sobre o tema:

OJOVEMANTEACO RUPÇ O: UM INIMIGO A COMBATER OU UM DADO A


ACEITAR?

Tema 05 – Diversidade cul tural e tolerância

Leia a reportagem toda (a aixo) e redija um texto dissertativo em pros a, de 30 linhas, sobre a
diversidade cultural e a tol rância no Brasil.

(Reportagem de O Esta do de São Paulo, 7/10/2001.)


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 110

Falem, senhores imigrantes

Uma tese de doutorado na USP dá vez, voz e rosto a dez comunidades de imigrantes até
então pouco estudadas em São Paulo

MOACIR ASSUNÇÃO

Qual a verdadeira face dos estrangeiros que ajudaram a construir a cidade? Para responder a
isso, a historiadora Sonia Maria de Freitas pesquisou a trajetória de dez comunidades que
vieram para o País a partir do fim do século 19 e depois das duas guerras mundiais. Menos
expressivos numericamente que italianos e japoneses, povos mais estudados por historiadores e
sociólogos, eles abandonaram seus países, em muitos casos ocupados militarmente, e fugiram
da guerra e da fome, instalando-se em São Paulo.

Com suas tradições, hábitos e costumes, colaboraram para tornar a cidade um multifacetado
mosaico cultural.

Dados do Memorial do Imigrante, onde trabalha a professora, informam que 70 povos


imigraram para o Brasil. Em sua tese de doutorado, defendida recentemente na Universidade de
São Paulo (USP), Sonia dissecou a trajetória de armênios, que fugiam do primeiro genocídio do
século 20, em 1915, no qual o número de mortos chegou a 1,5 milhão; russos contrários ao
comunismo, que tentavam escapar da Revolução de 1917; poloneses, lituanos, húngaros e
ucranianos, que fugiam da dominação soviética. Também foram pesquisados chineses;
japoneses de Okinawa, que vivem no arquipélago ao sul do país e diferem da população da ilha
principal; italianos do Monte San Giácomo e Sanza, também diferentes dos demais patrícios, e
espanhóis.

O trabalho inédito, intitulado Falam os Imigrantes... Memória e Diversidade Cultural em


São Paulo, permitiu que essas comunidades ganhassem voz e rosto.

A face dos imigrantes, então, se revela ou loira de olhos azuis ou com traços orientais. A
contribuição desses povos à cultura nacional variou de aspectos arquitetônicos, artísticos e
culturais em igrejas de todas as crenças à culinária.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 111

No Brasil, os estrangeiros descobriram o valor da tolerância, escassa na Europa e na Ásia


da época, em que o fantasma da guerra rondava os países, num turbilhão de violência e fome.
Depois de 1945, a maior parte deles sobrevivia, a duras penas, nos campos de displaced person
(pessoa deslocada). Rivais na Europa, lituanos e ucranianos - oprimidos pelos russos -
passaram a conviver pacificamente no mesmo bairro, a Vila Zelina, zona leste. No Tremembé,

zona norte, poloneses e alemães, também inimigos, se tornaram vizinhos e amigos. Durante a
2.ª Guerra, a Alemanha de Hitler invadira e ocupara a Polônia.

"O que nos separava na Europa nos unia no Brasil", afirma o arquiteto polonês e professor
da Universidade de São Paulo (USP) Witold Snitrowic. Em outro país, diz ele, um encontro
entre um compatriota de Gdansk, cidade que viu nascer o sindicato Solidariedade de Lech
Walesa, e um alemão de Danzig, que vinham a ser o mesmo local, anteriormente ocupado pelos
germânicos, acabaria em briga. "Aqui, eles se cumprimentariam como conterrâneos."

Adaptação - A vida dos imigrantes teve lances curiosos de adaptação. O arenque, peixe
típico de regiões frias, foi substituído pela sardinha. Nativo de regiões tropicais e subtropicais,
o palmito virou o sucessor natural do cogumelo no pastel pierogi, de srcem polonesa. O
mesmo ocorreu, de acordo com o jornalista Saul Galvão, crítico gastronômico do Jornal da
Tarde, com o quibe. Feito de carne de carneiro nos países árabes, passou a ser produzido com
carne de vaca no Brasil.

Para aprender a nova língua, o filho de okinawanos Kioshi Teruya, de 70 anos, escrevia
palavras em português no dorso da mão. Enquanto trabalhava no arado em Promissão, interior
de São Paulo, gravava as palavras, retiradas de jornais que comprava aos montes. "Não me
conformava quando não aprendia pelo menos cinco palavras novas por dia", diz.

A lituana Elena Vidmontas, de 89 anos, inventou outro método peculiar: lia dois livros,
emprestados por vizinhos italianos, ao mesmo tempo. Com isso, a imigrante, que sabia apenas
rudimentos da língua falada no Brasil, foi 'alfabetizada' por Machado de Assis, Monteiro
Lobato e Olavo Bilac.

"Desenvolvi um vocabulário muito culto para uma imigrante."


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 112

O polonês Szot Kazimierz, cujo nome foi mudado para Casimiro, viveu, pouco antes de vir
para o Brasil, uma situação curiosa: dias depois do fim da 2.ª Guerra, reencontrou em uma
estação de trem na Alemanha um ex-soldado que o havia agredido pelo simples fato de ele não
entender a ordem de tirar as mãos do bolso, forma de se proteger do frio.

Assustado, o oficial se ajoelhou, pedindo perdão. "Falei que não era tão animal como eles
haviam sido conosco durante o conflito e ele podia seguir tranqüilo", conta, ainda com forte
sotaque.

Arquitetura - As comunidades também deixaram legados na arquitetura, embora só e a


Liberdade conserve as características de bairro de imigrantes, com as luminárias típicas, as
torii, construções em forma de pagode e praças com tanques de carpas. Na Vila Zelina, a Praça
República Lituana conserva a Igreja São José, com vitrais do santo nacional, São Casimiro,
onde há missas na língua natal aos domingos e uma réplica do monumento à independência da
Lituânia, que ficou 51 anos sob domínio soviético. Em frente do templo de arquitetura lituana,
projetado e construído pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, uma cruz com símbolos
pagãos como sóis e flores relembra as religiões antigas do povo, antes da introdução do
cristianismo.

No caso da Vila Zelina, a aglomeração de lituanos, depois seguidos por russos e ucranianos,
não foi acidental. O dono dos terrenos, Cláudio Monteiro Soares, doou à comunidade a área em
que foi erguida a igreja, em 1935. Católicos, os lituanos, que tinham começado a chegar nove
anos antes, compraram os lotes para ficar próximos de seu templo. Hoje, de acordo com o
padre Petras Ruksys, o Pedrinho, a maioria da comunidade é composta por brasileiros.
"Anteriormente, faziam-se três missas em lituano e uma em português. Agora é o contrário."

Escondida em meio aos prédios da Liberdade, a Catedral Ortodoxa de São Nicolau, nome
do mais importante ícone (equivalente a santo) russo, é um tesouro da comunidade. Com
cúpula dourada, paredes brancas e estilo arquitetônico dos Montes Urais, o templo dirigido pelo
padre Konstatin Bussyguin tem ícones medievais, trazidos pelos imigrantes. Vítimas de
perseguição religiosa por parte do regime soviético, os refugiados da Rússia encontraram no
Brasil um porto seguro.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 113

O curioso é que o refúgio russo, onde também há missas na língua natal aos domingos, fica
na Rua Tamandaré, em pleno coração da Liberdade. Em outro país, talvez isso fosse encarado
como provocação. Os russos, rivais históricos da China, potência socialista contrária a Moscou,
combateram os japoneses na guerra da Coréia, em 1904. No Brasil, porém, as diferenças são
amainadas.

Ninguém ouse, entretanto, ter idéias xenófobas a respeito dos estrangeiros radicados no
País. Embora mantenham sua língua, tradições e cultura, eles se consideram tão brasileiros
quanto os nativos. "O amor pelo Brasil não abafa o amor pela terra natal. Os dois coexistem
tranqüilamente", defende a húngara Eva Tirczka Piller, de 68 anos. O apreço pelo País que a
acolheu é tão forte que a lituana Elena recorda como o momento de maior emoção de sua vida
o dia em que se naturalizou brasileira. "Quando pisei na Avenida Paulista, senti que aquele solo
também era meu. Nunca me senti tão feliz."

OBS: Uma boa sugestão para continuar a pensar sobre o tema é assistir ao filme Casamento
Grego

Tema 07 – Fome Zero

Proposta de redação

(Ufsm – 2001 - adaptado) É raro encontrar alguém que não tenha dado uma esmola numa
determinada esquina ou semáforo. No entanto, esse gesto provoca polêmica, o que se comprova
por opiniões como as que seguem.

- "A esmola é tola e ociosa diante do tamanho da tragédia social do Brasil."

- "A esmola reproduz a cultura do favor, que está na raiz do paternalismo brasileiro, mas,
numa sociedade injusta como a nossa, é preciso ter uma certa dose de generosidade."

- "A esmola é um sinal de que as pessoas ainda não endureceram inteiramente diante da
miséria."
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 114

- "A esmola pode servir para que as crianças continuem na rua e aprofundem sua
marginalização social".

Todas as pessoas, em sã consciência, ficam indignadas com a fome que assola o mundo e
também o Brasil. Estatísticas dão conta de que um terço da população brasileira é mal nutrida,
9% das crianças morrem antes de completar um ano de vida. Herbert de Souza, o Betinho,
afirmou que "Quando uma pessoa chega a não ter o que comer é porque tudo o mais já lhe foi
negado ." É a morte em vida. Instaura-se, dessa forma, uma grande contradição, pois sendo o
Brasil o quinto país em extensão territorial com 8,5 milhões

O BRASIL QUE COME AJUDANDO O BRASIL QUE TEM FOME. (Slogan do Fome
Zero).

Considerando as opiniões expostas e o programa Fome Zero, redija um texto dissertativo-


argumentativo de 30 linhas, em português padrão, defendendo o SEU ponto de vista a respeito
do tema. Acrescente dados, exemplos, testemunhos ou outras informações que você julgar
relevantes para defender SUA posição. Dê um título ao texto.

Orientação do prof. Hélio Consolaro

Esquema:

1..º § - Tese (até 1/5 das linhas)

2..º § - Argumento 1

3..º § - Argumento 2

4..º § - Fato-exemplo

5..º § - Conclusão (até 1/5 das linhas)

Tema 08 – Homossexualidade
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 115

Na sociedade moderna, freqüentemente vêm surgindo situações inusitadas, que fogem às regras
e à tradição, assinalando mudanças cada vez mais rápidas nas estruturas, nas relações e nos
valores sociais.

Em 2003, a homossexualidade esteve presente nas discussões diárias: Manoel Carlos, autor
da novela Mulheres Apaixonadas, exibida pela Rede Globo, compôs duas personagens
femininas que são namoradas. A Parada Gay, na Avenida Paulista, contou com muito mais
pessoas, além das que se

declaram gays. Incidentes, como o do casal de namorados proibido de se beijar num


shopping paulista, polemizam ainda mais os valores sociais. Em país vizinho, Argentina,
homossexuais

já podem casar-se. Não é possível, portanto, ignorar situações tão relevantes, que mexem
com valores, conceitos, direitos e sentimentos das pessoas.

Leia os textos seguintes e elabore uma dissertação em prosa, na qual exponha e fundamente

seu ponto de vista sobre o tema:


A SOCIEDADE E A HOMOSSEXUALIDADE NOS DIAS ATUAIS.

A força do arco-íris

Os gays já foram considerados criminosos - e julgados por isso. A Inglaterra do século XIX
enforcou dezenas deles. Na mesma época, as autoridades russas mandavam o
muzhelozhstvo(que quer dizer "homem que dorme com homem") passar até cinco anos na
Sibéria. A Alemanha nazista deu aos homossexuais

o mesmo tratamento reservado aos judeus. Num dos mais famosos julgamentos da história,

ocorrido em 1895, o escritor irlandês Oscar Wilde foi acusado de sodomia e comportamento
indecente. Diante do juiz, definiu a atração física entre dois homens como o "amor que não
ousa dizer o nome". Wilde acabou condenado e sentenciado a dois anos de prisão e trabalhos
forçados.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 116

Numa fase seguinte, os homossexuais passaram a ser tratados não mais como criminosos,
mas como doentes, "portadores de uma anomalia" que podia conduzi-los à depressão e ao
suicídio, donos de uma propensão especial à prática de crimes. Somente há pouco mais de dez
anos a Organização Mundial da Saúde retirou o homossexualismo da Classificação
Internacional de Doenças. Atualmente, os especialistas já não discutem o que leva alguém ao

homossexualismo. Trata-se de uma mistura de fatores, resultado de influências biológicas,


psicológicas e socioculturais, sem peso maior para uma ou para outra - nunca uma
determinação genética ou uma opção racional. Evoluiu a conceituação, eliminaram-se os
empecilhos, mas continua ser difícil assumir a homossexualidade.

(...)

Apesar do preconceito, o panorama se tornou menos hostil

aos gays em função de uma série de vitórias computadas aqui e ali.

(...)

Mesmo no Brasil, onde a legislação não é das mais avan-çadas, os gays registram diversas
conquistas. (...) A decisão

mais famosa ocorreu em janeiro do ano passado, após a morte da cantora Cássia Eller. A
Justiça carioca resolveu que Chicão, o filho da cantora, poderia ficar provisoriamente com a
companheira dela, Maria Eugênia Vieira Martins, que viveu com Cássia durante catorze anos.
"A questão da homossexualidade não tem importância", escreveu o juiz na sentença. "O
essencial foi assegurar o interesse superior de Chicão." O respeito aos gays e a seus direitos
produz um efeito imediato na vida deles, mas também inocula na sociedade uma preocupação
crescente em respeitar as diferenças individuais, não apenas de ordem sexual,

mas de classe social e cor, por exemplo.

(Camila Antunes, Veja, 25.06.2003.)

Vaticano lança campanha mundial contra união civil homossexual


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 117

O Vaticano lançou hoje uma campanha mundial contra a legalização da união civil
homossexual e pediu aos políticos católicos de todo o mundo que se pronunciem de forma
"clara e incisiva" contra as leis que favorecem casamentos gays.

A campanha foi lançada através de um documento oficial, de 11 páginas, divulgado hoje


com o título "Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas
homossexuais" e preparado pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação
para a Doutrina

da Fé.

O documento, aprovado em março passado pelo papa João Paulo II, estabelece que
reconhecer legalmente as uniões civis homossexuais ou equipará-las ao matrimônio "significa
não apenas aprovar um comportamento desviado e convertê-lo em modelo para a sociedade
atual, como também afetar os valores fundamentais que pertencem ao patrimônio comum da
humanidade".

Para o Vaticano, a "homossexualidade é um fenômeno moral e social inquietante", que se


torna cada vez mais preocupante

nos países nos quais já se concedeu ou se tem a intenção de conceder o reconhecimento


legal às uniões homossexuais".

(Folha Online, 31.07.2003.)

Gays realizam manifestação contra Vaticano no centro de SP

A Associação do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) de São Paulo


realiza no início desta tarde, no centro da cidade, um protesto contra o documento emitido pelo

Vaticano, na semana passada, que condena o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Os manifestantes estão reunidos na frente da Catedral da Sé. O objetivo da associação é
conversar com os fiéis após a celebração da missa das 12h. Não há estimativa de público.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 118

O grupo de homossexuais Ação Direta, do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores


Unificado), também participa do ato. Segundo o líder do movimento, Leandro Paixão, a postura
da Igreja Católica é uma volta à "caça às bruxas". "Nós lutamos pela aprovação de união dos
homossexuais. Os mesmos direitos que os casais heterossexuais têm, os homossexuais também
devem ter", disse.

Representantes da catedral disseram que a igreja respeita qualquer manifestação e que os


homossexuais têm direito de

protestar.

(Folha Online, 05.08.2003.)

Protesto gay atrai três mil pessoas em São Paulo

Milhares de pessoas lotaram neste domingo a praça de

alimentação do shopping Frei Caneca para assistir ao "beijaço" coletivo organizado por
grupos gays em protesto contra o preconceito sofrido por um casal gay na semana passada. Um
casal de homossexuais foi expulso do shopping após um beijo na boca.

(O Globo. 03.08.2003.)

Veto a união gay vira bandeira eleitoral de Bush

Os republicanos não pouparam críticas à decisão da Suprema Corte de Massachusetts, que


considerou inconstitucional o dispositivo que proíbe o casamento de homossexuais,

mas não escondem sua satisfação: o tema agora promete ser o divisor de águas da próxima
campanha presidencial, na qual George W. Bush, candidato à reeleição, vai posar como
defensor da família e da moral.

"O casamento é uma instituição sagrada entre um homem e uma mulher. E vou trabalhar
com os líderes do Congresso
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 119

para fazer o que for legalmente necessário para defender a santidade do casamento",
afirmou Bush, que está na Grã-Bretanha, em visita oficial. Em Washington, o líder da maioria
na Câmara, o republicano Tom Delay, do Texas, anunciou que vai acelerar a votação de uma
emenda constitucional que define o casamento "apenas como a união de um homem e uma
mulher", proposta por Marilyn Musgrave, republicana do Colorado.

Segundo Delay, essa é a única forma de "dar um jeito no judiciário desgarrado de


Massachusetts".

(O Estado de S.Paulo, 20.11.2003.)

Tema 09 – O negro no Brasil (Mackenzie - 1998)

Todos os dias, entre nove e dez horas da manhã, pode se ver sair a fila de negros a serem
punidos; vão eles presos pelo braço, de dois em dois, e conduzidos sob escolta da polícia até o
local designado pelo castigo, pois existem em todas as praças mais freqüentadas da cidade

pelourinhos erguidos com o intuito de exibir os castigados, que são em seguida devolvidos à
prisão. Aí o carrasco recebe o direito de pataca por cem chicotadas aplicadas.

De regresso à prisão, a vítima é submetida a uma segunda prova, não menos dolorosa: a
lavagem das chagas com vinagre e pimenta, operação sanitária destinada a evitar a infecção
do ferimento.

JEAN BAPTISTE DEBRET. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, de 1816 até 1831.

Trechos de uma entrevista

Entrevista concedida em 16 de junho de 1995 pelo professor Milton Santos, então titular da

cadeira de Geografia Humana da USP, ao repórter Maurício Stycer, da Folha de São de Paulo.
Ex-professor da Sorbone (Paris), Columbia (Nova York) e Dar-es-Salaam (Tanzânia),
Santos, 69, é hoje uma das mais respeitadas figuras de sua área no mundo. Em 1994, recebeu
no França o prêmio Vautrin Lud, o Nobel de Geografia.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 120

O prêmio é concedido a partir da indicação de 50 universidades espalhadas pelo mundo.


Uma comissão internacional escolhe, entre os mais votados, o premiado.

Santos é negro, casado com uma francesa e pai de dois filhos.

Folha – O senhor já viveu na França, nos EUA, no Canadá, na Tanzânia. Qual é a


especificidade do racismo brasileiro?

Santos – Aqui é natural os negros serem tratados de forma subalterna.Você não tem como
reclamar. Se você protesta, é visto como alguém que está perturbando o "clima agradável" que
possa existir nesse ou naquele lugar (...)

Folha – O senhor é maltratado?

Santos – Olhado com desconfiança. Parece que isso faz parte do ethos (caráter peculiar a
determinado povo). A grande aspiração do negro brasileiro éser tratado como um homem
comum. (...)

Folha – Diversos negros bem-sucedidos que entrevistei tendem a considerar que a chave do
sucesso é o esforço pessoal. O que o senhor acha?

Santos – Acho um enorme equívoco. Quando dizem isso, fazem um enorme mal à
comunidade negra. Fica parecendo que para ficar milionário basta fazer esforço e que a
questão pode ser tratada na base do voluntarismo. Neste finaldo século 20, quando a
referência tem um papel evidente que certas formas de esforço são importantes e devem ser
mostradas. Mas é importante mostrar também o mecanismo social que leva a isso.

(Racismo Cordial: Folha do São Paulo/ Datafolha. Editora Ática, 1995.)

A partir da relação entre os textos apresentados, faça uma dissertação a tinta, com
aproximadamente 30 linhas. Dê um título.

Tema 10 – O culto da beleza física


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 121

O culto da beleza física

Leia os textos e faça sua dissertação em prosa, em torno de 30 linhas, sobre o culto da
beleza física. É válido, não é válido, é mais ou menos ou outra coisa? E a moda vem de
longe...

1. "O bem-estar, dizem os especialistas, é resultado do equilíbrio do nosso corpo. Quando


estamos em harmonia, todas as partes do corpo funcionam direitinho e isso traz resultados
positivos em nosso dia-a-dia, no trabalho, nas conquistas, na nossa personalidade, enfim. Uma
mulher, por exemplo, jamais poderá se sentir bem estando insatisfeita com a sua aparência.
Como alguém pode se apaixonar se reprova a sua própria imagem no espelho?"

(Revista Mais Vida, agosto de 1995)

2. "(...) nunca a beleza foi tão imperativa quanto é hoje - é obrigatório ser lindo, magro,
saudável. (...) Por que tal obsessão pela beleza nos dias que ocorrem? Necessidade de afeto,

medo da velhice e busca de novas oportunidades profissionais são as expressões-chave para


explicar como se chegou a tal situação."

(Veja, agosto de 1995)

3. "O império da vaidade: 'Em tempos de ditadura da beleza, o corpo é massacrado pela
indústria e pelo comércio, que vivem de nossa insegurança, impotência e angústia. Criou-se
uma tirania que não suporta quando um cidadão tenta ser feliz como gosta e como pode,
mesmo que seja comendo uma pizza.'"

(Paulo Moreira Leite)

4. "Os cabelos à moda hippie de algumas mulheres dão uma impressão desagradável de
relaxamento, as roupas manchadas, as unhas maltratadas e os pés geralmente sujos causam em
muitos homens certa aversão. Esquecem-se essas mulheres de que poderiam embelezar o
mundo e encantar os olhos e corações masculinos. Os homens de sensibilidade sentem
necessidade de estar sempre em contato com a beleza e a harmonia, e quando isso não acontece
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 122

no seu dia-a-dia, tornam-se mentalmente esgotados, nervosos, 'enfossados' e infelizes. A


beleza, feminilidade e delicadeza da mulher representam um paliativo na vida atribulada do
homem atual."

(Dílson Kamel e José Guilherme Kamel, A Ciência da Beleza)

5. "O filósofo grego Platão fez eco a Pitágoras, ao dizer que o belo residia no tamanho
apropriado das partes, que se ajustavam de forma harmoniosa no todo, criando assim o
equilíbrio. Esse ideal estaria personificado em Helena, pivô da Guerra de Tróia (...). De tão
deslumbrante, Helena foi elevada à categoria de semideusa no célebre poema épico Ilíada, de
Omero. Sabe-se que a beleza da rainha egípcia, esposa do faraó Amenófis IV, que viveu
catorze séculos antes de Cristo, também se amparava no equilíbrio das formas. O busto com
sua imagem, hoje exposto no Museu Egípcio de Berlim, mostra que tinha o semblante
perfeitamente simétrico e perfil bem delineado, além de maças do rosto salientes e lábios
carnudos - detalhes que remetem ao conceito atual de beleza feminina. A doutrina grega da
beleza comportava, ainda, um outro conceito importante - o da luminosidade. Em Homero,
pode-se ler que 'belas são as armas dos heróis, porque são ornadas e resplandecentes; é bela a
luz do sol e da lua, e belo é o homem de olhos brilhantes'. A luminosidade se tornaria, assim,
um ideal a ser perseguido, principalmente na pintura renascentista. (...)

A escultura Davi, de Michelangelo, é um dos exemplos mais perfeitos da aplicação da


proporção áurea. Foi no século XVIII que nasceu a disciplina filosófica que leva o nome de
estética e que se ocupa do belo e da arte. Na segunda metade do século seguinte, as explicações
sobre a natureza da beleza tomaram um rumo inesperado com as teorias do naturalista inglês
Charles Darwin. Em seu livro A Origem das Espécies, de 1859, ele a definiu como um fator
biológico necessário à reprodução dos animais. Hoje, psicólogos evolucionistas defendem suas
teorias sobre a beleza calcados na premissa darwiniana de que ela serve para assegurar a
sobrevivência da espécie humana. A preferência dos homens por mulheres jovens, de quadris
largos e cintura fina - atributos ligados è fertilidade - seria uma forma de garantir a geração de
filhos saudáveis. Já as mulheres se sentiriam atraídos por homens altos e fortes, porque esses
seriam atributos de bons provedores e de defensores da prole em qualquer circunstância.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 123

Muitos estudiosos vão à frente nessa teoria e afirmam que atualmente, mais do que nunca, a
aparência física é levada em conta não apenas no terreno do amor e do sexo, mas em todos os
relacionamentos pessoais."

(Veja, maio de 2004.)

REDAÇÃO - ENEM 1998

O Que É O Que É

(...)

Viver

e não ter a vergonha de ser feliz

Cantar e cantar e cantar

a beleza de ser um eterno aprendiz

Eu sei

que a vida devia ser bem melhor

e será

Mas isso não impede que eu repita

É bonita, é bonita e é bonita

(...)
Luiz Gonzaga Jr. (Gonzaguinha)
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 124

Redija um texto dissertativo, sobre o tema “ Viver e Aprender”, no qual você exponha suas
idéias de forma clara, coerente e em conformidade com a norma culta da língua, sem se remeter
a nenhuma expressão do texto motivador “O Que É O Que É”.

Dê um título à sua redação, que deverá ser apresentada a tinta e desenvolvida na folha
anexa ao Cartão-Resposta. Você poderá utilizar a última página deste Caderno de Questões
para rascunho

TEMA ENEM 1999

O encontro Vem ser cidadão reuniu 380 jovens de 13 Estados, em Faxinal do Céu-PR. Eles
foram trocar experiências sobre o chamado protagonismo juvenil.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 125

O termo pode até parecer feio, mas essas duas palavras significam queo jovem não precisa
de adulto para encontrar o seu lugar e a sua formade intervir na sociedade. Ele pode ser
protagonista.

(Adaptado de “Para quem se revolta a quer agir”,Folha de São Paulo, 16/11/1998)

Depoimento de jovens participantes do encontro:

Eu não sinto vergonha de ser brasileiro. Eu sinto muito orgulho. Mas eu sinto vergonha por
existirem muitas pessoas acomodadas. A realidade está nua e crua (...) Não dá para passar e ver
uma criança na rua e achar que não é problema seu. ( E.M.O.S. – 16 anos, Minas Gerais)

A maior dica é querer fazer. Se você é acomodado, fica esperando cair no colo, não vai
acontecer nada. Existe muita coisa para fazer. Mas primeiro você precisa se interessar. (C.S.
Jr., 16 anos, Paraná)

Ser cidadão não é só conhecer os seus direitos. É participar, ser dinâmico na sua escola,
no seu bairro. (H.A., 19 anos, Amazonas)

Com base na leitura dos quadrinhos, redija um texto dissertativo-argumentativo, em


prosa, sobre o tema CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL.

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos ao


longo de sua formação. Depois de selecionar, organizar e relacionar os argumentos, fatos
e opiniões apresentados em defesa de seu ponto de vista, elabore uma proposta de ação
social.

A redação deverá ser apresentada a tinta na cor azul ou preta e desenvolvida na folha
grampeada ao cartão-resposta. Você poderá utilizar a última página deste caderno de questões

para rascunho.

TEMA ENEM 2000


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 126

"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com


absoluta prioridade, o direito à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão”.

Artigo 227, Constituição da República Federativa do Brasil.


(...) Esquina da Avenida Desembargador Santos Neves com Rua José Teixeira, na Praia do
Canto, área nobre de Vitória. A.J., 13 anos, morador de Cariacica, tenta ganhar algum
trocado vendendo balas para os motoristas. (...)

“Venho para a rua desde os 12 anos. Não gosto de trabalhar aqui, mas não tem outro jeito.
Quero ser mecânico”.

A Gazeta, Vitória (ES), 9 de junho de 2000.

Entender a infância marginal significa entender porque um menino vai para a rua e não à

escola. Essa é, em essência, a diferença entre o garoto que está dentro do carro, de vidros
fechados, e aquele que se aproxima do carro para vender chiclete ou pedir esmola. E essa é a
diferença entre um país desenvolvido e um país de Terceiro Mundo.

Gilberto Dimenstein.O cidadão de papel. São Paulo, Ática, 2000. 19a. edição.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 127

Com base na leitura da charge, do artigo da Constituição, do depoimento de A.J. e do trecho


do livro O cidadão de papel, redija um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo,
sobre o tema: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional?

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as


reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e
opiniões para defender o seu ponto de vista, elaborando propostas para a solução do problema
discutido em seu texto.

Observações:

Lembre-se de que a situação de produção de seu texto requer o uso da modalidade escrita
culta da língua.

Espera-se que o seu texto tenha mais do que 15 (quinze) linhas.

TEMA

Bonnie nasceu nesses dias em que a morte rondou-nos com sua brutal e irredutível presença.
Em sua ovina, alva e simbólica inocência, ela surgiu na TV e nos jornais, ao lado da mãe,
Dolly. Nenhuma das duas suspeita de onde veio e para onde irá. Não se indagam, não
formulam, não têm angústias: são apenas ovelhas, viverão e morrerão.

Para os humanos, contudo, Dolly e Bonnie são mais do que dois límpidos e pacíficos animais.
São um novo episódio do ancestral duelo que a humanidade trava contra a natureza. Um ensaio
divino da razão, uma esperança, possivelmente vã, de que um dia o destino humano complete-
se e triunfe sobre a mãe criadora.

Até lá, porém, continuará a conviver com a morte, esse defeito irrevogável da criação,,.

(Gonçalves M.A., Domingueira, Folha de São Paulo, 26/4/98, pg. 1-9).

Ita
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 128

Instruções para Redação

Redija uma dissertação ( em prosa, de aproximadamente 25 linhas) sobre "A relação do


brasileiro com o trabalho". Os excertos abaixo poderão servir de subsídio para a elaboração de
sua redação. Não os copie. ( Dê um título ao seu texto. A redação final deve ser feita com letra
legível, à tinta.)

1. Aos 9 anos comecei a tentar trabalhar. Ajudava um vizinho que fazia doce de banana e de
mamão para vender na feira. Na hora de lavar aqueles tachos enormes de cobre, os filhos e os
netos dele achavam feio fazer trabalho de mulher _ arear a panela, com areia mesmo, porque
Bombril vim conhecer só aqui no Rio. Eu ganhava aquele dinheirinho para a merenda. Também
quebrei pedra _ é, pedra mesmo. Lá no sertão não tinha máquina para fazer concreto, era tudo
na mão. Os homens gritavam fogo na hora de estourar a pedreira e todo o mundo da vila se
escondia debaixo das camas. Quando acabava o estouro, a gente corria com cesto ou lata para
pegar os pedaços de pedra, trazia para o quintal, quebrava tudo com a mão e esperava o
medidor que vinha pesar as latas. ( Veja, Especial Mulher, _ set/ 1994)

2. Nos ofícios urbanos reinavam o mesmo amor ao ganho fácil e a infixidez que tanto
caracterizam, no Brasil, os trabalhos rurais. Espelhava bem essas condições o fato, notado por
alguém, em fins da era colonial, de que nas tendas de comerciantes se distribuíam as coisas
mais disparatadas deste mundo, e era tão fácil comprarem-se ferraduras a um boticário como
vomitórios a um ferreiro. Poucos indivíduos sabiam dedicar-se a vida inteira a um só mister
sem se deixarem atrair por outro negócio aparentemente lucrativo. E ainda mais raros seriam os
casos em que um mesmo ofício perdurava na mesma família por mais de uma geração, como
acontecia normalmente em terras onde a estratificação social alcançara maior grau de
estabilidade. ( Holanda, Sérgio Buarque de, Raízes do Brasil, Rio de Janeiro: José Olympio,
1978)

3. Muito diferente da concepção anglo-saxã que equaciona trabalho ( work) com agir e fazer,
de acordo com sua concepção srcinal. Entre nós, porém, perdura a tradição católica romana e
não a tradição reformadora de Calvino, que transformou o trabalho como castigo numa ação
destinada à salvação. Para nós, brasileiros, que não nos formamos nessa tradição calvinista,
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 129

achamos que o trabalho é um horror. ( Da Matta, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de
janeiro, Rocco, 1984)

4. Os executivos estão desfrutando cada vez menos o período de férias. É o que aponta uma
pesquisa feita pelo grupo Catho, especializado em Recursos Humanos, com 1.356 profissionais
em todo o país. Os resultados revelam que o descanso tradicional de 30 dias já virou utopia
para muitos: 57,5% dos entrevistados tiraram férias de apenas duas semanas ou menos nos
últimos 12 meses. Outros 21% não tiraram um dia sequer. Gerentes, supervisores e
profissionais especializados _ como advogados, contadores e engenheiros _ são os que menos
dão pausa no trabalho durante o ano. ( Folha de São Paulo, 17/5/98)

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• TEMA DE REDAÇÃO

TEXTO I: "A ciência não deve ser limitada por conceitos éticos. O cientista tem de
gozar de plena liberdade para levar a cabo suas pesquisas e experimentos, não

cabendo à sociedade julgar moralmente o seu trabalho. A ciência é eticamente neutra,


cabendo à comunidade usar de maneira justa o resultado da reflexão científica. O
teórico dividiu o átomo; os estados criaram as armas nucleares".

TEXTO II: "Compete à sociedade vigiar o cientista. Está é aúnica forma de coibir
pesquisas que possam transgredir as normas éticas que preservam a coesão social das
comunidades. Progresso não significa o avançocientífico em detrimento da Ética; o
verdadeiro avanço da civilização consiste em respeitar as coordenadas da
moralidade".

ENTENDA O TEMA

O primeiro texto defende que a pesquisa científica não deve ser policiada pela ética; o
segundo, pelo contrário, coloca a Moral acima do progresso científico.

Redija sobre: "A moral e a ciência são contraditórias?".


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 130

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TEMAS DE REDAÇÃO:

Texto 1: "O homem contemporâneo vem perdendo a linearidade da linguagem escrita em


função da onipresente ditadura das artes e técnicas visuais. A televisão impera em todos os
lares, onde pouco se lê e quase não mais se dialoga. A 'telinha' é a dona das atenções gerais e os
atores e apresentadores são os novos olimpianos".

Texto 2: "As novelas da televisão são, hoje, o que foram os 'folhetins' do século XIX: o
divertimento das classes semi-letradas e semi-cultas das diversas sociedades que formam a
comunidade mundial"

Texto 3: "A televisão é a máquina de fazer loucos" (Stanislau Ponte Preta, notável humorista
brasileiro)

Leia os textos acima e deles extraia um tema e, em seguida, redija.

DA TE"A #ARA O #A#E"


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 131

Muitas pessoas podem pensar na Sétima Arte apenas como entretenimento, como forma
de passar o tempo, mas o cinema pode ser um valioso aliado no estudo de redação. Assim
como os livros, os filmes também são feitos baseados em temáticas que podem ou não estar
vinculadas à nossa realidade. Temos a seguir uma relação de filmes que podem servir de

incentivo à reflexão sobre temas polêmicos. A lista é, logicamente, incompleta, mas serve para
dar uma visão panorâmica de alguns temas que podem ser abordados em vestibulares. Os
filmes nacionais vêm seguidos da indicação (BR)

SISTEMA PENAL E PENA DE MORTE


- À espera de um Milagre
- Culpado por Suspeita
- Hurricane – O Furação
- Amistad
- Memórias do Cárcere (BR)
- O Silêncio dos Inocentes
- Um sonho de liberdade
- Carandiru (BR)
- Querô

RELACIONAMENTO FAMILIAR
- Pequeno Dicionário Amoroso (BR)
- Perdas e Danos
- Traição (BR)
- De olhos bem Fechados
- Eu – o Filme (BR)
- A Partilha (BR)
- Os Normais (BR)
- Um Amor para recordar
- O Filho da Noiva
- Bicho de sete cabeças (BR)
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 132

- A Corrente do bem
- Baixio das Bestas (BR)

DOGMAS RELIGIOSOS
- O Padre

- Dogma
- Estigmata
- O Último Portal
- A Última Tentação de Cristo
- A Missão
- Rainha Margot
- Por um Fio
- O Pagador de Promessas (BR)
- O Auto da Compadecida (BR)
- Seven
- O exorcista
- Em nome de Deus

BRASIL
- Central do Brasil (BR)
- Pixote – A Lei do mais Fraco (BR)
- Quem matou Pixote? (BR)
- O Que é isso, Companheiro? (BR)
- Lamarca (BR)
- Cidade de Deus (BR)
- Cronicamente Inviável (BR)
- Uma onda no ar (BR)
- Olga (BR)
- O ano em que meus pais saíram de férias

ÉTICA
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 133

- O Homem Bicentenário
- Matrix
- O Professor Aloprado
- Patch Adans – O Amor é Contagioso
- O Todo-Poderoso

- Um ato de coragem
- Inteligência Artificial
- A Ilha
- Jogos Mortais
- O Albergue
- Avatar

VIDA APÓS A MORTE


- Espíritos
- Possuídos
- Ghost – O outro lado da vida
- Sexto Sentido
- O Mistério da Libélula
- Os Outros
- Falando com os Mortos
- Amor além da Vida

HOMOSSEXUALISMO
- O Eclipse da Paixão
- Assunto de Meninas
- A Lei do Desejo
- Má Educação

SISTEMA EDUCACIONAL
- A Sociedade dos Poetas Mortos
- Mudança de Hábito II
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 134

- Meu Mestre, Minha Vida


- O Substituto
- Professor, Profissão Perigo
- O Sorriso da Monalisa
- Encontrando Forrester

- Escritores da Liberdade

SOCIALISMO / EXPLORAÇÃO HUMANA


- Germinal
- Formiguinha Z
- A Revolução dos Bichos

TEXTOS #ARA DISC$SSÃO

DE OLHINHO FECHADO
(Dalton Trevisan)

No sábado, com dor de cabeça, não fui para o emprego. Fiquei deitada quietinha no
quarto escuro. A minha filha de cinco anos chegou da escola e entrou no quarto. Sentou-se no
canto da cama: Mãe, eu tenho uma coisa pra te contar. Pela voz chorosa e trêmula, senti logo
um aperto no coração.
Sou viúva. Tinha um namorado, João, quer passava os fins de semana comigo. No
sábado, depois do almoço, eu saía para o trabalho. Deixava-o cuidando da menina.
Daí ela contou que o João sentava-se no sofá e ligava a tevê. Punha-a no colo e ficava
passando as mãos pelo seu corpo. Primeiro sobre a roupa e depois por baixo. O tempo todo
gemia e falava bobagem.
Mandava que tirasse o vestidinho e se deitasse no sofá. Olhava-a de longe e vinha aos
poucos se chegando. Beijava e babava o seu rosto. Acariciando e lambendo o corpo, baixava-
lhe a calcinha.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 135

Para não apanhar – Se você não deixa, eu te rasgo todinha! E não grite que eu te mato!
– A coitadinha fechava os olhos e chorava. Sentia alguma coisa no meio das pernas, mas não
tinha coragem de ver o que era.
O João dizia que estava com muito calor e queria tomar banho. Entrava com ela debaixo
do chuveiro e a esfregava devagarinho. Depois a vez dela, o que não era fácil, de olhinho meio

fechado.
Isso desde antes do Papai Noel. Ai, sim, tantos meses... ele jurou que matava direitinho
as duas, se a guria me contasse. Com a faca de ponta ali na gaveta da cozinha.
O que ela podia? Uma criança, cinco aninhos, já pensou? Só obedecer e chorar. E sentia
as lágrimas quentes que rolavam sob as pálpebras descidas.
Só agora, que briguei com ele e que não vem mais aqui, a pobrinha achou coragem de
me dizer tudo. Bem ela pedia todo sábado que a professora a deixasse ficar na escola, mas não
era atendida.
Daí perguntei por que nunca ela gritou para chamar a vizinha. Ele podia até acabar
comigo, respondeu. E eu ia deixar que matasse a minha mãezinha?

Tema geral:
Tipologia textual:
Críticas sociais:
Técnica:

Abuso de drogas na adolescência


Orientadora: Profa. Maria do Carmo Barros de Melo
Autores: Guilherme Cardoso Parreiras
Ryan Jefferson Villar Gonçalves
Co-autores: André Rodrigues de Mattos Paixão
Bernardo Luís Fornaciari Ramos
Heloísa Helena Gonçalves de Moura
Ricardo Theotônio Nunes de Andrade
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 136

Rodrigo Domingues Caixeta


Roger Claudson Vieira Reis
Vinícius Bicalho Rodrigues

Por que os adolescentes usam drogas?

O uso de substâncias que alteram o estado mental para fins médicos, sociais, culturais e
religiosos é relatado há muito tempo. Atualmente o fácil acesso a vários tipos de drogas vem
contribuindo para o aumento do uso de tais substâncias por adolescentes
O adolescente em nossa sociedade usa drogas por diversos motivos:
· aspiração da condição de adulto (a droga é vista como símbolo de maturidade);
· independência do domínio parental (a droga é vista como facilitadora do processo);
· aceitação pelo grupo de amigos;
· redução do estresse;
· fuga e rebelião contra o sistema;
· busca pelos limites das suas capacidades cognitivas.
Mais de 90% dos adolescentes já experimentaram drogas, na forma de álcool ou maconha, em
alguma época de sua vida. Os esforços para conter seu uso devem ser voltados para a
prevenção, uma vez que é mais fácil resistir às pressões para usar drogas do que interromper
seu uso.
Um dado alarmante que vem acometendo a sociedade é o crescente consumo de drogas entre
crianças escolares. Este fato parece estar ligado ao aumento do número de crianças vivendo nas
ruas e pelo recrutamento destas crianças para trabalho no tráfico de drogas.
Por que os adolescentes se tornam usuários de drogas?
O uso continuado de uma droga depois que ela é experimentada geralmente sugerem problemas
graves que podem estar motivando ou complicando o uso da mesma. Por exemplo, o uso de
drogas é mais comum entre adolescentes deprimidos assim como entre aqueles que susceptíveis
a um comportamento problemático.
Na avaliação de um adolescente que é descoberto abusando de drogas, devem ser considerados
os seguintes aspectos:
· o tipo de droga usada;
· as circunstâncias do uso;
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 137

· a freqüência e o momento do uso;


· a personalidade pré-mórbida;
· o estado funcional geral do adolescente;
· o uso pelo mesmo de veículo motorizado.
Como pais e amigos podem reconhecer um usuário de drogas e ajudá-lo?

Alterações abruptas de comportamento do adolescente, agressividade, irritabilidade e queda no


rendimento escolar são os primeiros sinais do uso abusivo de drogas. Também pode ocorrer:
· acidentes freqüentes;
· episódios de doenças mal definidas, apresentando tosse, rinite e falta de ar;
· dores abdominais e náuseas;
· alterações do sono e apetite, levando a emagrecimento;
· mudança no grupo de amigos;
· manifestação de opiniões extremas quando o assunto é drogas;
· cultura do uso de drogas, como o uso de camisetas, adesivos, músicas;
· aumento do tempo recluso dentro do próprio quarto;
· desaparecimento de objetos pessoais e da casa;
· cheiro freqüente de incenso.
O importante é estar atento a tais mudanças e na possibilidade de estarem associadas ao uso de
drogas. A melhor maneira de se descobrir se um adolescente esta fazendo uso de tais
substâncias ainda é com uma conversa franca sobre o assunto, com tato, bom censo e
tranqüilidade. Tal atitude pode ser o suficiente para alertar os jovens sobre o perigo das drogas
e o abandono do seu uso. Entretanto acompanhamento especializado e até possíveis internações
podem ser necessários em situações de maior gravidade.
Seqüelas psicossociais
Os jovens podem se envolver em furtos, roubos, tráfico de drogas ou prostituição como meio
de adquirir dinheiro para manutenção de seu vício. Além disso, há uma diminuição do
aproveitamento escolar, da capacidade de manter o emprego e de dirigir veículos motorizados.
Nos usuários crônicos de maconha é comum uma síndrome de desmotivação na qual o
adolescente perde o interesse em atividades apropriadas para a idade.
Prevenção
O modelo ideal de prevenção visa adiar o máximo possível o evento da experimentação, tornar
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 138

seu uso limitado em quantidade, em situações e evitar seu uso durante a condução de veículos
motorizados. Os esforços devem ser baseados em informações objetivas e realistas sobre as
complicações médicas do uso de drogas, além de estratégias que ensinam os adolescentes mais
jovens a resistir à pressão dos mais velhos para experimentar drogas, uma vez que as técnicas
de amedrontação se mostraram falhas.

Classificação
O usuário de drogas, de uma maneira geral, pode ser "rotulado" de acordo com a freqüência em
que faz uso destas substâncias:
-usuário experimentador: é aquele que, como o próprio nome diz, fez uso de maneira isolada da
substância psicoativa e por determinada razão não tornou a utiliza-la.
-usuário ocasional: é o tipo de usuário que utiliza a droga de uma maneira intermitente,
geralmente em festas ou situações especiais.
-usuário habitual: o consumo da substância passa a fazer parte da rotina diária do usuário. A
maioria das suas atividades esta ligada ao uso da droga ou a tem como atividade principal.
-usuário dependente: a substância psicoativa tem interferência direta na vida do usuário. Este
não consegue ficar sem a substância, entrando em crise de abstinência se ficar certo período de
tempo sem utilizar a droga.

Tratamento
O tratamento agudo é individual para cada tipo de droga, já o crônico é baseado em esquemas
de internação e acompanhamento ambulatorial. O aspecto mais importante deste tratamento
consiste na avaliação médica continuada após a desintoxicação e o oferecimento de sistemas de
apoio psicossocial apropriados ao nível de desenvolvimento dos pacientes.
Tipos de drogas
1) Opiáceos:
Seu uso vem diminuindo nos últimos tempos, embora a magnitude e a variedade de seqüelas
médicas justifiquem uma atenção continuada. Seu principal efeito se reproduz como euforia e
analgesia. Geralmente é administrada por meio de inalação (efeito após 30 minutos),
subcutânea (efeito dentro de minutos) e intravenosa (efeito imediato).
Após um período de 8 horas ou mais de abstinência, o indivíduo sofre, durante um período de
24-36 horas uma série de alterações fisiológicas, a síndrome de abstinência. A principal causa
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 139

de morte por opióide é a síndrome de overdose, caracterizada por uma reação aguda de estupor
ou coma, convulsões, depressão respiratória, cianose e edema pulmonar.
2) Alucinógenos
Fenciclidina (poeira-de-anjo): geralmente feita em laboratórios domésticos, causa cólicas,
diarréia e vômitos. Geralmente está disponível em forma de comprimidos, líquido ou pó e pode

ser usado associado a cigarros ("baseados").


Cogumelos: Causam euforia e alucinações, sendo estes efeitos geralmente autolimitados.
Usuários inexperientes podem ingerir acidentalmente cogumelos com outros efeitos tóxicos e
até mesmo fatais.
3) Substâncias voláteis
Constitui uma prática antiga entre os adolescentes (éter). Hoje em dia é comum devido ao fácil
acesso e ao baixo custo (cola de sapateiro, freons, aguarrás, refil de isqueiro de gás butano e
gasolina). As complicações são relacionadas à toxicidade química, ao método de administração
e ao ambiente em que é usado.
Cola de sapateiro: princípio ativo - tolueno; causa relaxamento e alucinações agradáveis por até
2 horas, podem ocorrer tolerância e dependência física.
Gasolina: euforia, náusea, perda da consciência, excitação violenta e coma.
Laquês, desodorantes e lubrificantes: podem levar a arritmias e morte pós-inalação.
Lança-perfume e loló: euforizantes, potencializadores da sensibilidade musical e afrodisíacos.
4) Maconha
Muito popular, é obtida a partir da planta Cannabis sativa e seu princípio ativo é o THC.
Quando inalada faz efeito em 10 minutos; se por via oral o efeito se dá em 1 hora. Após o uso
surge euforia, alteração da percepção, da memória e apetite. O uso crônico está associado a
dificuldades de concentração.
5) Cocaína
Hoje em dia é mais acessível devido ao menor custo e à maior disponibilidade.Tem meia-vida
de 1 hora porém, é administrada a cada 15 minutos. Pode ser inalada (pura ou não) ou fumada
associada ao tabaco (efeitos exacerbados).
Seu uso causa grande euforia , com agitação motora e alterações comportamentais. Grandes
doses podem levar a overdose.
O tratamento visa a terapia de apoio intensivo e as manifestações agudas da intoxicação.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 140

6) Tabagismo
A taxa de fumantes entre as mulheres vem crescendo devido ao seu efeito emagrecedor. Além
disso, causa tosse crônica, aumenta a produção de muco e a sibilância, elevando a mortalidade
e morbidade pré-natal. Quando combinado ao uso de contraceptivos orais, está associada à
maior mortalidade por infarto do miocárdio.

Tabaco sem fumaça (fumo de mascar): pode levar a lesões, principalmente na prega mucobucal
mandibular e estas podem se malignizar.
7) Álcool
Seu uso vem aumentado na última década e constitui uma ameaça às atividades normais dos
adolescentes, bem como às vidas das pessoas colocadas em perigo por motoristas bêbados. O
uso crônico pode culminar em cirrose e câncer hepático.
Síndrome de abstinência (após uso diário por semanas): ocorre 8 horas após a última dose e
dura até 48 horas, gera ansiedade, tremor, insônia e irritabilidade.

8) Esteróides anabolizantes
Prevalente no sexo masculino, seu uso está baseado na busca por melhor desempenho atlético.
Efeitos físicos adversos: anormalidades do fígado (carcinoma), efeitos endócrinos, do
crescimento (devido à aceleração do fechamento epifisário), entre outros. Além disso, podem
ocorrer efeitos psicológicos como depressão, mania, flutuações do humor, alterações da libido e
ódio incontrolável.

LER NÃO SERVE PARA NADA


Diogo Mainardi

Como tornar o Brasil uma nação letrada? É o título de um documento de Ottaviano Carlo
De Fiore, secretário do Livro e Leitura. Honestamente, eu nem sabia que o Ministério da
Cultura tinha um secretário do Livro e Leitura.
Mas tem. Sua principal tarefa é “acompanhar, avaliar e sugerir alternativas para as
políticas do livro, da leitura e da biblioteca”. Foi exatamente o que Ottaviano Carlo De Fiore
tentou fazer em seu documento, estudando maneiras de aumentar o interesse por livros no
Brasil. Cito um trecho: “É fundamental que nos meios de massa, políticos, estrelas,
sindicalistas, professores, religiosos, jornalistas (através de depoimentos, conselhos,
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 141

testemunhos) propaguem contínua e perenemente a necessidade, a importância e o prazer da


leitura, assim como a ascensão social e o poder pessoal que o hábito de ler confere às pessoas”.
Minha experiência, ao contrário do que afirma o documento de Ottaviano Carlo De Fiore,
é que o hábito da leitura constitui o maior obstáculo para a ascensão social e o poder pessoal no
Brasil. Não é um acaso que aqueles que vivem de livros – os escritores – se encontrem no

patamar mais baixo de nossa escala social.


É contraproducente tentar convencer os poderosos a prestar depoimentos sobre a
importância dos livros em suas carreiras, simplesmente porque é mentira, e todo mundo sabe
que é mentira. Dê uma olhada nas pessoas de sucesso que aparecem nas páginas desta revista. É
fácil perceber que nenhuma delas precisou ler para subir na vida. A melhor receita para o
sucesso, no Brasil, é o analfabetismo.

RÉU CONFESSO
Tim Maia

Venho lhe dizer se algo andou errado


Eu fui o culpado, rogo seu perdão
Venho lhe seguir, vim pedir desculpas
Foi por minha culpa a separação
Devo admitir que sou réu confesso
E por isso eu peço, peço pra voltar
Longe de você já não sou mais nada
Veja é uma parada viver sem te ver
Longe de você já não sou mais nada
Veja é uma parada viver sem te ver
Perto de você eu consigo tudo
Eu já penso tudo peço pra voltar

ANOREXIA NERVOSA
Dráuzio Varela
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 142

Anorexia nervosa

Anorexia nervosa é um distúrbio alimentar resultado da preocupação exagerada com o peso


corporal, que pode provocar problemas psiquiátricos graves. A pessoa se olha no espelho e,
embora extremamente magra, se vê obesa. Com medo de engordar, exagera na atividade física,

jejua, jejua, vomita, toma laxantes e diuréticos.


É um transtorno que se manifesta principalmente em mulheres jovens, embora sua incidência
esteja aumentando também em homens. Às vezes, os pacientes anoréxicos chegam rapidamente
à caquexia, um grau extremo da desnutrição e o índice de mortalidade chega a atingir 15% a
20% dos casos.

Sintomas
·Perda exagerada de peso em curto espaço de tempo sem nenhuma justificativa. Nos casos mais
graves, o índice de massa corpórea chega a ser inferior a 17;
·Recusa em participar das refeições familiares. Os anoréxicos alegam que já comeram e que
não estão mais com fome;

·Preocupação exagerada com o valor calórico dos alimentos. Esses pacientes chegam a ingerir
apenas 200kcal por dia;
·Interrupção do ciclo menstrual (amenorréia) e regressão das características femininas;
·Atividade física intensa e exagerada;
·Depressão, síndrome do pânico, comportamentos obsessivo-compulsivos;
·Visão distorcida do próprio corpo. Apesar de extremamente magras, essas pessoas julgam-se
com excesso de peso;
·Pele extremamente seca e coberta por lanugo (pêlos parecidos com a barba de milho).

Causas
Diversos fatores favorecem o aparecimento da doença: predisposição genética, o conceito atual

de moda que determina a magreza absoluta como símbolo de beleza e elegância, a pressão da
família e do grupo social e a existência de alterações neuroquímicas cerebrais, especialmente
nas concentrações de serotonina e noradrenalina.

Recomendações
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 143

·Algumas profissões são consideradas de risco para a anorexia. Bailarinas, jóqueis, atletas
olímpicos, precisam estar atentos para a pressão que sofrem para reduzir o peso corporal;
·A faixa etária está baixando nos casos de anorexia. A família precisa observar especialmente
as meninas que disfarçam o emagrecimento usando roupas largas e soltas no corpo e se
recusam a participar das refeições em casa;

·Às vezes, os familiares só se dão conta do que está acontecendo quando, por acaso,
surpreendem a paciente com pouca roupa e vêem seu corpo esquelético, transformado em pele
e osso. Nesse caso, é urgente procurar atendimento médico especializado;
·O ideal de beleza que a sociedade e os meios de comunicação impõem está associado à
magreza absoluta. É preciso olhar para esses apelos com espírito critico e bom senso e não se
deixar levar pela mensagem enganosa que possam expressar;
·Se o paciente anoréxico estiver correndo risco por causa da caquexia e dos distúrbios
psiquiátricos deve ser internado num hospital para tratamento médico.

Tratamento
A reintrodução dos alimentos deve ser gradativa. Caso contrário provocaria grande sobrecarga
cardíaca. Às vezes, é necessária a internação hospitalar para que essa oferta gradual de calorias
seja controlada por nutricionistas. Não há medicação específica para a anorexia nervosa.
Medicamentos antidepressivos podem ajudar a atenuar sintomas depressivos, compulsivos e de
ansiedade. Em geral, o tratamento de pacientes anoréxicos exige o trabalho de equipe
multidisciplinar.

Operário em Construção
Vinícius de Moraes

Era ele que erguia casas Um templo sem religião


Onde antes só havia chão. Como tampouco sabia
Como umcom
Ele subia pássaro sem asas
as asas Que
Sendoa casa
a suaquer ele fazia
liberdade
Que lhe brotavam da mão. Era a sua escravidão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão: De fato como podia
Nao sabia por exemplo Um operário em construção
Que a casa de um homem e' um templo Compreender porque um tijolo
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 144

Valia mais do que um pão? O operário emocionado


Tijolos ele empilhava Olhou sua própria mão
Com pá, cimento e esquadria Sua rude mão de operário
Quanto ao pão, ele o comia De operário em construção
Mas fosse comer tijolo! E olhando bem para ela
E assim o operário ia Teve um segundo a impressão
Com suor e com cimento De que não havia no mundo
Erguendo uma casa aqui Coisa que fosse mais bela.
Adiante um apartamento
Foi dentro dessa compreensão
Alem uma igreja, à frente Desse instante solitário
Um quartel e uma prisão: Que, tal sua construção
Prisão de que sofreria Cresceu também o operário
Não fosse eventualmente Cresceu em alto e profundo
Um operário em construção. Em largo e no coração
Mas ele desconhecia E como tudo que cresce
Esse fato extraordinário: Ele não cresceu em vão
Que o operário faz a coisa Pois alem do que sabia
E a coisa faz o operário. - Exercer a profissão -
De forma que, certo dia O operário adquiriu
`A mesa, ao cortar o pão Uma nova dimensão:
O operário foi tomado A dimensão da poesia.
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado E um fato novo se viu
Que tudo naquela mesa Que a todos admirava:
- Garrafa, prato, facão O que o operário dizia
Era ele quem fazia Outro operário escutava.
Ele, um humilde operário E foi assim que o operário
Um operário em construção. Do edifício em construção
Olhou em torno: a gamela Que sempre dizia "sim"
Banco, enxerga, caldeirão Começam a dizer "não"
Vidro, parede, janela E aprendeu a notar coisas
Casa, cidade, nação! A que não dava atenção:
Tudo, tudo o que existia Notou que sua marmita
Era ele quem os fazia Era o prato do patrão
Ele, um humilde operário Que sua cerveja preta
Um operário que sabia Era o uísque do patrão
Exercer a profissão. Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Ah, homens de pensamento Que o casebre onde morava
Não sabereis nunca o quanto Era a mansão do patrão
Aquele humilde operário Que seus dois pés andarilhos
Soube naquele momento Eram as rodas do patrão
Naquela casa vazia Que a dureza do seu dia
Que ele mesmo levantara Era a noite do patrão
Um mundo novo nascia Que sua imensa fadiga
De que sequer suspeitava. Era amiga do patrão.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 145

- Dar-te-ei todo esse poder


E o operário disse: Não! E a sua satisfação
E o operário fez-se forte Porque a mim me foi entregue
Na sua resolução E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Como era de se esperar Dou-te tempo de mulher
As bocas da delação Portanto, tudo o que ver
Começaram a dizer coisas Será teu se me adorares
Aos ouvidos do patrão E, ainda mais, se abandonares
Mas o patrão não queria O que te faz dizer não.
Nenhuma preocupação.
- "Convençam-no" do contrário Disse e fitou o operário
Disse ele sobre o operário Que olhava e refletia
E ao dizer isto sorria. Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
Dia seguinte o operário O operário via casas
Ao sair da construção E dentro das estruturas
Viu-se súbito cercado Via coisas, objetos
Dos homens da delação Produtos, manufaturas.
E sofreu por destinado Via tudo o que fazia
Sua primeira agressão O lucro do seu patrão
Teve seu rosto cuspido E em cada coisa que via
Teve seu braço quebrado Misteriosamente havia
Mas quando foi perguntado A marca de sua mão.
O operário disse: Não! E o operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário - Loucura! - gritou o patrão
Sua primeira agressão Não vês o que te dou eu?
Muitas outras seguiram - Mentira! - disse o operário
Muitas outras seguirão Não podes dar-me o que e' meu.
Porem, por imprescindível
Ao edifício em construção E um grande silêncio fez-se
Seu trabalho prosseguia Dentro do seu coração
E todo o seu sofrimento Um silêncio de martírios
Misturava-se ao cimento Um silêncio de prisão.
Da construção que crescia. Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Sentindo que a violência Um silencio apavorado
Não dobraria o operário Com o medo em solidão
Um dia tentou o patrão Um silêncio de torturas
Dobra-lo de modo contrário E gritos de maldição
De sorte que o foi levando Um silêncio de fraturas
Ao alto da construção A se arrastarem no chão
E num momento de tempo E o operário ouviu a voz
Mostrou-lhe toda a região De todos os seus irmãos
E apontando-a ao operário Os seus irmãos que morreram
Fez-lhe esta declaração: Por outros que viverão
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 146

Uma esperança sincera De um homem pobre e esquecido


Cresceu no seu coração Razão porem que fizera
E dentro da tarde mansa Em operário construído
Agigantou-se a razão O operário em construção

POLÍCI A BRITÂNIC
PEDOFILIA ONLINEA ALERTA PARA RISCO DE
Por Michael Holden

LONDRES (Reuters) - Duas horas depois de conhecer uma "menina de 12 anos" em


uma sala de chat da Internet, o pedófilo predatório já a havia convidado para um encontro
sexual.
Ele não sabia, entretanto, que a "menina" em questão era um investigador da polícia
britânica trabalhando sob disfarce. Detetives de uma unidade especializada de Londres
disseram que o caso perturbador ilustra os riscos que as crianças enfrentam quando
navegam na Internet.

"Famílias darão computadores como presentes de Natal, crianças vão usá-los... e as


crianças estarão vulneráveis, a menos que suas atividades sejam devidamente monitoradas",
disse o detetive superintendente Alastair Jeffrey na quarta-feira.
As dimensões da questão ficam claras se levarmos em conta os números produzidos
pelo Comando de Investigação de Abusos contra a Criança (Caic), que ele dirige, em
Londres, o qual emprega seis investigadores que operam com identidades falsas online --10
por cento dos policiais envolvidos nesse tipo de trabalho no Reino Unido.
A despeito de ser a maior e a mais bem equipada unidade online de proteção a
crianças no país, Jeffrey disse que seu comando poderia gerar trabalho suficiente para
ocupar todos os 425 policiais encarregados de combater pedofilia e abusos contra crianças
na capital britânica.
Nos últimos sete meses, o Caic deteve 22 homens, entre os quais 14 suspeitos
identificados pelo trabalho de um mesmo investigador online.
Os detetives afirmam que os pedófilos se concentram em sites de redes sociais, que se
tornaram uma das grandes atrações da Internet nos últimos anos e permitem que usuários
criem páginas pessoais, troquem fotos e vídeos, e ouçam música.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 147

"É para esses sites que os pedófilos vão, sabedores de que neles é possível procurar e
encontrar crianças pequenas", disse o detetive inspetor Brian Ward.
Ainda que os grandes sites disponham de medidas de segurança, os pedófilos
usualmente conseguem evitá-las. Quando conquistam a confiança da criança, os homens
entram em contato privado com elas por meio de serviços de mensagens instantâneas como

os do Yahoo! e MSN.
Jeffrey diz que 31 por cento das pessoas com idade entre nove e 19 anos haviam
recebido mensagens de conteúdo sexual enquanto usavam a Internet, mas apenas 7 por
cento dos pais sabiam disso.

A I!#"OSÃO DA !ENTIRA
Affonso Romano de Sant’Anna

Mentiram - me.
Mentiram - me ontem
e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo impunemente.
Não mentem tristes,
alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente
que acho que mentindo história afora,·vão enganar a morte eternamente.
Mentem, mentem e calam,
mas as frases falam e desfilam de tal modo nuas
que mesmo o cego pode ver a verdade
em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil e para alguns
é cara e escura,
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 148

mas não se chega à verdade pela mentira


nem à democracia pela ditadura.
Evidentemente crer que uma flor nasceu
em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo

permanentemente.
Mentem, mentem caricaturalmente,
mentem como a careca mente ao pente,
mentem como a dentadura mente ao dente
mentem como a carroça à besta em frente,
mentem como a doença ao doente,
mentem como o espelho transparente
mentem deslavadamente como nenhuma
lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o rio
mentem com a cara limpa e na mão
o sangue quente,
mentem ardentemente como doente nos
seus instantes de febre,
mentem fabulosamente
como o caçador que quer passar gato por lebre
e nessa pilha de mentiras a caça é que
caça o caçador
e assim cada qual mente indubitavelmente.
Mentem partidariamente,
mentem incrivelmente,
mentem tropicalmente,
mentem hereditariamente,
mentem, mentem e de tanto mentir
tão bravamente
constroem um país de mentiras diariamente.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 149

METROSSEXUAIS DE XANGAI SÃO OS CAMPEÕES NA


FRENTE DO ESPELHO
Chineses gastam, em média, oito minutos do dia só para se admirar

PEQUIM – Embora os italianos tenham fama de mais belos do mundo, não são eles
os mais vaidosos. Esse terreno vem sendo ocupado por outro biotipo físico. Os homens
chineses, cujas características são bem distintas dos latinos, avançam no terreno dos
metrossexuais e já são considerados, de acordo com uma pesquisa, os campeões mundiais
na frente do espelho.
Os chineses gastam, em média, oito minutos por dia só para se admirar no espelho,
em especial os que vivem em áreas urbanas. Os novos metrossexuais do planeta não
poupam o bolso na hora de tentar dar um toque na aparência. Eles chegam a gastar 80 Iuans
(cerca de US$ 10) por mês em produtos de beleza, informa a agência de notícias Xinhua.
Pesquisa
A pesquisa estudou homens entre 18 e 60 anos em sete grandes cidades chinesas e foi
realizada pelo Horizon Research Consultancy Group em parceria com uma companhia de
moda e mídia de Xangai. O chinês não é mais um povo que só curte o corpo através das
artes marciais, como revelava os filmes das décadas de 1970 e 1980.
Os moradores de Pequim e de Xangai, principais cidades do país, ficaram empatados
na avaliação sobre quem seria o mais vaidoso. Nesses dois centros, os homens vão e vem
na frente do espelho.
17 minutos
Os habitantes da capital chinesa vão às compras para cuidar do corpo com mais

freqüência. Eles gastam mais em cosméticos, numa média de 119 Iuans por mês, ou US$
148,7. Os homens de Xangai, por sua vez, não desembolsam tanto, porém, eles passam
mais tempo na frente do espelho: cerca de 17 minutos por dia ou mais de uma hora a cada
quatro dias.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 150

O VERBO FOR
João Ubaldo Ribeiro

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da


vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e
mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força
histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário - evidentemente o
condizente com a nossa condição provecta -, tudo sairia fora de controle, mais do que já
está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas
julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao
dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia,
tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta
não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha de se virar por fora. Nada
de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira.
Tudo escrito tão ruibarbosianamente quanto possível, com citações decoradas,
preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei
o comecinho.
Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se
recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e
partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje.
A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para
assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira.

Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
- Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra - dizia ele ao entanguido
vestibulando.
- "Catilina, quanta paciência tens?" - retrucava o infeliz.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 151

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a
platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.
- Ai, minha barriga! - exclamava ele. - Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha
asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor
meu Pai!

Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a
enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de
barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um
latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.
O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do
candidato e vinha vê-lo "dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português
até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um
cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
- Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino
Nacional!
- As margens plácidas - respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a
xícara.
- Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?
- Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as
margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem
te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...
- Chega! - berrou ele. - Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de
Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de
português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje
considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e
trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo,
muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima.
Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam
ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural
de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 152

responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra
"for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir
qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
- Esse "for" aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a

quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.


- Verbo for.
- Verbo o quê?
- Verbo for.
- Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
- Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. - Nós fomos, vós fondes, eles
fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje
há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica,
ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito
mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar
fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele
fõe.

E SEU NÍVEL DE CORRUPÇÃO, COMO VAI?


Millôr Fernandes

Dizem por aí que todo homem tem seu preço. Há quem vá mais longe afirmando que
alguns homens são vendidos a preço de banana. Sempre esperei, na vida, o dia da Grande
Corrupção, e confesso, decepcionado, que ele nunca veio. A mim só me oferecem causas

meritórias, oportunidades de sacrifício, salvações da Pátria ou pura e frontalmente a


hedionda tarefa de lutar... contra a corrupção. Enquanto eu procuro desesperadamente uma
oportunidade, as pessoas e entidades agem comigo de tal forma que às vezes chego a
duvidar de que a corrupção exista. Mas, falar em corrupção, como anda a sua? Vendendo
saúde ou combalida e atrofiada como a minha? Responda com muito cuidado às perguntas
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 153

abaixo e depois conclua sobre sua própria personalidade: você é um corrupto total ou um
idiota completo? (Não há meio-termo.) Conte 10 pontos para cada resposta certa (você é
quem decide qual é a certa) e verifique depois o grau de sua corruptibilidade. Nota: Se você
roubar neste teste, é porque sua corrupção é mesmo absolutamente incorruptível.

A) Você descobre que o chefe do seu departamento está com um caso complicado com a
secretária do outro chefe em frente. Você: 1) Finge que não viu nada. 2) Diz à secretária
que ou também está nessa ou vai botar a boca no mundo. 3) Oferece o seu sítio ao chefe pra
ele passar o fim de semana. 4) Bota a boca no mundo. 5) Insinua ao chefe que há a perigosa
hipótese de a mulher dele vir a saber (e enquanto isso põe a promoção embaixo do nariz
dele pra ele assinar).

B) Você acha que a Lei e a Ordem é uma mística social maravilhosa para: 1) Impor a lei e a
ordem. 2) Acabar com a grita dos descontentes. 3) Grandes oportunidades de ganhar algum
por fora. 4) Dividir o bolo entre os íntimos sem ninguém de fora piar.

C) A primeira vez em que você ouviu falar do escândalo de Watergate você disse: 1) Isso é
que é país! 2) Como é que o governo americano permite uma imprensa dessas? Isso
desmoraliza um país! 3) Eu não compraria um carro usado desse Nixon. 4) Isso jamais
aconteceria entre nós. 5) Quanto terão levado esses caras pra se arriscarem dessa maneira?

D) Você, como representante oficial da fiscalização, comparece à apresentação de contas,


em dinheiro, no Instituto dos Cegos. Fica surpreendido com o alto volume das arrecadações
e em certo momento: 1 ) Diz : "Estou surpreendido com a miserabilidade dos donativos". E
tenta enrustir algum. 2) Diz: "Como representante do fisco sou obrigado a reter 30% de
tudo porque esta arrecadação é totalmente ilegal". 3) Diz: "Teria sido até uma boa
arrecadação se metade das notas não fossem falsas". 4) Disfarça bem a voz e diz,
entredentes: "Todos quietinhos aí, seus Homeros de uma figa: Isto é um assalto!"

E) Você se demite do cargo de maneira irrevogável por insuportáveis pressões morais e


absoluta impossibilidade de compactuar com a presente política da firma. Eles prometem
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 154

triplicar o seu salário. Você: 1) Recusa, indignado, por pensarem que é tudo uma questão de
dinheiro. Só ficará se eles derem também as três viagens anuais à Europa a que todos os
diretores têm direito. E participação nos lucros retidos da companhia. 2) Diz que,
evidentemente, isso e uma prova moral de que eles estão de acordo com você. O dinheiro,
aí é definitivo como demonstração de confiança na sua gestão. 3) Pede para pensar 5

minutos antes de dar a resposta. 4) Explica que tem mulher e filhos e não pode manter um
pedido de demissão feito, afinal de contas, por motivos tão irrelevantes.

F) Há uma diferença fundamental entre fraudar e evitar o imposto de renda. Quando você
descobriu isso, você: 1) Ficou indignado com as possibilidades de os poderosos usarem
tudo a seu favor. Como é que se pode escamotear um ordenado? 2) Começou a estudar
furiosamente a legislação para descobrir todos os furos. 3) Tinha 11 anos de idade e estava
terminando o curso primário. 4) Nunca mais pagou um tostão de imposto.

G) Você dá uma nota de 10 pra pagar o jornal, no jornaleiro velhinho da banca da esquina,
e percebe que ele lhe deu 50 como troco. Você imediatamente: 1) Corrige o erro do
velhinho? 2) Reclama chateado aproveitando a gagaíce do vendedor: "Pô, eu lhe dei uma
nota de 100?" 3) Chega em casa e manda todos os seus filhos comprarem vários jornais? 4)
Bota o dinheiro no bolso e fica freguês?

H) Você teve que fazer um trabalho na rua, não pôde almoçar, comeu um sanduíche. Você
apresenta a conta na companhia: 1) Um sanduíche — 3 cruzeiros. 2) Almoço — 32
cruzeiros. 3) Almoço com o representante da A&F Ltda. — 79 cruzeiros. 4) Despesas
gerais — 143 cruzeiros.

I) Quando o desfalque dado pelo auditor geral (8.000.000 pratas) chega a seus ouvidos você
murmura: 1) "Idiota, se deixar apanhar assim". 2) "Será que eles vão descobrir também os
meus 10.000?". 3) "Se ele tivesse me dado 10% eu tinha feito o negócio de maneira que
ninguém nunca ia descobrir". 4) "Eu fiz bem em não entrar no negócio".
Conselho de amigo:
Quando alguém, na rua, gritar "Pega ladrão!", finge que não é com você.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 155

INTERNET: OPORTUNIDADE OU AMEAÇA?

Em 1994, os primeiros servidores da Internet, uma rede internacional de


computadores, começaram a operar no Brasil. Em 1999, mais de cinco milhões de
brasileiros usaram a Internet no dia-a-dia. Até o ano 2003, calcula-se que mais de 20
milhões de brasileiros serão usuários dessa rede ( Época, 20/12/99, páginas 98-99). A
Internet representa a maior revolução em comunicação pessoal desde a televisão. Já
influencia quase todos os aspectos das nossas vidas. De educação a esportes, de negócios a
namoro, e de lazer a louvor, a Internet se tornou uma parte importante da vida de milhões
de pessoas.

Como é que o servo de Deus deve encarar este novo meio de comunicação? Algumas
pessoas o consideram uma ferramenta do Diabo. Outros vêem a Internet como uma
oportunidade para comunicar com outras pessoas, até sobre os assuntos mais importantes,
os que vêm da palavra do Senhor. O propósito deste artigo é tentar colocar em perspectiva a
Internet, considerando alguns princípios bíblicos que devemos lembrar quando avaliamos e
usamos essa rede internacional.

O que é a Internet?

Computadores transmitem mensagens por fios. Dentro de um computador, as mensagens


são transmitidas do teclado para o processador, e do processador para outros dispositivos,
tais como o monitor e as unidades de armazenagem (discos, fitas, etc.). A Internet nada
mais é do que uma extensão desta comunicação, em que vários computadores são usados
para comunicar, um com o outro, transmitindo qualquer tipo de informação que pode ser
armazenada eletronicamente. Palavras, sons e imagens (fotografias e vídeos) podem ser
transmitidos por uma simples ligação telefônica. A Internet é meramente um meio de
comunicação.

A Internet facilita a comunicação


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 156

Qualquer coisa boa que pode ser comunicada entre seres humanos vai longe com grande
facilidade pela Internet. Ela serve como ferramenta poderosa para manter contato entre
parentes e amigos separados por grandes distâncias. É útil na pesquisa educacional,
profissional e até religiosa, pois oferece acesso rápido a muitos textos e imagens de todos

os cantos do mundo. Este artigo que você está lendo apareceu na Internet antes de ser
distribuído pelo correio na edição tradicional do boletim. Notícias de qualquer lugar no
mundo chegam em poucos instantes, permitindo um contato maior entre pessoas.

A capacidade de se comunicar com palavras é um presente que Deus deu aos homens desde
a criação do primeiro casal. Tudo que a Bíblia fala sobre o uso da língua deve ser aplicado
à comunicação pela Internet. "Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com
o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. . . . Não saia da vossa boca
nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a
necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem" (Efésios 4:25,29). "Todo homem,
pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar; tardio para se irar.... Se alguém supõe ser
religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua
religião é vã." (Tiago 1:19,26).

Sabemos que a língua é difícil de controlar e que ela facilmente machuca outras pessoas
(Tiago 3:1-12). A Internet apresenta uma tentação enorme para quem não aprendeu segurar
a língua. Qualquer mensagem, mesmo mentiras, fofocas, e falsas acusações, pode chegar ao
outro lado do mundo em meros segundos. E, pior que a conversa particular ou por telefone,
neste ponto a Internet facilita a comunicação a centenas ou milhares de pessoas em poucos
instantes.

Alguns perigos da Internet

Qualquer coisa que o homem pode imprimir no papel pode ser colocada na Internet.
Pesquisas, literatura, notícias, etc. se encontram na Internet. Mas, há alguns perigos neste
aspecto da rede.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 157

 Qualquer pessoa pode colocar suas idéias na Internet. No passado, a comunicação de


idéias ao público era privilégio das poucas pessoas com influência ou recursos para
imprimir suas publicações ou produzir programas de televisão ou rádio. Hoje, qualquer
pessoa pode comunicar pela Internet, mesmo as pessoas que não têm nenhum

conhecimento dos assuntos tratados. (Veja Atos 17:11).

 A censura da Internet é praticamente impossível. Com mais de 3,5 milhões de sites


(locais onde pessoas podem procurar informações) e 200 milhões de usuários no mundo
inteiro, cada um capaz de colocar suas idéias na frente de outras pessoas ( Época, 20/12/99,
página 93), não existe governo capaz de controlar o conteúdo da Internet. Esse fato tem seu
lado bom, em saber que ninguém pode suprimir artigos como este. Mas, ao mesmo tempo,
há muitas coisas erradas facilmente disponíveis na rede. Há milhares de sites que
incentivam inimizade, violência, imoralidade, rebelião, adoração ao Diabo, etc. Correio
eletrônico (e-mail) e sites de bate-papo podem ser usados por pessoas maldosas com
intenções impuras ou criminosas.

 A disponibilidade de muitas informações, quase de graça, convida o usuário a ficar


viciado na rede. Tempo que deveria ser usado para orar, estudar a Bíblia, louvar ao Senhor,
estar com a família e com outras pessoas acaba sendo gasto na frente de uma tela de 14
polegadas.

 A Internet pode contribuir à solidão. Parece engraçado! Uma ferramenta que abre portas
de comunicação com o mundo inteiro acaba, muitas vezes, criando mais isolação e solidão.
Na segurança do próprio lar, uma pessoa pode se comunicar com muitos sem ter contato
pessoal com ninguém. Deus nos criou como seres sociais, precisando de contato com outras
pessoas. Por isso, ele nos deu o casamento, a família e a igreja. Nós precisamos de outras
pessoas. Uso descontrolado da Internet rouba as pessoas deste contato essencial com outros.

Sugestões para o uso da Internet


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 158

A melhor sugestão sobre o uso da Internet foi feita mais de 1.900 anos antes dela! Paulo,
um dos apóstolos do Senhor, disse: "Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o
que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é
de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso

pensamento" (Filipenses 4:8). Seria bom se tivesse como colar este versículo do lado do
monitor de cada computador no mundo. Este mandamento de Deus exige uma preocupação
da nossa parte quando assistimos à televisão, escutamos música ou entramos na Internet.
Mas, de todos esses meios de comunicação, é a Internet que exige mais cuidado. Algumas
sugestões:

 Pais devem sempre supervisionar o uso da Internet por crianças e jovens. Imagine uma
banca de jornais com milhares de revistas pornográficas, livros que incentivam a adoração
de Satanás, e outros que ensinam como conseguir armas e fazer bombas, junto com uma
locadora de vídeos igualmente maus. Agora, imagine a seguinte placa na frente deste
comércio: "Entrada franca para pessoas de qualquer idade. Toda a nossa mercadoria é de
graça. Fique à vontade e leve o que quiser!"Infelizmente, a Internet, mal-usada, pode ser
exatamente assim. Pesquisas mostram que qualquer pessoa, até uma criança, pode acessar
textos, imagens e conversas absolutamente horríveis, sem pagar nada. Existem programas
para facilitar os esforços dos pais a controlar o acesso dos filhos aos sites inapropriados,
mas não há garantia que sempre conseguem identificar e bloquear as coisas erradas. Uma
boa regra é de não deixar os filhos usar a Internet se não tiver um dos pais presente
supervisionando.

 Qualquer usuário deve controlar seu tempo na rede, nunca deixando de fazer as coisas
mais importantes. Enquanto a Internet oferece coisas que podem ajudar no estudo da Bíblia,
ninguém deve se enganar pensando que tempo navegando de um site para outro é tempo
investido no estudo das Escrituras. Clique em "desconectar" e abra a sua Bíblia! "Portanto,
vede prudentemente como andais, não como néscios e sim como sábios, remindo o
tempo, porque os dias são maus" (Efésios 5:15-16).
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 159

 Mantenha o computador de sua família num lugar aberto e acessível. "E não sejais
cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Porque o que eles
fazem em oculto, o só referir é vergonha. Mas todas as coisas, quando reprovadas pela

luz, se tornam manifestas, porque tudo que se manifesta é luz"(Efésios 5:11-13). Se um


televisor no quarto de jovens ou crianças é perigoso, imagine o perigo muitas vezes maior
de um computador, ligado à Internet, no quarto de alguém que ainda não tem maturidade
para se controlar. Esta sugestão não aplica somente aos jovens. Muitos casamentos já foram
estragados pelo acesso fácil à pornografia na rede, ou pela facilidade de começar um caso
extra-conjugal pelo e-mail.

 Continue se comunicando com sua família. Não deixe as maravilhas da tecnologia


roubarem sua família do precioso dom de comunicação que Deus deu para todos nós.
Desligue o sistema de som, o televisor, e o computador e fale com sua família. Ensine seus
filhos; ouça a sua esposa ou o seu marido; ore com sua família; estude a Bíblia juntos.
3.500 anos atrás, Deus pediu que os pais falassem com os filhos sobre a palavra dele
"assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te"
(Deuteronômio 6:7). Este conselho é bom para hoje, também.

Conclusão

Deus criou a comunicação humana para o nosso bem. Desde Gênesis 3, o Diabo tem
pervertido este dom de Deus para envolver o homem no pecado. A Internet é um meio de
comunicação. Pode ser pervertido pelos servos de Satanás, ou bem empregado pelos servos
de Deus.

por Dennis Allan


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 160

Jovens carentes descobrem benefícios da internet

DANIELLE CHEVRAND
da Fundação Banco do Brasil

Jovens do bairro de São Pedro, periferia de Teresina, capital do Piauí, estão trocando
o vício das drogas por um outro, de alto valor cultural. O que os entorpece agora são os 21
computadores da estação digital montada no bairro, em julho deste ano, pela Fundação
Banco do Brasil, em parceria com a ONG Movimento pela Paz na Periferia, a Secretaria de
Administração de Teresina e o Movimento Meninos e Meninas de Rua. Se antes os
meninos entravam na sala, emprestada pela Secretaria de Administração da cidade, para
roubar aparelhos de videocassete e até ventiladores para sustentar o vício, hoje eles vivem
uma realidade bem contrária: invadem a sala para aprender informática. O bairro de São
Pedro foi o primeiro do Brasil a receber uma escola do Programa de Inclusão Digital da
FBB. Hoje, 10 estações digitais já oferecem cursos e serviços de informática a crianças e
adultos. As salas têm de 10 a 30 computadores. Na última quarta-feira, dia 24, mais uma

estação foi inaugurada, em Benevides, no Pará.


“A nossa meta é ter até o fim deste ano 50 estações funcionando nas regiões Norte e
Nordeste e em bairros carentes de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. No ano que vem,
outras 100 serão implantadas. Com isto, facilitaremos a vida de pessoas que nunca teriam
oportunidade de usar um computador e muito menos a internet, e hoje aprendem a pagar
uma conta, a tirar um CPF, ou emitir uma certidão pela web. Ações que obrigariam estas
pessoas até a fazerem viagens de suas comunidades, no interior, para as capitais. Pela
internet, os agricultores vão poder buscar e estudar novas técnicas de plantio ou mesmo
requisitar visitas de técnicos da Embrapa. Para os jovens, além do conhecimento, vai
aumentar sua competitividade no mercado de trabalho”, explicou Germana Macena,
coordenadora do Programa de Inclusão Digital da FBB.
A exclusão digital é um dos problemas mais graves do Brasil. Segundo o Relatório de
Desenvolvimento Humano produzido e divulgado pela ONU em 2004, o Brasil ocupa a 72a
colocação no grupo de países com médio Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com
uma taxa de apenas 82,2 usuários de internet por grupo de mil indivíduos.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 161

Para cobrir esta demanda, ações como a da FBB têm feito a diferença. Segundo
Germana, a Fundação emprega, em média, 40 mil reais para montar uma escola digital com
computadores novos. Por seis meses, os gastos com internet e bolsas para os monitores são
financiados pela entidade. Depois desse tempo, a escola tem de passar a se auto-sustentar,
mas continua sendo permanentemente vistoriada pela Fundação. Para instalar o centro, a

FBB procura fazer parcerias com organizações locais – prefeituras ou empresas –, que
fornecem o espaço para as salas e arcam com gastos com eletricidade, água e impostos. São
estas organizações que escolhem os programas que vão usar em seus computadores. Podem
optar por softwares proprietários – que exigem o pagamento pelo uso, como, por exemplo,
os programas da Microsoft –, ou pelo software livre – que pode ser manipulado de acordo
com os interesses dos usuários. Uma vez que opte pelo software proprietário, a entidade
deve se comprometer a pagar as licenças de uso.
“O assunto auto-sustentabilidade é tratado desde o primeiro encontro com a entidade
disposta a ser parceira da Fundação. Então, ao longo dos seis meses em que a FBB ajuda a
financiar o programa, monitores de todas as escolas fazem encontros para elaborar a melhor
forma de manter suas salas. Uns contam com o apoio de cooperativas de artesãos, outros
fazem acordos com empresas ou com prefeituras. Até autorizamos que, para ajudar nas
despesas da estação, seja cobrada uma taxa simbólica proporcional ao valor que o usuário
possa pagar, desde que nunca se impeça o acesso de quem não tem dinheiro”, contou
Germana.
Mesmo recente, o Programa de Inclusa Digital da FBB já tem gerado resultados
satisfatórios. A coordenadora observa que, depois de certo tempo, a comunidade realmente
entende a importância das estações e por isso Germana não teme que um dia elas se tornem
fonte de renda para aproveitadores.
“Eu vejo que a comunidade se apropria das estações, que elas passam a ficar acima de
qualquer questão política ou partidária. A partir daí, a própria comunidade protege aquele
lugar. Mesmo assim, se a Fundação notar que há alguma irregularidade, os computadores
são transferidos para outra comunidade”, pondera Germana Macena.

Um novo vício

A estação de Teresina é um bom exemplo de como isso funciona. E bem. Os próprios


CURSO MÉTODO VESTIBULARES 162

moradores conseguiram estabelecer uma parceria com uma empresa de ônibus para
transportar gratuitamente a criançada das comunidades distantes até as salas de aula. Hoje,
os 21 computadores ligados à internet servem de laboratório para 300 crianças, que são
divididas em 15 turmas. Nelas, as crianças aprendem as ferramentas do programa Open
Office – um software livre semelhante ao Office da Microsoft – e da internet e podem fazer

ainda uma introdução ao sistema operacional Linux.


Quatro meses depois de inaugurada a estação, os meninos que ainda pertencem às
gangues de traficantes das regiões mais violentas do bairro de São Marcos – Prainha, Buriti
dos Lopes e São Pedro de Cima – aprenderam a ter respeito pelo espaço, muito graças à
liderança de Francisco do Nascimento Júnior. Nascido e criado em São Marcos, em sua
juventude humilde ele foi engraxate, zelador, vendedor, ajudante de mecânico e chegou a
pedir esmolas nas ruas. Sem dinheiro até mesmo para se alimentar, mas com muita vontade
de aprender história para poder ensiná-la aos outros, Júnior pediu para cursar gratuitamente
um pré-vestibular do Sesc de Teresina, com a promessa de pagar o estudo quando entrasse
na universidade.
“Não sei como eu passei para o curso de história da Faculdade Federal do Piauí.
Dormi dois dias com o jornal que trazia o resultado do vestibular debaixo do braço para
garantir que meu nome não sairia dali. Naqueles dias, decidi que passaria a vida ajudando
as pessoas”, conta o então calouro que hoje também cursa ciências sociais e teologia.
Agora, aos 33 anos, Júnior coordena a ONG Movimento pela Paz na Periferia, que
criou há dois anos para promover a inclusão social por meio de oficinas de rap, grafite e
dança de rua. E por experiência própria confirma que a opção pelas drogas se dá por falta
de acesso a diversão, lazer, cultura e comida. Quando encontram computadores da estação
implantada pela FBB, os jovens preenchem esse vácuo , ele assegura.
“Muitos jovens que viviam pelas ruas me contam que estão viciados nas salas e nos
programinhas de bate-papo. Eles adoram ficar conversando e navegando na internet. Hoje,
conseguimos dar cursos de informática que custariam mais de 150 reais. No futuro, estes
aprendizes estarão disseminando seus conhecimentos em informática para outras gerações”,
sonha Francisco Nascimento Júnior.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 163

MULHERES APRENDEM O DIREITO DE TER DIREITO

Francisca Pereira de Melo, a Chiquinha, 22, nasceu em São Luís (MA) e é empregada
doméstica em São José dos Campos (91 km a nordeste de São Paulo). Quando tinha 18
anos, sua patroa falou de um curso chamado Promotoras Legais Populares, sobre direitos da
mulher. "Fiquei interessada porque era um curso para mulheres, e a gente não vê muito
disso por aí", diz.
Após participar de encontros semanais durante um ano, Chiquinha aprendeu assuntos
que nem sabia que existia. "Descobri que as mulheres têm direito a licença-maternidade,
por exemplo." Com o novo conhecimento, ela passou a ajudar outras pessoas, como a sua
cunhada, quando esta se separou do marido, orientando-a sobre os órgãos que deveria
procurar e os direitos que possuía.
Chiquinha é uma entre as mais de mil mulheres que já passaram pelo projeto, uma das
iniciativas não-governamentais brasileiras que pretendem difundir o conhecimento do
direito pela educação popular. Trata-se de programas fornecem informações, divulgam
campanhas de conscientização e até propõem ações judiciais. Há também grupos que atuam
internacionalmente pela efetivação de direitos em território nacional. O que todas têm em
comum é o ideal de ensinar às pessoas que elas têm direitos e, se não os conhecem, é muito
difícil lutar por eles.
O curso de promotoras legais populares gira em torno dos problemas enfrentados
pelas alunas no dia-a-dia, como questões sobre saúde da mulher, violência doméstica e
direitos trabalhistas, que são abordadas de maneira multidisciplinar, com aulas ministradas
por médicos, sociólogos, psicólogos, assistentes sociais, advogados e juízes.
"Algumas mulheres usam o conhecimento adquirido no trabalho que já realizavam,
outras passam a atuar em suas comunidades", diz Alcione Massula, uma das coordenadoras
do curso em São José dos Campos, onde ocorre há sete anos. Ela diz que as alunas que

passam a atuar em suas comunidades ajudam outras mulheres a procurar os órgãos


específicos para os problemas que possuem.
O CDHEP (Centro de Direitos Humanos e Educação Popular), em São Paulo,
desenvolve um projeto de que homens e mulheres podem participar. Chamado "Escola de
Lideranças", o curso busca formar pessoas com uma visão crítica da realidade na periferia.
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 164

Ailton Alves da Silva, 40, ex-marceneiro e hoje assessor parlamentar do deputado estadual
Simão Pedro (PT), conheceu o trabalho do CDHEP há dez anos.
Silva conta que, em 1980, mudou-se da Vila Mariana para o Parque Rondon, no
Capão Redondo (zona sul). O contato com uma realidade tão diferente o motivou a
procurar a associação de moradores para tentar ajudar as pessoas. Foi nesse período que ele

se interessou pelas atividades que a ONG fazia com comunidades do bairro, dando
orientação jurídica e formando pessoas para lidar com as dificuldades do local.
"Tivemos muitas conquistas no bairro onde eu moro. A regularização do loteamento
no Parque Rondon, que era clandestino, é um dos exemplos. Cada morador tem hoje um
lote desmembrado", diz Silva. No início dos anos 80, ele e outras 179 pessoas compraram
lotes em um terreno que era irregular. Apesar de cada uma ter seu terreno, para a prefeitura
a área era uma única gleba.
A garantia do acesso à Justiça também está presente em outra iniciativa difusora de
direitos da população. "Conhecer para reivindicar" é a idéia da campanha "O Brasil Tem
Fome de Direitos", desenvolvida pela Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e
Educacional), que atua em várias regiões do país, como a Amazônia e o sertão baiano, com
projetos de economia solidária e desenvolvimento sustentável.
Sandra Mayrink Veiga, coordenadora da Fase, conta que a campanha consiste em
exigir que sejam cumpridos direitos constitucionais, como educação, saúde, trabalho,
moradia, lazer e segurança. Por meio da formação de uma rede de parcerias entre entidades,
movimentos sociais e até personalidades famosas, a campanha divulga panfletos e vídeos e
promove debates em escolas, rádios e TVs locais. Desde o lançamento, em junho, a
campanha foi adotada por 465 cidades e 1.237 instituições.
"O trabalho das fortalece a democracia. Não dá para deixar a coisa pública sob a
responsabilidade exclusiva do Estado", diz Virgínia Feix, da Themis, organização que gere
o curso de promotoras legais populares em Porto Alegre. Esse é o caso do Instituto Pro
Bono, que tem na advocacia com responsabilidade social o ponto de partida de suas
atividades. A advocacia "pro bono" tem srcem nos EUA e é a atividade realizada de
maneira voluntária, para pessoas que não podem pagar por esse tipo de serviço.
Coordenador do Instituto Pro Bono, Marcos Fuchs afirma que a entidade conta com o
trabalho de 150 advogados e já atendeu cerca de cem organizações, como a Amar
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 165

(Associação de Mães e Amigos da Criança e Adolescente em Risco). "Não tínhamos


dinheiro para arcar com essa despesa", diz Conceição Paganele, presidente da Amar.
Como a prática da advocacia gratuita é proibida no Brasil, o Instituto Pro Bono teve
problemas com a OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) em 2001, ano de sua
fundação. A autorização veio em 2002, mas restringe-se a São Paulo e ao atendimento de

pessoas jurídicas. No Estado, o atendimento a pessoas físicas é feito por organizações


governamentais ou, em convênio com elas, por instituições de ensino, como a USP, por
meio do Departamento Jurídico 11 de Agosto.
Quando o Estado deixa de cumprir direitos previstos na Constituição, a alternativa é
buscar o auxílio nas cortes internacionais, fazendo a chamada advocacia internacional dos
direitos humanos. A ONG Justiça Global, que publica relatórios sobre violações de direitos
humanos nas mais diversas áreas, desenvolve esse trabalho. Quando se esgotam os meios
de proteção no Brasil ou quando há uma demora injustificada na ação do Poder Judiciário, a
entidade envia denúncias à ONU (Organização das Nações Unidas) e à OEA (Organização
dos Estados Americanos). A entidade já enviou denúncias sobre violência rural contra de
trabalhadores sem-terra, sobre a situação das comunidades quilombolas e sobre o direito de
mães adotivas de obter licença-maternidade.
Andressa Caldas, diretora jurídica da Justiça Global, afirma que muitas vezes o
trabalho de defesa dos direitos humanos é arriscado. "Cada novo relatório provoca uma
reação adversa", diz. Ou seja, é longo o caminho pela difusão da Justiça _falta direito para
quem luta por eles.

TEXTOS %$NCIONAIS

Às vezes, o redator não precisa de muito conhecimento e/ou de muito talento para
confeccionar alguns tipos de textos. É o caso da elaboração de textos funcionais, ou seja,
escritos que têm uma finalidade documental e que geralmente segue regras. Como esta
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 166

apostila é voltada para estudantes do Ensino Médio, iremos abordar apenas dois tipos
básicos que poderão ser pedidos em situações específicas: requerimento e procuração.
A teoria aqui estudada, bem como os exemplos foram tirados do site
portrasdasletras

REQUERIMENTO

É um documento no qual o interessado, depois de se identificar e se qualificar, faz


sua solicitação à autoridade competente. Só é usado ao se dirigir ao serviço público.

Possui características próprias, como: após o vocativo, deixam-se aproximadamente dez


linhas ou espaços e o corpo, espaço destinado ao despacho da autoridade competente,
finalizando com pedido de deferimento à solicitação, data, após exposição." (Cleuza G.
Gimenes Cesca, in Comunicacão Dirigida na Empresa.)

Há teóricos, como Teobaldo de Andrade, que defendem a dispensa do pedido de


deferimento, argumentam que ninguém faz uma solicitação para pedir indeferimento:
"Nestes termos, pede deferimento" ou "N. termos, p. deferimento" ou "N.T./P.D./ ou
"N.T./A.D."

O requerimento é um instrumento do cidadão, nele se faz a solicitação de um direito


que a pessoa, grupo de pessoas ou empresa considera tê-lo. Não há necessidade de ser
datilografado, pode ser manuscrito.

O famoso abaixo-assinado, muito usado pelo povo e por organismos populares, é um


requerimento de caráter coletivo. Como nele vão muitas assinaturas, o espaçamento entre as
partes do requerimento pode ser menor. Mas, cuidado! Não assine nada em branco, exija

que o texto do abaixo assinado esteja expresso na folha em que você for colocar sua
assinatura.

Antigamente ele era feito em papel almaço (com ou sem pauta), sua redação era uma
iniciativa do requerente, por isso o cidadão semiletrado pagava uma taxa a um escritório
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 167

para redigi-lo. Hoje, com o programa de desburocratização, as repartições fornecem


modelos e até formulários a serem preenchidos.

Modelo 1:

Exmo. Sr. Secretário de Esportes da Prefeitura de São Luís do Maranhão

A indústria Laticínios Sousa Maia, localizada na rua Acácia nº 500, Bairro São João,
nesta cidade, inscrita no C.G.C. 48.784.943/0001-08 e Inscrição Estadual nº
244.152.262, vem requerer a V.Exa. a cessão do Ginásio Costa Rodrigues, para a
realização do 1º Campeonato Esportivo Interno de seus funcionários, nos dias 16 e 17
de março próximo, das 8 às 18 horas, em virtude de não possuir espaço físico adequado.

Nestes termos,

pede deferimento.

São Luís, 22 de maio de 2011.

Assinatura
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 168

Modelo 2

Exmo. Sr. Prefeito Municipal de São Luís do Maranhão

Nós, abaixo-assinados, moradores do on!unto "abitacional M#todo $estibulares,


%imos re&uerer de $.Exa. o asfaltamento das ruas do con!unto habitacional com
ur'(ncia, pois em dias secos a poeira in%ade as casas, pre!udicando a sa)de das
pessoas, e em dias chu%osos, suas %ias p)blicas ficam intransit*%eis, at# mesmo para
os +nibus da empresa &ue ser%e  comunidade.

Nestes termos,

pedimos deferimento.

São Luís,  de de/embro de 001

2ssinatura3

Endere4o3

2ssinatura3

Endere4o3

5sucessi%amente6
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 169

PROCURAÇÃO

A Procuração é um documento que dá poderes para uma pessoa representar outra


em situações permitidas por lei. Alguns tipos só são válidos se registrados em cartório, mas
há casos em que uma procuração redigida pelo próprio solicitante acaba produzindo um
bom efeito. Vejamos a seguir um modelo bastante simples.

P78972:;8

Eu, Antônio da Silva Espírito Santo, brasileiro, engenheiro casado, residente e


domiciliado em São Luís do Maranhão, Rua dos Amores, n° 26, Centro, portador

do RG n° xxxxxxxxx e do CPF n° XXXXXXXXXX declaro e constituo como


meu bastante procurador o senhor Jerônimo Sousa Oliveira, brasileiro, estudante,
residente e domiciliado na rua das Verdades, n° 04, portador do RG n°
XXXXXXXX e do CPF n° XXXXXXXXXXX, como meu bastante procurador,
com o fim único e específico de representar-me perante a Universidade Federal do
Acre para efetuar minha inscrição no vestibular 2007, no curso de Filosofia,
podendo o mesmo assinar quaisquer documentos necessários para o bom
cumprimento de seu dever, podendo inclusive substabelecer a presente procuração.

São Luís, 28 de outubro de 2006.

Assinatura
CURSO MÉTODO VESTIBULARES 170

BIBLIOGRAFIA

Além dos muitos sites visitados para recolher os textos que compõem esta apostila,
principalmente o www.portrasdasletras.com.br, recorri também aos seguintes livros que
vão relacionados a seguir.

ALMEIDA, Sonia. Aula de redação: uma viagem transdisciplinar. São Luís: Fundação
Sousândrade, 2004.
BASTOS, Lúcia Kotschitz. Coesão e coerência em narrativas escolares. São Paulo:
Martins Fontes, 1994
BASTOS, Lúcia Kotschitz e MATTOS, Maria Augusta. A produção escrita e a
gramática. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff e SOUSA, Jésus Barbosa. Produção de textos e uso da
linguagem. São Paulo, 1998.
FAULSTICH, Enilde L. Como ler, escrever e redigir um texto. Rio de Janeiro: Vozes,
2002.
KOCH, Ingedore G. Villaça e Travaglia, Luiz Carlos. Texto e coerência. São Paulo:
Cortez, 2002.
_________ e __________.. A coerência Textual. São Paulo: Cortez, 2002.
_________. A Coesão textual. São Paulo: Cortez, 2002.
MACHADO, Irene A. Literatura e Redação. São Paulo: Scipione, 1994.
MOTTA, Mirta Piris da. Los textos en el aula. Asunción. 2001.
NERES, José. Estratégias para matar um leitor em formação. São Luís: Carajás, 2005.
SAVIOLI, Francisco Platão e FIORIN José Luís. Lições de texto: leitura e redação. São
Paulo, Ática, 1999.
VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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